Avançar para o conteúdo principal

História do Surf na Ribeira Grande: Empresas - (Parte - V)




Empresas - (Parte V)

Xolim, Triki e Aparício, três ‘treinadores’ que fundaram a associação de clubes (AASB), em 2014, fundam, em 2016-2017, três empresas (de surfing). Eram presidentes de três dos cinco clubes (ao tempo) associados (à AASB).[1] Porquê? Porque (há boas provas disso) a partir de finais do mês de Março de 2015, com o início dos voos a baixo custo foram chegando à ilha (carradas de) turistas com poder de compra (muito acima da dos locais). Que, além de trilhos, da observação de cetáceos, da prática de desportos (ditos) radicais, desejavam também ter uma experiência no surf. André Caetano (ao que diz) satisfez (já) reservas (de aulas) de gente daquele primeiro voo.[2] Para o caso (específico) do surfing, outro factor decisivo (além da propaganda das competições internacionais que tiveram por palco os areais da Ribeira Grande) foi a (promessa da) sua inclusão nos Jogos de Tóquio 2020.[3]  Outra influência: haver (na ilha) ‘treinadores’ qualificados. Tudo isso, fez vir gente de fora e atraiu gente da terra à modalidade.[4]

Que fazer (então)? Criar uma empresa (uma sociedade com fins lucrativos). Havia (entre outros) os exemplos pioneiros das empresas de observação de cetáceos.[5]  Cada nova empresa, publicitou a sua oferta através (sobretudo) das ‘redes sociais.’ A opção turística ao ‘já chamado Havai do Atlântico,’ fazia-se sentir (então, sobretudo) no verão. E o clube? Aproveitaria os meios disponíveis da empresa. Esses treinadores/proprietários que, para tentar melhorar o desempenho desportivo da modalidade, haviam instigado a criação de uma associação de clubes e entrado em clubes (ao tempo) existentes, para (pouco) depois se desencantarem com a falta de apoio, ofereciam (a partir de agora) melhores condições aos seus clubes. Rendibilizariam (assim) ao máximo os meios da empresa, partilhando-os com o clube. Uma melhoria (substancial) na oferta levaria (também, como começou por levar) a um aumento da procura (ao nível) local. Esse foi (ou terá sido) o raciocínio. Quantos clubes – empresas, se formaram (entretanto) na Ribeira Grande? Dois. O Azores Surf Clube/Azores Surf Center/ e o Santa Bárbara Surf Club/ Santa Bárbara Surf School Azores. Ambos sediados na praia de Santa Bárbara. Em Ponta Delgada, havia o Azores Radical Club/ Black Sand Box de João Alves Triki.[6] Na Ribeira Grande, mas só como empresa, havia a Azores Surf Co de David Costa.[7] Isso, foi o que (havia) conseguido apurar até ao dia 26 de Fevereiro de 2024, no entanto, posso já acrescentar a Nomadik Surf Academy uma outra empresa/clube da Ribeira Grande (sediada no Pico da Pedra). Era de André Rosa, arquitecto de profissão, treinador de surf, que a abriu em Fevereiro de 2018 e encerrou (para regressar a Lisboa, de onde era natural) em Janeiro ou Fevereiro de 2021. Era vogal do Conselho Fiscal da Direcção da Associação Açores, Surf e Bodyboard, presidida por António Benjamim (2018-2022). Todavia, não estava formalmente ligada à AASB, no entanto, os atletas federados da sua escola (tais como, entre outros, Beatriz Oliveira, Cecília Faia, Juliana Monteiro, Francisco Amorim) concorriam às provas debaixo da ‘bandeira’ da (própria) AASB. Antes de deixar a Ribeira Grande, por imperativos familiares, segundo me disse, requerera (mesmo) à Câmara um espaço à entrada do parque de estacionamento da praia de Santa Bárbara para colocar um atrelado com as pranchas.[8]   

