Viola
- XXV
De
onde vem o nome? Do recorte da baía que, do alto de uma chã, a
alguns dali lembra uma meia cintura de viola.[1]
O que é e o que tem sido a Viola?[2]
Na encosta, por entre canaviais, vinhedos e pomares, sobressaíram moinhos de água (de rodízio). Naquelas
ladeiras e chãs, até há uma década ou duas, cultivava-se muita vinha e fruta: ‘aquilo ali – dizem-me -, era tudo vinhas e
frutas.’ Agora estão ao abandono, excepto uma ou duas.[3]
Na Grota dos Vimes (mesmo encostada à Viola), cresce uma plantação de chá. Na beira-mar,
uma praia, às vezes calhau. Um calhau que (há uns vinte e cinco a trinta anos) se
transformou em praia. Mas que em 1943, no livro que publica nesse ano, Sarmento
Rodrigues (que estudou a costa da Ilha) era praia: ‘Passando o baixio da Maia surge uma extensa praia, inacessível pela
grande quantidade de pedras que antes dela afloram.’[4]
Enfim, trata-se de um Calhau de Areia
que (mais coisa menos coisa) não andará longe do da vizinha Maia. Ou de outros
mais da Ilha.
Hoje, o que ali se vê, é uma praia de areia (grossa),
ladeada a leste pelos Calhambazes (pedra miúda) e a oeste pela ponta do
Nateiro, cuja extensão não excederá 290 metros. Dista uns dois mil metros do
centro da Lomba da Maia.[5]
E (indo pelo Atalho, que hoje chamam de trilho da Viola) fica a pouco mais do
Calhau da Areia (na Maia). Quem a frequenta?
Enquanto foi calhau, pescadores, marisqueiros e apanhadores de musgo. Já praia,
por gente da Lomba da Maia (uns poucos, porque a ‘força’ ia ao poço da Barquinha na ribeira do Preto ou ia à praia
dos Moinhos). Entre os que vão à Viola, devido à (frequente) ‘braveza’ do mar, há quem prefira o poço
de água salobra (mistura de água da
ribeira dos Miguéis e do mar) que se forma a meio da praia. A freguesia, na
terça-feira da festa de Nossa Senhora do Rosário, caía ali em peso a enterrar os
ossos.[6]
Alem dos da terra, lá vai gente de todo o lado. Há quem aproveite o isolamento
da praia para praticar ‘descansadamente’
nudismo.[7]
E
os moinhos? Gaspar Frutuoso, a propósito dos terramotos
(e deslizamento de terra) que destruíram Vila Franca em 1522, conta que (também
devido a um deslizamento de terra) foram destruídos os dois moinhos da Maia
(junto ou mesmo dentro do então Lugar da Maia). Noutra passagem, escrevendo de
maneira que nos parece dizer respeito à época em que escreve (1580’s) fala de
moinhos da Maia (já não próximos ou dentro do Lugar) mas na ribeira do Salto: ‘da outra banda dela [da Grota do Preto] estão os moinhos da Maia, além a ribeira dos
Vimes (…) que agora se chama também ribeira do Salto.’[8]
De quando são osa primeiros moinhos na baía da Viola? Há quem aponte, sem
avançar provas, o século XV (o que me parece bastante improvável) e quem (ainda
sem apresentar provas) aponte os séculos XIX e XX (o que – pelos indícios
disponíveis -, me parece ser mais provável).[9]
Se os moinhos da ribeira do Salto forem
anteriores a 1522, podem, eventualmente, ser quatrocentistas, porém, caso sejam
posteriores àquela data, só podem ser quinhentistas. É uma leitura possível do
que Frutuoso (a nossa única fonte) deixou escrito. Reconheça-se que a
passagem é dúbia (pelo menos para mim). Pelo que, a resposta mais prudente,
enquanto não se encontra novas provas, será dizer-se que são do tempo em que
Frutuoso escreveu a sua obra. Esses serão (porventura) os primeiros moinhos conhecidos da baía da Viola.[10] E
pertenceriam, caso não constituíssem privilégio anterior a 1474 ou tivessem
sido consentidos por ele, ao então Capitão (que detinha o monopólio). E, fora esses moinhos (provavelmente de
ribeira), de quando serão os outros da baía
da Viola?[11]
Virão (possivelmente) do terceiro quartel do século XVIII.[12]
Por três razões. Primeira. Só depois de 1766 é que a lei permitiu aos donos de
nascentes ‘levantar’ moinhos. Segunda.
