Avançar para o conteúdo principal

O que foi aquilo ali em baixo no Paraíso?






O que foi aquilo ali em baixo no Paraíso?


A Cova do Milho. Um bairro de casas velhas. Cheio delas. Pouco ou nada conhecia daquilo ali em baixo com casas por isso quis saber como era aquilo com casas. E com gente. Antes de ir à História dura e pura daquele sítio, quis conhecer a História dali como a contam alguns dos seus últimos moradores. Vai daí e falei com José da Silva. Vai daí e falei com o Carlos Santos. O Carlinhos Buraca (leia-se Biraca). Dois ‘pequenos’ para cima dos sessenta e alguns tremoços. Jogámos juntos à bola no nosso Ideal. Fomos a equipa que, a partir do mês de Dezembro não perdeu um jogo e ganhou tudo o que havia a ganhar.[1] Como prémio e engodo para a época seguinte fomos jogar à bola à América e ao Canadá.[2] Até 12 de Março, Mestre Gil jogou connosco. Nesse jogo, despediu-se. Ia tirar Educação Física ao Canadá.[3] Se vos disser que Mestre Gil é o Professor Doutor José Carlos Teixeira, e que, afinal, acabou por tirar Geografia, não vão acreditar à primeira.[4] Nem tão-pouco que o Roberto da Maia é o Roberto Rodrigues, o que tirou Direito, enquanto dava aulas. Hoje autor de obra publicada. O guardião das memórias da sua Maia.[5] E o João Correia (aliás, João Moniz da Silva) que, enquanto dava aulas de Educação Física, tirava Direito e jogava connosco? Se disser que o José Garanha das novelas da RTP/Açores, é o Luís Simas, o nosso grande goleador, também não vão acreditar. E que o Pedrinho (Pedro Cordeiro) só por um triz não jogou na I Divisão Nacional? E que eu próprio tenha jogado nessa equipa?[6] Nos estágios, enquanto a maioria se divertia nas cartas, eu ‘marrava’ para as frequências de História da Universidade dos Açores.[7] A intensa alegria que vivi ao ganharmos três troféus nessa época de 1977/78, não ficou atrás da que senti ao tirar a Licenciatura, o Mestrado e o Doutoramento.[8] De certa maneira, até foi maior. Era a festa de uma terra inteira. Até mais. Para quatro de nós, foi o fazer as pazes com a terra. Em certos campos apontavam-nos o dedo. Mandavam-nos bocas. Eram os comunistas.[9] Não vou tapar o sol com uma peneira: vivia-se tempos de confronto (aberto ou surdo) com os FLAS. Amigos contra amigos. Irmãos contra irmãos. Tempos de perseguição. Horrível. Nunca mais. Até muitos ‘tarraços,’ os rivais do Águia, entraram na festa. A festa conheceu três Sábados. Sábado 21 de Maio, festejou-se o Torneio da Primavera; Sábado 3 de Junho, festejou-se o campeonato; Sábado 29 de Julho, festejou-se a Taça de São Miguel. A festa de 29 de Julho foi a mais rija das três, pois ganháramos ao Clube Desportivo Santa Clara.[10] Ninguém chamou a polícia. Apesar do alarido que fizemos. Coincidiu com a festa da Conceição. Onde nasci. Na segunda-feira, apanhámos o avião para Boston. O José e o Carlinhos eram ‘barras’ à baliza. Fora do campo, pelavam-se por pregar partidas. De piadas. Dentro do campo, nada disso. Não havia brincadeiras. Grande equipa.[11] Isso foi tudo em 1977/78. A Cova do Milho, por aquilo que lhes ia ouvindo da boca deles, fora um dos ‘grandes’ viveiros do Ideal. O António Buraca, tio do Carlinhos, foi guarda-redes do Ideal Novo desde a década de quarenta até quase finais da de cinquenta. O Olivério Buraca, pai do Carlinhos, foi defesa do Ideal até morrer.[12] Ao contrário da rocha – o Curral -, um todo nada à frente, aí para a banda do mar, onde eram quase todos vermelhos do Águia, a Cova do Milho era quase toda verde do Ideal. Pondo fim a esta arenga inicial para aquecer, vou às Histórias que os dois me foram contando.