Alcançar-se-ia o (pretendido e desejável) equilíbrio entre os objectivos da empresa (lucro) e os do clube (formação de atletas e de novos surfistas)? O balanço de 2017, feito (ainda) na gerência de Francisco Melo (Presidente) e de Lili Viana (vice-Presidente), é (bastante) ambivalente. Abre com uma nota (ligeiramente) positiva: ‘houve retoma na modalidade, com um aumento do número de atletas federados, possivelmente resultado do aparecimento em 2016 e 2017 de novos clubes específicos das modalidades surfing bem como, um acréscimo visível de praticantes nas nossas praias e zonas de surf.’ No entanto, num ano apenas de experiência, tornara-se (já) evidente que o prato da balança inclinava-se (mais) para a empresa em detrimento do clube: ‘Apesar de uma nova abordagem dos diferentes clubes e escolas à modalidade, agora também constituídos como empresas, que viram no leccionamento de aulas de surf a não praticantes, uma fonte de rendimento apetecível e muito mais rentável que a formação de atletas.’ Repare-se:e que resulta numa falta efetiva de tempo e disponibilidade / vontade para se dedicarem aos seus atletas e clubes (…).’ Ainda assim, ao fundo do túnel parecia luzir (queriam crer) uma luzinha de esperança:verificou-se uma retoma dos valores iniciais do número de atletas federados, fruto de um aparecimento de praticantes muito mais jovens. Por outro lado, este aparecimento de novos praticantes das modalidades de surfing, agora com idades muito inferiores às usuais à 5 anos atrás (5, 6 e 7 anos de idade), resulta do aparecimento destes clubes e escolas, que despertam nos pais uma maior confiança e seguram para a prática da modalidade quando tutelada por treinadores experientes, em escolas com todo o equipamento adequado à aprendizagem e segurança dos seus alunos.’ Era (bem) evidente o contraste entre o antes e o agora: ‘De referir que ainda há pouco tempo, a aprendizagem das modalidades de surfing era feita de uma forma casual e autodidata, por iniciativa dos praticantes e apenas como o apoio e orientação dos praticantes mais experientes. Esta situação levava a que esta iniciação nos desportos de ondas ocorresse apenas quando os novos praticantes já dispusessem de uma idade, maturidade e composição física (já com 15 ou mais anos de idade) para a prática deste desporto com alguns riscos. De notar um aumento constante e significativo de praticantes com idades inferiores aos 12 anos (Sub12 - primeiro escalão de competição), infelizmente, muitos deles não federados.’[9] Vamos a factos: abriram dois clubes/empresas (a Radical e a Santa Bárbara) mas (em contrapartida) haviam fechado quatro clubes (Clube Náutico da Lagoa, Naval de Ponta Delgada, Secção de Surf dos Bombeiros de Ponta Delgada e o Clube Naval de Rabo de Peixe estava prestes a encerrar). À ligeira melhoria face a 2016, em 2018, verificou-se uma quebra abrupta: 65% no número de atletas federados, 52,9 % no número de Juízes, 61% no número de dirigentes. Só houve uma subida de 18% no número de treinadores. Isso no Relatório elaborado pela direcção (já) encabeçada por António Rui Guterres Benjamim.[10]