Ali havia nascentes. Terceira. Ter havido crescimento populacional que
justificasse o investimento. O crescimento demográfico (registado para Lomba da
Maia e a Maia) explica a construção de novos moinhos (daí os de nascente da
Viola) a partir do terceiro quartel do século XVIII. Permite igualmente situar
novo surto de construção a partir do aumento populacional verificado em 1849 e
aí por diante.[13] Se o
número 1869 (será uma data?) que figura numa cartela (patente no exterior do
segundo moinho da Viola – Frangainha) corresponder à data em que foi
construído, temos uma prova de que a construção daqueles moinhos ainda
continuava na segunda metade do século XIX.[14]
Quanto
a novos moinhos de ribeira a oportunidade surgiria em data próxima da Revolução
Liberal de Agosto de 1820. Houve quem já fugindo ao monopólio do Conde fizesse
(ainda que ilegalmente) moinhos. Como foi o caso do Tenente Manuel da Silva, na
Lomba da Maia. Uma ‘acção de libelo’
intentada contra o Tenente Silva pelo monopolista Conde da Ribeira Grande é a
prova de que este havia construído (em data desconhecida) um moinho de ribeira.
[15]
Onde ao certo, não se diz. Podemos especular se não seria na ribeira do Salto,
algures pela área de Trás do Pico. É também em 1820 nesses tempos de ruptura
com o passado que a Lomba da Maia (antes mesmo da Maia a que ainda pertenceria
até 1907) vai entrar no Concelho da Ribeira Grande.[16]
O primeiro registo oficial (conhecido) de
moinhos daquela área, data de 1854 – 1855. Para a Lomba da Maia são
identificados treze casais de mós.[17]
Vinte e seis anos depois, mantém-se o número de casais de mós.[18]
No entanto, dois já são atribuídos à ribeira do Salto.[19]
Em 1886, aparece um décimo quarto casal de mós na Lomba da Maia. Dois casais de
mós ficam fora da baía da Viola, na ribeira do Preto. Os que parecem ficar situados
na encosta da baía da Viola, são os quatro casais de mós dos Calhambazes. Os
dois casais do Soalheiro, estão (ficavam) mais para dentro da terra (a uns 500
metros do mar). Fora da baía da Viola, um, em Trás do Pico (onde ao certo?
Dizem-me que ficava na ribeira do Salto acima da ponte que atravessa a
freguesia).[20] Mais
os dois casais de mós na ribeira do Salto (que poderiam ou não ficar mais
dentro de terra). Restam outros dois, que são referidos de forma genérica: Lomba
da Maia (estarão abaixo da ponte da ribeira do Salto?).[21]
O
que chegou ao século XXI (de vestígios)? Em 2024, na baía
da Viola, confirmei (com a prestimosa ajuda do Vasco Pereira, dono de dois moinhos
da Viola) o número de quinze moinhos.[22]
Conclui-se, então que, após 1886, os
moinhos da Viola aumentaram de quatro para quinze. É notório o crescimento
de moinhos em finais do século XIX e nas primeiras décadas do século XX.
Quantos dos 276 moinhos do Concelho da Ribeira Grande, arrolados para 1909,
1910 e 1911, serão da Lomba da Maia? Não serão (decerto) apenas os 14 (em toda
a Lomba da Maia) de 1886 mas os 15 da Viola e os três ou quatro da ribeira do
Salto e outros tantos na ribeira Funda (e ainda na ribeira do Preto).[23]Sensivelmente,
a partir de finais dos anos sessenta, e
por todos os anos setenta, como sucedeu por toda a Ilha, mais cedo nuns lados,
mais tarde noutros, os moinhos foram fechando. Como se explica isso?
