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MANIFESTO 21




Manifesto 21

Em Abril de 1921, perante uma audiência que enchia o salão do armazém de Augusto Faria na rua do Alcaide, o cónego Cristiano de Jesus Borges apresentou o Manifesto da Ribeira Grande. Aquele texto, uma espécie de Grito do Ipiranga Concelhio, lançou ondas de choque. Ganhou a adesão de Vila Franca. Chegou a Angra. Convidado - por José Bruno Tavares Carreiro -, a integrar uma comissão que discutia alterações ao Estatuto Autonómico, Cristiano aceitou. Porém, o instável e violento ambiente de finais da I República, deitaria por terra qualquer hipótese de Autonomia Concelhia.[1] Sonho que, todavia, recuperado há pouco, sofreu o chumbo da Assembleia Legislativa Regional. Por que terá sido? 

O que pretendia o Manifesto da Ribeira Grande?conquistar todas as regalias e de (…) gozar todas as vantagens, a que a sua riqueza [da Ribeira Grande] e importância têm direito.[2] Propunha uma solução: ‘o distrito reclamou da metrópole o direito de administrar livremente os rendimentos produzidos no próprio distrito; hoje o concelho reclama o direito de livremente administrar os rendimentos produzidos dentro do próprio concelho.’[3] O facto de, em 1920, não haver porto no Poço do Castelo nem na Praia do Monte Verde, terá sido mais uma gota de água que fez transbordar o copo da paciência da Ribeira Grande. Naquele ano de 1920, na Ribeira Grande havia quase tantos vendedores de peixe como pescadores.[4] Concentravam-se numa faixa litoral/ribeirinha, orla do Monte Verde. Era ali que se situava a fronteira entre a terra dos ricos (e remedidos) e a dos pobres (e muito pobres). Onze pescadores viviam em pobres casebres de palha do Curral; cinco na rua das Espigas (gémea do Curral); um, na rua da Praça e outro na rua defronte de Santo André. Reaparecem nomes como: Tachinha, Castanha, Carreiro e Abelha. Nas Espigas, confirmam-se nomes vindos já da década de sessenta do século anterior: Rita, Valério, Bravo. Ou novos: Caiano; Cordeiro; Graça; Câmara. Apelidos que (não raras vezes) se cruzam pelo casamento. Pescavam na baía da Ribeira Grande e de Santa Iria (de barco) ou de cana nos seus calhaus. Vendiam o peixe pelas ruas ou no Mercado Municipal.

Nisto, entra o Estado Novo. Pelas finanças, António de Oliveira Salazar estrangula a (pouca) Autonomia Distrital (e a ainda menos Concelhia). Ainda assim, em 1935, havia quem, vindo de fora, elogiasse os ribeiragrandenses pelas ‘artes de fazer da sua vila uma cidadezinha que parece mais cidade de que algumas cidades do Continente.[5] A Ribeira Grande não escondia ou disfarçava o seu orgulho, Manuel Dâmaso, filho da terra, em 1938, exprimia esse sentimento: ‘A Vila da Ribeira Grande, a maior e uma das mais lindas dos Açores, merece pela sua importância e progresso, ser designada como a segunda cidade da Ilha.’[6] Apesar dos sucessivos fracassos, em 1936 havia quem teimasse em construir um porto de pesca. Já não no poço do Castelo ou na Praia do Monte Verde mas num local (indeterminado) entre o Miradouro de Santa Luzia [Palheiro] e a ponta do Cintrão.[7] Eis a história como é contada no Correio dos Açores: ‘Há tempos [pena que não diga o ano] o nosso amigo Fábio Moniz de Vasconcelos (…) que conhece todos os recantos da costa norte que vai do miradouro de Santa Luzia até ao Cintrão (no dizer do povo) descobriu um belo sitio para nele se construir um porto de pesca e respectivo cais [de] acostagem (...).’ Fábio convencera a câmara a convidar ‘os senhores comandantes Pedro Peters, digno capitão do Porto de Ponta Delgada e [o] engenheiro Abel Ferin Coutinho director das obra públicas do Porto Artificial, (…) a dar a sua autorizada opinião sobre tão importante assunto.’ Os ditos, havendo ido local, continua o jornal, ‘não só louvaram a feliz descoberta do nosso amigo Fábio, mas emitiram o seguinte parecer: - os alicerces e a pedra ali estavam (…).’ Porquê a obra? ‘não só vem dar uma grande importância a esta vila, debaixo do ponto de vista económico, mas até vem facilitar aos pobres pescadores da costa do norte, o exercício do seu humilde e perigoso mister.[8][9]Oxalá que tão justa aspiração seja em breve uma realidade.[10] Faltava (porém) o mais importante: ‘pedir ao governo, o que se podia fazer sem receio, mandasse ou ordenasse tal construção.’ Se foi pedido, que se saiba, nunca chegou resposta. A terra, no entanto, até não tinha que se queixar: inaugurara em 1931 a Escola Central, em 1933, o Teatro, em 1935 o Miradouro de Santa Iria, a remodelação do interior dos Paços do Concelho, pouco depois, o Miradouro do Castelo, a represa das Caldeiras. E davam-se até os primeiros passinhos na Avenida Marginal.

