À
procura da ermida do Grão Capitão - V
Nas Calhetas, o recuo da linha de
costa foi (e é) um traço distintivo da sua História. O medo ‘do mar’ ‘moldou’ (e molda) a ‘maneira
de ser’ dos seus habitantes. Estou em crer (até) que, tal ‘medo’ (a partir de certa altura) poderá
(em parte) ter (contribuído) para inibir o seu desenvolvimento (inicial). A
primeira prova (directa) conhecida (desse medo) é de 1866. No entanto, a deslocação das
Calhetas do local inicial (junto às primeiras calhetas) para junto da igreja
actual (segundas calhetas), poderá já ser um sinal (prova indirecta) desse medo.
Seja como for, em 1866, Ricardo Júlio Ferraz, engenheiro e Director de Obras
Públicas Distrital, justificava a construção (afastada da costa) de uma opção à
velha estrada litoral, que ia (e vai) de Rabo de Peixe até às Bretanhas, por ‘(…)
a povoação [Calhetas],’ tender ‘a fugir da beira da rocha.’[1]
E, no entanto, os seus habitantes (ou por não terem para onde ir ou por amor à
terra) teimaram (na sua maioria) em não arredar pé dali. Há escassos dias, José
Resendes, ‘nascido e criado nas Calhetas,’
lucidíssimo nos seus 92 anos de idade, afirmava (perante um jornal) que ‘se não fossem as duas grandes pedras em
frente à minha casa [rua da Boavista],
o mar já tinha comida a terra toda aqui. O sítio onde caiu [ao lado da sede
da Junta de Freguesia e da igreja] não
tem pedreira. No fim-de-semana caiu mais um bocado e hoje outro. Está sempre a
cair.’[2]
Isso sucede no limite poente das
Calhetas, e o que se passará no seu limite Nascente? Ora, junto à casa cor-de-rosa (assim a vou chamar): ‘Em 1999 caiu parte da casa e o caminho
diante dela.’[3]
Eis (nem mais uma vírgula) a razão deste meu regresso à busca do ‘paradeiro’ da primeira ermida. Conto (na passada) acrescentar algo
(mais) ao conhecimento da génese (urbana) das Calhetas. Ao ‘valer-me’ das
Calhetas (que hoje vejo) para ‘recuar’ às Calhetas do passado, farei (sempre a
mim próprio) esta pergunta: terá a linha de costa sofrido alterações drásticas de
então para cá?
Segundo a tradição, o que ‘resta’
da (primeira) ermida (apesar de nada aí se ter - até hoje -, encontrado) jaz no
fundo do mar no sítio da pedra (a que chamam) de Nossa Senhora da Boa Viagem. Todavia,
creio poder (com relativa confiança) contrapor (ainda que provisoriamente) outra
versão.[4] Ei-la:
se a costa não tiver mudado assim tão dramaticamente, se Frutuoso nos deu uma
descrição fiel (ou aproximada) dela, (muito)
possivelmente, existiu antes uma primeira ermida (a do capitão) logo a seguir a
Rabo de Peixe e pouco antes das (primeiras) Calhetas. Aliás, a própria ausência de referência (por
parte de Frutuoso) ao local onde actualmente se encontra a igreja (hoje o mais
densamente povoado), serve de (boa) prova de que por ali (quanto a ele) não
haveria nada de relevante a registar. Ou seja, das (primeiras) calhetas
a um terço de légua para poente. Ou seja, no início (nascente) da rua da
Boavista (adiante da igreja actual).[5] Será que se enganou, como acontece (frequentemente)
com todos nós? Não me parece. Para quê construir ali uma ermida se já havia a
de Aires Jácome Correia (a de São Pedro) a menos de vinte minutos a pé dali.
Além do mais, o núcleo só iria ganhar alguma relevância depois de 1591. Ou
seja, depois da morte de Frutuoso.