Que relação havia (então) entre o surfing e a nova autarquia da Ribeira Grande (PSD) que entrara em funções em Outubro de 2013?[11] Em larga medida, após a aposta (pioneira) da Câmara da Ribeira Grande, logo em 2008, a Região decidira-se a entrar no Surf. Pela banda da Região, Vítor Fraga (em 2015, mas projectando-o para o ano seguinte) afirmava: ‘Os Açores assumem-se como um destino de Surf, um destino de qualidade (…).’[12] Percebendo o alcance, algum comércio local da Ribeira Grande (mais clarividente) associara-se ao esforço da AASB. Logo em 2014, na praia de Santa Bárbara, a Açor Óptica, de José Luís Nunes, patrocinara a Taça Açores (a USBA fora quem iniciara a competição). Era pai de dois jovens aprendizes da modalidade. Em 2015, havendo continuidade nos anos seguintes, naquela mesma praia, o Bar TUKA TU LÁ (de Pedro Monteiro e Leandro Almeida - ambos da Ribeira Grande) patrocinaria a Tuka to Master (Campeonato Master). Apesar de o Mundial de Surf de Outubro de 2014 (no Areal de Santa Bárbara) ter sido uma ‘excelente promoção que o evento garante ao Concelho, na medida que é visto por centenas de milhares de pessoas um pouco por todo o mundo,’ é o que afirma Alexandre Gaudêncio, havia um compromisso mais lato em relação à chamada economia do mar.[13] A este propósito, o Vereador Filipe Jorge, em Novembro, na comunicação que apresentou no Colóquio sobre o mar, falaria em nome do executivo: a Ribeira Grande quer ser o centro da economia do mar. É por isso que, ‘apesar do surf fazer da Ribeira Grande a capital dos Açores nesta modalidade desportiva,’ o executivo camarário queria ‘mais, porque entend(ia) ser importante gerar receitas através da fixação no concelho de empresas viradas para o mercado de observação de cetáceos, mergulho ou pesca desportiva.[14] Que impacto terá tido na Ribeira Grande (nesse período) o mar/litoral e o surfing?[15] Em 2017, ano de eleições autárquicas, o surf/mar (litoral) iria dominar a atenção (e a acção) do executivo que se recandidatava. Tornara-se (já) evidente a dinâmica (sobretudo os benefícios) que o turismo (e o maior afluxo às praias da Ribeira Grande) viera trazer à economia local.[16] Na ausência de dados quantificáveis, vou valer-me de (migalhas) indícios (que, obviamente, carecem de futura confirmação). A inflação dos preços no imobiliário, sobretudo o das propriedades situadas próximas dos areais, era (já) um sinal. Nas imediações de Santa Bárbara, em 2016, o próprio Ricardo Ribeiro Xolim (homem com visão) abrira a sua Azores Surf Center House.[17] Em 2018, Fevereiro, aparece no Pico da Pedra (Ribeira Grande) a Nomadik Surf Academy, de André Rosa, uma empresa/escola não associada à AASB (mas que tinha alguma relação funcional com a AASB). Em 2018, o aumento na procura ditou a ‘remodelação – e ampliação do Santa Bárbara Resort.’ Como reflexo do exponencial aumento na procura das praias da Ribeira Grande, tanto por banhistas como por surfistas, em 2017, é criada a Associação dos Nadadores da Costa Norte, sendo o Marco Medeiros - o homem das ondas gigantes -, o nadador-salvador coordenador: ‘Prestamos [revela o presidente José Nuno Moniz] assistência aos banhistas. O socorro a náufragos continua com os Bombeiros. Salvamento com barco ou mota de água. Quanto aos nadadores-salvadores, o Marco é quem os escolhe, fiscaliza e treina. São na sua maioria da Argentina e do Brasil. Na época alta chegamos a ter 100 e na baixa, 10. Quase todos ou todos sabem surfar [alguns abriram clubes de surf, outros são treinadores ou simples praticantes. Residem na Ribeira Grande na sua esmagadora maioria]. Temos prestado serviços em Santa Maria, Graciosa, já o fizemos no Faial. Aqui há que concorrer a um concurso a nível nacional.[18]

Ainda neste ano de 2017, apostando (mas com os pés bem assentes na terra) no futuro (ampliação do Passeio Atlântico e resolução de graves problemas de saneamento) avança (ainda sem alvará) o Hotel Verde Mar & SPA.[19] Que domina a Areia – Monte Verde (a maltratada enteada dos areais da Ribeira Grande). Situado no coração da própria Cidade.[20] Era a notícia que muitos há muito tempo aguardavam. Além de motivo de (grande) regozijo era (também) um óbvio trunfo eleitoral. Nem tudo isso se deveria ao interesse despertado pelo surfing, é bom dizê-lo, já que, havia trilhos, praias, museus, a feira quinhentista, o Festival Monte Verde, no entanto, era inegável que o surfing (também) contribuía (e bem). Em Fevereiro de 2017, abria portas na rua El-Rei D. Carlos I, no centro da Cidade, a North Surge – Surf House, de Luís Sousa. Um nordestense (da Vila de Nordeste) que apostava na Ribeira Grande. Loja que comercializa (entre outras ofertas) equipamentos de Surf.[21] Em Março, o Mundial de Surf juntamente com o Monte Verde Festival, o Wine in Azores, o Ecologic Trail Run e a Feira Quinhentista são (amplamente) divulgados na Bolsa de Turismo de Lisboa. Naquele ano, a autarquia resolvera reforçar a sua presença naquele tão importante certame.[22] Que deu frutos. Ainda nesse mês de Março, chegavam mais (excelentes) notícias: ‘(o) Alojamento local quadruplica(va) em três anos.[23] De acordo com as estatísticas, a Ribeira Grande estaria na vanguarda daquele movimento. Em Setembro, a poucos dias das eleições, uma (muito) inteligente jogada com implicações futuras: o registo da Marca Ribeira Grande Capital do Surf. Alexandre Gaudêncio explicava (na ocasião) a um jornal (local) a razão do registo: ‘Como julgamos que o surf é uma questão fundamental – e por isso reservamos a marca de Ribeira Grande Capital do Surf.’[24] Porque (continua) ‘podemos [assim] captar mais investimento e de uma forma descentralizada.’ Em Setembro, ainda a tempo das autárquicas, era assinado um contrato de comodato, ‘pelo prazo de nove meses,’ entre a Câmara Municipal da Ribeira Grande e a AASB. Era presidente da AASB, Francisco Paulo Vieira Cabral de Melo (então) residente na Ribeira Grande. Além de ser (a) capital do Surf, a Ribeira Grande seria ainda o local da sede da associação dos clubes de surfing dos Açores.[25] Há (a propósito da construção de uma sede construída de raiz em Santa Bárbara) um esboceto datado de Outubro de 2019. Não vem assinado, mas é da autoria do arquitecto Francisco Cabral de Melo – que havia cedido o lugar a António Benjamim na presidência da AASB.[26] Aliás, fora Benjamim a pedir-lhe o esboço. Na Ribeira Grande (ainda) estavam (além do mais) sediados dois dos três clubes/empresas (aderentes à AASB). Não esquecendo que, era nos seus areais (de Santa Bárbara e do Monte Verde) que a AASB e os seus clubes realizavam o maior número de provas Regionais. Doze das dezasseis etapas de 2015-2018, do Circuito Regional de Surf e Bodyboard tiveram por palco a praia de Santa Bárbara.[27] A Taça Açores (2015, 2016) também.[28] Isso sem fazer conta às provas internacionais (organizadas por Rodrigo Herédia e a AAS). Em Setembro do ano seguinte (2018), era inaugurado o Centro (Municipal) de Surf na Ribeira Grande: ‘local de informação para os surfistas.[29] Carteira contendo um mapa dos surf Spot da Ilha, com destaque para os do Concelho (Santa Bárbara, Monte Verde, Santa Iria, Baixa da Maia, Baixa da Viola) que são descritos. Não é datado nem traz autoria, mas é edição da Câmara Municipal da Ribeira Grande.

