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O Resgate de Santa Bárbara 

Se era uma entre (muitas) praias de areia da ilha, por que foi ela (e não uma das outras) a escolhida para abastecer de areia a Ilha (inteira)?[1] Porque ficava na Ribeira Grande e a Ribeira Grande era a grande fonte de matéria-prima da ilha. Além do mais era a maior e a mais larga praia de todas. Com (extraordinária) capacidade de ‘recuperação’ (de areia).[2] E era (ainda) acessível.[3] Porque não a do Monte Verde (Areia)? Partilhava de características idênticas às de Santa Bárbara. Provavelmente, porque a do Monte Verde (Areia) ficava no coração da Cidade da Ribeira Grande enquanto Santa Bárbara ficava ali (num lugar) longe da vista (logo, longe do coração). A escolha terá sido (ainda) uma (verdadeira) bênção dos céus porque as terras à sua volta (o Sarraçaco) pouco ou nada valiam. Muito por culpa da areia (soprada) e ao ‘salgado’ do mar. Livrando-lhes daquela ‘peste,’ a extracção poderia (acreditava-se nisso) valorizá-las. Além de tudo isso, o mar (ali) era (mais) perigoso (dizia-se). Ora, se antes Santa Bárbara fornecia (quase só) areia (para as ‘camas’ das calçadas), a partir de então passaria a fornecer areia (sobretudo) para ‘fazer’ betão. A pressão da construção, iria exigir (logo e já) toneladas (industriais) de metros cúbicos de areia. Santa Bárbara forneceu a Ilha inteira (e dizem que não só) durante toda a década de oitenta e a maior parte da década seguinte. Em 1978, a extração (já) pertencia à Junta de Freguesia. Em 1985 passou para a alçada da Câmara da Ribeira Grande.[4] Ora, enquanto não foi encontrada uma alternativa à areia de Santa Bárbara, Governo, Câmara, Junta de Freguesia e empresários da construção civil dependeram (unicamente) da areia de Santa Bárbara. Legalmente, a exploração terminou em Outubro de 1992. No entanto, teimou em prosseguir (ilegalmente) até (pelo menos) finais de 1997.

O que era aquilo ali (em baixo) em Santa Bárbara? No século passado, nos idos de cinquenta e inícios de sessenta, ainda não havia (ali) uma única casa na rua do Areal (das 15 que hoje ali se encontram). Maria da Glória Alves, 89 anos, diz: ‘Tinha 25 anos [1959-1960], quando casei é que então começaram a fazer ali casas.[5] Em 1968, o investigador Eduíno Borges Garcia, quando andou a estudar as olarias do Bandejo (ali ao lado), não lhe fez (absolutamente) qualquer referência.[6] Em 1980/81, ainda não se haviam construído (todas) as casas que hoje se vêm naquela rua. Maria Odília: ‘Moro aqui há 42/43 anos [1980/1]. Era quase tudo pedreira. Não havia estas casas todas. Depois começaram a fazer casas.[7] Chegava-se lá (a Santa Bárbara) através de um estreita canada ladeada por muros de pedra solta. Ou por carreiros sobre a rocha. Tal como sucedeu ao centro da Ribeira Grande, ali também se verificou um corte (no caso da Ribeira Seca) entre os da igreja para cima e os da igreja para baixo: ‘Os patrões não gostavam de contratar gente ali de baixo. Diziam que eram muito porcos.’ Porcos? ‘Porcos no serviço que faziam [pouco apurado].’[8] E o ‘preconceito’ (ainda) piorou (na década de noventa) porque (alguns dali) seriam (tidos como) a parte visível do ‘polvo’ do ‘garimpo.’ Só com a abertura da praia, foi-se, aos poucos, ‘esbatendo’ a barreira social. Além de um ou outro dali que se atrevia a ir ao mar, algumas (raras) pessoas ‘lá de cima’ iam ‘lá abaixo’ ao mar de Santa Bárbara. Para lá, ia, nos anos quarenta, manhã cedo, um grupinho de senhoras a ‘lavar-se no mar.’[9] Mais molhar os pés e pouco mais. Por alturas da (dita) Grande Guerra foram (lá) construídas (engenhosas) casamatas (e uma posição de metralhadora no cimo do morro). É provável que (então) os militares de ‘Lisboa’ dali à volta e de Santana fossem (também) ao mar. Ou algum inglês ou americano (ligados à aviação)? E (eventualmente) alguém surfou? Quem sabe. Em pequenina, Maria da Glória Alves recorda-se (bem) de lá ir.[10] Um testemunho ainda dos anos cinquenta ou já nos de sessenta, recordaria (décadas depois) as tardes lá passadas: ‘Nesse tempo, a areia estava ao mesmo nível dos campos de milho e fazia autênticas rampas, que desciam para o mar. Esses eram dias de festa. Toda a família saía cedo de casa e levava a sua merenda, os rapazes levavam os seus cachorros, porque afinal também faziam parte da família, enquanto as meninas levavam as suas bonecas de trapo. Só se iam embora ao final do dia, depois do pôr-do-sol. Porque este momento do dia, na altura do Verão, é de uma natureza indiscritível naquele areal.[11] A miudagem (antes de os surfistas ‘cavalgarem’ as ondas) ‘deslizava’ (acima e abaixo) as enormes dunas de areia.[12] Tal como nos Moinhos e na Areia (Monte Verde) e por toda a ilha, temia-se aquele mar: ‘aquilo era a morte.’[13]Os rapazes’ (vi isso vezes e vezes, conta-me uma outra testemunha) eram corridos (dali até casa) à ‘frente da vassoura das mães.’ Muitos dos que acabavam de ‘jogar à bola no Sarragaço’ iam (também) dar (ali) um mergulho. Era (também) para ali que cabreiros e lavradores (tal como em outras praias) levavam os seus animais para se livrarem de ‘pragas.’[14] Dali saía alguma (muito pouca) areia. E (muita, muita) pedra.

