Monte Verde
Por
falar no modo como a Ribeira Grande se abriu (foi abrindo) para o mar. Se na década de trinta, dera um (leve) empurrão,
na de quarenta, deu um (valente) safanão. Não tanto pelo que se materializou,
mas pelas ideias que semeou. Abanão (inicial) (em grande parte) dado pelos
‘soldados de Lisboa’ aquartelados na (antiga) Fábrica do Álcool
(no Cabo da Vila) e no aeródromo de Santana (base aérea n.º 4).[1]
De 1941 a 1945, o litoral da Ribeira Grande adquiriu (uma extraordinária) importância
estratégica (como nunca antes vira nem nunca mais haveria de ver). São construídas
- do areal de Santa Bárbara ao Miradouro de Santa Iria -, só para referir esse
troço da costa, casamatas e posições de metralhadores.[2]
Era preciso proteger (a todo o custo) o porto de mar (em Ponta Delgada) e o aeródromo
(na Ribeira Grande).[3]
Tanto quanto (até ao momento) pude verificar, não se terá adiantado (do ponto
de vista material) um só milímetro à via litoral, nem (tão-pouco) terão sido acrescentadas
(quaisquer) comodidades (de monta) às Poças e, no entanto, esse é o ponto onde
quero chegar, os jovens militares (soldados ou oficiais) (mais tarde os
funcionários do aeródromo) trazem (consigo) novos hábitos e (além da ida aos dois
cafés, às tascas, ao Teatro, ao jardim Municipal e às festas religiosas de
verão) frequentam (também, com regularidade) o mar.
[4]
São jovens continentais habituados (nas suas terras de origem) aos banhos no
mar ou nos rios. Alguns (até) fotografam-no.[5]
Não só vão às Poças, mas (talvez, seja essa a novidade) vão aos areais (do de
Santana ao do Monte Verde).[6]
Apesar de (ao que se diz, o que ainda não confirmei) alguns terem aí perdido a vida.
É (pela mesma ordem de ideias) provável que (também) o fizessem no Calhau da
Furna, nos Poceirões, no porto das Calhetas e na praia de banhos de Rabo de
Peixe.[7]
Ligado (a partir de certa altura) ao primeiro
aspecto, há a questão da Cidade. Como sempre acontecia em ocasiões que vinham a
calhar, e essa seria uma delas, (re)apareceu (ainda que de forma inorgânica) um
novo impulso para fazer da Ribeira Grande Cidade.
Chegam (a esse respeito) ecos (talvez apenas fragmentos) dessa intenção, a dois
jornais de Ponta Delgada (o Correio dos
Açores e o Diário dos Açores). O
sonho não morrera com o malogro de 1852, longe disso, por exemplo, na edição de A Razão, de Abril, Jorge Gamboa exclamava (todo esperançado) ‘Ah! … Se todos os ribeiragrandenses
quisessem!...’[8]
Porque era ‘muito superior a muitas cidades de Portugal continental.’ Em
1947, voltaria a repeti-lo.[9] Aquela
aspiração de ser Cidade, seria ‘falada’ pelos dois cafés (de então) da
Ribeira Grande: o Central e o Peixoto. A esse respeito, destacam-se (claramente)
duas ‘posições.’ Herdeiras de 1852,
da primeira tentativa conhecida. Sendo ambas favoráveis à criação da cidade,
divergiam, porém, quanto ao momento (adequado) para tal acontecer. Uns, essa
era (e seria sempre) a posição de Jorge Gamboa, defendiam que só o deveria ser após
a resolução de (algumas) carências (tidos por estruturais); outros, não negando
essas carências, achavam (no entanto) que se fosse já Cidade essas carências teriam
mais hipóteses de serem resolvidas (posição do Padre Edmundo Pacheco na década
de setenta). Ambas, no entanto, coincidiam (ou acabariam por coincidir) num
ponto: a importância (vital) da via Litoral (avenida marginal). Cuja construção,
segundo o modernismo da década de quarenta, se justificaria (serviu para
justificara a de Ponta Delgada) pelo movimento automóvel.[10]
Naquela década de quarenta, a ideia (sonho) da via litoral (que na década
anterior) deveria ir da canada das Feiticeiras (rua José Dâmaso) ao Largo de
Santo André, iria (a partir de então) estender-se a poente. Numa das propostas (já)
conhecidas, pretende-se (doravante) ligar o largo de Santo André ao Bandejo.[11]
Por que razão a Ribeira Grande queria uma
via litoral?[12] Seria (apenas)
vaidade de uma candidata a cidade? Por essa altura, a cidade de Ponta Delgada construía
a sua primeira via litoral.[13]
Aumentara (na Ribeira Grande) o trânsito automóvel? Esperava-se que isso viesse
(em breve) a acontecer? Não esquecer o aeródromo de Santana (que passara a ser
operado pela SATA). Sem fugir às questões anteriores, estou em crer que (além
daquelas) existiriam (ainda) outras. Quais?
