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A Fachada

A Fachada 

Beira-mar. Pedra quanta queiras. Basta (saber) tirá-la nas (pedreiras das) Barreiras (já no lado dos Fenais). Barro: o que for preciso (para os lados do porto). A pedra (basáltica), a principal matéria-prima da obra, veio (certamente) daí. Cabouqueiros, canteiros e pedreiros, sendo homens da terra (de certa maneira) eram (igualmente) homens do mar: ou porque aí trabalhavam ou porque de lá recebiam a pedra (bruta) e o barro. A água? Na fonte ali no adro. A madeira? Das matas do biscoito (ou por ali perto)? Mais para cima? A julgar por hoje, serviria alguma. Porém, a mais nobre (tal como aconteceu ao Pico da Pedra) viria de fora. Tirando (talvez) o (possível) autor do ‘risco,’ (e o vidro que vinha de fora) tudo (ou quase tudo) o que ali se vê (na fachada) foi (terá sido) obra da gente das Calhetas. E (talvez) também (quase de certeza) de alguma ‘maozinha’ cristã dos vizinhos das Calhetas. A retribuição de um favor igual (ou aproximado) ao que os das Calhetas haviam em tempos prestado à obra da igreja de Nossa Senhora dos Prazeres (no Pico da Pedra)? Ou das igrejas dos arredores (sobretudo a do Bom Jesus e a da Senhora da Luz). Claro, terá (certamente) tido um ‘mecenas’ (como as demais). A triliões de léguas (pelos padrões da alta arquitectura) de (poder) ser considerada uma igreja modelo tipo da de São Pedro de Roma, para as Calhetas aquela igreja é (não haja dúvidas) como se fosse a igreja de São Pedro de Roma. É a deles e a de quem lhes ajudou na obra.

Foi [a igreja] reconstruída depois de 1830.’[1] A que hoje se vê? (Em parte ou na totalidade) ‘reconstruída’? Ernesto do Canto (1831-1901), o autor da nota, publicada em Junho de 1896, não avança resposta.[1] Porquê? Na (curta) introdução, explica o silêncio: ‘Publica-se esta notícia, embora bastante incompleta, em certos pontos, a fim de estimular as pessoas interessadas no assunto a completá-la com os necessários desenvolvimentos e subsídios, que desde já se pedem e se agradecem com a máxima satisfação. É só assim que o nosso modesto trabalho poderá tornar-se de qualquer utilidade para os indagadores das coisas do nosso passado.’[1]

Indagando (agora), tentarei aproximar-me da data. Uma das (possíveis) razões por Ernesto não ter publicado aquela ‘notícia de 1896’ na ‘Biblioteca Açoriana (…),’ de 1890, poderá dever-se ao facto de (então) não a ter pronta.[1] Se assim foi, é (ainda) possível que tenha sido redigida entre 1890 e 1896. No entanto, pode (bem) tê-la escrito antes de 1890. Pelo que, a ‘nossa’ datação (rascunho de trabalho) inicial é ‘vaga:’ um ano (mais ou menos) entre 1830 e 1890-96. Como poderei (nestas circunstâncias) aproximar-me da data? Como poderei (de igual modo) chegar ao tipo de ‘reconstrução’ que a igreja foi (tenha sido) alvo? Primeiro (como costumo proceder) fui auscultar as memórias locais. Colhi informação sobre a (possível) proveniência dos ‘materiais’ para a obra. E (palpites) de familiares dos seus mestres. E agora? Se a memória oral não deu datas nem pormenores das obras, vou ‘investigar’ a ‘memória’ escrita. Por onde começar? Pelos periódicos. Porquê esta opção? Porque se aí (eventualmente) encontrasse uma (simples) notícia (datada) sobre as obras, reduziria (a meu favor) a ‘imensa’ faixa cronológica.[2] O que me facilitaria no passo seguinte: a ida ao arquivo. Apesar do esforço, pouco ou nada encontrei (de relevante). Que fazer? Desistir? Ir (apesar de tudo) aos arquivos.[3] Obviamente, (apenas) fiz algumas (poucas) sondagens (que considerei – não sei se acertadamente ou não -, representativas do todo). Que resultaram (apesar de boas dicas) em nada de (muito) interesse.

