Azulejos da
casa das meninas Jordoas na cidade da Ribeira Grande:
Um capitalista
e proprietário
Introdução
Este trabalho será talvez melhor entendido se o lermos com as ‘
Memórias da Ponte dos oito arcos da Ribeira Grande,’ publicadas anteriormente nesta
revista. Aí esquissa-se o ambiente sócioeconómico e cultural da Ribeira Grande
nos terceiros e quarto quartéis de oitocentos, época da casa das ‘Meninas
Jordoas’ e da construção da ponte e dos mercados.
Estava-se, então, a viver o fim do ‘ciclo da
laranja’ e o início das tentativas de busca de alternativa àquele cultivo.
Antes de 1874, já existiam, tanto quanto sabemos e
afirmamos na ‘Azulejaria da Ribeira Grande: século XVII,’ três fachadas
azulejadas na ilha: Caloura e Lagoa, no século XVII, e Matriz da Ribeira
Grande, no XIX. Este último, a julgar por uma gravura de Joaquim de Cândido
Abranches, terá ocorrido antes de 1869; reutilizou azulejos seiscentistas de
padrão policromo. Uma putativa quarta: casa nas Alminhas, na Lagoa.[1]
João Vieira Jordão, um ‘capitalista’ ou
‘proprietário,’como surge identificado em documentos,[2] ao azulejar a sua casa, a dois passos da
igreja paroquial da Conceição, vizinha de casas de setecentos, na rua de Nossa
Senhora da Conceição n.º84, ao revesti-la de azulejos policromos de
relevo, segue, por um lado, e por outro,
aprofunda usos também locais. Aquele tipo de arquitectura é reconhecível em
casas já construídas na comunidade: rua da Praça n.º 37 - placa com a data de
1859; largo Hintze Ribeiro n.º 8 - 1856; largo das Freiras - finais da década
de sessenta; rua el-rei D.Carlos I n.º65
; rua de N. Senhora da Conceição n.º8, entre outros possíveis. As cores
empregues, amarelo e azul, estavam
patentes na azulejaria da fachada da Matriz, o que poderá indiciar um uso mais
vasto. Notícias trazidas por inúmeros emigrantes portugueses no Brasil ou de
viajantes no Continente Português, Vieira Jordão poderia ter sido as duas
coisas, também, por certo, tornariam vulgar o uso do azulejo em fachadas.
Todavia, o uso de azulejos relevados, no meio de construções sóbrias, o jogo da
luz sobre eles, destacava a casa das demais circundantes. Fê-lo também, segundo
testemunho de alguém que ouvia o genro dizer, porque « assim não era necessário
caiar a casa por fora.»[3]
As estatuetas
de faiança do topo, alegorias ao ‘Trabalho’ - ou ao ‘Comércio- e
Indústria,’destacam-na, casam-se bem com o estatuto social do seu proprietário:
capitalista ou proprietário. As novas
classes sociais saídas da revolução liberal exibem o seu estatuto tal como
outrora o faziam o clero e a nobreza.
Questão
equacionada
« Nos Açores
encontramos alguns exemplos de fachadas cobertas de azulejo em quase todas as
cidades maiores, sendo notáveis as de alguns prédios de Angra do Heroísmo e da
Ribeira Grande.»[4]
O ceramógrafo
Santos Simões referia-se, nestes termos, à casa n.º 84, na rua de Nossa Senhora
da Conceição, cidade da Ribeira Grande. ( f. 1 ) Mais adiante, consagra-lhe
quatro parágrafos, que pela sua importância, passo a transcrever: « destaca-se
pelo seu volume e boa presença o prédio que João Vieira Jordão mandou construir
em 1874 - data que se lê na própria fachada - quando regressou do Brasil.[Ou data do fabrico daqueles azulejos.] Toda a frontaria é coberta de azulejos
relevados, em padrão de 2x2/1, de desenho que aqui vejo pela primeira vez, onde
sobre fundo azul, se destaca florão quadrifoliado, branco.[[5]] O conjunto é limitado em toda a fachada por
azulejos rectangulares, igualmente relevados, do tipo do florão central. [[6]] O beirado, de telha vulgar, assenta sobre
peças cerâmicas decoradas, de desenho extremamente curioso e raro. [[7]] Coroando este conjunto estão, aos cantos,
duas estatuetas de faiança alegóricas ao ‘Trabalho’ ( ou ao ‘Comércio’) e
‘Indústria.’ [[8]] É dos mais complexos exemplares de fachada
azulejada - e dos mais belos - comprovando eloquentemente o ‘brasileirismo’
desta modalidade de revestimento que tanto haveria de proliferar em Portugal no
século XIX.
No interior deste mesmo edifício vamos encontrar
azulejos da mesma época, próprios para o revestimento de silhares, tais como os
estampilhados da escada encurvada, [[9]] os da cozinha - estes particularmente
notáveis na sua singeleza - e os do pátio ou terraço interno.[[10]] Se os azulejos do interior me parecem ser de
fabricação micaelense, julgo que os de relevo da fachada, os ornatos do telhado
e as estatuetas, terão sido importadas do Continente com probabilidade de Gaia
(Devezas?) centro bem conhecido para aqueles tipos de cerâmica e
particularmente favorecido por ‘brasileiros’ daquém e dalém Atlântico.» [11]
Equacionar o
problema
Não se refere aos lisos de estampilha da
fachada.[12] Não
se conhece fotografia da cozinha nem do ‘pátio ou terraço interno,’ na qual se
vissem os azulejos, pois estes foram retirados depois de Santos Simões os ter
estudado. Assim, os que obtivemos no próprio espaço da casa: recolhemos de uma
arrecadação - fotos números 6, 7 e 9 -, mais os que conseguimos de uma
prospecção arqueológica no espaço do quintal da mesma casa - n.º 8 e fragmentos
dos representados nas fotos números: 6, 7 e 9. Retirámos os fragmentos
desenhados de 1 a 4, de uma vala de saneamento básico aberta defronte do Teatro
Ribeiragrandense. Os desenhos 2-4 representam fragmentos que encontrei em Março
de 1991 em uma vala de saneamento na rua el-rei D. Carlos I, que corria
paralela à berma do passeio norte da ponte do Paraíso, no troço entre a
entrada principal do Teatro
Ribeiragrandense e a referida ponte. Já perto, e dentro da área da ponte, para
ser mais exacto. Estando ainda a ser a mesma ampliada em Setembro 1875 e sendo
a casa plausivelmente azulejada à volta
de 1874 (conforme cartela datada que poderá tão-só testemunhar a data do
fabrico, não do azulejamento),[13]
poder-se-á supor que os fragmentos, à mistura com entulho, tenham vindo daquela casa para as obras de
ampliação da ponte do Paraíso.[14]
O desenho n.º 1, igual aos azulejos do friso
(foto. n.º 5) também foi encontrado naquele troço. Mais uma prova ou
pura coincidência. Estes fragmentos estão expostos no Museu da Ribeira Grande.