Quanto ao porto que Fábio defendia, havia quem pensasse que, sim senhor, a ideia era boa, mas não vinha na melhor altura. Realista, o correspondente do Jornal a Ilha achava que era preferível tirar partido do que já existia no Concelho. Em 1939, em artigo não assinado, diz que na Ribeira Grande (Conceição e Matriz, excluindo a Ribeirinha) não há falta de peixe, apesar de não ter barcos nem porto. Tem vendilhões que a abastecem. Aliás, já havia portos no Concelho de sobra: ‘pela ordem da sua importância’ enumera-os: ‘Rabo de Peixe, Porto Formoso, Maia e Santa Iria.’ Para facilitar a vida aos pescadores do melhor porto do Concelho, bastariam ‘duas lanchas motorizadas que os levassem aos melhores sítios da sua colheita e rapidamente os conduzissem ao porto assegurando-lhes também, em várias ocasiões, a certeza de regressarem sem perigo, dispensando-os de procurarem ao longe e com dificuldade portos abrigados.’[11] De facto, a distância entre o porto de Rabo de Peixe e os outros do Concelho era considerável. Em 1939, já lá havia 82 barcos, dedicando-se ‘(…) aproximadamente um quinto da sua população’ à pesca.[12] Quantos seriam os profissionais da pesca em 1939? No Roteiro Quaresmal recolhi à volta de 251 pescadores e 10 peixeiros.[13] Entre1893 e 1939, verificou-se um aumento de c. 200%. Onde residiam? Na rua do Farias [hoje rua do Porto], eram quarenta e nove em 1893, e cem em 1939. Com dois peixeiros. A rua do Pires subira de terceiro para segundo lugar: em 1939, tinha setenta e sete pescadores e um peixeiro, em 1893, vinte e três pescadores. A da Cruz caíra de segundo para terceiro lugar: dos quarenta e um pescadores e cinco peixeiros de 1893, em 1939, passou para quarenta e oito pescadores e seis peixeiros. A dos Leitões (Rui Galvão de Carvalho) que tinha sete pescadores e um peixeiro em 1893, passou a ter vinte e seis pescadores e um peixeiro. Os quatro pescadores de 1893 da rua do Barradas (Largo Padre António Vieira) deixam de existir em 1939.[14]

E os pescadores do centro/litoral Ribeira Grande? O correspondente errou: em 1939, ainda havia dezasseis pescadores. Onde residiam em 1939? No Curral moravam nove pescadores. Na rua das Espigas, seis pescadores e quinze peixeiros. Na do Castelo, quatro vendilhões. Na da Praça, três peixeiros. Na travessa da rua dos Cabidos, um pescador. Na Cova do Milho (que em 1965 daria lugar ao Paraíso Infantil), dois peixeiros e dois vendilhões. Na do Saco, dois peixeiros; na da Praia, dois peixeiros; na Travessa da Praia, quatro peixeiros. Surgem novos nomes: Moniz Frade; Barbeiro; Ventura (Pretos, Elias, Ramelas, Marrocos); Estêvão (Lucianos) e Almeida. Ou já conhecidos: Estrela; Rita; Silva Bravo; Graça, Cordeiro; Caiano; Carreiro; Tachinha. Continuavam (porém) a pescar e a vender nos mesmos sítios da década anterior.

