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No centro – II

Por que será que, sem (aparente) peso demográfico ou poder económico que o justificasse, ganhou - no século XVII -, um protagonismo muito superior à sua real importância? Talvez (creio eu) tal facto se deva (em parte) a duas (importantes) reorganizações que aconteceram (naquele século) no Concelho da Ribeira Grande (que ia então das Calhetas à Ribeirinha): uma, no âmbito da administração ‘religiosa,’ outra, no âmbito da ‘governação concelhia.’ Eis a primeira: a criação da terceira Ouvidoria da Ilha, sediada na Vila da Ribeira Grande. Talvez ainda na primeira metade do século XVII. A segunda: ocorreu em ano incerto, havendo, porém, provas de que já funcionava (em pleno) em finais de seiscentos. Trata-se da atribuição às Calhetas, sinal inequívoco de (alguma) importância, de um Juiz, de um escrivão e de um alcaide.[1] Muito certamente pela sua condição de fronteira entre concelhos, partilhou ainda o chamado (nome atribuído modernamente pelos arquivistas) ‘Cartório de Rabo de Peixe e Calhetas’ de 1633 a 1838.[2] A reafirmar estas ‘suspeitas,’ convoco os cronistas. Porque será que (meditem bem, no terceiro quartel do século XVI) Gaspar Frutuoso ao descrever a costa norte da ilha (de nascente para poente) aponta as Calhetas sem referir qualquer ermida de Nossa Senhora da Boa Viagem? Apenas se refere a uma ermida do Grão-Capitão. Porque será ainda que (pelo contrário) Diogo das Chagas e Frei Agostinho (de meados do século XVII por diante) já mencionam uma ermida de Nossa Senhora da Boa Viagem? Não será porque aquele ‘trajecto’ ganhara, entretanto, importância? A dedicatória de Boa Viagem a Nossa Senhora (outra suspeita), não reforçará essa importância? A posição ‘charneira’ das Calhetas (já com um templo de evocação a Nossa Senhora da Boa Viagem), na fronteira dos dois mais ricos e poderosos concelhos da Ilha de São Miguel foi (terá sido) determinante. Creio. Pelo litoral, por um longo caminho, acedia-se a todo o Norte até às Bretanhas; pelas Terças e demais caminhos (tais como o da Batalha – hoje parcialmente incorporado do Campo de Golfe), acedia-se a Ponta Delgada, no Sul. Diga-se que a Ouvidoria da Ribeira Grande integrava espaços pertencentes ao Concelho de Ponta Delgada e ao de Vila Franca. Seria, no entanto, já assim desde o início? Não. Por volta de 1720, só ia até aos Fenais da Luz. As Furnas entraram em 1707 e saíram em 1873. Manter-se-ia a configuração até 1916.[3] Seria exactamente assim? Não sei.

