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Águas da Ribeirinha - XXIV






Águas da Ribeirinha - XXIV

Ribeirinha ‘com nome diminutivo por ser mais pequena que a ribeira Grande, sua vizinha.[1] É uma única ribeira, mas na Ribeirinha tratam-na por ribeira Velha, o que pressupõe que haja uma nova, que pode ser o outro nome dado à levada da rua dos Moinhos; e nas Gramas - Lugar da Ribeirinha -, conhecem-na por ribeira das Gramas.[2] De água permanente, é a terceira ribeira da Cidade. Nasce nas Lombadas, atravessa as Gramas de Cima e de Baixo, passa pelo centro da freguesia e cai no mar na Regueira. Com as ribeiras do Salto e do Rosário, que também nascem nas Lombadas, mas que se juntam a meio do percurso, forma uma segunda sub-bacia hidrográfica da Bacia Hidrográfica da Ribeira Grande. Esta última ribeira, termina nas Prainhas, secret spot de surfistas que (mercê de um excelente fundo rochoso) ali encontram ondas super boas. Águas que alimentavam uma levada idêntica à da Condessa, no entanto, enquanto a da Condessa atingiu 2500 metros de extensão, a da Ribeirinha atingiu 900 metros; enquanto a primeira chegou a ter catorze moinhos, a segunda, apenas três.[3] Eram (porém) os três melhores da Ribeirinha. Águas que abasteciam (também) as levadas de muito menor dimensão (e individuais) dos moinhos de ribeira das Gramas à Rocha. E forneciam a água (de Maio - Junho a Setembro - Outubro) a quatro (extensos) canais de onde brotavam os regos que molhavam campos e quintas até à margem nascente da ribeira Grande.[4] Nos seus tempos áureos, vistos do alto, estes quatro canais e regos, teriam o aspecto de uma gigantesca teia. Ao seu nível, essa fabulosa rede não ficará atrás de outras mais obras criadas pela mão do Homem, entre outras, a janela manuelina, a fachada barroca da ermida do Espírito Santo, o fontenário quinhentista abraçado (mas – caso raro -, não destruído) pela lava em 1563. Ou de obras criadas pela acção da natureza, entre outras, o Pico Arde e Vermelho (maravilhas da natureza a serem sistematicamente aniquiladas). Essa rede de canais, de regos e de levadas (graças à condição única geomorfológica do Graben da Ribeira Grande) constituiu caso único nesta Ilha e nas restantes oito dos Açores. Pode até dizer-se que sem ela, a Ribeira Grande não teria sido o que foi. Essa raríssima jóia deve merecer a nossa (incondicional) gratidão. E reconhecimento.[5]

A Ribeirinha surge associada à Ribeira Grande já nos primórdios do povoamento do ainda Lugar da Ribeira Grande.[6] Foi sempre (e ainda é) uma das jóias mais preciosas e úteis da (então Vila e hoje cidade da) Ribeira Grande: dela vinha a água da rega (para a banda nascente) e por ela a Vila se ligava ao exterior (através do porto de Santa Iria, hoje arruinado e abandonado pela Região).[7] Nos seus tempos de maior glória, a água daquelas ribeiras - Velha e das Gramas -, incluindo a que corre na levada dos três moinhos, moveu (das Gramas à Regueira) uns onze a doze moinhos. Hoje, não há moinhos.[8] Quero aqui (apenas) tentar perceber a Historia possível desses moinhos.[9]

Vamos ao início (que importa a esta narrativa) da Ribeirinha? Já havia povoadores naquela área antes de 1474, porém, o grande empurrão no desenvolvimento (dali e de toda a Ilha) é posterior a 1474. Ficou a dever-se à acção do capitão do donatário Rui Gonçalves da Câmara (que adquiriu o cargo justamente em 1474). No que se refere à Ribeirinha, importa seguir os passos do filho António Rodrigues da Câmara (que se veio juntar ao pai e a outros dois irmãos). Na área da Ribeirinha, António Câmara possuiu uma vastíssima propriedade.[10] Partia ‘da parte do Norte com barrocas do Mar, e da parte do Noroeste, com a Ribeirinha, e da parte do Levante com os Herdeiros de Rui Vaz do Trato [outro dos primeiros povoadores da Ribeira Grande. Que chega aos Jácome Correia e aos Hintze] (…), e da parte do Sul com as cumeeiras da Serra do Bulcão [Lagoa do Fogo em 1508 antes da erupção de 1563].’[11]

