Graben – X
No coração da Ribeira Grande, o Graben é a CASA onde co-habitam - nem sempre de forma pacífica -, humanos, animais, plantas, rochas.[1] Para se fazer uma ideia da sua dimensão, basta dizer que é ligeiramente maior do que a Ilha Graciosa e três vezes maior do que a do Corvo. Nele mora, consoante os parâmetros, a segunda ou a terceira, maior cidade dos Açores.[2] Sem que isso, no entanto, por erros nossos, se traduza em poder político. Por não se saber toda a História só com a História/História, bato truz, truz à porta da História Geológica. [3] Convido o surfista de hoje (é para ele que escrevo) a seguir-me: a arriba à vossa frente, hoje com duas dezenas de metros, outrora chegou a erguer-se a 650 metros acima do nível do mar.[4] Entretanto, foi-se abatendo ao longo de séculos, dando origem ao Graben da Ribeira.[5] O que diz disso Victor Hugo Forjaz (pioneiro da geologia que a explica – sem pôr em perigo a ciência -, de forma que todos a entendam)? Num texto (pedido pela Câmara) e destinado (em 2015 e 2016) aos I e II Festivais de Balões de Ar Quente, da Ribeira Grande, disse: ‘A planura do vale da Ribeira Grande corresponde a uma estrutura geológica denominada "graben" soterrada por volumosos depósitos de pedra-pomes de queda (ou seja "choveu" pedra-pomes de nuvens vulcânicas impelidas pelos ventos) e de "lahars" ou areeiros da Ribeira Grande, estes correspondendo a derrames, vertente abaixo, de cinzas em meio aquoso misturadas em diversas granulometrias de "pedras" emitidas da Lagoa do Fogo, ao longo de milhares de anos, sendo de 1563 os últimos "lahars." Como é este espaço? É formado ‘por duas escadarias principais. Uma, com degraus descendo do lado de Porto Formoso para o centro da Ribeira Grande. A segunda escadaria, situa-se do lado contrário, ou seja, desce da zona do "aerovacas " [Santana] para o mesmo centro da Ribeira Grande.’ Agora em 2024, ao computador (sentado à mesa do Tuká-Tu-Lá, com o mar ao meu lado), fui-lhe fazendo novas perguntas: ‘O graben de Ribeira Grande é do tipo scisor graben. i.e. em tesoura. A outra parte da tesoura está na banda de Vila Franca. É a maior estrutura tectónica da Ilha e é responsável pelos valiosos recursos geotérmicos da Ribeira Grande (já provados) e de Vila Franca (em estudo) São biliões de euros.’[6] De quando data o graben? ‘Para mim, via estudos geotérmicos, o graben é recente, tem cerca de 60 mil anos, quando se gerou o Complexo Vulcânico dos Picos, estrutura que ligou a ilha de S. Miguel 1 à ilha das Sete Cidades. Talvez a EDA tenha dados mais recentes de modelização. Como tomografias uma espécie de tac terrestre.’ [7]
Esqueçam (por momentos) as ondas. E a geologia. Se vos apetecer partilhar
da paixão (um misto de temor e de afoiteza) de muitos daqui pela Areia [Monte Verde], leiam (em voz alta)
no alto do Miradouro do Palheiro o soneto ‘Minha Terra do
Norte,’ do poeta José
de Oliveira San-Bento. Nasceu ali perto, à altura encontrava-se desterrado (ou
em Lisboa ou já em Ponta Delgada) e dedica-o ao Dr. José Nunes da Ponte, outro
exilado: ‘Aquele mar do Norte que se
espraia, / Subindo ao areal em que desmaia, / É meu e será meu até ao fim…/
É minha aquela espuma que se alteia, /
Nas rochas a bramar, à lua cheia,/ Pois tudo isso vive dentro em mim!’ Nunes
da Ponte, que se formou em medicina e nunca mais os pés na sua Ribeira Grande, era
republicano. Foi Presidente da Câmara do Porto ainda nos anos finais da
monarquia. Já em República, foi ministro de Pimenta de Castro, Presidente do
Senado da República, Governador Civil do Porto. Vítor Teves, poeta que se
revelou em força – serena -, não há muito, de regresso à terra, revive a
infância na Areia no poema ‘Enroloado na onda,’ do qual retiro um
(saboroso) naco: ‘Quem nunca foi enrolado