O José da Silva Cagão (ficava ruim que nem uma barata quando o tratavam assim) nasceu ali em baixo na Cova do Milho em Janeiro de 1952. O pai era peixeiro. Ia de cestos às costas a pé à Lagoa. A Rabo de Peixe. Onde houvesse peixe lá ia ele. Depois vendia o peixe pelas ruas da Ribeira Grande. José tem um irmão acima dele, o Fernando. Que fez o Ultramar e lá deixou uma perna. Num acidente estúpido numa Unimog. Distraído. Na brincadeira. A perna ficou entalada entre dois Unimogs. Na Guiné? Em Angola? Deram-lhe o apelido de Dragão. E um irmão mais novo. Não me lembro do nome dele. Fernando e este irmão mais novo foram durante anos contínuos do Ideal.[13] José está reformado de uma loja de Ferragens. A casa onde nasceu ficava quase em cima, do lado direito de quem sobe, antes de chegar ao torreão actual. Havia casas por ali abaixo. Brincavam descalços à bola e ao pião naquele outeiro. De terra. Com covas. E pedras. Havia por ali uma figueira e eles atiravam-lhe pedras para fazer cair os figos. Havia fome. Tomavam banho na ribeira e no poço da Helena.[14] Depois dessa primeira casa, como a casa estivesse a cair aos bocados, a família foi morar para uma outra casa perto do moinho junto à ponte Grande (a dos Oito Arcos). A casa tinha um quintalinho voltado para a ribeira. A seguir a essa casa, foram morar de renda para a casa por cima da loja do Sr. Pontes. Na Praça. Isso quando a Câmara estava a acabar com as casas dali. Depois dali, para uma casa na rua da Praia. José mora ainda hoje por ali perto na travessa da rua da Praça.[15]

Carlinhos Buraca nasceu também na Cova do Milho. Nasceu no dia 1 de Outubro de 1957 na casa da avó Dilia da Conceição China e do avô Manuel dos Santos Buraca. A parteira foi a mulher do Cebola barbeiro. É o mais velho de três irmãos. O irmão a seguir a ele, que também nasceu na Cova do Milho, e também jogou no Ideal, a central, é o Fernando, aqui conhecido por Fernandinho Buraca, que é três a quatro anos mais novo do que Carlinhos. Vive em Toronto. Canadá. A irmã já não nasceu ali. Vive na Ribeira Grande. Na Matriz. O apelido Buraca vem do lado do avô Manuel porque a avó era dos China.[16] A casa da avó Dília era a terceira a contar das antigas escadas (que substituíram o antigo outeiro de terra batida) que desciam do Teatro à Cova do Milho. A primeira era a casa do João Luciano, ficava mesmo defronte de uma fonte de água, a seguir, era a da avó Dília. Era uma casa muito pequenina. De pedra solta. Um quarto e uma cozinha. De chão de terra batida. Coziam pão no forno. Até se secava roupa à boca do forno. Tinha uma lâmpada eléctrica fraquinha que o Morgado (Estrela Rego) pusera. De resto, era o candeeiro a petróleo. As necessidades eram lá para fora. Na estrumeira. Num quintalinho pequeno que dava para a ribeira. Defronte da Dília morava uma mulher que fazia cordas e capacheiras. Saiu de lá antes da avó. Foi morar para os lados do Bandejo.[17]

Olivério Santos, o pai do Carlinhos, o Olivério ‘Buraca,’ tinha trinta e três anos quando morreu no dia 9 de Setembro de 1962.[18] Trabalhava à quinzena para a Câmara. Na altura, partia pedra na ribeira junto ao moinho da ponte grande (Oito Arcos). A Câmara estava a construir os alicerces da obra do Paraíso Infantil. Viera a casa comer. Deu-lhe um enfarte. E morreu. Deixou a mulher grávida da Nivéria. Se tivesse nascido rapaz, seria Olivério. A esposa de Olivério, Alcida da Costa Correia, era filha do galocheiro Manuel Pedro de Santa Luzia – Rua Estêvão Alves. É irmã de Manuel Pedro. Há uma diferença de dez anos entre eles. Manuel jogou no Ideal. Nunca vi ninguém cabecear como ele. Cem, duzentos, trezentos, e não parava, contra a parede da sala do ‘Quino’ no clube da rua Direita (Rua El-rei D. Carlos I). A bola não caía. Jogador fino. Foi carcereiro da Câmara antes de embarcar para a América. Antes disso, fora caiador da Câmara. Depois de terem morado em casa da tia Noémia, mulher do tio António Buraca, Alcida comprou uma casa na rua Vigário Matias. A casa número 36. Viveu viúva e faleceu em 2010, 47 anos depois de Olivério.