Com esse valioso património (sobretudo) fundiário, mas não só, António da Câmara instituiu em Abril de 1508 um morgadio e a Capela dos Santos Reis Magos na igreja de Nossa Senhora da Estrela (que ainda hoje lá está).[12] De que dispunha essa propriedade? ‘(…) casas, terras, pomares, vinha, (…) engenhos, ribeira, casa e chãos, com todas suas entradas e saídas, direitos, pertenças, logradouros, servidões (…).’[13] E, para o caso que nos interessa: ‘uma água que se chama Ribeirinha com que mói o seu engenho de pastel.’[14] Um esclarecimento: serão os engenhos aqui referidos (de forma genérica) moinhos de cereais? Não.[15] Quanto aos moinhos de cereais (que é o que aqui me interessa), só o capitão ou quem ele assim entendesse poderia tê-los. Pois, o pai de António Rodrigues da Câmara (e depois o seu irmão como novo capitão por morte do pai) gozava do monopólio dos moinhos de cereais: ‘haja para si todos os moinhos que houver em a dita Ilha de que lhe assim dou carrego e que ninguém não faça aí moinhos senão ele,’ mas (caso o desejasse) poderia haver excepções ‘ou a quem a ele prouver.’[16] Será que o pai - ou depois os irmãos -, lhe permitiram construir um moinho de cereal na Ribeirinha? Tanto quanto se conhece, não. Porque só o Conde podia legalmente construir (ou deixar construir) moinhos nas ribeiras, em 1819, estava a decorrer ‘uma acção de força contra António Lopes Pereira’ por haver construído um moinho na Ribeirinha (certamente de ribeira).[17]  Na perspectiva do monopolista (o Conde), não havia necessidade (nem interesse) construir moinhos na Ribeirinha, pois, os potentes moinhos da ribeira Grande davam bem conta do recado. Sabe-se (todavia) que isso aconteceu (pelo menos) numa situação dramática e excepcional. Como foi o caso da peste de 1526/7. Nessa altura, na ribeira do Salto, diz-nos Frutuoso, foi construído um moinho de cereais.[18] O Capitão Rui Gonçalves, neto do primeiro Rui Gonçalves, na altura a residir no Cabouco, permitiu-o.

