Avançar para o conteúdo principal

GRABEN - X

 Graben – X



 No coração da Ribeira Grande, o Graben é a CASA onde co-habitam - nem sempre de forma pacífica -, humanos, animais, plantas, rochas.[1] Para se fazer uma ideia da sua dimensão, basta dizer que é ligeiramente maior do que a Ilha Graciosa e três vezes maior do que a do Corvo. Nele mora, consoante os parâmetros, a segunda ou a terceira, maior cidade dos Açores.[2] Sem que isso, no entanto, por erros nossos, se traduza em poder político. Por não se saber toda a História só com a História/História, bato truz, truz à porta da História Geológica. [3]  Convido o surfista de hoje (é para ele que escrevo) a seguir-me: a arriba à vossa frente, hoje com duas dezenas de metros, outrora chegou a erguer-se a 650 metros acima do nível do mar.[4] Entretanto, foi-se abatendo ao longo de séculos, dando origem ao Graben da Ribeira.[5] O que diz disso Victor Hugo Forjaz (pioneiro da geologia que a explica – sem pôr em perigo a ciência -, de forma que todos a entendam)? Num texto (pedido pela Câmara) e destinado (em 2015 e 2016) aos I e II Festivais de Balões de Ar Quente, da Ribeira Grande, disse: ‘A planura do vale da Ribeira Grande corresponde a uma estrutura geológica denominada "graben"  soterrada por volumosos depósitos de pedra-pomes de queda  (ou seja "choveu" pedra-pomes de nuvens vulcânicas impelidas pelos ventos) e de "lahars" ou areeiros da Ribeira Grande, estes correspondendo a derrames, vertente abaixo, de cinzas em meio  aquoso  misturadas  em  diversas granulometrias de "pedras" emitidas da Lagoa do Fogo, ao longo de milhares de anos, sendo de  1563 os últimos  "lahars." Como é este espaço? É formado ‘por duas  escadarias principais. Uma,  com degraus descendo do lado de Porto Formoso para o centro da Ribeira Grande. A segunda escadaria,  situa-se do  lado  contrário, ou seja, desce da zona do "aerovacas " [Santana] para o mesmo centro da Ribeira Grande.’ Agora em 2024, ao computador (sentado à mesa do Tuká-Tu-Lá, com o mar ao meu lado), fui-lhe fazendo novas perguntas: ‘O graben de Ribeira Grande  é do tipo scisor graben. i.e. em tesoura. A outra parte da tesoura está na banda de Vila Franca. É a maior estrutura tectónica da Ilha e é responsável pelos valiosos recursos geotérmicos da Ribeira Grande (já provados) e de Vila Franca (em estudo) São biliões de euros.[6] De quando data o graben? Para mim, via estudos geotérmicos, o graben é recente, tem cerca de 60 mil anos, quando se gerou o Complexo Vulcânico dos Picos, estrutura que ligou a ilha de S. Miguel 1  à ilha das Sete Cidades. Talvez a EDA tenha dados mais recentes de modelização. Como tomografias  uma espécie de tac terrestre.’ [7]

Esqueçam (por momentos) as ondas. E a geologia. Se vos apetecer partilhar da paixão (um misto de temor e de afoiteza) de muitos daqui pela Areia [Monte Verde], leiam (em voz alta) no alto do Miradouro do Palheiro o soneto ‘Minha Terra do Norte,’ do poeta José de Oliveira San-Bento. Nasceu ali perto, à altura encontrava-se desterrado (ou em Lisboa ou já em Ponta Delgada) e dedica-o ao Dr. José Nunes da Ponte, outro exilado: ‘Aquele mar do Norte que se espraia, / Subindo ao areal em que desmaia, / É meu e será meu até ao fim…/ É minha aquela espuma que se alteia, / Nas rochas a bramar, à lua cheia,/ Pois tudo isso vive dentro em mim!’ Nunes da Ponte, que se formou em medicina e nunca mais os pés na sua Ribeira Grande, era republicano. Foi Presidente da Câmara do Porto ainda nos anos finais da monarquia. Já em República, foi ministro de Pimenta de Castro, Presidente do Senado da República, Governador Civil do Porto. Vítor Teves, poeta que se revelou em força – serena -, não há muito, de regresso à terra, revive a infância na Areia no poema ‘Enroloado na onda,’ do qual retiro um (saboroso) naco: ‘Quem nunca foi enrolado pela grande/ espuma e atirado contra as mil pedras/ da areia grossa nunca vivo viveu.’[8]

