Uma História do Surfe na Ribeira Grande (I
Parte)
A História do Surfe começa no Sul da Ilha e o
seu berço foi na praia das Milícias/Pópulo. A prática do surf, ‘já com regras, torna-se regular a partir dos anos 80. É a geração de 80-90.’ Não
foram os primeiros, porém, dariam o ‘empurrão’
que faltava.[1] ‘Há uma primeira associação de surfe ligada [e
não só] à Escola Antero Quental.’[2]
É organizada uma primeira competição.[3]
‘O Primeiro Meeting de Surf data de 1985.
Tem lugar na Praia do Pópulo.’[4]
Por volta de 82/82, já vinham surfar à Ribeira Grande. Porque frequentaram logo depois Santa Bárbara e o Monte Verde?[5]
‘A resposta mais simples é a qualidade
das ondas. Mas tem a ver com várias coisas o facto de ser praia com fundo de
areia. Estar virada a norte e exposta às ondulações. O tamanho das praias com
várias i ok das ou picos como nós chamamos. Ondas.’[6]
De que quadrante são ali as melhores? ‘Ondas Norte com vento Sul são as condições
ideais.’[7]
Havia
quem se interessasse pelo Surfe na Ribeira Grande?
Sim. Em Janeiro de
1983, o Vereador Ezequiel de Melo Moreira da Silva, que havia tomado posse na
semana anterior, dá destaque ao surfe e o windsurfe. Ezequiel apresentou vinte
e duas propostas ‘Para a dignificação e
desenvolvimento da Ribeira Grande,’ destas vinte e duas (surpreendam-se),
duas são relativas à promoção do Surf e do WindSurf na baía da Ribeira Grande,
em Rabo de Peixe, no Porto Formoso e na Maia. Onde teria Ezequiel ido tirar a ideia? Dá provas de conhecer (de
algum lado) o potencial turístico e económico das novas modalidades. Visão
pioneira, e arrojada de um autarca, tanto mais que, na ilha, quanto muito,
haveria pouco mais do que uma mão cheia de surfistas, se tanto. Vinham à ilha,
é certo, surfistas de fora. Alguns até permaneciam temporadas na Ribeira
Grande. Ezequiel, por lazer ou em negócios, viajava muito pela Europa, pelas
Américas, no interior das Ilhas e em Portugal Continental. Lia tudo o que
apanhava e daí captava todas as novidades. Fazia logo por aplicar algumas aos seus
negócios e à sua muito querida Ribeira Grande. Pertencia ao Círculo dos Amigos da Ribeira Grande,
que ainda se mantinha, fora Secretário Regional da Agricultura e Pescas e
acompanhara a elevação a Cidade. O
vereador (da oposição) Fernando Monteiro, último Presidente antes do 25 de
Abril, também pertencia ao Círculo. É
por aí que se deve compreender a razão da sua décima nona proposta, na qual propõe
a ‘realização, na época mais adequada, de
experiências que facultem elementos sobre as possibilidades do mar da zona
litoral da Ribeira Grande para a prática de determinados desportos náuticos,
especialmente, o Surf.’ A vigésima propõe o ‘estudo, em colaboração com o Clube Naval de Ponta Delgada, das
possibilidades das baías do Porto Formoso, Maia e Rabo de Peixe para a prática
de desportos náuticos, nomeadamente, a Vela, o Windsurf e Surf.’ Após a sua apresentação, ‘a Câmara decidiu distribuir por cada membro uma fotocópia da proposta supra, de forma que,
na próxima reunião todos estejam habilitados a votá-la.’[8] Deu
algum resultado? Talvez a resposta à pergunta venha noutra proposta de Ezequiel
de Maio. Em Maio de 1983, Ezequiel inclui no programa de celebração do II
Aniversário da Cidade (pasme-se ainda), para o ‘Dia 2 de Julho: Conforme as condições climatéricas e a hora a combinar,
demonstração de Surf e de Windsurf na baía da Ribeira Grande, com a colaboração
do Clube Naval de Ponta Delgada.’[9] Repare-se
nas datas, três anos antes do primeiro meeting
de surfe conhecido na Ilha. Ter-se-á ou não realizado aquela demonstração? Acerca
disso, não consegui ainda apurar nada, porém, fico a pensar se o testemunho de 1983
de Alfredo da Ponte (que mais à frente transcrevo), não terá algo a ver com
isso. Quem sabe? Tendo-se ou não realizado a demonstração, fica contudo uma interessante
prova do interesse precoce da Autarquia da Ribeira Grande (ou daquele autarca
em particular) pelo surfe, isso treze ou catorze anos antes da escola de surfe na Ribeira Grande de João Brilhante. Com jovens de ambos os sexos
da Ribeira Grande.
A partir de então, o surfe que
entretanto se ia desenvolvendo na Ilha e em Portugal, nunca mais esqueceu a
Ribeira Grande. Era já Presidente Hermano Mota - outro membro do Círculo -, entretanto, Ezequiel deixara
de ser Vereador, porém, dada a grande qualidade das ondas da Ribeira Grande, já
não era a autarquia que batia à porta do Surfe (autarquia que talvez nunca se
tivesse verdadeiramente interessado) mas o Surfe que batia à porta da
autarquia. Desta vez, a autarquia não demonstraria a abertura ao Surfe que
tivera no tempo de Ezequiel. Em 1988, a
Revista Surf Magazine, pretendendo realizar de 27 de Março a 2 de Abril de
1988 filmagens sobre as ondas da Ilha, pede patrocínio à autarquia. Como
contrapartida, além da divulgação das ondas do Concelho, faria divulgação na
sua revista. Não encontrei a resposta da autarquia.[10] No ano seguinte, em Fevereiro de 1989,
o Clube de Surf de São Miguel, convida a autarquia a estar presente na ‘Discoteca
Populo’s Inn, na entrega dos prémios das duas últimas provas organizadas por
aquele clube recentemente criado.’[11] Desconheço
a resposta que a edilidade terá dado ao convite.
