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Surf Ribeira Grande: Mulheres - VIII

                                                                Mulheres – VIII




Enquanto eles (por razões muito suas) tentavam sacudir a batata quente, elas chegavam-se à frente. Em noite de cantar às Estrelas, a AASB elegeu uma direcção (maioritariamente) de mulheres.[1] Maria Carolina Soares Carreiro, a nova Presidente, explica porque o fizeram: ‘Aqui na Firma [Ricardo Pacheco · Advogado] tivemos conhecimento de que a AASB estava a atravessar uma fase complicada, no sentido em que não eram conhecidas pessoas que assegurassem a continuidade da direcção da associação. Em virtude disso, eu, como advogada, bem como duas colegas minhas [Verónica Casimiro, vice - Presidente, natural de São Jorge, deu aulas de História na Secundária da Ribeira Grande, e Joana Rosa, tesoureira, de São Roque, da Ilha do Pico], tomámos a iniciativa de abordar a associação no sentido de nos mostrarmos disponíveis para apoiar, e juntamente com outros dois elementos de duas outras ilhas (…).’[2] Ainda que o surf fosse uma paixão do último Verão (ou por isso mesmo): Embora eu e as minhas colegas não sejamos umas praticantes assíduas de surf, sabemos apenas a nível aleatório, tivemos o primeiro contacto durante o Verão de 2023 e é uma prática que nos desperta bastante interesse.’[3] Seis dias depois, Teresa Canto e Castro e Sílvia Furtado resolvem (de forma prática) um problema (inesperado): enquanto Aparício fecha (ou suspende) o clube dos filhos, elas criam uma secção de surf nos Bombeiros da Ribeira Grande. Ao contrário dos maridos, não praticam surf, mas acompanham militantemente os treinos dos filhos.[4] Seja-lhes feito justiça, as mulheres, ou saltando da prancha ou vigiando da areia os filhos na água -, são (em larga medida) a razão (do sucesso) da (fase decisiva) da implantação do surfing da Ilha. Estão na génese da AASB (a saber: Lili Viana e Madalena Duarte), na primeira direcção (Lili Viana foi vice – Presidente), e (até) na fundação de um clube (Madalena Duarte nos Bombeiros de Ponta Delgada).

Em boa verdade, a direcção de Carolina Carreiro herda desafios difíceis. À cabeça, a quebra no número de federados (atletas ou não).[5] Se a desgraça atinge todos os cinco clubes da AASB, atinge (de forma mais dura) os três clubes/empresas da Ilha de São Miguel.[6]  O que poderá isso dizer? Primeiro, são muitos os praticantes que (por discordância, por cansaço, pelos afazeres da vida ou porque querem simplesmente desfrutar as ondas) se afastaram (e ainda se afastam) do associativismo, limitando-se a ‘surfar a sua onda.’ Como fazer regressar alguns deles? Além disso, e aqui residirá (em larga medida) o (grande) problema, acentuou-se o fosso (e o choque) entre os interesses do clube e os da escola. Chegam à ilha cada vez mais turistas, os quais (entre outras muitas experiências) querem experimentar o surfing. Porém, nem todos os que aqui chegam, escolhem as escolas/clubes da AASB. Existem (já) outras empresas na ilha e de fora da ilha (não ligadas à AASB).[7] Por enquanto ‘ainda dá para todos,’ porém, como vencer no futuro a concorrência? Deixar cair o clube? Investir mais na empresa? É um dilema (reconheça-se) de difícil solução. Não é só uma questão de ‘fazer mais ou menos dinheiro,’ é (para alguns) uma questão (bastante) afectiva. Afinal de contas, formaram (um grande número) de atletas e de freesurfers da Ilha. E (pensando no futuro) haviam dado o ‘litro’ na fundação de uma associação de clubes (a AASB). Numa atmosfera bastante volátil, cada qual irá (tentar) resolver o dilema à sua maneira. Em finais de Setembro, o Santa Bárbara Surf Club, de Sérgio Aparício, entregara o espaço (sede do seu clube/empresa) ao Resort de Santa Bárbara. Rei Morto, Rei posto, O Wave Gliders (fundado em 2022 e com sede em Ponta Delgada, irá abrir no próximo mês de Maio uma loja no Resort de Santa Bárbara (Ribeira Grande), exactamente no espaço deixado livre por Aparício. João Rodrigues é da Moita, Ribatejo, aprendeu a surfar em Peniche, está a fazer uma tese de mestrado sobre Peniche, e veio para São Miguel há cerca de quatro anos.[8]O Azores Surf Club, de Xolim, o outro clube da Ribeira Grande, para ‘se manter e prosperar,’ tem vindo a contratar treinadores jovens, tais como Francisco Benjamim (um fuseiro naturalizado), Gonçalo Azevedo e Peter Healion (estes dois últimos, nados e criados na Ribeira Grande). É neles, e em poucos mais, que a primeira geração (já a dar alguns sinais de cansaço) deposita a sua esperança no futuro. Peter Aloysius Galvão Healion (filho de mãe fuseira e de pai irlandês) tem planos. A 9 de Janeiro, vê ser-lhe inscrita a Eco Surfing Azores, uma empresa marítimo - turística com sede na Ribeira Grande: ‘Aluguer ou utilização de motas de água e de pequenas embarcações dispensadas de registo (Surf, bodyboard, windsurf, kitesurf, skiming, standup paddle boarding e similares). [9]