O Tio António Buraca, irmão de Olivério, diz que nasceu na primeira oitava do Natal do ano de 1919. O Governo diz que nasceu a 3 de Janeiro de 1920. Era analfabeto, fugia à escola com o Edmundo ‘Garrida’ para ir jogar à bola e tomar banho para a Areia (Monte Verde). Era uma maneira de não ir ao mato à lenha. Foi lenhador, batedor de calçada e cabouqueiro. Trabalhou na calçada da estrada da Lagoa do Fogo. Teve o seu maior desgosto em 1956. Estava-se a organizar o Futebol Clube da Ribeira Grande (junção do Ideal e do Águia, que nunca devia ter acabado). Como era analfabeto, não pôde ser inscrito. E não jogou. O desgosto foi tal que jurou a si próprio não voltar a pôr os pés no campo da bola. Jogara no Campo das Reses e mais o irmão inaugurara contra o Águia em Junho de 1952 o Campo Novo. Foi promessa de político. Cedo voltou ao campo. Estava sempre lá caído. O seu poiso favorito no campo era atrás das redes junto à entrada principal do campo. Não dizia palavra. Só olhava. Olhos brilhando de alegria. Olhos baços de tristeza. De resto, parado. Uma estátua. Sempre de cigarro de mortalha no canto da boca. Morreu a 6 de Setembro de 2007, aos 87 anos. Noémia, que era Dias Branco, da Ribeira Seca, faleceu a 1 de Julho de 2016. Com 92 anos. O irmão Olivério jogou no Ideal e no Ribeira Grande. E quando esteve na tropa jogou em Ponta Delgada no Clube União Micaelense.[19]

António Buraca teve de Noémia, que era da Ribeira Seca, a Beatriz, a Dília (está no Canadá), a Espírito Santo, o Humberto (por essa ordem) e o Ricardo que mora na Ribeirinha (muito mais novo do que os irmãos). Beatriz, a mais velha dos irmãos de António e de Olivério, casou nova, casou com o Ernesto Ambrósio. Foram ainda sem filhos de barco para a América. Para Plymouth. António dos Santos Buraca era dez anos mais velho do que o irmão Olivério. E nove anos mais novo do que a irmã Beatriz. Beatriz morreu com mais de 90 anos em Plymouth. Escrevia à família mas desde que saiu da Ribeira Grande nunca mais voltou à Ribeira Grande. Quando o sobrinho Carlinhos foi com o Ideal à América, no verão de 1978, o José Morgado, irmão do cunhado Duarte Morgado (casado com Nivéria), chegou a ir com ele a Plymouth à procura da tia. Com grande desgosto, não a encontrou. Nem notícias dela. Há coisa de uns cinco anos, Carlinhos foi surpreendido pela visita à Ribeira Grande de umas filhas da tia. Já tinham mais de 70 anos.

Carlinhos havia de ter, diz-me, para aí uns quatro para cinco anos quando se mudou lá para cima. Quer dizer para a rua do Saco. Quer dizer para a rua António Augusto da Mota Moniz. Nome do Presidente que transformou a Cova do Milho em Parque Infantil. Melhor: Paraíso Infantil. A avó foi a última a sair da Cova do Milho. De primeiro, ainda morou numa garagem que pertencia ao genro Ernesto Brasídio. Depois, comprou uma casa na rua do Saco com um quintal que quase chegava ao moinho junto à ponte dos Oito Arcos. Na rua do Saco, ao lado da casa dela era a casa da Filomena. Ao lado da Filomena era a da Noémia. A nora. Quem não tinha quintal era o Arrenegado.[20] E o pai do Eduardo Carvoeiro. O maior era o do polícia Baptista (pai de Abílio e de Liberal Baptista). Ia mesmo quase à ribeira. Os quintais de jeito, os maiores da Cova do Milho pertenciam às casas da rua do Saco. Havia lá milho. Pouco, mas havia. Batata. Couves. Dília cegou aos 82 anos. Foi então morar com a nora Noémia. Morreu aos 92 anos, no dia 14 de Maio de 1985. O marido falecera dez anos antes, com 78 anos, a 15 de Abril de 1965. Dois anos depois do filho Olivério. 

