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BERÇO









Berço

Um olho nas ‘gémeas do Norte’ (Monte Verde e Santa Bárbara), outro na ‘trindade do Sul’ (Pópulo, Milícias e São Roque).[1] Por uma razão: a História das três do Sul poderá (eventualmente) lançar (alguma) luz sobre a História (passada e futura) das duas do Norte. Espero. Vamos a isso? Se o dia 24 de Dezembro de 1980 (nas Milícias) é aceite como o local e a data em que o surf (actual) nasce na Ilha, o ano de 1981 ou o de 1982 talvez marque o começo (ainda que em surtidas esporádicas, de forma continuada seria a partir da década seguinte) do Surf no Monte Verde e em Santa Bárbara.[2] Se assim foi, ainda mal engatinhando o surf já saltara do (seu) berço. Em extensão, juntas, as três praias do Sul cabem na de Santa Bárbara. E caberão ‘resvés Campo de Ourique’ no Monte Verde.[3] Devido aos ventos e aos fundos favoráveis, bem como investimento municipal, a nível da formação, do lazer e da competição, o eixo Santa Bárbara – Monte Verde viria a ganhar (a partir da década de noventa) ascendente sobre o eixo Milícias/Pópulo/São Roque. No entanto, em termos de surfing, todos reconhecem que há uma (informal e muito útil) ‘união de facto’ entre os dois eixos. Levaria algum tempo até que o surf derrotasse o (Terrível) ‘Adamastor’ das Milícias, de Santa Bárbara e do Monte Verde: era (apenas) ter olhos (bem) abertos para os agueiros. E (directa e indirectamente, apesar de não ser a única causa) promoveu (e promove) desenvolvimento. No sul, ainda na década de setenta, Carlos Eduardo Agnelo Borges arranca com empreendimentos turísticos nas Milícias, no Norte, no canto nascente do Monte Verde, em 1999/2001, Rui Cordeiro, e em 2013, no extremo poente de Santa Bárbara, Rodrigo Herédia e João Reis apostam no Resort.

