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Presépio da Ribeira Grande

O Presépio da Ribeira Grande


Há quem o conheça por presépio do Senhor prior, querendo dizer prior Evaristo Carreiro Gouveia, há ainda quem o conheça por presépio da Juventude Católica e há quem o conheça simplesmente por presépio da Ribeira Grande. Este último nome é o nome pelo qual a ilha inteira passou a conhecê-lo.
Este presépio, ao que se sabe, terá começado no Natal do ano de 1915. Acabada a celebração da Missa do Galo, o então Padre Evaristo Carreiro Gouveia e a Juventude Católica da Matriz de Nossa Senhora da Estrela abriram pela primeira vez ao público este Presépio.
Evaristo nascera em 1885, no Rosário, da Lagoa, e viria a falecer em 1957, na Matriz de Nossa Senhora da Estrela, da Ribeira Grande. Era um trintão, magro e ruivo, e havia sido nomeado pároco da Matriz de Nossa Senhora da Estrela a 7 de Abril daquele mesmo ano. Já aí vinha porém exercendo funções de Cura-Coadjutor desde o dia de Nossa Senhora da Estrela do ano de 1911. Era o mais novo de seis filhos, cinco rapazes e uma rapariga, do casal José Gouveia Fragoso (n. 16.12.1852 – f. 19.08.1918) e de Maria Júlia Carreiro (n. 28.08.1846 – f. 10.07.1934). Gente do Sul da Ilha.
Pela Europa Continental, grassava um sangrento conflito bélico, a República substituíra a Monarquia havia cinco anos. Uma esquadra norte-americana estacionava no porto de Ponta Delgada.
Por o velho Passal ter sido nacionalizado pela República, o Presépio, de primeiro, foi armado numa casa quase a chegar ao Largo do Rosário, no lado nascente da rua do Passal. Por esta altura, segundo testemunhos recolhidos, não iria muito além da cabana com o Menino Jesus e os animais a moverem-se. Volvidos talvez dois ou três Natais, passou a ser montado em outra casa, hoje demolida, que fazia esquina com as ruas de Santa Luzia e a de Padre Evaristo Carreiro Gouveia. Na década de trinta do século passado, a Igreja recuperara já o Passal, mudou-se então para aquele edifício, onde se manteria até ao Natal de 1977.
A 20 de Outubro de 1957, ia fazer a 23 de Janeiro, 29 anos, chegou à Matriz, como Vigário-Auxiliar do Prior, o Padre Manuel de Medeiros Sousa. Pouco privou com o Senhor Prior, pouco mais de um mês, pois este, achacado, gasto pela doença, deu a Alma ao Criador aos 72 anos de idade. Decorridos oito meses, o Padre Manuel seria nomeado Pároco da Matriz. Este jovem, baixo, moreno e bem disposto era natural das Calhetas, o quinto de oito filhos, entre três raparigas e cinco rapazes, e o segundo filho sacerdote do casal Manuel Medeiros Sousa e Maria do Rosário Couto. Em sinal de luto, naquele ano, o Presépio não abriu portas. Reabriria no ano seguinte, tendo-o mantido, sempre com melhorias, com poucas interrupções até ao Natal de 1977.
No Natal de 1985, após uma interrupção de sete natais, foi instalado no Museu Municipal, pelo Sr. Gualberto Faria, onde após vinte e quatro natais ainda se mantém.
O Prior, Padre Manuel de Medeiros Sousa, continuador desta obra que tem maravilhado crianças e adultos há noventa e três Natais, por motivos de saúde, pediu dispensa da paróquia, que lhe foi relutantemente concedida pelo Senhor Bispo. Presta presentemente apoio espiritual no Lar de Terceira Idade desta Cidade.
Este Presépio foi, todavia, obra de muitas e talentosas mãos: dos que militaram na Juventude Católica, do Manuel Pacheco, do Caixinha de Lustre, do Silvério Faria, do Luís Cabral, do Manuel de Sousa Miguel, do Gualberto Faria, do Artur Gaspar, do Manuel Moreira e de muitos, muitos mais. E hoje tem sido dos que trabalham no Museu da Ribeira Grande.

Mário Moura

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