O avô, Manuel dos Santos, era vinhateiro do Senhor Morgado. Havia sido antes peixeiro. A Dília era uma mulher pequenina. Era a Presidente da Junta da Cova do Milho. Diz o neto a brincar. Criou o Sr. Morgado no Adro das Freiras. O pai do Dr. Estrela Rego. Depois foi para Ponta Delgada. Levava à segunda e à sexta a roupa lavada do Dr. Estrela Rego. Lavava a roupa na ribeira. Com anil. Punha-a a secar em cima das pedras. Lençóis ficavam brancos. Chegava à Ribeira Grande na camioneta da tarde e o neto em pulgas já sabia que ela trazia pão e manteiga branca. Comiam sempre pão de milho com manteiga amarela. Até aos 13 anos era só pão de milho. Aquela consolava. Uma sardinha de Lisboa dava para três. A gente ia pela escada do Teatro comprar à loja do João Pascoal. A gente tomava banho na ribeira e no poço da Helena. Minha mãe não gostava. Minha avó virava-se para minha mãe: Alcida, o rapaz está aqui comigo! Era com calções Adidas marca incoiro que a gente tomava banho. Pega-se a rir. Jogava-se à bola. Onde já não havia casas. A gente escorregava pela erva abaixo até à ribeira. E do outro lado da ribeira também. Aquilo ali não tinha muro. Na rua do Saco, todos os Domingos, o Sr. Agostinho Feio, o bisavô da Rafaela, que trabalhava com o Dr. Jorge, mandava-me fazer sempre o mesmo mandado: comprar dois litros de vinho. A Sr.ª Cabral, na rua da levada, rua do Arco, hoje Eduíno Rocha, também me pedia mandados. Nunca parava. No Verão, às quartas, já com o Parque Infantil, as meninas do Asilo iam das 4 às 7 brincar no Paraíso. A gente atirava pedras. Queria aquilo só para a gente.[21] Despedindo-me dos dois ex-companheiros de equipa, vou agora tentar mergulhar o mais fundo no fundão do Poço do Paraíso. Tentar ver se vejo mais sobre a História daquele local. Mais sobre os seus inícios. Mais sobre os nomes do local. Mais. Se possível. Sem obrigar as provas a dizer o que desejaria que dissessem? Prometo.

Ponte do Paraíso, Cidade da Ribeira Grande



[1] Isso é lenda. Na realidade, só acontece a partir de Dezembro de 1977. Na época de 1977/78, o Ideal perdeu jogos e uma competição (Torneio de Classificação, Ideal 1, Santa Clara 2 (estava na I Divisão) Cf. Correio dos Açores, 4 de Outubro de 1977, p. 2; Ideal 0 – Mira Mar 1 (estava na I Divisão) Cf. Correio dos Açores, 19 de Outubro de 1977, p.2), mas, a partir de Dezembro nunca mais perdeu um que fosse (Cf. Correio dos Açores, 1 de Dezembro de 1977, p.2). Como cheguei àquela equipa? Por convite de Fernando Anselmo, o treinador. Fazia corrida. Era o que mais gostava de fazer. Mas ia ver os jogos do Ideal. Sem falta. Um dia, Fernando Anselmo veio falar comigo. A época havia há pouco começado. Tu és um Idealista. Toda a tua família é Idealista. A equipa precisa de ti. Precisa? O João nem sempre está. Tem temporadas em Lisboa. Em exames do seu curso de Direito. O Dutra nem sempre consegue sair do quartel. O José Carlos Teixeira ia sair para o Canadá. O roberto vai estar fora por uns tempos. Há fulano (disse-me o nome, mas não o vou revelar aqui) que não é pontual. Chega atrasado. Às vezes nem aparece. Eu começava o meu primeiro ano de História na Universidade dos Açores. Fazia corrida. Não jogava futebol federado desde Fevereiro de 1975. Apesar disso, não podia dizer que não, era a minha equipa. A minha primeira e única fotografia dessa época (tanto quanto sei) é uma em que estou de fato de treino (nem havia ainda equipamento para mim) entre o Manuel Costa (era dirigente, suponho) e o Roberto Rodrigues. Já joguei no seguinte e aí por diante. Aceitei da mesma maneira que, em 2024, no meio de uma crise directiva, aceitei ser Presidente da Assembleia Geral do Ideal. Estava em crise. E desta vez já nem assisto a jogos. Deixei de gostar de futebol. Aceitei em memória do meu pai, o grande obreiro da sede social do clube. Mas na época em que joguei, dei tudo, tudo. Batemos o pé na final ao todo poderoso Santa Clara.