Como foi sendo aquela área do Sul? Geologicamente, enquanto as duas praias do Norte ficam no Graben da Ribeira Grande e fizeram parte da Ilha do Nordeste, as três do Sul ficam na zona dos Piquinhos, a ilha que unindo as Ilhas do Nordeste e das Sete Cidades fez a Ilha de São Miguel. Enquanto as duas do Norte formaram uma única praia antes de as lavas do Pico Vermelho e Arde (mais tarde a do Sapateiro) as separar, as três do Sul, são reentrâncias preenchidas pela areia que o mar foi trazendo. Todas, porém, foram alvo de (extensa) extracção de areia. Se a enorme duna das Milícias foi usada para calcetamento de estradas e não só, o que terá terminado em 1970’s, as de Santa Bárbara e do Monte Verde foram sendo exploradas até quase finais da década de noventa. Se a diferente composição das suas areias (até mais ver) é inócua, as águas das duas ribeiras e de uma levada (e efluentes domésticos incontrolados) que desaguam no Monte Verde, já não: causam doença.[4] Historicamente, a área de Rosto de Cão (onde se situam os três areais) fez parte de Vila Franca do Campo até Abril de 1507. O que veio a ser Rosto de Cão/São Roque eram (outrora) núcleos habitacionais dispersos (sobretudo) em torno de grandes propriedades. Só em 1838, o Livramento se separou de Rosto de Cão/São Roque. Como seria a área segundo Frutuoso? Indo [da Atalhada] para oeste, está o biscoutal grande (…) que terá légua de comprido (…), pela banda da terra, vinhas e pomares ornados com quintas e casas (…). Pela terra dentro, (…) e logo mais para o norte a (…) quinta de André Gonçalves de Sampaio, chamado o Congro (…). No cabo do biscoutal grande está o porto de Jorge Furtado. E deste (…) se começa um areal (…) o grande (…). Vai-se estendendo o areal grande até dar em outro biscoutal e rocha baixa de pedra, acima do qual estão as moradas dos dois nobres irmãos Manuel da Costa e Álvaro da Costa (…) e logo a quinta de Diogo Martins, seu cunhado; e depois a do grande capitão Francisco do Rego de Sá (…) cuja fazenda (…) se ajunta e vai continuando pela terra dentro, até chegar à outra costa, da banda do norte, junto do lugar de Rabo de Peixe (…). Logo [depois da igreja de São Roque], por uma pedreira queimada (…) vai uma pequena descida de S. Roque para o outro areal, pequeno (…) onde está um poço de água (…). Defronte das casas de Jorge Nunes Botelho (…) aqueles ricos aposentos, fresco pomar e boa fazenda que herdou dele (…) tem um rico e grande pomar, com cento e sete grandes laranjeiras, todas arruadas por boa ordem, e um pinheiro de grande sombra e muitos limoeiros, limeiras, cidreiras e outras muitas fruteiras, de toda sorte de boa pomage, e diversas enxertias novamente feitas, pereiros, albricoqueiros, macieiras, marmeleiros, figueiras e amoreiras (…); grande vinha com seu lagar e casa; batatal, horta de toda a hortaliça, onde se criam muitos galipavos, patos e galinhas, em grande número (…). Defronte das ricas casas mandou fazer um grande e espaçoso granel, com dois engenhos de pastel debaixo na lógea (…).[5] Foi assim no século XVI, a crer em Frutuoso, nos séculos XVII e XVIII (sobretudo neste último), na área do Livramento construir-se-iam quintas com suas casas apalaçadas. A tal ponto que, ainda hoje, aí se concentra o maior número destas construções fora dos três maiores núcleos urbanos da Ilha (Ponta Delgada, Vila Franca e Ribeira Grande). Eram quintas de laranja e de vinha e de mais frutas. Quintas de recreio dos senhores da Cidade de Ponta Delgada. Era moda então.[6] A viragem para o mar, começa só a dar-se um pouco antes da II Guerra Mundial. É então que o cônsul inglês Robert Eyre Hayes, pai de Jorge Hayes, que fará em Março próximo 90 anos, com quem falei há dias, constrói uma casa na canada do Borralho.[7] Defronte da praia do Pópulo: ‘Esta casa – já com algumas alterações posteriores -, foi mandada construir por meu pai antes da Guerra [II Guerra Mundial. 1939-1945]. Com quatro ou cinco anos [nasceu em 1935] vinha aqui com a empregada. Meus pais por serem estrangeiros não podiam sair do perímetro da cidade [Ponta Delgada]. Porque era criança podia vir desde que acompanhado. Lembro-me de a praia estar cercada com arame farpado. Quando a casa foi construída já havia a canada do Borralho. Suponho que essa casa tenha sido a primeira a ser aqui construída. Suponho.[8] Que aspecto apresentava a área? Isso aqui, eram curraletas [de vinha] incultas. Parecidas às das da Ilha do Pico ou das daqui ao lado da Atalhada de muros de pedra onde se cultivara vinha. Já não apanhei as vinhas.[9] Vínhamos de Ponta Delgada pelo caminho que atravessava São Roque e descia-se pela canada das Bolas, que agora é Avenida Dr. Hermano Feijó. A estrada litoral que vai de São Roque até à Atalhada foi rasgada nos anos quarenta. Teria eu 6 a 7 anos de idade. Até aí, a areia tomava conta do espaço. Areia e pinhais. Claro, havia uns atalhos (servidões que davam para as curraletas). E a praia do Pópulo era frequentada? ‘Durante a Guerra (II) praticamente ninguém frequentava a praia. Só aos Domingos. O Dr. Rosa, eu ia. Pouco mais. A gente do Livramento fazia piqueniques na mata de pinheiros. Começa a ser frequentada depois da guerra. Pelos anos 50. Sobretudo pelas pessoas que tinham casas aqui. Por exemplo, os Índio. E outros. Poucos. Na década de sessenta, durante as férias escolares, vinham estudantes do Liceu, Já com a estrada e um duche.’ O Bairro de São Caetano de quando é? Lembro-me de fazerem as suas casas. Depois da Guerra.’[10] Falando com Manuel Cunha, um conhecido do menino Jorge (Hayes), um pouco mais novo do que ele, sentado no largo do Poço Velho, ‘a praia grande [mais conhecida por Milícias] não era assim. A areia vinha até à estrada. Tinha uma altura desta casa [Estação dos Correios do Poço Velho, no centro de São Roque] e de largura não era mais do que a largura dessa rua [estávamos sentados numa banqueta defronte]. Tirou-se a areia dali para construir as estradas. E foi ficando assim como se vê agora. A estrada que agora é asfaltada – do edifício do Pópulo por diante era de terra tal como era esta aqui. Onde fica agora o Hotel Barracuda havia duas estufas de ananás. Dali por diante eram tudo curraletas de vinha e figueiras. O passeio abaixo da estrada [Calçadão] era uma servidão que levava a mais vinhas. Aquilo ia até à Atalhada. Na praia Grande [Milícias] o Sr. Agnelo Borges tinha uma barraca. Mais uns ricos. Os pobrinhos não iam para ali. Na praia pequena dos Correios (também se diz praia pequena do Poço Velho) quem lá ia todos os dias do Verão era o Dr. Eduardo Pacheco que foi Reitor do Liceu. Morava numa casa defronte da Casa Cheia.[11]