Sérgio Aparício, além de ter saído em Setembro do Resort, por razões pessoais, fecha (ou suspende) o clube em meados de Janeiro.[10] Apanhadas de surpresa com a decisão, Teresa Canto e Castro e Sílvia Furtado, mães de três de cinco atletas daquele clube, após o choque inicial, reagem. Não havia alternativa, aproximava-se a passos largos a primeira etapa do circuito regional de surf e de bodyboard marcada para os dias 24-25 de Fevereiro na Praia da Vitória.[11] O que queriam? Segundo me foi garantido, ‘queriam um clube que estivesse fora do turismo e que fizesse formação.’[12] Criar um novo clube? Ou aproveitar um clube existente para abrir uma secção de Surf? Com essa ideia, abordaram Marco Medeiros, nadador-salvador ligado aos Bombeiros da Ribeira Grande.[13] Por que não (tentar) a criação de uma secção de surfing no Clube Desportivo da Associação dos Bombeiros Voluntários da Ribeira Grande? ‘dispunha de piscina, ginásio, espaços para sede e para arrumos e eventual alojamento para atletas.[14] O Clube Desportivo fora fundado a 19 de Janeiro de 2015.[15] Ali, praticava-se (já) a natação e o ciclismo. Com bons resultados desportivos. Aproveitar um clube de Bombeiros para criar uma secção de surfing não era inédito, dez anos antes, os de Ponta Delgada (graças a Madalena Duarte e a Sérgio Aparício) haviam albergado (com sucesso inicial, mas, infelizmente, sol de pouca dura) uma secção de surfing. A decisão (naturalmente) caberia ao Presidente: o engenheiro Paulo J. Garcia. Quarta-feira à noite, dia 7 de Fevereiro, apresentaram-lhe a proposta. Paulo Garcia (já posto ao corrente da intenção) nem pestanejou:[16]Somos capital do Surf. Faz todo o sentido ter um clube de surf. Que se abra à sociedade. Para isso vamos ter no verão open days.’[17] Aliviadas, ganham fôlego para a (louca) correria que se iria seguir. Na quarta-feira de cinzas, dia de São Valentim, 14 de Fevereiro, o novo clube (com o nome de Clube Desportivo dos Bombeiros da Ribeira Grande – SURF) é aceite (oficialmente) pela Federação Portuguesa de Surf e a 20, é admitido pela AASB.[18] Como fosse necessário encontrar um símbolo que identificasse o novo clube, Ricardo Costa e Sílvia (sua esposa) desenharam-no. A secção dispunha (então) de dez federados, no entanto, apenas cinco entram em provas: António Cleto, os irmãos, Artur e Augusto Canto e Castro, Martim Nunes e Sofia Costa. [19]