O CC1-98, oferta de um particular ao museu, cuja
origem não foi revelada, é da mesma
tipologia do conjunto dos da fachada da casa em apreço. O CC2-98, igual aos
representados no número 8, é da mesma origem do anterior. Com estes vieram os
CC 3, 4 e 5, que presumivelmente correspondem a três amostras de azulejo
relevado. De onde terão vindo? A cor do barro do tardoz dos últimos três
azulejos é rosa.[15]
Portanto, apesar de ser provável, não sabemos ao
certo, sem sombra para dúvidas, se os que temos em exposição no museu da
Ribeira Grande correspondem aos mencionados por Santos Simões. Ainda que tenham
vindo da casa n.º 84, e parte veio de lá, exceptuando os da fachada e da
escadaria principal, desconhecemos onde e como estavam colocados. Talvez
exceptuando-se os da fachada, datados de
1874, a fazer fé na cartela datada, não podemos afirmar que tenham sido todos
fabricados no século XIX.. Ou que tenham sido produzidos na Lagoa ou no Porto.
Qual então a justificação destas notas? Além da
divulgação desta maravilhosa casa, tentar, com os dados obtidos pelas novas
recolhas, ir um pouco mais longe.
Dificuldade em
identificar a origem da produção oitocentista
Falta documentação sobre as fábricas e as
encomendas, não existe um catálogo exaustivo, nem tão pouco estudos tão profundos
e abrangentes como os existentes para épocas anteriores.[16]
Além do mais, as fábricas de então, este ponto é crucial, quer nos barros, quer
nos vidrados, recorriam às mesmas fontes. Por exemplo, a areia utilizada na
fábrica das Devesas na cidade do Porto, vinha da cidade de Lisboa, a argila da
mesma fábrica, segundo o mesmo testemunho, chegava de diversos locais: Lisboa e
Telheira (Gaia), entre outros locais.[17]
O mesmo se poderá dizer das técnicas empregues e dos artífices. Iremos ver que
os fundadores das fábricas de Lagoa vieram da área do Porto. Se calhar, nem
sequer uma análise laboratorial às pastas e aos vidrados, dará informações que
identifiquem as suas diversas origens; se calhar só a conjugação da arqueologia
industrial, aliada a um levantamento exaustivo das espécies azulejares, a par
de uma pesquisa arquivística, poderá fazer avançar os nossos conhecimentos
sobre a rica e diversificada azulejaria do período. Até lá, honestamente, temos
que depender, no nosso caso, da data da fachada e do estudo comparativo formal:
técnicas e decoração. Os elementos por nós recolhidos talvez possibilitem uma
análise formal ao tardoz. Valerá ainda a pena a análise laboratorial? [18]
Brasileiros,
brasileirismo e o nosso Jordão?
Convém não subestimar o contributo português. A
discussão do papel do Brasil no desenvolvimento da azulejaria oitocentista não
tem sido pacífica. Enquanto Santos Simões, entre outros, viu « nas
características climatéricas do Brasil o melhor incentivo ao consumo dos
azulejos de fachada, » Dora Alcântara, entre outros, acentua « que o azulejo
nunca deixou de ser utilizado em Portugal durante a primeira metade do século
XIX, embora possa ter sido no Brasil que esta utilização foi incrementada,
seguindo a prática do século anterior de revestir alguns edifícios religiosos
com azulejos brancos.»[19] Meco, por seu turno, após referir a
existência de vários exemplares de azulejo artístico em Portugal na primeira
metade do século XIX, o que é negado por alguns a quem apelida de elitistas,
precisa: « embora simplificando-se e servindo primordialmente como material
utilitário no acabamento das fachadas dos prédios de rendimentos burgueses.»
Remata que « a associação desta tradição
aos conceitos utilitários da burguesia permitiu uma das manifestações mais
interessantes do azulejo português.»[20]
Recorrendo-se, por vezes, a reutilizações de azulejos de épocas anteriores. O
que sucedeu, entre nós, por exemplo, na Igreja Matriz da Ribeira Grande.
Mais recentemente, José Manuel Lopes Cordeiro
concorda com Santos Simões « ao apontar a presença de ‘brasileiros’ na
indústria portuense de cerâmica aos quais se deve em grande parte a sua
reanimação logo após a implantação do liberalismo.» E mais adiante, propõe dois
períodos para essa presença. Um primeiro que irá de 1834 prolongando-se por
cerca de duas décadas, «onde é patente a influência de ‘brasileiros’ e,
principalmente de investimentos de capitais que tiveram origem no Brasil. E um
momento posterior, ao longo de toda a segunda metade do século XIX - período fundamental
da expansão da produção azulejar portuense que, aliás, se vai desenvolver
principalmente com base no mercado nacional durante o qual a influência de
‘brasileiros,’ e dos seus capitais é diminuta.» E rebate um ponto avançado por
Simões e repetido posteriormente, o Tratado de 1834: « a que o autor
possivelmente se refere, realizou-se em 1836 e não contemplava nenhuma cláusula
privilegiando a entrada de azulejos portugueses no Brasil.» E conclui: o facto
desse Tratado não ter sido ratificado, por falta de aprovação nas Câmaras
Brasileiras, leva-nos a crer que o mesmo não terá tido a influência no sector
da indústria de cerâmica portuense, que aquele autor lhe atribui.»[21]
Uma coisa não exclui necessariamente a outra, logo que não haja tratados que
dificultem ou discriminem a produção portuguesa. O mesmo comentário farei à
influência em Portugal do gosto ‘brasileiro,’ que, à partida, continha ‘um
gosto português.’
A tradição e a memória local referida por Santos
Simões - talvez tenha falado com a filha -, diz que João Jordão Vieira esteve no Brasil.[22]
Daí o seu gosto pelo azulejamento da fachada. É tão plausível como, sendo
comerciante, possuindo estufas de ananás, poder ter estado no continente, ou
ter contactos comerciais com o continente. No fundo, pouco interessa para a
discussão deste tema, saber onde aprendeu o ‘gosto,’ no Brasil, em São Miguel,
em Portugal Continental, ou alhures, mas
perceber o gosto em si mesmo. Se não vejamos. Sendo a Ribeira Grande, a ilha e
as ilhas, tal como o continente português, locais de emigração para o Brasil, a
existir uma ligação umbilical entre o ter-se estado naquele país e o
azulejamento de fachadas, então seria de
esperar, na Ribeira Grande muito mais do que uma fachada azulejada. Existirão
outras razões aliadas àquela. O conservadorismo local terá impedido a sua
disseminação?