pela grande/ espuma e atirado contra as mil pedras/ da areia grossa nunca vivo
viveu.’[8]
Se a
leitura deixou-vos (um poucochinho) curiosos, venham daí. Vou recuar ao dia Mundial dos Museus, dia 19 de Maio de 2004. Continuando
o projecto do Museu de Comunidade (iniciado em 1986), é inaugurada, na então Casa da
Cultura da Ribeira Grande, projecto em parceria com o Museu Militar (na arquitectura militar com o Coronel
Salgado e Sérgio Rezendes, na geologia, com Nicolau Wallenstein, mestre da
segunda geração de geólogos), a exposição ‘Um tesouro escondido entre rochas.’[9] A
iniciativa justificava-se tanto mais que fora apresentado o projecto da via
litoral e as obras das Poças avançavam. Era bom alertar (quem de direito) para
os elementos construídos e geológicos do litoral.[10] Daí resultou
(tanto quanto me lembro) a
recuperação da casamata do Palheiro e a do areal de Santa Bárbara, a
salvaguarda do moinho de Água da Areia (que vos serve de ponto de orientação).[11] Ainda
nesse ano, seria colocada (texto de Nicolau Wallenstein) na praia (seu início
nascente) uma placa interpretativa da erupção do Pico Queimado (de 1563).[12] No
ano seguinte, em 2005, estudei (de forma participada) os Impérios da área da
cidade da Ribeira Grande, com destaque para os do litoral urbano (do Palheiro –
Bairro de Santa Luzia - a Santa Bárbara). São os que vocês dão de caras quando
vão às ondas. E para os quais, como festa magnífica da partilha (a minha
preferida) que a todos acolhe, são bem-vindos. Dali da beira-mar, saíram os
primeiros surfistas e bodyboarders da Ribeira Grande.[13] Dois
anos depois, dediquei-me (cruzando a investigação participada e
documental) à Alvorada de São Pedro (cujo
nome finório é Cavalhadas).[14] Enquanto
os Impérios pertencem a áreas restritas, este cortejo a cavalo (antes de mulas)
(cuja origem é – ainda -, desconhecida) une os cinco núcleos urbanos que
constituem a cidade (que se ergue no Graben). Proporcionalmente, como pude
verificar, é do litoral (Bandejo, Cova da Burra, Areal de Santa Bárbara) que sai
o maior contingente de cavaleiros. O que
vi? A beira-mar, outrora social e fisicamente segregada do lado de cima da terra (a ‘dos senhores’), já está física e socialmente integrada no seu todo.
A mudança deu-se (a meu ver) com o virar da terra para o mar.[15] Faltará
(e nisso ganharia a cidade, o concelho e a Ilha) que as cinco freguesias
(passadas já mais de quatro décadas da elevação) agissem como Cidade.
A
administração autárquica concelhia (que entrara em funções em finais de 2013), abre
dois trilhos em 2014: o do Pico Queimado e o da Ponta do Cintrão. Duas maneiras
soberbas de se conhecer (a pé) o graben e o seu litoral. Nos dois anos
seguintes (2015 e 2016) com o Festival de
Balões de Ar Quente, foi-se (ainda) mais longe: deu-se a oportunidade de conhecer
do ar o espaço do graben. São (claramente)
eventos (além dos do Surf) que projectam a Ribeira Grande além fronteiras (por
exemplo, entre outros, tanto quanto sei, um jornal londrino de grande
circulação divulgou os eventos). Para explicar o Graben, o OVGA (através do
professor Forjaz e da sua equipa de colaboradores, em parceria e a pedido da
autarquia) elaborou (em 2015) um (excelente) desdobrável:[16] ‘A diversidade na Orla costeira: Praia de
Santana – Baía de Santa Iria (…).’ Cuja organização segue a tipologia de ‘O Vulcão das Furnas: Encantos e temores
(…),’ de 2009, e antecede a do ‘Vulcão
das Sete Cidades (…),’ de 2016. Basicamente, trata-se de um desdobrável profusamente
ilustrado, onde se aborda (numa linguagem simples mas precisa) a sua evolução
geológica, a biodiversidade marinha, a avifauna, a flora e o património
antrópico. Outra iniciativa, essa para olhar os céus sobre o graben, surge em
