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CAPITAL DO NORTE




Capital do Norte

Na primeira metade do século XIX, a elite da Ribeira Grande lançou mão a projectos que mudariam radicalmente a face da Ribeira Grande. O primeiro, na década de quarenta, faria do velho porto de Santa Iria um porto que a Norte (também) apoiasse o de Ponta Delgada no Sul.[1] Fazia sentido: estava-se em plena época da laranja e a construção da doca artificial em Ponta Delgada ainda não tivera início. Esse novo porto (desejado) ligaria a Ribeira Grande aos mercados atlânticos, promoveria o comércio inter-ilhas, a cabotagem e ofereceria novas condições aos pescadores da Ribeira Grande (da Vila e do seu Termo). Justificava-se o apoio à pesca, já que no início do século XIX, o panorama da pesca no Concelho dera sinais de mudança.[2] Em 1800, Rabo de Peixe contava com quarenta e cinco homens do mar, a Ribeira Grande com trinta e cinco (referentes ao centro e a Santa e Iria, certamente). Essa diferença, em 1813, aumentaria para trinta e dois.[3] O segundo projecto, na década de cinquenta, previa elevar a Vila a Cidade.[4]

Como seria isso possível? A implantação de um regime liberal parlamentar abriu-lhe portas. Num primeiro momento, o seu peso demográfico e poder económico foi-lhe favorável. Deu-lhe poder político: a Vila da Ribeira Grande posicionava-se logo atrás da Cidade de Ponta Delgada. Em 1856/7 publicavam-se (na Vila) os jornais A Estrela Oriental e A União: defensores do projecto de Santa Iria (e de tudo o que, incluindo ser Cidade, promovesse o seu progresso). Foi (pois) um deputado do seu círculo eleitoral, que conseguiu o financiamento do Governo Central. Em Setembro de 1857, já estava ‘em andamento as obras que devem segurar a subsistência às classes dos pescadoras nesta Vila, o abastecimento de peixe à mesma, a salvação em caso de aperto a todos os barcos desta costa, e mesmo qualquer embarcação, que se veja em perigo nestes mares, minorar as faltas de alimento a tantas famílias, cujos sustentáculos se vão ali empregar, e finalmente abrir um novo veículo de comércio de cabotagem tão cómodo e preciso à vista da dificuldade das estradas, e externo, que tanta economia de tempo, e vantagens deve trazer a esta Vila, e lugares de Leste, muito principalmente, quando os ventos sopram rijo do quadrante do sul. Estas considerações alimentam todos os ânimos; e na esperança de uma nova era, por ventura mais afortunada (...).[5]

Sem esperar pelo final da obra, a Ribeira Grande avançou: o primeiro embarque conhecido de laranja no Porto de Santa Iria deu-se no dia 25 de Janeiro de 1862.[6] O segundo, diz-se num jornal de 15 de Fevereiro, ‘já largou de Santa Iria o segundo navio com laranja.’[7] A edição do mês de Março do mesmo jornal informava: ‘já três navios que tem carregado em Santa Iria e o último parece que em boa monção saiu dali para Inglaterra.’[8] Porém, além do embaraço da obra por acabar, havia outro embaraço: as embarcações que vinham a Santa Iria tinham que ir (na ida ou na volta) declarar a carga a Ponta Delgada. Fez-se pressão e o problema resolveu-se em 1863: um ‘deputado pelo círculo do oriente obteve do ministério respectivo a criação dum posto fiscal no porto de Santa Iria.’[9] Em Outubro de 1865, o novo Posto da Alfândega registou as primeiras importações e, em Outubro do ano seguinte, as primeiras exportações. A vida daquele porto decorria (aparentemente) com (alguma) normalidade até Julho de 1870, data a partir da qual deixam de ser registados quaisquer movimentos comerciais. Como o explicar? O projecto do porto (molhes, rampa, acessos incluídos) ficou inacabado devido (há provas disso) a opções de obra erradas que levaram ao esgotamento da verba votada. Um reforço pedido, nunca chegaria. Porquê? É certo que decorriam (ou estavam previstas) obras envolvendo a construção de molhes (e não só) ao redor de São Miguel e em Santa Maria. Mas não foi nem terá sido essa a única razão ou a principal razão, já que o porto de Ponta Delgada também conheceu (inúmeras) opções erradas, e, no entanto, nem por isso deixou de conseguir novos (e substanciais) reforços. Outro indício: tendo o molhe de Santa Iria sido (gravemente) danificado em 1870, o pedido (várias vezes repetido) de apoio para o reparar, encontrou orelhas moucas.[10] Quando, perante um pedido semelhante (destruição de uma considerável extensão do molhe), Ponta Delgada foi atendida. Dualidade de critérios, a balança do poder na Ilha pendia para quem mandava na Ilha: Ponta Delgada?