E agora? Vou tentar fazer falar o próprio edifício da igreja. Sei que é (quase) como tentar acertar (em cheio) na idade (de uma pessoa apenas) pela (sua) aparência. Mas é o que há. Vou (mais o colega e parceiro habitual, arquitecto André Franco) ‘olhar’ (cuidadosamente) o edifício (da igreja) por dentro e por fora.[4] Ora, por dentro (não comparando proporções nem riqueza de ornamentos, etc..), a igreja da Boa Viagem parece-nos (mais coisa menos coisa) ‘igualzinha’ à igreja Matriz de Nossa Senhora da Estrela, à Conceição, ambas no centro da Ribeira Grande, à igreja do Bom Jesus, à de Nossa Senhora da Luz, ambas antigas paróquias da de Boa Viagem, à de Nossa Senhora dos Prazeres (ficando só por estas). De forma resumida (quanto ao interior): igrejas de planta rectangular, de três naves (simples) e de tecto de duas águas. No caso da Boa Viagem (por análise formal): tudo (ou quase) anterior a 1830. Assim o parece. E o exterior? Pouco ou nada (parece) destoar (no geral) das igrejas atrás referidas, excepto na fachada principal (na qual se inclui a torre sineira e o anexo Sul contíguo à fachada), bem como as (três) portas laterais Norte e Sul. A igreja teria (então) um (vulgar) aspecto setecentista. Mais atarracado. Com menos luz. Daí (talvez) terem-lhe aberto (na fachada) um óculo central (rosácea), as duas janelas que ladeiam a porta principal, e duas outras, uma na base da torre de sinos, a outra, no anexo Sul. Com vãos maiores destinados a deixar entrar luz. O passo seguinte (pelos vistos) foi dar-lhe (mais algum) ‘equilíbrio’ visual. Conseguiu-se (suponho) elevando/subindo a fachada.[5] Ao mesmo tempo (assim o parece) construiu-se de raiz a torre de sinos. Haveria antes torre (na igreja)? Pode ser que sim. E pode ser que não. Podia ter existido (apenas) uma simples sineira.[6] Provocaram (as obras) a interrupção (temporária) do culto?[7] É possível que não. Porquê? Não se demoliu (de alto a baixo) o edifício pré-existente para construir de raiz um (totalmente) novo, aplicou-se (apenas) ao (edifício) pré-existente (de forma ligeiramente intrusiva) elementos do (chamado) revivalismo gótico ou neogótico.

Para tentar encontrar (possíveis) influências, apelo (como sempre faço) à ‘sagrada trindade’ do detective: oportunidade, motivo e meios.[8] Dentro do intervalo temporal (depois de 1830 até 1890 ou 1896), [9] os primeiros exemplares conhecidos na Ilha de São Miguel (segundo Isabel Albergaria) desta nova tendência surgem-nos, primeiro, na ‘Torre-mirante da Quinta dos Prestes [de Ernesto do Canto], c. de 1840,’ depois ‘a torre-Mirante das Teimosas (Mata-Mulheres) (…) de c. de 1850,’ segue-se o ‘portal e ermida [do cemitério] de São Joaquim [Ponta Delgada] (…) construído entre 1848 e 1857.’[10] Terão (estes) influenciado a obra da Boa Viagem? Estão dentro do quadro temporal de Ernesto do Canto. É só o que sei dizer.

Tudo isso antes da igreja de São Nicolau, nas Sete Cidades. Projecto original atribuído a Manuel Lamberto Monteiro, financiado por Nicolau Raposo do Amaral. Foi inaugurada a 16 de Agosto de 1857. Exibe vãos em arco abatido em estilo neogótico. O que situa São Nicolau pouco depois do terramoto de 1852. Pergunto se a igreja da Boa Viagem teria sido (muito ou pouco) danificada por eles? Tenha-se em conta (sempre) o significado (ambíguo) de ‘reconstruída.’ Que (infelizmente) deu Ernesto do Canto. Em parte ou na totalidade? Uma simples observação à igreja é o suficiente para afirmar (com alguma segurança) que foi (parcialmente) ‘reconstruída’ (a torre é exemplo do que afirmo) e ‘retocada’ (caso da fachada). Por que razão terá sido assim? Terá sofrido (alguns) danos com os terramotos? A torre foi construída de raiz. Como já disse e repito-o. Em Abril de 1852, ocorre um violento terramoto na ilha de São Miguel que arruína casas e templos, sobretudo nos Concelhos da Ribeira Grande e Capelas (então ainda Concelho). Porém, nem os relatórios (publicados) do Governo Civil nem os jornais mencionam qualquer dano na igreja de Nossa Senhora da Boa Viagem.[11]