E que actividades havia por ali? Diz-me um industrial (reformado): ‘Tínhamos as nossas pedreiras para lá [actual Largo do Cabouqueiro. Antes Cova da Burra]. Até Abril de 1974, a MICOL, que se mudou para a Estrada da Ribeira Grande, o José Dâmaso, que se mudou para a Chã das Gatas, e nós [Agostinho Ferreira de Medeiros ‘Requeima,’ (n. 28.01.1921 – f. 16.08.1977)]. Na década de oitenta fomos para a Boavista. Ainda ficou o Francisco ‘Tabuga.’ [Francisco Botelho Júnior (n. 1929 – f. 1993]. Que também fazia blocos de pedra e de cimento. Feitos à mão.’[15] Maria Odília Medeiros, uma moradora, visualiza-me aquilo ali: ‘Ali [Quase a tocar no parque de estacionamento, à esquerda onde nos encontrávamos] havia o forno da telha do Francisco Giesta, hoje é do [Luís Carlos Ferreira] Moço, mas já não faz telha. Havia ali um fundão com areia. Hoje está cheio. Ali [Um pouco à direita de onde nos encontrávamos] era a britadeira do Francisco Tabuga.’[16] No espaço, hoje ocupado – em grande parte -, pelo parque de estacionamento, os cabouqueiros esburacavam (na pedreira) à procura da pedra certa para calçada e calçadinha (joga). Que vendiam às empresas.[17] Quando começaram a tirar areia dali do areal (para a construção)?Meu pai foi dos primeiros. Um familiar nosso que trabalhava na Base das Lajes arranjou-nos umas tiras metálicas que se metiam na areia para o camião poder passar. Depois é que vieram os outros.[18] E quando terão deixado de tirar dali areia? Legalmente acabou em Outubro de 1992.[19] Isso (só) foi possível porque, em 1990, perante a (quase) exaustão do areal - para o final, as caterpillars já operavam com as rodas metidas dentro de água ou tinham que ir junto à barreira tirar areia lá ao fundo -, e perante a ‘feroz’ concorrência entre empresários, o preço da areia (simplesmente) ‘disparou.’ Então, para se safarem, alguns empreiteiros investiram em novas soluções: ‘No dia 21 de Fevereiro de 1990 inauguramos isso aqui em cima na Bandeirinha.[20] Ou seja a areia extraída do tufo. ‘Dois ou três anos depois do Sr. Luís Franco [começou em 1992] estávamos a dragar areia do mar. O José do Couto talvez tenha começado o mesmo em 1995/96.’[21] Mesmo com essa ‘nova’ areia, não iria ser (nada) fácil acabar com o (lucrativo) ‘negócio’ da areia de Santa Bárbara.[22] Ainda em Novembro de 1997, o Açoriano Oriental titulava um artigo: ‘Polícia desmantela o polvo da areia.[23] A fome de areia era tanta (e tal) que houve quem arriscasse a tirar areia do Areal (Areia).[24] Atenta, a oposição na Câmara, faz soar (com sucesso) o alarme.[25]

