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Casas do Divino – IV

Porquê falar nelas? Porque aí se ‘forjou’ a identidade das Calhetas. Hoje, há ali uma igreja, duas capelas e um mosteiro.[1] E o que havia dantes? Uma ermida? Duas? Mais? Circula entre os mais velhos da terra uma ‘estória’ (com força de verdade) de que a primeira ‘ficaria onde agora se vê a pedra da Senhora da Boa Viagem.’[2] Lenda? A dar-lhe (talvez) razão, leia-se o (maior) destaque deste (mesmo) jornal do dia 11 de Abril: ‘Encosta das Calhetas está a ceder, começa a afectar a igreja e põe em perigo 10 casas e 30 residentes.’[3] Um relatório (científico) recente, apesar de atribuir uma baixa ‘probabilidade’ à ‘estória,’ não a afasta (por completo).[4] Pode ter acontecido noutro local da Calhetas? Interpreto-o bem? Vamos a factos? A primeira notícia ‘segura’ (conhecida) da existência de uma ermida nas Calhetas é de Gaspar Frutuoso. A que ano se refere? Seguramente a um ano antes de 1591. Onde ficava a ermida? Diz-nos (ainda) Frutuoso: ‘De Rabo de Peixe a um terço de légua [que equivalerão a uns 2000 metros], estão umas Calhetas em umas pontas e arrecifes de pedra (…).’[5] Será que a configuração da costa se manteve de então até hoje? Ou não se manteve: a ponto de terem existido outras calhetas? Que o mar (entretanto) ‘engoliu’? Não sei. Pelo que hoje se vê, a primeira calheta (onde fica o ‘porto’), dista (à volta de) 1547 m. (em linha recta) e a c. 2012 m. (a pé pela antiga estrada litoral), medidos da canada/rua da Misericórdia. Então limite poente do Concelho.[6] Devo explicar que, primeiro, recorri ao primeiro instrumento de medição, só depois me lembrei de utilizar o pedómetro, mais preciso. Atente-se (de novo) na localização de Frutuoso: ‘antes das quais Calhetas, pouco espaço, está a fazenda e quinta do grão capitão Francisco do Rego, com uma ermida nela (…).’[7] A ermida encontrava-se depois do limite do Concelho e antes das tais ‘calhetas.’ No caminho litoral junto à costa? Mais dentro de terra? O que permite admitir que estaria em local (desconhecido, é certo) mas (talvez) diferente do da igreja Paroquial de Nossa Senhora da Boa Viagem de hoje.[8] A igreja actual, assim, fica a c. de 2.788 m. da canada da Misericórdia/São Sebastião. Portanto, muito além, do terço de légua. Certo? Será que Frutuoso foi rigoroso (como costuma ser, sobretudo para São Miguel) na localização? Descreveu (como de costume) a costa no sentido de Nascente/ Poente? E o nome daquela ermida? Frutuoso não o diz. Continuo a interpretá-lo bem? O nome terá sido ‘passado’ ao futuro por outra via. É a vez de chamar Rodrigo Rodrigues. Citando uma passagem do testamento do capitão Francisco do Rego, lavrado em Março de 1595, este historiador e genealogista diz-nos que aquele (capitão) mandava ‘dizer uma missa perpétua na sua ermida [repare-se] de Nossa Senhora da Boa Viagem.’[9] À cata de pormenores (e de o confirmar), procurei (sem sucesso) o testamento. [10] Fica também em aberto?

 

Uma ermida no Pico da Pedra? Só aparece uma, uma ou duas décadas depois da das Calhetas. Em Maio de 1598, no seu testamento, Manuel Moniz estipulava por sua alma: ‘[fl. 8] e a outra missa me mandará dizer meu [ad]ministrador [o irmão. Álvaro Lopes Moniz] em Nossa Senhora dos Prazeres [fl. 8 v] na ermida que temos feita no Pico da Pedra, a qual missa se dirá ao Domingo com um responso (…).’[11] O Morgado Arruda Botelho, nas suas notas, dá uma data posterior, que não contradiz a anterior, porque trata-se de um novo testamento do mesmo Manuel Moniz, pelo que dos dois, escolho o mais antigo. Aliás, no de 1598 já vem referida a ermida: ‘(…) Testou o dito Manuel Moniz cidadão desta cidade a 31 de Março de 1604 (…) declara que fez a Ermida de Nossa Senhora dos Prazeres no Pico da Pedra, e no codicilo aprovado em 1605 (…).’[12]