Quando terão (então) sido construídos os primeiros moinhos na Ribeirinha já com carácter permanente? A hipótese mais segura (por ora) é de terem surgido (algures) em data posterior a 1766. Porquê então? Porque a partir daquela data permitia-se aos donos de ‘águas particulares,’ que era o caso dos morgados sucessores de António Câmara, em querendo -, que as usassem para levantarem (construírem) ‘moinhos.’[19] Será que aproveitaram aquela lei? Tinham nascentes dentro dos seus terrenos. Não o terão feito porque dariam moinhos fracos? Pouco competitivos. Se não o fizeram então, antes de 1819, como antes se escreveu, António Lopes Pereira fez um (ilegalmente) de ribeira. Que apesar da acção do Conde movida contra ele, fruto dos novos ventos liberais que sopravam forte, pode ter continuado a existir.[20] Onde teria construído aquele moinho? Junto à ribeira ou na levada que vai à rua dos Moinhos? Não sei. Seja qual for a resposta, pela primeira vez, aparece nos róis quaresmais desse ano a rua dos Moinhos.[21] Por várias razões (mais indícios), suspeito que naquele ano já ali existissem dois ou três moinhos. Primeiro: diz-se rua dos moinhos e não rua do moinho. Segundo, aquela rua conduz aos actuais moinhos alimentados pela levada dos três moinhos em causa. Terceiro (e isso vem ao que me interessa): os terrenos por onde a levada passa pertenciam (quase de certeza) ao Morgadio instituído por António da Câmara em 1508.[22] Por isso, admito a possibilidade de já ali existirem dois ou três em 1826. Em 1848, são mencionados (sem os identificar) três moinhos (aqui classificados como azenhas).[23] Serão os três da levada? Se esses três ainda pertenciam ao sistema da levada da rua dos Moinhos, então quando surgem os primeiros moinhos alimentados directamente pela ribeira? Se por qualquer razão (sobretudo legal?) não existissem ainda moinhos de ribeira antes de 1846, quaisquer (possíveis) obstáculos legais seriam removidos pela Lei de 22 de Fevereiro daquele ano. É (precisamente) por essa altura que são construídos novos moinhos na levada da Condessa e na ribeira Grande. Livrando-se à guerrilha legal da bitola do anel da Levada da Condessa na ribeira Grande, na ribeira Velha e na das Gramas (na Ribeirinha e Gramas) constroem-se então cinco moinhos. Quatro destes cinco, pertencem à família Cabido e a Manuel Duarte Silva (este último construíra em 1852 um moinho na levada da Condessa na Mãe de Água). Ambos residem no centro da Ribeira Grande. Já então se verifica a dependência dos moinhos da ribeirinha aos da ribeira Grande. O que se explicará por várias razões: enquanto os moinhos da ribeira Grande chegaram (no seu auge) a dispor de quatro casais de mós (os da Levada da Condessa) e os da ribeira (três), os da ribeirinha/gramas apenas dois casais. Na ribeirinha, os dois melhores moinhos eram os da levada da rua dos Moinhos, sendo o mais potente o de Cima com seis metros de altura de cubo e o do Meio (o segundo) com cinco.[24] Na ribeira Grande, o moinho do Açougue (de ribeira) tem mais de sete metros de cubo. Se os moinhos da ribeirinha, escaparam à guerra do anel, no entanto, não escaparam à obrigatoriedade de fornecer água à rega. A partir de Maio/Junho prolongando-se até Setembro (mais ou menos), a água da ribeirinha (e afins) era desviada para a rega. Não havia outro remédio senão os moleiros da ribeirinha irem moer aos moinhos da ribeira Grande. 

Em 1854, recuando a um, dois ou três ou mais anos, não sei ao certo, o Livro de Registo de contribuições pagas pelos moinhos ao Município da Ribeira Grande para 1854 - 1855, regista já oito moinhos na Ribeirinha. Dos quais, três, nas Gramas.[25] No ano seguinte, são sete (menos um). Acontecem (porém) mudanças significativas: Jacinto Fernandes Gil (futuro Visconde do Porto Formoso) tem um moinho (ou seriam 2?) com quatro casais. Que podem ser os da levada da rua dos Moinhos.[26] Jacinto Fernandes Gil (n. 1821-3? – f. 1892 – Ponta Delgada) em 1869 foi eleito pelo Círculo Eleitoral da Ribeira Grande (leram bem) deputado nacional pelo Partido Regenerador. E em 1871 foi feito Visconde.[27] Voltando aos moinhos, em 1856, passam de sete para doze. E confirmam-se (para além de quaisquer dúvidas) quais eram os moinhos de Fernandes Gil: os três da levada da rua dos moinhos.[28] Um salto de vinte e quatro anos para o ‘Livro de licenças para moinhos 1880-1886.’ Que diferenças se podem aí encontrar? Em 1880 são sete moinhos. De 1880 a 1886, oscilam entre sete (1881 e 1885) e nove (1881-82-1884). Em 1880, o nome de Jacinto Fernandes Gil deixa de figurar e em seu lugar aparece o do Conde da Silvã.[29] Quem é o conde da Silvã (n. 10.2.1800 – f. 22.9.1883)? É ‘D. João de Melo Manuel da Câmara, 13.º e último senhor do morgado da Ribeirinha, primeiro Conde da Silvã.’ Havia recebido o título ‘por decreto de 3.11.1852.’[30] Em 1881, o Conde é proprietário de três moinhos (dos tais).[31] O rol de 1885, identifica-os como sendo os três da levada da rua dos moinhos: moinho de Cima, do Meio e de Baixo. Em 1886, pelo menos dois daqueles três (D. João falecera em 1880) estão no nome (como proprietário? Ou rendeiro?) de ‘Jacinto Cabral Botelho e José Pimentel Frade.[32] Por volta do ano de 1916, as Matrizes Prediais da Estrela (onde se incluía a Ribeirinha) registam onze moinhos.[33] Sete décadas depois, enquanto a memória oral ainda ‘lembrava’ onze, apenas dois moíam.[34] Em 1993, a situação ainda se mantinha.[35]