2017. O OASA (sediado em Santana), publica o Almanaque dos locais do Concelho onde melhor se pode observar os
corpos celestes.[17]
Fazendo uso à interpretação dos
especialistas (os que encontrei), regresso ao início geológico (conhecido) da
área da Ribeira Grande.[18] Começando pelo geral até chegar
ao nosso graben. Os Açores estão
implantados numa área quase triangular da crista média atlântica. Crista que se
estende (grosso modo) do pólo norte ao sul. A primeira ilha dos Açores a ‘nascer’ foi Santa Maria (com uma idade
geológica atribuída a mais ou menos 8 milhões de anos). Passados quatro milhões
de anos, à volta do vulcão do Nordeste, surgem os primórdios geológicos da
futura Ilha de São Miguel. A Povoação (que se lhe junta) nasce um milhão de
anos depois. Furnas, por seu turno, há mais ou menos 750 mil anos. Entretanto,
a estas duas ilhas (Santa Maria e São Miguel/Nordeste), há 500 mil anos (sempre
mais ou menos) vai sendo formada a poente da de Nordeste uma nova ilha vizinha:
a ilha das Sete Cidades. E a área do vulcão do Fogo onde se situa a
Ribeira Grande? Começa a nascer 250 mil anos depois das Sete Cidades. Chegou
a ter 650 metros de altura.[19] Nessa
altura, vamos imaginar, se alguém estivesse numa prancha na praia de Santa
Bárbara e olhasse para terra, veria algo no género da arriba da Fajã do Araújo
(por exemplo). Se estivesse a surfar próximo da baixa de Santana, e se olhasse
para a sua direita, assim como se vê o Pico do Faial, veria a Ilha das Sete
Cidades.
De onde
vem a pedra das Poças e arredores? Virá (em parte) de uma erupção do Monte
Gordo ocorrida há cerca de 4990 anos mais ou menos 100 anos (segundo
Richard Moore, 1991).
A escoada lávica deslizou em direcção ao mar, quase que encostando à Coroa da
Mata, à ponta do Cintrão (que tem mais de 100 mil anos) passando pelas Gramas, encostando-se
ao Calhau do Cabo (que é mais antigo), à Chã das Gatas e terminando
na ribeira da Ribeira Grande. (Richard Moore: 1991) E as escoadas que separam a praia do Monte Verde (Areia) da de Santa
Bárbara? Da ribeira da Ribeira Grande para poente até meio da praia do
Monte Verde virão de uma erupção do Pico Vermelho cuja idade (incerta) aproximada
aponta para algo entre os 5000 e os 10000 anos. (Richard Moore,
1991) Do biscoito do Bandejo até ao actual parque
de estacionamento da Praia de Santa Bárbara (mais ou menos) virá do Pico
Arde (próximo do Pico Vermelho), uma erupção que ocorreu à volta de 1790 anos (mais
ou menos 150 anos: Richard Moore).
Por fim, encostado ao parque de estacionamento de Santa Bárbara (para o seu lado
poente) – defronte do Restaurante Tuká Tu Lá – a escoada histórica do Pico do
Sapateiro de 1563.[20] Victor
Forjaz tem opinião diferente (ou complementar?). Não veio também do Pico das Freiras? Resposta de Victor Forjaz: ‘(O
graben) é uma estrutura tectónica especial, com espasmos. Nuns
espasmos de maior descompressão, deu origem ao Pico das Freiras. E este
derramou lava até ao oceano ….. Mas houve outros mais pequenos que originaram
pequenos cones, como o Pico Vermelho uma beleza natural desfeita pelo
negócio da bagacina. Mas há outros pequenos em outras falhas geológicas que se
abriram, deixando a lava aflorar.’[21]
Será que as praias eram uma só praia? Apesar de indícios (fortes) apontarem
nesse sentido, para uma resposta clara, são necessárias mais provas.[22]
E de onde
vem a areia que alimenta os fundos? ‘As fontes sedimentares da praias da Ribeira Grande (Monte Verde e Santa
Bárbara) foram e são os sedimentos provenientes das ribeiras e do desmonte das
arribas.’[23] É Paulo Amaral Borges quem o afirma. E,
como vimos, dos "lahars" e areeiros vulcânicos. A areia dos areais da Ribeira Grande
(diferente da das Milícias e da do Pópulo, é semelhante à de Água de Alto) contém
traquite (proveniente
do Morro e da Ponta do Cintrão).