Voltando às Calhetas. Haverá (outras) fontes que confirmem Frutuoso e o testamento do capitão Francisco do Rego? Haveria. Porventura, o testamento de Maria Alves. Feito 27 anos após o do Capitão.[13] Porém, não se lhe encontra ‘rasto.’ Até que se encontre, devo usá-lo com reticências. Neste ‘alegado’ testamento, ‘redigido’ a 27 de Maio de 1622, Maria Alves, viúva de Francisco Fernandes, natural e moradora dos Fenais da Luz, deixava (àquela ou a outra?) à ermida de Nossa Senhora da Boa Viagem uma esmola de 50 réis. O nome (sem quaisquer reticências) chega-nos (mas não a localização) pelos cronistas. Frei Diogo das Chagas, que terá iniciado o seu Espelho Cristalino (…) em 1646 (e esteve na Ribeira Grande naquele preciso ano),[14] identifica (nas Calhetas) um templo dedicado a Nossa Senhora da Boa Viagem. E confirma a existência de um administrador.[15] Mas seria esse templo o que Frutuoso referiu? Ou seria já outro? A ser outro, onde ficaria? Notícia mais recente da de Chagas, até mais tardar em 1710’s, Frei Agostinho de Monte Alverne confirma o nome da ermida. Todavia, não menciona qualquer administrador.[16] Uma ermida que (igualmente) poderia ou não corresponder à de Frutuoso?

É possível chegar mais próximo da sua localização? Talvez. Apesar de não haver prova directa, a justificação para a criação do Curato em 1674 e a crónica de Francisco Afonso de Chaves de c. de 1721, fornecem algumas pistas. Ainda que inconclusivas. A dependência do curato de Nossa Senhora da Boa Viagem às igrejas do Senhor Bom Jesus e de Nossa Senhora da Luz, pode (eventualmente) apontar para uma localização do templo (de então) próxima do templo actual (ou até já naquele local). No entanto, a divergência dos números entre os que se consideravam ligados à igreja de Nossa Senhora da Luz, nos Fenais, 26, contra 85, dos que se consideravam paroquianos do Senhor Bom Jesus, fazem-me pensar na possibilidade de (este templo) ainda se manter no (hipotético) local do do capitão. Seja em que lugar que fosse, o (provável) aumento demográfico, poderá indiciar a existência de um templo já ampliado. Ou da necessidade de (sem demora) o ampliar. Três décadas (1706/7) depois da criação do Curato (em 1674), uma fonte que nos parece credível, proveniente da igreja, atribui às Calhetas ‘145 fogos, sendo a maior parte deles de Rabo de Peixe.’ Informa ainda que dos 111 fogos registados para 1674, passara para 145 em 1706/7.[17] Um acréscimo de 34 fogos. O que traduzido em ‘almas,’ seguindo o cálculo de (alguns) demógrafos (c. de quatro almas por fogo), daria mais 134 almas. Ao todo, em 1706/7, habitariam nas Calhetas 580 almas de Confissão. Uma década e pouco depois, c. de 1721, seriam já ‘(…) 480 fogos e 1805 almas de confissão.’[18] Mais de 300 novo fogos entre 1706/7 e 1721? Não dispondo de prova (alternativa), é o que nos diz Francisco Afonso de Chaves e Melo. [19] Aceitando ou não o ‘brutal’ crescimento de Chaves ou o ‘suave’ de 1706/7, terá (sempre) havido um aumento na população e no número de fogos.