Se a leitura deixou-vos (um poucochinho) curiosos, venham daí. Vou recuar ao dia Mundial dos Museus, dia 19 de Maio de 2004. Continuando o projecto do Museu de Comunidade (iniciado em 1986), é inaugurada, na então Casa da Cultura da Ribeira Grande, projecto em parceria com o Museu Militar (na arquitectura militar com o Coronel Salgado e Sérgio Rezendes, na geologia, com Nicolau Wallenstein, mestre da segunda geração de geólogos), a exposição ‘Um tesouro escondido entre rochas.’[9] A iniciativa justificava-se tanto mais que fora apresentado o projecto da via litoral e as obras das Poças avançavam. Era bom alertar (quem de direito) para os elementos construídos e geológicos do litoral.[10] Daí resultou (tanto quanto me lembro) a recuperação da casamata do Palheiro e a do areal de Santa Bárbara, a salvaguarda do moinho de Água da Areia (que vos serve de ponto de orientação).[11] Ainda nesse ano, seria colocada (texto de Nicolau Wallenstein) na praia (seu início nascente) uma placa interpretativa da erupção do Pico Queimado (de 1563).[12] No ano seguinte, em 2005, estudei (de forma participada) os Impérios da área da cidade da Ribeira Grande, com destaque para os do litoral urbano (do Palheiro – Bairro de Santa Luzia - a Santa Bárbara). São os que vocês dão de caras quando vão às ondas. E para os quais, como festa magnífica da partilha (a minha preferida) que a todos acolhe, são bem-vindos. Dali da beira-mar, saíram os primeiros surfistas e bodyboarders da Ribeira Grande.[13] Dois anos depois, dediquei-me (cruzando a investigação participada e documental) à Alvorada de São Pedro (cujo nome finório é Cavalhadas).[14] Enquanto os Impérios pertencem a áreas restritas, este cortejo a cavalo (antes de mulas) (cuja origem é – ainda -, desconhecida) une os cinco núcleos urbanos que constituem a cidade (que se ergue no Graben). Proporcionalmente, como pude verificar, é do litoral (Bandejo, Cova da Burra, Areal de Santa Bárbara) que sai o maior contingente de cavaleiros. O que vi? A beira-mar, outrora social e fisicamente segregada do lado de cima da terra (a ‘dos senhores’), já está física e socialmente integrada no seu todo. A mudança deu-se (a meu ver) com o virar da terra para o mar.[15] Faltará (e nisso ganharia a cidade, o concelho e a Ilha) que as cinco freguesias (passadas já mais de quatro décadas da elevação) agissem como Cidade.

A administração autárquica concelhia (que entrara em funções em finais de 2013), abre dois trilhos em 2014: o do Pico Queimado e o da Ponta do Cintrão. Duas maneiras soberbas de se conhecer (a pé) o graben e o seu litoral. Nos dois anos seguintes (2015 e 2016) com o Festival de Balões de Ar Quente, foi-se (ainda) mais longe: deu-se a oportunidade de conhecer do ar o espaço do graben. São (claramente) eventos (além dos do Surf) que projectam a Ribeira Grande além fronteiras (por exemplo, entre outros, tanto quanto sei, um jornal londrino de grande circulação divulgou os eventos). Para explicar o Graben, o OVGA (através do professor Forjaz e da sua equipa de colaboradores, em parceria e a pedido da autarquia) elaborou (em 2015) um (excelente) desdobrável:[16]A diversidade na Orla costeira: Praia de Santana – Baía de Santa Iria (…).’ Cuja organização segue a tipologia de ‘O Vulcão das Furnas: Encantos e temores (…),’ de 2009, e antecede a do ‘Vulcão das Sete Cidades (…),’ de 2016. Basicamente, trata-se de um desdobrável profusamente ilustrado, onde se aborda (numa linguagem simples mas precisa) a sua evolução geológica, a biodiversidade marinha, a avifauna, a flora e o património antrópico. Outra iniciativa, essa para olhar os céus sobre o graben, surge em 2017. O OASA (sediado em Santana), publica o Almanaque dos locais do Concelho onde melhor se pode observar os corpos celestes.[17]