Quem
foram e quando chegaram os primeiros surfistas do Sul da Ilha aos areais da
Ribeira Grande? Pedro Medeiros Violante, um desses ‘aventureiros’
de oitenta, hoje Bibliotecário e Arquivista, dá-me a sua versão: ‘Comecei a vir ao Monte Verde em 83/84. Já
tinha ido em 81/2 ver surfar amigos em Santa Bárbara. Mas nesta altura não
surfava ainda.’ O que vos atraía ao mar cá de cima? ‘Era sabido que o mar era perigoso na Ribeira Grande. Logo, havia ondas.’[12]
Como faziam para chegar aqui? ‘Subíamos a
canada Duarte Borges. Pedíamos boleia na estrada da Ribeira Grande a carrinhas
de caixa aberta. Geralmente vínhamos num
grupo de três a cinco. Na carrinha do Victor da Espelhadora é a mais célebre
das boleias. Era surfista e um pouco mais velho, e trabalhava até aos sábados
de manhã. Levava a malta (toda a gente se tratava por José, José Victor, José
Pedro, etc…) consigo numa carrinha de caixa aberta nos sábados à tarde e aos
Domingos.’[13] Luís
Melo, professor de Educação Física, dá conta de outra forma de lá chegar: ‘a camioneta. Com a prancha no
porta-bagagens. Às vezes a camioneta ia pelas freguesias.’ Ou, quem diria,
à boleia dos camiões de areia que iam encher areia a Santa Bárbara.[14]
Só depois (já com cursos e emprego) é que vieram os carros.[15]
Iam quase (ou mesmo) às escondidas dos pais. Conta Pedro Arruda, começa a
surfar com 14, 15, 16 anos, e chega às ondas da Ribeira Grande em 1988-9: ‘ir
aos areais do Monte Verde (Areia) e de Santa Bárbara era como se fôssemos à
socapa. Enfrentávamos a oposição das nossas mães. Aqueles areais são perigosos.
Repetiam-nos.’ [16]
Quando é que a Ribeira Grande terá começado a
gostar de ondas? Desde sempre? Seria um gesto tão natural
como nadar? Ou trazido por alguém? Quando e por quem?[17]
Não sei. O que sei é que, os testemunhos orais recuam (pelo menos) para a
década de quarenta do século passado. Manuel
Carreiro Moniz (Manuel Frade), já passa dos oitenta e pico de anos, diz-me ‘tanta vez que foi apanhar a onda à
baixa-grande!’[18] Ou até antes de quarenta, diz ele: ‘Já os mais velhos faziam isso!!.’ Quanto tempo antes? Lá fora, atrás da baixa Grande (hoje desaparecida),
apanhava-se boleia das ondas. Era ver quem apanhava as mais fortes e ia mais
longe. Era uma (certa) forma de se provar (a quem via) a sua valentia. E
virilidade. Saltando no tempo, em 1972-73, Mário Teixeira (hoje
engenheiro), Carlos Teixeira (empresário nos Estados Unidos da América) Rui
Coutinho (Professor Doutor) e Paulo Barbosa de Lima Costa (Barriga) (Professor,
já falecido): usando bóias, colchões ou (calculem) de barriga, iam à boa onda
atrás da baixa Grande, esperavam que rebentasse e iam nela à boleia às vezes
até à boca da ribeira Grande. Usavam barbatanas para chegarem rápido à onda. Isso
acontecia sobretudo no mês de Agosto. Mês dos vagalhões. A malta ficava cá de
terra a vê-los. Por fim, na
década de oitenta ou um pouco antes (chegaram) as primeiras pranchas de ‘body-board.’[19]
Portanto, ‘fazer carreiras’ (como se
diz no sul. No norte ainda não registei, mas alguns dizem correr as inchas) era
uma prática já (aqui) enraizada. Se assim foi, o surfe veio ao encontro de algo
que já se ‘praticava’ na Ribeira Grande. Ao andar ‘de boleia’ nas ondas de barriga acrescentou-se o andar de pé sobre
uma prancha. Aliás, segundo a página da Federação Portuguesa de Surfe, ‘o Bodysurfe é
considerado, por muitos, a mais pura forma de surfe, devido ao facto o surfista
utilizar o seu corpo para deslizar nas ondas.’[20] Terá sido assim?
E
quanto à visão de fora acerca de surfistas e do surfe na Ribeira Grande?
Pedro Arruda: ‘Não, não via ninguém dali
na água, os primeiros surfistas da ilha eram todos da costa sul: Ponta Delgada
e Vilafranquenses. Principalmente. Só no final dos anos 90 é que começam a
aparecer alguns miúdos locais da Ribeira Grande.’[21]
Conhece-se porém um surfista da Ribeira Grande ainda de finais de oitenta.[22]
E, da década de oitenta, um dos pioneiros, residira na Ribeira Grande. Quem foi
ele?[23]
O Bruninho (meu vizinho na Ribeira Grande na rua do Botelho até o aeroporto ser
transferido para a Nordela. Mais. Era sobrinho do Carlos Garoupa e primo do
Garoupa pioneiro das Milícias. Bruninho conhecia bem as ondas das Poças. Provavelmente
o tio e o primo também, É possível que haja outras ligações?[24]
Sim.
Como via a Ribeira Grande os
surfistas (de fora)?
Espreitava-os com curiosidade. Alguns dos mais novos da Ribeira Grande queriam imitá-los.
Entre os mais velhos, havia quem tivesse uma ideia bastante negativa: achavam
que eram uns (tantos) drogados. Outros, que eram uns ‘meninos bem da Cidade’ [entenda-se: Ponta Delgada]. Ou até
estrangeiros que falavam inglês. Outros (sobretudo pais), sentiam (muita) pena
dos ‘coitados dos pais:’ qualquer dia
‘o mar vai levá-los.’ Diziam. Numa
tarde de Outono, em 1983, o meu amigo Alfredo da Ponte, que ao ler (e comentar
como costuma) este trabalho no jornal recordou o que sentiu ao avistar ao longe
um surfista na baía da Ribeira Grande: ‘O
primeiro surfista que eu vi na Ribeira Grande foi em 1983, nas ondas da Areia [Monte
Verde]. Comigo estava o Ti Mariano Frade
e mais dois homens, diante daquela taberna próxima das Poças [a do Domingos,
hoje Galeria 33, na rua do Castelo, n.º 4],
numa tarde de outono. Chamou-nos atenção um objeto negro no mar, fazendo
questão ao pessoal de ser golfinho ou tubarão. E quando menos se esperava, a
coisa preta virou homem-rã, e meteu-se em pé numa tábua, à frente de uma onda,
e com ela foi parar ao areal, maravilhando os espectadores. Já tinha visto em filmes. Pessoalmente
aquela foi a primeira vez.’[25]
E
os surfistas? O que será que pensavam da Ribeira Grande?