Em Março de 1968, visitando Ribeirinha, Daniel de Sá rendeu-se ao aspecto da ‘praça ao pé da igreja.’ ‘O que lá mais nos prende a atenção é o leito da ribeira. Antes, era de ruim aspecto como todos que servem de estrumeira…agora, é um verdadeiro jardim (…).[36] E agora? A Junta de Freguesia dignificando (e bem) a memória daqueles moinhos abriu em 2009/2010 – no moinho da rua Direita -, o Museu do Moinho.[37] E a ribeira a montante e a jusante desse pequeno oásis? Infelizmente, padece do mesmo mal da ribeira Grande, da Seca e da Levada da Condessa: efluentes domésticos, vacarias, etc.[38] E exige cura idêntica. Como disse recentemente o filósofo José Gil, ‘a qualidade de vida é agora.[39]

PS: A lindérrima vereda marginal à ribeira trilhada diariamente pelos operários da antiga Fábrica de tecelagem, hoje intransitável, pede que a devolvam às pessoas.[40]

Pedra da Lembrança: e a obra prometida do Porto de Santa Iria? - Cidade da Ribeira Grande (continua)



[1] Frutuoso, Gaspar, Saudades da Terra, Livro IV

[2] Testemunho de José Romão, 2 de Setembro de 2024: ‘Da fabrica das chitas para cima, é a ribeira das Gramas, para baixo da fábrica das chitas para baixo é a ribeira Velha da Ribeirinha.’

[3] Houve um terceiro moinho ao fundo da avenida – ao lado do do Sr. Fulgêncio. O seu arco de cabouco ainda é visível. Mas não terá feito parte destes três.

[4] A construção em meados do século XIX e a de inícios do século XXI, alteraram percursos. Um dos quatro que chegou até nós, vinha do engenho velho no Lameiro e irrigava as suas terras até ao porto de Santa Iria. Outro, colhendo água da Água Férrea e da ribeira, dirigia-se ao caminho novo das Caldeiras e irrigava as terras até à canada Nova (já no centro da Matriz); um terceiro, saía do moinho da rua na Ribeirinha e passando pela rua da Afrizada, à entrada da Ribeirinha, subdividia-se, um ramo para norte até às barrocas do mar, outro, Rosário abaixo, irrigava os terrenos até ao Rosário (na Matriz). Outro rego partia diante do moinho da rua e dirigia-se às Covas.

[5] Continua a tentar encontrar o paradeiro de uma carta dos regos que existiu ou ainda existe no IROA. O seu responsável prometeu-me fazer uma pesquisa.

[6] Antes de continuar a escrever mais uma linha, relembro que até 3 de Agosto de 1948, a Ribeirinha (onde se inclui o Lugar das Gramas) foi Lugar da Freguesia Matriz de Nossa Senhora da Estrela.[6] Apesar de ter sido elevada a Curato em 1674, a paróquia do Santíssimo Salvador do Mundo, independente da paróquia mãe de Nossa Senhora da Estrela, só seria erigida a 25 de Maio de 1956. O seu primeiro templo, já dedicado ao Santíssimo Salvador do Mundo, situado no local onde hoje resta um pequeno adro na subida para o Lameiro, foi mandado construir junto às suas casas por António Gonçalves da Câmara. Tendo ali permanecido até à inauguração em 1826 do templo actual (Curato ainda). E que, a partir de 1981, passou a ser uma das cinco freguesias da cidade da Ribeira Grande.

[7] Dele veio peixe, por lá exportou-se laranja, apanhou-se cachalote. Chegou a ter Alfândega. Pelo movimento e importância, foi um dos três (no máximo quatro) principais portos da Ilha.

[8] Água férrea); a Matriz é abastecida pela nascente dos Pachões (recebe igualmente o excedente da Ribeirinha). Hoje, as duas freguesias citadinas a nascente (Ribeirinha e Matriz) são abastecidas por nascentes que nascem no Monte Gordo: Pachões e Água Férrea (nas Gramas de Cima).