Aberta ao culto a 17 de Julho de 1870, a igreja neogótica de Nossa Senhora da Oliveira, na Fajã de Cima, é outro (bom) exemplo deste novo estilo. Arcos abatidos naquele estilo e o frontão rectilíneo. O projectista foi António Luís Duarte (1856). Veja-se (agora) quem (ou melhor: se diz ter sido) (em 1856) o engenheiro da obra: Ricardo Júlio Ferraz.[12] Dez anos depois, em 1866, seria o autor do projecto da estrada das Calhetas aos Fenais da Luz.[1] Fora já o autor do projecto da cadeia da Boa Nova, em Ponta Delgada (c. 1856?). Foi ainda autor do projecto (em 1863) do jardim (da Ribeira Grande) então chamado ‘Passeio Público.’[13] Quem foi (de modo sucinto) este engenheiro formado na Escola Superior de Engenharia de Paris? [1] Madeirense natural da cidade do Funchal, onde nasceu no ano de 1824. Casou em São Miguel com Catherine Prescott Ivens. Faleceria em 1880. Não poderá a intervenção (pergunto) na igreja da Boa Viagem ter ocorrido na altura em que Ferraz projectou (em 1866) a estrada das Calhetas às Capelas? Pelo que, o engenheiro Ricardo Júlio Ferraz (até prova em contrário), é (parece-me) um (bom, mas não único) suspeito para a autoria da fachada e vãos laterais (alguns) da igreja de Nossa Senhora da Boa Viagem. Lá estava o Cura-Pároco Tomás Estrela que só sairia das Calhetas em 1874. Pergunto ainda (já fiz essa pergunta em trabalho anterior) se não poderá (eventualmente) haver relação entre essas obras e a primeira procissão conhecida de 1876? Mas, como há um interregno entre a procissão de 1876 (pelo menos não tenho notícia de ter havido outras) e a de 1893, a obra (eventualmente com projecto anterior. Ou posterior?) pode ter sido executada entre 1876/77 e 1893. Certo?

Depois de publicar (este trabalho) no CA (em 13 de Maio), hoje, dia 14 de Julho de 2023, a História é isso, da muito provável autoria de Ricardo Júlio Ferraz, passo a atribuir-lhe a muitíssimo provável autoria.[14] Devo isso a encontrar-se no Arquivo da Ribeira Grande o seu projecto para a capela do cemitério de Nossa Senhora da Estrela de 24 de Janeiro de 1864. Repare-se no pormenor dos arcos da porta principal e das janelas laterias e da rosácea.

Avançando com outros (possíveis, mas menos prováveis) autores e obras, e voltando-me (agora) para o Concelho e a Ouvidoria da Ribeira Grande: a igreja de São Brás. O conde da Fonte Bela doou o terreno. [1] Projecto de 1874, Frederico Augusto Serpa foi o seu autor. Era condutor de obras públicas, casou na Ribeira Grande (Ribeira Seca) com uma Estrela. O Cura-Pároco de Nossa Senhora da Boa Viagem era outro Estrela: Tomás de Sousa Estrela. Portanto, parente (por afinidade) de Frederico Augusto Serpa. Os ‘Estrela’ formavam (então) uma das mais poderosas e influentes famílias da Ribeira Grande. Prolongando as hipóteses no tempo: Depois da saída de Tomás em 1874, veio o Cura-Pároco Inocêncio de Almeida Cabral (1874-1879), e depois deste, José Joaquim Ferreira (1879-1893), e Jacinto Augusto da Silva (1895-1903). Que podem também ter a ver com aquelas obras. Até mesmo terem feito o risco? Quem sabe.