Por exemplo, razões económicas. Como atrair o turismo sem olhar para o mar? Também
(por) razões estéticas e sanitárias. Quem (porventura) sobrevoasse a Ribeira, veria
o seu lado mais negro (e degradado).[14]
Além disso, seria uma medida de protecção. A orla marítima da Ribeira Grande -
dizem os especialistas -, é geologicamente frágil.[15]
A este propósito, é (re)ler as Saudades
da Terra de Gaspar Frutuoso.[16]
Ou ‘As Crónicas (…),’ de Frei Agostinho
de Monte Alverne.[17]
A solução – acreditava-se -, passaria por retirar a população do litoral e
realojá-la (como o foram fazendo desde a década de trinta) em locais (considerados)
mais seguros (e próprios. Leia-se, para não afrontar a sensibilidade burguesa).[18]
De
certo modo, falar do projecto (ideias) para uma via litoral na Ribeira Grande, passa (também) a
querer dizer que se pretendia elevar a Vila a Cidade.
Neste período a Câmara conheceu dois Presidentes: o Dr. Lucindo Rebelo Machado (n.
2.04. 1905 RG f. 19.11.1970 RG) (Presidente:
1941 e 1946 a 1949) ‘fuseiro’
da Matriz e o
picoense de São Roque Dr. Luciano Machado Soares (n. 25.06.1902 –
Pico - f. 15.12.
1977
PDL) (Presidente: 1942-1945). Findara (entretanto) a II
Guerra. Os militares ‘de Lisboa’
haviam regressado a casa. No entanto, alguns (pelo casamento) permaneceram na
Ribeira Grande. Na Presidência do Dr. Lucindo realizou-se a ‘1.ª Conferência de Administração Pública. A
6.ª Sessão realizada no sábado último [31 de Julho de 1948], na Câmara da Ribeira Grande.’[19] O que foi (eventualmente) dito aí de
interesse para perceber a transformação (litoral) urbana da Ribeira Grande?