Fazendo uso à interpretação dos especialistas (os que encontrei), regresso ao início geológico (conhecido) da área da Ribeira Grande.[18] Começando pelo geral até chegar ao nosso graben. Os Açores estão implantados numa área quase triangular da crista média atlântica. Crista que se estende (grosso modo) do pólo norte ao sul. A primeira ilha dos Açores a ‘nascer’ foi Santa Maria (com uma idade geológica atribuída a mais ou menos 8 milhões de anos). Passados quatro milhões de anos, à volta do vulcão do Nordeste, surgem os primórdios geológicos da futura Ilha de São Miguel. A Povoação (que se lhe junta) nasce um milhão de anos depois. Furnas, por seu turno, há mais ou menos 750 mil anos. Entretanto, a estas duas ilhas (Santa Maria e São Miguel/Nordeste), há 500 mil anos (sempre mais ou menos) vai sendo formada a poente da de Nordeste uma nova ilha vizinha: a ilha das Sete Cidades. E a área do vulcão do Fogo onde se situa a Ribeira Grande? Começa a nascer 250 mil anos depois das Sete Cidades. Chegou a ter 650 metros de altura.[19] Nessa altura, vamos imaginar, se alguém estivesse numa prancha na praia de Santa Bárbara e olhasse para terra, veria algo no género da arriba da Fajã do Araújo (por exemplo). Se estivesse a surfar próximo da baixa de Santana, e se olhasse para a sua direita, assim como se vê o Pico do Faial, veria a Ilha das Sete Cidades.

 De onde vem a pedra das Poças e arredores? Virá (em parte) de uma erupção do Monte Gordo ocorrida há cerca de 4990 anos mais ou menos 100 anos (segundo Richard Moore, 1991). A escoada lávica deslizou em direcção ao mar, quase que encostando à Coroa da Mata, à ponta do Cintrão (que tem mais de 100 mil anos) passando pelas Gramas, encostando-se ao Calhau do Cabo (que é mais antigo), à Chã das Gatas e terminando na ribeira da Ribeira Grande. (Richard Moore: 1991) E as escoadas que separam a praia do Monte Verde (Areia) da de Santa Bárbara? Da ribeira da Ribeira Grande para poente até meio da praia do Monte Verde virão de uma erupção do Pico Vermelho cuja idade (incerta) aproximada aponta para algo entre os 5000 e os 10000 anos. (Richard Moore, 1991) Do biscoito do Bandejo até ao actual parque de estacionamento da Praia de Santa Bárbara (mais ou menos) virá do Pico Arde (próximo do Pico Vermelho), uma erupção que ocorreu à volta de 1790 anos (mais ou menos 150 anos: Richard Moore). Por fim, encostado ao parque de estacionamento de Santa Bárbara (para o seu lado poente) – defronte do Restaurante Tuká Tu Lá – a escoada histórica do Pico do Sapateiro de 1563.[20] Victor Forjaz tem opinião diferente (ou complementar?). Não veio também do Pico das Freiras? Resposta de Victor Forjaz: ‘(O graben) é uma estrutura tectónica especial, com espasmos. Nuns espasmos de maior descompressão, deu origem ao Pico das Freiras.  E este derramou lava até ao oceano ….. Mas houve outros mais pequenos que originaram pequenos cones, como o Pico Vermelho  uma beleza natural desfeita pelo negócio da bagacina. Mas há outros pequenos em outras falhas geológicas que se abriram, deixando a lava aflorar.’[21] Será que as praias eram uma só praia? Apesar de indícios (fortes) apontarem nesse sentido, para uma resposta clara, são necessárias mais provas.[22]