Entretanto, a Ribeira Seca (e a maioria das restantes freguesia da cidade da Ribeira Grande), haviam (já) despertado para o interesse (balnear) daquela praia. Os mais velhos lembravam os mais novos de que iam (em tempos da sua juventude) ali à praia. Os manifestos eleitorais de (quase todas) as forças políticas concorrentes à Junta (já) prometiam acabar com a (extracção da) areia e fazer dali uma praia.[26] Tanto mais que, enquanto Santa Bárbara lutava pela sua sobrevivência, a praia dos Moinhos ganhava em importância. Em 1992, realizar-se-ia (ali) de novo o ‘habitual Festival de Rock na Praia dos Moinhos, tão ao agrado da nossa população.’[27] Toda a gente via (e cobiçava) o sucesso da Praia dos Moinhos (muito mais pequena): ‘por que razão a gente tem de ir aos Moinhos ou às Milícias com uma praia melhor aqui?’ Enquanto a situação não se resolvia, a Ribeira Seca agia. Sobretudo o seu Presidente (e equipa). Mal parou a extração de areia pela Câmara em Outubro de 1992, gente lá de ‘cima’ da Freguesia começou (quase militantemente) a frequentá-la. Além de ir apanhar banhos de sol, viam (pelos surfistas, que nunca a abandonaram) que se podia (sem medo) ir ao mar. Foram eles (estou em crer) que arrastando amigos e conhecidos, forçaram o poder (municipal e regional) a fazer algo por Santa Bárbara. Enquanto isso, a praia ganha um aliado inesperado (e insuspeito). Que desequilibra a relação de forças a favor de Santa Bárbara. Como sofressem a concorrência desleal dos ilegais, os areeiros legais aderem (indirectamente) à causa. A partir de então, por convicção ou pressão, eleitos locais de todos os quadrantes políticos tomam medidas.[28] Tenta-se dar uma nova cara à área. Em 1994, já com novo Presidente na Junta da Ribeira Seca, a Câmara tinha (no PDM) propostas que iriam tornar aquele espaço (num futuro muito próximo) ‘numa área de lazer.’[29] O mesmo Presidente (e equipa) toma a iniciativa de propor ‘melhoramentos na área envolvente ao areal de Santa Bárbara.’ E partilha o projecto com a Câmara.[30] Denuncia-se (abertamente) os atentados ambientais (ali ocorridos).[31] Surgem (com insistência) artigos nos jornais e há reportagens na televisão.[32] E a praia? Em Agosto de 1996, um abaixo-assinado propunha (à Câmara) a abertura não só da praia de Santa Bárbara mas da do Monte Verde (a Areia).[33] Para aquela época balnear. No entanto, nada se faria. Antes de abrir a praia, era necessário correr (uma vez por todas) com os ‘garimpeiros da areia’ (e com quem lucrava com eles). Em 1997, a escassos meses das eleições, a Câmara Municipal da Ribeira Grande, naturalmente desejando colher frutos, finalmente, chegaria a acordo com as ‘entidades envolvidas no processo de proibição de extracção e venda de areia.’[34] As acções (agora) são ‘a doer’ e começaram logo em Julho.[35] Reeleita e livre (ou a caminho disso) da exploração ilegal, a Câmara avança para a praia. Mas ainda havia um outro obstáculo a transpor (e igualmente difícil): convencer o capitão do porto de que Santa Bárbara poderia ser uma praia como outra qualquer. Em Março de 1998, por ‘ser procurada cada vez mais por parte dos banhistas,’ urgia dar-lhe (algumas) condições.[36] As coisas pareciam estar bem encaminhadas, já ninguém (ao que parece) tirava dali areia, até que (naquela praia ainda não vigiada mas já muito frequentada) acontece algo inevitável: um acidente mortal.[37] Tinha 16 anos, chamava-se Rui Filipe Ferraz Lima. Morreu afogado no dia 7 de Junho de 1998. Não sabia nadar. Apesar de viver na Vila Nova a dois passos do Areal (Monte Verde), preferia ir a Santa Bárbara. Diz o pai que o filho ia lá para encontrar uma ‘rapariga’ de quem gostava. Era para estar a tomar conta de vacas, mas trocou com um amigo. Foi no Domingo da Trindade. Ainda o viram a esbracejar a tentar pedir socorro. O seu corpo ficou três dias no mar. Às 6 horas da tarde de quarta-feira, dia 10 de Junho, dia de Portugal, alguém encontrou-o morto na areia. Foi sepultado no dia seguinte.[38] A tragédia veio nos jornais, na televisão e na rádio. As autoridades responsáveis recuaram.