Espreitadela à
casa de tijolo das meninas Jordoas
Os ribeiragrandenses confundindo o azulejo com o
tijolo e desconhecendo ou dispensando o rigor matemático dos números de polícia
assim tê-la-iam baptizado.
Mais tarde, no tempo da exploração comercial do
rés-do-chão, pelo sr. Pacheco Bernardo, também era conhecida pela ‘loja do
tijolo.’
A família
Jordão
Aparentemente a família Jordão terá vindo para a
Conceição pouco antes do nascimento de João. De onde terá vindo e porque veio
para a Ribeira Grande? Os pais de João Vieira Jordão moravam em Ponta Delgada,
aparentemente não teria família na Ribeira Grande, nem ele nem a mulher, porque
a terá então escolhido. Pela oportunidade económica?
Se a casa mencionada no termo de baptismo do filho
João, na rua Direita, é a mesma em que a família aparece mencionada nos róis
desde 1876 - não temos os de 1874 e 1875-, então a família Jordão estaria a
morar naquela casa entre a Quaresma de 1873 - onde não aparece ainda mencionada
-, e o dia quinze de Junho daquele ano, data do nascimento de João.
Integra-se na sociedade local de vários modos. João
e Dona Antónia já trariam uma ou duas filhas nascidas talvez no Brasil. Sendo
proprietário/capitalista, sendo a esposa mencionada nos róis como ‘Dona’, sabendo
os filhos ler e escrever, participando na governação da terra, fazia parte da
elite local. Era católico. Mas para tal, além das suas posses, ao que parece,
escolhe padrinhos bem colocados para os seus filhos: o padre Egas Moniz, pertencendo
a uma família local, é o padrinho de Beatriz.
João Vieira Jordão, um emigrante endinheirado
regressado do Brasil terá concluído a construção ou reconstrução do edifício,
ou concluído o imprescindível para a tornar habitável, à volta de 1873 - não
temos provas conclusivas -, e azulejado,
a crer na placa azulejar datada do frontispício, em 1874, ou em ano muito próximo.[23]
Naquele ano fundou-se a Banda Filarmónica do
Progresso, da qual aparece, um pedido de apoio dirigido a José do Canto, datada
de 5 de Março de 1880, como dirigente, entre Gualberto Soares Vargas, Jacinto
de Medeiros Coutinho, Manuel Duarte Silva, Padre Jacinto Victor da Ponte e
Manuel Tavares do Canto. Era intenção da ‘Voz do Progresso’ atingir « o duplo
fim de manter uma aula de arte musica, e outra dos primeiros rudimentos da
lingua patria… para as classes menos favorecidas da fortuna.»[24]
Pertencia ao partido progressista, era correligionário do editor do jornal
“Noticiarista”, foi vereador municipal e explorava estufas de ananás no Rosário:«Ananazes.
Presentes, Festejos. Banquetes!! Ananazes. Divina Fructa. Vende-se todos os dias para comer já,
e para embarque. Todos os tamanhos de primeira qualidade a escolher na estufa a
500 rs o Kilo.Vende o Estufeiro.Nas estufas do Jordão, ao Rozário, d’esta
Villa. Há caixinhas promptas para encaixotar.»[25]
A par desta actividade de proprietário emprestava
dinheiro a juro, como se depreende da leitura de resposta a carta de José do
Canto, grande proprietário terratenente da ilha, que igualmente emprestava
dinheiro, aliás actividade normal de um capitalista, como era também conhecido
João Vieira Jordão, ou de outros dois mencionados na referida carta -
‘Bem-bello’ e sr. Ivens: « estou garantido da m.ª divida como 1º na caza em que
elle mora e mais n’outras que um parente delle lhe fez este favor; o que não
desgostei, e vai-me pagando o Juro regularmt.e de maneira que não tenho razão
de queixa.»[26] Era
alguém na Ribeira Grande e, de acordo com o ‘Estrella Oriental’ de 26 de Maio
de 1893, « pelas 6 horas da tarde d’hoje desceo à sepultura os restos mortaes
do sr. João Vieira Jordão. Paz á sua alma, e nossos pesames á contristada
família.»[27]
João Vieira Jordão nasceu na freguesia de São
Sebastião, Ponta Delgada, filho de João Vieira Jordão, « logista, natural da
freguesia de Nossa Senhora da Piedade, concelho das Lagens, d’esta diocese [Angra], e de Maria José
Leopoldina, occupada no serviço domestico, natural da freguesia de Sam José,
concelho de Ponta-delgada.»[28]
Casou, como já vimos com uma brasileira, natural do
Rio de Janeiro, onde casou e onde provavelmente esteve emigrado.
João casa com « Dona Antónia Maria d’Utra Jordão, »
a julgar pelos róis, sempre falíveis em datas, estaria ele na casa dos trinta -
38 ?- , ela teria cerca de dezassete anos; ou seja uma diferença de idade de
cerca de 18 anos.
No Rol Quaresmal de 1876, a família Vieira Jordão a
residir na rua Direita - outro nome para a rua de Nossa Senhora da Conceição-,
sendo composta por esposa, três filhas, e três criados.
Até ao momento, de acordo com os dados que dispomos,
tiveram um filho, que, ao que parece,
faleceu pouco depois, e seis filhas. Todas sabiam ler e escrever. A
esposa era, além de ‘Dona’, referida como «occupada no governo domestico.»[29]
A casa composta pela residência na rua Direita, seis filhas, um filho que
morrera, cinco teriam nascido na Conceição, naquela casa?, uma Quinta no Rosário,
talvez outras propriedades, exigia a repartição de tarefas, em casa tratava do
governo a esposa que superintendia o trabalho dos criados e velava pela educação
dos filhos. O marido tratava dos negócios. Morre nova.
João consta como viúvo no Rol Quaresmal de 1889. No
de 1885 a esposa é ainda mencionada.[30]
Após a morte
do pai
No rol de 1895, vivem lá as seis filhas, João
falecera em 1893, como vimos, sendo designada, pelo arrolador, D. Maria da
Glória como chefe do agregado. Surgem ainda do mesmo modo no de 1903: a mais
velha, D. Maria da Glória, segundo o rol,
tem 39 anos, a mais nova, Beatriz, tem 19. Estão solteiras.