[2] Correio dos Açores, 30 de Julho de 1978, p. 2: Taça de São Miguel. Sporting Ideal vencedor e nosso representante. Constituição das equipas. Ideal: Santos II (Carlos Buraca); Ferreira (António); Décio (Borges); Mário Jorge (Alves Pinote Melo); China (António); Moura (Mário); Roberto (Rodrigues) aos 54 minutos; Janeiro (Fernando); Frade (Luís); Santos I (Manuel); Cabral de Melo (Mário Jorge) e Luís Simas (capitão). (não jogaram, o Pedrinho, lesionado e o João Correia, a fazer exames do seu curso de Direito em Lisboa). Já com reforços para a época de 1978/79. Parte amanhã para os EUA (31 de Julho, Segunda-feira) (…) Comitiva. Dirigentes: Fernando Anselmo (Presidente); José António Estrela; António Barbeiro; Eduardo Russo e Décio Medeiros. Jogadores (17): Silva (José) e Santos II (Carlos) guarda-redes; Mário Jorge (Alves Pinote); Pedrinho (Pedro Cordeiro), Caetano (José); China (António); Queirós e Moura (Mário) Defesas; Janeiro (Fernando); Roberto (Rodrigues), Frade (Luís); João Correia; Victor (médios); Farrico; César Matos, Cabral de Melo e Ferreira (avançados). Como roupeiro viajará José Maria Mota Sousa.

[3] Correio dos Açores, 14 de Março de 1978, p. 2.

[4] Correio dos Açores, 7 de Janeiro de 1978, p.2.)

[5] Registo os restantes colegas (tudo confirmado documentalmente) e em conversas com eles: João Correia. Licenciou-se em Direito. Pedro Cordeiro. Foi bancário. Militou na II Divisão Nacional. António China. Foi ajudante de Farmácia. António Ferreira. Trabalhou numa agência de Seguros. Décio Medeiros. Empresário. Emigrado. Mário Jorge Alves. Empresário em Bristol. Rhode Island. Reformado. Luís Simas. Empregado da EDA. Reformado. Mário Jorge Cabral de Melo. Industrial. Falecido. Fernando Janeiro. Emigrou. Falecido. Carlos Santos. Funcionário Público. Ainda no activo. Olivério Grota. Emigrou. Dutra. Faialense. Cumpria o serviço militar em São Miguel. Emigrado. Eduardo Pereira. Bancário. Reformado. O grande Fernando Anselmo era o nosso treinador.

[6] Joguei à defesa, na direita e na esquerda, fosse onde fosse necessário tapar buracos, ou a ferrolho, à frente da defesa, Fernando Anselmo era um treinador adepto do ‘catanaccio,’ a que ia introduzindo invenções suas, ou ainda mais solto a meio do campo – vigiando toda a extensão do miolo do campo -, a apoiar os criativos, Santos e João Correia. No dia 21 de Maio o Ideal conquistou a Taça do Torneio da Primavera. À noite no Campo Jácome Correia. Contra o Clube União Sportiva. Joguei. Competição disputada entre equipas da II Divisão e em duas mãos. Na primeira mão, disputada no feriado do dia 25 de Abril no Campo de Jogos da Ribeira Grande, o Ideal venceu o União Sportiva por 1 a 0 golo de António Grilo. (Cf. Correio dos Açores, 27 de Abril de 1978, p.2). A segunda mão foi disputada no Campo de Jogos da Lagoa, pelas 15 horas, no dia 21 de Maio, Domingo. O Ideal ganhou por 3 a 1. Ao intervalo perdia por uma bola. Não refere a constituição nem os marcadores. (Cf. Correio dos Açores, 23 de Maio de 1978; A 3 de Junho de 1978, o Ideal conquista o Campeonato de II Divisão de Futebol. Fui titular. Notas: Sporting Ideal Campeão da II Divisão. Venceu por 5 bolas a 1 o União Desportiva. Em jogo disputado na noite de Sábado, dia 3, às 18: 30 no Campo Jácome Correia. Constituição da equipa: Ideal: Santos (Carlos) II; Moura (Mário) (ex-júnior); Pedrinho (Pedro Cordeiro); Mário Jorge (Alves Pinote); China (António); Roberto (Rodrigues); Janeiro (Fernando); Santos II (Manuel); Luís Simas (capitão); Frade (Luís); Ferreira (António); (António Grilo e o Eduardo estavam lesionados. Anselmo fez bluff dizendo numa entrevista que haviam recuperado). Marcadores Luís Frade na primeira parte; Luís Simas (aos sessenta minutos); António Ferreira aos 70 minutos; António China aos 71; Manuel Santos aos 83. Carlos Silva reduziu para o União Sportiva aos 86 minutos. (Cf. Correio dos Açores, Domingo, 4 e Junho de 1978, p.2.)