Para desilusão da elite, Santa Iria foi obrigada a suspender a actividade comercial, restando-lhe a pesca. Mesmo essa, condenada a operar em condições precárias.[11] Como explicar que entre o primeiro registo das primeiras exportações em 1862 e o primeiro registo de imposto sobre o pescado e do lucro dos pescadores em 1868, tenham decorrido seis anos? Poderá isso traduzir alguma forma de oposição dos pescadores da Ribeira Grande (do centro e do Lugar da Ribeirinha)? Se nunca haviam pago impostos, porque haveriam de o fazer dali para a frente? Obrigar os pescadores do centro da Vila a ir de barco a remos a Santa Iria declarar o peixe que apanhavam, significava acabar com os barcos da Ribeira Grande (centro)?[12] Daí também a resistência?

O que se conhece dos pescadores do centro da Ribeira Grande?[13] Em 1862, no rol Quaresmal desse ano, é possível identificar (directa ou indirectamente) vinte e seis pescadores, dois marítimos e dois peixeiros.[14] Vivem na cintura litoral/ribeirinha: ribeira, baía (com Monte Verde em destaque). O núcleo duro, catorze, tem as suas habitações na travessa da rua das Espigas (que pode já corresponder à Vila Nova/Curral) e dois na rua das Espigas (actual rua de East Providence). Na do Castelo mora um pescador e um marítimo. Defronte da ermida de Santo André e na sua travessa, há um pescador, um marítimo e um peixeiro. Na da Praia, um peixeiro. Na Cova do Milho (com ligação ao Curral/Espigas pela ribeira, hoje Parque Infantil) três pescadores. Fora desta (muito pobre) cintura litoral, residem cinco homens do mar, dois pescadores na rua das Pedras e três na rua Estêvão Alves.[15] As idades variam entre os doze (apenas um indivíduo) e os sessenta anos (três). A maioria situa-se entre os trinta (oito), quarenta (oito) e cinquenta anos (cinco) vinte e um.[16] 

E no Concelho?[17] Entre 1813 e 1870, aumenta a distância entre Rabo de Peixe e a Ribeira Grande. Em 1870, Rabo de Peixe tem vinte barcos.[18] Do ponto de vista do centro da Vila, a situação era grave. Ainda que tivesse caído por terra a ambição de um porto a sério no porto de Santa Iria, a ambição não morre, apenas transfere-se de Santa Iria para o centro da Ribeira Grande. Em 1875, o jornal A Persuasão dava a notícia: Varadouro/ O Sr. engenheiro Miguel Henriques projecta fazer um varadouro no poço denominado - do Castelo [Forte de Nossa Senhora da Estrela] - da Ribeira Grande. '[19] A Câmara (segundo ela própria afirma) pugnava ‘pelo aumento e prosperidade do concelho.'[20] O número de pescadores do centro da Ribeira Grande aumentara de 1862 a 1875 (não se sabe quantos pescavam no centro e quantos em Santa Iria): dos 26 pescadores e dois marítimos de 1862, em 1875, passam para 52 pescadores. Continua o predomínio da cintura litoral/ribeirinha, destacando-se (sobremaneira) com vinte e três pescadores a Vila Nova conhecida por bairro do Curral.[21] Além do mais, perto de 1875, já haveria zunzuns acerca de um novo projecto para Santo Iria: a pesca à baleia. Perante isso, não estaria na altura de reivindicar um varadouro para o centro da Vila? Construindo-se um ali, não levaria (no mínimo) à criação no centro de uma delegação do posto fiscal? Satisfaria os pescadores do centro e levaria outros que ainda não eram a dedicarem-se à pesca. Além do mais, Santa Iria estava praticamente abandonada. Por melhor que fosse a ideia, a ideia não passou das intenções. Talvez porque envolvesse avultada verba, talvez porque o porto artificial de Ponta Delgada continuasse a sorver dinheiros, talvez por outras prioridades do Distrito, seja por isso ou por outras razões, o certo é que a ideia foi chão que não deu uvas. No entanto, convém não esquecer que em 1875 (ou à volta desse ano) a ponte da Praça da Ribeira Grande estava a ser ampliada. Ainda assim, mais uma decepção.