Sozinhas, com posses, duas casam. Talvez também uma
terceira: « uma delas, não sei qual, casou-se, não tenho a certeza, com um
tenente-coronel Azeredo. Acho que foi para Lisboa e que tendo enviuvado
regressou à Ribeira Grande.»[31]
Umas na rua Direita,
outras na rua do Rosário
Até à Quaresma de 1905, segundo o rol da Matriz, não
estão a morar na rua do Rosário. Moravam juntas na rua Direita, excepto Almerinda.
Que lhe sucedera? Morrera? Casara? No de 1903 ainda consta, no de 1918, não está
nem no Rosário, nem na rua Direita. Após o casamento da mais velha, D.Maria da
Glória, realizado talvez entre a Quaresma de 1905 e a de 1906, a julgar pelos róis
tanto da matriz como da Conceição, D.Glória passa a residir com o marido na rua
Direita e as restantes irmãs, solteiras, fixam residência no Rosário. as
restantes irmãs. Ficando, então, D.Lídia, como proprietária e chefe de família.
No rol de 1918, D. Maria da Glória, que segundo as
contas feitas pelo rol anterior teria 54 anos, surge com 40 anos, casada com
Manuel António Rodrigues Souza [?], mais dois filhos: Isaura com 10 e Aguinaldo
com 8. Teria casado entre a Quaresma de 1903 e 1907, sensivelmente.[32]
Uma outra irmã, Beatriz, «casou com Libuino Batista
da Silva [da Silva Batista no termo de óbito] natural da freguesia de São Pedro
deste concelho.»[33] Um
registo à margem do seu termo de baptismo datado de 1927, assim o diz.[34]
Enviuvou em 1945. Na Quaresma de 1928 já não está com as irmãs. Talvez só lá ia
passar o verão; assim se percebe que, apesar de morarem algures, o marido « aspirante de finanças»[35],
tendo falecido no verão de 1945, apareça como morador da rua do Rosário. Este
Libuino era da família local dos ‘Gazua’: « Era da família do pai da Eduarda
Batista. Tratavam-se como primos. A Isaura sabia ler e escrever, bordava e
rendava e tocava piano. O pai não aparecia a ninguém. Estava sempre no seu
escritório no saguão. Viviam da renda dos seus bens. As tias ainda viveram cá
em baixo. Depois devem de se ter dividido. Heranças.»[36]
Um outro testemunho refere que: « sendo rapazes e
estando a passar o verão em Santo António [Quinta à entrada da Ribeirinha] íamos todos os dias às Poças tomar banho e
passávamos pela casa do Rosário. À noite, depois do jantar, íamos ter às vezes com
o sr. Velho Melo Cabral que morava entre o Posto Agrícola e a Fábrica de
Lacticínios e ouvíamos a família das Jordoas a tocar música e a cantar no balcão
da casa. Ao lado da casa, morava a mãe do Jorge Félix. Às vezes ficávamos
sentados defronte, outras entravamos para o balcão. O Libuino que trabalhava na
Fazenda tocava bem, se bem me lembro violino, a mulher já não me lembro. Aquela
casa tinha um tanque, enormes araucárias e confinava com a canada das Jordoas!»[37]
Após 1945
D.Beatriz, viúva, junta-se às irmãs no Rosário. Aí
permanecerão até que, primeiro na Quaresma de 1960, D.Lidia falecera, depois,
na seguinte, fora a vez de D.Isabel, restando D.Alcidia, 80 anos, e D.Beatriz,
viúva, 74. Juntam-se à sobrinha Isaura que residia na rua Direita.
Em 1951, na Quaresma daquele ano, aparece somente
Isaura Maria Jordão. Os pais teriam falecido. Esta senhora alugava parte da
casa para suprir os seus proventos: « Fui criada de D. Leopoldina, esposa do
professor Dario. Estavam lá de renda. De verão a D. Isaura ia para o Rosário e
a D.Leopoldina ia para o Nordeste. Havia lá um piano que foi, para o resto,
vendido para Ponta Delgada.»[38]
Beatriz Noémia Dutra Jordão, tia de Isaura, como
vimos, uma das seis filhas de João Vieira Jordão, faleceu aos 96 anos, na freguesia da Conceição, no dia 28 de Junho de 1980.[39]Os
sobrinhos não tiveram descendência: « O Aguinaldo foi, ao que parece, estudar
para Inglaterra, pouco parava por cá, não sei se morreu aí por fora, a D.
Isaura não chegou a casar, apesar de o Bretanha, segundo se diz, ter pretendido
casar com ela para ficar com os bens. Um disparate. Acabou por lhe vender a
casa. D. Isaura e os pais moravam cá em baixo, as tias solteiras, lá em cima,
no Rosário. Iam todos passar lá o verão. Quando morreram as tias, D.Isaura
alugou a casa ao Bretanha e foi viver para o Rosário. Vendeu-a ao António
Bretanha por 150 contos. Vendeu a casa do Rosário ao João Vieira Filho [não lhe era nada] por 3 mil contos e foi para o Asilo [Lar de Idosos] onde morreu. Fez testamento
a doar tanto para a Igreja, tanto para o Asilo. Não tinha a noção do valor das
coisas. Acabou por não dar nada. Isto foi muito falado. Entretanto o António
Bretanha deixou tudo ao criado que vende tudo à Santa Casa.»[40]
Espaço
comercial
Ao que parece, o rés-do-chão, tem servido desde,
pelo menos quanto sabemos, de estabelecimento comercial. Sendo a riqueza da
casa baseada na produção agrícola, é presumível que ‘os baixos’ tenham
funcionado desde o início como ‘lojas’ de arrumo onde, tal como ainda acontece
hoje, se guardava e vendia, entre outros produtos, vinho.[41]
Segundo o testemunho de um seu vizinho da casa, nascido na década de vinte
deste século: « Conheci desde criança o ‘Charlota,’ suponho que era assim
conhecido por que se pareceria, numa altura dos filmes mudos, ao ‘Charlot.’ Na
porta que tem um arco [n.º 86] havia bombas de gasolina. Depois veio o sr.
Pacheco Bernardo, cunhado do sr. Faustino, ambos empregados da sucursal de Luís
Soares de Sousa. Meu pai, tendo também sido lá empregado foi convidado para
abrir a sucursal dos armazéns do Chiado na Ribeira Grande. O Pacheco Bernardo
era da Ribeirinha e tinha mesma nas facturas o nome da loja: loja do tijolo.