Aquele basalto rijo ali do calhau (já nos Fenais). Cabouqueiros (primeiro), depois, pedreiros e canteiros. Havia-os na terra. Em 1879 (portanto dentro dos anos ‘prováveis’ das obras) as Calhetas tinham três cabouqueiros (José Tavares Palreiro, Francisco de Sousa Travassos e António Vieira Rolo),[1] cinco pedreiros (António Luís de Sousa, António Manuel de Sousa, José Vieira, António Tavares Cavaco, Manuel de Sousa Dias),[2] e um canteiro (Manuel Pereira Brás Júnior).[3] Com filhos (muitos deles menores) que (certamente) ajudariam os pais como se fossem já ‘homens feitos.’ Algum dos três cabouqueiros ou mesmo os três, terão fornecido a pedra (de graça ou a um bom preço para a sua igreja). A pedra, subida das pedreiras numa escada (por crianças), era (no tempo) transportada por carroças.[4] Havia (na terra) arrieiros e lavradores que poderiam (bem) tê-la transportado da pedreira para a igreja ou (numa primeira fase) para a casa do canteiro. Também de graça ou a um preço baixo? O canteiro não terá tido mãos a medir (terá tido ajuda?): ‘afeiçoou’ aquela (difícil) pedra transformando-a em vãos (de portas, janelas, óculos), cimalhas, pináculos, cruz, etc.). Morava na travessa da Rua da Boavista. Vizinho, pois, dos cabouqueiros e de pedreiros. E das pedreiras. Para os trabalhos de madeira (janelas, portas e armações), (alguma madeira poderia ter sido cortada nas matas das Calhetas ou das mais acima na zona da Batalha) o carpinteiro Jacinto Tavares Baldaia da rua Porto. E se algum de entre eles (pedreiro ou o canteiro) fosse habilidoso? Poderia até (mesmo) ter feito os riscos da obra? Ou a sua adaptação ao caso concreto daquela igreja? Teriam (alguns deles) (eventualmente) trabalhado nas obras das Sete Cidades, na da Fajã de Cima ou na de São Brás? Quem sabe? Claro que (alguns dos) mestres poderiam ter vindo de fora das Calhetas. E a obra pode ter sido feita depois da década de setenta. E se a igreja que Ernesto do Canto refere for outra? (Leia nota abaixo) O que dizem disso? (continua)

Vila de Rabo de Peixe (Ribeira Grande) (continua) Mário Moura

(Correio dos Açores, 12 de Maio de 2023

Nota. Outra hipótese: foi o Reitor António Botelho de Lima a levar a cabo aquelas obras à volta de 1907. Fez obras, porém, da capela-mor. Eis o que escrevi antes. É possível. A igreja de São José na Salga (Nordeste)[1] e a de Santo António (Nordeste) são dois bons exemplos. Sobre esta última, sabe-se pela visita que o Bispo lhe fez à volta de Abril de 1904 que as obras da igreja estavam avançadas mas ainda não concluídas. A nota vem no Boletim Eclesiástico dos Açores, que o Padre António de Lima Botelho teve acesso. Além do mais, conheceria o Padre Manuel Raposo (Matriz – Ribeira Grande 1868 – Santo António Nordestinho – 1968) do Seminário em Angra. Terá sido das últimas visitas do Bispo D. José Manuel de Carvalho. Vamos transcrevê-la para ilustrar o modo como o Padre Botelho poderia ter feito nas Calhetas. O Pai fora carpinteiro, é provável que tenha aprendido a profissão antes de ir para o Seminário e o marido da irmã Rosa, Francisco de Sousa Travassos era cabouqueiro e ainda era vivo em 1909. Podem ser pistas? Sejam ou não, eis a notícia: ‘Sua Excelência Reverendíssima visitou a igreja de Santo António de que é cura o Muito Reverendo Padre António Raposo que empreendeu a construção de um novo templo com grandes sacrifícios seus e de todo o seu povo. Esta nova igreja fica muito bem situada e já está quase completa no exterior, faltando-lhe apenas cal nas paredes. É coberta com telha de Marselha e tem 24 metros de comprimento e 12 de largura, possuindo uma capela-mor e retábulo respectivo, de muito merecimento e arte.’ Atente-se como foi construída: ‘Tem sido admirável o zelo daquela boa gente e empenho que têm pela construção da sua nova igreja, chegando inclusivamente a acarretar a pedra, a madeira, a água enfim quase todo o material para ele. O Muito Reverendo Cura de uma grande actividade, quando necessita de material para os construtores daquela linda obra, manda ou vai tocar no sino que, por sinais convencionais, faz reunir um grande número de homens e mulheres que ele determina para este ou aquele serviço. Depois de completo, deve ficar um edifício de primeira ordem, quase todo feito de esmolas, porque a igreja é pobre.’[1] Cinco anos passados ‘no dia 8 de Outubro de 1909, foi benzida a igreja pelo reverendo ouvidor do Nordeste, José Lucindo da Graça,’ porém a torre, só viria a ser concluída ‘no ano de 1918.’[1]