E no Concelho? Um autor, para 1893, atribui ao Concelho um total de ‘58 barcos e 227 pescadores:’ seis barcos e vinte e seis pescadores na Maia, três barcos e nove pescadores nas Calhetas e 28 barcos e 92 pescadores matriculados em Rabo de Peixe. [22] Os restantes ‘23 barcos e 100 pescadores distribuíam-se entre Santa Iria, Porto Formoso e Fenais da Ajuda.’ O destaque continuava a pertencer a Rabo de Peixe.[23] Residem, os pescadores de Rabo de Peixe, (sem excepção) numa área situada da rua da Ribeira Grande para baixo (da praça para baixo: a zona primitiva do Caranguejo). Sendo as ruas com maior concentração de pescadores, a do Farias [hoje, rua do Porto], com quarenta e nove pescadores e um peixeiro, e a da Cruz com quarenta e um pescadores e cinco peixeiros. Na do Pires (rua entalada entre as duas anteriores): vinte e três pescadores. As duas com menos pescadores, a uma considerável distância das três primeiras, são a dos Leitões (actual rua Dr. Rui Galvão de Carvalho) com sete pescadores e um peixeiro e a do Barradas (hoje Largo Padre António Vieira) com quatro pescadores. A respeito dos que iam vender peixe, contei quinze peixeiros e dois vendilhões. Fora da área dos pescadores, na rua do Rosário, na maioria, habitada por camponeses, e em menor número, pela mestrança da terra e um ou outro proprietário, reside um peixeiro e seis na rua de São Sebastião.[24]

Apesar da desilusão de 1875, a ambição de ter um porto no centro da Ribeira Grande não esmorece. Entre 1875 e 1893, o número de homens do mar diminuiu: em 1875 havia cinquenta e dois, em 1893 passa a haver vinte e oito marítimos e um pescador. E o número de vendedores de peixe passou de zero peixeiros para vinte e oito peixeiros.[25] Parte dos homens do mar, alteração importante, prefere vender o peixe a pescá-lo. Talvez para tentar contrariar essa tendência, a Câmara tenha proposto a construção de um varadouro na praia (Monte Verde). O Cónego Cristiano de Jesus Borges informa-nos disso no seu jornal O Norte: construir ‘um varadouro na praia desta Vila.’ Como argumento a favor da ideia, adiantava ser desnecessário ‘demonstrar a importância desta obra, conhecendo-se os grandes serviços que virá a prestar à Ribeira Grande.’[26] Como nada fosse feito, quatro anos mais tarde, aproveitando a visita Régia, o Cónego voltava à carga: ‘(…) A Vila da Ribeira Grande, a qual só poderá queixar-se da falta de um porto abrigado; pois que, se o possuísse, era ela que estava destinada de há muito a ser a capital da Ilha de São Miguel.’[27] Apesar da força, a ideia (mais uma) ficou algures pelo caminho.

Balanço possível. A Ribeira Grande foi Cidade 129 anos depois. O projecto do porto, após algum sucesso inicial, falhou. Novas tentativas, desta vez concentradas na área da Baía da Ribeira Grande (Castelo/Monte Verde), mesmo perseguindo objectivos bem modestos, também falharam. Ainda assim, ganhou dois excelentes prémios de consolação: na década de oitenta, construiu-se o fabuloso (e único) complexo de mercados e, na seguinte, a soberba ponte dos oito arcos.

Curral (ex), Cidade da Ribeira Grande



[1] Câmara dos Senhores Deputados da Nação, 15 de Julho de 1856: ‘Para construir no porto de Santa Iria um porto de abrigo, que sirva para a comunicação dos vapores com a terra, o que de outra forma não poderão fazer, em ocasiões de temporal, em quanto se não construir a doca em Ponta Delgada.’

[2] O número de pescadores de Rabo de Peixe (então) ultrapassara (ainda que por pouco) os da Ribeira Grande (Santa Iria e Centro?). Ultrapassava em muito os dos outros portos do Norte (tomando em consideração os do Concelho). Quanto ao número de pescadores, Rabo de Peixe ocupava o centro da faina piscatória do Concelho (ainda sem o seu lado Nascente a partir do Porto Formoso). O engenheiro militar Francisco Borges da Silva, havendo, em 1813-14, percorrido, em estudo a ilha.