Vamos às obras?[20] O Dr. Francisco da Costa Carreiro, em nome do Bispo, em Julho de 1713, visitou a paroquial do Senhor Bom Jesus e as suas ermidas. Vou centrar a minha atenção na da Boa Viagem. Nela, aquele visitador deu conta de graves problemas. De urgente solução. Usando as suas palavras:[1] ‘(…) Achei a Capela da dita ermida tão arruinada, que há tempos se sustenta com uns espeques.’ [[21]] Constava-lhe que não tinha ‘administrador nem património.’ Como seria possível? Se em 15 de Março de 1595, Francisco do Rego e Sá, numa cláusula testamentária, obrigava os seus descendentes a mandarem ‘dizer uma missa perpétua na sua ermida de Nossa Senhora da Boa Viagem, nas Calhetas de Rabo de Peixe?’[1] Mais: ‘nomeia seu sobrinho Gaspar do Rego Baldaia e faz um legado a seu primo Gaspar do Rego de Sousa. Instituiu sua herdeira e testamenteira sua mulher Roquesa Cabral e por morte desta seu sobrinho Gaspar do Rego Baldaia.[22] O que terá acontecido? Não sei, no entanto, parece que, entre 1646 (Chagas) e 1713 (Dr. Francisco da Costa), a ermida perdera (ou nunca tivera) património e administrador. Por qualquer razão que desconheço. Como (então) financiar as obras da capela e de outras mais necessárias exigidas pelo visitador em 1713?[23] Chegara (também) aos ouvidos (bem abertos) do visitador que existiam ‘duas peças de ouro que o Capitão António Rego Sá oferecera à imagem de Nossa Senhora.’[24] Acrescenta o visitador: ‘Por sua devoção deu à mesma Senhora (?).’ Regressara do Brasil em 1709. Morara (com os pais e irmãos) nas Calhetas antes de ir para o Brasil. Talvez tenha lá nascido. Desejando uma boa viagem na ida e no regresso do Brasil, terá feito uma promessa à Senhora da Boa Viagem? Não era descendente ‘directo’ do Grande Capitão, mas era (ainda) sobrinho. Tanto quanto sei, não teria qualquer obrigação para com aquela ermida. Além do mais, não se sabe (eu não sei) se a ermida de 1713 era a do testamento de 1595. É bom repetir.

E se (porventura) o capitão Rego não autorizasse a troca/transação? Eis o raciocínio do visitador: ‘o Reverendo Vigário dos Fenais [da Luz] mandará consertar a dita Capela, sem embargo da repugnância, que também me consta, faz o dito capitão na venda das ditas peças, porquanto transferindo o domínio delas não tem direito para impedir ao Prelado a disposição que melhor lhe parecer, e somente querendo redimi-las dando o importe das mesmas peças para o dito concerto, e mais coisas necessárias para a dita ermida, as poderá haver.’[25] Para avançar rapidamente para o conserto ‘e mais coisas necessárias para a dita ermida,’ restavam ainda outras opções: ‘E vendo o referido vigário que se dilatar a execução deste capítulo por alguma controvérsia, que pode suceder, e que a dita capela padece maior ruína, mando faça um pedido pelos moradores daquele sítio de uma e outra paróquia [Bom Jesus e Senhora da Luz] até à quantidade suficiente para a dita obra; visto serem em utilidade espiritual dos mesmos moradores, pois na dita ermida ouvem missa e recebem os sacramentos, e o Reverendo Vigário desta Paróquia [Bom Jesus] logo fará aos dos Fenais esta determinação.’ [26]

Será que a crise sísmica que assolou a Ilha entre Novembro e Dezembro daquele ano de 1713, afectou a ermida?[27] Parece que não, já que a 27 de Dezembro de 1713, nela foi sepultado ‘António da Costa (…).’[1] Estaria já em condições de nela se rezar missa? Não sei. O que sei é que, quatro anos mais tarde, a 4 de Fevereiro de 1717, sinal de que o assunto se resolvera, o próprio Capitão António do Rego e Sá, isso segundo Rodrigo Rodrigues, casou naquela ermida de Nossa Senhora da Boa Viagem, das Calhetas. Casamento em segundas núpcias, com Rosa Pais da Silva, sobrinha da defunta sua esposa. Que falecera na viagem. Nesta ocasião, a igreja teria de estar ‘forçosamente’ em condições. E repare-se. O facto de o capitão ter aí casado, não nos dirá que aceitara a solução proposta pelo visitador? Ou uma outra a contento de ambas as partes?

