Cova do Milho
Nem o Paraíso pós catástrofe de
1563/64 passou a Cova de Milho de um dia para o outro. Nem a Cova de Milho foi
sempre um ghetto social.[1] De
onde virá esse nome? [2]
E por que razão o deram? Nem as actas da Câmara, as mais antigas são de 1555 e de
1578, nem Frutuoso, que deixa de escrever quando morre em 1591, dizem o que quer
que seja a esse respeito.[3] Nem
poderiam dizê-lo, pois, o ‘milho
americano’ não era ainda aqui cultivado. E se, porventura, fosse já cultivado, teria pouca ou nenhuma expressão.[4] Os
cronistas que se seguiram a Frutuoso, seguem pelo mesmo caminho. Falo de Agostinho
de Monte Alverne, um rapaz da terra. Falo de Frei Diogo das Chagas, florentino
que por aqui andou. Do Padre António Cordeiro, que também andou por aqui. De Francisco
Afonso de Chaves e Melo, que casou na Ribeira Grande. Textos posteriores, já do
primeiro quartel do século XIX, ainda que já confirmem a importância do milho na
Ribeira Grande, nada dizem acerca da Cova de Milho. Falo do Engenheiro
Francisco Borges da Silva (1813). De Briant Barrett (1812-14). De João Soares
de Albergaria (1822). Aliás, que se saiba, a primeira referência ao topónimo
Cova de Milho data de 1839.[5]
Nesse ano, o rol Quaresmal identifica dezassete moradas e quarenta e nove
moradores. Onde teriam
estado essas casas e esses moradores no ano anterior? Na rua do Saco. E em anos
anteriores? Na rua do Saco. Desde quando? Não consegui ver.[6] Para
já, o que já posso dizer é que, a partir de determinado ano (que desconheço) e
até 1838, para a Igreja, a Cova do Milho fazia parte da rua do Saco. Posso ainda
para já admitir que, ainda antes de ser adoptado pelo mundo da escrita, o nome Cova
do Milho já fizesse parte do mundo falado. Desde quando?[7] Não
se sabe. Seis anos depois do rol de 1839, por comparação a esse mesmo ano de
1839, o de 1845, confirma que o bairro havia crescido. Já lá havia vinte e seis moradias e sessenta e quatro moradores. Como
explicar essa quase duplicação de habitantes e de habitações? Será porque se
construíram novas casas? Será porque juntaram novas casas da rua do Saco? Ou da
Cova do Açougue? No Rol de 1861, duas décadas depois, o bairro atinge um máximo
de crescimento: vinte e seis moradas e sessenta e oito moradores. Morava então no
bairro uma Dona. O que revela alguma importância social. Resquício de
importância passada?[8]
Porquê
o nome de Cova do Milho? E quando isso aconteceu? Nunca poderia ter acontecido isso
antes da introdução do milho (americano) na Ribeira Grande. Antes disso, havia um
milho de grão pequeno: milho europeu. Não é desse que falamos, mas do milho
americano. E quanto a esse, a história é outra. Os que se dedicam a estudá-lo, afirmam
à cautela, que a sua cultura só ganhou expressão a partir de meados do século
XVII. Apesar de já ser cultivado desde a segunda metade do século XVI. Seja
quais forem as respostas certas às perguntas anteriores, em meados do século XVIII,
o milho já era o cereal de pobres e de remediados.[9] E na Ribeira Grande? O mesmo. Como se sabe isso? Uma acta de 1769 é
prova disso e a tremenda crise de 1781 reforça a prova. [10] A
reforçar a ideia de que o milho já estava enraizado na vida local, o rol
Quaresmal de 1767, o mais antigo que se conhece, mostra que aquele cereal já
fazia parte da toponímia local. Exemplos? Rua das Espigas.[11]
Rua do Saco, onde ficava o canto da maquia. Repare-se que a rua do Saco e a das
Espigas rematam, pelo Nascente e pelo Poente, a Cova do Milho. O próprio moinho
do Açougue, que já lá estaria, remete igualmente para os cereais.[12]
Por que razão o nome Cova de Milho terá
entrado na toponímia da Ribeira Grande? Terá sido
por terem lá experimentado
o cultivo do milho? Terá sido por guardarem lá milho? Ou terá sido por ambas essas
razões? Ou por nenhuma dessas razões? Procurando respostas, fui falar com o
etnólogo (e amigo) Rui Martins. Na tua opinião, o que é que aquilo ali pode ter
sido? ‘Depressão onde se cultiva cereais.