[9] No dia 26 de Setembro, dias depois da publicação deste texto no Correio dos Açores, encontrei um trabalho que me cita e reproduz imagens por mim colhidas entre 1984 e 1986: Almeida, Filipe Silva, Património molinológico: proposta para a preservação e reutilização de um moinho, Universidade Fernando Pessoa, Porto, 2015. Não traz nada diferente: ‘(p.38) Na freguesia da Ribeirinha, o número de moegas varia entre 1 e 2 (…); ‘(p.49) [dá 6 mais dois moinhos?] Na freguesia da Ribeirinha sustentados por água proveniente da ribeira das Gramas, totalizou-se 6 unidades, encontrando-se 3 delas em levadas independentes e as restantes 3, distribuídas ao longo de uma levada.

[10] BPARPDL, Provedoria dos Resíduos de Ponta Delgada. Auto de prestação de contas de vínculos e legados pios, Instituição do Morgado de Antão Rodrigues da Câmara, Santarém, 17 de Abril de 1508, N.º 0095: ‘por títulos de arrematação de compras como por cartas de dadas de seu padre capitão da dita Ilha e de seu irmão Pedro Rodrigues lhe foram dadas de sesmaria.’

[11] BPARPDL, Provedoria dos Resíduos de Ponta Delgada. Auto de prestação de contas de vínculos e legados pios, Instituição do Morgado de Antão Rodrigues da Câmara, Santarém, 17 de Abril de 1508, N.º 0095. Encostado às propriedades de António, havia as do seu irmão Pedro Rodrigues da Câmara.Frutuoso, Gaspar, Saudades da Terra, Livro IV, ICPD, Ponta Delgada, 1998, p. 104. Frutuoso, Gaspar, Saudades da Terra, Livro IV, ICPD, Ponta Delgada, 1998, p. 104: ‘Para poente das de António, atente-se na extensão da propriedade, comparável à de António: ‘cuja largura começava donde está a casa do Espírito Santo [Frutuoso refere-se a ermida do Espírito Santo? Que diz que está junto à praça? Ou a outra casa?], indo para cima até às casas de Henrique de Betencor [Hoje Largo das Freiras. Henrique era filho de Pedro Rodrigues da Câmara], endireitando à Ribeira Grande, e daí, indo pelos chãos de Lopo Dias Homem, correndo por junto do pé do Monte de Trigo [Pico das Freiras], e chegava ao assento de Rui Gago da Câmara, onde vivia Manuel Vaz [Já na Ribeirinha?], e daí descia para o mar e ia ter ao assento de Pero Dias, da Achada, pelo que eram muitos moios de terra (…).

[12] BPARPDL, Provedoria dos Resíduos de Ponta Delgada. Auto de prestação de contas de vínculos e legados pios, Instituição do Morgado de Antão Rodrigues da Câmara, Santarém, 17 de Abril de 1508, N.º 0095.

[13] BPARPDL, Provedoria dos Resíduos de Ponta Delgada. Auto de prestação de contas de vínculos e legados pios, Instituição do Morgado de Antão Rodrigues da Câmara, Santarém, 17 de Abril de 1508, N.º 0095: ‘‘(…) Uma quintã com suas terras de pão, matos, pastos, águas, com suas casas, granéis, seleiros, engenhos, vinhas, pomares, com todas outras pertenças.

[14] BPARPDL, Provedoria dos Resíduos de Ponta Delgada. Auto de prestação de contas de vínculos e legados pios, Instituição do Morgado de Antão Rodrigues da Câmara, Santarém, 17 de Abril de 1508, N.º 0095.

[15]Carta da Infanta D. Beatriz de doação (e confirmações) da Capitania da Ilha de São Miguel a Rui Gonçalves da Câmara e da sua compra a João Soares, em 10 de Março de 1474, Manuel Monteiro Velho Arruda, Colecção de Documentos relativos ao descobrimento e povoamento dos Açores, Instituto Cultural de Ponta Delgada, 1977, p. 170. Os textos parecem distinguir o moinho de cereais das demais máquinas. Leia-se a Carta de 1474 da Infanta D. Beatriz ao capitão: ‘(...) e assim o façam seus herdeiros e das serras de água e outros quaisquer engenhos haverá o direito que têm os capitães da Ilha da Madeira (…).’ Frutuoso, por seu turno, no século seguinte, distingue perfeitamente engenho de moinho. Apesar de o termo engenho se referir também a moinhos de cereal, era mais vulgar designar assim os engenhos de pastel ou as serras de água.