Ouvidorias? Eram lideradas (e são-no ainda) por um ouvidor, ‘que se tornou o representante máximo da autoridade episcopal dos Açores.’ Diz-nos Fernanda Enes. Para que serviria uma Ouvidoria? gestão dos assuntos eclesiásticos e ao controlo de comportamentos, costumes e questões doutrinais, como por exemplo, a observância dos deveres religiosos das populações e dos clérigos (obrigando todos ao cumprimento dos capítulos das visitações), a cobrança das dívidas à Igreja (fintas extraordinárias ou a regular contribuição para fábricas e confrarias), actuando também como Juízes Eclesiásticos (decidindo, por exemplo, como os clérigos deveriam responder perante os tribunais civis), embora também decidissem sobre quezílias civis.’[4] Esse poder viria (é certo) a ser ‘atenuado’ por alturas das reformas (ditas) pombalinas. Uma Ouvidoria dispunha (como se depreenderá facilmente) imenso poder. A sua alçada (então) incluía áreas hoje dependentes do Estado. Controlavam (pretendiam) o comportamento dos fiéis do berço ao além-túmulo. Por que razão terá sido criada a Ouvidoria da Ribeira Grande? Porque a Ilha de São Miguel era ‘enorme’ e de acessos difíceis. Além disso, era rica e densamente povoada. A Ilha Terceira (mais pequena e menos populosa), já dispunha de duas (a de Angra e a da Praia). E por que não foi noutro local da Ilha? Só porque a Ribeira Grande ficava no Norte da Ilha? Não. Muito provavelmente porque já ultrapassara em ‘poder’ e influência Vila Franca e ‘cheirava os calcanhares’ à cidade (Ponta Delgada). Não se tratará apenas de ‘graxa,’ estou em crer, o que Diogo das Chagas escreveu sobre a Ribeira Grande: ‘ (…) e hoje que estamos em 1646, muito mais haverá e tudo a Vila sustenta muito bem por sua largueza e lavranças que são as melhores da Ilha e é de tanto tráfico e trato, como a melhor Vila do Reino, por seus portos secos, que do mar não os tem (p.164) que c[….] tão grandiosa, que a cidade se não avantaja e por [….] decurso do tempo o há-de vi[r a ser?].’[5] O cronista terá escrito o que era então voz corrente? É provável. Apesar da terrível destruição que sofrera em 1563/64, mesmo sem Alfândega, porto de mar e castelo, de que dispunha Ponta Delgada, a sua produção cerealífera e de pastel e os seus moinhos de água (os mais poderosos da Ilha), colocavam-na (em termos de riqueza e de influência) não muito atrás da cidade de Ponta Delgada. Era necessário, então, ter em conta a Ribeira Grande. Mais provas deste poder (influência) da Ribeira Grande na Ilha? Eis (tanto quanto sei) algumas das (que considero serem) mais importantes: 1 - A erecção da terceira Santa Casa da Misericórdia da Ilha;[6] 2 – A criação da segunda Casa da Moeda da Ilha;[7]  3- A Criação do Condado da Ribeira Grande;[8] 4- A Criação de um colégio de Jesuítas (além do de Ponta Delgada, Angra e Horta);[9] 5- A erecção, mesmo a findar o século XVII, da sua segunda paróquia: a de Nossa Senhora da Conceição.[10] Aliás, em termos religiosos, a sede da Vila, estava dividida em duas paróquias e um curato (São salvador do Mundo, em 1674), o que a colocava em situação de igualdade com Vila Franca e Ponta Delgada. E a ‘cereja no topo do bolo,’ duas dádivas da Ribeira Grande aos Açores e ao Mundo (só mais tarde ‘saboreadas’): Frei Agostinho de Monte Alverne, que viria a ser o autor da Crónica da Província de São João Evangelista e Ilhas dos Açores.[11] Cronista, imbuído das crenças de então, sem grandes estudos, provavelmente sem nunca ter posto os pés fora da Ilha, mas detentor de um prosa honesta e sem floreados, deixou-nos montes de documentação. Madre Teresa da Anunciada. Mística, ao jeito do seu tempo, com tudo o que isso implicava, quando se mudou da Ribeira Grande para Ponta Delgada, terá ‘transferido’ a devoção ao vizinho Cristo Atado à Coluna (festa dos Terceiros da Ribeira Grande), ao Ecce Homo escondido num canto esconso do Mosteiro da Esperança, em Ponta Delgada.[12] Mulher que disse não às contrariedades. Não nos deverá (pois) admirar que António Cordeiro (que por aqui passou no século XVII e leu as Saudades da Terra), num dos capítulos da sua obra, a tenha chamado (sem favores) de ‘famosa Vila da Ribeira Grande.’[13] Quando foi criada a Ouvidoria da Ribeira Grande? Vou apresentar, por ordem cronológica, as versões que conheço. Francisco Borges da Silva, na primeira década do século XIX, avança o ano 1698 para a criação das Ouvidorias da Ribeira Grande e de Vila Franca. Também afirma que a de Ponta Delgada teria sido a primeira na Ilha.[14] Isso, sem apresentar quaisquer provas do que afirma. Ora, Frutuoso nega-o por completo.[15] Não o deve ter conhecido. O Arquivo tira-lhe toda a razão. Anos depois, mas antes de 1858, Francisco Ferreira Drummond indica o ano de 1683 como o da criação das Ouvidorias da Ribeira Grande e Ponta Delgada. Acrescenta que em 1692, o Bispo suprimiu a da Ribeira Grande, anexando-a à de Ponta Delgada. Contudo, a governação da Ribeira Grande, aqui há prova do que afirma, protestou e as duas foram de novo separadas.[16] O Cónego José Augusto Pereira (n. SVF. 8.07.1885 – f. PDL. 3.05.1969), em 1950, aponta para a década de trinta daquele século. [17] Afirma (também sem apresentar provas) que a Ouvidoria da Ribeira Grandefora criada pelo Cabido, sede vacante, antes de ser nomeado o Bispo D. Frei Lourenço Castro [bispo de 1671 a 1678] que, como o seu sucessor, a manteve.’[18] Ou seja, antes de 1671. E depois de 1637. Antes de 1692 e depois da sua criação (entre 1637 e 1671), a Ouvidoria de Ponta Delgada passou (mesmo) a ser gerida pelo Ouvidor da Ribeira Grande. A situação deveu-se ao castigo imposto pelo Deão e Cabido fruto de ‘desobediência declarada do Ouvidor de Ponta Delgada, Licenciado António de Frias Machado.’ Como ‘consequência foi suspenso desse ofício. Ficou então encarregado da circunscrição de Ponta Delgada o Ouvidor da Ribeira Grande, Padre João de Sousa Freire [b.2.02-1632 Matriz PDL – f. 1709 – RS - RGR].’[19] Em Setembro de 1692, D. Frei Clemente Vieira (1688-1692), quando visitava a Ilha de São Miguel, reuniu ‘em uma só ouvidoria, com sede em Ponta Delgada, a desta Cidade e a da Ribeira Grande.[20] A ‘(re)união,’ porém, duraria pouco mais de um ano, já que o Cabido, em sessão de 27 de Janeiro de 1694, ‘considerando que assim se tornava difícil a administração eclesiástica, resolveu (…) separar outra vez as duas Ouvidorias, nomeando para a de Ponta Delgada, o Vigário das Capelas, Padre José Pereira de Mendonça e ficando na Ribeira Grande o que dantes já estava.[21]