Como me explicou o então vice-Presidente Filomeno Gouveia: ‘Foi antes necessário vencer a oposição de alguns capitães do porto de Ponta Delgada. Até que chegou um de ideias abertas e aberto à abertura daquela praia. Foram alguns mergulhadores da marinha pesquisar o melhor local para banhos. Descobriram que seria no local onde ainda hoje esta [presentemente há um outro ao fundo].’[39] Já prestes a chegar ao Verão de 1999, um vereador da oposição pressiona a Câmara. Esta responde-lhe que iria dotar (a praia) com as ‘infraestruturas,’ tais como ‘o nivelamento do espaço da entrada do recinto para servir de parque de estacionamento, construção de duches e a aquisição do barco que se prevê para breve.[40] Apesar da manifesta boa intenção, não abriria em 1999, nem tão-pouco em 2000, só o faria em 2001. O seu primeiro nadador-salvador foi o surfista João Brilhante. Nada mais justo. Veterano do tempo dos aventureiros (como eles se apelidam),[41] João Brilhante (aliás João Oliveira), diz-me: ‘mais amigos comecei a ir para Santa Bárbara antes das máquinas lá irem.’[42] Em S. Miguel, diz (por seu turno outro veterano) Pedro Arruda, quanto à ida aos ‘areais do Monte Verde e de Santa Bárbara era como se fôssemos à socapa. Enfrentávamos a oposição das nossas mães. Aqueles areais são perigosos. Repetiam-nos.’[43]

Três meses após a sua abertura, Luís Noronha previa-lhe um futuro brilhante: ‘Este Areal foi desaproveitado durante muitos anos mas ainda se vai tornar num dos motivos de atracção da Ribeira Grande.’[44] E mais: ‘O Areal de Santa Bárbara, muitos me diziam há anos que era uma causa perdida, ou porque os interesses da extracção da areia seriam incontornáveis, ou porque seria uma praia condenada, porque o mar é mais perigoso do que em qualquer outro lado. Afinal, na mais segura piscina pode acontecer um caso alarmante, como relataram os diários do dia 19 de Julho [de 2001], desde que não se cumpram as recomendações divulgadas. Ora, uma praia que tem vigilância com o sinal de bandeiras, com nadadores salvadores, com mota de água dos bombeiros, com pranchas de surf (e respectivos surfistas) e outros meios de socorro, que seja bastante frequentada, onde muitos olhos podem detectar qualquer situação de pânico é muito mais SEGURA, do que o mesmo espaço, sem nada do que se apontou e apenas com uma indicação – praia não vigiada. Para além da segurança, tem espaços limitados para o banho, para jogos, para prática de body board e surf, de modo a ninguém se sentir incomodado. Há espaço para tudo isso, porque é uma extensão de mil metros de areia, comparados com os escassos quatrocentos da Praia das Milícias.’ Acertou em cheio. Passados 22 anos, houve mais duas mortes. Dois turistas que nadavam em zona não vigiada. Já fora da época balnear. E transformou-se de (quase) mártir a Super-Star!

Lugar das Areias (Vila de Rabo de Peixe – Ribeira Grande) (continua)

(Correio dos Açores, 22 de Outubro de 2023, p. 20)

PS: Afinal foi em 2002, pelo que eliminei: ‘Nesse mesmo ano [2001], dotou a praia dos Moinhos com um (excelente) parque de estacionamento e ‘cimentou’ o segundo troço da Ladeira da Velha.’



[1] No sul havia a do Pópulo, a das Milícias e a de Água de Alto. No Norte, a dos Moinhos. Essas eram só dos banhistas. E havia também os Mosteiros e a Ribeira Quente. Essas ficavam (muito) longe.

[2] Em 2023, a areia quase já atinge as terras.

[3] Testemunho de Albano Moniz Furtado, 19 de Outubro de 2023. Industrial, filho de industriais, natural da Ribeira Grande e primeiro Presidente da AICOPA. É o interlocutor ideal.