E da pedra-pomes das arribas. Fruto de conversas com o Professor Doutor
Paulo Amaral Borges e da leitura da sua tese de Doutoramento, fiquei a saber
muito mais sobre as praias de Santa Bárbara e do Monte Verde (os meus locais predilectos de caminhada).
Primeiro, que a praia de Santa Bárbara ‘(…)
com cerca de 1000 m (longitudinalmente), antes da extração mineira de areia
tinha cerca de 170 m transversalmente (…).’[24]
Que a do Monte Verde (Areia) mede 650 m (longitudinais) e (antes do aterro dos anos
sessenta que ligou a Vila Nova ao Bandejo) media 120 m
(transversais). Que Santa Bárbara ‘é
maior da Ilha, e desenvolve-se segundo a direcção ENE-WSE (…) entre o Morro de
Santana e o leque lávico da Ponta das Praias.’[25]
Que ‘(…) nos anos 50 do século XX, Santa
Bárbara era um dos raros exemplos açorianos de uma robusta praia de areia com
duna frontal (…).’[26]
Que ‘a sua margem terrestre da praia é
definida por uma arriba talhada em cinzas traquíticas, pedra-pomes de queda e
escoadas piroclásticas, que se eleva até cerca de 20 metros acima do nível
médio do mar.’ Que ‘a área é afectada
por um regime de agitação modal de alta energia, sendo a ondulação predominante
de NW. A praia apresenta-se exposta aos temporais de NW e N.’ Que ‘a deriva litoral ao longo da costa norte é
dirigida para leste em resíduo anual, embora a troca de sedimentos entre
células costeiras adjacentes seja diminuta, devido à combinação de uma costa
muito entalhada com um litoral próximo muito inclinado.’[27]
Por fim, calcula-se que, da última metade dos anos 60 a meados da década de
noventa do século passado, pelo menos, ‘terão
sido extraídos 950000 m3 de areia da praia subaérea e das dunas do areal de
Santa Bárbara e que desde 1953 a erosão natural foi responsável pela perda do
volume remanescente (…).[28]
No caso do Monte Verde, ter-se-á (pelo menos) extraído (calcula-se) à volta de 620.000 m3 de areia.[29]
Miradouro de Santa Luzia (Palheiro) – Cidade
da Ribeira Grande (continua)
[1] Desculpando-me dos (possíveis) erros de
interpretação que possa incorrer. Vou bater truz, truz à porta da História
Geológica. Pois, não se sabe toda a História só com a História/História.
[2] É a segunda
Cidade Açoriana em termos populacionais: 1.º Ponta Delgada com 17.319; 2.º
Ribeira Grande = 12.894; 3.ª Angra do Heroísmo = 9.532; 4.ª Lagoa = 8.937; 5.ª
Praia da Vitória = 7.812* e por último Horta = 5.631. Em termos económicos e de
receita fiscal também.
[3] Desculpando-me dos (possíveis) erros de
interpretação que possa incorrer.
[4] Cf. Muecke, G. K et al, Deep drilling in na active geothermal área in Azores, 1974
[5] Que continua a
abater-se.
[6] Testemunho de Victor Hugo Forjaz, 7 de
Maio de 2024.
[7] Testemunho de
Victor Hugo Forjaz, 7 e 13 de Maio de 2024. Para
outros, teria outra data. À
volta de 200 mil anos. Entre 280 a 140 mil anos. Com um erro de 140 mil anos. Viria
a abater-se (gradualmente) ao longo de séculos (cinco séculos para alguns). O
graben tem sofrido modificações modernas, como o lembrou hoje, dia 22 de Maio
de 2024, Victor Hugo Forjaz: ‘Há fotos antigas tiradas de norte para sul,
em que se via bem as escadas do
graben. Com o surgimento de tractores
e de pastagens, o relevo de pedra-pomes ficou muito adoçado. Tive acesso também
a fotos aéreas dos americanos que vieram para São Miguel.’