Iam e vinham. A terra pouco ou nada lhes dizia. Apenas viam ondas. Se sentiam
fome, iam ao Farias. Diz Pedro Medeiros: ‘Como
havia pouco dinheiro, comprávamos pão e queijo no [Restaurante] Farias. Era isso que se comia o dia inteiro.’[26]
Outra forma de contacto era a conversa com a ‘boleia.’ E pouco mais. Alguns, tinham uma ideia positiva da terra.
Eram os interessados também no futebol que, seguindo as notícias desportivas
(as equipas da Ribeira Grande dominavam então o futebol da Ilha), teriam uma imagem
positiva da Ribeira Grande. No entanto, a maioria tinha uma ideia bastante
negativa. Isso devia-se ao que viam nos areais. A selvagem extracção da areia,
de que eram testemunhas directas.
Quem terá sido o primeiro na
Ribeira Grande a passar para a
prancha de surf? Os colegas parecem não ter dúvidas: foi o Tiaguinho Piné (Tiago Manuel Correia do Couto). Dali da rua do Castelo (mesmo diante
das Poças). Quando foi isso Tiago? Em 1989 (ou o mais tardar) em 1990: ‘Tinha 16 anos quando fiz surfe.’[27] Fê-lo por si próprio: ‘Comecei primeiro pelo Body Board, depois fui
para o Surfe. Foi fácil porque fazia já Skate e a manobra é igual. Em três dias
pus-me em pé na prancha.’ ‘Aprendi
comigo. Via brasileiros e os da Cidade.’ Como? ‘Comprei uma prancha ao
João Brilhante. De 2.ª mão. Uma Carcavelos.’[28] E conta: ‘O 1,º e o 2.º pico de Rabo de Peixe antes das obras. Antes do
quebra-mar das Poças, às vezes apanhava
as ondas atrás da baixa Grande – perto do castelo – e ia muitas vezes até à
ribeira.’[29] Tiago (dizem-me)
atacava as ondas de costas. É um ‘goofie
foot.’ Como são (alguns) dos melhores da Ribeira Grande. Tem (actualmente)
a prancha rachada ao meio. E há muito deixou de ir ao mar.
Em 1996, surgiria (finalmente) a primeira leva de surfistas da Ribeira
Grande. Graças ao João Brilhante (e à Associação que criou –
com outros dois colegas -, em 1995).[30] João,
de Ponta Delgada, completara 26 anos em Abril.[31] Já
vinha surfar à Ribeira Grande desde a década anterior. Bateu-se por um Surfe (como
projecto) Social. Seria (em 2001) convidado (juntamente com o Jorge de Rabo de Peixe) para nadador-salvador de
Santa Bárbara.[32]
No entanto, desiludido com o excesso (segundo ele) de Surfe (só) comercial (bem
como acalentando outros projectos) afastou-se. Ali, na zona dos espinafres, a poente da Areia (Monte
Verde), surgiu (então) uma escola de Surf. João Brilhante não só ensinou a
modalidade aos putos como defendeu em artigos e entrevistas aquela praia e a
sua irmã Santa Bárbara. Em 1997, declarava a um jornal que a ‘Escola de Surf está(va) a funcionar com
excelentes resultados na tal praia considerada não praia ou no areal [Monte
Verde] que também já não é areal [fotografias
de 1997, mostram a praia transformada em calhau rolado]. Temos tido o apoio da
Secretaria da Juventude que tem ajudado muito.’ Há muitos miúdos nesta Escola? Cada
fim-de-semana há mais. São quase todos da Ribeira Grande, entre 9 e 16 anos.
Alguns vão ser grandes atletas. Quem quiser pode aparecer para aprender.’
Por um ordenado equivalente ao dos nadadores-salvadores, fora
oferecer os seus préstimos à Câmara da Ribeira Grande. Faria de ‘nadador/salvador, daquela praia, precisava
de uma corda e de uma prancha, como já havia nas Poças ou no Pópulo.’ Enquanto
fazia isso, também ‘ incentivaria as
crianças para se iniciarem surf.’ No entanto, ‘o objectivo principal era garantir a segurança da praia.’ A
proposta, porém, não foi aceite. Porquê? Porque para a capitania do porto, por
várias razões, sobretudo as sanitárias, o ‘Monte Verde não poderia ser (tal como ainda
em 2025) considerada praia.[33] Perante isso, a autarquia, com muita
pena, foi-me dito, viu-se forçada a não levar por diante a proposta.
Diga-se (em abono da verdade) que os miúdos
que João Brilhante (por amor à modalidade) desafiou (na Ribeira Grande) a fazer
surfe em 1996/7, já faziam (nas Poças ou na Areia) ondas com pranchas de Body Board ou com tábuas (feitas
artesanalmente).[34] A
maioria morava perto das Poças e da Areia (Monte Verde).[35]
Recorda João Brilhante: ‘Via a rapaziada
em pranchas de body-board e fui desafiá-los.’ ‘Cheguei a ter uns cinquenta a
sessenta rapazes. Da Ribeira Grande e de Rabo de Peixe.’[36]
O João Almeida (Alface) reclama que foi (entre eles) o primeiro (ou um dos
primeiros) a ser abordado.[37]
Outro destes miúdos, o Marinho Buraca
(Mário Santos, aqui todos têm apelidos, já dizia Arruda Furtado no século XIX:
‘Com doze anos comecei a ir aprender a
fazer surfe aos fins-de-semana, sábados e Domingos, das 9 às 10 horas (mais ou menos).
O João Brilhante e a Micas traziam as
pranchas. Era na Areia. Quando não havia ondas, íamos para Santa Bárbara.
Entrei na primeira competição de surfe ali no Monte Verde.’[38]
Outro, Pedro Miguel Sousa (conhecido por Pilão,
empresário da PMS Transportes): ‘O
João Brilhante tinha um projecto de valorizar a Praia do Monte Verde. Sempre
teve. Através do Surfe. E valorizar os jovens.’[39]
Paulo Luís, irmão gémeo de Pedro Miguel, (é hoje dono da Fuseiro, uma empresa marítimo-turístico): ‘Víamos o Tiago, o primeiro surfista daqui, que nos incentivava. Ele ia
a ondas que ninguém ia. Depois veio o João Brilhante com os materiais certos e
ensinou-nos.’[40]
Outro dos pioneiros, João Vieira
(Correia), actual empresário de
restauração e presidente de um clube de futebol: ‘Tinha uns 14 ou 15 anos (c. de 1997) o João Brilhante veio ter comigo o com os outros rapazes. Disse logo
que sim. Aprendemos na Areia, Quase nunca íamos ao areal de Santa Bárbara. O
João a mim nunca levou nada.’ Depois de aprender, ‘a gente ía à boleia para o Pópulo. E a pé para as Prainhas na
Ribeirinha. Ali é uma boa onda. Uma boa onda era a de Rabo de Peixe antes das
obras no porto. No Monte Verde havia duas boas, uma da esquerda e outra na
direita.’ Já não fazes surfe? ‘Gostava. Com dois negócios, tenho pouco
tempo. A prancha está arrumada.’[41]
Ainda outro é João Dâmaso [Pereira da Silva] (neto do industrial José Dâmaso)
que é hoje engenheiro civil.[42]
Morava perto das Poças (e da Areia) era amigo dos Pilão.