Guilherme Leite, homem criado por ali, por o caso dos moinhos da baía da Viola
(mas que se aplicará outros lados), deu a sua opinião: ‘Menos gente a cultivar a terra. Emigração. Pastagens. Milhos
americanos. Moagens.’[24]
Em 1988, quando visitei pela primeira vez a baía da Viola, Guilherme Carreiro
Leite (tio do meu informador) ainda trabalhava em dois dos moinhos da Viola. Em
1992 ou em 1993, deixou os moinhos. Ficou o José Carapanta, no moinho abaixo do
dele, que, em 1995/1996, também fechou.[25]
Nos Calhambazes, os três irmãos Carolos, o Tio Francisco (fazia dois), o Tio
David (outros dois) e o Manuel Manco (um), já haviam desistido. Eram os três da
Maia.[26]
O David (Pimentel Arruda) Carolo foi o último dos três irmãos a deixar os
moinhos dos Calhambazes: ‘ainda ficou na
Viola o Ti Guilherme. Comprei aqui na Maia uma moagem e deixou os moinhos.’[27]
Como
eram (ou como vemos hoje os quinze moinhos da baía da Viola)?[28]
Dispõem-se em três linhas distintas mas próximas (pela vereda marginal, dos
Calhambazes à Viola (Frangainha) são menos de 300 metros e deste último à Viola
(Chã da Viola) uns escassos trinta a quarenta metros. Os moinhos sucedem-se,
uns atrás dos outros, em fila indiana. São alimentados por nascentes.[29]
Dispõem (cada um) de um casal de mós. As pedras (em comparação aos moinhos da
Ribeira Grande) são mais pequenas. Os cubos estão na média de altura dos da
Ribeira Grande, mas são mais estreitos.[30]
Que actividades existiram ao redor
daqueles moinhos? ‘Recolhiam-se e
distribuíam-se as moendas pelos fregueses. O moleiro tinha sempre uma horta,
criava porcos e galinhas. Nos tempos de maior força dos moinhos, não só se
faziam refeições como se pernoitava ali. A rapaziada apanhava irós (enguias) na
levada. Usava isca ou de pele de galinha, de lesma ou caracóis, Para o eiró
ficar bem agarrado, usava-se ‘luvas’ feitas de folhas de figueira. A minha avó
fazia ensopado de enguia. Também se fritava ou cozia. Matava-se o porco e era
uma festa.’[31] O que se faz por ali? Querendo uma visão geral da
baía, o miradouro do Tio Domingos
e o da Eira oferecem essa (maravilhosa) oportunidade. Querendo conhecer a área (mais)
em pormenor, pode percorrer-se os dois trilhos (o da Barquinha, trilho
Municipal – inaugurado em 2015 -, e o da Viola, em 2009).[32] Para
ir à praia ou visitar os moinhos, o caminho de acesso foi beneficiado (em
2003). Em 2014 ou 2015, ‘a Viola teve
nadador-salvador e balneários. Há um ou dois anos, por dificuldades de acesso
da ambulância deixou de ter.[33] Com
a aquisição (por parte da Câmara) em 2015 (à família Bicudo) dos cinco moinhos
dos Calhambazes, procedeu-se à sua recuperação.[34]
No verão deste ano de 2024, Vasco Pereira (entusiasta dos moinhos) recuperou
(às suas custas) e com a ajuda técnica de Armindo Vitória (que já ajudara a
recuperar o moinho do Vale, no centro da Cidade da Ribeira Grande). Neste mesmo ano de 2024, com o intuito de
criar um Centro de Trail
Running, a
Junta e a Câmara assinaram um protocolo.[35]
E um centro das Ondas Gigantes.[36]
E as ondas grandes da Baixa da Viola (a baixa
é a sua autora)? Em 2018 ou já em 2019, numa altura depois do
registo da Marca Ribeira Grande – Capital do Surf, numa cartela (iniciativa da
Câmara) contendo cinco mapas descritivos de Surf Spots da Ilha, com especial destaque
para os do Concelho, além de Santa Bárbara, do Monte Verde, de Santa Iria, da
Baixa da Maia, destaca-se: ‘A praia
selvagem da Baixa da Viola.’ Que (aí se diz) oferece ‘algumas das ondas mais poderosas dos Açores.’ Porquê? ‘Forma ondas tubulares e requer muita
experiência. Esta onda é procurada sobretudo por amantes de ondas grandes,
estando esta muito exposta aos ventos, correntes e rochas.’[37]
Quem terá descoberto aquela onda? Segundo
Luís Melo, ‘foi o arquitecto
José Luís Pires dos Santos (já falecido).’ [38]
Depois foi o José Seabra. Valendo-me de Pedro Arruda, José Seabra, em conversa
com João Macedo. Fez com que, em 2012, o João Macedo fosse ‘fazer o seu primeiro tubo na Viola.’ Uma onda ‘que nesse ano ganharia o premio Moche
Winter Waves.’ Além de João Macedo. ‘o
Eric [Rebière] e o “Garoupinha”
vão-se revezar na conquista das grandes massas de água desse inconstante e
imprevisível pico da Baixa da Viola que, a quase duzentos metros da costa,
lança os seus lips num arremesso de força, abrindo ondas para a direita e para
a esquerda num impressionante bafo de agitação e mar.’ Conseguem (assim) ‘despertar o interesse de um outro curioso
surfista, o Marco Medeiros, bombeiro e socorrista (…) pelas ondas grandes.’[39]
Noutra ocasião, continua Pedro Arruda na sua inédita (e preciosa) História do
Surf nos Açores, ‘João Macedo e Éric
Rebière, desta vez acompanhados por Alex Botelho, com o apoio na mota de água
do Marco Medeiros, lançavam-se não só na já conhecida praia da Viola, mas a
testarem também um outro spot, uma onda distante e misteriosa que os surfistas
locais conheciam e admiravam há anos, já quase no alto mar, em frente à praia
dos Areais conhecida como Baixio de Santana.’ Em 2017, ‘o ano em que os Açores atingiriam um outro e
mais alto patamar na sua divulgação internacional,’ graças ao ‘destemido João Macedo,’ de quem Pedro
Arruda diz ser o sintrense mais açoriano,
‘o projecto EDP Mar Sem Fim’ traz aos Açores, ‘alguns dos melhores surfistas de ondas grandes de Portugal e do
mundo, Alex Botelho, António Silva, João Guedes, Éric Rebière e o alemão
Sebastian Steudener, que se afirmava como um dos melhores surfistas de ondas
grandes mundiais, acumulando vitórias sucessivas nos WSL Big Wave Awards (…).’