E de onde vem a areia que alimenta os fundos? ‘As fontes sedimentares da praias da Ribeira Grande (Monte Verde e Santa Bárbara) foram e são os sedimentos provenientes das ribeiras e do desmonte das arribas.’[23] É Paulo Amaral Borges quem o afirma. E, como vimos, dos "lahars" e areeiros vulcânicos. A areia dos areais da Ribeira Grande (diferente da das Milícias e da do Pópulo, é semelhante à de Água de Alto) contém traquite (proveniente do Morro e da Ponta do Cintrão). E da pedra-pomes das arribas. Fruto de conversas com o Professor Doutor Paulo Amaral Borges e da leitura da sua tese de Doutoramento, fiquei a saber muito mais sobre as praias de Santa Bárbara e do Monte Verde (os meus locais predilectos de caminhada). Primeiro, que a praia de Santa Bárbara ‘(…) com cerca de 1000 m (longitudinalmente), antes da extração mineira de areia tinha cerca de 170 m transversalmente (…).[24] Que a do Monte Verde (Areia) mede 650 m (longitudinais) e (antes do aterro dos anos sessenta que ligou a Vila Nova ao Bandejo) media 120 m (transversais). Que Santa Bárbara ‘é maior da Ilha, e desenvolve-se segundo a direcção ENE-WSE (…) entre o Morro de Santana e o leque lávico da Ponta das Praias.[25] Que ‘(…) nos anos 50 do século XX, Santa Bárbara era um dos raros exemplos açorianos de uma robusta praia de areia com duna frontal (…).[26] Que ‘a sua margem terrestre da praia é definida por uma arriba talhada em cinzas traquíticas, pedra-pomes de queda e escoadas piroclásticas, que se eleva até cerca de 20 metros acima do nível médio do mar.’ Que ‘a área é afectada por um regime de agitação modal de alta energia, sendo a ondulação predominante de NW. A praia apresenta-se exposta aos temporais de NW e N.’ Que ‘a deriva litoral ao longo da costa norte é dirigida para leste em resíduo anual, embora a troca de sedimentos entre células costeiras adjacentes seja diminuta, devido à combinação de uma costa muito entalhada com um litoral próximo muito inclinado.[27] Por fim, calcula-se que, da última metade dos anos 60 a meados da década de noventa do século passado, pelo menos, ‘terão sido extraídos 950000 m3 de areia da praia subaérea e das dunas do areal de Santa Bárbara e que desde 1953 a erosão natural foi responsável pela perda do volume remanescente (…).[28] No caso do Monte Verde, ter-se-á (pelo menos) extraído (calcula-se) à volta de 620.000 m3 de areia.[29]

Miradouro de Santa Luzia (Palheiro) – Cidade da Ribeira Grande (continua)



[1] Desculpando-me dos (possíveis) erros de interpretação que possa incorrer. Vou bater truz, truz à porta da História Geológica. Pois, não se sabe toda a História só com a História/História.

[2] É a segunda Cidade Açoriana em termos populacionais: 1.º Ponta Delgada com 17.319; 2.º Ribeira Grande = 12.894; 3.ª Angra do Heroísmo = 9.532; 4.ª Lagoa = 8.937; 5.ª Praia da Vitória = 7.812* e por último Horta = 5.631. Em termos económicos e de receita fiscal também.

[3] Desculpando-me dos (possíveis) erros de interpretação que possa incorrer.

[4] Cf. Muecke, G. K et al, Deep drilling in na active geothermal área in Azores, 1974

[5] Que continua a abater-se.

[6] Testemunho de Victor Hugo Forjaz, 7 de Maio de 2024.