Uma ‘Estrada [da] beira-mar, que ligará a rua dos Mercados
[rua do Estrela] com o Largo de S. Pedro, da Ribeira Seca.’ Trata-se (atente-se)
de um (outro) traçado. Seria (antes) a retoma do projecto do prolongamento da
rua do Estrela de finais de 1899.[20] Que
estaria (então) a aguardar a elaboração do seu ante-plano urbanístico. O que se passou? Vamos ao início do
processo, dando a palavra ao Presidente Lucindo: ‘A repartição superior de urbanização, depois de obter o assentimento
desta Câmara, nomeou o arquitecto João [António] de Aguiar [n.1906- f. 1974] para
a elaboração do ante-plano de urbanização (…).’ E depois? ‘Porém, caso extraordinário [assim o
qualifica, indignado, o Presidente Lucindo],
o referido arquitecto, vem, posteriormente, a Ponta Delgada [Em 1944
apresentara o ante-projecto de Ponta Delgada. Que foi aprovado em 1946], ignorando aquela nomeação (….).’ Continue-se
a seguir: ‘e, quando foi informado dela,
respondeu que só depois de outros trabalhos a realizar em África, poderia
desempenhar-se daquela missão (…).’ [21] Como explicar que Aguiar tenha sido retirado (é esse o termo) da Ribeira
Grande mantido em Ponta Delgada? Não
há documento que o diga ‘preto no branco,’
no entanto, uma coisa é certa, Aguiar não o fez sem ordens superiores. Por que
razão os superiores hierárquicos de Aguiar (Ministro, no mínimo) o fizeram? Pior, sem se dar cavaco à Ribeira Grande. Eis uma explicação possível. Apesar
de a Ribeira Grande ser a melhor Vila do Distrito (e uma das melhores do País),
a Cidade de Ponta Delgada era a capital do Distrito. Fazia ou não sentido que o
Estado Novo a tratasse em primeiro lugar? Fazia ou não todo o sentido que a
Ribeira Grande viesse a seguir? [22] Sim. E o Ministro do Estado Novo – a
quem ‘a reclamação’ foi apresentada -, deu (pelo conseguinte) novas instruções
a Aguiar?[23]
E a Ribeira Grande ter-se-ia de contentar com o jovem arquitecto Quintanilha.
Saído há pouco da Faculdade. Até melhor prova, é admissível pensar assim? É. Tanto
poderá ter sido assim que intelectuais, comerciantes, Câmara e Governo Central,
se uniram para que isso acontecesse. Em 1946, Carreiro da Costa (para dar mais
força ao argumento), exagerara (a meu ver) a situação: ‘Ponta Delgada, ainda hoje, afora as artérias mais recentes, não é mais
do que um amontoado de casas dispostas segundo arruamentos tortuosos e praças
de acanhadas dimensões, sem molduras apropriadas, nem exposição conveniente.’ [24]
Enquanto as obras avançavam no
litoral de Ponta Delgada, o processo parara (por completo) na Ribeira Grande. O
Dr. Manuel Barbosa (n. 17.12.1905 PDL —
f., 27.06. 1991 - São Brás de Alportel),
que fora colega do Dr. Lucindo no Liceu, é uma das vozes a quem Pereira da Silva
pede opinião. Este, quanto ao ‘ponto de
vista urbano,’ (já em Fevereiro de 1949) sugere (sem adiantar pormenores do
seu traçado) ‘a construção de uma avenida
litoral, que reactivasse a indústria da construção civil e atraísse aqui mais
forasteiros, especialmente na quadra do verão.’[25] Pede
(o mesmo) ao Conde de Caminha, D. Lopo de Sousa Coutinho (n.
25-05-1891 – São Jorge de Arroios – Cidade de Lisboa – f. 18-01-1976 – Lisboa). Em Setembro de 1949, na parte
que interessa a este meu trabalho, aliando turismo e praia, Caminha adianta
(para beneficiar a praia) razões de atracção de forasteiros: ‘Aproveitem a época de divertimentos e bar na
praia de banhos e verão como nestes meses – em que o calor é horrível na cidade
e em que muitos almejariam um passeio até esta Vila, que tem fama de ser mais
fresca – conseguiriam ter um turismo que, apesar de caseiro, sempre deixaria interesse a muitos, e sobretudo aos
que o soubessem industrializar.’[26]
Segue-se, naquele mesmo mês de
Setembro, um desentendimento (público) entre o Presidente Lucindo e Jorge
Gamboa. ‘Casa que não há pão, todos
ralham e ninguém tem razão?’ Tudo começa numa edição especial dedicada pelo
Correio dos Açores à Ribeira Grande.