Abrindo
o jogo, enquanto
‘revejo’ (e volto a pôr à prova) as passagens de Frutuoso que tenho vindo a ‘usar,’ irei considerar outras que (porventura)
possam ajudar-me a ‘encontrar e reconstituir’
o (presumível) local da ermida do capitão. Já aqui foi ‘dito’ (recorrendo ainda a Frutuoso) que esta ermida se situava
dentro da sua quinta. Confrontando (agora) o trecho que Frutuoso (então) dedicou às Calhetas (e arredores) com o
que observei (hoje) naquele espaço, julgo ser possível identificar dois ‘núcleos de povoadores.’ Um primeiro, nas
(primeiras) calhetas (e redondezas), ‘em
que se toma muito peixe de tarrafa e se fazem boas pescarias, onde mora
Belchior Tavares, sogro de Manoel de Puga, e outros alguns moradores.’ De
quem Frutuoso (para nossa mágoa) pouco mais diz. E um outro, ‘antes
das quais Calhetas [ainda as primeiras], pouco espaço, está a fazenda
e quinta do grão capitão Francisco do Rego, com uma ermida nela.’ Para este
‘herói,’ assim o considerava Frutuoso,
o cronista estende-se em considerações.
Que
fazer agora? Procurar
(hoje) por aquelas bandas (antes das tais – primeiras - Calhetas e depois da
canada da Misericórdia, de Rabo de Peixe) algo (um edifício, uma ruína de
edifício, um muro…) que dê (alguma) ideia (ainda que remota) de ter existido
por ali uma quinta. E uma ermida, claro. Por
onde começar? Um amigo lançou-me numa (boa primeira) pista: ‘não será naquela casa cor-de-rosa em ruínas
à beira da rocha?’[6] Fui
ao Google maps. Será aqui? Parece. Parece estar no local (algures) indicado por
Frutuoso. Devo, a partir daqui, tentar encontrar padrões de ‘quintas.’ Se possível, do tempo do
capitão. Ou o mais próximo possível. Relembro que a propriedade do Grão capitão
ia (apenas com uma interrupção pelo meio) de costa a costa (de perto de Rabo de
Peixe a Rosto de Cão).[7] Em
Rosto de Cão (o que – possivelmente - resta desta propriedade) situava-se
(muito) perto do mar e da via (principal) de acesso à Ribeira Grande e a Ponta
Delgada e haveria (nela ou por perto dela) uma ermida (a de Santa Maria
Madalena. Do capitão ou da família da sua esposa).[8] A casa cor-de-rosa parece preencher (todos)
esses parâmetros. Estabelecia (ela própria) uma ligação, repare-se, com a (então)
Vila da Ribeira Grande. Além do mais, tinha (dentro dela, é bom relembra-lo)
uma ermida.
E agora? Sair dos livros. E do computador.
E ir lá fora. Tenho de a ver (casa
cor-de-rosa) mais de perto. Parei
no miradouro do adro da igreja de Nossa Senhora do Rosário, local (diz-nos
Frutuoso) da primeira igreja (paroquial) de Rabo de Peixe. Numa manhã de céu
limpo, quase sem nuvens. O mar era uma enorme lagoa quieta. Deviam ser umas nove
horas. Outro amigo, com escritório a dois passos dali, aproximou-se. Vês aquela
casa cor-de-rosa ali adiante? Responde:
‘Ia levar o almoço ao meu tio. Ia pela
beira-mar. Agora é que já não se pode. Entrava-se. Havia uma escadaria e perto (havia)
o que meu avô dizia ser uma pequena igreja.’ A sério!?[9] Tenho de ir vê-la. Graças aos bons
préstimos de outro (bom) amigo, consegui ser recebido pela proprietária.[10] À
hora combinada, 11 da manhã de Domingo, dia 3 de Abril de 2022, toquei à
campainha. O vento soprava (às golfadas) do lado do mar. Enrolei o cachecol à
volta do pescoço. Cobri a cabeça com um gorro. Abotoei o casaco até ao pescoço.
Separara (entretanto) fotografias do tempo em que adquirira a propriedade. E (poucos,
mas preciosos) documentos: em especial uma planta do terreno com edifícios. Fiquei
(por pouco) com alguma esperança. Esperança curta, pois, dando a volta às ruínas
da torre e ao que resta do edifício, nada vi que desse ideia de ter havido por
ali uma ermida. A proprietária garante nunca ter visto nada (por ali) com ar de
ermida. Nem tão-pouco a vira ou de tal ouvira falar uma familiar do vinhateiro
daquela casa (hoje recolhida ao mosteiro local). Sondando os mais velhos das
Calhetas (batendo-lhes à porta ou metendo conversa na rua), obtive os mesmos (decepcionantes)
resultados.[11]
Apesar das negas, acreditem que não
é teimosia, estou (ainda) convicto de
que não devo excluir (antes de mais) a hipótese de que a ermida do capitão ficasse
algures por ali.[12] Para
já, os edifícios da casa (ruinas junto ao que resta da estrada litoral), dão a
(nítida) impressão de que se estendiam para além dos limites actuais. Fariam (creio)
parte (integrante) do que dantes seria a rua. Agora, calhau. O testemunho de
Frutuoso (o único que temos) aponta (de forma clara) para aqueles lados. Não
necessariamente para aquela casa, é certo. Na ausência de ‘prova’ (seja de que tipo for), para tirar teimas ou abrir novos
caminhos, sugiro (vivamente) algumas sondagens arqueológicas. À volta e na dita
casa cor-de-rosa (inclusive paredes).