[7] Testemunho de Victor Hugo Forjaz, 7 e 13 de Maio de 2024. Para outros, teria outra data. À volta de 200 mil anos. Entre 280 a 140 mil anos. Com um erro de 140 mil anos. Viria a abater-se (gradualmente) ao longo de séculos (cinco séculos para alguns). O graben tem sofrido modificações modernas, como o lembrou hoje, dia 22 de Maio de 2024, Victor Hugo Forjaz: Há fotos antigas tiradas de norte para sul, em que se via bem as escadas do graben. Com o surgimento de tractores e de pastagens, o relevo de pedra-pomes ficou muito adoçado. Tive acesso também a fotos aéreas dos americanos que vieram para São Miguel.’

[8] Teves, Vítor, Conteiras, 2023 (dactilografado). Nasceu no Hospital em Ponta Delgada, como acontece à Ilha. Mas é daqui.

[9] Após a conclusão em 1997 do Mestrado em Museologia e Património.

[10] Assim, ‘na Casa da Cultura, estão patentes diversos documentos militares datados dos finais do século XIX e início do século XX, onde se comprova a importância geográfica e de estratégica da costa Norte de São Miguel para as forças militares. Já no terreno, acompanhado por elementos da Casa da Cultura da Ribeira Grande, é possível observar nas freguesias da Ribeira Seca, Ribeira Grande – Matriz e Porto Formoso, os locais onde existe Património Militar, como o Miradouro de Santa Iria, O forte de Nossa Senhora da Estrela (…), ou os elementos militares existentes no Areal de Santa Bárbara. (…).’Ribeira Grande, Revista Municipal, Ano 2, N.º, 3, Junho de 2004, p. 24. Foram parceiros, as autarquias da Ribeira Seca (Carlos Anselmo) e da Matriz (António Anacleto) e na área das construções militares, o coronel Salgado, na organização da exposição, Sérgio Rezendes, e na interpretação geológica, Nicolau Wallenstein. Martins, José Manuel Salgado, Os engenheiros militares na Ilha de S. Miguel na transição do século XVIII para o XIX, 2015; Martins, José Manuel Salgado, Do basalto ao betão. Fortificações das Ilhas de São Miguel e de Santa Maria, 2013.

[11] Talvez por isso, antes da DRAC ter arqueólogo, os responsáveis pelas SCUTS para Vila Franca me consultassem - por diversas vezes - pro bono – como desejei -, sobre aspectos de natureza patrimonial.

[12] O texto da placa é da autoria do Professor Nicolau Wallenstein que orientara a visita guiada e que defendera com sucesso uma tese de Doutoramento sobre o Vulcão do Fogo. Já o conhecia (ainda doutorando) da época em que promovia escavações nas terras do ex-Mosteiro de Jesus. Foi recolher amostras para datar as estruturas. A placa foi retirada (disse-se então, temporariamente) para as obras de 2006/7. Ainda não foi reposta. Onde pára?

[13] Descobri impérios litorais que pouco ou nada tinham a ver com os de cima da terra. Por exemplo: Areal de Santa Bárbara e Bandejo (separados entre si mas separados igualmente entre os que faz contacto com a igreja: o da Rua do Saco). Na Conceição e na Matriz acontece o mesmo: Vila Nova à parte do da rua do Vencimento. O da praia separado do da rua do Saco. Que por sua vez, estão separados da rua Direita a grande fronteira social. Aí se fez em tempos o Império dos Nobres. Na Matriz: o do Curral não toca no das Espigas nem no de Santo André. Os que recentemente surgiram no Bairro do Palheiro estão à parte. A Ribeirinha não toca no Litoral. Quis estudar a razão pela qual um Império principiava num determinado ponto e terminava noutro. Quis observar a interacção das pessoas da rua entre si e destas com as das ruas vizinhas. E com a gente de fora da terra. Desse trabalho saiu uma exposição explicativa ilustrada com fotografias colhidas então ou recolhidas em pesquisas arquivísticas. Testemunho de Victor Hugo Forjaz, 22 de Maio de 2024: ‘É desperdício desaproveitar o extraordinário geo - monumento o fontenário. Conheço um único caso paralelo no Japão.  Retirar algumas casas em redor. Tratar de desenvolver o magnífico parque geológico do graben da Ribeira Grande.’

[14] Também resultou numa exposição.