[3] Silva, Francisco Borges da, Notas e Estatísticas da Ilha de S. Miguel, Revista Micaelense, Novembro de 1919, pp. 485, 487. Assim, enquanto Rabo de Peixe aumentara para sessenta e quatro, a Ribeira Grande diminuíra para trinta e dois. Silva, Francisco Borges da, Notas e Estatísticas da Ilha de S. Miguel, Revista Micaelense, Setembro de 1919, p. 380. O número desigual de pescadores, leva-nos a retirar uma conclusão: cavara-se um fosso entre as várias comunidades piscatórias do Norte. Fosso que (apesar dos esforços do centro) se iria aprofundar (muito mais) ao longo dos dois séculos seguintes. No entanto, se se comparasse o número de homens do mar (de todas as comunidades referidas) ao número dos homens da terra, ver-se-ia que a preponderância dos segundos era avassaladora. O que terá levado a essa primazia de Rabo de Peixe? Terá sido o aumento demográfico da população da beira-mar? Aumentou só em Rabo de Peixe? O aumento das exportações da laranja (as melhores quintas do Concelho situavam-se em Rabo de Peixe) deu emprego só aos Homens da Terra? Os Homens do Mar de Rabo de Peixe apertados sobre os calhaus da beira-mar) não possuíam terra. A sua terra era o mar e o calhau. Houve oportunidade para vender peixe aos da terra e aos das terras circunvizinhas. E no centro da Ribeira Grande? Preferiram ser vendilhões? Eram também agricultores? E no Porto Formoso e na Maia (que na década de vinte (do século XIX) entrariam no Concelho)? E nos Fenais da Ajuda? Eram pescadores e agricultores. Porto Formoso e Maia integram o Concelho a partir de 1820. Os Fenais entram mais tarde. A Maia quinze, o Porto Formoso 6-7 e os Fenais da Ajuda, 6/3.

[4] Já dediquei catorze artigos no Correio dos Açores em 2020, pelo que me dispenso de voltar de novo ao tema.

[5] A União, Ribeira Grande, n.º 5, 19 de Março de 1857.

[6] Supico, Francisco Maria, Escavações, Volume II, ICPD, 1995, p. 703.                                

[7] Açoriano Oriental, Ponta Delgada, 15 Fevereiro de 1862.

[8] Açoriano Oriental, Ponta Delgada, 1 de Março de 1862. A primeira embarcação a dar entrada no Porto de Santa Iria registada no Livro competente, porém, ocorre a 10 de Novembro de 1863.

[9] Açoriano Oriental, Ponta Delgada, 14 de Fevereiro de 1863.

[10] Persuasão, Quarta-feira, 22 de Janeiro de 1868, p. 3 : ‘Porto de Santa Iria danificado a precisar de obras urgentes. Porto imprescindível para a Ribeira Grande. Supico recomenda a atenção do Director de Obras públicas e do deputado do Círculo da Ribeira Grande.’

[11] O único livro de que dispomos do Posto alfandegário (que coincide com o início de actividade daquele posto alfandegário, no entanto, teria havido, pelo menos, um segundo, já que o posto encerrou em 1978) procede ao registo do imposto sobre o pescado e o lucro dos pescadores até ao mês de Junho de 1875.

[12] Em última instância, não seria aconselhável optar por um esquema semelhante ao existente entre o porto de Rabo de Peixe e o das Calhetas? Mais um pormenor: apesar de a Ribeirinha ser ainda Lugar da Vila (seria só freguesia em 1948 e a paróquia em 1956) havia já (nota-se) sinais claros de um certo distanciamento identitário entre a Via e o seu Lugar.

[13] Além dos do Lugar da Ribeirinha, os quais, por não ter acesso às fontes, não consigo identificar. Os róis do Curato do Santíssimo Salvador do Mundo, dependente da Matriz de Nossa Senhora da Estrela até 1956, estão empacotados. Devido a obras urgentes na igreja.

[14] Nos róis, os nomes não estão completos e as idades atribuídas são aproximadas.

[15] Manuel Vital, de 44 anos, e Manuel, um filho de 24, residentes na Rua das Pedras [Rua de Sousa e Silva] e de Manuel Jacinto Janeiro, de 53 anos e os filhos António de 25 e José de 24, moradores na rua Estêvão Alves.

