Avançar para o conteúdo principal



Da pá e picareta à era digital 



Nem sequer em sonhos, ousara sonhar na hipótese de um dia vir a encontrar em jornais do Brasil o filão que encontrei. Mas encontrei. Sobre Nunes da Ponte, descobrimos mais de trezentas referências. Produzidas quase em meio século, entre o ano de 1877 e o de 1924. Em periódicos de diversos estados e cidades brasileiras. De diferentes tendências culturais e políticas. Uma mina brasileira! 

O que fiz? Não fiz malas, nem marquei passagem, nem viajei de avião, sentei-me diante do computador e à distância de uns dígitos, digitei: Todos os jornais, Todos os estados, entre 1910-1919, Nunes da Ponte. 

Depois, no quente da casa, entrada a entrada, aos serões, com calma, vou peneirando a informação. 

Entre as muitas vantagens deste tipo de informação, ocorrem-me três. 

Para o investigador: tem disponível a qualquer altura e em qualquer lugar que se encontre diante de um computador com acesso à rede mundial digital, a possibilidade de trabalhar fontes de todo o mundo sentado no seu sofá. 

Sem que tenha de percorrer desertos e desertos de páginas de jornais sem um pingo de interesse. Poupa tempo e poupa dinheiro, libertando-o para produzir uma História mais profunda e abrangente. A investigação é mais rápida, deixando mais tempo para a interpretação e para a escrita;

Para os Serviços de Documentação: porque os documentos estão lá onde quer que esteja o investigador. Justifica a sua existência pela consulta registada das suas colecções e liberta energias para outras tarefas. E faria com que continuasse a cumprir outras duas missões essenciais: proteger e difundir a documentação;

Pela documentação: os documentos estão a deteriorar-se pelo uso contínuo. O documento existe para ser usado. Resolver-se-ia o paradoxo: mais utilizadores com menos riscos.

Acabar-se-iam as queixas (verdadeiras) de não se poder fazer a História de Portugal (incluindo os Açores ou vice-versa) porque sai caro vir aqui ou sair daqui. Eis o primeiro passo concertado entre a História Local, Nacional e Global.

Pergunta-se: por que razão não se digitalizam sistematicamente os periódicos de todas as ilhas dos Açores? Com opção para pesquisa por palavra e temas. Com possibilidade de cópia. A exemplo do que já se passa com alguma da documentação do Parlamento Nacional de Portugal ou da da Universidade de Coimbra ou da da Biblioteca Nacional e pontualmente da dos Açores.

Há muito tempo que deveria pertencer ao passado o tempo da ‘pá e da picareta’ na investigação histórica.


Mário Moura


Comentários

Mensagens populares deste blogue

Moinhos da Ribeira Grande

“Mãn d’água [1] ” Moleiros revoltados na Ribeira Grande [2] Na edição do jornal de 29 de Outubro de 1997, ao alto da primeira página, junto ao título do jornal, em letras gordas, remetendo o leitor para a página 6, a jornalista referia que: « Os moleiros cansados de esperar e ouvir promessas da Câmara da Ribeira Grande e do Governo Regional, avançaram ontem sozinhos e por conta própria para a recuperação da “ mãe d’água” de onde parte a água para os moinhos.» Deixando pairar no ar a ameaça de que, assim sendo « após a construção, os moleiros prometem vedar com blocos e cimento o acesso da água aos bombeiros voluntários, lavradores e matadouro da Ribeira Grande, que utilizam a água da levada dos moinhos da Condessa.» [3] Passou, entretanto, um mês e dezanove dias, sobre a enxurrada de 10 de Setembro que destruiu a “Mãn”, e os moleiros sem água - a sua energia gratuita -, recorriam a moinhos eléctricos e a um de água na Ribeirinha: « O meu filho[Armindo Vitória] agora [24-10-1997] só ven...

Uma História do Surfe na Ribeira Grande (I Parte)

Uma História do Surfe na Ribeira Grande (I Parte)   A História do Surfe começa no Sul da Ilha e o seu berço foi na praia das Milícias/Pópulo. A prática do surf, ‘ já com regras, torna-se regular a partir dos anos 80. É a geração de 80-90.’ Não foram os primeiros, porém, dariam o ‘ empurrão ’ que faltava. [1] ‘ Há uma primeira associação de surfe ligada [e não só] à Escola Antero Quental. ’ [2] É organizada uma primeira competição. [3] ‘O Primeiro Meeting de Surf data de 1985. Tem lugar na Praia do Pópulo.’ [4] Por volta de 82/82, já vinham surfar à Ribeira Grande. Porque frequentaram logo depois Santa Bárbara e o Monte Verde? [5] ‘ A resposta mais simples é a qualidade das ondas. Mas tem a ver com várias coisas o facto de ser praia com fundo de areia. Estar virada a norte e exposta às ondulações. O tamanho das praias com várias i ok das ou picos como nós chamamos. Ondas .’ [6] De que quadrante são ali as melhores? ‘ Ondas Norte com vento Sul são as condições ideais .’...

A Alvorada e o Império de São Pedro

  A Alvorada e o Império de São Pedro          Alvorada 1.ª metade do século XX   Alvorada 2007                Império de São Pedro:           Império de São Pedro:              Rabo de Peixe……………… Fenais da Ajuda   1. Alvorada ou Arvorada? Cavalhada ou Carvalhada ?   No primeiro documento conhecido que chama um nome à coisa, diz-se assim: ‘(…) cavalhada, vulgo, arvorada [sic] de Sam Pedro.’ (1875) No falar ouvido pelas ruas da sua terra de berço e área de influência, diz-se tudo ao dizer-se simplesmente: Arvorada ou Alvorada de São Pedro . Por ali, ouvem-se com a mesma facilidade com que se mete ar nos pulmões expressões como: Vais ver a Alvorada?   És o Rei da Alvorada? Vais na Alvorada? Quantos cavalos foram este ano na A...