Não necessariamente, onde se armazenam cereais. Há covas de trigo, porém, não
conheço em São Miguel quaisquer covas de milho.’ Antes de nos despedirmos, até
nova conversa, recomendou-me: ‘Mas fala
com alguém da terra. Vê o Carreiro da
Costa e o Veiga de Oliveira.’[13]
Fiz isso, mas, antes ainda de o fazer, lembrei-me de espreitar um texto de 2009 de Ezequiel Moreira da Silva,
filho, onde ele afasta a possibilidade de ter ali havido cultivo de milho. Porquê?
Descrê que ‘(…) as escassas terras
ocupadas por este antigo ghetto da Ribeira Grande tenham sido alguma vez boas
terras de pão.’ Além do mais, o sítio
era fustigado por cheias. Ezequiel sabia
o que dizia, fora engenheiro agrónomo.[14]
No entanto, pergunto: Será que a necessidade (ou a ignorância), apesar de tudo,
não levou aquela gente a atrevimentos temerários? Ainda na segunda metade do
século vinte, os quintais das casas da rua do Saco que davam para a Cova do
Milho, além de alguma vinha, faziam ali algum milho.[15]
E cova onde se guardava milho?
Pensei em J. A. C., é alguém que
conhece bem as culturas daqui e das redondezas: ‘Cova do Milho? Era onde guardavam o milho da Ribeira Grande. Antes das
tulhas e dos cafuões.’ Onde foste
buscar isso? ‘Diziam os antigos.’[16] Em
covas e granéis? ‘Sim.’ Mesmo assim, fico
com um pé atrás. Confesso. Será que essa é a versão que circula na memória oral
daqui ou é antes a interpretação que JAC faz do que lhe parece ter acontecido? À
cautela, mantenho a versão. Entretanto, espero. Por novas versões. Pela
arqueologia. Por novos dados de arquivo. Parece razoável?
O que dizia Carreiro da Costa de
covas de milho?[17]
Zero. E Ernesto Veiga de Oliveira? Zero. E de granéis? Isso, sim. Muito.[18] Já
Frutuoso e Frei Agostinho falavam deles. E agora? Antes de dar descanso às
hipóteses, atiro uma: que o milho fosse ali guardado em granéis. E outra: que o
nome fosse dado para desqualificar
socialmente os habitantes da Cova. Por isso, a cova passou a ser conhecida por
Cova do Milho? Sem provas, deixo o assunto a marinar. Que fique, entretanto, a
pairar a possibilidade de ter existido covas de milho na Cova do Milho.[19]
Como
se organizava o casario e como se chegava e circulava no interior do bairro da
Cova do Milho? Para
tentar perceber isso, vou cruzar a informação que puder sacar a duas
fotografias (postais) datáveis de um ano próximo de 1895, a uma planta datável
de 1906/7, a uma fotografia de 1919 e à Matriz Predial Urbana de Nossa Senhora
da Estrela.[20]
O que se pode ver do Bairro da Cova do Milho no postal (próximo de 1895) com a
legenda ‘Ponte sobre a ribeira’?[21] Que
há a nítida intenção de divulgar a nova ponte dos Oito Arcos. Orgulho da
Ribeira Grande. O Bairro aparece de forma foi acidental. Em primeiro plano: o
outeiro da Fonte Grande, que ligava o largo da Fonte Grande ao Bairro da Cova
de Milho. Que continuava pelo outeiro da rua do Saco. Já dentro no bairro, no
final desse outeiro da Fonte Grande, do lado Norte, duas casas. Ou serão três? Uma
delas encosta à ponte pequena. O outeiro que sobe à rua do Saco só tem casas do
lado Nascente. No cimo do outeiro, ainda que não se distinga claramente, parte a
vereda que termina no moinho junto à ponte dos Oito Arcos. Uma ou outra casa do
bairro dispõe de quintal. Pequeno. A Nascente do outeiro que dá para a rua do
Saco, uma ruela com casas de ambos os lados. As casas voltadas para Nascente, mostram
quintais. Pequenos. Voltados para a ribeira. As casas são de pedra solta não
rebocada. Três, no máximo quatro, tanto quanto identifico, são cobertas de
palha. Com uma inclinação mais acentuada do que os de telha. A maior parte das
casas (ao que parece) é coberta por telha. Só uma parece ter chaminé.[22] E o postal com a legenda ‘Ribeira Grande, St. Michael’s, Azores’?