Em 1941-2, vindos (sobretudo) do continente português, chegam à Ilha tropas (dos diversos ramos das Forças Armadas). Por esta altura e pouco depois, ainda que esporadicamente e em menor número, viriam alguns britânicos e americanos. Montam quartéis e constroem posições defensivas.[15] Nasce o aeroporto militar de Santana. Feita a paz, convertido o aeroporto militar em civil, a ideia do porto na Ribeira Grande volta à baila. Em 1949, Manuel Barbosa, sem indicar o local, propõe de novo um porto. Daria ‘(…) trabalho a uma boa parte dos seus habitantes e possibilitando (taria) a criação de novas indústrias (…).’[16] A terminar a década de cinquenta, Arlindo Cabral assinala uma viragem decisiva na pesca: São instaladas diversas fábricas de conserva de peixe, constroem-se melhores barcos, introduzem-se novos aparelhos, pesquisam-se águas mais fundas e novas espécies são arrancadas ao mar.’[17] Um barco a motor (dando rapidez e segurança) facilitaria a ida aos pesqueiros a Norte e a Sul da Ilha. Ou a outras ilhas. Santa Iria aderiu ao motor: ‘Humberto Manuel Bento de Sousa, mais o António Barbosa formaram uma companhia de pesca. Compraram uma lancha [a motor].’[18] Em Rabo de Peixe, ‘o primeiro barco a motor (…) foi o do Manuel Baleia. Isso foi há sessenta e tal anos.’ ‘Foi feito no Pico e levou um motor grande. Depois foi o do José Caravela.[19] Seja em que ano for, a adesão ao motor não tardou.[20] Em 1968, Daniel de Sá confirmava haver em ‘75 barcos – 27 motorizados e 48 à vela e a remos.’ Ocupando ‘478 pescadores.’ Era já ‘um dos portos mais importantes da Ilha sendo, segundo consta, o que maior movimento em peixe apanhado regista nos Açores.’ No entanto, apesar de ‘nos últimos anos,’ ter sido alvo de ‘ algumas modificações, (…) poucas garantias de segurança oferece.’ Daniel, defendendo serem ‘obras de grande importância e que se justificariam plenamente,’ sugere ‘a construção de um quebra-mar e a beneficiação da baía.’[21] No seu périplo jornalístico pelo Concelho, no entanto, nada diz acerca dos portos das Calhetas e de Santa Iria. Aconselha algumas intervenções (de pouca monta) nos portos da Maia, do Porto Formoso e dos Fenais da Ajuda.[22]

Entre 1939 e 1953, ainda havia peixeiros e pescadores na Ribeira Grande, apesar da quebra. Em 1953, há catorze pescadores, vinte e quatro peixeiros e seis vendilhões. Regista-se um ligeiro decréscimo de pescadores: menos dois. Confirma-se (porém) uma tendência: a maioria prefere a venda: há 28 peixeiros e vendilhões em 1953 (o mesmo número de 1939). O Curral e a rua das Espigas continuam a ser as que a maioria reside.[23] A grande queda dá-se em 1969: dos vinte e dois pescadores e marítimos de 1968, em 1969, sobrevivem apenas três pescadores, um marítimo, dois peixeiros e seis vendilhões.[24] Porquê? Emigração? Sim. Serviço Militar? Sim. Mudança de actividades? Sim. Morte e idade avançada? Sim.