Bem vistas as coisas, o surfing dera uma mãozinha à economia local e (por certo) não teria desajudado na reeleição da Câmara. Ganhas as eleições, por uma confortável margem, a Câmara tentou resolver ‘um paradoxo.’[30] Os clubes mais bem-sucedidos desportivamente ficavam na Ribeira Grande. Vejamos. Se em 2015, a secção de surf do Clube de Actividades Desportivas Clube da Associação de Bombeiros Voluntários de Ponta Delgada, ainda dominava o surf na Ilha (e nos Açores), já em 2016, a fazer fé no Relatório daquele ano da AASB, o Azores Surf Clube, clube da Ribeira Grande, já o havia suplantado em número de atletas federados assim como nos resultados obtidos nas diversas provas nos diversos escalões.[31] No ano seguinte, com o Santa Bárbara Surf Club, novo clube da Ribeira Grande, a dar os seus primeiros passos, apesar de o Radical Surf Clube (de Ponta Delgada) aparecer em força, acentuava-se ainda mais o poder dos clubes da Ribeira Grande.[32] Quantos atletas da Ribeira Grande havia (então) nestes dois clubes da Ribeira Grande? Nenhum. E nos demais? Três.[33] Que saiba, nenhum dos surfistas da Ribeira Grande seja da primeira ou da segunda leva, formados pela ASSM, se federaram. Porquê?[34] Em Dezembro, como uma das contrapartidas pelo uso do espaço, Ricardo Ribeiro, Presidente do Azores Surf Clube (repare-se, ficava de fora a empresa Azores Surf Center) obrigava-se a dar ‘aulas de Surf gratuitas a jovens do Concelho da Ribeira Grande e identificados por esta edilidade.’[35] Ficaria a questão resolvida?

Snack Bar O Jardim (de João Correia, surfista da 1.ª leva) – Cidade da Ribeira Grande (continua)



[1] O Relatório da AASB, apresentado em Assembleia-Geral em Janeiro de 2019, dá conta da ocorrência. Ficando de fora apenas a Associação de Surf da Terceira e, em São Miguel, a Associação de Surf e Bodyboard. Testemunho de André Avelar, 17 de Janeiro de 2024: ‘A AST nasceu em 2009 para defender a onda do Terreiro. Agora é a de Santa Catarina. Testemunho de Ricardo Ribeiro Xolim, 6 de Fevereiro de 2024: ‘Bastava ter um seguro de responsabilidade civil e abrir o CAE nas Finanças.’ Portanto, era mais uma empresa no âmbito da animação turística;’ Testemunho de Sérgio Aparício, 6 de Fevereiro de 2024: ‘Inicialmente, foi uma empresa de animação turística. Não se exigia treinador certificado. Mas a polícia marítima exigia. O seguro de responsabilidade civil era obrigatório. E abrir o CAE nas Finanças;’ Portanto, uma empresa de animação turística; Testemunho de João Alves, 6 de Fevereiro de 2024: ‘Treinador licenciado na área. CAE. Seguro de responsabilidade civil. Pedir licença a vários departamentos governamentais, à capitania e à Câmara.’ Portanto, empresa marítimo-turística.