Quem querem para treinador? Yhorran Gabardo. Um jovem de 28 anos, natural de Curitiba (no Brasil). Aprendeu aos oito anos a surfar com o irmão no litoral do Estado do Paraná.[20] Conheciam-no bem. Treinara os filhos no clube de Aparício. Era também conhecido dos Bombeiros da Ribeira Grande. Fora nadador-salvador na praia de Santa Bárbara. Na altura do interesse do (novo) clube, encontrava-se no Brasil. Na Praia da Vitória, ainda sem treinador, Sílvia e Teresa (muito despachadas) fazem de ‘treinadoras.’ Ou porque a sorte protege os audazes ou porque os principiantes têm sorte, o novo clube ganha os seus primeiros troféus. Nos sub-16 e sub-18 masculinos, ganham ‘Martim Nunes (Clube Desportivo dos Bombeiros da Ribeira Grande) e Manuel Luz (Azores Radical Clube.’ Ainda em masculinos, porém, nos sub-12, ‘António Cleto do Clube Desportivo dos Bombeiros da Ribeira Grande ficou em 1.º lugar e 2.º Simão Silveira GDP.’[21] De volta a São Miguel, acertam os pormenores finais da contratação com o treinador que, entretanto, havia regressado a São Miguel no dia 26 de Fevereiro. Marcado para as 9 horas da manhã de Sábado, dia 9 de Março, o primeiro treino tem lugar (não no Norte, mas no Sul) na praia das Milícias (no seu extremo nascente).[22] Pretendendo este novo clube seguir uma via (também) de surf social, pergunto aos surfistas (da Ribeira Grande) que colaboraram no projecto social de surf de João Brilhante (hoje empresários, muitos ligados ao mar e alguns até sócios dos Bombeiros), se não é chegado o momento de oferecerem o seu contributo ao novo clube?[23] E pergunto (igualmente) ao novo clube se não acharia isso mutuamente vantajoso? Para já, está marcada uma reunião com a Câmara da Ribeira Grande.[24] Entretanto, no dia 10 de Abril, cumprindo o que havia prometido, o sítio do Facebook do novo clube, dá conta do seu próximo passo: ‘Junta-te a nós. Treinos, competição, intermédio, iniciação, mais de 6 anos. As inscrições para os treinos de surf já estão abertas no nosso clube. Contudo, e por esta ainda ser uma fase inicial, apenas estamos em condições de aceitar inscrições de quem já disponha de material próprio. (…) Futuramente, teremos mais novidades. Estamos à tua espera. Fogo à peça.’ Excelente iniciativa, haja quem adira!

O que sucede nesse entretanto na Ribeira Grande? A 20 de Janeiro, eu e Ricardo Cabral, surfista da segunda geração de João Brilhante, formado pela primeira geração (por exemplo por Paulo Sousa Pilão) criámos no Face Book a página Surf/Bodyboard Ribeira Grande. Destina-se, como aí se explica, a oferecer um local ‘de encontro virtual de surfistas e bodyboarders da Ribeira Grande.’ Pretendemos o contributo de cada um, através da partilha de ‘experiências, histórias, fotografias, etc...’ E, acima de tudo, conseguir ‘opiniões, e sugestões sobre o Surf e Bodyboard da Ribeira Grande.’ Na tentativa de perceber a relação da Ribeira Grande com o mar, dera início em Agosto, ao seu estudo (e à publicação) de pequenos trabalhos. Primeiro, para abrir o diálogo, têm sido publicados num jornal local, depois, beneficiando dos contributos do diálogo, já com algumas correcções bem como novos dados, são publicados no meu blogue. Tem resultado? Será ainda cedo para avaliar (acho).

 

A 2 de Fevereiro (dia de Nossa Senhora da Estrela), dia a seguir à eleição da nova direcção da AASB, dando razão aos que, mesmo antes do necessário estudo científico, intuam uma cada vez maior ligação entre o mar e a economia da Ribeira Grande, um jornal anuncia: ‘novo complexo turístico deverá abrir em 2026 junto à Praia de Santa Bárbara.’ ‘Ming Hsu, que já doou 4,6 ME em equipamento a Portugal, vai construir um empreendimento turístico de luxo com 19 vilas junto à praia de Santa Bárbara. Investimento de 15 a 20 milhões de euros.’[25] Neste local, pretende-se instalar futuramente a sede da AASB.[26] Outra prova desse interesse, é o crescente interesse do mercado imobiliário pela Ribeira Grande. Um cartaz (enorme) colocado num ponto estratégico da estrada de acesso à cidade da Ribeira Grande anuncia que está para breve a abertura em pleno centro da cidade da Ribeira Grande de uma nova loja do sector imobiliário.[27] Ou ainda que o bar da praia do Resort vai ser explorado por Fernando Loriga e pela companheira (treinadores do Xolim). Ou que no parque industrial (não longe do areal de Santa Bárbara) abriu a Vulcana, uma cervejaria de um casal regressado da emigração.[28] Não engana a razão que apontam para a escolha: 'Um sítio central na Ilha, de fácil acesso, numa zona que não incomoda residentes, localizado a outros pontos de interesse  e,' reparem bem: 'numa cidade que está a desenvolver-se rapidamente e que já é reconhecida como a Capital do Surf.'  Disseram os proprietários a um jornal. (Correio dos Açores, 5 de Abril de 2024, p.2). Ou ainda (para referir só um dos vários projectos conhecidos de gente da terra que ainda não passaram do sonho), o de um jovem casal que pretende construir (num ponto estratégico da futura ligação do Monte Verde a Santa Bárbara, ou seja da continuação da Via Litoral da Cidade) um Surf Center.Testemunho de Nélia Branco, 10 de Abril de 2024, sobre a intenção manifestada ao Centro de Empreendorismo da Ribeira Grande por Ruben Sabino e sua companheira para remodelarem o antigo café Benfica situado no canto da rua do Bandejo com a Travessa do Bandejo) Na onda dos nómadas digitais, Miguel Monteiro, Gil Faria e Miguel Estorninho (os dois primeiros da Ribeira Grande, o terceiro um amigo da Graciosa), vão abrir em breve na Rua de são Francisco n.º 44, o espaço www.digitalnatives.pt.