Será possível confirmar que afirmam o Cónego Pereira e Ferreira Drummond? Em parte, é possível. O espólio já tratado (graças à Dr.ª Ana Moscatel) do Fundo da Ouvidoria da Ribeira Grande (Arquivo Municipal da Ribeira Grande), valida documentalmente: 1 - De forma totalmente segura, a existência de uma Ouvidoria na Ribeira Grande a partir de 1676; 2 – De forma menos segura, admite a possibilidade de se poder recuar até 1661; 3 – E, de modo ainda menos seguro, poder-se-á (até se encontrar prova mais sólida) admitir a possibilidade de ainda poder recuar até 1633.[22] Não se consegue (pelo que vi e li) identificar o período em que Sousa Freire administrou as duas Ouvidorias nem o breve período em que a Ouvidoria da Ribeira Grande foi ‘reunida’ à de Ponta Delgada. Porém, Ferreira Drummond revela a troca epistolar entre a Câmara da Ribeira Grande e a Diocese que culminou com a reposição da Ouvidoria da Ribeira Grande. A partir de 1676, a série de autuações do Tribunal Eclesiástico, identifica (sem sombra para dúvidas) o Ouvidor do Eclesiástico da Ribeira Grande e o seu Escrivão do Eclesiástico: (de 1671 -1681) Francisco Tavares Homem (Ouvidor) e Padre Manuel da Costa Taveira (Escrivão); (1691-1693) João de Sousa Freira (Ouvidor) e Francisco da Costa Centelho (escrivão); (1696-1696) Simão da Costa Resende (Ouvidor) e Padre Manuel da Costa Morato (Escrivão). Antes desta data, para o ano de 1661, há uma (possível, mas não segura) identificação (refere genericamente um escrivão do Eclesiástico): Marcos Leam. Para trás ainda, a partir de 1633, existem testamentos que, no entanto, não mencionam o Ouvidor ou o Escrivão do Eclesiástico. [23] Será documentação da Ouvidoria ou nada tem a ver com ela?[24]Todavia, seja em que ano for que tenha surgido,[25] seguramente por um período superior a dois séculos, a Ouvidoria da Ribeira Grande dispôs de um imenso poder sobre o povo cristão católico dos Fenais da Ajuda às Bretanhas. Povos pertencente (civilmente) a três Concelhos da Ilha: Ponta Delgada, Ribeira Grande e Vila Franca do Campo.[26] Só terminaria por uma Provisão do Bispo D. Manuel Damasceno da Costa datada de 26 de Abril de 1916.[27] A meio caminho entre a sede e a banda Poente da Ouvidoria, as Calhetas estavam no sítio certo. O Pico da Pedra, fora desta rota, ficava ainda fora de mão. [28]  Nas Calhetas, mercê desta localização privilegiada, seriam (é bem possível que tenha sido assim) disponibilizados aos viandantes (ou aos vizinhos próximos dos dois lados da fronteira dos dois concelhos confinantes) alguns serviços básicos essenciais: escrituras e outros actos oficiais, no seu cartório, comida em alguma taberna e hospedagem, estábulos para animais e a ermida…Talvez por isso tenha sido criado o Curato de Nossa Senhora da Boa Viagem em 1674? (Continua)