Além do conserto da capela, terá a ermida beneficiado de outras obras? A que corresponderá o ano de 1728 da cartela que encima o frontispício actual da igreja de Nossa Senhora da Boa Viagem? Indicará a data da conclusão (ou do início) de uma qualquer campanha de obras?[28] Quais? Em bom rigor, até poderá dizer respeito a obras de outro edifício. Bom, mas admitindo que se refira àquele edifício, por uma simples análise formal, 1728, dirá respeito a obras anteriores à da fachada principal actual, que será posterior a 1830. Em segundo lugar, apontando para um período à volta de 1728, é possível identificar vestígios próximos de 1728.[29] Assim como, vestígios posteriores a 1728.[30] E até alguns bem anteriores a essa data. O mais importante dos quais, deverá ser a orientação poente/nascente do seu altar-mor.[31] Como poderia ter sido a fachada desta (putativa) igreja de 1728? Encontro (pelo menos) paralelo na fachada da igreja da Conceição (que se construía então), na das ermidas de São Vicente Ferrer (Ribeira Grande) e na da Conceição das Vinhas.[32] Suspeitas que carecem de provas. (Continua)

Mário Moura - Cidade da Ribeira Grande (São Pedro – Ribeira Seca) - Correio dos Açores, 15 de Abril de 2023, p. 16.

PS: Corrigi a conversão de passos para metros que (talvez por ser a primeira vez que utilizei a aplicação) dera no jornal.

 

 

 

 



[1] Além da igreja Paroquial de Nossa Senhora da Boa Viagem, há a capela de Nossa Senhora das Mercês (no interior da cerca do convento de Freiras franciscanas), inaugurado em 1950, e mandada construir pelo casal António e Leonor Frazão: Enes, Margarida, Leonor Frazão, In Vidas: Mulheres Açorianas, Letras Lavadas, 2.ª edição, 2017, p. 184: ‘(…) Requerida em 1949, a sua edificação começou desde logo com base num projecto do Engenheiro Luís Gomes e sob a direcção deste mesmo técnico (…) Em 18 de Janeiro de 1950, estava a ermida concluída e, no dia 12 de Março seguinte, o Ouvidor da Ribeira Grande, Padre Luís da Silva Cabral, procedia à visita canónica. No dia 20, do mesmo mês, o pároco da freguesia pedia licença para a bênção que logo em 20de Abril era autorizada.’ Informação da irmã Maria do Amor Divino, 4 de Abril de 2023. Confirmei-o dia 6 no local, onde, à entrada do templo, está colocada a placa de azulejos: ‘No dia vinte e três de Maio, ano da Graça de dois mil e nove, pelas mãos de D.. António de Sousa Braga, foi dedicada esta capela ao Imaculado Coração de Maria.’ M. Garcia, 2009.’ E a capela do Mosteiro de Nossa Senhora das Mercês, dedicada ao Imaculado Coração de Maria, no dia 23 de Maio de 2009. O segundo Mosteiro de freiras clarissas do Concelho, foi inaugurado de 2 de Janeiro de 1978. O primeiro no Concelho, fundado em 1536 pelos avós maternos do Grão-Capitão das Calhetas, chamado de Santo Nome de Jesus, construído dentro da Vila, havia sido forçado a encerrar (pelos liberais) em 1831. Enes, Margarida, Leonor Frazão, In Vidas: Mulheres Açorianas, Letras Lavadas, 2.ª edição, 2017, p. 185.

[2] Mestre Carlos, sacristão das Calhetas, 12 de Fevereiro de 2022; ‘Não há muito tempo, os mergulhadores dos Bombeiros da Ribeira Grande procuraram vestígios dos sinos daquela igreja. Não encontraram nada.’ Hoje, dia 20 de Maio de 2023, reparei que havia uma ‘Casa de Oração Assembleia de Deus,’ datada de 1993, na rua do Cemitério n.º 21. ( denominação cristã evangélica pentecostal?) E no próprio cemitério, há uma capela.