E Rabo de Peixe? A partir (sensivelmente) dos anos sessenta, a nível oficial, o Concelho deixa cair a ideia de um porto no centro da Ribeira Grande ou em Santa Iria e concentra-se em Rabo de Peixe.[25] Três anos depois da crónica de Daniel de Sá, Ezequiel Moreira da Silva não tem dúvidas, ‘(…) é o primeiro porto de pesca de S. Miguel e também dos Açores.’ Como alcançou essa superioridade? Haviam conquistado um bom quinhão do rico mercado de Ponta Delgada: ‘Nos meses de inverno (…) dirigem-se para a costa sul e fazendo base em Ponta Delgada, continuam a sua faina, pois a cidade necessita de peixe e a família, normalmente numerosa, também necessita de sustento.’[26] Não se ficariam por aí, além da intensidade com que pescavam, à medida que os pescadores de outros portos iam, uns, desistindo, outros, morrendo ou emigrando, os barcos de Rabo de Peixe iam ocupando o espaço deixado vago. O enorme peso demográfico, o gosto pelas artes da pesca e o não haver alternativa de emprego, explicará (também) essa primazia. E a visão dos seus mestres e armadores. Deste modo, apesar da fortíssima corrente emigratória da década de sessenta à de oitenta ter levado muitos dos pescadores da Ilha, em Rabo de Peixe (Caranguejo e Bairro Novo) a pesca aguentou. E vicejou.

Ezequiel não hesita em propor obras de vulto no porto de Rabo de Peixe: ‘Urge equipar convenientemente o porto de pesca de Rabo de Peixe, dotando-o com todos os requisitos indispensáveis ao desempenho de uma actividade sempre progressiva.’ E lança um alerta: ‘A pensar-se na construção de um porto de pesca com características industriais, para planeadores conscientes, estes elementos deverão estar na base de qualquer resolução no que respeita a sua localização [Em Rabo de Peixe].’ Porquê lá? ‘pela sua importância na economia da região e até mesmo como veículo angariador de receitas para o Estado, É necessário não esquecer que se trata do mais importante porto de pesca de S. Miguel, servido pelo maior núcleo de pescadores desta ilha,’ Todavia, sabendo de antemão que era necessário cair nas boas graças do poder, lança um veemente apelo ao futuro: ‘É terra que merece ser olhada com mais atenção pelos homens políticos desta ilha e, sobretudo, por aqueles que estão à frente dos destinos do Concelho da Ribeira Grande.’[27]

 Azores Burning Summer Festival – Praia dos Moinhos – Concelho da Ribeira Grande



[1] Em Outubro, a Noite Sangrenta em Lisboa, seria (mais uma) prova de que a República tinha os dias contados.

[2] Correio dos Açores, Ponta Delgada, 13 de Abril de 1921. O Cónego Cristiano fez de tudo e foi tudo: orador sacro, professor, jornalista, dono de jornal, benemérito.

[3] A rebelião alcançou outros concelhos da ilha e de fora da ilha.

[4] Se em 1893 havia vinte e oito marítimos e um pescador, em 1920, há vinte pescadores, dezoito peixeiros e um vendilhão.

[5] Carta de Clemente de Mendonça de Coimbra ao Director do jornal, Correio dos Açores, Ponta Delgada, 16 de Maio de 1935.

[6] Correio dos Açores, Ponta Delgada, n.º 5127, 22 de Janeiro de 1938.

[7] Para muitos, da Ribeirinha como do Centro da Ribeira Grande, apesar de a Ribeirinha ainda fazer parte da Vila, era como já não fizesse. O que iria acontecer na década de 40.   

[8] Correio dos Açores, Idem, N.º 4691, 25 de Julho de 1936.

[9] Correio dos Açores, Idem, N.º 4691, 25 de Julho de 1936.

[10] Correio dos Açores, Idem, N.º 4691, 25 de Julho de 1936. Fábio, republicano, serviu como vereador, foi desportista, empresário, domo de jornal, jornalista.

[11] Correspondente da Ribeira Grande, Da Ribeira Grande. O Porto de Rabo de Peixe, Jornal A Ilha, 14 de Agosto de 1939, n.º 104, pp. 1- 2.

[12]É a mais populosa do Concelho [No censo de 1940, a Matriz tinha 7204 habitantes para os 5639 de Rabo de Peixe) e, depois das freguesias de Ponta Delgada, a mais populosa de todo o arquipélago. Fazendo contas: se, no censo de 1940, a população total de Rabo de Peixe era de 5.639 habitantes, um quinto equivaleria a cerca de 1.126 pessoas (bate certo com a estimativa do correspondente da Ribeira Grande: c. de mil).