Cidade da Ribeira Grande (Matriz de Nossa Senhora da Estrela)

(Correio dos Açores, 1 de Abril de 2023)

PS: Este texto, em relação ao publicado no Correio dos Açores, porque prossegui a pesquisa, sofreu alterações.

 



[1] Lalanda, Margarida de Sá Nogueira, A Sociedade Micaelense do século XVII: Estruturas e Comportamentos, Dissertação de Doutoramento, Universidade dos Açores, Ponta Delgada, 1995,bp. 55: A eleição de um Juiz, de um alcaide e de escrivão para as Calhetas, como se lê numa acta da Câmara da Ribeira Grande de 7 de Janeiro de 1698, aponta para uma organização do espaço concelhio da Ribeira Grande. Até pode ter acontecido antes, pois, não existe o livro de actas de 1623 a 1696.

[2] BPARPD, Cartório de Rabo de Peixe e Calhetas, 1633-1838.

[3]Melo, Francisco Afonso de Chaves e, Margarita Animada, ICPD, Ponta Delgada, 1994, p. 67; Freitas, Bernardino de Sena, Uma viagem ao vale das Furnas na Ilha de S. Miguel, Lisboa, Imprensa Nacional, 1845, p.13: ‘1 de Janeiro de 1707, o Bispo D. António Vieira Leitão, na Ribeira Grande, anexa a igreja das Furnas ao Curado da Lomba da Maia. A Paroquial de Santana, no Vale das Furnas, é sufragânea à Ouvidoria da Ribeira Grande.’ Pereira, José Augusto, Obras I, 2020, p.285: a 7 de Outubro de 1875, as Furnas passam a integrar a Ouvidoria de Vila Franca do Campo.

[4] Moscatel, Cristina, A Ouvidoria da Ribeira Grande, in Arquivo Municipal da Ribeira Grande. Guia de Fundos Históricos, Câmara Municipal da Ribeira Grande, 2005, p. 42.

[5] Chagas, Frei Diogo das, Espelho Cristalino em Campo de Várias Flores, 1989, pp.163-64.