A 9 de Fevereiro, a imprensa local dá uma boa e uma má notícia. A boa: a ‘Liga Meo Surf passa em Junho pelo Areal de Santa Bárbara na Ribeira Grande.[29] A má: ‘O’Leary diz que a Ryanir foi forçada a fechar a base em Ponta Delgada e que não pretende reabri-la.’ Saem artigos nos jornais denunciando o impacto negativo (que já causa). Acusam o governo ‘da péssima negociação, se a houve.’[30] O que leva os empresários do alojamento local a temerem pelo futuro do negócio: ‘a ALA diz que diminuição de voos low-cost está a contribuir para o aumento da sazonalidade.[31] Apelam à VisitAzores para que tome medidas que contrariem a sazonalidade.[32] A esse respeito, contradizendo os anteriores, os ‘agentes de viagens consideram os Açores um destino cada vez menos sazonal.[33] E, todavia, ao que dizem os números oficiais, o ano de 2023, em termos de turismo, fora mesmo o melhor desde 2001.

 

Qual o papel da AASB na formação de novos surfistas (atletas e praticantes)?[34] Numa entrevista recente, a nova Presidente assume-se como herdeira de projectos de direcções anteriores: divulgar a modalidade nas escolas.[35] Reconhece (contudo) que atendendo aos equipamentos que são necessários,’ o surfing é um desporto ‘geralmente’ caro. Encarando o problema de frente, aponta o caminho: ‘devemos direcionar o nosso foco para as famílias com maiores dificuldades financeiras.’ E propõe uma solução ‘Pretendemos fazer isso através da disponibilização de equipamentos, nomeadamente através do apoio directo dos clubes. São eles que muitas vezes dispõem de equipamento que já não utilizam tão regularmente. E também através de apoios privados, uma vez que não nos podemos socorrer apenas dos apoios públicos, como já temos recebido dos municípios e do governo regional.

E para a Ribeira Grande? A acta da reunião entre a AASB e Câmara da Ribeira Grande (de 26 de Março) aponta no mesmo sentido: ‘(…) incentivar a adesão de novos praticantes da modalidade, proporcionando aulas de Surf a mais crianças e jovens do Concelho.’[36] Com quatro anos de mandato pela frente e apenas dois meses de trabalho cumpridos, muitas voltas irá dar (certamente) o mundo do surfing.[37] A autarquia (pela sua parte) tem mais dois anos de mandato. Irá a AASB liderar (como lhe impõe os estatutos) o processo? Irão as empresas sobrepor-se aos clubes (desvirtuando a intenção inicial da AASB)? Que impacto terá a redução dos voos das companhias de baixo custo?[38] Com antigos dirigentes da AASB – os senadores -, apoiando os ‘novatos,’ com a adesão de um novo clube e o Wave Gliders (clube/empresa) em vias de entrar na AASB, será que (finalmente) se irá passar das intenções aos actos?

Será possível à capital do Surf (e ao seu concelho) captar novos candidatos ao Surfing?[39] O panorama não é (nada) risonho. Há outros desportos (futebol, Karaté, etc.) que exercem uma atracção (bem) maior (e eficaz). Depois de João Brilhante (para a Cidade) e de Luís Melo (para Rabo de Peixe), não houve quem (aqui) pegasse (a sério) no surf social. [40] Nem tão-pouco os da terra que aprenderam com eles, apesar dos seus muitos queixumes, o fizeram. Ao contrário do que sucedeu – por exemplo -, com o hóquei. O mar assusta (de morte) os pais (e filhos). Que lamentam nunca saber onde e quando serão os treinos. Que as aulas (sobretudo) e o material (muito menos) são caros.[41] Que fazer (então)? Em vez de uma ida ‘quando o Rei faz anos’ à escola, por que não criar um clube de surf escolar (como há já para o voleibol, por exemplo)? É na escola que a população escolar do Concelho se encontra, é lá que (idealmente apoiando a educação dos pais em casa) se educam novos gostos e se desfazem velhos mitos.[42] E quem pretendesse continuar e não tivesse meios para o fazer, seria apoiado.[43] Nada do outro mundo. Tem resultado em outros lugares. Bem (mas) no fundo, no fundo, o que aqui faz (a meu ver, verdadeiramente) falta, é quem vista a camisola do Surf. Como o fizeram (nas décadas de sessenta e de setenta) para o futebol juvenil (Álvaro Moura, Fernando Anselmo, Álvaro Feijó e José Carlos Teixeira) ou  (na década de oitenta) para a introdução do Hóquei  em Patins (José Manuel Costa).[44] Camisola, pois.

