Depois de
ter entrado no Graben (GRG), vou agora
entrar na sua Bacia Hidrográfica (BHRG).
Não na sua totalidade, mas na porção dela (que me parece) exercer maior impacto
na qualidade das águas da Praia do Monte Verde. Antes de o fazer, vou apresentar-vos (por
alto) a Bacia. É constituída ‘por quatro massas de água.’ Que são: Lombadas,
Roças/Salto do Cabrito, Pernada e a Grande.[1] Tal como o seu hospedeiro (Graben), ela
está ‘(…) encaixada no flanco norte do Maciço de Água de Pau, que corresponde ao
maior vulcão central da Ilha, com uma área de cerca de 133 Km2. Este maciço
possui duas das três mais importantes ribeiras da Ilha, sendo uma delas, a da
Ribeira Grande.’ É esta (ribeira Grande) ‘de regime permanente, com uma área de 18, 3 Km, em que o comprimento do
curso de água mais longo tem 13, 2 Km e o comprimento total dos cursos de água
existente é de 90,8 Km.’ E, atente-se nisso, está integrada ‘na área Protegida
para a Gestão de Habitats e Espécies da Serra de Água de Pau.’[2]
O que pretendo neste trabalho? Perceber a causa dos males do
Monte Verde.[3]
Como chegar lá? Ver por onde passa a água antes de desaguar no Monte Verde. Não
esquecer que a água se transforma naquilo por onde passa. [4] Enquanto
o faço, não devo perder de vista que a água que vem do mar pura (através da
evaporação/precipitação), infelizmente, nem sempre regressa pura à sua origem.[5] Onde se localiza a área que mais influi na qualidade
das águas do Monte Verde? Pelas observações feitas no terreno, pela
consulta de plantas e por conversas com colegas que fazem parapente, destacou-se
o suspeito principal: a área da ribeira Grande e seus afluentes (ribeira do
Teixeira, Tondela, etc. …).[6] E um
suspeito secundário: a área da ribeira Seca.
De onde vem a água que chega às
torneiras dos domicílios de quatro das cinco freguesias da Cidade da Ribeira
Grande (implantada no Graben) que mais influenciam a água do Monte Verde? As duas
a nascente (Ribeirinha e Matriz)
são abastecidas por nascentes que nascem no Monte Gordo.[7] A mais
central, a Conceição, é abastecida (sobretudo)
por nascentes da área da Caldeira Velha e do Salto do Cabrito.[8] As duas
freguesias a poente, Ribeira Seca e Santa Bárbara, recebem-na de outras.[9] Antes de chegar às torneiras, a água é
tratada na ETA situada no Pico Arde (caminho da Lagoa do Fogo) e periódica e
aleatoriamente analisada (nos domicílios).
E a que sai? Para onde vão os efluentes domésticos? Aqui não consegui dados
objectivos, no entanto, pelo que dizem, a maioria, alguns até avançam com mais
de 90%, ainda utiliza fossas (que na generalidade, ao que continuam a dizer-me,
funcionam bem). Há uma rede pública, porém, só uma minoria, ao que dizem, insisto,
já se ligou.[10]
Os afluentes domésticos ligados à rede
pública, após a passagem por várias estações elevatórias (quatro ou cinco),
situadas em vários pontos (sobretudo) no interior da Cidade da Ribeira Grande, estão
(presentemente procede-se a ensaios) a ser conduzidos à ETAR da Ribeira Grande
(situada na Vila de Rabo de Peixe). Após o que, ainda restará resolver duas ou
três ligações que drenam (na zona da Vila Nova) para o Monte Verde.
E a água da ‘derrega’? Trata-se de um sistema de regadio
(ao que apurei de gente que sabe) único na ilha e nos Açores (hoje quase a
desaparecer, como tive ocasião de constatar). Virá de longa data - talvez mesmo
do início do povoamento.[11]
Entrou em declínio (apesar dos esforços, sobretudo dos do engenheiro Fernando
Monteiro) nas décadas de sessenta/setenta, com o avanço das pastagens e o
abandono das culturas (por falta de mão-de-obra e preços não competitivos dos
produtos). A partir daí, muitos dos regos - que correm – em geral a céu aberto
-, foram sendo abandonados (invadidos pela vegetação ou derrubados pelas rodas
dos tractores). Por meados de Maio, ‘quem
queria derregar os seus terrenos, ia dar o nome à Câmara. A partir de Junho
começava de baixo para cima. Nos terrenos mais ‘temporãs.’ O responsável
era o agueiro da Câmara. Municipal.[12] Na vizinhança da água da rega,
na sua casa e quinta do Pico Arde, o Morgado João da Arruda Botelho da Câmara (n.