[4] Deu (ao que se diz) muito dinheiro, porém, as contas deixaram muito a desejar. Uns até foram responder ao tribunal.

[5][5] Maria da Glória Alves (89 anos), 11 de Outubro de 2023

[6] José Luciano Gonçalves Basto (entrevista), Um ilustre etnólogo e arqueólogo açoriano fala sobre a cerâmica popular das ilhas dos Açores : Eduíno Borges Garcia, Sobral de Monte Agraço, 1971.

[7] Maria Odília Coroa de Medeiros, 12 de Outubro de 2023

[8] Testemunho de Agostinho de Medeiros, 11 de Outubro de 2023.

[9] Testemunho de Mariano Alves

[10] Maria da Glória Alves (89 anos), 11 de Outubro de 2023

[11] Gaudêncio, Alexandre, Murmúrio de sentimentos, Um tesouro redescoberto (menção honrosa no concurso aventura literária, 2001, CMRG, Ribeira Grande, 2001, p.14.

[12] Testemunho de José António Silva ‘Brinco’

[13]Manuel Rego Furtado [c. 75 anos], 12 de Outubro de 2023

[14] Testemunho de Mariano Alves

[15] Agostinho de Medeiros, 11 de Outubro de 2023; Fernandes, Maria da Conceição, Os que da Lei da morte se libertaram, Junta de Freguesia da Ribeira Seca, 1998; Hermano Teodoro, As ruas da Ribeira Seca, Junta de Freguesia da Ribeira Seca, 2013.

[16] Maria Odília Coroa de Medeiros, 12 de Outubro de 2023. Agostinho de Medeiros, 13 de Outubro de 2023: Porque saíram dali as empresas da pedra?As pessoas começaram a reclamar. As autoridades também.

[17] Agostinho de Medeiros, 13 de Outubro de 2023: Porque saíram dali as empresas da pedra?As pessoas começaram a reclamar. As autoridades também.

[18] Agostinho de Medeiros, 11 de Outubro de 2023

[19] AMRG, Acta da sessão de 25 de Setembro de 1992, fl. 5: ‘Extracção de Areias do Areal de Santa Bárbara. Processo 26. Presente nesta reunião n.º 1553 de 10 do corrente da Direcção Regional dos Transportes e Comunicações informando que findo 60 dias a contar do dia 10 do corrente [encerraria à volta de 10 de Outubro] findará a extração de areia no Areal de Santa Bárbara transportando-se para as instâncias oficiais responsáveis pela fiscalização da orla marítima, o cumprimento daquela decisão.’ Pouco antes, a Câmara ainda remara contra a maré: Moniz, Manuel (texto), Nilton Vieira (fotografias), Privados com pedaços da Areia. Mar engole quintais no areal de Santa Bárbara, Açoriano Oriental, 7 de Julho de 1992, pp. 1, 6,7-9: Resolução N.º 76/90 de 12 de Junho de 1991: Utilidade Pública do Areal de Santa Bárbara. Câmara toma partido pelos empreiteiros; Moniz, Manuel (texto), Nilton Vieira (fotografias), Acabaram-se as razões, mas…Porque não fecha o areal, Açoriano Oriental, 17 de Julho de 1992, pp. 1, 8: O Presidente publicamente assume o lado dos empresários da areia. Hospital do Divino Espírito Santo (105 metros cúbicos diários de areia). Havia muita obra a precisas de areia. As maiores em Ponta Delgada. Açoriano Oriental, 22 de Julho de 1992, última página: Inauguração do Complexo das Piscinas (Ponta Delgada); Açoriano Oriental, 19 de Agosto de 1992, p. 1: As obras da nova Biblioteca começaram.

[20] Marco Vieira, 13 de Outubro de 2023.

[21] Marco Vieira, 13 de Outubro de 2023. Franco, Luís de Vasconcelos, Os escusado. De menino a ancião, 2019, p. 297: Luís Franco: ‘Na Madeira comprei um velho navio cheio de problemas. Mas era urgente: a licença seria revogada se, em três meses, a operação não estivessem funcionamento. Nesses três meses extraíram-se, gratuitamente, da praia de Santa Bárbara, cerca de 100 mil metros cúbicos de areia, alguma dela guardada em quintais e currais de porcos. Revendia-se a seis mil escudos o metro cúbico. Belo negócio! (…) Em princípios de Novembro de 1992 comecei a extração.’