[3] Pimentel, Carlota, Correio dos Açores, Ponta Delgada, 11 de Abril de 2023, pp. 1, 2-3.

[4] Borges, Paulo, Erosão costeira nas Calhetas - Capitão Rego e Sá Baldaia, Maio de 2022: ‘A Baixa da Igreja/Baixa de Nossa Senhora (BI na figura 1) fica a ~90m da actual arriba. Segundo a tradição oral transmitida por octogenário “a avó da sua avó dizia que os 1 antigos diziam” que a Baixa da Igreja/Baixa de Nossa Senhora era o local onde estava a primitiva igreja de NS Boa Viagem. Atendendo à geomorfologia costeira da área e à sua evolução, nomeadamente a ausência de uma fajã detrítica na zona ou de indicadores que sugiram condições da possibilidade de no passado ter existido uma extensa fajã detrítica que afogasse a Baixa da Igreja/Baixa de Nossa Senhora, seria muito pouco provável o antigos terem construído a referida igreja na Baixa da Igreja/Baixa de Nossa Senhora, pois seria um local 2 ciclicamente inundado e cujo acesso teria de ser por barco.’

[5] Viana, Mário, Espaço e povoamento numa vila portuguesa: (Santarém 1147- 1350)/; Edição da Tese de Doutoramento em História Medieval apresentada à Universidade dos Açores, Casal de Cambra: Caleidoscópio, 2007. Bate certo comparando as distâncias actuais com as que Frutuoso nos deu.

[6] SIG = (11 de Abril) c. 1547 metros; SAMSUNG Health (aplicação pedómetro) 2. 621 passos + c. 10 m. = c. 2.012 metros. Percorri (12 de Abril) a pé pela rua do porto e a da Boa Viagem. Os 12 metros além dos 2000, podem ter sido o resultado de ter calculado mal (a olho) o espaço ‘interrompido’ entre a rua D. Paulo e a casa cor-de-rosa (dei 765 passos = 579 m. Mais o que não pude medir entre o muro desta última casa e o canto da casa (demolida). Atribuí c. de 10 metros. A diferença pode vir daqui, Seria?

[7] Frutuoso, Gaspar, Saudades da Terra, Livro IV, 1998, ICPD, p. 193.

[8] SIG = (11 de Abril) 680; SAMSUNG Health (aplicação pedómetro) = c. 512 metros. Percorri (12 de Abril) a pé pela rua do porto e a da Boa Viagem. Que fica perto de 680 metros (em linha recta) e a 1026 passos = 786 m. (a pé pela antiga estrada litoral) mais para poente da primeira calheta (do porto).

[9] Rodrigo Rodrigues, Genealogias das ilhas de S. Miguel e Santa Maria / por; rev. de Hugo Moreira ; [nota prévia do Dr. João Bernardo de Oliveira Rodrigues] Publicação: Ponta Delgada: Sociedade Afonso de Chaves, 1998, p.431

[10] Resposta ao meu mail pelo Dr. Pedro Medeiros, 26 de Abril de 2022: ‘Não encontrei na Relação dos Açores o testamento que procuras (de Maria Alves, viúva de Francisco Fernandes, lavrado a 27 maio 1622 nos Fenais da Luz). E no que concerne ao Cartório Notarial de Rabo de Peixe e Calhetas, o 1º livro que chegou aos nossos dias data de 1633.’

Lamento.

[11] BPARPDL, PRPDL, Processo Administrativo do Vínculo instituído por Manuel Moniz, Processo n.º 836, Treslado do Testamento de Manuel Moniz originalmente feito em Ponta Delgada, aos 25 de Maio de 1598, [fls. 8, 8v.]

[12] Câmara, Morgado João d'Arruda Botelho da, Notícias históricas, genealógicas e vinculares da ilha de São Miguel. Extratos de testamentos dos que instituíram vínculos em São Miguel e seus instituidores e administradores, Instituto Cultural de Ponta Delgada, 1995, p. 95

[13] Andrade, José, Pescadores em festa, Açoriano Oriental, Ponta Delgada, 22 de Setembro de 1996.