[15] Mais banhistas da terra e de fora, surfistas, provas nacionais e internacionais de surf e de bodyboard, festivais musicais, concursos, a via litoral a avançar (ainda que a passo de caracol), abriram (e abrem) não só a Ribeira Grande a si própria com a Ribeira Grande ao exterior.

[16] Cujo texto abriu este trabalho. A Autarquia, liderada por Alexandre Gaudêncio, tinha então Filipe Jorge como vereador da Cultura. O Gabinete chefiado por Miguel Andrade, do qual faziam parte Carla Pacheco e Adriana Arruda foram os executores.

[17] Segundo Pedro Garcia, seu autor (que desde início deste mês de Maio de 2024) trocou o OASA da Câmara da Ribeira Grande por um organismo científico da alçada da Câmara de Ponta Delgada, houve uma segunda edição em 2019. A deste ano, inclui já a ilha de São Miguel. O percurso da erupção do pico do Sapateiro, segundo Nicolau Wallenstein prova na sua tese de doutoramento, está desactualizada. Richard Moore  (em 1991) avança com novos dados. Como veremos. Quem desejar ver o graben sem ter de o sobrevoar, vá aos miradouros da Coroa da Mata e da Ponta do Cintrão, no limite nascente do graben. Ou do sul, vá aos miradouros da Bela Vista, da Lagoa do Fogo e da Barrosa, na vertente Norte do Vulcão do Fogo. Para ver do limite Poente, desça os outeiros de Santana ou o do Galvão ou a nova auto-estrada Ribeira Grande – nó da Manguinha.

[18] Forjaz, Victor, et al, Síntese geológica, O vulcão das Furnas. Encantos e temores, 2009, pp. 441-442; Forjaz, Victor, et al, Vulcanologia da Ilha de São Miguel dos Açores (…), 2015; Forjaz, Victor, et al, Aspectos vulcanológicos, in Vulcão das Sete Cidades. História Natural, 2016, pp. 12-15;. Há várias interpretações. Não tenho conhecimentos para escolher entre elas. A investigação geológica está longe de estar encerrada, o próprio Forjaz alerta-o: ‘Talvez a EDA tenha dados mais recentes de modelização. Como tomografias  uma espécie de tac terrestre. Aviso: se errar o erro é apenas meu.

[19]David ChesterAngus DuncanRui CoutinhoNicolau Wallenstein, Earthquakes and Volcanic Activity on Islands History and Contemporary Perspectives from the Azores, Routledge, London, 2022.

[20] Victor Hugo Forjaz, 13 de Maio de 2024: ‘A Ribeira Seca foi quase toda tomada pelas toneladas de lava da  erupção do pico do Sapateiro. Só uma ribeira pré-existente explica o delta lávico junto ao mar. Aí divirjo do Wallenstain.

[21] Testemunho de Victor Hugo Forjaz, 7 de Maio de 2024.

[22] Os cabouqueiros diziam que indo ao fundo da pedra, encontravam sempre areia. Isso é visível à volta do parque de estacionamento da praia de Santa Bárbara e no Largo dos Cabouqueiros. Porém, só um estudo sistemático tiraria isso a limpo.

[23] Testemunho de Paulo Borges, 29 de Outubro de 2023.

[24] Testemunho de Paulo Borges, 29 de Outubro de 2023.

[25] Borges, P., Ambientes litorais nos grupos central e oriental do arquipélago dos Açores – Conteúdos e dinâmica de microescala, Tese de Doutoramento, Departamento de Geociências, Universidade dos Açores, 2003, p.257.

[26] Idem, p.259.

[27] Idem, pp. 257-58.

[28] Idem, pp. 261-63.