[22] Alguns empresários (que já tinham o problema resolvido) e (alguns) defensores do ambiente, querem que aquilo acabe. Teimando (só) ainda algum ‘peixe miúdo’ (sobretudo) dali de Santa Bárbara que (em certa medida) – sem o poder dos grandes – terá pago por aqueles. Um ou outro empresário grado, no fundo do areal, ainda retiraria (à socapa) areia. E outros tentariam (felizmente sem sucesso) fazer o mesmo na Areia (que também sofreu com a extração ocorrida no irmão ao lado, porventura, o último areal a ser salvo?). Açoriano Oriental, 14 de Maio de 1995; Fonseca, Ana Paula, Governo avança para a justiça, Açoriano Oriental, 7 de Julho de 1996; João Paz, Exigido cumprimento da lei, A.O, 18 de Agosto de 1997; Ana Paula Fonseca, Areia ilegal a Norte nas malhas da PSP, A.O., 15 de Novembro de 1997. Acta sessão Câmara Municipal da Ribeira Grande, 16 de Maio de 1995: Os vereadores da oposição, insistem, na sequência de denúncias publicadas nos jornais ‘que a Câmara perante esta situação, deveria reforçar a sua intervenção junto ao Governo Regional no sentido de ser ultrapassado o problema.’ Acta sessão Câmara Municipal da Ribeira Grande, 21 de Maio de 1996: E, pelos mesmos motivos, voltam à carga, acrescentando o caso de um lixeira próxima (dali), ‘a visibilidade desta Cidade, começa a estar aliada a casos como este, ao amazónico cenário dos burros no areal de Santa Bárbara e às notícias pormenorizadas dos acidentes de viação entre Rabo de Peixe e Santana.’ Pressionada, a Câmara esclarece que a ‘autarquia havia já denunciado e encetado diligências junto dos departamentos governamentais.’

[23] Açoriano Oriental, 14 de Maio de 1995; Fonseca, Ana Paula, Governo avança para a justiça, Açoriano Oriental, 7 de Julho de 1996; João Paz, Exigido cumprimento da lei, A.O, 18 de Agosto de 1997; Ana Paula Fonseca, Areia ilegal a Norte nas malhas da PSP, A.O., 15 de Novembro de 1997. Acta sessão Câmara Municipal da Ribeira Grande, 16 de Maio de 1995: Os vereadores da oposição, insistem, na sequência de denúncias publicadas nos jornais ‘que a Câmara perante esta situação, deveria reforçar a sua intervenção junto ao Governo Regional no sentido de ser ultrapassado o problema.’ Acta sessão Câmara Municipal da Ribeira Grande, 21 de Maio de 1996: E, pelos mesmos motivos, voltam à carga, acrescentando o caso de um lixeira próxima (dali), ‘a visibilidade desta Cidade, começa a estar aliada a casos como este, ao amazónico cenário dos burros no areal de Santa Bárbara e às notícias pormenorizadas dos acidentes de viação entre Rabo de Peixe e Santana.’ Pressionada, a Câmara esclarece que a ‘autarquia havia já denunciado e encetado diligências junto dos departamentos governamentais.’

[24] Fonseca, Ana Paula, Extracção continua. Ilegais da areia no tribunal, Açoriano Oriental, 7 de Julho de 1996, p. 16.

[25] Acta sessão Câmara Municipal da Ribeira Grande, 4 de Junho de 1996; Acta sessão Câmara Municipal da Ribeira Grande, 18 de Junho de 1996: A (situação) Câmara (em resposta) alega ir pedir uma reunião (urgente) com as entidades (ditas) competentes.

[26] Desde 1986, colecionei esses papéis que (segundo confirmei hoje, dia 19 de Outubro de 2023) não estão (como deveriam) na Biblioteca Daniel de Sá ou no Arquivo Municipal.

[27] AMRG, Acta da sessão de 17 de Julho de 1992, fls. 2-3

[28] A Câmara – de António Pedro Costa – Filomeno Gouveia como a oposição de Ricardo Silva -, e a Junta – de Norberto Gaudêncio -, eleitas em 1993. A Assembleia Municipal. A de Freguesia.

[29] AJFRS (Ribeira Seca), acta de 21 de Janeiro de 1994, Actas da Junta de Freguesia, 4 de janeiro de 1994 – 30 de Dezembro de 1999, fl. 4.