Se, em 1989/90, o Tiago terá sido o primeiro
surfista (reconhecido) da Ribeira Grande, em 1997, a Patrícia Misse (Moniz Ferreira) terá sido a
primeira surfista. Tinha uns doze anos. Filha de um dos banheiros das Poças (e antigo
futebolista) Manuel Misse (Manuel
Grilo Moniz). Sem dar ‘cavaco’ ao pai ou à mãe, porque já ia às ondas na baixa
Grande, e via os rapazes na Areia, foi pedir ao João Brilhante que lhe
ensinasse a surfar. Vive há dois anos em Bruxelas.[43]
A Patrícia já não pratica surfe e nunca entrou em competições. Mas adorava as
ondas.[44]
Quem foram os alunos de João Brilhante? O
Pedro Sousa (Pilão) enviou-me cópia de uma fotografia de um grupo desta
primeira leva.[45] Dos 27
rapazes (só rapazes) da foto, tirada pelo João Brilhante (a Micas estava lá,
dizem-me) no verão de 1996 ou no de 1997, a maioria morava nas ruas próximas da
Areia (e Poças). Não há raparigas na foto, mas houve pelo menos duas.[46]
Tinham idades entre os 9/10 e (talvez) os 13/14 anos. Uma média de 11/12 anos. Era
Verão, usavam apenas calções de banho. Havia quatro pranchas de surf (feitas pelo
João Brilhante, dizem-me) e cinco de bodyboard
(de cinco deles). Ou seja, dezoito tinham de esperar pela sua vez (daí a
algazarra?). Um pormenor, nem todos os habituais estão na fotografia. Por
exemplo, o João Correia (Vieira). Um desses miúdos (o Luís Sousa -
Pilão) foi o primeiro açoriano a passar uma fase numa competição Nacional de
Surfe. Isso em 2008. Mereceu destaque de um jornal: ‘No areal de Santa Bárbara, o atleta inscrito na Associação de Surf de
São Miguel tornou-se no primeiro açoriano a ultrapassar uma ronda de uma prova
do Nacional, enchendo de orgulho os responsáveis associativos micaelenses e
todos os adeptos da modalidade.’ Ao jornal, o Luís referiu: ‘Foi muito
complicado, com muito vento e alguma corrente. As ondas não estão muito boas.
Limitei-me a procurar o melhor sítio para estar na onda.’[47] Fez parte da geração que (re)activou a
associação de Surf criada pelo João Brilhante (e colegas).[48]
Ajudou a ensinar Surf à leva seguinte. Um outro (o Ângelo Medeiros – Ferreta, está algures no Brasil) era talvez
(diz, modesto, o Luís Sousa) o mais habilidoso de todos. Junta-se ao grupo
(pouco depois) (entre outros), o João Victor Melo (Mocho). O grupo construiu em madeira uma casa (barraca) de apoio
(onde deixava as pranchas): ‘Ficava do lado
de lá da ribeira, quase a meio do areal, num pedacinho de terra quase detrás do
que foi a peixaria Almeida. Com o aumento do Passeio Atlântico, hoje ficaria situada
mais ou menos na primeira curva depois da ponte. Tinha uns 2 metros de fundo
por uns três de frente. Lembro-me que na cheia que levou carros e vitimou uma
senhora [10 de Setembro de 1997], estávamos
lá. E de um surfista havaiano do top mundial que andou lá connosco. Por esta
altura, formava-se uma onda perfeita mesmo ao pé do carro que a ribeira
arrastara. Conheço fotografias desta casa.’[49]
O João, diz-me o Paulo, repetia-nos que aquela praia (Monte Verde) precisava de
vigilância e de resolver o problema dos esgotos. João Almeida (Alface),
acrescenta que o João Brilhante ‘Chegou a
ter várias conversas com o Presidente [da Câmara, António Pedro] que se comprometia a manter a praia limpa e
segura e lá avançaria com o projecto do surf. Bastava que fosse
nadador-salvador.’[50]
O que é confirmado pelo próprio João Brilhante: ‘Eram três os objectivos: saneamento da praia, segurança e formação. Ia
às reuniões da Câmara às quarta-feiras [tempo do António Pedro]. Nunca nos apoiaram. Limpámos a praia e tudo.
Fiquei desiludido. Às tantas veio alguém da Juventude Social-Democrata propor
um evento na praia (Monte Verde) com jogos e até gelados. Recusei. Mas no
programa continuou a constar o surf. Em
Outubro de 1999 – até 2000 -, saí da ilha (fui para Inglaterra). Deixei os
miúdos. A Associação deixou. Quiseram aproveitar-se do trabalho feito.’[51] Terminaria
desse modo a primeira intervenção da ASSM na Ribeira Grande.
Tal como o Tiago, aprenderam vendo
quem sabia. Com apenas 12 anos, apareceria outro ‘goofie foot.’ (pé direito à frente na
prancha) No activo, o homem que domina as ondas gigantes e serve de apoio ao
maior recordista da onda da Nazaré. O Marco Medeiros (Frade) Escadote também passa do Bodyboard para
o surf. O irmão Miguel encontra-se no grupo de João Brilhante, e é primo dos gémeos
Pilão e outros ‘Frade’ (também do
grupo de Brilhante). Era da rua da Praça um pouco mais acima das Poças: ‘alguns surfistas estrangeiros paravam na
bomba de gasolina dos bombeiros e perguntavam onde podiam encontrar ondas. Ia
com eles e aprendi.’ É o responsável pela Associação de
nadadores-salvadores da Costa Norte.[52] O José Moreira (hoje piloto da SATA),
comprou em 1998/9 a sua primeira prancha aos 14 anos. Morava na rua de São
Sebastião (na Conceição). Bastava-lhe descer a rua para chegar à Areia.