Merenda, Cidade da Ribeira Grande (continua)  



[1] Numa Assembleia-Geral no quartel da Associação dos Bombeiros Voluntários da Ribeira Grande, Entrei nisso. Por crer ser benéfico ao Surf e à Ribeira Grande, adiantei e contactei nomes (José Moreira, Ricardo Cabral. Paulo e Pedro Sousa, Tomás Anselmo, Peter Healion, Gonçalo Azevedo). Fiz isso com a cumplicidade de António Benjamim. Infelizmente, os que contactámos, não se mostraram disponíveis. Não deixa de ser irónico que tendo a alteração estatutária de Julho (?) de 2023, visado blindar a AASB a gente de fora dos clubes, reservando-a apenas aos clubes inscritos, como esses não avançassem, fosse salva por gente de fora. Com muito alívio e total consentimento dos clubes e clubes/empresas. O que aconteceu na Assembleia-Geral de Julho (?) de 2023. Não dispondo da acta (prometida mas ainda não enviada) só posso especular. Os artigos 9 e 10 dos Estatutos da AASB e o artigo 7 do Regulamento Interno prestam-se a leituras ambíguas. Enquanto nos Estatutos nos é dito que são os sócios ordinários (ou seja, os clubes desportivos com sede nos Açores e regulamentos inscritos) que têm direito de voto e que os sócios extraordinários (ou seja, as pessoas físicas que, não estando especificamente incluídos na categoria de sócios ordinários, manifestam um relacionamento atendível com as actividades de ensino e treino reconhecidas pela associação (…) pagando quota mas sem direito a voto, o Artigo 7º do Regulamento Interno abria a porta a outra (possível interpretação): Poderão exercer o seu direito de voto nas assembleias gerais os sócios que comprovadamente tenham a sua cota anual regularizada, portanto, também os extraordinários.

[2] Outra versão: ‘O Ricardo Pacheco, na sequência da notícia do jornal, contactou-me e disse: a AASB não pode fechar. É demasiado importante para os Açores. Vou arranjar uma solução.’ Mais ou menos assim. Testemunho de António Benjamim.

[3] Mariana Lucas Furtado entrevista Carolina Carreiro, Presidente da AASB, Açoriano Oriental 19 de Março de 2024, pp. 18-19.

[4] Testemunho de ambas as mães: ‘foram apanhadas de surpresa em meados de Janeiro com a decisão de Aparício em suspender (ou acabar) a actividade do clube. Por razões pessoais.’ Cujo marido é surfista, piloto de apelido Canto e Castro) e Sílvia Furtado (também conhecida por Costa, cujo marido, Ricardo Costa, é também surfista e fotógrafo e havia feito parte – se não me engano à primeira Direcção da AASB) mães de três de cinco dos atletas treinados naquele clube.

[5] Traduzido no número de votos atribuído a cada clube - Terceira e Graciosa -, e aos clubes/empresas (São Miguel. O (acentuado) declínio no número de federados entre a eleição da Direcção de Filipe Mendonça em Novembro de 2022 (com onze votos) e a de Carolina Carreiro em Fevereiro de 2024 (cinco votos), deve (antes de mais) ser encarado de frente.

[6] Em 2022, em São Miguel, o Azores Surf Club (com 42 federados) tinha direito a 2 votos em 2024 passou a ter direito a 1 voto; o Azores Radical Club (com 11 federados), e 2 votos, passa em 2024 a não ter nenhum; o Santa Barbara Surf Club Açores (13 federados) desce de 2 votos para 1; o Grupo Desportivo Mocidade Praiense (23 federados) desce de 2 votos para um; e a Associação de Surf da Terceira (84 federados com 3 votos desce em 2024 para 2 votos.

[7] A piorar a situação, instalou-se, entre (alguns) dos seus empresários/presidentes, um certo (e muito natural) cansaço. Alguns andam ‘no surf’ há mais de uma década. Além disso, a vida familiar exige-lhes mais atenção. A braços com a responsabilidade de criar filhos (muito) pequenos.

[8] Testemunho de João Rodrigues, 29 de Março de 2024.