12 de Maio de 1774 - PDL – f. 31 de Janeiro de 1845 RG) (antes da SPAM enquanto escrevia
a sua História da Ilha de São Miguel e a Genealogia dos seus morgados) também experimentava
(com sucesso) a introdução de diversas espécies botânicas com valor económico.[13] Dois
ou três quilómetros mais acima do Morgado Arruda Botelho, na Caldeira Velha, José
do Canto (tal como fizera na margem da Lagoa das Furnas e em Ponta Delgada)
construiu um parque botânico (hoje totalmente descaracterizado). À sua volta, mantendo-se
até 1974 (mais ou menos), José do Canto cultivou chá e construiu a primeira e
mais importante fábrica de chá da Ilha. Aliás, era na área do Graben da Ribeira
Grande que se localizava a esmagadora maioria das plantações e das fábricas de
chá de São Miguel. Em 1985, a última (a da Barrosa) teve um fim trágico (consumida
por um incêndio algo suspeito). Naquilo que interessa a este trabalho:
a água da rega não polui nem poluiu a Praia do Monte Verde.
Para onde vai a água que passa
pelos moinhos (valas dos moinhos de ribeira e levadas dos da Condessa)?[14] Os últimos dois ou três deixaram
de moer na década de noventa, alguns foram convertidos em residência (casos dos
moinhos do Correia ou do seu vizinho), outros, em alojamentos turísticos (caso
dos moinhos da Areia e o do Félix). Um deles, há anos produziu electricidade. Uma
das quintas regada pela água da levada dos moinhos (no caso da que vinha do
moinho da Palha – moinho de Condessa) foi a do Ouvidor Feliciano Rémy (n. c. 1799 RG – f. 1864 - RG). Dedicou-lhe os últimos 17 anos de vida. De
ascendência francesa, era natural da Ribeira Grande.[15] Liberal, com ligação
directa ao poder vigente (pertencia ainda à maçonaria), e sócio activo da Sociedade
Promotora da Agricultura Micaelense (SPAM). Cultivou diversas variedades de
laranja, de roseiras e experimentou o chá.[16] O agueiro dos moinhos era o responsável. Entregava a
renda da água destinada à limpeza e manutenção da vala. Infelizmente, a água
que circula pelas valas (velha – das sete primeiras e nova – das sete segundas)
dos moinhos (apesar de haver cada vez menos quem o faça) é ainda causa de
alguma poluição na Praia do Monte Verde. Como resolver esse problema? Com
fiscalização? E educação?
E a geotermia? Teve o seu primeiro ensaio em
1973 (bem sucedido logo à primeira tentativa): foi ao fim dos Foros, na Casa do
Pico Arde, numa pastagem da família Berquó de Aguiar: à cota +72 m e a escassa
distância da ribeira Grande. O chamado poço Dalhousie.[17] Na
campanha de elevação da Vila da Ribeira Grande a Cidade, o potencial da
geotermia serviu de argumento de peso para convencer os descrentes. Esperava-se
que trouxesse mais investimento (público e privado). Virgílio Varela, um dos cabecilhas
militares envolvidos no malogrado movimento do 16 de Março de 1974, então radicado
na Ribeira Grande, e promotor (logo em 1978) do Restaurante O Fuseiro, desafiou alguns membros da
Assembleia Municipal que se opunham à elevação da Vila a Cidade: ‘Não será a geotermia a base de um grande
futuro industrial para a futura
cidade da Ribeira Grande??? - Quantas indústrias não virão para a nossa região?