A crer nas provas de que dispomos, já em 1950, a ‘variante,’ como então se chamava por vezes a estrada litoral que levava à Atalhada, estava concluída.[12] Ainda na década de cinquenta, a Câmara de Ponta Delgada tencionava aproveitar a nova via.[13] Na de sessenta, disponibiliza o (mínimo) necessário para a praia do Pópulo (praia Pequena). Na de setenta, vai avançando com projectos. Com a mão benevolente (quase paternal) (já depois da Autonomia) do Governo da Região. Mas é sobretudo a partir da década de oitenta que, já as Milícias haviam entrado (e bem) no circuito balnear e surfístico, se concretizam projectos estruturantes. É o caso dos balneários da Praia Grande de autoria do arquitecto Faria e Maia e recheio de Helena Moura. Ou de seguida, o que ficou – graças aos utilizadores -, conhecido por Calçadão, simples via envolvente e Café - Restaurante, projecto da dupla João Maia Macedo e Manuela Braga.[14] Empreendimentos privados, no entanto, já haviam precedido os públicos (Regionais): ‘O hotel Barracuda foi vendido pelos meus sogros ainda a ser construído e havia uma série de casas nas Milícias que ele foi vendendo à excepção de três que já foram vendidas muito mais tarde. Abriu e explorou o restaurante Mar e Serra, à entrada poente das Milícias.[15] Seguiu-se-lhe o Edifício Pópulo (iniciado pela Opercal e terminado pela Marques).[16] Com enorme impacto a nível de restauração. Ainda antes do Barracuda, o Chez Shamin (Alojamento e Restaurante). Em finais dos anos 70. Fui lá com os meus pais. Fecharam o restaurante e mantiveram um bar e os apartamentos. Bar do John.[17] E discotecas (perguntei a Pedro Violante): ‘O Ipanema (em finais dos anos 70 e inícios dos 80) foi aberta por um senhor Viegas que veio de África. No Pópulo de Cima. Mesmo ao lado da casa da minha avó. Depois passou (nos anos oitenta) a Populo’s. E a gerência era do irmão do José Francisco Oliveira. E o CHEERS na Rocha Quebrada – na Atalhada. Depois da Nestlé. Era mais alternativo. Para gente mais nova. Um dos sócios era o Jean Jean Índio.’[18]