[7] Ainda assim, nunca faltei a treinos ou a jogos. O treinador punha-me a jogar de início ou a meio do jogo. Ao contrário da natural irreverência académica, no Futebol não discutia as opções do treinador. Tratava-me por Sr. Moura. E eu tratava-o por Sr. Anselmo. Aliás, como todos nós.

[8] E, no entanto, veja-se lá, eu que levo a vida a lembrar pessoas esquecidas, fui eu próprio esquecido numa recente homenagem pública difundida para a diáspora desse plantel de 1977/78. Ainda por cima, sendo Presidente da Assembleia-Geral do Clube. Estão tramados! Meteram-se com o Historiador. Vi-me na obrigação de me fazer lembrar. Com provas.

[9] Eu, o João e o António, fôramos em 1975 alvos de um levantamento da FLA. Espontaneamente organizado, com camiões, cães e correntes e amigos, um dos quais nosso colega de equipa, pelo ainda e sempre maior poluidor do Monte Verde. Chegou ao ponto de proclamarem uma espécie de ‘Comuna’ da FLA içando uma bandeira no topo do Teatro da Ribeira Grande. Comuna que viria a ser derrubada na noite de Natal de 1975, quando o Dídio Cirino, arrancou a bandeira e o pau da bandeira.

[10] Correio dos Açores, 23 de Maio de 1978; Correio dos Açores, Domingo, 4 e Junho de 1978, p.2; Correio dos Açores, 30 de Julho de 1978, p.2.

[11] Vivia-se um clima de inquietação. Sobretudo pelos movimentos independentistas. Sentia-se um certo mal-estar em certos campos onde íamos jogar. Chegámos a ouvir bocas. E que bocas!! Três de nós, estávamos marcados. Eu e o João pelo 19 de Agosto de 1975 nas Caldeiras. E o Roberto era o Sá da Bandeira do episódio da queima da bandeira da FLA em 12 de Outubro de 1976. E, entre nós, havia um que nos fora perseguir às Caldeiras a 19 de Agosto.   

[12] Ideal Novo, termo usado pelos próprios para distinguir o grupo inicial do que retomou o futebol após o fias empresarial do campo do Rosário e da proibição (por razões de saúde pública) do campo das Reses. O campo das reses ficava no local do mercado dos animais. Muitas vezes jogavam entre a bosta dos animais. Para prevenir tétanos, o Presidente Lucindo Rebelo Machado, proibiu. Foi sol de pouca dura. O Campo Novo (Municipal da Ribeira Grande) foi inaugurado a 29 de Junho de 1952. Hoje, servem-se dele o Águia e o Ideal. Coma balança desequilibrada para o lado do Águia. Que sem sede, ocupa quase como se fosse seu um campo que é municipal. Aliás, como os campos de Rabo de Peixe e do Pico da Pedra. O que aconteceria se aparecessem mais equipas no Pico da Pedra e em Rabo de Peixe?

[13] Levavam e traziam numa carroça de mão os equipamentos para os treinos ou num açafate nas camionetas quando íamos jogar fora. Iam levar e trazer a roupa à lavadeira. Que foi a mãe do Zinho. Acho que a esposa do Manuel Roleta também foi lavadeira. E também a mulher (Maria da Lomba) do Gabrielito Leite.

[14] O primeiro poço a seguir – para o lado do mar -, à ponte dos Oito Arcos. Está hoje quase desaparecido.

[15] Testemunho de José da Silva ‘Cagão,’ 17 de Novembro de 2025.

[16] Um desses China havendo-se mudado para Ponta Delgada, ficou aí conhecido como o velho cocheiro China que conduzia de chapéu e paletó, por conta de um patrão rico, um char-a-banc. Tirava o chapéu ao passar.