- Quantos técnicos qualificados ficarão a residir nesta vila-cidade?’[18] Dois
anos antes, em 1977, a imprensa divulgara um muito interessante projecto da
dupla Victor Hugo Forjaz e Mac Meidev. Deram-lhe o nome de Parque geotérmico de
sonho. Nele se propunha a criação de uma ‘Cidade’ a Sul da da Cidade da Ribeira
Grande: com piscinas (recreativas e terapêuticas), uma clínica, estufas
aquecidas, fábrica de açúcar, escola comercial, criação de aves, etc, etc...[19] Apesar
de a produção geotérmica já ter atingido 41/42%, de o Parque Industrial da Ilha
de São Miguel (foi essa a intenção da Região, porém, sem variante e mais
infra-estruturas, acabaria por ficar muito aquém da intenção) estar encostado à
Central do Pico Vermelho, o projecto ficou por aí.[20] Porquê?[21] O
projecto geotérmico (em abono da verdade) provocou alguns sobressaltos e
acidentes.[22]
No entanto, as descargas que iam desaguar na foz da ribeira Seca no Monte Verde,
cessaram em 1997 com o recurso à reinjecção dos fluidos. E esses não afectam os
lençóis de água? Garantem-me que não.[23] E a
areia extraída do tufo? Também, não. GarantEm-me. Separa as lamas e reenvia a
água (já depurada).
E a água da chuva que faz
transbordar as nitreiras e arrasta a matéria química e orgânica que ainda esta
semana interditou a Praia do Monte Verde? E impediu a realização
da etapa do campeonato de Surf? Aqui é que a situação se torna grave (mais
do que o caso da vala dos moinhos – facilmente solucionável).[24] Esperança?
Há uma luzinha que se acende ao fundo do túnel. No lado do Pico Arde, em parte
das antigas plantações de chá, depois transformadas em pastagens, planeia-se
construir um hotel de luxo.[25]
Mário
R.ª Grande (Continua)
[1] Machado, Carla
Cacilhas, Escoamento de superfície e vulnerabilidade às cheias no Concelho da
Ribeira Grande (São Miguel, Açores), Tese de Mestrado, Departamento de
Geociências, Universidade dos Açores, 2014.
[2] Gomes, Cátia Sofia Vieira, Monitorização e impactes antropogénicos
sobre a qualidade da água em ribeiras de caudal permanente na ilha de São
Miguel (Açores), Tese de Mestrado, Universidade dos Açores, Departamento de
Biologia, 2012. Pereira, Ventura Rodrigues, A Ribeira Grande, 3.ª- 4 ª
edição, Do Monte Escuro à Ribeira Grande, p. 213. Sobre a principal ribeira da Bacia hidrográfica da Ribeira Grande, que
bem conhecia das suas deambulações pela ribeira Grande, Ventura Rodrigues
Pereira, que foi responsável pelas águas das Lombadas, diz: ‘(…) As suas margens escarpadas, ora de
pedra-pomes, ora de rocha virgem; o seu leito, quer em pedreira dura, quer em
areia e lodo; as matas e os escalvados, as curvas e contra-curvas, os saltos e
os baixios – são-me familiares em toda a sua extensão de 12 quilómetros.
Conheço-a nas suas cheias e enxurradas, nas suas estiagens e (p.214) cursos
regulares – da foz à Longaia, do Salto do Cabrito ao Salto da Faia, das
Lombadas ao Monte Escuro e Pico da Vela.’ (DLR 19/2008/ A; DROTRH, 2011/A)
[3] Quanto ao resto
(para quem queira) remeto para as notas de rodapé.
[4] De onde vem a água? Através de um ciclo
constante ‘O maior reservatório
hídrico do planeta Terra são os
oceanos. A água por evaporação passa do estado líquido ao estado gasoso,
acumulando-se na atmosfera onde, após condensação, retorna à superfície sob variadas
formas (chuva, neve, orvalho e nevoeiro). Parte da água precipitada ao ser
interceptada na superfície terrestre flui sobre esta, originando o escoamento
superficial, alimentando as redes de drenagem organizada, como as bacias
hidrográficas, e as zonas lacustres, descarregando novamente para o ma.’ Cruz,
José Virgílio, Ensaio sobre a água subterrânea nos Açores, História, ocorrência
e qualidade, 2004, p. 31.