E (provavelmente) pelo teor de uma caixa (na primeira página): ‘à brilhante actividade dos munícipes que
ciosamente se orgulham da sua Vila-Cidade.’[27]
Jorge, é possível supô-lo, porque havia muito a fazer e nada ou muito pouco entretanto
fora feito, além disso, estava tudo quieto, aproveita a (excelente) ocasião
para tentar acordar o ‘orgulho da Vila
Cidade.’[28]
Até isso acontecer, a Ribeira Grande não seria digna de ser Cidade nem (sequer)
mesmo (fosse o que isso fosse) ser Vila-Cidade.[29] Não é meigo, bate forte: ‘Para que
sejas digna do teu passado e digna do cognome que te querem dar, tens de
despertar da agonia lenta em que caíste. (...) se não o fizeres, todos aqueles
que agora generosamente te enlevam a alma com o nome de VILA-CIDADE, passarão
dolorosamente a magoar-te alcunhando-te de CIDADE-ALDEIA.’[30] No
início do mês seguinte, no Diário dos
Açores, D. Lopo Coutinho (conciliador) propõe uma saída para a questão. O
título que dá (diz quase tudo): ‘Pode a
Vila da Ribeira Grande vir a ser Vila-Cidade? Pode, se o Povo do concelho, num
grito uníssono disser: - Nós Queremos…’[31] Trata-se
de um plano (radical) para transformar a Vila numa (verdadeira) Cidade. Além do
plano, sugere (tão ou mais importante) fontes (possíveis) de financiamento. Diga-se
que Lopo era (igualmente) empreiteiro. Vou apenas retirar o que diz respeito à
via litoral. Após (diversas e muito interessantes) propostas, volta-se para o
litoral. É original, coloca em paralelo o traçado da via e a praia de banhos: ‘Depois, debruçando-se sobre o mar, como uma
linda estrada de turismo que então seria, iria com jeitos de cobra que o mar
lhe daria até ao Palheiro e dali até alcançar a estrada actual para as Furnas.
A lindíssima praia em que terminaria este Parque [Monte Verde: do Bandejo à
Vila Nova], procurar-se-ia que a
Capitania e a Junta dos Portos cuidassem dela, de forma a torna-la uma praia de
banhos. Praia para adultos e praia para crianças na foz da Ribeira.’[32] Que aconteceu (entretanto) à Ribeira Grande?
Foi (então) cidade? Não. Seria improvável que o tivesse (então) sido. Não são
conhecidos (quaisquer casos de Vilas feitas Cidade no período salazarista.[33] E a via-litoral? Teria de esperar que Ponta
Delgada acabasse a sua? Terá chegado a sua vez na década seguinte? Não. O Estado
Novo investia na (nova) Praça Velho Cabral (e áreas adjacentes)?[34] É
provável. Apesar de (então) a Ribeira Grande não ter alcançado os seus
objectivos, no entanto, enraizaram-se hábitos de ida ao mar. E (importante) não
se desistiu da ideia de vir a ser cidade nem de ter uma via litoral.
Museu Municipal da Ribeira Grande
(cidade da Ribeira Grande) (continua) (Correio dos Açores,18 de Agosto de 2023)
[1] Terminada a Guerra Mundial - as fontes dividem-se a
este respeito -, aquela base aérea (ou apenas o seu número) passou para as
Lajes, na Ilha Terceira. Mantendo-se apenas (no local) uma (diminuta) presença
simbólica. Passando à esfera civil, o aeródromo foi utilizado pela SATA e pelo
pessoal a ela afecto, bem como às diversas (e competentes) autoridades. Até o
aeródromo ter sido (na década de sessenta) ‘desviado’ (à pressa e contra todos
os pareceres técnicos sérios) para aquele arrabalde (sem quaisquer condições)
de Ponta Delgada. Alguns (dos soldados de Lisboa) fixaram residência na Ribeira
Grande.
[2][2] Veja-se Coronel Salgado: Martins, José Manuel
Salgado, Do basalto ao betão: Fortificações das Ilhas de São Miguel e Santa
Maria (séculos XVI-XX), Letras Lavadas, 2013, pp. 174-177; Resende, Sérgio, A
II Guerra Mundial nos Açores: Receios, privações e miséria num ambiente de
prevenção armada, Caleidoscópio, 2018; Almeida, José Alfredo Ferreira, A
Campanha do ananás; Os Açores na II Guerra Mundial, 2.ª edição. Revista, Letras
Lavadas, 2019.