[16]Carta da Infanta D. Beatriz de doação (e confirmações) da Capitania da Ilha de São Miguel a Rui Gonçalves da Câmara e da sua compra a João Soares, em 10 de Março de 1474, Manuel Monteiro Velho Arruda, Colecção de Documentos relativos ao descobrimento e povoamento dos Açores, Instituto Cultural de Ponta Delgada, 1977, p. 169. Ficavam (apenas) de fora: ‘mó de braço que a faça quem quiser não moendo outrem em ela e não façam atafonas.’

[17] Nota acrescentada hoje dia 9 de Outubro de 2024: BPARPD/FAM/RG/12/30730.22, Requerimento do Conde da Ribeira para certidão dos réus acusados de terem construído nas ribeiras públicas (de que tem o monopólio) Grande, Ponta Delgada, 30 de Abril de 1819.

[18] Apesar de o cronista não aludir a moinhos na ribeirinha ou na do Salto na crise de 1563/64, seria imprudente excluir essa hipótese. Um desenrasque apenas. Em 1525, as águas da ribeirinha e da ribeira do Salto haviam ajudado a rasgar o caminho para o porto da Vila da Ribeira Grande: porto de Santa Iria.

[19] Carta Régia para o mesmo Dom Antão de Almada, Palácio da Ajuda, 15 de Setembro de 1766, in O Códice 529 - Açores. Introdução e fixação do texto por José Guilherme Reis Leite. Angra do Heroísmo, Secretaria Regional da Educação e Cultura, 1988, p.177: ‘1766: ‘A liberdade, em que ficavam os mesmos moradores de usarem dos seus fornos, engenhos de bestas nas suas casas, e fazendas, e de se servirem das suas águas particulares para os moinhos que com elas lhes parecesse levantar, dando-lhes aquelas aplicações, que lhe pudessem ser mais úteis, e proveitosas.

[20] Se entre 1766 e 1821, não fora construída aquela levada, a partir de 1821, com os Direitos Banais abolidos, já haveria ali moinhos. Joel Serrão, Dicionário de História de Portugal, Livraria Figueirinhas, Porto, 1985. v. 2, p.320; Açoriano Oriental, 29 de Maio de 1841: Anúncios. Moinhos. Hão-de ser arrematados por quem der mais, de aforamento perpétuo, os oito (8) moinhos da mesma Vila (Ribeira Grande).’; João Adriano Ribeiro, Moinhos nos Açores: elementos para o seu estudo, Islenha, Funchal, n.º 20, Janeiro - Junho de 1997 p.40: ‘Os privilégios dos donatários terminaram com a lei dos Direitos banais em 1821 [Decreto de 20 de Março de 1821 que suprimiu muitos deles e a lei de 22 de Fevereiro de 1846 que os declarou abolidos]. Foi a partir de então que qualquer proprietário pôde construir o seu próprio moinho e deixar de se submeter às arbitrariedades do donatário, depositadas nas mãos do rendeiro.’

[21] Já havendo, no entanto, moradores (que antes eram identificados como residentes da rua de São Salvador) em 1825, presume-se que já houvesse moinhos antes de 1826. Q.uanto tempo antes?

[22] A levada em causa tem actualmente cerca de 900 metros. Capta a água na ribeira das Gramas.

[23] Teófilo de Braga, Percurso pedestre à Ribeirinha, Amigos dos Açores, 1993: ‘Curiosamente, de Janeiro a Maio de 1848, três azenhas desta localidade moeram cerca de 65 moios de milho e 23 moios de trigo.’

[24] Testemunho de Romão Barbosa, 7 de Setembro de 2024.