[2] Testemunho de André Caetano, 26 de Dezembro de 2023

[3] Açoriano Oriental, 26 de Setembro de 2015, pp. 1, 19. ‘Devido ao Covid-19, passou para 2021: ‘A competição masculina do surfe nos Jogos Olímpicos de Verão de 2020 foi realizada entre 25 e 27 de julho de 2021 nas águas da Praia de Tsurigasaki, em Chiba, localizada a cerca de 64 km de Tóquio. Um total de 19 surfistas de 13 Comitês Olímpicos Nacionais (CON) participaram do evento.’

[4] Seria brevemente substituído por David Prescott. Testemunho de Sérgio Rego, 21 de Dezembro de 2023; Testemunho de Carlos Rodrigues, 21 de Dezembro de 2023; Testemunho de Madalena Duarte, 19 de Dezembro de 2023.  Relatório de contas da AASB de 2016 apresentado em Janeiro de 2017. Não são aí identificados, porém, por páginas adianta já mencionar o Radical e o Santa Bárbara, só podem ser estes ‘(…) o aparecimento de dois novos clubes especificamente vocacionados para a prática dos desportos de surfing (…).’ João Alves estivera ligado ao Clube Naval de Ponta Delgada até 2010 e depois à secção de surf dos Bombeiros de Ponta Delgada. Sérgio Aparício, por seu turno, como se viu, deixara entretanto os Bombeiros de Ponta Delgada. O querer atingir outros patamares, explica que, em 2017, Sérgio Rego que, tendo ali iniciado um projecto em 2013, querendo mais apoios e não os alcançando, deixasse o Clube Naval de Rabo de Peixe. ‘tinha objetivos ‘elevados’ que o clube não conseguia suportar. Queria muito promover o talento dos miúdos a nível regional, nacional, europeu e mundial, bem como a nível de crescimento pessoal e entre outras situações que gostaria de concretizar a nível de saúde das crianças e jovens...’ Essa mesma falta de apoios, já levara o Clube Naval de Ponta Delgada a encerrar a actividade do surfing ainda em 2014. O Presidente, que esteve três mandatos à frente daquele clube e dois como vice-Presidente, explica: ‘Era preciso mais investimento para levar os atletas a outras competições. Mas não havia. Então saíram os atletas. Assim acabou o Surf do Clube Naval. A Secção de Surf do Clube de Actividades da Associação de Bombeiros de Ponta Delgada, pelas mesmas razões, encerrara em 2016. Madalena Duarte, responsável daquela Secção e membro da Direcção da AASB: ‘O [Sérgio] Aparício montou um Clube por sua conta.’ Em contrapartida, percebe-se que (em 2017) ingressem na AASB dois (novos) clubes/empresas com ambições: o Radical Clube de Surf de João Alves Triki e o Santa Bárbara Surf de Sérgio Aparício. Triki tem (então) a sua sede nas Laranjeiras, em Ponta Delgada. Aparício ‘aluga’ um espaço ao Resort de Santa Bárbara (inaugurado em 2015), ao fundo da praia na zona conhecida (pelos primeiros surfistas) como pico da Ganza (na Ribeira Grande). Ainda em 2017, Ricardo Ribeiro Xolim celebra um contrato de comodato com a Câmara na Ribeira Grande para um espaço no areal de Santa Bárbara.

[5] Havia a possibilidade de escolha entre empresa de animação turística e marítimo-turística. Aparício e (talvez) Ricardo Ribeiro, escolheram o primeiro formato, João Alves o segundo. Disporiam de um determinado de um treinador certificado (por aluno) pela Federação Portuguesa de Surf. No seu currículo, constava uma série de matérias úteis, tais como, educação ambiental, primeiros socorros, saber lidar com alunos de diversos escalões. E, claro, saber línguas. Era (ainda) necessário oferecer material adequado e diverso. O que, como se depreende, implicava alguns (não muitos) investimentos.

[6] Segundo me tem dito, no entanto, não o consegui comprovar documentalmente. Referência retirada do prospecto que distribui: Licença N.º 8/2015. Mas não ainda comprovada. Entraram na AASB no ano de 2017, mas já o eram (em finais) em 2016. Quando é que aparecem esses clubes e as respectivas empresas? O (clube) Azores Surf Club terá sido fundado em 2013 e (a empresa) o Azores Surf Center foi licenciada em 2015. No prospecto: Black Sand Soc. Uni. Lda. Marca Registada em Novembro de 2014. A empresa tem a dupla vertente do Surf e do Skate. O Santa Bárbara Club (clube) em 2016 e (a empresa) Santa Bárbara Surf School Azores licenciada naquele mesmo ano.[6] O (clube) Azores Radical Club e (a empresa) Black Sand Box datam de Novembro de 2014.