[16] Sobretudo na rua e travessa das Espigas [actual rua East Providence]: Manuel de Melo, 57 anos; Francisco da Rosa Maia, de 65 anos, na rua das Espigas; Patrício da Silva, 50 anos, e o filho António de 17; José da Silva, 40 anos; Manuel Ferreira, de 40 anos e o filho Manuel de 16; Manuel Correia, 39 anos; Mariano de Amaral, 32 anos, o filho Caetano de 12; José Carreiro, 48; Manuel da Silva Lapinha, 47 anos; José Correia Janeiro, 60 anos; João Correia Janeiro (filho?), 43 anos, e Joaquim Cordeiro, de 55 anos. Na Cova do Milho: António de Oliveira, 34 anos; Francisco de Oliveira, 36; e Inácio de Sousa batalha, 30. Na rua da Praia, Francisco Vieira, peixeiro de 37 anos. Na rua do Castelo, Custódio José, pescador de 40 anos e António de Melo Sousa, marítimo de 60 anos. Defronte da ermida, Miguel Francisco, 60 anos; na Travessa, Manuel Pacheco Aresta, peixeiro de 37 anos e José Janeiro, marítimo de 48 anos.

[17] A partir de 1820, já fazem parte Porto Formoso e Maia.

[18] PT/BPARPD/ACD/ALFPDL/00017, Mapas do movimento portuário. Relação dos barcos de pesca de Rabo de Peixe e Calhetas1870/1879, localização física: 4/1262 Dep. 1, 88/1; Teria (por certo) já mais do que os 64 pescadores de 1813. Por exemplo, mesmo que fossem quatro pescadores por barco, em 20 barcos haverá 80 pescadores.[18] O censo populacional de 1864 atribui 3727 pessoas a Rabo de Peixe. O de 1878, atribui 4.140 habitantes.[18] Conforme Arquivo Histórico da Junta Geral do Distrito de Ponta Delgada. No arquivo da Secretaria de Obras Públicas Regional (tem outro nome): Pede-se obras à Junta Geral do Distrito. O ‘varadouro de pedra bravia,’ e ao seu redor, pelo que se pode depreender, terá conhecido em 1868, 1879 e 1882 alguma intervenção. Persuasão, Ponta Delgada, 4 de Setembro de 1878, p. ? PT/BPARPD/ACD/ALFPDL/00017, Mapas do movimento portuário. Relação dos barcos de pesca de Rabo de Peixe e Calhetas1870/1879, localização física: 4/1262 Dep. 1, 88/1 Os barcos, os donos e os mestres (arrais) tinham nomes: ‘Bom Jesus, n.º 90 – Dono, José Rebelo, Arral: o mesmo José Rebelo; Santo Cristo, n.º 91, Dono Francisco Rebelo, arral – José Vieira; Santo Cristo, n.º 92, Dono, Francisco Rebelo, Arral, José Jacinto Ganhadeiro; São João, n.º 93, Dono, Victorino Cabral, Arral, o mesmo Victorino Cabral; Santo Cristo, n.º 94, Dono, Victorino Cabral, Arral, Manuel Cabral; Santo Cristo, n.º 95, Dono, Manuel Jacinto, Arral, o mesmo; Espírito Santo, n.º 97, Dono, António Carreiro, Arral, o mesmo; Bom Jesus, n.º 98, Dono, José Cabral, Arral, António Vieira; Santo Cristo, n.º 99, Dono, Manuel Gonçalves Terceira, Arral, Inácio Gonçalves Terceira; Santo Cristo, n.º 100, Dono, Manuel Cabral, Arral, o mesmo Cabral; Boa Esperança, n.º 102, Dono, Veríssimo Cabral, Arral, José Cabral; Santo António, n.º 103, Dono, José Vieira, o mesmo; São Joaquim, n.º 105, Dono, Manuel da Estrela, Arral, o mesmo; São Pedro Gonçalves, n.º 106, Dono, Victorino Bernardo, Arral, o mesmo; Santo Cristo, n.º 107, Dono, José da Costa Ganhadeiro, o mesmo; Santo Cristo, n.º 156, Dono, Manuel Cabral, Arral, o mesmo; Boa Viagem, n.º 243, Dono, Victorino Cabral, Arral, o mesmo; São José, n.º 259, Dono, Veríssimo Vieira, Arral, o mesmo; São Bento, n.º (não tem), Dono, Manuel Cabral, Arral, o mesmo; Felicidade, n.º (não tem), Jacinto (…) Rebelo, o mesmo.’ E Bernardino de Sousa era o Guarda-Fiscal que tutelava também os três barcos das Calhetas. Para fazer andar as obras, em 1878, o candidato ‘Frederico Carlos da Silveira Estrela (…),’ no caso de ser eleito, comprometia-se a alcançar ‘os meios precisos para o acabamento do varadouro de barcos (…).’ Não deu em nada, Frederico perdeu a eleição para Rudolfo Hintze Ribeiro.