[25] AMRG, Livro de Registo de contribuições pagas pelos moinhos ao Município da Ribeira Grande, 1854-1857, volume 66, 1854-1855: ‘Três localizados nas Gramas: ‘Manuel Duarte Silva, Gramas – 1 casal,’ que morava na rua da Ponte Nova e havia construído em 1852 um moinho na levada da Condessa, na Mãe de Água; José António Ferreira Cabido, com 2 casais e o irmão Augusto César Ferreira Cabido, da rua Detrás da Matriz, também com 2 casais. Na ribeira Velha, ou da Ribeirinha, José António Ferreira Cabido. Dispunha de outro, também com 2 casais. Seria da levada? Manuel de Sousa, ribeira da Ribeirinha, 2 casais. Esse corresponderá ao moinho da rua. Bento José de Paiva Lopes, Ribeirinha, Ribeirinha, 2 casais. António Moniz Afonso, Ribeirinha, 4 casais. E Maria de Jesus Praça, Ribeirinha, ribeira da Ribeirinha, 2 casais.

[26]AMRG, Livro de Registo de contribuições pagas pelos moinhos ao Município da Ribeira Grande, 1854-1857, volume 66, 1855-1856.

[27] Leite, José Reis, Gil, Jacinto Fernandes (1.o visconde de Porto Formoso), Enciclopédia Açoriana, Centro do Conhecimento dos Açores: Sendo um comerciante de sucesso, ao contrário da generalidade dos actuais, foi ‘um grande benemérito apoiando financeiramente diversas instituições de solidariedade da ilha de São Miguel, às quais entregou sempre os seus rendimentos de deputado.’

[28] AMRG, Livro de Registo de contribuições pagas pelos moinhos ao Município da Ribeira Grande, 1854-1857, volume 66, 1856-57. As famílias Cabido e Duarte Silva – residentes no centro da Ribeira Grande -, insista-se: destacam-se desde o princípio como proprietários de moinhos na área.

[29] Fernandes Gil Fernandes (talvez apenas rendeiro) estava a viver em Lisboa e terá preferido passar os moinhos.

[30] Rodrigo Rodrigues, Genealogias de São Miguel e de Santa Maria. Viveu repartido entre Lisboa, Ribeirinha e Ponta Delgada.

[31]Cada um com dois casais de mós.

[32] AMRG, Livro de licenças para moinhos 1880-1886, Livro 3, Volume 115: ‘residem na Ribeirinha, moinho na rua dos Moinhos, dois casais de mós; e de novo José Cabral Botelho, reside na Ribeirinha, situado na rua dos Moinhos, identificado como moinho do meio, 2 casais de mós.

[33] AMRG, Matrizes Prediais, Estrela (inclui Ribeirinha), [1916: data mais próxima] pesquisa 5 de Setembro de 2024.

[34] Entrevista de Mário Moura a António Vieira, 92 anos, 1986. Informação corroborada em 1988, cf. Trabalhos elaborados por alunos, Ribeirinha, Coordenação Concelhia de Educação Permanente da Ribeira Grande, Feijó, Álvaro, Ribeirinha: Uma Viagem no tempo, 2017, p. 106.

[35] Teófilo de Braga, Percurso pedestre à Ribeirinha, Amigos dos Açores, 1993.

[36] Daniel de Sá, Ribeirinha, Açores, 24 de Março de 1968, pp. 1, 7: ‘Em grande parte destes benefícios há a destacar a acção do Senhor José Moniz Furtado, actual Presidente da Junta de Freguesia, bem como o Senhor Alfredo Cabral Botelho, secretário da mesma.’

[37] Testemunho de José Carlos Garcia, 12 de Setembro de 2024: A Junta de Freguesia da Ribeirinha – no mandato do Presidente Eugénio Salvador -, recebeu do Lameiro em 1998 a posse do Moinho que fora explorado pela Sr.ª Conceição Barbosa (Moleira).[37] A ideia da sua transformação em museu, porém, já vinha do mandato de Álvaro Feijó. Porém, tal só veio a se concretizar em 2009/2010, no mandato de José Carlos Garcia. Testemunho de António Cymbron, 14 de Setembro de 2024: Na década de quarenta, a minha sogra – a pedido da Conceição Moleira -, comprou-lhe o moinho. A partir daí o Lameiro dava água ao moinho. A minha esposa, Ana Hintze Cymbron, facilitou (cedendo a sua parte) a passagem dele para a Junta na condição de fazerem ali um museu. Segundo neta do proprietário (17 de Setembro de 2024) temporariamente indisponível, a levada carece de limpeza, o moinho de cima abre as suas portas a quem o queira visitar. 