[17] Bairro litorâneo a poente do Areal do Monte, já na freguesia da Ribeira Seca.

[18] Toda a informação de datas foi-me pelo Carlinhos Buraca, é coveiro no activo, e tem acesso ao livro de óbitos. Digo-lhe sempre, antes foste meu guarda-redes, agora és meu ajudante de pesquisa. Cf. Pesquisa dele, 2 de Dezembro de 2025.

[19] Cá de cima, jogaram lá em baixo, em Ponta Delgada, ao mesmo tempo que jogavam cá em cima, o José Virgínio que morava na parte de baixo da rua do Saco, jogou no Micaelense. E o Fenando Arrenegado que morava cá em cima na rua do Saco. Acho que jogou no Micaelense. Que eu me lembre. Atira Carlinhos Buraca.

[20] Os Arrenegados eram talhantes.

[21] Testemunho de Carlos Santos ‘Buraca,’ 17, 18, 19, 20 de Novembro de 2025.


Comentários

Mensagens populares deste blogue

Uma História do Surfe na Ribeira Grande (I Parte)

Uma História do Surfe na Ribeira Grande (I Parte)   A História do Surfe começa no Sul da Ilha e o seu berço foi na praia das Milícias/Pópulo. A prática do surf, ‘ já com regras, torna-se regular a partir dos anos 80. É a geração de 80-90.’ Não foram os primeiros, porém, dariam o ‘ empurrão ’ que faltava. [1] ‘ Há uma primeira associação de surfe ligada [e não só] à Escola Antero Quental. ’ [2] É organizada uma primeira competição. [3] ‘O Primeiro Meeting de Surf data de 1985. Tem lugar na Praia do Pópulo.’ [4] Por volta de 82/82, já vinham surfar à Ribeira Grande. Porque frequentaram logo depois Santa Bárbara e o Monte Verde? [5] ‘ A resposta mais simples é a qualidade das ondas. Mas tem a ver com várias coisas o facto de ser praia com fundo de areia. Estar virada a norte e exposta às ondulações. O tamanho das praias com várias i ok das ou picos como nós chamamos. Ondas .’ [6] De que quadrante são ali as melhores? ‘ Ondas Norte com vento Sul são as condições ideais .’...

Moinhos da Ribeira Grande

“Mãn d’água [1] ” Moleiros revoltados na Ribeira Grande [2] Na edição do jornal de 29 de Outubro de 1997, ao alto da primeira página, junto ao título do jornal, em letras gordas, remetendo o leitor para a página 6, a jornalista referia que: « Os moleiros cansados de esperar e ouvir promessas da Câmara da Ribeira Grande e do Governo Regional, avançaram ontem sozinhos e por conta própria para a recuperação da “ mãe d’água” de onde parte a água para os moinhos.» Deixando pairar no ar a ameaça de que, assim sendo « após a construção, os moleiros prometem vedar com blocos e cimento o acesso da água aos bombeiros voluntários, lavradores e matadouro da Ribeira Grande, que utilizam a água da levada dos moinhos da Condessa.» [3] Passou, entretanto, um mês e dezanove dias, sobre a enxurrada de 10 de Setembro que destruiu a “Mãn”, e os moleiros sem água - a sua energia gratuita -, recorriam a moinhos eléctricos e a um de água na Ribeirinha: « O meu filho[Armindo Vitória] agora [24-10-1997] só ven...

A Alvorada e o Império de São Pedro

  A Alvorada e o Império de São Pedro          Alvorada 1.ª metade do século XX   Alvorada 2007                Império de São Pedro:           Império de São Pedro:              Rabo de Peixe……………… Fenais da Ajuda   1. Alvorada ou Arvorada? Cavalhada ou Carvalhada ?   No primeiro documento conhecido que chama um nome à coisa, diz-se assim: ‘(…) cavalhada, vulgo, arvorada [sic] de Sam Pedro.’ (1875) No falar ouvido pelas ruas da sua terra de berço e área de influência, diz-se tudo ao dizer-se simplesmente: Arvorada ou Alvorada de São Pedro . Por ali, ouvem-se com a mesma facilidade com que se mete ar nos pulmões expressões como: Vais ver a Alvorada?   És o Rei da Alvorada? Vais na Alvorada? Quantos cavalos foram este ano na A...