[14] Matos, Artur Teodoro de, Prefácio ao Espelho Cristalino em jardim de várias flores, de Frei Diogo das Chagas, 1989, Fontes para a História dos Açores, Universidade dos Açores, p. XVII.

[15] Chagas, Frei Diogo, Espelho Cristalino em jardim de várias flores, 1989, p. 186.

[16] Monte Alverne, Frei Agostinho, Crónicas da Província de S. João Evangelista das ilhas dos Açores, 1961, p. 298.

[17] APIBJ, Rabo de Peixe, 1706-1707, fl. 35v.

[18] Melo, Francisco Afonso de Chaves e, Margarita Animada, ICPD, Ponta Delgada, 1994, p. 68.

[19] Melo, Francisco Afonso de Chaves e, Margarita Animada, ICPD, Ponta Delgada, 1994, pp. IX, XI.

[20] O que apurei? Fiz buscas aos Arquivos da Ouvidoria da Ribeira Grande; Paroquiais (Nossa Senhora da Boa Viagem, Bom Jesus, Senhora da Luz); Municipais Ribeira Grande (Câmara e Administração); Mitra; Cúria; Boletim Eclesiástico de Angra; Alfândega de Ponta Delgada (Arquivo dos Açores). 

[21] Faria, Eduardo de, Dicionário da Língua Portugueza, 1858, 4.ª Edição, Lisboa: ‘Espeque:  estaca, pau com que se esteia, escora alguma coisa para não cair.

[22] Rodrigo Rodrigues

[23] APIBJ, Rabo de Peixe, Visitação do Dr. Francisco da Costa Carreiro, Lugar de Rabo de Peixe, Termo da Vila da Ribeira Grande, 9 de Julho de 1713, fl. 44.

[24] APIBJ, Rabo de Peixe, Visitação do Dr. Francisco da Costa Carreiro, Lugar de Rabo de Peixe, Termo da Vila da Ribeira Grande, 9 de Julho de 1713, fl. 44.

[25] Curiosidade? Coincidência? Por aquela altura, quer nos Fenais quer em Rabo de Peixe, decorriam obras de beneficiação. Nos Fenais da Luz, datado de 1713, na igreja de Nossa Senhora da Luz, há um frontal de altar de azulejos, talvez da lavra dos Oliveira Bernardes; em Rabo de Peixe, a ermida de São Sebastião exibe o ano de 1712.

[26] APIBJ, Rabo de Peixe, Visitação do Dr. Francisco da Costa Carreiro, Lugar de Rabo de Peixe, Termo da Vila da Ribeira Grande, 9 de Julho de 1713, fl. 44.

[27] Remeto-vos para a várias narrativas do acontecimento. Vamos à 1.ª série do Arquivo dos Açores, este magnífico repositório de documentos. Comecemos por dar conta da cópia da narrativa factual conforme tombada em um livro de registo da Câmara de Ponta Delgada.[27] Não fora a cópia e pouco ou nada saberíamos do que sucedeu, pois, segundo nos diz o responsável pelo Arquivo dos Açores, ‘as folhas 347 a 352 do dito Livro de Registo foram arrancadas por mil oitocentos e quarenta e tantos por certo antiquário que assim costumava praticar nos arquivos, que visitava para evitar o incómodo de extrair cópias.’[27] Quem seria o antiquário? Infelizmente, não nos diz; Francisco Afonso de Chaves e Melo, testemunha certamente das ocorrências, dá-nos conta sumariamente disso na Margarita Animada. Diz-nos que, ‘em 14 de Novembro de 1713 principiou a tremer amiudadas vezes a terra e com maior veemência para a ponta do Noroeste da Ilha, aonde nos lugares dos Mosteiros, Ginetes e Candelária caíram as igrejas e a maior parte das casas; continuaram os tremores até 8 de Dezembro à noite, em que de uma rocha das Sete Cidades que fica ao Norte do Lugar dos Ginetes, rebentou uma ribeira de lodo, que correndo para o mar não fez dano algum.’ Narrativas directas. Ou (já meio século depois) para José Clemente, biógrafo de Madre Teresa da Anunciada. José Clemente em 1763, na Vida e obra de Madre Teresa da Anunciada, dá-nos o ambiente geral da ilha por ocasião dos sismos. Vale a pena transcrever parte substancial do que escreveu, pois, assim, se ficará a conhecer o panorama geral e dele se poderá inferir algo para Nossa Senhora da Boa Viagem: ‘Pelos fins do ano de mil sete centos e treze se principiaram a sentir nestas Ilhas uns tremores de terra tão frequentes e espantosos, que por momentos esperavam os seus habitadores a última ruína. Com os repetidos abalos da terra caíram muitos edifícios, arruinaram-se os templos, desampararam os moradores as casas buscando os campos onde procuravam habitação, se bem mais incómoda, menos perigosa. Nesta comum calamidade resolveram as comunidades religiosas desta Ilha dar satisfação a Deus e exemplo aos homens. Os Jesuítas expuseram o Santíssimo Sacramento por alguns dias com ladainhas cantadas, e no fim delas, sermões dirigidos à reforma e emenda das culpas. Os religiosos de São Francisco saíram em três dias com procissões de pública penitência. O mesmo praticou o colégio da igreja Matriz. Imitaram estes exemplos as Vilas e Lugares de toda a Ilha, e houve em todos os seus habitadores uma geral compunção e reforma de vida. Não obstante estas públicas demonstrações, ainda continuavam os tremores, especialmente nos Lugares dos Mosteiros, Ginetes, e Candelária.’