[30] AJFRS (Ribeira Seca), acta de 28 de Janeiro de 1994, Actas da Junta de Freguesia, 4 de janeiro de 1994 – 30 de Dezembro de 1999, fl. 5.: ‘Contactar o técnico de construção civil, Senhor Paulo Jorge Rodrigues, a fim de fazer um esboço/projecto, da área envolvente ao areal de Santa Bárbara.’ AJFRS (Ribeira Seca), acta de 11 de Fevereiro de 1994, Actas da Junta de Freguesia, 4 de janeiro de 1994 – 30 de Dezembro de 1999, fl. 6 v.: ‘No passado dia 9 (Com a Câmara) com vista à solução (…): obras de melhoramento, rever a ligação do Bandejo ao Monte Verde.’

[31]AJFRS (Ribeira Seca), acta de 11 de Março de 1994, Actas da Junta de Freguesia, 4 de janeiro de 1994 – 30 de Dezembro de 1999, fl. 7 v.: ‘Ficou o senhor Presidente de juntamente com o fotógrafo senhor José Morgado (Fotolinda) de fotografar os seguintes locais: zona de entulho do Bandejo n.º 41, onde o mar ameaça ruir com respectivos quintais: fotografias essas destinadas a completar processo destinado a enviar a diversas entidades.’

[32] Por exemplo, a televisão entrevistas surfistas e frequentadores daquela praia. Há uma série de artigos de Juvenálio Rego (membro das Assembleias de Freguesia e Municipal). Por exemplo, Maria Imaculada Gaudêncio (professora), esposa do Presidente da Junta da Ribeira Seca, eleita pelo PSD, grande defensora do areal, é vereadora da Cultura. José do Rego, eleito pelo PS, é outro grande defensor. O (poderoso) Vice-Presidente Filomeno Gouveia é outro grande defensor. António Pedro (o Presidente), inicialmente oposto à ideia, adere à ideia.

[33] Que (igualmente) se expropriasse ‘o caminho de acesso e parque de estacionamento junto à praia, com posse administrativa imediata dos mesmos de forma a ser possível utilizar a praia de uma forma normal ainda nesta época balnear.’ E ‘que, a exemplo do que sucede na maior parte das praias de S. Miguel, seja eliminado o caminho de acesso de viaturas à praia prolongando o muro já existente e construído uma escada que apenas permita o acesso a pé.’ O primeiro subscritor identifica-se como João F. Baldaria Paiva Vieira. Ainda que falasse com surfistas, responsáveis autárquicos, etc.. não consegui identificar este João Paiva Vieira. Nem encontrar os outros subscritores.

[34] Fonseca, Ana Paula, Extracção continua. Ilegais da areia no tribunal, Açoriano Oriental, 7 de Julho de 1996, p. 16.

[35] Fonseca, Ana Paula, Polícia desmantela na Ribeira Grande negócio ilícito da areia. Areia ilegal a norte nas malhas da PSP. Polícia desmantela o polvo da areia, Açoriano Oriental, 15 de Novembro de 1997, pp.1, 3

[36] Acta sessão Câmara Municipal da Ribeira Grande, 24 de Março de 1998. Por essa (forte) razão, o ‘Presidente alertou a Câmara para a necessidade de se reivindicar junto da Capitania do Porto de Ponta Delgada para que a praia do Areal de Santa Bárbara [fosse] aberta ao público e como zona própria para banhistas.’

[37] Testemunho de Mário Simas, 27 de Outubro de 2023 (na altura vice-comandante dos bombeiros voluntários da Ribeira Grande): ‘Recordo-me que, na praia de S.ta Bárbara faleceu alguém estava a mesma a caminho de ser licenciada para banhos pela Capitania e, no Monte Verde um luso canadiano também ter perdido a vida. Datas!!!???’ Foi em 2009 (nota de 11 de Dezembro de).

[38] Testemunho de Maria José e Artur, pais do Rui Filipe Ferraz Lima, 28 de Outubro de 2023.

[39]Filomeno Gouveia, vice-Presidente da vereação de António Pedo Costa, 11 de Setembro de 2023.

[40] Acta sessão Câmara Municipal da Ribeira Grande, 4 de Maio de 1999; Acta sessão Câmara Municipal da Ribeira Grande, 18 de Maio de 1999: Ainda naquele mês, aquele vereador, pedia novos esclarecimentos acerca das medidas (porventura) já tomadas. O Vereador João Furtado informou que se havia contactado ‘com Empresas locais com vista à execução das obras a levar a efeito na Praia do Areal de Santa Bárbara (…).’