‘No dia vinte sete de Janeiro, a equipa
(…) junto com o cada vez mais imprescindível Marco Medeiros, faz uma sessão
matinal no Baixio de Santana, mas seria ao final da tarde, já na Baixa da
Viola, o tal pico que o Zé Seabra tinha falado ao João Macedo tantos anos
antes, que a história seria feita.’[40]
Em Fevereiro de 2021, surfistas de fora reafirmam de novo os ‘locais
propícios no concelho para a prática de surf em ondas grandes, nomeadamente ao
largo da praia de Santa Bárbara, na zona poente, e na praia da Viola, na Lomba
da Maia.’[41] A
respeito de ondas grandes, Luís Melo, profundíssimo conhecedor das ondas dos
Açores, disse-me que ‘dos Mosteiros a
Santo António quando o mar está grosso aparecem algumas muito boas. A de
Santana. Entre a Viola e a ponta do farol também surgem outras gigantes.’[42]
Em Novembro, sei-o de fonte segura, se tudo correr como se espera, haverá aqui
(e não só) um evento de Ondas Grandes. Com nomes sonoros de alta cotação
mundial.[43] Na
realidade, nada correu como previsto: nem ondas nem patrocínio municipal: ‘Tentamos na Viola, nada. Se tivéssemos ido
um dia antes, era bem capaz de o termos conseguido. Fomos a Santa Iria.
Resultou. Mas onde resultou em cheio foi nos Espinafres [lado poente do
Monte Verde]. O João Macedo estava cá,
juntou-se a mim [Marco Medeiros] e ao Sebastien. Estiveram alojados no Hotel
Monte Verde. Infelizmente, até hoje a Câmara não respondeu acerca do patrocínio
para a nossa proposta de Campeonato de Surf de Ondas Gigantes. Tivemos na
segunda-feira (dia 25 de Novembro) e na terça-feira (dia 26) ondas de 3 metros
e meio a quatro metros.’[44]
De olho na Baixa da Viola – Lomba da Maia –
Ribeira Grande (Continua)
[1] Confirmei-o hoje
dia 1 de Outubro conversando na Lomba da Maia com pessoas dali: Visto de cima
parece uma Viola.’ Mas onde ao certo? Visitei, hoje, dia 6 de Outubro de 2024 o
local: ‘Em direcção aos moinhos da ribeira Funda, no miradouro da Eira, ou um
pouco mais para nascente, vê-se perfeitamente a forma de meia viola.’Viola só vi esse nome escrito em
Matrizes Prediais de finais do século XIX. Lá dentro foram-me dizendo nomes
como Calhambazes,
Frangueira, Viola, Grota dos Vimes.
[2] Que pretendo? Que quem veja a terra do mar em cima de
uma prancha de Surf, saiba o que é e o que foi aquilo por ali e os que vêem o
mar da terra, conheçam o que estão a fazer ali os das pranchas. Incluem-se
(também) os que fazem os trilhos da Barquinha e da Viola e os que frequentam a
praia. Mesmo os que não passam do miradouro do Tio Domingos.
[3] Ontem, dia 3 de
Outubro de 2024, após ter lá ido em 1987 e 1988, pude constatar essa mudança.
[4] Sarmento Rodrigues, Manuel Maria, Ancoradouros das Ilhas dos Açores, Edição dos Anais de marinha, [1943], 2.ª edição 1960, p. 107.
[5] Os meus 550
passos deram c. de 280. No SIG deus entre 280 e 290. A ribeira da Lombinha (nas cartas oficiais ribeira de
Miguéis) (fazendo um poço de água salobra) dividi-a: dois terços (na banda
Nascente), pertencem à Lomba da Maia, e (a Nascente) o restante terço),
pertence à Maia.
[6] Havia quem
preferisse as margens da Lagoa das Furnas. Sobretudo os que tinham meios de
transporte.
[7] A praia (segundo me dizem) é
‘classificada’ ‘de selvagem’ pelo Turismo que (assim) recomenda que se mantenha
sem adulterações.