Aprendeu consigo próprio. O João Victor ‘transitou
da prancha do bodyboard para a do surf aos 15 ou 16 anos já em 2000/1.’[53]
Por
esta altura, a fama dos areais da Ribeira Grande já ultrapassara os horizontes da Ilha.[54]
Com novas vias de comunicação, tornaram-se acessíveis (ao resto da Ilha).[55]
Em
2000 ou já em 2001, Luís Melo ‘promoveu a modalidade assim como ensinou a mesma às crianças e
jovens de Rabo de Peixe.’ Antes, ‘usavam as chatas (feitas de bidões) e pranchas de esferovite (das
caixas de peixe envoltas em adesivo castanho largo).’ Aí (até 2004) estaria
envolvido primeiro num projecto da Kairos depois no do Clube Naval de Rabo de
Peixe. Sairia dali, o talento de João Flores (que haveria de trocar o surf pelo
futebol). Foi responsável pela organização de competições locais: ‘Em 2001 e 2002 organizei o
clube K surf tour. De 2003 em diante até 2007 organizei o circuito de surf e
bodyboard - Espaço Azul/Clube Naval Rabo de Peixe.’[56] Isso,
tanto nos Areais (Santa Bárbara) e Monte Verde. Dos (da Ribeira Grande) que haviam aprendido a surfar com
Brilhante, apesar de haver outros que iam, apenas o Luís (Pilão) participa regularmente.[57]
Um dos parceiros do surfe é a
Câmara. Nessa altura, a Câmara, na Presidência de António Pedro Costa, por
empenho pessoal deste, apoia o Surfe, numa das acções de combate ao absentismo
escolar nos bairros piscatórios de Rabo de Peixe. Tal interesse fez incluir a
modalidade nos programas das Festas da Cidade.[58]
Em 2002, na celebração do 21.º Aniversário da Cidade, no dia 6 de Julho, pelas
10 horas, houve ‘Surf para todos no Areal
de Santa Bárbara.’[59]
Dois anos depois, no dia 26 de Junho de 2004, integrado ainda no Programa
Festivo da Cidade, teve lugar o ‘2.º Open
de Surf da Ribeira Grande,’ desta vez na (mártir) ‘Praia do Monte Verde.’[60]
Repete-se em 2005, a 25 de Junho, desta vez o ‘3.º Open de Surf da Ribeira Grande,’ mais uma vez na ‘Praia do Monte Verde.’[61]
Enquanto
a autarquia apoiava a modalidade em Rabo de Peixe a partir de 2000/1, em 1996/8,
negara apoio à escola de João Brilhante na Ribeira Grande. No entanto, apesar da dualidade de critérios, a semente lançada
por João Brilhante daria frutos. O Luís e o Pedro Sousa (Pilões), o João
Almeida (Alface) e o João Victor (Mocho), a partir de 2007/8, formam uma
segunda fornada de surfistas. Entre outros: ‘o Eric Medeiros (Frade) (Naruto), da Vila Nova, o Malão, dos Foros, o
Leonardo. Os irmãos Cabral: Luís,
Ricardo e Sara. O Tomás Anselmo, o Gil Faria, o João Alves.’[62] Outros miúdos nascidos ou com pais da
Ribeira Grande, aprendem com Luís Melo. Em 2003, Crispim (o pai era Presidente
do Clube Naval de Ponta Delgada), ao lado de João Flor e de muitos outros, aprende
a surfar no Clube Naval de Rabo de Peixe. Muitos destes miúdos de Rabo de
Peixe, segundo alguns surfistas da década de oitenta, ‘começaram por ver a gente na água e aos poucos iam lá ter ao pico da
onda pequeno cá dentro junto a nós apanhar ondas. Isso antes das obras do
porto. Faziam ‘body-board’ com pranchas de madeira. Ou de tudo o que apanhava.
Foi-se formando um grupo. A princípio, só iam quando nos lá estávamos.’[63]
No ano seguinte a que Crispim se iniciou, a irmã Sofia, as primas Carolina e a
irmã Teresa, e a amiga Joana Lima também se juntam aos miúdos de Rabo de Peixe.[64] Tudo isso iria (e muito rapidamente) mudar.
A realização de campeonatos nacionais e internacionais, a partir de 2008, e os
voos de baixo custo das companhias aéreas, a partir de 30 de Março de 2015, seriam
os (principais) responsáveis pela mudança. A era ‘dos aventureiros’ (com preocupações sociais) daria (então) lugar à
dos ‘turistas de surfe.’[65]
Areias – Rabo de Peixe (Concelho da Ribeira
Grande) (continua)
PS: Terei ideia onde me estou a meter? É
arriscado tentar fazer História de algo tão recente, em parte, porque dependo muito
da memória dos intervenientes. Estou minimamente consciente disso. Mas vou
arriscar. E proteger a minha narrativa. Vou abrir-me ao debate, publicando no
jornal o que for apurando. Mesmo assim, sei que só chegarei a uma aproximação
plausível. Para isso, vou tentar confrontar depoimentos, encontrar documentos
escritos. No fundo, pretendo apenas encontrar um fio condutor à relação da
Ribeira Grande com o surfe.
[1]Testemunho de Pedro Arruda, 9 de Agosto de 2023:
‘Epifenómenos. Carlos Garoupa. Final dos anos quarenta. Início dos cinquenta.
Fez algo parecido com uma prancha. Talvez o tenha visto num filme. Não se
recorda de qual. No Faial, em finais dos anos 50 e início dos anos sessenta.