[8] Teves, Vítor, Conteiras, 2023 (dactilografado). Nasceu
no Hospital em Ponta Delgada, como acontece à Ilha. Mas é daqui.
[9] Após a conclusão em 1997 do Mestrado em
Museologia e Património.
[10] Assim, ‘na Casa da Cultura, estão patentes diversos
documentos militares datados dos finais do século XIX e início do século XX,
onde se comprova a importância geográfica e de estratégica da costa Norte de
São Miguel para as forças militares. Já no terreno, acompanhado por elementos
da Casa da Cultura da Ribeira Grande, é possível observar nas freguesias da
Ribeira Seca, Ribeira Grande – Matriz e Porto Formoso, os locais onde existe
Património Militar, como o Miradouro de Santa Iria, O forte de Nossa Senhora da
Estrela (…), ou os elementos militares existentes no Areal de Santa Bárbara.
(…).’Ribeira Grande, Revista Municipal, Ano 2, N.º, 3, Junho de 2004, p. 24.
Foram parceiros, as autarquias da Ribeira Seca (Carlos Anselmo) e da Matriz
(António Anacleto) e na área das construções militares, o coronel Salgado, na
organização da exposição, Sérgio Rezendes, e na interpretação geológica,
Nicolau Wallenstein. Martins, José Manuel Salgado, Os engenheiros militares na
Ilha de S. Miguel na transição do século XVIII para o XIX, 2015; Martins, José
Manuel Salgado, Do basalto ao betão. Fortificações das Ilhas de São Miguel e de
Santa Maria, 2013.
[11] Talvez por isso,
antes da DRAC ter arqueólogo, os responsáveis pelas SCUTS para Vila Franca me
consultassem - por diversas vezes - pro bono – como desejei -, sobre aspectos
de natureza patrimonial.
[12] O texto da placa é da autoria do Professor Nicolau
Wallenstein que orientara a visita guiada e que defendera com sucesso uma tese
de Doutoramento sobre o Vulcão do Fogo. Já o conhecia (ainda doutorando) da
época em que promovia escavações nas terras do ex-Mosteiro de Jesus. Foi
recolher amostras para datar as estruturas. A placa foi retirada (disse-se
então, temporariamente) para as obras de 2006/7. Ainda não foi reposta. Onde
pára?
[13] Descobri
impérios litorais que pouco ou nada tinham a ver com os de cima da terra. Por
exemplo: Areal de Santa Bárbara e Bandejo (separados entre si mas separados
igualmente entre os que faz contacto com a igreja: o da Rua do Saco). Na
Conceição e na Matriz acontece o mesmo: Vila Nova à parte do da rua do
Vencimento. O da praia separado do da rua do Saco. Que por sua vez, estão
separados da rua Direita a grande fronteira social. Aí se fez em tempos o
Império dos Nobres. Na Matriz: o do Curral não toca no das Espigas nem no de
Santo André. Os que recentemente surgiram no Bairro do Palheiro estão à parte.
A Ribeirinha não toca no Litoral. Quis estudar a razão pela qual um Império
principiava num determinado ponto e terminava noutro. Quis observar a
interacção das pessoas da rua entre si e destas com as das ruas vizinhas. E com
a gente de fora da terra. Desse trabalho saiu uma exposição explicativa
ilustrada com fotografias colhidas então ou recolhidas em pesquisas
arquivísticas. Testemunho de Victor Hugo Forjaz, 22 de Maio de 2024: ‘É
desperdício desaproveitar o extraordinário geo - monumento o fontenário.
Conheço um único caso paralelo no Japão.
Retirar algumas casas em redor. Tratar de desenvolver o magnífico parque
geológico do graben da Ribeira Grande.’
[14] Também resultou
numa exposição.
[15] Mais banhistas
da terra e de fora, surfistas, provas nacionais e internacionais de surf e de
bodyboard, festivais musicais, concursos, a via litoral a avançar (ainda que a
passo de caracol), abriram (e abrem) não só a Ribeira Grande a si própria com a
Ribeira Grande ao exterior.
[16] Cujo texto abriu
este trabalho. A Autarquia, liderada por Alexandre Gaudêncio, tinha então
Filipe Jorge como vereador da Cultura. O Gabinete chefiado por Miguel Andrade,
do qual faziam parte Carla Pacheco e Adriana Arruda foram os executores.