[9] Cf.https://rnt.turismodeportugal.pt/RNT/RNAAT.aspx?nr=9%2f2024 - RNAAT nº 9/2024. Testemunho de Peter Healion, 23 de Janeiro de 2023. Peter aprendeu a surfar com Ricardo Ribeiro Xolim. Em 2014, estava ligado ao surf dos Bombeiros de Ponta Delgada. Saiu quando saiu Sérgio Aparício. Peter, repito o que já escrevi em trabalho anterior, é um jovem de 23 anos, veio para o surf ‘porque gostava de surf. Via vídeos e via na televisão e gostava muito do mar.’ Fora pela mão do vizinho, Tomás Anselmo, surfista da segunda leva de João Brilhante, e dono de uma pequena empresa turístico – marítima.

[10] No entanto, tenho visto em Santa Bárbara e nas Milícias a bandeira da empresa/clube. Mais não sei. Terá (eventualmente ainda) tentado, até (segundo consta, falta-me confirmá-lo) negociar (sem qualquer aparente sucesso) ou trespassar a outros (não percebi se só o clube ou também a empresa).

[11] Registe-se que um atleta do Aparício foi aceite no clube do Triki. Não viu (inicialmente) inconveniente na proposta, porém, antes de se decidir (em definitivo) quis expor o assunto aos pais dos seus atletas. Apesar de não terem colocado quaisquer objecções (segundo me disse a Carla Sofia Medeiros – mãe do único atleta em competição da escola de Triki), Triki mudaria de ideias. Versão até Sílvia Furtado ter lido o jornal em 7 de Abril, que me havia sido garantida pelas outras fontes:. Tentam encontrar lugar para os cinco atletas órfãos do clube de Aparício nos dois (restantes) clubes/empresa. Sondam João Alves Triki (do Radical Clube). Não. Estaria disposto a recebê-los no seu clube? Não. Sem baixar os braços, foram (ou já haviam ido) pedir o mesmo a Ricardo Ribeiro Xolim. Outro não. Sem mais portas onde bater, como hipótese, terão pensado (ainda) em criar um novo clube

[12] Testemunho de Sílvia Furtado, 7 de Abril de 2024. Isso após lhe ter pedido que lesse o que saíra no jornal.

[13]A partir daqui, sem (então) o suspeitar, estou metido até ao pescoço. Recordo-me (agora, tenho isso escrito) de, nas férias do Natal, e na praia de Santa Bárbara, ter desafiado, o Marco Medeiros a criar uma secção de surf dentro do clube de actividades desportivas da Associação de Bombeiros da Ribeira Grande: ‘vocês falam da falta do surf social, porque é que não se abre uma secção de Surf nos Bombeiros: têm piscina, ginásio, nadadores-salvadores que são treinadores de surf, tu próprio. Tudo isso, aliás, são condições excelentes. Tanto mais que tu ainda fazes parte da Direcção em gestão. Além disso é lá que as Assembleias-Gerais da AASB se realizam. Não achas isso possível? Há muitos apoios. E não seria coisa inédita, os de Ponta Delgada em 2014 já o fizeram.’ Muito antes do Natal (tenho também isso nas minhas notas) havia conversado informalmente com o vereador da Cultura da CMRG – Dr. José António Piques Garcia, irmão do Presidente do Clube de actividades da Associação dos Bombeiros Voluntários da Ribeira Grande. Ficou combinado que iria tocar no assunto ao irmão. Como não sei ainda se tocou ou não, conto perguntar-lhes.

[14] Testemunho de Teresa Brandão, 24 de Março de 2024.

[15] Em Outubro de 2012, fora Inaugurada a Piscina Viriato Madeira no Complexo dos Bombeiros Voluntários da Ribeira Grande.

[16] Indirectamente por mim através do irmão e directamente pelo Marco Medeiros.

[17] Testemunho de Paulo Garcia, 24 de Março de 2024.

[18] Testemunhos de Teresa Brandão e Sílvia Costa, 23 de Fevereiro de 2024

[19] Testemunhos de Teresa Brandão Canto e Castro e Sílvia Furtado Costa, 23 de Fevereiro de 2024.

[20] Testemunho de Yhorran Gabardo, 24 de Março de 2024.

[21] Açoriano Oriental, 29 de Fevereiro de 2024, p. 20.