Através de José Carlos Fraga. Ligado ao Clube de Vela da Horta. Faz uma prancha
a partir de um artigo sobre o Havai que leu na National Geographic. A primeira
escola de Surf que nasce em Portugal é na Horta em 1975. No Continente, a
segunda, nasce em 1978 em Carcavelos.’ Açoriano Oriental, 13 de Março de 2015, pp. 1, 20: ‘As três gerações do surf açoriano. Carlos foi o pioneiro, João o seu
sucessor e Diogo o que leva a modalidade mais a sério. A História do surf na
família Garoupa é um conto com quase 70 anos. (p.20) Aos 79 anos de idade,
Carlos Garoupa Medeiros ainda surfa. Um bichinho que o mordeu há já 68 anos
(1947), quando, na altura, com 11 anos, foi dos primeiros açorianos a desafiar
as ondas micaelenses, com uma prancha de criptoméria. Corria o ano de 1947 com
a Europa ainda a recuperar da Grande Guerra, quando Carlos inspirou-se nos
filmes norte-americanos onde umas quantas pessoas se equilibravam numa prancha,
no Havai.’ Nota de 8 de Janeiro de 2014: Açoriano Oriental, 3 de
Setembro de 2012, pp. 2-3: ‘Dos baleeiros
às Lajes. (…) Convém perceber como chega o Surf aos Açores. Apesar de não haver
registos, Pedro Arruda, Presidente da USBA, acredita que há três fases
determinantes. A primeira terá ocorrido por volta do século 18 e 19, altura em
que os baleeiros açorianos terão avistado a prática da modalidade nas ilhas do
Havai. A segunda, explica Arruda, prende-se com a instalação da base das lajes
e o destacamento dos primeiros soldados californianos, por volta da década de
60. E esses sim, sabemos que trouxeram o surf até à Praia da Vitória. Por
último, o aparecimento de surfistas na Região chega só nos anos 80 e 90,
acabando por consolidar-se no novo milénio. Já é algo bem visto pela população,
os pais não têm receio de inscrever os filhos nas escolas de surf e bodyboard.
Neste momento, a modalidade está perfeitamente na sociedade, afirma.’
[2] Testemunho de
Paulo Melo, 15 de Novembro de 2023: ‘Fiz parte da Associação de Surf de São
Miguel. Havia gente do Liceu mas havia gente que não era do Liceu.’
[3] Testemunho de
Paulo Melo, 15 de Novembro de 2023: ‘Na Ribeira Quente. A Câmara forneceu-nos o
transporte.’
[4] Diz Pedro Arruda que trabalha a
História da modalidade nos Açores.Em finais de 2024 apresentou o seu
trabalho. Digo-o porque as notas de agora são frutos e novos achados, sobretudo
de Setembro e Outubro de 2025.
[5] No Top 10
europeu, além da onda de São Jorge, está a onda das Prainhas (Santa Iria).
Dizem-me (alguns) os peritos. É preciso é melhorar o acesso. Outros, não
negando aquela onda, colocam à frente dela uma nas Calhetas (defronte da casa
cor-de-rosa), outro em Santa Bárbara e ainda outra em Nordeste.
[6] Testemunho de
Pedro Arruda, 24-26 de Outubro de 2023. Há
diferenças entre as duas praias? ‘São
pequenas diferenças que têm a ver com o movimento dos fundos de areia. O Monte
Verde está mais aberto ao mar e costuma mudar mais ao longo do ano. Os areais
têm aquela barreira do morro de Santana que ajuda a fixar a areia e torna a
praia mais consistente em termos de ondas. Antigamente uma das melhores ondas
quando o mar estava grande mais de 2 ou 3 metros era a direita da piscina mas
desapareceu com a construção do molhe de proteção das Poças.’ É correcto dizer-se que Santa Bárbara está
mais adaptada a local de ensino de Surf e a do Monte Verde mais para quem já
aprendeu? ‘Depende ambas têm boas
condições tanto para aprender como para surfistas mais evoluídos depende da
ondulação. O sul é melhor para aprender e no norte em geral como tem mais ondas
e mais fortes e grandes já é preciso ter alguma experiência.’
[7] Testemunho de
Pedro Arruda, 24-26 de Outubro de 2023.
[8] [Vereador
Ezequiel de Melo Moreira da Silva, Para a dignificação e desenvolvimento da
Ribeira Grande] AMRG, Vereação de 12 de Janeiro de 1983, 1982-1983,
Livro N.º 105, fls. 106 - 108 v.
[9] AMRG, Vereação
de 30 de Maio de 1983, 1983, Livro N.º 106, fl. 123
[10] AMRG, Vereação
de 25 de Março 1988, Livro N.º 122, fl. 124 v.
[11] AMRG, Vereação
de 17 de Fevereiro de 1989, 1989, Livro N.º 126, fl. 105 v.: ‘ – Convite
(…) convida a estar presente a CMRG no dia 26 do corrente, pelas 20 horas, na
Discoteca Populo’s Inn, na entrega dos prémios das duas últimas provas
organizadas por aquele clube recentemente criado. A Câmara tomou conhecimento.’
[12]Testemunho de
Pedro Medeiros, 3 de Novembro de 2023. Testemunho de 11 de Novembro de 2024: ‘Estava de férias em S. Miguel, ainda não
surfava, mas o meu irmão mais velho três anos já surfava. Estávamos ma Praia do
Pópulo. Não havia ondas. Vamos procurar ondas: virou-se o arquitecto João Luís
Pires dos Santos. Ele estava acompanhado da mulher. Uma ruiva muito bonita.
Parece que trabalhava na SATA ou na TAP. Ele era arquitecto e era retornado de
Moçambique. Subímos (eu, meu irmão, o Henrique Areias, e o casal) a canada do
Duarte Borges a pedir boleia na Estrada da Ribeira Grande. Primeiro, fomos ao
Monte Verde. Não havia ondas. Fomos de seguida a Santa Bárbara. Foram à água
surfar (estavam a iniciar) meu irmão e o Areias e o arquitecto. Disse-nos que
havia surfado uma baixa na Maia. Suponho que a Viola.’ Quanto a ser em 1981
0u 1982, coloca dúvidas: ‘pode até ter sido em 1979/80. Não registei isso.’
[13] Testemunho de
Pedro Medeiros, 15 de Novembro de 2023
[14] Testemunho de
Paulo Melo, 14 de Novembro de 2023
[15] Testemunho de
Luís Melo, 31 de Outubro de 2023.
[16] Testemunho de
Pedro Arruda, 31 de Outubro de 2023; Testemunho de Pedro Arruda, 9 de Agosto de
2023
[17] Reflecti isso
numa conversa com o Pedro Arruda.
[18] Testemunho de Manuel Moniz Frade, 30 de
Outubro de 2023.
[19] Testemunho de
Manuel Câmara, 30 de Outubro de 2023: Falando com uma mão cheia de pessoas, fui
vendo e recordando. Nas Poças, o mais que consigo recuar é aos anos quarenta.