[5] Pois, a água -
em estado líquido ou gasoso, correndo à superfície ou no subsolo, acaba sempre
por ser aquilo por onde passa: mineral, potável, poluída, etc. Chega às
torneiras, aos bebedouros dos animais, irriga campos, pastos, produz
electricidade nas centrais geotérmicas e nas hídricas. Movimentava moinhos. E
(não esquecer) corre para o mar. Nem sempre de forma pacífica. Ou pura. É ver o
que aconteceu a 3 e 4 de Junho de 2024. É seguir o resultado das análises. Não
se deve ignorar, as cheias que se abateram sobre o centro urbano da Ribeira
Grande (com consequências no seu litoral), tais como a cheia de 1563/4 que
quase destruiu a Ribeira Grande, ou a de 1919, ou as mais recentes de 1997,
1998, 2004, 2007, 2013 e 2024. Ou a relação entre os múltiplos açudes e o menor
reabastecimento de areia daquela praia?
[6] A da Fajã
Redondo, inicialmente da Câmara de Ponta Delgada (leu bem!) aberta em 1926,
está inactiva. Daqui, deve-se seguir com cuidado o destino dado à água que
abastece os domicílios da Matriz, da Conceição, da Ribeira Seca e de Santa
Bárbara e os efluentes (Ribeirinha terá menor ou nulo impacto) que daí
resultam; da água que alimenta a hídrica do Salto do Cabrito (inaugurada em
1902, entretanto, desactivada, e reactivada em 2006); da que entra no processo
da extracção industrial de areia (na Bandeirinha) em funcionamento desde 1990;
da que passa pelas valas dos moinhos (já inactivos); da das vacarias próximas
destes cursos de água.
[7] Água férrea); a Matriz é abastecida pela nascente dos
Pachões (recebe igualmente o excedente da Ribeirinha).
[8]Principalmente,
Cachaços, José do Canto, Bandeirinha e Tomás Caetano.
[9] Testemunho de
Cátia Mota, 21 de Maio de 2024. Ribeira Seca: dos Cabelos Brancos, do Mato
Miguel e da Fajã das Travas; Santa
Bárbara, além de receber alguma água da Ribeira Seca, abastece-se da
Bocarra; do Verde Tinto; do Mato Manuel e do Caracol.
[10] A Câmara Municipal da Ribeira Grande tem desenvolvido uma campanha de persuasão e de apoio que tem vindo a dar frutos.
[11] Como não conheço
(nem houve?) registo em planta, o que pude apurar é o resultado de conversas
(nem sempre concordantes). Isso pensei até hoje, 8 de Junho, pois, ao consultar
as minhas notas, Eureka, reencontrei uma cópia de artigo do engenheiro Armindo
Moreira da Silva) Fuseiro como meia dúzia e mais não com uma portentosa obra
‘perdida’ (como irão ser as minhas) no cemitério dos jornais: Havia (haverá
ainda?) nas instalações do IROA – já estariam na Ribeira Grande? -, um mapa com
os regos e aproveitamento hidro-agrícola. No entanto, a rede que aqui coloco,
deve (ainda) às conversas que mantive com alguns informadores.
[12] Entrevista que
fiz, no dia 28 de Setembro de 1988, a partir das 14 h e 30 m, sentados ambos no
degrau da sua casa: ao sr. António Vieira, 92 anos feitos em Agosto: Primeiro
de todos: Gramas de Cima (era do Jacinto Água Morna); 2 – Gramas de Baixo (de
Eugénio Melo – estava emigrado); 3 - Fábrica do Linho; 4 – José Barbosa (rua
dos Moinhos); 5 – José Romão (rua dos Moinhos); 6 – Moinho do Fulgêncio (ao
fundo da avenida); 7 – Moinho da Conceição Moleira; 8 – Moinho do Mariano
Silva; 9 - Moinho da rua do Jogo; 10 – Moinho do Outeiro; 11 – Moinho da Rocha
(mesmo junto ao fim da ribeira). Na altura, apenas moíam dois: José Barbosa e
José Romão. Os moinhos 8, 9, 10, 11 estavam demolidos. Hoje abastece (além de
um único agricultor) a Fábrica da Bel. Outro ramal, abastecia os moinhos (do
José Barbosa, de José Romão e parcialmente o do Sr. Fulgêncio). Depois de fazer
moer este último, entrava na ribeira da Ribeirinha (ou ribeira Velha). A água
então era e ainda é dividida mais abaixo, pouco antes de passar pelo moinho da