Que diz? Que o autor quis registar o ângulo oposto ao da imagem anterior.[23]
No primeiro plano, uma levada e uma calha de água que termina na levada.[24] A
levada, em pedra, corre, a uma cota mais baixa, por detrás dos quintais da rua
do Bairro (voltados a Nascente). A meio da margem direita da ribeira, uma casa de
dois pisos e um arco de cabouco. Será o que alguns identificam como moinho do Tio
Arrenegado?[25]
Ou o que outros, por seu turno, identificam como uma serragem de madeira?[26] Na
margem esquerda da ribeira, a casa do Bairro com chaminé junto à ponte pequena.
Lá em cima, no Largo da Fonte Grande, entrevêem-se os diversos patamares de
acesso ao outeiro da Fonte Grande. Fonte que ainda estava de pé.
E
a planta datável de 1906/7?[27] Antes
de mais, as Matrizes Prediais confirmam e tornam mais nítida a informação da
planta.[28] A
planta desenha um bairro em forma de um P maiúsculo (irregular). Mostra os três
acessos principais ao bairro. Um que descia da Praça do Município. Um outro que
descia da rua do Saco. E ainda outro que descia da Fonte Grande. Mostra a
divisão do Bairro em quatro ruelas paralelas entre si. Duas paralelas à linha
da ribeira. Duas, mais pequenas, perpendiculares à ribeira. Uma dessas últimas,
logo à direita de quem saí da pequena ponte (também conhecida por ponte da Cova
do Milho e - menos conhecida -, por ponte de Vila Franca).[29] A
outra desce do outeiro da rua do Saco ao moinho junto à ponte dos Oito Arcos. E
a Matriz Predial Urbana?[30]
Apesar de poder ir além dessas datas, recua a 1895 e vai até 1914, confirma e
esclarece a planta e as fotografias. Aí, das vinte e duas casas baixas,
dezasseis eram telhadas e seis ‘palhoças.’
As confrontações dessas casas, dão a imagem perfeita das ruas e das veredas.
Que
nos diz a fotografia de 14 de Agosto de 1919? Foi tirada do tabuleiro da ponte dos Oito Arcos.[31] Podem ver-se os
quintais (divididos em curraletas) das casas da rua do Saco. Com vinha? Leguminosas?
Milho? Um muro de uma casa de um quintal ‘esborralhados.’