[41] Como o gostam de contrapor aos Betinhos de agora os que iniciaram a prática regular da modalidade.

[42] Testemunho de João Brilhante, 15 de Setembro de 2023.

[43] Testemunho de Pedro Arruda, 9 de Agosto de 2023: que está a trabalhar a História da modalidade nos Açores, a prática do surf, ‘torna-se regular a partir dos anos 80. Já com regras. É a geração de 80-90. O Primeiro Meeting de Surf data de 1985. Tem lugar na Praia do Pópulo. Há uma primeira associação de surf ligada à Escola Antero Quental.’

[44] Noronha, Luís, A cidade e o mar (è necessário debater para…), Estrela Oriental, Ribeira Grande, III Série, n.º 4, Setembro de 2001, p. 8.

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História do Surf na Ribeira Grande: Clubes (Parte IV)

Clubes (Parte IV) Clubes? ‘ Os treinadores fizeram pressão para que se criasse uma verdadeira associação de clubes .’ [1] É assim que o recorda, quase uma década depois, Luís Silva Melo, Presidente da Comissão Instaladora e o primeiro Presidente da AASB. [2] Porquê? O sucesso (mediático e desportivo) das provas nacionais e internacionais (em Santa Bárbara e no Monte Verde, devido à visão de Rodrigo Herédia) havia atraído (como nunca) novos candidatos ao desporto das ondas (e à sua filosofia de vida), no entanto, desde o fecho da USBA, ficara (quase) tudo (muito) parado (em termos de competições oficiais). O que terá desencadeado o movimento da mudança? Uma conversa (fortuita?) na praia. Segundo essa versão, David Prescott, comentador de provas de nível nacional e internacional, há pouco fixado na ilha, ainda em finais do ano de 2013 ou já em inícios do ano de 2014, chegando-se a um grupo ‘ de mães ’ (mais propriamente de pais e mães) que (regularmente) acompanhavam os treinos do...

Moinhos da Ribeira Grande

“Mãn d’água [1] ” Moleiros revoltados na Ribeira Grande [2] Na edição do jornal de 29 de Outubro de 1997, ao alto da primeira página, junto ao título do jornal, em letras gordas, remetendo o leitor para a página 6, a jornalista referia que: « Os moleiros cansados de esperar e ouvir promessas da Câmara da Ribeira Grande e do Governo Regional, avançaram ontem sozinhos e por conta própria para a recuperação da “ mãe d’água” de onde parte a água para os moinhos.» Deixando pairar no ar a ameaça de que, assim sendo « após a construção, os moleiros prometem vedar com blocos e cimento o acesso da água aos bombeiros voluntários, lavradores e matadouro da Ribeira Grande, que utilizam a água da levada dos moinhos da Condessa.» [3] Passou, entretanto, um mês e dezanove dias, sobre a enxurrada de 10 de Setembro que destruiu a “Mãn”, e os moleiros sem água - a sua energia gratuita -, recorriam a moinhos eléctricos e a um de água na Ribeirinha: « O meu filho[Armindo Vitória] agora [24-10-1997] só ven...

Quem foi Madre Margarida Isabel do Apocalipse? Pequenos traços biográficos.

Quem foi Madre Margarida Isabel do Apocalipse? Pequenos traços biográficos. Pretende-se, com o museu do Arcano, tal como com o dos moinhos, a arqueologia, a azulejaria, as artes e ofícios, essencialmente, continuar a implementar o Museu da Ribeira Grande - desde 1986 já existe parte aberta ao público na Casa da Cultura -, uma estrutura patrimonial que estude, conserve e explique à comunidade e com a comunidade o espaço e o tempo no concelho da Ribeira Grande, desde a sua formação e evolução geológica, passando pelas suas vertentes histórica, antropológica, sociológica, ou seja nas suas múltiplas vertentes interdisciplinares, desde então até ao presente. Madre Margarida Isabel do Apocalipse foi freira clarissa desde 1800, saindo do convento em 1832 quando os conventos foram extintos nas ilhas. Nasceu em 1779 na freguesia da Conceição e faleceu em 1858 na da Matriz, na Cidade de Ribeira Grande. Pertencia às principais famílias da vila sendo aparentada às mais importan...