Entretanto quando faleceu passou para o António Bretanha e finalmente para o
sr. Dinarte Miranda. Era uma espécie de loja onde se vendia de tudo.»[42]
Em relação a este estabelecimento comercial o seu
actual inquilino disse-nos: « Recordo-me de ser explorada pelo sr. Pacheco
Bernardo, cunhado do sr. José Adriano, da Ribeirinha. Vendia calçado, mercearia
e tecido a metro. Quando o sr. Pacheco Bernardo faleceu, o António Bretanha
comprou a casa e a loja e continuou a explorá-la do mesmo modo: calçado,
mercearia e fazendas. Depois foi a Santa Casa que a adquiriu. Eu exploro a loja. É a loja que vê: calçado,
pronto a vestir, ourivesaria, electro-domésticos, mobiliário etc…[Como era o aspecto da loja?] Conhece a loja do sr. Manuel Pontes? Era
daquele género. Igual à do sr. Faria. Um balcão em todo o comprimento do
rés-do-chão, por cima era moradia, e imensas prateleiras de cima a baixo a
forrar as paredes. Tinha tudo exposto e empregados ao balcão.»[43]
Muito mais haveria a saber sobre esta casa e os seus
ocupantes, decerto, poderíamos saber de outros dados sobre a mesma, porém, para
o fim que nos propomos, um melhor esclarecimento de quem usou estes azulejos,
será suficiente esquissar esta relação.
Os relevados
serão das Devesas? Porquê?
Existem na fachada dois tipos decorativos de
relevados: um bem conhecido nas fachadas do Porto e o outro, assemelhando-se a
uma flor -de-lis, desconhecido. Ou então
a uma estilização de andorinhas em voo?
Para confrontar com aqueles só possuímos
fragmentos do segundo tipo. Todos os elementos azulejares relevados que
dispomos, exceptuando os CC 3,4 e 5-98,
apontam para uma mesma técnica, mesmos materiais, mesmos motivos, talvez mesma
origem e data de fabrico. Sensivelmente.[44]
Os do primeiro tipo, quanto à técnica e vidrado, parecem assemelhar-se aos do segundo.
Técnica de relevo
Segundo José Meco: « [nos meados do século XIX] no Porto a produção em alto-relevo de
Massarelos foi rapidamente ultrapassada pela Fábrica do Carvalhinho e,
especialmente, pela ‘moderna fábrica a vapor das Devesas, cujos azulejos de meio-relevo, muito mais finos, já não eram
feitos em formas, mas com o barro amarelo prensado mecanicamente através de um
molde e um contramolde, que, comprimindo a pasta, lhe[s] dão a forma pretendida.»[45]
Vejamos os nossos. Estudê-mo-los. A parte inferior
do beiral sobreposta à cimalha foi revestida de placas cerâmicas rectangulares
relevadas estilizando, com elegância, uma forma vegetal próxima da flor-de-lis.[46]
Parte
deste motivo estilizado repete-se nos panos centrais do frontispício.[47]
Diferem, no entanto, os últimos dos primeiros por serem mais pequenos e
quadrangulares.[48]
Acompanhando
os vértices do edifício e percorrendo a cimalha, duplicando uma primeira barra
de argamassa pintada em amarelo discreto, segue uma barra de azulejos
rectangulares relevados de motivos vegetais estilizados.[49]
Ao
azul anil dos azulejos do beiral e dos do pano central acrescentou-se, no seu
motivo quadrifoliado central, um amarelo mais vistoso.
Para os de ‘Flor-de-lis,’ além do vidrado, teremos
dados do tardoz, assim, estes corresponderão ao que Meco acima referiu: pastas
amareladas, meio-relevo e tardoz prensado. Quanto aos outros, apesar de não
podermos observar o tardoz, pelo que vemos na superfície esmaltada, ou seja
pelo tom dos vidrados e cores, podemos afirmar que têm a mesma origem dos
anteriores. Portanto, de acordo com estes apontamentos técnicos e de acordo com
a apreciação de Santos Simões, seriam das Devesas.
Todavia, do Departamento de Museus e Património
Cultural da Câmara Municipal do Porto, recebemos a 24 de Outubro de 1997, a
seguinte resposta á nossa dúvida : « Após a recepção da fotografia referente
aos azulejos de fachada de uma casa na cidade da Ribeira Grande, procurei este
padrão junto do nosso ficheiro de azulejos recolhidos na cidade do Porto. Como
já seria de esperar, até pelas informações que nos envia, não temos no nosso
depósito de recolha de materiais, exemplares semelhantes a estes. Ainda
consultei uma publicação referente a azulejos da cidade da Póvoa de Varzim,
onde aparecem vários modelos de azulejos de relevo, sem no entanto aparecer
qualquer paralelo com este.» Simões, em
1961, nunca vira igual, José Meco, percorrendo as quatro partidas do mundo,
tendo estado na Ribeira Grande em 1989, ainda há dias nos declarou não ter
encontrado nada de semelhante. Dada a natureza complexa e refinada do azulejamento daquela fachada, com frisos e
demais elementos de enquadramento, sou tentado a pensar que seria mais lógico e
talvez mais económico, já que se produzia azulejo na Lagoa, mandá-los vir de
lá. Todavia, conclusões definitivas e irrefutáveis só perante a existência de
provas.[50]
As placas toponímicas elípticas com cercadura relevada oca no interior - A
54-92- da cidade da Ribeira Grande que hoje vemos corresponderão às
recomendadas para o Largo Gaspar Frutuoso e ruas circunvizinhas em finais do
século passado?[51] Se
são até mesmo o barro é amarelado. Adianto tão-só hipóteses. Sem mais
conhecimentos sobre o assunto, sobretudo sem um estudo de arqueologia
industrial às fábricas em questão, não é de excluir outras proveniências.[52]
Serão de 1874, ao que parece.
Escrevia assim em Junho, hoje, Novembro, perante
novos dados, devo acrescentar: ......
Os de
estampilha
Ou seja: fotos 5 (fachada) - nosso fragmento Des.
N.º 1 - ; foto 9; foto 6 ( escadaria) - nosso A-45-92; foto 7 - A-58-92 e n.º 8 mais CC2-98. Destes Simões, como
vimos, opina que serão da mesma época dos anteriores e que podem ser de fabrico
micaelense. Mais nada. As pastas são amareladas, os azuis, os vidrados, mesmo
os amarelos, parecem-se. Mas o mesmo se poderia dizer, com ligeiras excepções
em relação aos relevados. Aliás a maior variação, não no motivo, mas no tom de
azul, existe entre a cercadura lisa da fachada e a que encontramos numa
arrecadação do interior da casa. Trata-se do que existe a separar o rés-do-chão do 1º andar: um friso
de azulejos estampados manualmente, em dois tons de azul.[53]
São duas faixas exteriores paralelas, ambas em azul anil, e uma terceira
central, em azul marinho. Na central estamparam-se discretos motivos florais
estilizados. Ou os que, provavelmente, estariam no alpendre, hoje sala de estar
e salão de jogos. Recobrindo o mainel, e por certo alastrando-se às áreas
envolventes, corria um silhar de composição enxaquetada .[54]
Rematava-o, possivelmente, o friso inspirado no modelo da fachada exterior.[55]
Porém, este de menores dimensões, recorre a azuis mais claros e mantém o branco
esmalte na faixa central. Tal indicará outra execução técnica, talvez mesmo outra
proveniência? Não necessariamente outra proveniência.