[8] Frutuoso,
Gaspar, Saudades da Terra, Livro IV, …
[9] Câmara, José
Bettencourt, Pedras que falam – Os
moinhos da Maia (S. Miguel, Açores), Islenha, N.º 47, 2010; Ribeira Grande.
São Miguel. Inventário do Património Imóvel dos Açores, 2007, p. 318.
[10] Sempre difícil de interpretar, relendo a passagem, um dia após ter enviado o texto para o jornal, interpretei-a de modo diferente. Acho que aponta mais para a ribeira do Salto do que para a do Preto. Assim, os moinhos referidos por Frutuoso já estão dentro da baía da Viola. Cujo nome, no tempo do cronista, era outro.
[11] São posteriores à escrita das Saudades da Terra. São do século XVII? Ou do XVIII?
[12] Há uma levada
para os moinhos dos Calhambazes que acompanha o percurso dos moinhos. Será que
foi reutilizada dos moinhos da ribeira do Salto do tempo de Frutuoso? Parte que
foi aproveitada para injectar água de nascentes? Não sei.
[13] Frutuoso,
Gaspar, Saudades da Terra, Livro IV,
1998, p. 184: Maia = [1580’s] 78 fogos; 307 almas de confissão das quais são de
comunhão 220; Chagas, Frei Diogo, Espelho
Cristalino em Jardim de Várias flores, 1989, p. 145: Maia ‘[1640] 184
fogos; almas maiores e menores = 725; Melo, Francisco Afonso de Chaves e, A Margarita Animada, 1994, p. 68
[1720’s] [Maia incluía Lomba da Maia e Furnas]: 372 fogos e 1488 almas de
confissão; Maia – Lomba da Maia [finais do século XVIII] Rocha, Gilberta Pavão
Nunes e Vítor Luís Gaspar Rodrigues, População,
economia e sociedade Micaelense em finais do século XVIII. O mapa da população
de João Leite Chaves e Melo Borba Gato, Boletim Instituto Cultural da Ilha
Terceira, Angra do Heroísmo, Tomo I, 1987, [1723] [Lomba da Maia e Maia] 372
fogos, 1488 habitantes de confissão; [1772] 615 fogos e 2088 habitantes de
Confissão; [1793] 639 fogos, 2166 (o correcto é 2 170); Rocha, Gilberta
Pavão Nunes e Vítor Luís Gaspar Rodrigues, A população dos Açores no ano de
1849, Revista Arquipélago, Universidade dos Açores, Número especial de 1983,
[Maia], 690 fogos e 3 285 pessoas. AMRG, Fundo da Ouvidoria da Ribeira Grande, Rol de confissão da Paróquia
do Divino Espírito Santo do Lugar da Maia, 1853 -64, 1853, Liv. 2, fl. 2 v.;
AMRG, Fundo da Ouvidoria da Ribeira Grande, Rol de confissão da Lomba da Maia,
1885 - 1904, 1904, Liv. 4, fls. 41 - 41
v. De 1854 a 1904, através dos Róis de Confissão, de 1233 passou para 1519
pessoas e de 358 casas para 392. Suspeito que tenham sido primeiramente
construídos os do Soalheiro. Porque? Se houver lógica na História (o que nem
sempre acontece) por ficarem mais à mão dos agregados da Lomba da Maia e da
Lombinha da Maia.
[14] A
Maia para o seu abastecimento de farinhas não dependia apenas dos moinhos do ‘Atalho’ (Viola, Nateiro, Água Mansa, um
pouco à parte, os do Soalheiro) ainda dispunha (ou iria dispor) do da Gorreana.
A Lomba da Maia (além dos da Viola) podia servir-se também dos do Soalheiro e
dos da ribeira Funda.
[15] BPARPD/FAM/RG/12/30730.22, Requerimento do
Conde da Ribeira para certidão dos réus acusados de terem construído nas
ribeiras públicas (de que tem o monopólio) Grande, Ponta Delgada, 30 de Abril
de 1819.
[16] Fazia parte da
Ouvidoria da Ribeira Grande desde o século XVII mas pertenceu a Vila Franca até
1820.
[17] Sobrevivente, pois já em 1840/1 havia uma contribuição
autárquica.AMRG, Livro de Registo de contribuições pagas pelos moinhos ao
Município da Ribeira Grande, 1854-1857, volume 66, 1854-1855. A Maia e a Lomba
– ainda Lugar da Maia -, entraram no Concelho da Ribeira Grande na década de
vinte do século XIX. 13 casais que podem ou não corresponder a treze moinhos (1
em cada moinho ou mais do que um?). Que certamente incluirá – apesar de não os
referir -, os moinhos da ribeira Funda (ou do Vaqueiro). Atenção, ainda que a
da Lomba da Maia surja individualizada da Maia, a Lomba da Maia só foi elevada
a freguesia (separando-se da Maia) em 1907.