Há mais casas com fachadas rebocadas. E mais chaminés. Não consigo identificar casas
cobertas de palha. Na margem direita, a violência da água alargou consideravelmente
o leito da ribeira (para Nascente). Terá soterrado o cabouco do moinho do Tio
Arrenegado.[32] Ou algo
da serragem? Demoliu os parapeitos da ponte pequena. Entrevêem-se quatro
edifícios (tendas de ferreiro e casas) do lado esquerdo de quem desce o caminho
que vai ao moinho do Açougue e à ponte pequena. Junto a este moinho, ainda que
mal, distingue-se uma vereda que levaria ao tal moinho ou serragem. Ou ambas as
coisas? No Largo da Fonte Grande, já não se vê a Fonte Grande.[33]
E
os róis quaresmais? E as Matrizes Prediais? Que dizem? Da análise das Matrizes, destaca-se
uma hipótese: talvez a decadência do Paraíso após 1563/4 não tenha sido tão
completa e radical. Nem criado logo e já um ghetto social.[34] Seis
décadas depois do primeiro rol de 1839 que refere abertamente a Cova de Milho, parte
substancial da propriedade dali ainda se encontrava nas mãos de gente que vivia
fora do bairro. Onde? Em ruas respeitáveis da Ribeira Grande ou fora da Ribeira
Grande (Ponta Delgada e Povoação).[35] Outra
hipótese (confrontando a Matriz com róis posteriores): a partir daí, década
inicial do século XX, acentuar-se-ia a tendência para a propriedade passar para
as mãos de residentes do bairro. O rol de 1910, é deveras elucidativo. O bairro
atinge então um número máximo de moradias e de moradores: trinta e uma moradias
e noventa e seis moradores.[36] O
bairro era bastante diversificado do ponto de vista profissional. Havia um
marceneiro e um entalhador (Araújo Lima). Com fama que ia além da terra. Um
adelo. Um bolieiro. Um arrieiro. Três peixeiros. Dois pescadores. Três
agueiros, um dos quais chefe. E sete camponeses. Desse ponto de vista, a Cova
do Milho era, então, digo-o à confiança porque conheço razoavelmente a história
da terra, um lugar igual a tantos outros da Ribeira Grande. Porém, azar seu, ao
contrário daqueles, dava muito nas vistas por estar à vista do poder da Vila.
Havia planos a avançar para o Largo da antiga Fonte Grande (retirada em 1913). A
construção do Teatro já era mais do que uma intenção. À luz do urbanismo de
então, o Bairro da Cova do Milho tinha os dias contados. Era um espinho cravado
no prestígio da Vila com pretensões a Cidade. Em 1914, sai no Correio do Norte a sua sentença de morte.[37] Aos poucos, ao longo de quatro décadas, as sucessivas
vereações, compram ou trocam casas dali, até que em 1963 ‘o bairro infecto da Cova de Milho’ ‘[se] transformou num Parque Infantil. (…).’[38] Em
1965, Arantes e Oliveira, Ministro
das Obras Públicas de Salazar, foi o padrinho. António A. Mota Moniz era o
Presidente da Câmara.
Cova do Açougue (ex.), Cidade da
Ribeira Grande
[1] ‘O topónimo ribeiragrandense Cova do Milho
veio até aos nossos dias.’ Disse Francisco Carreiro da Costa. SDUAÇ., Fundo Carreiro da Costa, Texto
de uma palestra radiofónica, Carreiro da Costa, De covas, covões e coveiros,
p.2.
[2] Talvez
houvesse diferença entre o de e o do, mas por aqui quer-se dizer o mesmo de uma
ou de outra maneira. Será que não havia?
[3] Pereira, António
dos Santos, Ribeira Grande (S. Miguel – Açores) no século XVI, Vereações
(1555-1578), CMRG, 2006. Tocam ao de leve no ano de 1579. E 1556.
[4] Abro
um parêntesis: desde sempre houve outro tipo de milho: o europeu.
[5] No Rol Quaresmal da Matriz de Nossa
Senhora da Estrela daquele ano.
[6] Seria possível
com uma pesquisa minuciosa rol a rol.
[7] Na
realidade, a cova abaixo da ponte do Paraíso,
eram duas: a do Açougue, na margem direita e a do Milho, na margem esquerda.[7]
A do Açougue deve andar ligada à construção ali do Açougue Municipal.
[8] A casa seria a última
da rua do Saco ou a primeira da Cova do Milho?
[9] Rego, Margarida
Vaz do, O milho nos finais de setecentos
na Ilha de São Miguel, p. 176. Sem ela, não se podia libertar o trigo para
exportação. Isso é o que nos diz, colocando sempre reticências, a investigadora
de História Margarida Vaz do Rego.