No pico do Verão de 1975, o apóstolo faialense do Surf, perante uma assistência interessada, João Carlos Fraga, fez uma demonstração da modalidade nas Milícias, segundo relata um jornal.[19] A 24 de Dezembro de 1980, Gui Costa e João Garoupa (com o registo fotográfico de Alberto Pacheco) surfam com sucesso no lado nascente das Milícias. A partir daí, já não tanto com o João (que tinha muitos outros interesses) mas com o jovenzinho Francisco Cabral de Melo (e mais dois ou três) – após terem feito pranchas mais conforme -, surfam (sobretudo nas Milícias) mas também nas praias ao lado. Diz o pioneiro Gui Costa: ‘O Pópulo grande [Milícias] tinha melhores ondas e como as pranchas ficavam guardadas nas imediações facilitava. Dava para ir de bicicleta ou até a pé, nem sempre havia dinheiro para a camioneta. Só a gente é que surfava...’ Iam às praias ao lado? ‘Esporadicamente. Ou porque tinha uma onda engraçada, ou porque tinha muita gente na praia grande. Já a praia de São Roque dava uma esquerda interessante.’[20] Mas não só. Esse grupinho restrito de ‘bandeirantes das ondas’ (à boleia ou em carros de amigos) aventurou-se pela ilha. É Xico Melo, o shapper do grupo quem o recorda: ‘Corríamos as praias todas do sul, desde a Ribeira Quente, Amora/Ribeira das Tainhas, baixio da Vila F Campo, Água d' Alto, Pópulo, Milícias, São Roque. Até surfámos na Calheta antes do aterro e no Estradinho/Santa Clara. E até as praias mais pequenas de VFC... E no Norte. Surfamos em todo o lado possível, o espírito era este: encontrar novas ondas.’[21] António Benjamim, de um grupo da década de noventa, é claro a este respeito: ‘Desde o princípio que o Pópulo é usado. Ainda é. Para principiantes. Ou quando o mar está muito alteroso nas Milícias. E estando está alteroso nas Milícias e no Pópulo, há a de São Roque. É uma praia bastante protegida e com uma das melhores direitas. Perfeita. De algum tamanho. Cortada pelo ilhéu de São Roque. É uma verdadeira piscina de ondas.’[22]

Ideias a reter? Enquanto o arranque público de aproveitamento da área envolvente às praias do Sul ocorre a partir a II Guerra Mundial, na Ribeira Grande, apesar de um primeiro impulso nas décadas de sessenta e setenta, após longo interregno, a tendência intensifica-se (decisivamente) a partir de 2007/8. Grosso modo, no Sul, predominam os apoios Distritais e Regionais, enquanto no Norte, os Municipais. A respeito dos privados, enquanto no Sul começaram a surgir nas décadas de 60 e 70, na Ribeira Grande começam (com timidez) a partir de 1999/2001 e em força a partir de 2013. A Sul, constroem-se (sobretudo) residências, ao passo que a Norte, constroem-se (até agora) essencialmente alojamentos turísticos. No sul, (aparentemente) resolvida a poluição vinda de terra, resta a (preocupante) que o mar traz, no Norte, além da que o mar (em menor escala) traz (no Monte Verde) ainda resta a (tremenda e doentia) que a levada e as duas ribeiras trazem.[23]

Pópulo Grande (Milícias) – São Roque – Ponta Delgada



[1] Como as vê António Benjamim.

[2] Até prova em contrário, é o que parece permitir deduzir da narrativa do grupo do Gui Costa, aceite (na boa) por quem estuda a modalidade. Mais: Até ao momento, nada descobri de estrangeiros a surfarem aqui antes dessa data. Para o Continente, há registos para a década de sessenta.

[3] Medidas através do SIG (em linha recta de comprimento) (que me forneceu o colega André Franco): Areal de Santa Bárbara (c.1000 metros); Monte Verde (c. de 800 metros); Milícias (c. 500 metros); Pópulo (c. 150 metros); São Roqoue (c. 100 metros).