[18] Serão os mesmos ou já serão outros?
[19] AMRG, Livro de licenças para moinhos 1880-1886, Livro 3,
Volume 115. (na área beneficiando de nascente ou do caudal da ribeira? Pelo que
vi, seriam de ribeira)
[20] Origem do nome
de Calhambazes? Foi-me dito assim: pedra miúda (Segundo Hermano Cordeiro,
António Pimentel); Soalheiro? O nome explica-se: que apanha sol; Nateiro?
Quando chove a terra fica coberta de uma espécie de nata que fertiliza a terra
(disse-me Guilherme Leite).
[21] AMRG, Livro de licenças para moinhos 1880-1886, Livro 3,
Volume 115. Informação do pai de Rogério Medeiros, 6 de Outubro de 2024.
[22] Observação
acompanhado por Vasco Pereira, 7 de Outubro de 2024. Mário Moura, Agosto de 1987 (retocado em Julho de 1988):
Em 1987 e em 1988, apenas por recolha oral sem estudo de campo, prosseguindo no
levantamento dos moinhos da Ribeira Grande (Concelho e Cidade), na área
propriamente da Viola foi-nos referido a existência de cinco moinhos nos
Calhambazes e de cinco na Viola; Almeida, Filipe Silva, Património molinológico: proposta para a preservação e reutilização de
um moinho, Universidade Fernando Pessoa, Porto, 2015, p. 49: Uma
investigação publicada em 2015, esta foi ao terreno, identifica ‘15 unidades dispostas mais ou menos abruptas
numa encosta próxima à praia da Viola.’ Ou seja mais cinco dos que me
informaram em 1987/88. Em 2024, excluindo os do Soalheiro, confirmei o número
de quinze moinhos. Se acrescentarmos os três ou quatro do Soalheiro, que ficam
uns quinhentos metros mais acima, mais acessíveis pela estrada que liga a Lomba
à Lombinha, serão dezoito ou dezanove. Testemunho de Vasco Pereira, 1 de
Outubro de 2024: De nascente para poente na baía da Viola: Vestígios de ter
havido um moinho na Rocha (abastecido pela ribeira do Salto?); seguem-se (de
nascente para poente) os cinco dos Calhambares; Soalheiro (3 ou quatro
moinhos); Frangainha (5 moinhos) e Chã da Viola (5 moinhos).’ Vou ver no local.
Só a arqueologia ou novos dados arquivísticos nos poderá tirar as dúvidas.
Observação acompanhado por Vasco Pereira, 7 de Outubro de 2024. Fora da Viola, confirmei os três ou
quatro do Soalheiro, que ficam uns quinhentos metros mais acima, mais
acessíveis pela estrada que liga a Lomba à Lombinha da Maia. : cinco dos
Calhambazes (reconstruídos); cinco da Viola (Frangainha) e cinco da Viola (Chá
da Viola)
[23] Boletim do
Trabalho Industrial, Mapa N.º 2, n.º 42, referente ao ano de 1909, Lisboa,
1911, Imprensa Nacional, p.15; Idem, Mapa N.º 2, n.º 59, referente a 1910,
Lisboa, 1911, Imprensa Nacional, p.15; Idem, Mapa N.º 2, n.º 76, referente a
1911, Lisboa, 1912, Imprensa Nacional, p.(?)
[24] Testemunho de
Guilherme Leite, 27 de Setembro de 2024: ‘Naqueles
tempos não muito distantes, considerava-se um homem rico o que tinha 2
alqueires de mato, 2 a 3 alqueires de pão (terra de milho) e uma burra. Vendia
um porco, galinhas, vinho, paus, 1 ou dois alqueires de milho.’
[25] O Vasco Pereira
continuar a usar o moinho mas só por curiosidade e para casa.
[26] Entrevista a Guilherme Carreiro Leite, 2.ª Sebenta, 5 de
Setembro de 1988.
[27] Nota de 18 de Outubro de 2024: Entrevista com David Pimentel Arruda, 18 de Outubro de 2024. Faz 89 anos no dia 9 de Novembro deste ano. Fazia os dois primeiros moinhos dos Calhambazes.