Ainda há dezasseis anos, pouco mais ou menos, o
visitante poderia ver na cozinha (?) um singelo mas notável conjunto de
azulejos de estampagem manual de sugestão “ trompe l ‘oeil.’[56]
Aliás, este e os demais do interior, como insinuou
Santos Simões, poderão provir dos ‘ engenhos’ da vila Lagoa (São Miguel) já
activos desde 1862.[57]
Pelas mesmas razões aduzidas anteriormente, não vejo que se possa provar, ou
não, a sua ligação à Lagoa.
Santos Simões baseia-se para afirmar que são de
fabrico local em dois pontos, ambos ténues. Primeiro, por serem de fabrico
rude. Segundo, por existir uma fabrica local
que começara a laborar em 1862. Haverá uma terceira razão, quiçá,
plausível. Seria, tal como dissemos para os relevados, mais lógico e talvez mais económico,
mandá-los vir de Lagoa. Todavia, conclusões definitivas e irrefutáveis só
perante a existência de provas. Adianto tão-só hipóteses. Parece-me ser sustentável duvidar que todos os azulejos
do interior tenham vindo em 1874. Desconhecendo-se a campanha de obras daquela
casa, até provas em contrário, sabendo-se que aquele tipo de azulejo perdurou
para além de 1874, será mais fácil
defender que fossem fruto de várias encomendas.
Técnica da
estampilha
Esta técnica, « consistia em aplicar sobre o azulejo
já coberto pelo vidrado branco, uma estampilha, ou seja um escantilhão em papel
encerado com os recortes correspondentes aos desenhos, sobre o qual se passava
uma trincha com a cor pretendida. Para cada azulejo eram necessárias tantas
estampilhas quanto o número de cores.»[58]
Fábricas nos Açores
existentes no período do azulejamento da nossa casa
Referindo-se à louça branca na ilha de São Miguel,
Cândido Abranches refere que : «perto d’ella [Ponta Delgada] ha outra, de louça branca
ordinaria, conhecida aqui pelo nome de louça do Porto, que funcciona desde
1851, empregando cada anno, termo medio, quarenta carros de barro branco
importado de Inglaterra e Portugal, quatrocentos Kilos de chumbo, dez de esmalte,
dez de fezes d’ouro, cincoenta de estanho, e dez de antimonio.
A louça que sae déste estabelecimento, é toda
consumida n’esta ilha como a que é manipulada em outra que existe na villa da
Lagoa, e muita que do reino se importa. Já em 1823 se tinha tentado estabelecer
uma igual fabrica nésta cidade, mas curta foi a sua duração por não dar lucros
a seu proprietario.»[59]
Para
especificar melhor as fábricas de Lagoa recorremos a Carreiro da Costa que, por
seu turno, recorreu a José Queiroz. Assim a primeira fábrica de Lagoa « foi
fundada no ano de 1862», acrescentando que foram seus fundadores:« Bernardino
da Silva e Manuel Leite Pereira, ambos naturais de Vila Nova de Gaia, Tomaz
d’Avila Boim, da Ilha do Pico, e Manuel Joaquim d’Amaral, da Vila da Povoação.»
A segunda, « fundou-a Manuel Leite Pereira, desligado da sociedade anterior, no
ano de 1872.» E uma terceira « fundada no ano de 1885, por João Leite Pereira,
irmão do referido Manuel Leite Pereira.»[60]
Segundo Santos Simões, citando José Queiroz, houve «ainda a Progresso Angrense,
de Angra do Heroísmo, fundada por Jacinto Martins Cardoso e Zeferino Augusto da
Costa(1886).» [61]
Fábricas na
Lagoa: Porquê
Em 1850, com a Regeneração, veio a acalmia.
Começava-se a respirar estabilidade no país e na Região Inicia-se em 1851. Doze
anos volvidos, em 1862, com a fundação da primeira fábrica de cerâmica, ou
engenho, na orla marítima da vila de Lagoa, opera-se a viragem fundamental na
cerâmica islenha. Ao que parece, o fabrico cerâmico nas ilhas transforma-se
qualitativa e quantitativamente.
O dono da fabrica já seria, ou
transformar-se-ia, a partir de então, em
capitalista artesão, próximo do modelo do empresário moderno.[62]
Introduzem-se
duas técnicas semi-industriais: a estampagem manual e o molde. Presumivelmente
pretendia-se estabelecer mercados na ilha, nas ilhas e fora das ilhas,
incluindo o Brasil. A escolha estratégica do local da primeira fábrica, ou
engenho, junto ao porto dos Carneiros por um lado, por outro, a participação
sistemática em certames nacionais da especialidade apontam neste sentido.
Era um local de fácil acesso aos barros
da vizinha ilha de Santa Maria e da
Ribeira Grande, bem como ao escoamento quer por terra quer por mar dos seus
produtos. Situava-se dentro do triângulo mais populoso da ilha.
Produziram-se produtos, desde logo, que
a julgar pelos prémios obtidos nos certames nacionais, atendendo ao nível dos
seus participantes, Cerâmica das Caldas Devesas etc. , de muita qualidade.
Por todo o país, a partir da
Regeneração reactivaram-se ou construíram-se fábricas de cerâmica com o duplo
objectivo de conquistar os mercados nacional e brasileiro.
É
no norte do País, no Porto e em Gaia, terra da naturalidade de dois do sócios,
que se sente mais esta mudança.[63]
Existindo as tradicionais ligações
Açores Brasil, ficando os Açores situados num ponto de escala obrigatório para
a navegação, talvez os ditos sócios pretendessem a partir da ilha mais
populosa, conquistar parte do imenso e rico mercado brasileiro. Além do mais,
existem outros indícios, ainda que ténues.
Na década de sessenta, quando Santos Simões esteve na ilha de São Miguel,
referiu que a casa n.º 14 das Alminhas na Lagoa exibia azulejos inexistentes no
continente mas que os encontrara em S. Luís do Maranhão. Não sendo brasileiros
porque o Brasil não os produzia na altura teriam de ser lagoenses. Não
necessariamente, pois tal argumento não exclui o seu fabrico no Porto, tanto
num como em outro caso.
Manuel Leite Pereira, seu proprietário,
era casado com uma senhora dos Sousa Adão, da ilha Terceira, gente rica ligada
ao Brasil.