[6] Mesmo a findar o século anterior, a 7 de Novembro de 1592, fundou-se a terceira Santa Casa da Misericórdia da Ilha. Resultara da substituição (legal) da Confraria do Espírito Santo, que existiria desde 1522, para a Irmandade da Misericórdia. Gonçalves, Maria Margarida Lalanda, A Ribera Grande no seu primeiro século de vida, in Actas do Congresso Comemorativo dos 500 anos de elevação da Ribeira Grande a Vila (1507-2007), Ribeira Grande, 1 a 3 de Outubro de 2007, 2008, p. 118. Costa, Susana Goulart, Margarida Lalanda Gonçalves, João Luís Medeiros, A Santa Casa de Misericórdia de Vila Franca: O Olhar de Urbano Mendonça Dias, Prêmbulo, in A Vila, Volume I, 2022, ‘(p.12) A fundação da Santa Casa de Vila Franca do Campo (…), tendo como precedentes, nos Açores, a de Angra e a de Ponta Delgada, ambas em datas ainda hoje incertas entre finais do século XV e inícios da centúria seguinte (…). (p.13) Contudo, a conjugação do Hospital de Vila Franca com a Confraria da Misericórdia só se efectivará em meados do século XVI, provavelmente em 1551ou 1552, aquando da f undação desta última irmandade.’

[7] Arquivo dos Açores, 2.º Série, vol. 1, Ponta Delgada, 1999, pp. 319-320. Em Novembro de 1642, dá-se conta de que haviam sido levantadas na Ilha de São Miguel duas casas da moeda, uma em Ponta Delgada, a outra na Ribeira Grande. O que fora considerado ilegal. Pois. Haveria apenas lugar (legal) para uma em Ponta Delgada. Não descobri a razão desta ‘ilegalidade.’                               

[8]Seis anos depois, o 1.º Conde da Ribeira Grande, D. Manuel Luís Baltazar da Câmara, presidia à Festa de Nossa Senhora da Estrela. A Padroeira do Concelho da Ribeira.  

[9] O Padre Licenciado Ascêncio Gonçalves, filho da Ribeira Grande, amigo de Frutuoso, no seu testamento de 20 de Julho de 1589,[9] doa bens para que os Jesuítas construíssem um Colégio na sua terra natal. Ascêncio faleceria a 20 de Dezembro de 1599, dez anos após a elaboração do testamento, em São Pedro, da Ribeira Seca. A doação (contudo) iria levar uma eternidade a ser aceite: ‘cerca de 1669 aparecem as primeiras lições de casos na Ribeira Grande.’

[10] BPAPD, Conceição Ribeira Grande, Livro 1 dos Casamentos; ANTT, Alvará de Conf[irmação] de huma Parochia novamente Erecta de 15 de Janeiro de 1703, Chancelaria da Antiga Ordem e Cristo, Livro 67, fl. 175 v. Vide: Moura, Mário, Nascimento de uma Paróquia na Ribeira Grande: Nossa Senhora da Conceição, 2009.

[11] Monte Alverne, Fr. Agostinho de, Crónicas da Província de S. João Evangelista das Ilhas dos Açores, vol. 1, ICPD, Ponta Delgada, 1986, pp,. XXII: No dia 11 de Fevereiro de 1629, terá nascido na Ribeira Grande.

[12] A 25 de Novembro de 1658, nasce na Freguesia do Apóstolo São Pedro, na Ribeira Seca, Termo da Ribeira Grande.

[13] Cordeiro, António, História Insulana, RAA, SREC, 1981, p. 142.