[28] Nota
acrescentada em 16 de Outubro de 2024. Testemunho de Maria Luísa Pereira
Ramalho, 16 de Outubro de 2024: ‘Actualmente, dos primeiros cinco moinhos da
Viola – quem vai da Maia para a Viola -, um ou dois pertencem aos Quentais, a
seguir, no grupo dos cinco seguintes, dois vendi ao Vasquinho (Vasco Pereira) –
herança de Joaquim Pereira de Morais -, os três seguintes – abaixo dos dois
agora do Vasquinho -, eram de Maria Irene Bento de Sousa – filha de José de
Melo Nunes, que herdara do marido. Era de Sebastião Bento de Sousa. Foram parar
por herança, dois ao Joaquim Pereira Morais (os dois que vendi) e os três
restantes a Maria Bento de Sousa. Tenho ideia de que hoje pertencem aos Barata.
Os cinco dos Calambazes pertenciam ao José da Ponte.’ Requerimento de Gil Gamboa, solicitador, ao
Chefe de Repartição de Finanças da Ribeira Grande, 17 de Agosto de 1973, a
pedir os artigos em que se acham inscritos os prédios que enumera. ‘2.º -
Artigo rústico 1612. Uma casa [na realidade duas casas], baixa, telhada, com dois
engenhos de moer cereais, à força de água, edificada em 10,44 ares (3 quartas),
de terreno, sita à chã dos moinhos da freguesia da Maia [Lomba da Maia desde
1907], que confronta Norte e Poente caminho dos Moinhos, Sul, António Correia e
Nascente António da Ponte Parente. (…) 25 974, a folhas 28 v., do Livro B-
67 (…) inscrito na Matriz Predial sob o artigo de 1612 (Urbano) e Matriz
Predial Rústica sob o artigo 646.’
[29] Testemunho de Paulo
Jorge Pacheco, 27 de Setembro de 2024: ‘Começando pelos moinhos dos
Calhambazes. A que distância fica o
primeiro moinho dos Calhambazes da sua nascente? A uns quinhentos metros. E o primeiro da Viola? Perto de 100
metros. O do Nateiro ficara a uns 200 metros.’ Testemunho de Vasco Pereira, 1
de Outubro de 2024: ‘Frangainha
[outros parecem incluí-los nos da Viola] (…) a nascente dista 32 a 40 metros do
primeiro destes moinhos.’ Vou ter de o confirmar um a um no terreno. Combinei
com Vasco lá irmos na próxima segunda-feira à tarde (dia 7 de Outubro de 2024).
E fui e corrigi: Observação acompanhado por Vasco Pereira, 7 de Outubro de
2024: ‘Levada da água para os Moinhos dos Calhambazes:
segue junto à margem poente da ribeira do Salto a c. de 100 metros do primeiro
moinho dos Calhambazes (4.410 – 4630 passos = 220 a 0,50 m = c. 110 metros).
Capta água de uma nascente. Não há sinais de captar da ribeira. Mais 30 a 40
metros à frente, beneficia de água de outros duas nascentes. Pelo que pude ver,
entra água de três nascentes. Cubo do primeiro moinho de cima: 6 a 7 metros.
Dos Calhambazes à Viola são c. de 400 metros. A mais ou menos 150 metros dos
Calhambazes, o caminho estreito que leva uns 500 metros mais acima (?) aos três
moinhos do Soalheiro (que vi por último e pelo lado da estrada. Dá a entender
que se serviriam por cima). Dos primeiros cinco moinhos dos Calhambazes a 400
metros os primeiros cinco moinhos da Viola (há quem os distinga por
Frangainha). São cinco também (somam já 10). São de uma nascente e do seu
acrescento (que é a sobra do último moinho do Soalheiro). No segundo moinhos a
contar do mar, que pertencem à família Quental, da Maia, vi uma cartela a
cimento (?) com a data 1869 (e mais qualquer coisa que não consegui
distinguir). Vi a nascente. O Vasco deu nomes a troços da praia: Canto da
Viola; Boca da ribeira; Frangainha (onde situam os dois moinhos do Vasco);
Labacinha; Penedo Rachado e Calhambazes. Moinho do Vasco Pereira: rodízio de
ferro = 1, 45 m. Cubo: c. de 7 metros. Diâmetro da pedra: 94,5 cm. Altura: 10
cm. A largura da vala é irregular. Pode ter mais ou menos 30 centímetros. O
fundo é de terra. As paredes de pedra. Os cinco da Viola também identificados
como os da chã da Viola (somando mais cinco aos dez anteriores = 15). O 2.º Moinho da Viola (chã da Viola) –
pertencente à mãe do Vasco Pereira, a nascente situa-se a uns meros 10 a 11
metros do primeiro moinho. Regressamos pelo trilho, chegamos aos Calhambazes,
subimos o caminho até ao centro da freguesia. Aí junto às margens (direita) da
ribeira do Salto, em Trás o Pico, avistei a ruína de um moinho de ribeira.