Na Areia (a parte mais chegada às Poças, Manuel Câmara (conhecido por Marroco),
para os anos sessenta: ‘Era como ainda
fazem em Rabo de Peixe. Queria ter apanhado as pranchas dos surfistas que a
gente vê aqui!! A gente nadava, nadava para fora e vinha por cima dela até à
Areia. A gente conhecia os sítios bons e os ruins;’ Testemunho de Mário
Teixeira, 28 de Outubro de 2023: Nos anos sessenta, geração de
quarenta/cinquenta: Roberto Andrade, José Morgado (Pichela), iam apanhar boleia
das ondas também por detrás da baixa Grande. Estavam sempre à espera delas:
‘tanta vez que a onda me levou enrolada para o fundo.’[19] Alguns poucos da geração de cinquenta das
Poças também o faziam. Testemunho de André Raposo, 29 de Outubro de 2023:
Era coisas que viam nos filmes? Rui
Coutinho: ‘Sim, sempre gostei de fazer isso. Com a ajuda de uma barbatanas
Simotal e de muitas esfoladelas.’ Nos anos noventa, antes de experimentar o
surf com prancha, Luís Pilão fazia o mesmo com boias. Em Rabo de Peixe,
disse-me André Raposo, que foi/é surfista, usavam as chatas (feitas de bidões)
e pranchas de esferovite (das caixas de peixe envoltas em adesivo castanho
largo).
[20] https://www.surfingportugal.com/bodysurf-2/: ‘Apanhar ondas sem necessidade de prancha. É das
formas mais puras de ligação um ser humano e o mar. A ausência de dispositivos
feitos pelo homem, obriga o surfista a aproveitar a força bruta da Natureza e
sentir cada parte da onda em contacto com o nosso corpo. Para garantir
segurança e desempenho, utilizam-se barbatanas para voltar para o line-up e para
ajudar a manobrar ao longo da face da onda. Dependendo das condições poderá ser
utilizado um acessório nas mãos, chamado de “handplane”. As handplane servem
essencialmente para maximizar a velocidade e flutuação.
[21] Testemunho de
Pedro Arruda, 24-26 de Outubro de 2023. Em bom rigor, não se poderá afirmar que
não houvesse no meio deles alguém com ligações à Ribeira Grande.
[22] Sendo a História dos primeiros passos
baseada (sobretudo) na memória oral de diversas pessoas de diferentes idades, é
inevitável que tal possa acontecer.
[23] A partir daqui,
acrescento o que descobri em finais de Setembro e inícios de Outubro de 2025,
portanto, mais de dois anos após a publicação deste trabalho no Correio dos
Açores.
[24] É. Outro exemplo, mais tarde, o Luís
Melo (apesar de ser de Ponta Delgada) fez a Pré-Primária e a Primária na
Ribeira Grande. Na década de oitenta, não deveria haver mais de vinte surfistas
na Ilha.[24] Aprenderam
de várias formas. Uns, tendo visto surf em Lisboa ou visto em revistas,
punham-se a tentar equilibrar-se numa prancha. É o caso do Pedro de Medeiros.
Outros, tinham colegas de Lisboa, cujos pais haviam sido transferidos para a
Ilha. Foi o caso do João Brilhante. As pranchas eram (habitualmente) mandadas
vir de fora. Também houve pranchas deixadas atrás por surfistas de fora
(australianos, por exemplo). Segundo Pedro Medeiros (Violante), o primeiro na
Ilha a fazer uma prancha igual às que vinham de fora, foi o Chico Melo. E a
primeira loja a vender pranchas, segundo Paulo Melo, terá sido a André Jamet. Os primeiros fatos eram os
usados no mergulho.
[25] Testemunho de
Alfredo da Ponte, 15 de Novembro de 2023. Pode testemunhar que a proposta de 83
de Ezequiel se concretizou?
[26]Testemunho de
Pedro Medeiros, 3 de Novembro de 2023.
[27] Nasci no dia 27 de Janeiro de 1973. Fiz já
50 anos.
[28] Testemunho de
Tiago Manuel Correia do Couto, 28 de Outubro e 6 de Novembro de 2023.
[29]Testemunho de
Tiago Manuel Correia do Couto, 28 de Outubro de 2023
[30]Constituição da
Associação de Surf de São Miguel, 11 de Setembro de 1995: João Brilhante de
Oliveira; Sérgio Jorge Soares Gouveia, António Rui Guterres Benjamim. Cujo
objectivo era ‘divulgar, implantar, fomentar e apoiar a actividade desportiva
da modalidade.’ Publicado no Jornal Oficial de 31 de Outubro de 1995. Tinha
sede na rua do Mata-Mulheres, n.º 22, na Fajã de Baixo. Por esta altura fez o
mesmo nos Mosteiros. Voltaria episodicamente de 2006 a 2008 (mais ou menos). Em
1998, já estaria inactiva.
[31] João Brilhante
Oliveira (n. 02 – 04 - 1970 - PDL)
[32] Só lá permaneceria
uns dois ou três meses, segundo me disse dia 6 de Novembro de 2023.
[33] Borges, José,
Entrevista a João Brilhante Presidente da ASSM: O Surf não é um desporto
perigoso, Açoriano Oriental, 3 de Agosto de 1997.
[34] O Tiago, o
Pipoca e o Luís da Maria do Céu, segundo Luís Sousa (Pilão) haviam sido os
primeiros. Depois, teria sido ele (Tiago), mais o Luís (Veneno – que já
faleceu), o Marinho Buraca e o Carlos Calouro. Destes, aderiram ao surf (ainda
segundo ele) ele e o Marinho Buraca. O Tiago não refere os da Areia, mas eles
já o faziam.
[35] Por esta altura, João não dava aulas mas dava pranchas e incentiva os jovens nos Mosteiros.
[36] Testemunho de
João Brilhante, 26 de Outubro de 2023.
[37] Testemunho de
João Almeida, 6 de Novembro de 2023.
[38] Testemunho de
Mário Santos, 30 de Outubro de 2023. [dizem-me que era continental e ao
princípio vinha, mas ao depois, por qualquer razão que desconhecem deixou de
vir. E também a Rita Vasconcelos. Dizem outros que foram das primeiras a surfar
na Ilha]
[39] Testemunho de
Paulo Luís Sousa (Pilão), 27 de Outubro de 2023
[40] Testemunho de
Pedro Miguel Sousa (Pilão), 27 de Outubro de 2023
[41] Testemunho de
João Correia, 27 de Outubro de 2023
[42]Testemunho de
João Dâmaso, 20 de Dezembro de 2023. Hoje é que se identificou.
[43] Depois dela,
vieram outras amigas: ‘a Juliana da Cagoa, a Rosa Mota e a Felícia.’
Moravam todas perto do mar. Menos a Felícia.
[44] Testemunho de
Patrícia Moniz Ferreira, 30 de Outubro de 2023. Nasceu na Ribeira Grande a 25
de Setembro de 1985.