[19] A Persuasão, Ponta Delgada, 22 de Setembro de 1875: ‘Varadouro/ O Sr. engenheiro Miguel Henriques projecta fazer um varadouro no poço denominado - do Castelo - da Ribeira Grande. A Câmara consignou na acta de sua sessão um voto de agradecimento ao mesmo sr. engenheiro, pelo interesse que toma pelo aumento e prosperidade do concelho.'

[20] A Persuasão, Ponta Delgada, 22 de Setembro de 1875: ‘Varadouro/ O Sr. engenheiro Miguel Henriques projecta fazer um varadouro no poço denominado - do Castelo - da Ribeira Grande. A Câmara consignou na acta de sua sessão um voto de agradecimento ao mesmo sr. engenheiro, pelo interesse que toma pelo aumento e prosperidade do concelho.'

[21] O bairro piscatória da Ribeira Grande que chegaria à década de sessenta do século XX. Que é a parte final da rua das Espigas (com travessa), tem dez pescadores. Mantem-se (atenção muitos destes nomes eram conhecidos por apelidos) as famílias Vital, Maia, Janeiro, Carreiro, surgem, porém, nomes novos, tais como: Peixinho; Rita; Castanha; Valério; Anastácio; Correia. As idades variam entre os 76 anos, 74, 67 e os quarentas trintas até 12 anos.

[22] Almeida, Gabriel de, Dicionário Histórico-geográfico, 1893. È possível que além dos 92 pescadores houvesse mais outros (não matriculados). De outro modo, seriam menos de 3 por barco.

[23] Contei filhos e parentes de pescadores a partir dos 12 anos. Enquanto Os Róis Quaresmais daquele ano de Rabo de Peixe, não distinguindo entre matriculados ou não, dão-nos um número superior de pescadores: aproximando-se de cento e vinte e quatro (potenciais pescadores).

[24] Róis Quaresmais do Senhor Bom Jesus, Rabo de Peixe, 1893. Arquivo Histórico das Obras Públicas da Junta Geral do Distrito Autónomo de Ponta Delgada. No arquivo da Secretaria Regional das Obras Públicas (tem outro nome). Houve, além do mais, ‘um outro projecto elaborado em 1904 que previa a ampliação do chamado varadouro e da própria rampa. Em 1915, surge o projeto de ampliação da muralha marítima e construção de um muro de revestimento no porto de pesca (…) executado pela antiga Junta Geral do Distrito de Ponta Delgada, Direção de Obras Públicas. Arquivo Histórico das Obras Públicas da Junta Geral do Distrito Autónomo de Ponta Delgada. No arquivo da Secretaria Regional das Obras Públicas (tem outro nome). Há (na área) uma outra intervenção em 1897, justificada pelo ‘mau tempo que se fez sentir em Janeiro daquele mesmo ano.’’

[25] A maioria da gente ligada à pesca ou à venda, continua a morar na maioria no litoral centro. É na rua das Espigas residem treze marítimos. E no centro litoral, outros três: Vila Nova (Curral) (2 e Praça (1). Já fora do centro litoral, talvez indicando a troca da Praia (Monte Verde) por Santa Iria, doze marítimos: Rosário (1); Rego (1); Pedras (3); Estêvão Alves (6) e Canissa (1). Os 28 peixeiros distribuem-se por toda a Ribeira Grande, todavia, a maior parte (22 peixeiros e dois vendilhões) reside no litoral centro: Vila Nova (Curral) e Rua do Saco encabeçam com 5 cada uma; seguem-se-lhe Espigas com 4. Vendem o que se pesca nos barcos varados na praia (Monte Verde)? Ou nas rochas da beira-mar dali perto? É possível que isso acontece em parte sim. Fora do centro litoral, encontram-se espalhados (alguns na mesma rua de marítimos): Pedras (1); Estêvão Alves (1); João da Horta (1); Matadouro (1); Botelho (1). Assinale-se que nenhum destes homens do mar, residem na rua dos ‘senhores’: a rua Direita. De onde vem o peixe que vendem? De Santa Iria mas não só. Suponho.

[26] O Norte, Ribeira Grande, 18 de Abril de 1896, p. 2.

[27] Borges, Cónego Cristiano de Jesus, A Vila da Ribeira Grande, in Álbum Açoreano, 1903, p. 135. Aproveitou uma publicação, no âmbito da visita régia de D. Carlos.


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