[38] Sofrem outro tanto com as enxurradas: em 1919, na década de 1990 e recentemente a do dia 3 de Junho de 2024. Além disso, a freguesia citadina da Ribeirinha está só parcialmente coberta pela rede doméstica municipal de saneamento. Que as correntes arrastam (por vezes) até às Poças e ao Monte Verde? E a das Prainhas? Idem.

[39] Joaquim Paulo Nogueira, À conversa com José Gil, Tempo Livre, Inatel, Setembro - Outubro de 2024, p.7.

[40] É uma selva amazónica de esgotos domésticos (alguns disfarçados). Animais deambulam pela ribeira, outro pastam próximo. Isso a montante e a jusante. Quase a chegar à foz, uma unidade industrial de areia. Para além de vacarias. A levada é também usada para outros fins.

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Clubes (Parte IV) Clubes? ‘ Os treinadores fizeram pressão para que se criasse uma verdadeira associação de clubes .’ [1] É assim que o recorda, quase uma década depois, Luís Silva Melo, Presidente da Comissão Instaladora e o primeiro Presidente da AASB. [2] Porquê? O sucesso (mediático e desportivo) das provas nacionais e internacionais (em Santa Bárbara e no Monte Verde, devido à visão de Rodrigo Herédia) havia atraído (como nunca) novos candidatos ao desporto das ondas (e à sua filosofia de vida), no entanto, desde o fecho da USBA, ficara (quase) tudo (muito) parado (em termos de competições oficiais). O que terá desencadeado o movimento da mudança? Uma conversa (fortuita?) na praia. Segundo essa versão, David Prescott, comentador de provas de nível nacional e internacional, há pouco fixado na ilha, ainda em finais do ano de 2013 ou já em inícios do ano de 2014, chegando-se a um grupo ‘ de mães ’ (mais propriamente de pais e mães) que (regularmente) acompanhavam os treinos do...

Moinhos da Ribeira Grande

“Mãn d’água [1] ” Moleiros revoltados na Ribeira Grande [2] Na edição do jornal de 29 de Outubro de 1997, ao alto da primeira página, junto ao título do jornal, em letras gordas, remetendo o leitor para a página 6, a jornalista referia que: « Os moleiros cansados de esperar e ouvir promessas da Câmara da Ribeira Grande e do Governo Regional, avançaram ontem sozinhos e por conta própria para a recuperação da “ mãe d’água” de onde parte a água para os moinhos.» Deixando pairar no ar a ameaça de que, assim sendo « após a construção, os moleiros prometem vedar com blocos e cimento o acesso da água aos bombeiros voluntários, lavradores e matadouro da Ribeira Grande, que utilizam a água da levada dos moinhos da Condessa.» [3] Passou, entretanto, um mês e dezanove dias, sobre a enxurrada de 10 de Setembro que destruiu a “Mãn”, e os moleiros sem água - a sua energia gratuita -, recorriam a moinhos eléctricos e a um de água na Ribeirinha: « O meu filho[Armindo Vitória] agora [24-10-1997] só ven...

Quem foi Madre Margarida Isabel do Apocalipse? Pequenos traços biográficos.

Quem foi Madre Margarida Isabel do Apocalipse? Pequenos traços biográficos. Pretende-se, com o museu do Arcano, tal como com o dos moinhos, a arqueologia, a azulejaria, as artes e ofícios, essencialmente, continuar a implementar o Museu da Ribeira Grande - desde 1986 já existe parte aberta ao público na Casa da Cultura -, uma estrutura patrimonial que estude, conserve e explique à comunidade e com a comunidade o espaço e o tempo no concelho da Ribeira Grande, desde a sua formação e evolução geológica, passando pelas suas vertentes histórica, antropológica, sociológica, ou seja nas suas múltiplas vertentes interdisciplinares, desde então até ao presente. Madre Margarida Isabel do Apocalipse foi freira clarissa desde 1800, saindo do convento em 1832 quando os conventos foram extintos nas ilhas. Nasceu em 1779 na freguesia da Conceição e faleceu em 1858 na da Matriz, na Cidade de Ribeira Grande. Pertencia às principais famílias da vila sendo aparentada às mais importan...