E na igreja actual (picagem de paredes, chão, no adro e ali por perto). Será que
encontraríamos vestígios desta (nossa putativa, mas provável) primeira ermida,
em terra ou (de modo mais remoto), no mar (arriba, calhau)? Ou, para além da
arqueologia, recorrer a outro método/técnica que possa ajudar a responder à
questão.[13]
Para já, até melhor prova, creio
poder sustentar-se a tese de que a ermida do capitão teria ficado algures ou
perto da dita casa cor-de-rosa. Mas onde exactamente?
Em espaço que já não existe? Que o
mar reclamou? A ideia surgiu ao aproximar-me da ermida de São Pedro (mandada construir
por Aires Jácome Correia, suponho): está implantada (a uns metros da costa) no lado
Sul do caminho litoral. A base da arriba é aí bastante sólida. O que não sucede
à volta (e arredores) da casa cor-de-rosa.
Quanto terá (eventualmente) recuado
a costa naqueles lados? Do tempo do capitão até agora. O investigador Paulo Borges, dedicado
(há muito) ao estudo do recuo da costa, admite a ‘probabilidade’ de (junto à casa cor-de-rosa) poder ter recuado
entre 70-80 metros. Os antigos
(talvez por isso), chamaram àquele local Rocha
Quebrada.[14] O
que (caso a ermida do capitão ficasse por ali) é mais do que suficiente para
explicar o que lhe possa ter sucedido.[15] Mas, não o devo esquecer, não podemos
deixar de parte a possibilidade de
se encontrar vestígios em terra. Ali ou por ali.
Que aspecto poderia ter tido a ermida do
Grão Capitão? Isso agora é quase um tiro no escuro. Porém, aqui deixo uma
ponta da meada. Relendo a notícia das ermidas de Frutuoso ali por perto: São
Sebastião, São Pedro, Nossa Senhora das Candeias. Se calhar podemos ficar com
algumas ideias. Mas (atenção) estão alteradas ou desaparecidas.[16]
E ter uma ideia (um pouco mais) concreta? Talvez, para começar (entre outros
exemplos possíveis), dar uma vista de olhos à ermida de São Lazaro, em
Reguengos de Monsaraz. No Continente.
Que
se poderá retirar do que atrás escrevi? Apesar de uma cláusula testamentária prever uma
missa perpétua e nomear um administrador, após a morte da viúva do capitão, a
ermida terá entrado num processo de degradação. Presumo. Apesar de não
descobrir a razão. No entanto, mesmo assim negligenciada, ainda poderia se
encontrar por ali. A decisão para construir outra ermida noutro local, talvez se explique pela ‘expansão’ para
poente da área do Concelho da Ribeira Grande. Após 1570’s. Que pode ter
(também) algo a ver com a fuga à zona a nascente (à volta da casa cor-de-rosa)
onde as ‘derrocadas’ eram maiores. E preocupantes. A partir de então, terá
começado a surgir um novo núcleo junto das tais (segundas) calhetas de que fala
Frutuoso (hoje rua da Boavista). Aquele local estava bem situado. Era mais
seguro. As calhetas (dali) forneciam peixe, tal como as primeiras. E ficavam
num ponto central. Indo a pé, pelo caminho litoral, partindo do adro de Nossa
Senhora da Boa Viagem levei c. de 25 minutos (andamento normal) tanto para a
igreja do Senhor Bom Jesus (Rabo de Peixe) como para a igreja de Nossa Senhora
da Luz (Fenais da Luz). Era por ali que iam à desobriga Pascal e a outros ritos
obrigatórios. Mesmo depois da criação do Curato. Com o decorrer dos anos, o
núcleo foi atraindo (penso) gente dos arredores. Daí a necessidade de construir
uma nova ermida maior e mais próxima do que a do Capitão? É provável. Além de (provavelmente)
terem (então) recuperado materiais da primeira ermida (daí a tradição), (talvez)
se tenha ‘mantido’ (na nova) um culto
(eventualmente) praticado (anteriormente) na primeira. Qual seria? Talvez o da
cabeça de São João Baptista. Que o visitador viu na capela-mor da ermida (nova)
de seiscentos (e cujo culto proibiu). Que a (segunda) ermida (estou ainda em
crer) será do século XVII. Já existia (certamente) antes da criação do Curato.