[7] Testemunho de David Costa, 26 de Janeiro de 2024. Licenciamento de Operador Marítimo-turístico 1/ 2018 Cf. Actividade Marítimo-Turística - Região Autónoma dos Açores (Portal do Governo) Com sede na Travessa da rua do Aresta. Criada legalmente em 2015, já vinha de 2009, e foi licenciada em 2018.

[8] Testemunho de André Rosa, 26 de Junho de 2024. Segundo a minha colega, Carla Sofia Medeiros Brandão (que o conheceu e tem acesso ao processo), André Rosa fez o pedido à Câmara com data de 4 de Março de 2020, tendo-lhe sido diferido favoravelmente em Junho. Neste mês, com data do dia 12, André Rosa desistiu.

[9] AASB, Relatório e Contas de 2017 apresentado em 20 de Janeiro de 2018

[10] Associação Açores de Surf e Bodyboard (AASB), Relatório e Contas do ano de 2018, apresentado a 30 de Janeiro de 2018.

[11] A Ribeira Grande Mais – Empresa Municipal, através da qual a Câmara apoiava o surf, está a prazo. A lei 50/2012 de 31 de Agosto sentenciara o seu destino. Activa ainda 2014, encerra (por completo) actividade em Outubro de 2015. Alexandre Gaudêncio tem em mente outros projectos além do surfing.

[12] Açoriano Oriental, 26 de Setembro de 2015, pp. 1, 19.

[13] Alexandre Gaudêncio, Revista Municipal da Ribeira Grande, Outubro de 2014, p. 21-23.

[14] Nélia Câmara, Correio dos Açores, 28 de Novembro de 2014, pp. 1, 3. Além do que afirmou, além de manter o que o anterior executivo socialista promovera, a autarquia começa a apostar em força nos trilhos pedestres. Em 2015, inaugura três (barquinha, etc…); em 2016, outros (o da Gorreana, Ladeira da Velha); ainda outro em 2017 (Moinho do Félix), em 2022, nos Fenais da Ajuda. Etc…

[15] À falta de dados concretos, limito-me a especular.

[16] Testemunho de Albino Pinheiro, 28 de Janeiro de 2024. Já antes, porém, Altino Pinheiro havia disponibilizado aos surfistas, antes mesmo da primeira etapa do campeonato de 2008: ‘Vinham surfar a onda de Rabo de Peixe e as de Santa Bárbara e da Areia. Primeiro, arranjei uns espaços improvisados na casa da rua do Passal – mesmo abrindo para o Largo do Rosário. Vendo o interesse, sobretudo a partir das provas, mais ou menos um ano depois, aí em 2007, fui regularizar tudo. Foi o primeiro alojamento local na Ribeira Grande.’ Já vimos que em Agosto de 2014, fora criada a primeira Surf House, na Matriz da Ribeira Grande.

[17] Fonte: CMRG: Naquela mesma rua – beco – denominada rua da Praia: João Saraiva já disponibilizara um AL em 2015 – ampliado sucessivamente em 2017 e 2023; Cláudia Tavares já o fizera (ainda naquela rua) em 2015 e de novo em 2017.

[18] Testemunho de José Nuno Moniz, 16-17 de Abril de 2024.

[19] Açoriano Oriental, 8 de Junho de 2018, pp. 1, 5: A notícia é assim: 8 de Junho de 2018:Ribeira Grande autoriza obra de hotel sem alvará. Câmara autorizou obra do Hotel Verde Mar & SPA, enquanto espera aprovação de unidade de execução e garante que processo é legal.’ Açoriano Oriental, 31 de Outubro de 2018, pp. 1, 2-3: Segunda fase da requalificação do litoral, pronta até ao fim do ano. Só seria inaugurado em 2019. Encontrava-se em fase de construção o troço (com ponte na foz da ribeira) do Passeio Atlântico.

[20] Açoriano Oriental, 12 de Janeiro de 2017, pp. 1, 2

[21] Testemunho de Luís Sousa, 13 de Janeiro de 2024.