[29] Apesar da reconfirmação, continuo céptico. Creio que foi muito mais. Reconfirmado hoje, dia 12 de Maio de 2024, pelo telefone, com o Paulo Borges. Pedindo-lhe que o revisse, mandei o texto ao Prof. Victor Forjaz, que me respondeu passados duas horas: ‘(…)1 - Em vez de escrever  pedras  sugiro  rochas  pois há solos compactos que são pedras e não entram no seu artigo; 2 - Algures convêm assinalar que o Complexo Vulcânico do Nordeste é o segmento mais antigo da ilha, cerca de 04 milhões de anos. Foi um enorme vulcão denominado do tipo em escudo (shield volcano). Tal como a Caldeira da Povoação, está extinto, solidificado. Assim o demonstram as campanhas de estudo geotérmicos; 3 - Pico das  Freiras deve ser  escrito com P. (…).’ Victor Hugo Forjaz, 12 de Maio de 202

Comentários

Mensagens populares deste blogue

História do Surf na Ribeira Grande: Clubes (Parte IV)

Clubes (Parte IV) Clubes? ‘ Os treinadores fizeram pressão para que se criasse uma verdadeira associação de clubes .’ [1] É assim que o recorda, quase uma década depois, Luís Silva Melo, Presidente da Comissão Instaladora e o primeiro Presidente da AASB. [2] Porquê? O sucesso (mediático e desportivo) das provas nacionais e internacionais (em Santa Bárbara e no Monte Verde, devido à visão de Rodrigo Herédia) havia atraído (como nunca) novos candidatos ao desporto das ondas (e à sua filosofia de vida), no entanto, desde o fecho da USBA, ficara (quase) tudo (muito) parado (em termos de competições oficiais). O que terá desencadeado o movimento da mudança? Uma conversa (fortuita?) na praia. Segundo essa versão, David Prescott, comentador de provas de nível nacional e internacional, há pouco fixado na ilha, ainda em finais do ano de 2013 ou já em inícios do ano de 2014, chegando-se a um grupo ‘ de mães ’ (mais propriamente de pais e mães) que (regularmente) acompanhavam os treinos do...

Moinhos da Ribeira Grande

“Mãn d’água [1] ” Moleiros revoltados na Ribeira Grande [2] Na edição do jornal de 29 de Outubro de 1997, ao alto da primeira página, junto ao título do jornal, em letras gordas, remetendo o leitor para a página 6, a jornalista referia que: « Os moleiros cansados de esperar e ouvir promessas da Câmara da Ribeira Grande e do Governo Regional, avançaram ontem sozinhos e por conta própria para a recuperação da “ mãe d’água” de onde parte a água para os moinhos.» Deixando pairar no ar a ameaça de que, assim sendo « após a construção, os moleiros prometem vedar com blocos e cimento o acesso da água aos bombeiros voluntários, lavradores e matadouro da Ribeira Grande, que utilizam a água da levada dos moinhos da Condessa.» [3] Passou, entretanto, um mês e dezanove dias, sobre a enxurrada de 10 de Setembro que destruiu a “Mãn”, e os moleiros sem água - a sua energia gratuita -, recorriam a moinhos eléctricos e a um de água na Ribeirinha: « O meu filho[Armindo Vitória] agora [24-10-1997] só ven...

Quem foi Madre Margarida Isabel do Apocalipse? Pequenos traços biográficos.

Quem foi Madre Margarida Isabel do Apocalipse? Pequenos traços biográficos. Pretende-se, com o museu do Arcano, tal como com o dos moinhos, a arqueologia, a azulejaria, as artes e ofícios, essencialmente, continuar a implementar o Museu da Ribeira Grande - desde 1986 já existe parte aberta ao público na Casa da Cultura -, uma estrutura patrimonial que estude, conserve e explique à comunidade e com a comunidade o espaço e o tempo no concelho da Ribeira Grande, desde a sua formação e evolução geológica, passando pelas suas vertentes histórica, antropológica, sociológica, ou seja nas suas múltiplas vertentes interdisciplinares, desde então até ao presente. Madre Margarida Isabel do Apocalipse foi freira clarissa desde 1800, saindo do convento em 1832 quando os conventos foram extintos nas ilhas. Nasceu em 1779 na freguesia da Conceição e faleceu em 1858 na da Matriz, na Cidade de Ribeira Grande. Pertencia às principais famílias da vila sendo aparentada às mais importan...