[10] AMRG, Acórdão
1767-1779, 7 de Outubro de 1769, fl. 61-62 v. Cf. Rego, Margarida Vaz do, O
milho nos finais de setecentos na Ilha de São Miguel, p. 176. ‘O Conde da
Ribeira Grande ‘deixa livremente toda a sua renda de milho na terra.’ Moura, Mário, A Mortalidade
nas paróquias de Nossa Senhora da Estrela e Nossa Senhora da Conceição da
Ribeira Grande nos anos de 1779 a 1782 (subsídio para o estudo da demografia
histórica), Ribeira Grande, Trabalho para o Doutoramento em História do
Atlântico. 20 de Dezembro de 2012. Porque haviam comido todo o milho que
escapara ao temporal de Agosto de 1779 assim como a semente reservada à
sementeira do ano agrícola, muitos, sobretudo os mais pobres, morreram à fome.
Não importa de milho ou de trigo.
[11] Albergaria, João Soares de, Corografia Açórica ou descrição
(…), 1822: ‘(os) seus habitantes (…) têm grandes lavouras de milho, e
trigo, frutas, fava e feijão; e alguma vinhaça; muitos gados; cultivam os
melhores linhos; são abastados de todas as produções da ilha.’ É possível que
fosse de milho. Aliás, já em 1822, o
milho figurava entre as principais produções da Ribeira Grande. A União,
Ribeira Grande, 26 de Março de 1857. Temia-se que, por um erro de cálculo,
pudesse advir uma crise frumentária. E, três décadas depois, em 1857, o milho
era mesmo considerado a base da ‘alimentação
das populações.’
[12] Onde ficava a
mãe de água dele? Junto ao quebradouro do moinho do Açougue próximo dos cubos?
E o do moinho junto à ponte dos Oito Arcos? Foi construído depois do do tio
Arrenegado ter sido desactivado?
[13] Testemunho de
Rui Martins, 13 de Novembro de 2025.
[14] Silva, Ezequiel Moreira da, Coisas da Ribeira Grande, A Cova do Milho,
Correio dos Açores, 5 de Abril de 2009, p. 27: Para dar o golpe mortal a
argumentos em contrário, remata: ‘Ainda
mais cientes de que elas devem ter sido, por mais do que uma vez, presa fácil
para as enxurradas que a ribeira que as ladeia por vezes trazia.’
[15] E há ainda mais uma possibilidade de ter
havido ali milho. Quem nos diz que as primeiras casas dali fossem construídas
antes do cultivo do milho entrar em força? Portanto, haveria assim a possibilidade
de haver um pouco mais de espaço.
[16] Testemunho de
José Afonso ‘Casinha,’ 14 de Novembro de 2025: E as Covas da Ribeirinha? Aquilo tudo pertencia ao Marquês da Praia e
Monforte. O caminho das Covas era assim por causa da água. Estreita e difícil
de transitar. Cultivava-se milho? Milho, trigo toda a novidade. Aquilo ali é
uma cova, uma depressão no terreno? É, vai de uma ponta à outra da entrada para
Santa Iria à Chã das Gatas nas barrocas do Mar.
[17] Carreiro da
Costa, Francisco, Tradições, costumes e Turismo, Da guarda do Milho, p. 2. ‘Então [antes de 1840’s] esgalhava-se o milho e quase que se
debulhava logo depois para arrumar o grão nas arcas e nos sacos, nos
arquibancos e nas caixas. Agora – e mais uma vez – o milho é amarrado e
dependurado nas toldas e nos cafuões, ainda encamisado, aí se conservando ao ar
livre.’
[18] Oliveira,
Ernesto Veiga de, Benjamim Pereira e Fernando Galhano, Tecnologia Tradicional
dos Açores, 1987, pp. 71-85; Monte Alverne, Agostinho de, Crónicas da Província de S. João Evangelista das Ilhas dos Açores,
Volume II, 1961, p.334. Para um período anterior a 1840. Para graneis, na
Ribera Grande, há provas. A propósito da enchente de 1667, Frei Agostinho de
Monte Alverne relata: ‘Levou da rua da
Praça treze casas e um granel quase todo (…).’ Já Frutuoso dera igualmente
conta deles. De um granel do Concelho.