[3] Veja-se Resende, Sérgio, A II Guerra Mundial nos
Açores: Receios, privações e miséria num ambiente de prevenção armada,
Caleidoscópio, 2018, p.62.
[4] Rodrigues, Joaquim Forte Sampaio, O insólito na
vida de um Médico, 1993; Face Prosaica da Prática Clínica, 1996; Joaquim Forte Sampaio Rodrigues, Açorianíssima, Ponta Delgada Fevereiro, 2001, pp. 22-23; Teodoro, Hermano, Sampaio Rodrigues: Médico, autarca e contador de
estórias, Estrela Oriental, Ribeira Grande, III Série, Outubro de 2002, pp. 6,7;
Silva,
Ezequiel Moreira da, Ares da Guerra, Coisas da Ribeira Grande, (I), Correio dos
Açores, 5 de Junho de 2011, p. 15; (II), 12 de Junho de 2011, p. 17; (III), 19
de Junho de 2011, p. 15; (IV), 26 de Junho de 2011, p. 15; (V), 3 de Julho de
2011, p. 17; (VI), Correio dos Açores, 17 de Julho de 2011, p. 15; Gaudêncio,
Alexandre Branco, Padre Edmundo Pacheco:
Histórias de um ribeiragrandense, 2012, [Os aviões e o aeródromo de
Santana98] pp. 57-65.
[5] Por exemplo, o Álbum do aviador Carita oferecido
(através do filho, meu colega e amigo me chegou às mãos) à Ribeira Grande. Ou
da família Monteiro (cuja filha mora entre nós).
[6] Prova do que digo? As memórias do médico Joaquim
Sampaio Rodrigues. Militar continental que se fixou na Ribeira Grande. As do
Padre Edmundo Pacheco. E de múltiplas conversas com gente dessa altura.
[7] Conforme conversa com gente desta época. Ou seus
descendentes. Nas Calhetas houve uma vigia militar. No Pico da Pedra e em Rabo
de Peixe existiam aquartelamentos.
[8]Vasconcelos,
Jorge Gamboa de, carta de Jorge Gamboa de
Vasconcelos, a Fábio Moniz de Vasconcelos, A Razão, Ribeira Grande, Abril
de 1934
[9] Vasconcelos,
Jorge Gamboa, A Ribeira Grande e o seu aspecto urbanístico no passado, no
presente e futuro, Correio dos Açores, 27 de Julho de 1947, p.4.
[10] Cunha, Filipa de
Sousa, Valorização do património
edificado de Ponta Delgada: estudo da memória dos lugares, Universidade dos
Açores, Mestrado em Museologia, Património e Desenvolvimento, Ponta Delgada,
2016.
[11] Através da ponte
dos Oito Arcos? Pouco antes da foz da ribeira Grande, passando pela rua do
Aresta, Curral, final da rua do Saco, rua da Praia, bairro da Vila Nova, Monte
Verde terminando no Bandejo. Curioso (ou talvez não) é o facto de um dos
trajectos (então) sugeridos, respeitar (rigorosamente) os contornos naturais da
costa. O aterro do Monte Verde é posterior. É de finais da década de cinquenta
e meados de sessenta. E altera o plano (a ideia) de quarenta.
[12] Como chego a
isso? Através dos textos conhecidos. Através de conversas com intervenientes.
[13] Já havia do
século XIX o aterro, é certo. Em 1947 é aprovado o projecto do Arquitecto João
Aguiar.
[14] Como ouvi dizer
(em várias ocasiões, uma por altura de uma exposição sobre o aeródromo de
Santana) ao sr. Laureano Almeida (antigo assistente de bordo da SATA).
[15] Testemunho do
geólogo Doutor Paulo Borges, 16 de Agosto de 2023: ‘(…)O depósito de aluvião/torrencial/material pomítico (…) que chegaram
ao mar resultantes do sismo de 1522 e da erupção vulcânica na Lagoa do Fogo em
1563 estendem-se ou estendiam-se das piscinas antigas a leste e para oeste até
ao actual hotel verde mar O areal do Monte Verde e de Santa Bárbara terão sido
um só.’