Era bom que assim tivesse sido, mas não foi. Descobrindo hoje (dia 22 de Fevereiro de 2023), após busca mais aprofundada às estantes da sacristia da igreja de Nossa Senhora da Boa Viagem, o livro da Receita e da Despesa da Junta de Paróquia de Nossa Senhora da Boa Viagem, de 1908 a 1913, além das obras de manutenção, comprovei apenas a existência de uma campanha de obra em torno da Capela (suponho a capela-mor). De 1913, salta para 1932 e termina em 1935.[1]

Antes de ir no dia 9 de Março examinar as plantas da construção da estrada das Calhetas aos Fenais da Luz, ao observar a ermida do cemitério de Nossa Senhora da Estrela, na Ribeira Grande, saltaram-me à vista semelhanças com a igreja da Boa Viagem. Quem fez o projecto e quando foi feita aquela ermida? Na primeira década do século XX com o projecto de José Pereira do Rego Lima (1878-1952), o mesmo autor do Teatro da Ribeira Grande. E, apesar de muito ligeiras diferenças, a ermida de Nossa Senhora Auxiliadora, da terceira década do século XX.[1] Um neo-gótico para evocar a primeira igreja do século XVI? E agora?

 



[1] CABOUQUEIROS. Na rua da Boa Viagem, José Tavares Palreiro, de 43 anos. Manuel de 14 e José de 12 anos. Os filhos. Na Travessa da rua da Boa Vista morava Francisco de Sousa Travassos, de 36 anos, casado com Rosa Botelho irmão do padre António Botelho de Paiva (que viria a ter um papel decisivo na sua terra natal em 1906). E na rua da Boa Vista, António Vieira Rolo, 47 anos. Os filhos Jacinto, de 23 anos e Aquelinho, de 14 podiam ajudar.

[2] PEDREIROS: Na rua da Boa Viagem havia quatro pedreiros: António Luís de Sousa, de idade atribuída de 62 anos (que talvez já não pudesse ter um papel muito activo); António Manuel de Sousa, de 40 anos, talvez filho ou parente chegado de António Luís, cujo filho Manuel, de 11 anos já podia ajudar; José Vieira, 52 anos, e quatro filhos de 29, 18, 16 e 11, que poderiam sempre ajudar; e António Tavares Cavaco (?), de 44 anos. Um quinto pedreiro, de nome Manuel de Sousa Dias, de 44 anos, morava na rua da Igreja. Francisco de, 12 anos e Manuel, de 8 anos, talvez também já ajudassem o pai.

[3] Arquivo Paroquial de Nossa Senhora da Boa Viagem, Calhetas, Rol de Confessados de 1879.

[4] Testemunho de Antuérpia Maria Amaral de Sousa, 9 de Maio de 2023.


[1] Canto, Ernesto, Notícia sobre as Igrejas, Ermidas e Altares da Ilha de São Miguel, O Preto no Branco, Ponta Delgada, 16 de Abril de 1896, p. 64

[2] De documentação transcrita de todos os trabalhos já publicados (moinhos, presépio movimentado, futebol, azulejos, escavações, arcano, igrejas, ponte dos oito arcos, chá, Nascimento de uma Vila, cavalhadas, etc…) ou ainda não publicados (Aeroporto de Santana, Porto de Santa Iria, Espirito Santo, Biografias, etc…). O que iria facilitar a busca (posterior) nos arquivos. Antes de mais, fui ‘dar uma vista de olhos’ ao ficheiro que tenho ‘vindo a engordar’ desde 1983.Resultado: nada. Fui à plataforma digital Azoreana (disponibilizada em 2019/20). Aí ‘vi’ o Estrela Oriental (Ribeira Grande), A Persuasão (Ponta Delgada) e outros (poucos) periódicos. Também (aí) nada encontrei. Alarguei a pesquisa a periódicos digitalizados (ainda não incluídos na Azoreana). Obtive o mesmo resultado. Infelizmente, sem uma digitalização (mais abrangente e sistemática) aos periódicos publicados nos Açores (em OCR ou no que há-de vir do Chat-GPT ou algo semelhante), será (sempre) uma tarefa (teoricamente) possível mas (na prática) ciclópica.