[19] Mesmo
que, até ao momento, não se tenha encontrado nenhuma.
[20] As
primeiras duas fotografias foram reproduzidas em postal. Passariam a ser
imagens icónicas da Ribeira Grande. Nas duas primeiras imagens, o bairro
aparece porque a máquina não o pôde evitar. O autor pretende registar a nova
ponte. A planta topográfica acompanha um projecto de captação de água potável.
A terceira imagem, foca o bairro, pois, pretende registar os estragos da cheia
de 9 de Agosto de 1919.
[21] O
que me leva a arriscar essa data? Tanto quanto me é dado perceber, a fotografia
não mostra colunas de iluminação. Essas, são anunciadas por um jornal em
Fevereiro de 1896: vão ser colocadas na ponte colunas de iluminação. Cf. A Vara
da Justiça, Ponta Delgada, 15 de Fevereiro de 1896, fl. 3: ‘Noticia um colega que na nova ponte da
Ribeira Grande vão ser colocadas colunas para a iluminação.’ Em finais de
Maio de 1895 a muralha norte da ponte estava quase concluída. Cf. Diário dos Açores, Ponta Delgada, 21 de
Maio de 1895, p. 1: ‘Está quase concluída a muralha do lado norte da ponte nova
da Ribeira Grande.’ E perto de 1895 também porque no canto inferior
esquerdo (do observador) esta o nome do gravador P.M.gr. Ora esse gravador, em
1895, fez um trabalho para o jornal O Norte. Cf. O Norte, Ribeira Grande, n.º
31, 14 de Dezembro de 1895, fl. 1: Em finais do ano de 1895, o jornal O Norte, do Padre Cristiano, publica na
primeira página uma fotografia de perfil do Padre Sena Freitas. No seu canto
inferior direito vem assinada: ‘P.
Marinho gr (?).’ Portanto depois de 1894, quando a ponte está já aberta ao
trânsito. Talvez tenha sido essa e a seguinte tirada pelo fotógrafo
ambulante: António Correio Mendonça. Cf. A Ribeira Grande, Ribeira Grande, II
Série, N.º 20, 5 de Dezembro de 1894, fl. 2: ‘O hábil fotógrafo sr. António Correia de Mendonça está a sair dos
Fenais da Ajuda para a Vila da Povoação. Depois de se demorar ali quinze dias
voltará à Ribeira Grande, onde se demorará algum tempo. É aproveitar da
oportunidade que pode ser se não repita.’ Na pior das hipóteses antes da
remição em 1913 da Bica (Fonte Grande). Que a imagem foi captada de um ponto
junto à Fonte Grande: de Sul para Norte.
[22] A ribeira corre
livremente entre pedras. Na margem direita, entreve-se o telhado da casa que
poderá corresponder ao moinho do Tio Arrenegado. Atribuição através da recolha
oral. Em 1986, um velhote de mais de noventa anos, assim o disse.
[23] Porque digo que
terá sido o mesmo autor e na mesma altura? O mesmo estilo. A mesma intenção de
cobrir todo aquele espaço. Analisando a ribeira e as casas daquele ângulo,
completa o ângulo anterior. Que a imagem foi tirada do meio da própria ribeira,
num local muito próximo da ponte dos Oito Arcos.
[24] Uma calha em
madeira que conduz a sobra da água do moinho do Açougue (na margem direita) que
atravessava para a margem esquerda junto à ponte pequena. Juntando a sua água à
do Moinho da ponte dos Oito Arcos. Onde ficava a mãe de água do moinho do
Arrenegado? Era comum à do Açougue? Os três moinhos dali de baixo pertenceriam
ao mesmo proprietário?
[25] Informação de
Domingos Oliveira. Em 1993, ou próximo dessa data, quando falei com ele,
passava dos 90 anos de idade.
[26] Conforme conversa que Pedro Pascoal me transmitiu da mãe, uma senhora de 91 anos, 14 de Dezembro de 2025.