E já seria dedicada a Nossa Senhora da Boa Viagem.[17] Construir
uma nova ermida naquele preciso local, seria uma forma de unir aquelas duas (agora
já três) comunidades de origens diferentes? Será? Neste ou em outro local, assim
ou de outra forma, a História avança (ou recua) por hipóteses que se provam ou
não. (continua)
Mário Moura
Cidade da Ribeira Grande (Santa
Bárbara)
Correio dos Açores, 22 de Abril
de 2022, p. 16
[1] O Director Ricardo
Júlio Ferraz, Estrada Real n.º 8 da Vila da Ribeira Grande aos Mosteiros
(296-C7) - Secção entre Calhetas e Fenais da Luz - Projeto para a continuação
da Estrada litoral entre a Vila da Ribeira Grande e Capelas - I Memória
descritiva, 25 de Junho de 1866
[2] Correio dos Açores, Ponta Delgada, 11 de Abril de
2023, p.2.
[3] Testemunho de Astrid Bulhão Pato.
[4] Penso que terá acontecido ‘algo’ mais. Escorado (inicialmente) no que escreveu Frutuoso sobre as Calhetas e (seus próximos) arredores, observando o terreno das Calhetas (e arredores próximos), e ‘respigando’ as conclusões de um estudo (sério) sobre o recuo da costa.
[5] Medi (em passos que converti em metros) a distância entre as primeiras calhetas (porto) e o adro da actual igreja e deu-me o seguinte valor: 1026 passos = 1786 metros. E daquele adro até ao que me pareceu (logo a seguir, na rua da Boa Vista) umas calhetas, deu-me 419 passos = c. 320 M. Juntando as duas quantias, temos o tal terço de légua e qualquer coisa mais: 2.106 M. Do adro da igreja (actual) ao adro da ermida de São Pedro, contabilizei 2.783 passos que convertidos 2.160 metros. Ou seja outro terço de légua. Ermida mandada construir pelo muito rico e poderoso Aires Jácome Correia. Que no tempo de Frutuoso vivia na corte. Ora, entre as calhetas (da Rua da Boa Vista) e o adro da ermida de São Pedro (pelo que vi hoje, dia 15de Abril de 2023), existirão (pelo menos) mais umas três. Como explicar isso?
[6] Dr. José de
Sousa Rego.
[7] De onde partia a
quinta do capitão e até onde ia? ‘(…) dali
[pouco depois de Rabo de depois e antes das tais calhetas], da banda do norte, com uma ponta nas barrocas do mar, até (…), na
parte do sul, na freguesia de Rosto de Cão, junto de São Roque, onde tem outra
quinta, que houve em casamento com D. Roqueza, sua mulher, de seu sogro Jorge
Nunes Botelho.’
[8] ‘Teve Nuno Gonçalves Botelho grossa fazenda no lugar de Rosto de Cão, que partia da ermida de Santa Maria Madalena e chegava às portas do Biscoutal Grande, que será meia légua todo de terras de pão e vinhas, e cingindo a ilha pelo meio, começando do mar do sul, fenecia da outra parte do norte, até emparelhar com o lugar de Rabo de Peixe, em pouco menos largura, águas vertentes de ambas as partes, que agora possui o grão capitão Francisco do Rego de Sá; afora outras grandes fazendas que têm seus herdeiros na Povoação Velha e em outras partes desta ilha, como pessoas nobres, ricas e poderosas que eles sempre foram.’
[9] Conversa com Emanuel
Pimentel, 3 de Abril de 2022. Aquela casa da rua do Porto, n.º 14, Calhetas,
fora do Sr. João [José de] Medeiros que emigrara para a América do Norte, aí
morou depois o seu vinhateiro, o Sr. Manuel Martins.
[10] Em 1984, a casa foi adquirida por Carlos António Gago Bulhão Pato. Caderneta Predial Rústica, Freguesia Calhetas, Secção D, Prédio N.º 0007, 14 de Julho de 1992, Carlos António Gago Bulhão Pato, Rua do Porto, N.º 14. Foi-me facultada por Astrid Bulhão Pato.