[14] BPAPD, Francisco Borges da Silva, ‘Estatística (…), in Variedades Açoreanas, Volume 10, fl. 43 v.: ‘Governo Eclesiástico. Reside em três ouvidores eclesiásticos da cidade, Ribeira Grande e Vila Franca; até 1698 houve um só, neste ano criaram-se mais dois, e mediante é mediante ele que governa o Bispo de Angra.’ Menezes, Avelino de Freitas de, em ‘Os Açores nas encruzilhadas de setecentos (1740-1770), Ponta Delgada, Universidade dos Açores, Volume I, p. 458,’ reproduz 1698. Ana Moscatel, que organizou a Ouvidoria da Ribeira Grande, rebate 1698. Há um processo de 1633. Há outros entre 1659 e 1698. Onde claramente se diz Ouvidoria e Ouvidor da Ribeira Grande. Em 1506 (pelo menos), segundo Frutuoso, Frei Bartolomeu era Ouvidor do Eclesiástico. Não diz onde se situava a sede, refere genericamente S. Miguel, todavia, os seguintes já aparecem ligados a Vila Franca. Frutuoso, Gaspar, Saudades da Terra, Livro IV, Volume II, 1981, p. 255: ‘Antes do dilúvio de Vila Franca do Campo, na era de mil quinhentos e seis, foi ouvidor do eclesiástico (1) em toda esta Ilha de S. Miguel um Frei Bartolomeu.’ (1) O começo deste período até esta palavra foi escrito por Frutuoso depois de ter sido apagada uma frase que hoje está ilegível.’) Então centro do poder da Ilha. Em 1560, já existiriam (não conheço documento) duas: Vila Franca e Ponta Delgada. (BPAPD, Francisco Borges da Silva, ‘Estatística (…), in Variedades Açoreanas, Volume 10, fl. 43 v.: ‘Governo Eclesiástico. Reside em três ouvidores eclesiásticos da cidade, Ribeira Grande e Vila Franca; até 1698 houve um só, neste ano criaram-se mais dois, e mediante é mediante ele que governa o Bispo de Angra.’ Menezes, Avelino de Freitas de, em ‘Os Açores nas encruzilhadas de setecentos (1740-1770), Ponta Delgada, Universidade dos Açores, Volume I, p. 458,’ reproduz 1698. Ana Moscatel, que organizou a Ouvidoria da Ribeira Grande, rebate 1698. Há um processo de 1633. Há outros entre 1659 e 1698. Onde claramente se diz Ouvidoria e Ouvidor da Ribeira Grande.) Ponta Delgada já era Cidade e Vila Franca perdera a hegemonia sobre a Ilha. A qual das duas teria a Ribeira Grande pertencido? Não sei.

[15] Frei Bartolomeu era Ouvidor do Eclesiástico em 1506 em Vila Franca.

[16] Drummond, Francisco Ferreira, Apontamentos Topográficos, Políticos  e Eclesiásticos para a História das Nove Ilhas dos Açores servindo de suplemento aos Anais da Ilha Terceira, Angra do Heroísmo, 1990, pp. 198-199.

[17] Esta versão do Cónego Pereira, apesar de não apresentar documentos, parece confirmar os (plausíveis) indícios encontrados na Ribeira Grande. O Cónego Pereira (n. SVF. 8.07.1885 – f. PDL. 3.05.1969), era natural de São Vicente Ferrer, na costa Norte de São Miguel, e co-fundador do Instituto Histórico da Ilha Terceira, dispondo de acesso aos papéis da Cúria e da Mitra. É ainda do tempo da primitiva Ouvidoria da Ribeira Grande.

[18] Pereira, José Augusto, A Diocese de Angra na História dos seus Prelados, I Parte, Edição da Livraria Editora Andrade, Angra do Heroísmo, 1950, p. 118.