Voltamos à estrada e fomos ao Soalheiro. Aí vimos três ruínas de moinhos. Vimos
a vala da levada. A cerca de 100 metros o primeiro moinho do Soalheiro. Um
quilómetro até ao mar? Moinhos serviriam a freguesia e a Lombinha?’
[30] Visita e
inquérito, Mário Moura, 1 de Outubro de 2024: Fui à Viola e andei por ali. Medi
algumas coisas no 1.º moinho a contar da linha de água dos cinco actuais dos
Calhambares: pedra de baixo (não existe a de cima) = 1, 03 m; Altura do Cubo: 3
metros; Largura e comprimento: 90 X 80 cm. Do cabouco do moinho anterior a este
= 4 metros. Distância entre o moinho da Viola recuperado e os Moinhos dos
Calhambares (indo pela vereda) = 545 passos = c. 273 Metros; Testemunho de
Armindo Vitória, 28 de Setembro de 2024: ‘A
levada é estreita, feita de pedra e apanha a água na nascente. O moinho é fraco. A pedra tem 80 cm de
diâmetro, na Ribeira Grande tem 1,30. A altura da pedra é de 10 centímetros. O
cubo tem mais de 4 metros de altura mas é estreitinho e o rodízio tem uns 1,50m
de diâmetro. É como os nossos (Ribeira Grande).’
[31] Testemunho de Guilherme Leite, 26 de Setembro de 2024:
Que outras actividades havia por ali? ‘Ia-se
(podia-se ir) às lapas e aos caranguejos ao calhau. Ou pescar de cana.
Apanhava-se musgo para secar. Pouco gente ou nenhuma ia ali nadar. Era quase sempre calhau. Só de vez em quando
havia areia. Preferiam tomar banho num poço que fazia ali. No enterrar os ossos
da terça-feira da festa de Nossa Senhora do Rosário ia ali gente. E durante as
vindimas. Aquilo por ali estava cheio de vinhas, Alguns tinham até pequenas
casas.’
[32] São frequentados ao longo ano, mas mais no
Verão.
[33] Entrevista a
Alberto Ponte, 20 de Setembro de 2024
[34] Em 2019, através do Orçamento Participativo, a autarquia atribuiu uma verba ‘para beneficiação da Praia da Viola.’
[35] Testemunho de
Regina Maiato, 25 de Setembro de 2024
[36] Centro segundo
li ainda em 2024
[37] Nota de 13 de Dezembro de 2024, testemunho de Marco Medeiros: ‘Depois da Capital do Surf, no tempo da Nélia Branco, o Sérgio Aparício e eu seleccionámos e descrevemos aquelas cinco. Deixamos de propósito a das Calhetas – manter um secret spot.’
[38] Testemunho de Luís Melo, 8 de Abril de 2024
[39] ‘Uns meses mais tarde, a história dessa expedição vai ser convertida
num artigo na Surfer, escrito pelo Zachary Slodig e com as fotos sempre
impactantes do Ricardo Bravo. Mas a verdadeira história dessa expedição, o que
fica para a História, é a descoberta para o mundo dessa inusitada família de
três gerações de surfistas esquecida no Atlântico e o seu patriarca, o velho
avô Garoupa, que a Sachi Cunningham vai dar a conhecer ao mundo num
documentário intitulado Endless Ocean, tornando, assim, o até aí esquecido
surfista açoriano num dos mais falados surfistas dos Açores e, legitimamente,
num dos pais do surfing português.’
[40] Arruda, Pedro, O Mais Velho Surfista do Atlântico Uma
História do Surfing nos Açores (Setembro de 2024) Ainda não publicado
[41] Entusiasmado, Marco Medeiros
descobriria duas novas ondas gigantes na Costa Norte: uma na ponta dos Fenais
da Ajuda (Ribeira Grande) e outra no Concelho do Nordeste (Lombo Gordo).
[42] Testemunho de
Luís Melo, 8 de Abril de 2024. No lado Sul, ainda que
menos, também as há. No Estradinho, primeiramente surfada pelo José Seabra. E
mais duas até ao farol de Santa Clara. Mais à frente, diante da Moaçor.
[43] Fora-me
confidenciado ao telefone pelo André Avelar, hoje, dia 5 de Outubro, foi-me
confirmado pessoalmente pelo próprio: ‘será uma iniciativa da Câmara e da AASB.
Falta apenas que a autarquia avance com a verba prometida.’ Acrescentou, estão
convidados – ainda não confirmados -, Maia Gabeira, Sebastien Strudar – campeão
mundial -, Gabriel o Pensador; Nathan Florence, se não vier o João Macedo virá
Toni Laureano.’ Mas não divulgues isso ainda.
[44] Testemunho de
Marco Medeiros, 29 de Junho de 2024.
Comentários