[22] Açoriano Oriental, 14 de Março de 2017, última página

[23] Açoriano Oriental, 8 de Março de 2017, pp. 1-5

[24] Açoriano Oriental, 8 de Setembro de 2017, pp. 2-3

[25]António Benjamim (substituindo Francisco Cabral de Melo) fora eleito Presidente em Outubro. Apesar de o endereço da AASB ser (conforme Relatório) Rua do Espírito santo, n.º 71, Fajã de Baixo, anteriormente era Avenida Hermano Feijó, n. 34, Livramento, de acordo com: Associação Açores de Surf e Bodyboard. Apresentação. Ponta Delgada, Dezembro de 2018, p. 10: ‘A AASB não possui qualquer património imóvel, tendo no ano de 2017 sido disponibilizado pela Câmara Municipal da Ribeira Grande um pequeno espaço para sede e armazenagem de equipamentos de competição, localizado na zona balnear da praia de Santa Bárbara.’ Apesar de o contrato ser de 9 meses e para armazém. Testemunho de Pedro Monteiro, 3 de Fevereiro de 2024.Que dizia? Cedia a utilização (temporária) de forma gratuita de um espaço, que se destinaria ‘a armazenar material técnico de competição desta associação, nomeadamente tendas, placas de tempo e sinalética de prova, faixas publicitárias e outros equipamentos necessários à organização de provas de Surf e de Bodyboard.’ No entanto, tal era a necessidade de uma sede que, pouco depois o espaço já funcionava (também) como sede da AASB. Pelo menos de finais de 2017 a Outubro de 2018, ‘lá faziam reuniões. Depois deixaram de lá ir.’ Diz-me Pedro Monteiro que (em parceria com Leandro Almeida) explora o Tuka Tu Lá.

[26] Esboceto destinado à construção da sede da ASSB. Contendo diversos espaços funcionais e uma ‘torre’ para os juízes das provas, datado de Outubro de 2019 sem assinatura de autoria, sabe-se que é do arquitecto Francisco Cabral de Melo. Que terminara o seu mandato de Presidente da AASB em Outubro de 2018. Foi assunto de conversa entre o novo Presidente da AASB – António Benjamim, Alexandre Gaudêncio (Presidente da Câmara da Ribeira Grande) e Filipe Jorge (Vereador da Cultura). Conversa tida pouco antes do Covid-19. Não deu entrada oficial no sistema da edilidade. 

[27] Destas, apenas três na Ilha Terceira e uma na Praia das Milícias. Confirmado por Francisco Melo, 7 de Fevereiro de 2024: ‘Falaram (Benjamim) comigo e fiz isso em 2019.’

[28] Seis realizaram-se nas Milícias e uma nos Mosteiros. Porquê? Para não sobrecarregar Santa Bárbara e repartir as provas? O mesmo já não se passava com as do Circuito de Ilha de Surf e de Bodyboard (2015-2017). Das oito etapas realizadas na Ilha, apenas uma decorreu em Santa Bárbara.

[29] Testemunho de Martinho Botelho, 6 de Fevereiro de 2024. Descrição: Carteira contendo um mapa dos surf Spot da Ilha, com destaque para os do Concelho (Santa Bárbara, Monte Verde, Santa Iria, Baixa da Maia, Baixa da Viola) que são descritos. Não é datado nem traz autoria, mas é edição da Câmara Municipal da Ribeira Grande.

[30] Vimos que em 2011/12 a administração PS já o havia tentado sem sucesso.

[31] E se (ainda) lhe acrescentarmos os atletas (e os resultados) alcançados pela secção de bodyboard do Clube Naval de Rabo de Peixe, o domínio é ainda maior.

[32] No de 2018, face ao Radical Surf Club, há um (acentuado) recuo dos dois clubes da Ribeira Grande com sede na Praia de Santa Bárbara (deixa de estar activa a secção do Clube Naval de Rabo de Peixe).

[33] Em 2015, tirando os bodyboarders do Clube Naval de Rabo de Peixe, tanto quanto me foi possível identificar, identifiquei os dois irmãos Healion (Peter - iniciado - e Nicole – Juvenil) inscritos nos Bombeiros de Ponta Delgada; e Gonçalo Azevedo (júnior, também atleta, no Clube Náutico da Lagoa). Em 2016, apenas Peter Healion (ainda nos Bombeiros de Ponta Delgada). Em 2017, Peter Healion segue Aparício para o Clube que fundara: Santa Bárbara Surf Club. Em 2017, já com o segundo clube da Ribeira Grande, Peter Healion transfere-se dos Bombeiros de Ponta Delgada (com a saída de Sérgio Aparício, fechara) para o Santa Bárbara Surf Club (fundado pelo mesmo Sérgio Aparício). Em 2018, regressa ao Azores Suf Club (da Ribeira Grande), clube onde (por influência de Tomás Anselmo) iniciara a sua formação.