[22] Quanto à contratação, não me dizem a data certa, mas terá sido entre o dia 26 de Fevereiro, dia em que Yhorran regressou do Barsil,  e 7 de Março (data em que ele é fotografado numa acção de formação conduzida por João Macedo). Quanto ao primeiro treino, o piloto Canto e Castro, confirmou-o. E o treino físico? ‘Faço-o na praia. Estou à espera de um horário que convenha na piscina.’ Como é que fazes para ensinar? ‘Uma das maneiras é filmar. Depois a gente corrige.’ Em que dias treinas?Aos fins-de-semana e na quarta à tarde.’ Onde? ‘Onde as condições do mar sejam melhores. No Monte Verde, em Santa Bárbara ou nas Milícias.’ E que atletas já tens? ‘além dos cinco que vieram do Aparício, tenho três crianças e alguns interessados.’ Interessados? ‘adultos que não sendo atletas querem continuar a aperfeiçoar-se.’ Testemunho de Yhorran Gabardo, 24 de Março de 2024. Fonte: página do FB do Clube de Surf da Ribeira Grande: A 7 de Março, tiveram a oportunidade de ouvirem João Macedo (surfista de ondas grandes), que a convite de Marco Medeiros e ‘no âmbito de uma formação aos nadadores salvadores da costa norte, onde foram abordados temas como a apneia e a preparação física e psicológica, necessárias para enfrentar o mar em condições de tensão e ondas grandes.’ Que projectos? ‘Vamos – como pretendem – tentar atrair mais gente. Talvez com apoio de pranchas e transportes.

[23] Por exemplo: Os irmãos Pedro e Luís Sousa (Pilão), Tomás Anselmo, empresários do sector; João Vieira (empresário da restauração); João Dâmaso (construção civil); João Victor Melo; João Almeida, erc..

[24] Testemunho de José António Garcia (vereador da Cultura e do Desporto), 4 de Abril de 2024.

[25] Açoriano Oriental, 2 de Fevereiro de 2024, p.7.

[26] Ficou acordado na reunião entre a direcção da AASB e a autarquia. Nesta sede serão – ao que dizem -, disponibilizados várias valências.

[27] REMAX vai abrir uma delegação na rua de El-Rei D. Carlos I (n.º 33 – Loja do Senhor Joaquim Vieira – Depois Granja) na Cidade da Ribeira Grande.

[28] Yohrron Gabardo, treinador do clube de surf dos Bombeiros trabalha lá também.

[29] Correio dos Açores, 9 de Fevereiro de 2024, p.20

[30] Correio dos Açores, 24 de Fevereiro de 2024, p. 15.

[31] Açoriano Oriental, 9 de Fevereiro de 2024, p. 5.

[32] Nuno Martins Melo, Açoriano Oriental, 24 de Fevereiro de 2024, pp. 2-3.

[33] RTP 3 – 23 de Março de 2024

[34] Segundo o artigo 2.º dos seus estatutos, no seu ponto 1 deve ‘Interceder junto dos poderes públicos na defesa dos interesses do surf;’ no ponto 2: Auxiliar, técnica e materialmente, os clubes filiados; no ponto 4:Difundir informação sobre o ensino e prática dos desportos e actividades que dirige.’

[35] Mariana Lucas Furtado entrevista Carolina Carreiro, Presidente da AASB, Açoriano Oriental 19 de Março de 2024, pp. 18-19

[36] Acta da reunião entre a AASB e a Câmara do dia 26 de Março de 2024. Atenção que o artigo 2.º dos seus estatutos, ponto 2: Auxiliar, técnica e materialmente, os clubes filiados,’ aponta no sentido contrário. Na prática, não tem sido assim.

[37] Dispõe de excelentes contacto nas administrações regional e autárquica. Ricardo Pacheco - figura influente na estrutura do PSD/A, é casado com uma Secretária Regional, irmão de Carolina Carreiro

[38] O mercado da América do Norte (segundo me dizem) é (bem) melhor.

[39] Contrastando com o passado, em que (excepção feita à acção do Professor Jorge Amaral Borges no Externato Ribeiragrandense) nada mais havia além do que o futebol.

[40] Depois, apesar de ser possível encontrar material em segunda mão, a preços razoáveis, a percepção pública é (ainda) a de que é um desporto (muito) caro. É incontestável que as aulas são (de facto) caras. Fazendo um sobrevoo aos diversos desportos, há que reconhecer que aprender Surf sai mais caro do que aprender o desporto mais caro disponível.

[41] Nesse sentido, além da conversa com a nova direcção da AASB, atrás referida, a autarquia está a renegociar (de modo favorável a ambas as partes) o contrato com uma escola/empresa. Será isso suficiente? Não.