[28] Já em 2011, a colega Ana Moscatel dissera: ‘século XVIII (1728). Igreja sucessivamente reconstruída e ampliada. Fachada com características neogóticas.’ Cf. Moscatel, Ana Cristina, Arquitectura, in Turismo: Ribeira Grande: História, Cultura e natureza, Edição da Câmara Municipal da Ribeira Grande, 2011, p. 47.

[29] Por exemplo: o fontanário existente na sacristia, decorado com sexifolias, que tem uma estrutura aproximada à do fontenário da ermida de São Vicente Ferrer, contemporânea da data da cartela. Ou a pia baptismal, em traquite, hoje no Museu Municipal da Ribeira Grande. A orientação interior é semelhante à das igrejas que se construíam por esta altura.

[30] Por exemplo: a imagem (antiga) de Nossa Senhora da Boa Viagem, porém, segundo especialistas a quem apresentei o caso, enviando fotografias, poderá ser (no entanto, uma melhor opinião só será possível mediante uma observação no próprio local) da segunda metade do século XVIII. Mais para o final.

[31] Pelo que vejo nas igrejas e ermidas locais, essa orientação anda associada a edifícios religiosos dos séculos XVI e XVII. Vejam-se os exemplos da ermida de Nossa Senhora do Rosário e da igreja do Senhor Bom Jesus? Ou a igreja de Nossa Senhora da Estrela, primeiramente construída no século XVI, e ‘reconstruída’ no século XVIII. E por aí adiante. Ao contrário, vemos a igreja da Conceição, do século XVIII ou do Santíssimo Salvador do Mundo, do século XIX, com os altares-mores orientados a sul. Existirão excepções?

[32] Apesar de não se conhecer gravuras ou outras descrições. Vasconcelos, Jorge Gamboa de, Ermida da Conceição das Vinhas, in Despertar, Boletim Paroquial, Ano XII, n.º 84, Novembro de 1987, Ribeira Chã, p. 53: ‘(…) Fácil é situá-la, entre 1694, ano em que veio para os Açores aquele ilustre prelado, e 1713, ano em que foi assinada a referida escritura (…).’ [Teodoro, Hermano], Museu de Comunidade Ribeira Grande, 2004, p.p. 8-9: A escritura de doação de património para a fábrica da Ermida [São Vicente Ferrer, Ribeira Grande] tem a data de 2 de Janeiro de 1725. Nela se refere que o casal [Francisco de Arruda e Sã e Mariana Leite] a erigiu contígua com as suas casas em que vivia.’ Moura, Mário, Nascimento de uma paróquia na Ribeira Grande: Nossa Senhora da Conceição (século XVII), 2009.

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