Conceição Moleira – moinho da Condessa – do Lameiro? -, (hoje na zona do
Coreto). Na Ribeirinha, dois dos moinhos paravam (o do José Romão e o do José
Barbosa). Iam moer aos moinhos da ribeira Grande (o José Barbosa nasceu no
moinho do Félix). ‘Depois do 25 de Abril,
o José Barbosa conseguiu que não fosse assim.’ A água, a do lado da Matriz
(até à década de quarenta do século passado, incluía a Ribeirinha) – fui ontem
dia 2 e hoje dia 3 de Setembro de 2024, reconfirmá-lo, vem numa vala das Gramas
de Cima, da ribeira das Gramas e da Água Férrea. Chegando pouco mais ou menos à
antiga Fábrica da Chita - assim a identificam os da Ribeirinha -, a meio da
ribeira Velha – antes de chegar à ponte da rua dos Moinhos, através de um
aqueducto passa para a outra margem, rega os campos por ali, dirige-se ao
caminho Novo das Caldeiras, onde existe novo aqueducto e ia molhar as terras até
ao Rosário. Voltando às imediações da Fábrica da Chita, uma outra vala continua
e vai fazer mover os dois primeiros moinhos da rua dos Moinhos. Depois de
passar ia a água para a ribeira Velha (ribeirinha) e na área do actual coreto
(defronte da igreja paroquial) parte ia para as Covas e outra parte para o
Rosário. A água que ‘vem da propriedade
do Lameiro, da zona do Engenho, mas é da água da ribeira do Salto’ rega as
terras à volta do Lameiro e as das cercanias do porto de Santa Iria,
propriedades do Lameiro. A rica herdade experimental do Lameiro de José Jácome
Correia – primeiro Presidente e co-fundador da SPAM, que terá começado em
inícios da década de quarenta do século XIX, ficava exactamente aí. A água da
rega seguia em direcção às Gramas – indo para o Caminho Novo das Caldeiras. Testemunho de
Pedro Hintze, 1 de Junho de 2024, Testemunho do Sr. Raposo: Junto ao actual
coreto, defronte da igreja do santíssimo salvador do Mundo, partem dois regos:
um, dirigia-se às Covas, onde crescem – segundo muitos -, as melhores melancias
daqui -, o outro, segue (ou seguia) em direcção ao Rosário (da Matriz). E a água rega da Conceição e da Ribeira
Seca (tirando as terras de trigo do Morro que não precisavam de regadio)?
Partem três regos da ribeira do Teixeira, do Poço do Cavalo. Informador Raposo
(polícia reformado), 19 de Maio de 2024; Testemunho de Carlos Salvador
‘Galinha,’ 22 de Maio de 2024; Vistoriei os regos com o encarregado da Câmara
Municipal da Ribeira Grande: José Pingueira: Mafoma – já está tudo parado;
Freiras – Eduardo Ferreira (cana de açúcar e o José Carlos) – Mafoma (não há
nada). Ribeirinha, mais activo: Covas (sobretudo). Os atrelados e carrinhas da
lavoura têm destruído alguns regos ainda em uso. O rego das Freiras, que desce
os Foros (Rua das Dezasseis Pedras) (Será que antes ia ao aqueduto das Freiras,
daí o nome?), daqui – segundo uns -, derivava para o rego Esquerdo. O rego da
Mafoma (também conhecido por rego do Meio) – entra na Sogeo, vem pelo caminho Velho do Parque Industrial, canada da
Mariana, passando pela canada das Vinhas, parque de Estacionamento do Campo de
Futebol. Serve de divisória às
freguesias da Conceição – Ribeira Seca. E o rego do Mourato. Entra
igualmente no Parque Industrial, por debaixo dos armazéns do Maré (Plantivime),
segue pelas ruas Hermano Mota e Madre Teresa/da Anunciada, atravessa a rua do
Mourato/e passando pela canada Jacinto Vendeiro acaba no mar (ou na ribeira
Seca). Ontem, dia 29 de Julho, António Luís Maré, colega reformado, cujo pai
fazia terras por ali, falou-me no rego da Barrosa. Disse-me que acaba por
entrar no rego da Mafoma. É alimentado por nascentes acima das que alimentam os
três regos anteriores. A água deste rego da Barrosa foi alimentar a fábrica de
extracção de areia do tufo de José do Couto.