Com o início de uma carreira regular
inter- ilhas pela companhia Insulana de Vasco Bensaúde (segundo Maria Isabel João em trabalho recente ) tornava-se
mais fácil a penetração no mercado das outras ilhas.
A Terceira exibirá, segundo santos
Simões, várias fachadas atribuídas às fábricas da Lagoa.
A iniciativa de montagem de uma fábrica
de cerâmica na Lagoa deve ter sido um sucesso, já que em 1872, Manuel Leite
Pereira monta-se por conta própria, desligando-se da anterior sociedade, e em
1885 João Leite Pereira irmão daquele último, monta uma outra de efémera
duração na antiga rua de São Sebastião hoje Poças Falcão.
Das três iniciais, duas sobreviveram
até à década de setenta deste século, tendo a Leite / Lima sido adquirida pelo
proprietário da Silva / Vieira.
Quando começam
a fabricar azulejos
O investigador Carreiro da Costa, natural de Lagoa,
de modo vago, refere em 1941 que « os azulejos executam-se na Lagoa há muito
tempo, pelo menos desde que os engenhos começaram a trabalhar.» Continuando,
adianta que os primeiros teriam sido os « estampados que ainda hoje cobrem os
fachadas de algumas casas, nomeadamente as dos antigos proprietários dos
engenhos.» Distingue, porém, estes dos que designa por artísticos, sem explicar
a diferença, nem adiantar datas: «foram, ao que parece imperfeitas cópias dos
azulejos do século XVII existentes na antiga Igreja do Colégio, de Ponta
Delgada, cujos motivos, como flores, barcos, caçadores, coelhos, pássaros,
etc., reflectem a sua intenção caricatural.»[64] As informações que, até ao momento,
compilamos, não nos permitem precisar a data do seu início. Todavia, antes
mesmo de encetar uma pesquisa sistemática urgente, podem-se adiantar, como
hipóteses de trrabalho, indícios.
Em 1881, ao que parece e a fazer fé na
placa datada, Bernardino Silva, um dos sócios fundadores, azulejou a sua casa
na rua da Fábrica do Alcool n.º 65.
A casa na rua das Alminhas nº14, de
Manuel Leite Pereira, como vimos, segundo registou Santos Simões, «passa por
ter sido azulejada em 1872.»[65]
Parece-nos crível adiantar que os
proprietários dos engenhos, querendo dar, por um lado o exemplo, e, por outro
publicitar as virtualidades e aplicações dos seus produtos, fizeram das suas
casas uma montra e um chamariz para os potenciais consumidores das ilhas.
Em 1874, provavelmente na Ribeira
Grande, em 77, em Ponta Delgada. Ainda na década de setenta plausivelmente em
alguns dos edifícios azulejados da cidade de Angra do Heroísmo. Teria a
produção azulejar lagoense arrancado na década de setenta ? E em qual das duas
fábricas então existentes ? [66]
Em finais do século passado, inícios do actual, de certeza, com a
obrigatoriedade do uso de números de policia, bem como com a utilização de
placas toponímicas, os engenhos de Lagoa, abastecem a Ribeira Grande.
No Porto à
volta do mesmo período
Aconselhamos a leitura do Catálogo ‘Azulejos no
Porto ,’ a entrada de José Manuel Lopes Cordeiro, não obstante, a fim de
ficarmos com uma ideia mais clara, julgamos por bem extrair o seguinte.« Uma
grande parte das fábricas de cerâmica estabelecidas no centro portuense… - que,
em meados de Oitocentos, se vão lançar na produção de azulejos semi-industriais
de fachada, tinham sido fundadas ao longo
do século XVIII, e limitavam-se inicialmente apenas a quatro unidades, as quais
passarão a três em 1852… Este número vê-se acrescido de cinco novas unidades,
fundadas no século XIX: a Fábrica do Carvalhinho (1840), no Porto, a Fábrica da
Fervença (1824), da Torrinha (1844), do Senhor de Além (1856) e das Devesas
(1865), em Vila Nova de Gaia.»[67]
Os azulejos de
fachada e a segunda metade do século XIX
Porquê a moda de azulejar as fachadas? Antes do
século XIX conhecem-se dois exemplos na ilha de São Miguel de fachadas
azulejadas viradas para a rua, existe o caso dos jardins do Palácio Fronteira,
virados para o interior do palácio e pequenos registos exteriores de santos.
No século XIX, opera-se uma mudança social que se
reflecte no consumo de azulejos. José Meco sintetiza: «A primeira metade do
século foi marcada por profundas convulsões e transformações sociais,
culminando na implantação do regime constitucional em 1834 e na ascensão da
burguesia liberal, que ultrapassou a aristocracia e o clero, as forças sociais
que antes usavam o azulejo, com fins sumptuários e de demarcação social.» [68]
Mas o fabrico industrial « em série tornou os azulejos mais baratos e
acessíveis, fazendo com que estes materiais conhecessem uma grande difusão,
tornando-se muito populares. As suas características peculiares, nomeadamente o
facto de permitirem a obtenção de superfícies higiénicas e impermeáveis, de
fácil limpeza e manutenção, sendo igualmente bons isolantes em virtude de
reflectirem a luz solar com facilidade, contribuíram para que fossem dos
materiais de construção então mais utilizados, acompanhando o surto construtivo
que na época também se fazia sentir.»[69]
Ilações
Não sabemos exactamente onde foram feitos. Sabemos
como foram feitos e os materiais empregues. A data do seu azulejamento coincide
com a época de muitos outros que ocorreram não só nos Açores como nos
Continentes português e brasileiro. Insere-se no novo gosto burguês.
Este edifício atrai logo o olhar. Tal deve-se não só
ao facto de ser o único azulejado ali por perto, mas também ao equilíbrio
volumétrico que transmite assim como ao entendimento que resulta do diálogo
encetado entre o azulejo e a estrutura arquitectónica.
É um
exemplar bem conseguido do bom aproveitamento das potencialidades do azulejo
nacional de exterior e de interior da 2ª metade do século XIX.