[34] Testemunho de Sérgio Aparício, 14 de Novembro de 2023. Nem há gente da nova geração a querer. Segundo Sérgio Aparício: ‘Medo ancestral do mar. Caro. Exige transporte para onde haja condições e a qualquer hora. Isso afasta muita gente.’ Mas isso deveria aplicar-se não só à Ribeira Grande. Além do mais, o outro clube da Ribeira Grande (por obrigação do contrato de comodato com a Câmara) tem de aceitar candidatos (carenciados) que queiram aprender. Serão (pois) (aqueles dois clubes) clubes da Ribeira Grande apenas com um atleta da Ribeira Grande? Sim. Do mesmo modo que um clube (de futebol ou de outra modalidade qualquer) é identificado com a cidade onde tem a sede independentemente de ter todos ou nenhum atleta natural daquela cidade. Certo? E no entanto, a maior parte das pessoas (com quem tenho trocado impressões) da Ribeira Grande, não os identifica com a Ribeira Grande.

[35] Que fora (primeiro) da ASSM e da USBA e que fora sendo usado por Xolim desde que a USBA fechara portas em 2013.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

História do Surf na Ribeira Grande: Clubes (Parte IV)

Clubes (Parte IV) Clubes? ‘ Os treinadores fizeram pressão para que se criasse uma verdadeira associação de clubes .’ [1] É assim que o recorda, quase uma década depois, Luís Silva Melo, Presidente da Comissão Instaladora e o primeiro Presidente da AASB. [2] Porquê? O sucesso (mediático e desportivo) das provas nacionais e internacionais (em Santa Bárbara e no Monte Verde, devido à visão de Rodrigo Herédia) havia atraído (como nunca) novos candidatos ao desporto das ondas (e à sua filosofia de vida), no entanto, desde o fecho da USBA, ficara (quase) tudo (muito) parado (em termos de competições oficiais). O que terá desencadeado o movimento da mudança? Uma conversa (fortuita?) na praia. Segundo essa versão, David Prescott, comentador de provas de nível nacional e internacional, há pouco fixado na ilha, ainda em finais do ano de 2013 ou já em inícios do ano de 2014, chegando-se a um grupo ‘ de mães ’ (mais propriamente de pais e mães) que (regularmente) acompanhavam os treinos do...

Moinhos da Ribeira Grande

“Mãn d’água [1] ” Moleiros revoltados na Ribeira Grande [2] Na edição do jornal de 29 de Outubro de 1997, ao alto da primeira página, junto ao título do jornal, em letras gordas, remetendo o leitor para a página 6, a jornalista referia que: « Os moleiros cansados de esperar e ouvir promessas da Câmara da Ribeira Grande e do Governo Regional, avançaram ontem sozinhos e por conta própria para a recuperação da “ mãe d’água” de onde parte a água para os moinhos.» Deixando pairar no ar a ameaça de que, assim sendo « após a construção, os moleiros prometem vedar com blocos e cimento o acesso da água aos bombeiros voluntários, lavradores e matadouro da Ribeira Grande, que utilizam a água da levada dos moinhos da Condessa.» [3] Passou, entretanto, um mês e dezanove dias, sobre a enxurrada de 10 de Setembro que destruiu a “Mãn”, e os moleiros sem água - a sua energia gratuita -, recorriam a moinhos eléctricos e a um de água na Ribeirinha: « O meu filho[Armindo Vitória] agora [24-10-1997] só ven...

Quem foi Madre Margarida Isabel do Apocalipse? Pequenos traços biográficos.

Quem foi Madre Margarida Isabel do Apocalipse? Pequenos traços biográficos. Pretende-se, com o museu do Arcano, tal como com o dos moinhos, a arqueologia, a azulejaria, as artes e ofícios, essencialmente, continuar a implementar o Museu da Ribeira Grande - desde 1986 já existe parte aberta ao público na Casa da Cultura -, uma estrutura patrimonial que estude, conserve e explique à comunidade e com a comunidade o espaço e o tempo no concelho da Ribeira Grande, desde a sua formação e evolução geológica, passando pelas suas vertentes histórica, antropológica, sociológica, ou seja nas suas múltiplas vertentes interdisciplinares, desde então até ao presente. Madre Margarida Isabel do Apocalipse foi freira clarissa desde 1800, saindo do convento em 1832 quando os conventos foram extintos nas ilhas. Nasceu em 1779 na freguesia da Conceição e faleceu em 1858 na da Matriz, na Cidade de Ribeira Grande. Pertencia às principais famílias da vila sendo aparentada às mais importan...