[13] Câmara, Morgado João Arruda Botelho da, Instituições
Vinculares e notas genealógicas, ICPD, 1995. O que sucedeu antes à SPAM e à herdade
do Lameiro de José Jácome Correia.
[14] E
os ricos e poderosos moinhos da ribeira da Ribeira Grande – os melhores da Ilha
-, (estudados por mim no âmbito do projecto de Museu de Comunidade) alimentados
pela água daquele curso de água? Moura, Mário, Memórias dos moinhos da
ribeira Grande: Um percurso pedestre à terra dos moinhos de água, Amigos dos
Açores, 1997; Moura, Mário, A Mã da água, a santinha e a água que dorme
(acessos à mentalidade dos moleiros da Ribeira Grande), 1999. Cf. Mário Moura,
1997; 1998: Sete primeiras: Palha; Outeiro; Vale, Rua; Novo (Arco); Praia;
Areia; Sete segundas: Mãe de Água, Félix; Guido; Alfinete; Couros; Praça;
Areia. Estudo, porém, iniciado em 83/84. Trabalho não publicado. Os da Vala da
Condessa captam a água na mãe de Água da Magarça. Os das primeiras casas da
Condessa (ou os sete primeiros) datam da construção da vala após a destruição
dos moinhos junto à ribeira em 1563/64. Conforme vi e ouvi desde que
comecei a estudá-los em 1983/4 por diante: Moinhos de ribeira: Paivinha; Longaia
(Teixeira); Moinho do Bernardo; Caroucha; Curral das Cabras; Cova I; Velha; Detim
II; Ponte Nova; Cova II; Açougue; João Pascoal I, Ti Ernegato; João Pascoal II.
A vala, a partir de 1699, separa as freguesias da Conceição e da Matriz. Os das
segundas casas da vala da Condessa (as sete casas seguintes) vão surgindo a
partir (talvez) do segundo quartel do século XIX. Os moinhos da ribeira são
alimentados directamente pela ribeira e estão implantados ao longo das suas
margens. Até à grande cheia de Agosto de 1919, existiam dois antes da mãe de
Água (comum) dos da Condessa (Longaia).
[15] BPARPDL, Alvim,
Alexandre de Sousa, Projecto de Dicionário de Eclesiásticos, Padre António
Feliciano Remy. BPARPD, Alexandre de Sousa Alvim, Notas: Reverendo António
Feliciano Remy: Nasceu na freguesia de Nossa Senhora da Estrela, Ribeira
Grande, por volta do ano de 1799 e faleceu, ainda com 65 anos, a 10 de Setembro
de 1864. Foi Ouvidor da Ribeira Grande. Foi igualmente prior da igreja de Nossa
Senhora da Estrela. Dedicou os últimos 17 anos de vida à agricultura e a uma
quinta. Lopes, António, A Maçonaria Portuguesa e os Açores: 1792-1933,
2008, p. 306. ‘(…) António Feliciano Remy, padre e capelão do exército, era
oriundo da Loja existente em S. Miguel no início da década de vinte, sendo
também um activo associado da Sociedade Promotora da Agricultura
Micaelense. António Feliciano Remy União Açoriana, na década de
trinta.’ A quinta do Padre Remy ficava na rua do Ouvidor Rémy, que o
padre Egas Moniz em finais do século XIX propôs sem sucesso que passasse a ser
rua do Chazeiro (planta que Remy também introduziu). Mais tarde, foi residência
de Ezequiel Moreira da ilva, em cujo quintal havia plantação de maracujás que
abastecia a sua fábrica de licores. Actualmente, transformou-se num
loteamento. Cf. Notas Biográficas do padre Egas Moniz em a Estrela
Oriental, Ribeira Grande, 16 e 30 de Novembro de 1907 e 9 de Maio de
1908.
[16]Ao ponto de o seu sucessor, Padre Egas
Moniz ter proposto, em finais do século XIX, sem sucesso, que a rua passasse a
ser conhecida como rua do Chazeiro (hoje é rua do Ouvidor).