[42] Eduardo Monteiro, Diário dos Açores, 16 de Março de 2024, p. 8. Há não só cobertura legal para tal (os Açores foram pioneiros nesse movimento, pioneirismo do Dr. José Reis Leite, enquanto primeiro Secretario da Cultura) como abertura de alguns dos clubes existentes. O clube escolar em vez de exclui-los, trar-lhes-á novos associados. Faz falta (já para o caso dos freesurfurs e dos atletas formados) um Surf Center (há vários possíveis modelos a copiar no continente português). Espaço múltiplo, onde se ofereça – além de alojamento -, informação e formação. Poderia ser gerido pela AASB. Que deve ter a sua sede física para breve (segundo consta). Se se quisesse ir ainda um pouco mais longe, criar-se-ia um Centro de Alto Rendimento (também existem vários possíveis modelos). Entretanto, ainda que provisórios, antes que avancem a Via Litoral e os projectos privados, junto às praias de Santa Bárbara e a do Monte Verde seria vital disponibilizar espaços (móveis) para apoiar os surfistas. Na Escola Secundária da Ribeira Grande e nas três escolas áreas escolares concelhias. Como? Talvez promovendo uma parceria que envolva a Região, o Município, a comunidade escolar e a AASB.

[43] Ficassem os clubes de fora da escola descansados, iria (a breve trecho) favorecê-los.

[44] Ou como hoje fazem para as artes marciais, Carlos Sousa, Klely Dirceo (entre outros para outros desportos).

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História do Surf na Ribeira Grande: Clubes (Parte IV)

Clubes (Parte IV) Clubes? ‘ Os treinadores fizeram pressão para que se criasse uma verdadeira associação de clubes .’ [1] É assim que o recorda, quase uma década depois, Luís Silva Melo, Presidente da Comissão Instaladora e o primeiro Presidente da AASB. [2] Porquê? O sucesso (mediático e desportivo) das provas nacionais e internacionais (em Santa Bárbara e no Monte Verde, devido à visão de Rodrigo Herédia) havia atraído (como nunca) novos candidatos ao desporto das ondas (e à sua filosofia de vida), no entanto, desde o fecho da USBA, ficara (quase) tudo (muito) parado (em termos de competições oficiais). O que terá desencadeado o movimento da mudança? Uma conversa (fortuita?) na praia. Segundo essa versão, David Prescott, comentador de provas de nível nacional e internacional, há pouco fixado na ilha, ainda em finais do ano de 2013 ou já em inícios do ano de 2014, chegando-se a um grupo ‘ de mães ’ (mais propriamente de pais e mães) que (regularmente) acompanhavam os treinos do

Moinhos da Ribeira Grande

“Mãn d’água [1] ” Moleiros revoltados na Ribeira Grande [2] Na edição do jornal de 29 de Outubro de 1997, ao alto da primeira página, junto ao título do jornal, em letras gordas, remetendo o leitor para a página 6, a jornalista referia que: « Os moleiros cansados de esperar e ouvir promessas da Câmara da Ribeira Grande e do Governo Regional, avançaram ontem sozinhos e por conta própria para a recuperação da “ mãe d’água” de onde parte a água para os moinhos.» Deixando pairar no ar a ameaça de que, assim sendo « após a construção, os moleiros prometem vedar com blocos e cimento o acesso da água aos bombeiros voluntários, lavradores e matadouro da Ribeira Grande, que utilizam a água da levada dos moinhos da Condessa.» [3] Passou, entretanto, um mês e dezanove dias, sobre a enxurrada de 10 de Setembro que destruiu a “Mãn”, e os moleiros sem água - a sua energia gratuita -, recorriam a moinhos eléctricos e a um de água na Ribeirinha: « O meu filho[Armindo Vitória] agora [24-10-1997] só ven

Quem foi Madre Margarida Isabel do Apocalipse? Pequenos traços biográficos.

Quem foi Madre Margarida Isabel do Apocalipse? Pequenos traços biográficos. Pretende-se, com o museu do Arcano, tal como com o dos moinhos, a arqueologia, a azulejaria, as artes e ofícios, essencialmente, continuar a implementar o Museu da Ribeira Grande - desde 1986 já existe parte aberta ao público na Casa da Cultura -, uma estrutura patrimonial que estude, conserve e explique à comunidade e com a comunidade o espaço e o tempo no concelho da Ribeira Grande, desde a sua formação e evolução geológica, passando pelas suas vertentes histórica, antropológica, sociológica, ou seja nas suas múltiplas vertentes interdisciplinares, desde então até ao presente. Madre Margarida Isabel do Apocalipse foi freira clarissa desde 1800, saindo do convento em 1832 quando os conventos foram extintos nas ilhas. Nasceu em 1779 na freguesia da Conceição e faleceu em 1858 na da Matriz, na Cidade de Ribeira Grande. Pertencia às principais famílias da vila sendo aparentada às mais importan