[4] Por um lado, a ribeira transporta a pedra-pomes e a areia que alimenta o Monte Verde. Por outro, leva matérias orgânicas poluentes. Disso escapam as do Sul.

[5] Gaspar Frutuoso, Saudades da Terra, Livro IV.

[6] Testemunho de Igor França, 22 de Novembro de 2024.

[7] Testemunho de Igor França, 23 de Novembro de 2024: ‘Meu avô – Waddington Espínola de França [1911 - 2005] -, agente Técnico – equivalente hoje a técnico de engenharia, fez três ou quatro daqueles projectos. Vi isso nos papéis que deixou.’

[8] Depois (lembro-me) foi o Sr. Frazão [da Ourivesaria. Natural das Calhetas da Ribeira Grande] que construiu a sua. Tinha uma roulotte, eu adorava rastejar por baixo dela. Depois, o Dr. Rosa. Natural da Ilha do Pico.

[9] Testemunho de João Luís Medeiros. 28 de Novembro de 2024: ‘Há 40-45 anos, houve incentivos para abate de vinhas. Até aí, havia vinhas por exemplo onde hoje está a Nestlé, o Bairro de Vila Faia, Cerrado Grande, Cimentaçor. Era uva Isabela. Havia falta de mão-de-obra. E o vinho era pouco competitivo. Daí começam a arrancar as vinhas. Isso no tempo do Mota Amaral cá e do Cavaco Silva em Lisboa.’ Em 2005, José Eduardo Pedro Gaspar, na sua tese de Doutoramento, Os bons e os maus. Vinhos e categorias nativas nos Açores, ISCTE, 2005, o abandono das vinhas: ‘(p.49) Por mais paradoxal que pareça, que os vinhedos anteriormente cultivados nestas áreas [entre Lagoa e Ponta Delgada] foram abandonados na actualidade, sendo a vegetação espontânea que agora domina a paisagem. A menor produtividade destes terrenos, determinou o seu desprezo.’

[10] Testemunho de George Hayes, 89 anos, 22 de Novembro de 2024. E o Areal Grande? Dunas muito altas. Descia e subia numa brincadeira. Era frequentado por muito pouca gente.’

[11] Testemunho de Manuel Cunha, 86/7 (?), 20 de Novembro de 2024.

[12] BPARPD, Arquivo da Junta Geral do Distrito Autónomo de Ponta Delgada. Direcção das Obras Públicas: Fotografia a preto e branco contendo pormenores da abertura da estrada entre a Praia do Pópulo e a Atalhada; (…) Trecho da estrada Pópulo Atalhada já calcetada.

[13] BPARPDL, JGPDL, n.º 805.

[14] Manuela Braga disse-me (não encontrei documento) que os projectos foram regionais mas a obra municipal.

[15] Testemunho de Eduarda Bulhão Pato, 27 de Novembro de 2024. [Carlos Eduardo Agnelo Borges – descendente pelo lado do irmão da famosa Madre Margarida Isabel do Apocalipse, autora do Arcano da Ribeira Grande]

[16] A arquitecta Manuela Braga diz-me que o projecto (não sei se percebi correctamente) é inicialmente do arquitecto Roberto Oliveira ou se esse só o finalizou. Parecido com as torres do Solmar, em Ponta Delgada.

[17] Testemunho de Igor França, 23 de Novembro de 2024. Por morte de um dos elementos do casal, o membro sobrevivente vendeu o negócio ao Dr. Linhares Furtado (só apartamentos) [O cirurgião António Linhares Furtado?].

[18] Testemunho de Pedro Violante, 25 de Novembro de 2024. Pai do arquitecto Viegas que projectou o interior do Louvre (em Ponta Delgada). Situada no biscoito onde se ergue a trilogia de esculturas em pedra basáltica de Minoru Niizuma: feitas na Ribeira Grande no âmbito do I Simpósio da Pedra na pedreira de Mestre José Dâmaso). Hoje em dia, há (por ali) uma meia dúzia de alojamentos locais e o bar (explorado pela Junta de Freguesia do Livramento) no Pópulo.