[17] Forjaz, Victor
Hugo, Recursos vulcanogeotérmicos da Ilha
de São Miguel, Açores (1994), 4.ª Edição, 2023. As sondagens de avaliação -
produção (…), iniciaram-se a 4 de Junho de 1978 (RG1) e terminaram a 23 de
Março de 1981 (PV2). A fase Industrial: ‘CL1 – Cachaços – Lombadas - 16 de
Novembro de 1988 – 27 de Fevereiro de 1989. Consórcio Geotérmico de São Miguel.
CL2 – também Cachaços – 19 de Outubro de 1992 – 18 Dezembro de 1992. Na fase
seguinte, entrou em actividade a primeira.
[18] Varela, Virgílio, Pontos
de Vista. Discordamos, Senhor Presidente!, Correio dos Açores, Ponta
Delgada, 10 de Março de 1979, pp. 1, 6. Fazia parte de um sonho visionário, de
Fernando Monteiro, que o partilhou na edição que celebrava a passagem a cidade.
Ou os de Edmundo Pacheco, dos irmãos Armindo e Ezequiel Moreira da Silva. E
poucos mais.
[19] Forjaz, Victor Hugo, Recursos vulcanogeotérmicos da Ilha
de São Miguel, Açores (1994), 4.ª Edição, 2023, p. 282.
[20] Nem mesmo (apesar de todos
os incómodos causados aos quase doze mil utentes da EDA da Ribeira Grande) um
simples gesto de gratidão. Por exemplo: uma pequena redução na tarifa de
electricidade seria bem-vinda.
[21] Testemunho de
Victor Hugo Forjaz, 7 de Junho de 2024. A meu ver, que investigo a criação da
Cidade, há (no quadro da Autonomia) uma evidente perda de poder do Concelho da
Ribeira Grande na Ilha e da sua cabeça face ao Concelho. Há também, a passagem
da propriedade fundiária (sobretudo naquela área) das mãos da antiga elite de
Ponta Delgada (que, motivada pelo seu amor à sua cidade, investia em Ponta
Delgada o que ganhava ali) para gente da Ribeira Grande (que, sem amor à terra,
se queda pela defesa dos seus investimentos). Quanto ao Parque Geotérmico, no
testemunho de uma fonte bem colocada, ficará a dever-se ‘aos interesses do dono pastos e terrenos [adquiridos a herdeiros de
José do Canto] e à cegueira de outro bem
responsável. E por ter um negócio dele. Zangaram-se as comadres e os investidores a sério como o da Ilha Verde, o Sr. Antero,
agente da Mitshubishi (…).’
[22] Forjaz, Victor Hugo, Teatrologias sísmicas, Diário da
Lagoa, Junho de 2024, p.18: ‘O sistema vulcânico do Fogo – Lagoa do Congro é
potencialmente activo. É perigoso, especialmente desde que ali se instalou duas
centrais geotérmicas (pelo menos as monitorizações geoquímicas, sísmica e
geodésica são de difícil acesso, apesar de fazerem parte de uma concessão) (…)
têm ali ocorrido graves problemas no poço CL8, nos poços a sul, na Central do
Pico Vermelho (encerrada 6 meses) no poço RG4 que EXPLODIU e reactivou falhas
geológicas geológicas nas Caldeiras da Ribeira Grande, abrindo no terreno
enormes fissuras, etc.’ Que é corroborado pelo Testemunho de Pedro Hintze, 1 de Junho de 2024: ‘Por altura dos furos, são sentidos na área
da Ribeirinha várias oscilações e tremores de terra. E no Caminho Novo das
Caldeiras apareceram novas fumarolas;’ Testemunho de Carlos Santos
‘Barata’, 24 de Maio de 2024: ‘No tempo em que fizeram um furo no Salto do
Cabrito morreram umas vinte gueixas. Por essa altura, um atrelado meu
incendiou-se. Não tenho provas. Se tivesse acontecido a gente poderosa, havia
provas.’ Ou pelo responsável da EDA RENOVÁVEIS: Na zona das Caldeiras
(caminho Novo) entre 1973/74 – 1980 o RG 1 (que por estar muito à superfície
deu problemas e foi desactivado. Começou a produzir ainda na fase de execução).