[16] Frutuoso,
Gaspar, saudades da Terra, Livro IV, ICPD, 1998, p. 192.
[17]Monte Alverne,
Crónicas da Província de S. João Evangelista das Ilhas dos Açores, Volume II,
ICPD, 1961, p.298.
[18] Esse enorme
esforço, abrangia (sobretudo) quem morava na parte da rua do Castelo voltada ao
mar, todo o Curral e a Cova do Milho, final da rua do Saco e parte da rua da
Praia. E (tudo) isso o que terá a ver com as Calhetas? A meu ver: basta seguir
as novelas das Calhetas e do Passeio Atlântico da Ribeira Grande para perceber
o paralelismo.
[19] Silva, José
Pereira da, A Voz da Ribeira Grande,
Diário dos Açores, Ponta Delgada, 28 de Fevereiro de 1948, pp. 2-3; 12 de Março
de 1948, pp. 2-3; 3 de Abril de 1948, p. 2; 24 de Maio de 1948, pp. 2-3; 4 de
Agosto de 1948, pp. 2-3, 12 de Fevereiro de 1949, p. 2; 6 de Agosto de 1949, p.
2; 3 de Setembro de 1949, pp. 2-3; 17 de Setembro de 1949, p. 2; Silva, José
Pereira da, 8 de Outubro de 1949, pp. 2-3; 19 de Novembro de 1949, pp. 2-3. Uma
pausa para explicar a acção de José Pereira da Silva. Até ao momento segui dois
anos de A Voz da Ribeira Grande. Em
1948, José Pereira da Silva publica cinco edições e em 1949, seis. Que conheça,
é a primeira tentativa fundamentada desde 1852. Por uma leitura destes números,
fica-se com a ideia clara de que o responsável pela página pretendera dar voz a
temas e a colaboradores diversos que tratassem de assuntos de profundo
interesse para a Ribeira Grande: problemas do ensino, da saúde, do saneamento
básico, de urbanismo (aí surge uma notícia da via litoral) ou do estatuto da
vila. De facto, é discutida uma nova categoria para a Vila da Ribeira Grande e
do que seria necessário para tal. O orador foi Francisco Carreiro da Costa.
Estavam presentes, entre outros e além de José Pereira da Silva (n. 4 de
Fevereiro de 1904 – Matriz da Estrela – f. 22 de Março de 1967 - Conceição),
responsável por ‘A Voz da Ribeira Grande,’
no Diário dos Açores, o Padre Luís
Cabral, Ouvidor do Eclesiástico, o Padre Evaristo Carreiro Gouveia, padrinho de
Carreiro da Costa, o Dr. Jorge Gamboa, Delegado de Saúde, o Dr. Manuel Barbosa.
[20] A concretização
só veria a luz do dia quase um século depois, durante a presidência do
engenheiro Hermano Mota.
[21] Silva, José
Pereira da, A Voz da Ribeira Grande, Diário dos Açores, Ponta Delgada, 4 de
Agosto de 1948, pp. 2-3 [Alocução de Francisco Carreiro da Costa,
posteriormente vertida em livro.] (…). 5- Transformação da Cova do Milho num
parque para os habitantes desta Vila.’ João António de Aguiar nasceu em 1906 e
foi responsável por vários Planos de Urbanização, em Portugal continental e
ultramarino, nos anos 40, 50 e 60. Francisco Quintanilha (na década seguinte)
viria a ser autor do projecto da Praça Gonçalo Velho Cabral. Entre outros.
Quintanilha concluíra o curso em 1944. Seria arquitecto da Câmara de Ponta
Delgada.
[22] Provas? Está
tanto nos textos como no que se fez no terreno. Leia-se também: Malheiro, Joana
Bastos,
A cidade no estado novo: O desenho urbano na
obra de João António de Aguiar, Tese de Doutoramento, Universidade de Lisboa,
2018. Mais: ouvi da boca de antigos vereadores que a promessa (não cumprida)
foi feita.