[19] Pedro Arruda, O mais velho Surfista do Mundo, PDF; Açores, Julho de 1975

[20] Testemunho de Guy Costa, 25-26 de Novembro de 2024.

[21] Nota de 5 de Dezembro de 2024: A procura de novas ondas fora das Milícias pode também estar ligada ao facto daquela praia a partir de então ser cada vez mais frequentada? Nas praias da Ribeira Grande (a princípio) a concorrência era a extracção da areia (que não mexia com os desportistas). Pelo que, estavam ‘à larga’ naquelas praias. Incluindo, Rabo de Peixe e os demais spots. Testemunho de 25 de Novembro de 2024. Isso era o grupo do Gui (grupo do Clube Naval de Ponta Delgada). O do Pópulo (dos irmãos Violante e amigos), que afirma nunca ter ao Pópulo, pouco depois, mas ainda na década de oitenta, desconhecendo o que o outro grupo fazia, descobria o que o primeiro grupo já descobrira. Testemunho de Pedro Violante, 25 de Novembro de 2024: ‘Na década de oitenta, não me lembro de ninguém surfar na Pequena. Agora já se vê. Surfávamos na Grande (Milícias).

[22] Testemunho de António Benjamim, 25 de Novembro de 2024. ‘Os melhores ventos são os de oeste ou de Noroeste. Quanto à do Pópulo. Vento do quadrante Norte (melhor): Nordeste e noroeste. Milícias (praia Grande): Quadrante Norte. Depende dos fundos. Sem ribeiras para estabilizar (como Monte Verde). Até ao Dória é tudo areia. Nada de fundos de pedra.

[23] Mário Moura, 20 de Novembro de 2024: ‘Aproximei-me de uma técnica da Câmara que estava a meter água numa abertura a uns 80 metros das três esculturas de basalto. Isso é uma ETAR? Sim. Colecta-se o que vem das Milícias, do Pico das Canas, do Hotel Barracuda, do Edifício Pópulo e do Pópulo. Há uma EE (estação elevatória) junto ao Bar do bar da Praia (no Pópulo) e outra na Praia. Fazem-se análises. Se a água depois de tratada na ETAR estiver em condições adequadas, é lançada ao mar.’ Tentando identificar o que se passou no que toca a desenvolvimento no litoral das duas praias do Norte (Santa Bárbara e Monte Verde) e em duas das três do Sul (Pópulo e Milícias), destacam-se dois momentos distantes no tempo e diferentes na sua natureza. Nas duas do Sul, em 1950, a iniciativa pública conclui a ligação litoral de São Roque à Atalhada e abre (com condições básicas) a praia do Pópulo. A iniciativa privada, constrói casas de veraneio a partir de finais da década de trinta (no Borralho) e a partir de quarenta, no bairro de São Caetano. Carlos Agnelo Borges ainda na década de sessenta (ou já na de setenta) abre um restaurante e uma residência. No Norte, na década de sessenta, as Poças sofrem melhoramentos (ampliadas em 1990’s), erguem-se as casas da Vila Nova e (pensando na Marginal) eliminam-se as casas sobranceiras às Poças e prossegue-se o aterro entre o Monte Verde e Bandejo (que corta ao meio o Monte Verde). Na de setenta, é inaugurada a piscina Municipal. Num segundo momento, e no extremo Nascente do areal do Monte Verde, Rui Cordeiro com visão aposta no Alabote em 1999/2001. Em 2003-5, surge o empreendimento habitacional e comercial Palheiro (da família Arruda Teixeira) em simultâneo com a radical mudança das Poças (iniciativa Municipal). Segue-se o primeiro troço (2006/7) e o segundo da Marginal. A expectativa do avanço da avenida e o voltar-se para o mar (com as provas de Surf à cabeça e as Low cost) fazem disparar os empreendimentos. A poente de Santa Bárbara, abre o Resort (Rodrigo Herédia e João Reis). 

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