[13] Rol Quaresmal de Rabo de Peixe, 1939.

[14] Rol Quaresmal do Senhor Bom Jesus, Rabo de Peixe, 1893; Rol Quaresmal do Senhor Bom Jesus, Rabo de Peixe, 1939.

[15] No Lameiro, na Fábrica do Álcool, no Bandejo, no Monte Verde, nas Poças, em Rabo de Peixe Constroem posições defensivas à entrada do porto de Santa Iria, do Palheiro à ponta do morro de Santana

[16] Barbosa, Manuel, Impressões da Ribeira Grande, A Voz da Ribeira Grande, Diário dos Açores, Ponta Delgada, 12 de Fevereiro de 1949, p. 2. recém-chegado à terra, é um dos que aceita o desafio de pensar a Ribeira Grande lançado por José Pereira da Silva (correspondente do Diário dos Açores)  

[17] Cabral, Arlindo, Regresso ao mar: a pesca, actividade de ontem e de hoje, in Boletim da Comissão Reguladora dos Cereais do Arquipélago dos Açores, 1957, N.º 25, 1.º Semestre (1957), p. 155.

[18] Testemunho de José Manuel Sousa, vai fazer 81 ano, 10 de Agosto de 2025

[19] Testemunho de José Vieira Sopapo, 8 de Agosto de 2025. É (muito) possível que em ano posterior a 1939 e anterior a 1957, tenham sido introduzidos os primeiros barcos a motor em Rabo de Peixe. Segundo o Padre Ernesto Ferreira), já havia barcos a motor em Vila Franca antes de 1939: Rolando Lalanda Gonçalves, por seu turno, diz que o motor foi introduzido na Ribeira Quente em 1959. Conforme Arquivo Histórico da Junta Geral do Distrito de Ponta Delgada. No arquivo da Secretaria de Obras Públicas Regional (tem outro nome): Em Rabo de Peixe, nessa década mesma de cinquenta, é executado o projecto de ‘consolidação da costa marítima [fronteira à igreja?] (…) pela antiga Junta Geral do Distrito Autónomo de Ponta Delgada, Direção Geral de Obras Públicas.’ Seria o que fora prometido na primeira década do século?

[20] Nota de 11 de Setembro de 2025: Testemunho de José António Pacheco: ‘No Porto Formoso - Bota-abaixo da lancha "Porto Formoso." Foi a primeira embarcação equipada com motor que operou no Porto Formoso. Até então as "companhas" recorriam à força dos remos e ocasionalmente ao auxílio de vela para a sua faina diária. Nesta foto de 1960 destacam-se três personalidades que marcaram as vivências do século passado, no Porto Formoso. Sentado a meio da embarcação o comerciante José de Lima, proprietário da lancha, mentor de uma das equipas de voleibol da época e dono do "Cine Formoso." De pé, junto da proa, o guarda-fiscal José Martins Alves, um dos mais notáveis presidentes de junta desta freguesia. Agachado sobre a proa, pronto para a acção, Mestre Manuel Casinha construtor deste barco e homem de muitas outras artes.’ José António Pacheco, 10 de Setembro de 2025; Maia: ‘José Braga Feleja em 1967/68.’ Testemunho de Jaime Rita, 11 de Setembro de 2025;

[21] D.S. [Daniel de Sá], O mar e a terra de mãos dadas fizeram Rabo de Peixe, Inquérito do Açores às Juntas de Freguesia, Açores, Ponta Delgada, 10 de Março de 1968, p. 1.

[22] Ainda não consegui apurar quando apareceu o seu primeiro barco a motor. Se houve, porventura.