[45] O Hernâni
Medeiros identificou-se à direita da prancha (que tem escrito) Anarkia e o
primo Ângelo Ferreta (Filipe Medeiros) à esquerda. Depois, salta para o Marinho
Buraca (Carlos Santos); já com a ajuda do João Correia, o Bruno Zazula (Ponte);
Ruben Frade; Tiago Correia; Bruno Jornata. Deitados na areia, os dois irmãos
Pilão (Paulo Luís e Pedro Sousa), o Ruben Sousa e o Miguel Frade (primo do
Ruben e irmão do Marco nadador-salvador). O João Correia também identifica o
Júlio Caçador, o Ricardo Monkey (da rua de São Vicente), o Sérgio Correia e o
Frederico Correia, o José Manuel Begango e o Tiago Correia (primo). ‘E o resto não estou a ver quem é já são
muitos anos.’ Hoje, dia 17 de Dezembro de 2023, João Dâmaso identificou-se.
Morava muito próximo das Poças.
[46] Testemunho de
Hernâni Medeiros, 29 de Outubro de 2023.
[47] Açoriano Oriental, 19 de Setembro de 2008:
‘(…) Pela primeira vez um surfista açoriano
passou uma eliminatória no Campeonato Nacional de Surf Open. O
ribeira-grandense Paulo Luís Sousa foi o herói do primeiro dia de prova,
competindo ontem de manhã na bateria onde se encontra o actual líder do Ranking
Nacional, Ruben Gonzalez (…).’
[48] Correio dos
Açores, 7 de Março de 2008.
[49] Testemunho de
Paulo Sousa (Pilão), 26 de Dezembro de 2023.
[50] Testemunho de
João Almeida (Alface), 22 de Dezembro de 2023.
[51]Testemunho de
João Brilhante, 12 de Novembro de 2023: Tentei certificar os miúdos que
aprenderam. Nada. Foi um erro ter abandonado. Mais tarde, o Paulo Melo
convenceu-me a voltar: vão criar estruturas (isto já em 2006-7). E fui. Mas não
levei lá muito tempo.
[52] Correio dos
Açores, 3 de Novembro de 2020; Testemunho de Marco Medeiros, 1 de Novembro de
2023.
[53] Testemunho de
João Victor Melo, 2 de Novembro de 2023. Nasceu em 31 de Março de 1985.
[54] A partir de
meados da década de noventa, revistas mundiais famosos e influentes dedicadas
ao Surf, publicam reportagens (entre outros) sobre os areais da Ribeira Grande.
Com fotografias de destaque. Por exemplo, a Surfer
Magazine em 1996 (diz o Luís Melo). A Surf
Session (de língua francesa). Ou a Revista Surf Portugal.
[55] A estrada Ribeira Grande- Ponta Delgada sofrera obras
de melhoramento na década anterior.
[56]
Testemunho de Luís Melo, 7 de Novembro de 2023; Pedro Arruda, 22 de Setembro de
2023: São (então) organizadas pelo Luís Melo ‘com várias etapas ao longo do ano tanto nos Areais (Santa Bárbara) e
Monte Verde’ de ‘2000 a 2002 o
Circuito Clube K campeonatos de São Miguel.’ E de 2002 a 2007, ainda por
Luís Melo, a nível de ilha de São Miguel, o Circuito Clube Naval de Rabo de
Peixe.’ Testemunho de Lili Crispim, 8 de Novembro de 2023.
[57] Testemunho de
Luís Melo, 7 de Novembro de 2023.
[58] Só enconteei os
programas que a seguir irei usar. Será que nos outros, anteriores, já havia
referência ao Surf?
[59] 21 Anos de
Cidade Programa – 2002 – Ribeira Grande.
[60] Programa das
Festas da Cidade 2004: 2004, a 26 de Junho: 2.º Open de Surf da Ribeira Grande:
Local Praia do Monte Verde.
[61] Programa das
Festas da Cidade 2005: 2005: 25 de Junho: 3.º Open de Surf da Ribeira Grande.
Local Praia do Monte Verde.
[62] Testemunho de
João Victor Melo, 2 de Novembro de 2023.
[63] Testemunho de
Paulo Melo, 15 de Novembro de 2023
[64] Testemunho de
Crispim (filho de Victor Crispim), 8 de Novembro de 2023: ‘Em 2003, conheci o
Luís Melo através de um amigo comum, o Sabão. O Luís fazia Kitesurf.
Perguntou-me se queria fazer surf. No verão, o Luís vinha a Rabo de Peixe (as
pranchas ainda eram arrumadas num contentor), juntamente com ele vinham o Xico
(mais operacional), e o Francisco Faria e Maia e o Filipe Mendonça, que iam
para a água. Talvez no ano a seguir, isso em 2004, as minhas primas e amiga
(que quiseram experimentar o Surf) juntaram-se a nós. 85% das vezes era em
Santa Bárbara ou no Monte Verde.’ Testemunho de Luís Melo, 8 de Novembro de
2023: Sim é verdade, o Crispim e a irmã conhecia desde miúdos do clube Naval de
Ponta Delgada na altura andavam nos jet skis. O Crispim foi o primeiro a fazer treinos comigo
juntamente com o João Flor e o resto do pessoal de Rabo de Peixe, depois vieram
a irmã Sofia e a prima Carolina a Joana era amiga deles depois também começou a
treinar connosco. É importante realçar que na altura não era moda ou IN fazer
aulas de surf, os pais destes miúdos confiaram em mim porque era professor, era
colega da mãe da Carolina na ESAQ, o Dr. Crispim (advogado) na altura era
presidente do Clube Naval de Ponta Delgada e conhecia- me do windsurf (modalidade
que também pratico), e o mais engraçado é que os miúdos vieram praticar surf no
Clube Naval de Rabo de Peixe. Depois vieram mais miúdos mas já não me recordo
bem. Na foto abaixo estão as primeiras alunas do clube com o Filipe Mendonça
que era meu ajudante e atualmente e o presidente da Associação de surf e
Bodyboard dos Açores.
[65] Testemunho de Luís Melo, 6 de
Novembro de 2023. ‘28 Março, 2016: Na terça-feira assinala-se um ano
sobre o primeiro voo de uma "low cost" para Ponta Delgada, na ilha de
São Miguel.’ O primeiro ano da presença das companhias aéreas de baixo custo
nos Açores colocou a região na moda, mas o Governo Regional considera que é
preciso continuar a trabalhar para o destino manter a notoriedade.
Comentários