[27] Planta
da Vila da Ribeira Grande. Projecto para a captação da água potável, [Faz parte
de um projecto, cuja pasta é datada de 1906/1907. Copiado por Luís Maria
Xavier;
[28] AMRG, Freguesia
Matriz, Matriz Rústica, Artigos 1 a 1255, Vol. N.º 31
[29] Frei Agostinho
chama-a de ponte de Vila Franca. Parece-me que se lhe refere. Não tenho a
certeza, porém.
[30] AMRG, Freguesia
Matriz, Matriz Rústica, Artigos 1 a 1255, Vol. N.º 31, 714-717.
[31] [Ezequiel Moreira da Silva?], A catástrofe de
sábado, Ecos do Norte, 16 de Agosto de 1919, p. 1: ‘Estiveram também aqui, na quinta-feira [14 de Agosto], os senhores
Jacinto Óscar Dias Rego [genro de Toste] e José Pacheco Toste, que vieram tirar
fotografias dos diversos lugares onde são maiores os estragos.’ Os seus autores
foram seguramente José Pacheco
Toste e o seu genro Jacinto Óscar Dias Rego.
[32] Já não se vê o
arco do cabouco, que me pareceu ver na de 1895. Mas há um caminho que passa em
frente vindo talvez de dois lados. Do caminho do Açougue. E da rua que vinha do
largo (agora) na parte posterior do edifício da Câmara. Ezequiel não fala nesse
moinho.
[33] A crónica de Ezequiel Moreira da Silva
no seu Ecos do Norte conta-nos os
estragos com mais detalhes. A[Ezequiel Moreira da Silva?], A catástrofe
de sábado, Ecos do Norte, 16 de Agosto de 1919, p. 1. água ‘na sua
passagem (levou) uns casebres existentes na antiga cova do Açougue e inundando
o moinho do sr. António Moniz. A ponte que da Cova do Milho dava passagem para
esse moinho, ficou sem
parapeitos e com parte do pavimento destruído. (…).Por um triz, o bairro
não foi arrasado: ‘(…) muita água seguiu
pela ladeira, abrindo covas de cerca de dois metros de altura e alodando as
casas.’ Houve danos: ‘(…) pelo lado
da ribeira, foram arrebatadas três casas (…) ficando ainda outras seriamente
danificadas (e) alguns quintais plantados de vinha. O moinho junto da ponte
Grande, ficou quase soterrado sob a inundação das águas e outros destroços.’
[34] AMRG, Freguesia
Matriz, Matriz Rústica, Artigos 1 a 1255, Vol. N.º 31
[35] Dois proprietários moravam na muito respeitável e poderosa rua de João do Outeiro, em 1899, havia um Padre, na Matriz, na Conceição, na rua da Ponte Nova, na rua detrás da Matriz. Gente que morava no Bairro, mas era natural de Ponta Delgada. Sílio Peixoto, filho de João Albino Peixoto, era proprietário. Manuel Raposo Marques.
[36] Róis de
Confessados, Matriz, 1910.
[37] Correio do Norte, Ribeira Grande, N.º 15, 12 de Setembro de 1914,
p. 2. ‘Cova do Milho/ Um alvitre: ‘Aquilo precisa ser
suprimido mais tarde ou mais cedo. Bem sabemos que a edilidade tem mais em que
pensar e sobretudo em que despender o dinheiro do cofre municipal, mas o
melhoramento é urgente em defesa do bom gosto, da estética e até mesmo da
higiene. Antegozamos já o aspecto da nossa linda vila, porque é sem lisonjas ou
patriotismos exagerados, logo que fosse
possível remover dali aquele amontoado de casas gretadas, negras, que barram o lindo
quadro e a paisagem cheia de bem combinadas tintas que se desfruta da ponte
a que vulgarmente chamamos do Paraíso, como ao local em questão ‘Cova do Milho.’
[38] Pereira, Ventura Rodrigues, A Ribeira Grande e a sua gente. Cova do
Milho, Diário dos Açores, Ponta Delgada, 7 de Março de 1963, pp. 1, 3.


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