[23] Rol Quaresmal da Matriz da Ribeira Grande, 1953. A Vila Nova (Curral) com sete pescadores e seis peixeiros; a de João Franco (Espigas) com quatro pescadores e nove peixeiros e um vendilhão. No litoral centro (encostado às ruas anteriores), na rua detrás de Santo André mora um pescador; na rua defronte de Santo André, um vendilhão; na rua do Aresta (que liga à Vila Nova e à das Espigas) outro pescador; na rua da Praça (encostada ao lado nascente da rua das Espigas), vivem um pescador e três peixeiros. Ainda no litoral (vizinho do Monte Verde), na rua do Saco, dois peixeiros e um vendilhão, na Travessa da Praia, um vendilhão; na Cova do Milho, a pouco mais de duzentos metros do Monte Verde indo pela ribeira, um peixeiro e um vendilhão. Fora da área litoral, na rua do Barracão (hoje rua Dr. José Frazão), um vendilhão e na vizinha poente rua Gonçalo Bezerra, um peixeiro. Lemos velhos e novos apelidos: Câmara, Vasconcelos; Janeiro; Teófilo; Ventura Carvalho; Rita; Carreiro; Barbeiro; Silva Bravo; Abelha; Moniz; Moniz Frade; Tachinha; Estêvão; Calufa, Faial; Lopes.

[24] Rol Quaresmal, Matriz de Nossa Senhora da Estrela, 1968.Entretanto, na Ribeira Grande, a findar a década de sessenta, no ano 1968, com uma Guerra Colonial em três frentes mobilizando jovens e com a emigração a bater forte e feio, resistem ainda dezanove pescadores e três marítimos. De 1953 a 1968, havia mais cinco pescadores e três marítimos. Porém, a balança pendia totalmente para os que vendem peixe: quinze peixeiros e vinte e um vendilhões. Esmagadora maioria de peixeiros e vendilhões. As ruas da Vila Nova (Curral) e João Franco (Espigas), à sua conta somavam dezasseis pescadores (oito no Curral e oito nas Espigas); três marítimos (dois na Vila Nova e um nas Espigas); e seis peixeiros e cinco vendilhões nas Espigas. Um pescador na Rua do Castelo; dois pescadores e dois peixeiros na Rua da Praça; um vendilhão na Rua de defronte Santo André; um peixeiro e três vendilhões na Rua do Saco; um vendilhão na Rua da Praia, três na Travessa da rua da Praia e um na Rua do Estrela. Fora do litoral centro: um peixeiro na Rua Frei Agostinho de Monte Alverne; sete vendilhões na Rua da Ponte Nova: Vendilhões e quatro vendilhões na Rua Gonçalo Bezerra. Dos apelidos constam: Câmara Leite; Botelho; Lamarinho; Janeiro; Estêvão; Tavares; Rita; Abelha; Grilo; Castanha; Bravo; Ventura; Frade; Barbeiro; Silva. Bento, Carlos Melo, História dos Açores: 1935-1974, Publiçor, 2010: ‘(p.94) (…) A IV Semana de Estudo vão ter lugar em S. Miguel, de 6 a 15 de Setembro de 1965, e versarão a mulher, o planeamento regional agro-silvo-pecuário, a pesca, oceanografia, biologia marítima, climatologia, teatro, energia eléctrica, património, transportes, arte, educação, urbanismo, música, necessidade de surto industrial, e a Igreja perante a riqueza.’

Na Vila Nova (Curral), então, sobrevive um único pescador: José Furtado Tachinha, de 66 anos; na Rua João Franco (Espigas), restam dois: Manuel Ferreira Rita, de 76 anos e José Rita de 25; um marítimo: Manuel Pacheco, de 45 anos; e cinco vendilhões: João Pedro Estêvão ‘Luciano.’ De 54 anos; José Abelha da Câmara, de 42 anos e dois filhos, um de dezoito anos, outro, de catorze; Na rua do Saco, um peixeiro e dois vendilhões: Manuel Ventura da Câmara, 51 anos, Manuel Ventura de trinta e quatro e Manuel Moniz Frade de sessenta e dois anos (peixeiro).

[25] Não será tanto assim, apesar de ser oficialmente assim. Continua-se a querer um porto de Santa Iria e há quem não desista de um porto no centro. Ouve-se isso nos cafés e em reuniões de amigos.

[26] Já no tempo em que Luís Bernardo Leite de Ataíde escreve era assim um pouco.

[27] Silva, Ezequiel de Melo Moreira da, A cidade da Ribeira Grande e a Vila de Rabo de Peixe, Correio dos Açores, Ponta Delgada, 11 de Janeiro de 1972, pp. 1, 4.

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