[23] Isso não era
caso inédito (fora-o quanto ao porto de Santa Iria) e sê-lo-ia quanto ao
aeroporto de Santana.
[24] Costa, Francisco
Carreiro da, Ponta Delgada e a sua Formação Topográfica, Insulana, 1946, in
Etnologia dos Açores, Volume 2, 1991, p. 655. É de Aguiar o projecto de
arquitectura (do troço do forte de São Brás a São Pedro) da avenida Marginal em
Ponta Delgada.[24]
Cuja obra se inicia em Maio de 1948. Cujos obras, na altura da Conferência na
Ribeira Grande, decorriam. Viriam a ser inauguradas em Junho de 1952.
[25] Barbosa, Manuel,
Impressões da Ribeira Grande, A Voz
da Ribeira Grande, Diário dos Açores, Ponta Delgada, 12 de Fevereiro de 1949,
p. 2.
[26] C. de C. [Conde
de Caminha], Uma Auto-entrevista,
Silva, José Pereira da, A Voz da Ribeira Grande, Diário dos Açores, Ponta
Delgada, 3 de Setembro de 1949, pp. 2-3. D. Lopo, ‘um homem forte e grande,’
como o descreveu Manuel Barbosa, um militante monárquico que conspirara contra
Salazar, casou em segundas (ou quartas núpcias) com uma neta de João Albino
Peixoto. Abriu na Ribeira Grande uma Livraria (de nome Moderna). Aqui chegou na
segunda metade da década de trinta. Fazia também de empreiteiro. A remodelação
da Recreativa a ele se deve.
[27] Não assinada, no
entanto, talvez do Director, António Gaspar Read Henriques, dedicado
[28] Vasconcelos,
Jorge Gamboa de, Ribeira Grande. Vila
Cidade? Correio dos Açores, Ponta Delgada, 4 de Setembro de 1949, pp. 1, 3.
[29] Machado, Lucindo
Rebelo, Carta Aberta ao Sr. Dr. Jorge
Gamboa de Vasconcelos, Correio dos Açores, Ponta Delgada, 7 de Setembro de
1949, pp. 1, 4. Lucindo (picado) responde-lhe em ‘Carta Aberta.’ Que sai três dias após do artigo de Jorge Gamboa.
Vasconcelos, Jorge Gamboa de, Resposta à
carta aberta do Ex.º Senhor Dr. Lucindo Rebelo Machado, Correio dos Açores,
Ponta Delgada, 9 de Setembro de 1949, fls. 1 e 4. Jorge (por seu turno)
responde dois dias depois à réplica de Lucindo.
[30] Machado, Lucindo
Rebelo, Réplica em continuação da Carta
Aberta ao Ex.º Sr. Dr. Jorge Gamboa de Vasconcelos, Correio dos Açores,
Ponta Delgada, 11 de Setembro de 1949, pp. 1, 4. Administração Ribeiragrandense. O encerramento de uma controvérsia,
Correio dos Açores, Ponta Delgada, 13 de Setembro de 1949, pp. 1, 4.O
Administrador do Concelho (vendo que a polémica ia longe de mais), encerra a
discussão. A 15, ainda há uma carta de Lucindo. A resposta de Lucindo, chega ao
jornal passados dois dias.
[31] Lopo era próximo
de Lucindo, fora contratado por ele para remodelar a Recreativa.
[32] Caminha, Conde
de, Pode a Vila da Ribeira Grande vir a ser Vila-Cidade? Pode, se o Povo do
concelho, num grito uníssono disser: - Nós Queremos…,’ A Voz da Ribeira Grande, José Pereira da Silva, Diário dos Açores,
Ponta Delgada, 8 de Outubro de 1949, pp. 2-3
[33] Durante todo
período do Estado Novo, só em 1973, já no tempo de Marcelo Caetano, se conhecem
os casos de Almada, de Póvoa de Varzim e de Espinho.
[34] Almeida, José
Alfredo Ferreira, Gonçalo Velho? Eu?, Letras Lavadas, pp. 79 seguintes.
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