[11] Todavia, olhando
(bem) para a fotografia da parte exterior da casa destruída (só restou o
portão), fiquei com a impressão de que terá resultado de uma adaptação a
destruições (ou ampliações) anteriores. Por que o digo? Posso estar enganado,
mas as duas águas parecem ter pertencido a dois edifícios distintos. A janela
exterior, vista pelo interior (o que restou), mostra que foi antes uma porta ou
uma janela com banqueta. Analisando-a pelo interior, descobre-se um
emparelhamento sólido, técnica de feitura e estilo apontam para fases
anteriores à que nos mostra a fachada da fotografia. Mas isso não prova que a
ermida ou os edifícios da quinta do capitão fossem ali. Uma escavação
(sondagem) talvez nos viesse a tirar dúvidas.
[12] Fragmento de
planta da cadastral onde consta a propriedade da rua do Porto n.º 14, das
Calhetas. Como? Uma análise (atenta) à planta e às fotografias, deixa-me ‘com
água na boca.’
[13] Entretanto, como
responder à objecção colocada pela memória ‘histórica’? Não estará a ‘confundir/misturar’ (como ocorre muitas
vezes à memória) o que ali aconteceu com o que ‘alegam’ ter acontecido nas proximidades da igreja actual?
[14] Testemunho do Ti
Resendes, 1 de maio de 2023: ‘(…). Do porto iam pela estrada (nova) ou pela
rocha Quebrada. O caminho do mar.’ De onde vem este nome? ‘Dos antigos. Não
sei.’
[15] Borges, Paulo,
Erosão costeira nas Calhetas - Capitão Rego e Sá Baldaia, Maio de 2022, pp.3-4:
‘(…) Partindo da hipótese que a referida
ermida se encontraria entre o casario existente (letra C, figura 2), e da
premissa que a taxa média de erosão costeira de 0,16m/ano nos últimos 50 anos
para este sector foi a mesma para os últimos ~436 anos ou ~487 anos, 4 5 o
bordo superior da arriba distaria entre 70-80m da actual posição, o que pode
viabilizar a hipótese da existência de uma ermida entretanto desaparecida, não
necessariamente consequência do recuo da arriba.’Contudo, para intervalos temporais entre 75-150 anos a taxa de erosão
média deste troço específico da arriba terá sido muito provavelmente da ordem
dos 0,16 m/ano, idêntico a todo o sector (linha vermelha na figura 2). Como já
referido, Gaspar Frutuoso (circa 1586) menciona a existência de uma ermida na
Quinta do Grão Capitão Francisco do Rego e Sá Baldaia, nascido circa 1510 cuja
casa se situaria no local assinalado pelo círculo vermelho na figura (p.4) 2.’
[16]Para um conhecimento mais aprofundado, aconselha-se (para as ermidas de São Pedro e das Candeias): Ataíde, Luís Bernardo Leite de, Etnografia, Arte e Vida Antiga dos Açores, Volume IV, Coimbra, 1976, pp. 217-219: a segunda, hoje desaparecida, que ficava junto às casas de Aires Jácome Correia, e a primeira, também descrita por ele, ambas do século XVI e mandadas construir por Aires Jácome Correia. Essas duas, terão muito a ver com a do nosso Grão Capitão. Frutuoso, não esquecer, fala delas. E reforçam o nosso padrão. A ermida de Nossa Senhora do Rosário (anterior à paroquial de Rabo de Peixe) e a de São Sebastião, à saída de Rabo de Peixe (referidas por Frutuoso), apesar de serem do século XVI, sofreram grandes modificações: a de Nossa Senhora do Rosário (no século XIX) e a de São Sebastião (a julgar pela data que exibe) em 1712.
[17]
O capitão
António do Rego e Sá (b. 1667 – f. 1734) ao oferecer (antes de 1713) um cordão
de ouro a Nossa Senhora da Boa Viagem, poderá provar a existência (ali) de uma
devoção mais antiga do que a fundação em 1674 do Curato das Calhetas. Teria
sido, pois, em suma, o resultado desse crescimento (demográfico) que levou (as
Calhetas) a construir um templo acessível tanto aos que se identificavam com a
paróquia do Bom Jesus como aos que se identificavam com a de Nossa Senhora da
Luz.
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