[19] Pereira, José Augusto, A Diocese de Angra na História dos seus Prelados, I Parte, Edição da Livraria Editora Andrade, Angra do Heroísmo, 1950, p. 118; Conhecem-se dois com este nome: um tio, que foi vigário de São Pedro, Ribeira Seca, e o sobrinho, que foi vigário da Matriz da Ribeira Grande. O primeiro, filho de mãe micaelense e de pai inglês, foi baptizado na Matriz de Ponta Delgada em 1632 (2 de Fevereiro) e faleceu (na Ribeira Seca?) a 9 de Novembro de 1709. Havia vinculado por testamento aprovado a 26.10.1696. (Rodrigo Rodrigues.) O segundo, filho do irmão Francisco do primeiro, morreria (14 de Outubro de 1728) durante as obras da Matriz da Ribeira Grande (sendo autor dos riscos).[19] Morreu aos 52 anos de idade, portanto, teria nascido à volta do ano de 1676. Foi igualmente capelão da ermida de São Vicente Ferrer (na Ribeira Grande), onde fora provido em 1711. E, é ainda o autor do risco do cadeirado do altar-mor da Matriz da Ribeira Grande. Terá sido o tio? É capaz. Se foi, poderia ter sido Ouvidor no período da sede vacante? É provável, pois o sobrinho, nascido à volta de 1676, não teria idade para o ser. Confirmei: AMRG, Ouvidoria da Ribeira Grande, Testamento do Doutor João de Sousa Freire, Vigário da igreja do Apóstolo São Pedro, da Ribeira Seca, Feitura: 1696, Abertura: 26 de Outubro de 1713; Mç. 018. Sala3, E 1/P1). O Testamenteiro foi o sobrinho.

[20] Pereira, José Augusto, A Diocese de Angra na História dos seus Prelados, Edição da Livraria Editora Andrade, Angra do Heroísmo, 1950, p. 118.

[21] Pereira, José Augusto, A Diocese de Angra na História dos seus Prelados, Edição da Livraria Editora Andrade, Angra do Heroísmo, 1950, p. 118.

[22] Há um intervalo de dois anos Sé Vacante (1633 e 1634), entre o 12.º Bispo – D. João Pimentel de Abreu e o 13.º Bispo, Frei António da Ressurreição, que coincide com os Testamentos de 1633-34 existentes no Arquivo da Ouvidoria da Ribeira Grande.

[23] AMRG, Fundo da Ribeira Grande, Ana Cristina Moscatel, Índice Cronológico dos Autos de Contas de Testamentos, Século XVII; Índice Cronológico de Autuações do Juízo Eclesiástico, Século XVII; AMRG, Ouvidoria da Ribeira Grande, Testamentos século XVII, 1633; Testamentos século XVII, (…) 1634; Idem (…) 1644; 1650; 1653; 1654; Ouvidoria da Ribeira Grande; Escrivão do Eclesiástico: Marcos Leam, 1661; Idem, Tribunal, Autuações, (…) Ouvidor: Jerónimo Tavares Homem, Escrivão do Eclesiástico: Padre André Morato Moreira, 24 de Novembro de 1676; AMRG, Idem, Auto de Perguntas, Casamentos, (…); Ouvidor: Jerónimo Tavares Homem; Escrivão do Eclesiástico: Padre Manuel da Costa Taveira, 27 de Abril de 1680; Idem, Tribunal, Autuações, (…) Ouvidor: Jerónimo Tavares Homem, Escrivão do Eclesiástico: Manuel da Costa Taveira, 7 de Fevereiro de 1681; Idem, Tribunal, Autuações, Réu: (…) Ouvidor: António Faria Machado, Escrivão do Eclesiástico: Francisco da Costa (Centenho), 8 de Maio de 1691; Idem, Tribunal, Autuações, (…) Ouvidor: João de Sousa Freire, Escrivão do Eclesiástico: Jerónimo de França, 14 de Outubro de 1693; Idem, Tribunal, Autuações, (…) Ouvidor: Simão da Costa Resende; Escrivão do Eclesiástico: Padre Manuel da Costa Morato, 19 de Maio de 1696; Idem, Tribunal, Autuações, (…); Ouvidor: Simão da Costa Resende; Escrivão do Eclesiástico: Padre Manuel da Costa Morato, 27 de Maio de 1697; Idem, Tribunal, Autuações, (…); Ouvidor: Simão da Costa Resende; Escrivão do Eclesiástico: Padre Manuel da Costa Morato, 17 de Junho de 1698; Tribunal, Autuações, (…); Ouvidor: Simão da Costa Resende; Escrivão do Eclesiástico: Padre Manuel da Costa Morato, 22 de Outubro de 1698.