[3] Ir ver o (o que resta do) da igreja de Nossa Senhora da Boa Viagem: visitas pastorais ou (processos de) obras. Nada ainda. E se for ao Arquivo Paroquial do Senhor Bom Jesus de Rabo de Peixe? Nada de novo. Ou ao da Senhora dos Prazeres? Ainda nada. Ou ao da Freguesia dos Lugares Pico da Pedra e Calhetas? Procurei nas actas. Procurei nos orçamentos. Nada vezes nada. Será que vou encontrar o que procuro no Arquivo da Ouvidoria? Infelizmente, ainda não está organizado. Ainda assim pesquisei (sem qualquer sucesso) o que sobreviveu. E no Arquivo da Administração do Concelho da Ribeira Grande? Nada. E no da Câmara? Nada. Pouco ou nada escapou (anterior) à ‘queima de 20 de Junho de 1869.’ Consequência do chamado ‘alevante da Ribeira Grande.’ E nos Fundos do Governo Civil e da Junta Geral? Também nada.

[4] Temos vindo a ver e a discutir ‘a igreja’ há semanas: em fotografias, indo à igreja. Hoje, dia 8 de Maio, fomos os dois. O que se segue é o resultado da nossa observação. Com muitos pontos de interrogação.

[5] Há uma orientação vertical que parte do vértice do arco da porta principal se prolonga pela rosácea, enfeite, placa datada e cruz no cimo. Algo a lembrar São Nicolau e a Senhora da Oliveira. Encimando os vértices das janelas e das portas, ou da rosácea: flores-de -lis.

[6] Exemplo das ermidas de São Sebastião (Rabo de Peixe) e Vencimento (cidade da Ribeira Grande). Ou minúscula, exemplo, Santo André, (cidade da Ribeira Grande).

[7] Diálogo (não presencial) co o colega arquitecto André Franco, 17 de Abril de 2023. Vou tentar ir lá com ele.

[8] Porém, é forçoso dizê-lo já, dada a escassez de provas, vou adiantar uns tantos se, muitos talvez e uma data de provavelmente.

[9]Um primeiro palpite? Em 1836 pediram ao bispo para ser paróquia. Não há nada que nos diga que não o conseguiram. Terão (então) de ter feito algumas obras (por exemplo um baptistério). As da igreja de Nossa Senhora da Boa Viagem já haviam sido (no essencial) concluídas. Dez anos depois do Pico da Pedra surgem dois fontenários nas Calhetas. Um, junto à casa do Morgado (encostada ao actual Mosteiro das Clarissas), onde se lê: ‘Manuel de Medeiros Bettencourt Câmara e Melo. 27-05-1846.’Outro, junto ao adro na estrada: ‘Fonte de Nossa Senhora da Boa Viagem. 2 – 1846.’ Em 1847, o Pico da Pedra inaugura o seu cemitério. Eis a hipótese: Seria entre 1836 e 1846 que a igreja de Nossa Senhora da Boa Viagem conheceu as obras (algumas) da fachada? É possível, mas teríamos de considerar que aquele estilo neogótico (da fachada) ou teria sido utilizado pela primeira vez nas Calhetas (não improvável mas inédito) ou que na Ilha (numa ermida ou em casas ou em revistas vindas da Europa) o estilo já fora usado. Pelo que, será uma hipótese (bastante) ‘fraquinha.’ Estive lá hoje (22 de Abril de 2023). Para confirmar. Abri as abreviaturas.

[10] Albergaria, Isabel Soares, Arquitectura e jardins: do neoclássico e outros revivalismos, às novas propostas do paisagismo oitocentista, in História da Arte nos Açores (c.1427-2000), Secretaria Regional da Educação e Cultura, Direcção Regional da Cultura, 2018, pp. 604-607.

[11] Significa isso o quê? Que ninguém (dali) mandou notícias do que possa ter ocorrido nas Calhetas? Mandou: ‘Houve uma morte, ruínas de prédios e muros de quintas caídos.’[11] Mas nada da igreja. Ainda assim, poderá ter provocado fendas nas estruturas da igreja? Este terramoto causou (alguns) danos ao tecto da igreja de Nossa Senhora dos Prazeres, Lugar do Pico da Pedra, ‘que levou a que fosse completamente renovado,’ e contudo, ao que saiba, (o assunto) não consta de qualquer relatório.

[12] http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=32612

[13] AMRG, Sessão de 22 de Janeiro de 1863, 1861-1863, fl.140 v

[14] AMRG, Projecto da construção de uma capela para o cemitério da Vila da Ribeira Grande, Ponta Delgada, Ricardo Júlio Ferraz, 24 de Janeiro de 1864.

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