[17] Segundo Pedro
Garcia, seu autor (que desde início deste mês de Maio de 2024) trocou o OASA da
Câmara da Ribeira Grande por um organismo científico da alçada da Câmara de
Ponta Delgada, houve uma segunda edição em 2019. A deste ano, inclui já a ilha
de São Miguel. O percurso da erupção do pico do Sapateiro, segundo Nicolau
Wallenstein prova na sua tese de doutoramento, está desactualizada. Richard
Moore (em 1991) avança com novos dados.
Como veremos. Quem desejar ver o graben sem ter de o sobrevoar, vá aos
miradouros da Coroa da Mata e da Ponta do Cintrão, no limite nascente do
graben. Ou do sul, vá aos miradouros da Bela Vista, da Lagoa do Fogo e da Barrosa, na vertente Norte do
Vulcão do Fogo. Para ver do limite Poente, desça os outeiros de Santana ou o do
Galvão ou a nova auto-estrada Ribeira Grande – nó da Manguinha.
[18] Forjaz, Victor,
et al, Síntese geológica, O vulcão
das Furnas. Encantos e temores, 2009, pp. 441-442; Forjaz, Victor, et al, Vulcanologia da Ilha de São Miguel dos
Açores (…), 2015; Forjaz, Victor, et al, Aspectos vulcanológicos, in Vulcão das Sete Cidades. História
Natural, 2016, pp. 12-15;. Há várias interpretações. Não tenho conhecimentos
para escolher entre elas. A investigação geológica está longe de estar
encerrada, o próprio Forjaz alerta-o: ‘Talvez a EDA tenha dados mais
recentes de modelização. Como tomografias uma espécie de tac terrestre.’
Aviso: se errar o erro é apenas meu.
[19]David Chester, Angus Duncan, Rui Coutinho, Nicolau Wallenstein, Earthquakes and Volcanic Activity on
Islands History and Contemporary Perspectives from the Azores, Routledge, London, 2022.
[20] Victor Hugo Forjaz, 13 de
Maio de 2024: ‘A Ribeira Seca foi quase
toda tomada pelas toneladas de lava da erupção do pico do Sapateiro. Só
uma ribeira pré-existente explica o delta lávico junto ao mar. Aí divirjo do
Wallenstain.
[21] Testemunho de Victor Hugo Forjaz, 7 de
Maio de 2024.
[22] Os
cabouqueiros diziam que indo ao fundo da pedra, encontravam sempre areia. Isso é
visível à volta do parque de estacionamento da praia de Santa Bárbara e no
Largo dos Cabouqueiros. Porém, só um estudo sistemático tiraria isso a limpo.
[23] Testemunho de
Paulo Borges, 29 de Outubro de 2023.
[24] Testemunho de
Paulo Borges, 29 de Outubro de 2023.
[25] Borges, P., Ambientes litorais nos grupos central e
oriental do arquipélago dos Açores – Conteúdos e dinâmica de microescala,
Tese de Doutoramento, Departamento de Geociências, Universidade dos Açores, 2003,
p.257.
[26] Idem, p.259.
[27] Idem, pp.
257-58.
[28] Idem, pp.
261-63.
[29] Apesar da
reconfirmação, continuo céptico. Creio que foi muito mais. Reconfirmado hoje,
dia 12 de Maio de 2024, pelo telefone, com o Paulo Borges. Pedindo-lhe que o revisse, mandei o
texto ao Prof. Victor Forjaz, que me respondeu passados duas horas: ‘(…)1
- Em vez de escrever pedras sugiro rochas pois há solos
compactos que são pedras e não entram no seu artigo; 2 - Algures convêm
assinalar que o Complexo Vulcânico do Nordeste é o segmento mais antigo da
ilha, cerca de 04 milhões de anos. Foi um enorme vulcão denominado do tipo em
escudo (shield volcano). Tal como a Caldeira da Povoação, está extinto,
solidificado. Assim o demonstram as campanhas de estudo geotérmicos; 3 - Pico
das Freiras deve ser escrito com P. (…).’ Victor
Hugo Forjaz, 12 de Maio de 202
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