[24] Existirá contradição entre esta narrativa da fundação da Ouvidoria ainda na primeira metade do século XVII e o silêncio dos cronistas? Se foi como nos diz o Cónego Pereira e como confirmam (em parte) os dados do Arquivo Municipal da Ribeira Grande, porque será que Frei Diogo das Chagas que esteve na Ribeira Grande em 1646, ou Frei Agostinho de Monte Alverne que era da Ribeira Grande e deu por terminada a sua crónica em 1695 (apesar de haver notas posteriores), nada disseram acerca da Ouvidoria da Ribeira Grande? Desinteresse? Não sei. E Francisco Afonso de Chaves que escreve no primeiro quartel do século seguinte? Não fornece data para o seu início. Fala da Ouvidoria já a funcionar em pleno.

[25] Talvez o levantamento exaustivo (futuro?) do Fundo da Ouvidoria da Ribeira Grande e uma pesquisa aos Fundos das Ouvidorias de Ponta Delgada e Vila Franca (desconheço o que têm ou não) nos poderia confirmar dados.

[26] Em 22 de Fevereiro de 2004, saem da Ouvidoria da Ribeira Grande, o Porto Formoso e São Brás.

[27] Então, surgiriam três novas Ouvidorias: a das Capelas (dos Fenais da Luz para Poente; a dos Fenais de Vera Cruz (do Porto Formoso para nascente) e a da Ribeira Grande (de Calhetas a São Brás).

[28] Será que também já dispunham de Juiz, escrivão e alcaide? Cf. Poder Municipal e oligarquias urbanas. Ponta Delgada no século XVII, ICPD, 1994, p. 94. José Damião Rodrigues, tratando de Ponta Delgada, diz que anualmente a Câmara os elegia para cada uma das suas dez localidades do seu termo. Faria o mesmo a Ribeira Grande? Estaria o Pico da Pedra incluído?

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“Mãn d’água [1] ” Moleiros revoltados na Ribeira Grande [2] Na edição do jornal de 29 de Outubro de 1997, ao alto da primeira página, junto ao título do jornal, em letras gordas, remetendo o leitor para a página 6, a jornalista referia que: « Os moleiros cansados de esperar e ouvir promessas da Câmara da Ribeira Grande e do Governo Regional, avançaram ontem sozinhos e por conta própria para a recuperação da “ mãe d’água” de onde parte a água para os moinhos.» Deixando pairar no ar a ameaça de que, assim sendo « após a construção, os moleiros prometem vedar com blocos e cimento o acesso da água aos bombeiros voluntários, lavradores e matadouro da Ribeira Grande, que utilizam a água da levada dos moinhos da Condessa.» [3] Passou, entretanto, um mês e dezanove dias, sobre a enxurrada de 10 de Setembro que destruiu a “Mãn”, e os moleiros sem água - a sua energia gratuita -, recorriam a moinhos eléctricos e a um de água na Ribeirinha: « O meu filho[Armindo Vitória] agora [24-10-1997] só ven...

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Quem foi Madre Margarida Isabel do Apocalipse? Pequenos traços biográficos. Pretende-se, com o museu do Arcano, tal como com o dos moinhos, a arqueologia, a azulejaria, as artes e ofícios, essencialmente, continuar a implementar o Museu da Ribeira Grande - desde 1986 já existe parte aberta ao público na Casa da Cultura -, uma estrutura patrimonial que estude, conserve e explique à comunidade e com a comunidade o espaço e o tempo no concelho da Ribeira Grande, desde a sua formação e evolução geológica, passando pelas suas vertentes histórica, antropológica, sociológica, ou seja nas suas múltiplas vertentes interdisciplinares, desde então até ao presente. Madre Margarida Isabel do Apocalipse foi freira clarissa desde 1800, saindo do convento em 1832 quando os conventos foram extintos nas ilhas. Nasceu em 1779 na freguesia da Conceição e faleceu em 1858 na da Matriz, na Cidade de Ribeira Grande. Pertencia às principais famílias da vila sendo aparentada às mais importan...