Mantém-se o RG2. Fica perto do tanque das vacas a seguir à canada da Mina
(Caldeiras).’ Testemunho de Carlos Bicudo, 27 de Maio de 2024
[23] Testemunho de
Carlos Bicudo, 27 de Maio de 2024: ‘Até 1997 os fluidos (que poderiam causar
danos ambientais: não só pela água quente como pela sua constituição química)
eram lançados à ribeira Seca que desagua no Monte Verde (zona dos espinafres).
A partir de 1997 é reinjectada.’
E as águas minero-medicinais? A primeira referência conhecida ao uso medicinal das
águas das Caldeiras (tanto quanto se sabe) é avançada por Frei Agostinho de
Monte Alverne (Ribeira Grande, 1629? — Ribeira
Grande, 1726). As termas das Caldeiras estão em uso constante (pelo
menos) desde uma data próxima do ano de 1810. Foram recentemente reabilitadas.
À sua volta cresceu uma colónia de férias. As termas da Caldeira Velha (antes
propriedade privada) são públicas desde o início do século XXI. Daqui não vem
seguramente perigo de poluição. Até porque não chega ao mar.
[24] Identifiquei
várias pastagens em locais problemáticos: na ribeira das Caldeiras (há anos que
vem dando problemas). Mais abaixo, existem duas ou três que debitam para este
mesmo curso de água. A partir da Tondela está quase sempre seco. Todavia,
quando chove de maneira intensa, o caudal vem desaguar na ribeira Grande –
passando pela Tondela – no ponto exacto da rua da Ribeira. A cheia de 3-4 de
Junho foi aí. Do lado da ribeira do Teixeira/ribeira Grande existem mais duas
ou três bastante perigosas. Há dois anos foram motivo de primeira página dos
jornais locais, de noticiários (RTP/Açores e RDP/Açores). Os pastos são
fertilizados. Os animais urinam, defecam. A água arrasta tudo. Enche as fossas
(nitreiras) que transbordam.
[25] A vala da
Condessa fornecia (a troco de contrapartidas) água às quintas vizinhas (não sei
se mesmo se atravessava a rua dos Foros). Para explicar os moinhos da ribeira
Grande (vala da Condessa e da ribeira), a autarquia mantém abertos (e
musealizados) o moinho do Vale (da vala da Condessa) - aberto em 2014? -, e o
da Praça – já em 2023 -, (moinho de ribeira). Teodoro, Hermano, Caldeiras da
Ribeira Grande, Museu da Ribeira Grande, 2003. Sobre as termas das Caldeiras,
dentro do espírito do Museu de Comunidade, Hermano Teodoro, nosso colaborador
(hoje – infelizmente - desaparecido) desenvolveu um trabalho histórico
antropológico de inestimável utilidade e valor. Para interpretar a geotermia: o
centro interpretativo situado nas Caldeiras (aberto em 2022 mas fechado para
obras de manutenção). Para interpretar a Reserva da Lagoa do Fogo: o centro
interpretativo aí existente (desde 2006). Para aprender indo pelos sítios, dois
trilhos, o do Salto do Cabrito (em pleno funcionamento), circular, que parte
das Caldeiras ou aí chega, passando pela Fajã do Redondo, Salto do Cabrito. O
da Mãe de Água (ainda longe de estar concluído), que será também circular,
partindo ou chegando da ponte de Trás-os-Mosteiros, subindo a ribeira, tomando
o caminho Velho e regressando ao ponto de partida. Se quiser aprofundar a
História e as vivências das termas das Caldeiras
leia o trabalho de Hermano Teodoro Teodoro, Hermano, Caldeiras da Ribeira
Grande, Museu da Ribeira Grande, 2003. Sobre as termas das Caldeiras, dentro do
espírito do Museu de Comunidade, Hermano Teodoro, nosso colaborador (hoje –
infelizmente - desaparecido) desenvolveu um trabalho histórico antropológico de
inestimável utilidade e valor. Machado, Carla Cacilhas, Escoamento de
superfície e vulnerabilidade às cheias no Concelho da Ribeira Grande (São
Miguel, Açores), Tese de Mestrado, Departamento de Geociências, Universidade
dos Açores, 2014. Para entender os perigos que espreitam a bacia hidrográfica,
leiam a tese da Carla Machado. Para a História (os benefícios e cautelas) da
Geotermia leiam Victor Hugo Forjaz.
Comentários