Criteriosamente
aplicados, espalhavam-se pelo interior e pelo exterior do edifício. Até há uma
década atrás, seria possível apreciar inseridos no contexto arquitectónico,
seis modelos e duas ligeiras variantes de azulejaria oitocentista, um dos
quais, o da fachada, considerado único,[70]
outro, o da antiga cozinha, ou quiçá da balcão, conhecido, mas muito raro.[71]
Lamentavelmente,
o anterior proprietário, ao reorganizar o espaço interior, permitiu que os
arrancassem. Recentemente o museu local conseguiu expor exemplares de cada um
dos modelos retirados.[72]
Na
fachada, virada para a rua principal da cidade, a escassos metros da igreja
paroquial, encontram-se, razoavelmente conservados, quatro exemplares.[73]
Sem
quaisquer provas, a não ser os próprios azulejos, limitado à observação do
padrão colocado, sem poder examinar o tardoz, ou analisar a pasta e o vidrado, [74]desconhecendo
documentos de encomenda, os azulejos da casa da rua Direita tanto poderão ser
originários de Lagoa, do Porto, ou de
outro qualquer local. No Porto e no
Brasil, tanto quanto se sabe, não se conhece o modelo patente nas fotografias 2
e 3. Haveria, além do mais, que fazer um levantamento exaustivo dos padrões
oitocentistas de fachada, bem como estudar os catálogos das fábricas. Ao certo,
sabe-se que os fundadores das fábricas da Lagoa vieram da área do Porto. Ao
certo, conhecem-se alguns milhares de padrões,
e reconhece-se o modo como a
Lagoa e as demais fábricas do país os copiavam umas das outras. Mesmo a análise
das pastas poderá não ser um método seguro, já que tanto as fábricas do norte
como as do centro, sul e ilhas, tanto quanto se sabe, recorriam a pastas e a vidrados
muito semelhantes.[75]
Talvez só o consigamos através do estudo comparativo das marcas distintivas no tardoz das diversas
fábricas,[76] da
arqueologia industrial, da análise mais
detalhada da composição dos vidrados, ou ainda através da documentação
referente à casa ou à fábrica que os produziu.
Até ao momento não encontrámos nada referente a encomendas para a casa das “Meninas Jordoas”.
Antes
de entrarmos no n.º 84 e franquearmos a formosa cancela que separa o bulício
exterior da calma interior, admiremos as duas belas estatuetas cerâmicas
alusivas ao comércio (?) e à industria, colocadas nos ângulos superiores do
edifício.[77]
O
pequeno saguão abre-se. Envolve-o um silhar de azulejos estampados manualmente
subindo a escada de pedra, encurvando-se pela direita e abrindo-se, pela
esquerda, numa pequena balaustrada de acácia e de corrimão de pinho resinoso. [78]
Uma
luz doce e branda introduz-se por um lanternim rasgado no telhado.
A
‘casa de tijolo’ da Ribeira Grande, seja pela variante de modelos que alberga e
albergou seja, como já foi referido, pelo diálogo que propõe entre estes e o
edifício, constituía e constitui um precioso mostruário da produção e da
aplicação azulejar oitocentista.
Cumpre
tanto o objectivo funcional de protecção das alvenarias e de embaratecimento da
sua manutenção como atinge o objectivo estético-estrutural ao aliar-se, tal
como sempre o fez na azulejaria portuguesa à reedificarão dialogante dos
espaços e dos vãos arquitectónicos.
O
azulejo permite quebrar a hegemonia das linhas verticais e horizontais próprias
da estrutura arquitectónica ao introduzir linhas e ritmos divergentes, regra
geral oblíquos.
No
caso dos relevados da fachada principal, oferece-se ao espectador atento,
incessantes jogos de luz e sombra, subtis infinitudes cromáticas,
desmultiplicações do espaço, agora perpetuamente agitado.
É como
se a parede, estática por natureza, se movimentasse tal como o desejava
Barromini, nos tempos áureos do barroco romano. Se tornasse espelho
interventor, sisudo às vezes, lúdico sempre, do ambiente envolvente.
Nestas
fachadas, os arquitectos são as formas e a luz.
Esta
casa integra-se perfeita e exemplarmente no surto azulejar português que se
seguiu à Regeneração política liberal de 1850. Atesta, simultaneamente uma
continuação com a sua herança matricial, de quinhentos a novecentos, ao mesmo
tempo que se abre, tal como sempre se abriu, às sugestões, aos gostos e às
técnicas de então sopradas dos quatro cantos do planeta.
Mário Fernando
Oliveira Moura
Ribeira Grande
11 de Junho de 1998
[1] Não existem provas
concludentes.
[2]APCRG, Róis quaresmais da Conceição, Ribeira
Grande: 1876, 1878, 1879, 1891 = Proprietário; 1880, 1881, 1883, 1884, 1885,
1889, 1890= Capitalista. Em 1895, sua filha, D.Maria da Glória= Proprietária.
[3] Testemunho de Edmundo
Pacheco, 30 de Maio de 1998
[4] Simões, João Manuel dos
Santos, Azulejaria Portuguesa nos Açores e na Madeira, Gulbenkian,
Lisboa, 1963, p. 22
[5] Vide foto 3
[6] Vide foto 4
[7] Vide foto 2
[8] Vide foto 2
[9] Vide foto 6
[10] Quais? Vide fotos 7, 8
e 9
[11] Simões, Azulejaria Portuguesa nos Açores e na
Madeira, 1963, p. 127-128
[12] Vide foto 5
[13] APCRG, Róis quaresmais da Conceição, Ribeira
Grande: nos de 1872 e 1873 não consta a
família Jordão a morar na freguesia. Não encontramos os de 1874 e 75, no de 1876 já lá aparece a família
Jordão. Portanto, plausivelmente algo se passou entre as quaresmas
de 1873 e a de 1876.
[14] Ou então da altura em que o
local da Fonte Grande estava a ser remodelado: início do século XX; ou ainda da
época da construção do Teatro; ou simplesmente de outra altura que
desconhecemos. O que sobrou do azulejamento pode ter sido arrumado, como ainda
se faz hoje. Os fragmentos podem ter lá ido parar logo após a construção: vemos
na fachada muitos azulejos cortados para encaixarem. Também poderão Ter ido
numa fase posterior: dos que se partiram entre os de reserva. A ligação, sem
provas concludentes, será sempre circunstancial.
[15] Destes, só o CC2-98,
apresenta vestígios de ter sido colocado. Serão amostras? Actuais? Coevas do
azulejamento?
[16] É louvável os esforços que estão a ser
envidados pela dupla Isabel Almasqué, Barros Veloso, para Lisboa, e o que o
município portuense está a afazer para aquela área. Dora Alcântara estará a
fazer outro tanto para o Brasil. Esperamos pelos resultados.
[17] Catálogo Azulejos no
Porto , CMP, 1996, [ s.p]
[18] Talvez para
apurar se os CC3 a 5 são coevos?
[19] Meco, José, O azulejo em
Portugal , Alfa, Lisboa, 1989, p.242
[20] Idem
[21] Catálogo Azulejos no
Porto , CMP, 1996
[22] Em 1998 descobri no registo de baptismo dos filhos: « Dona
Antónia d’Utra Jordão, natural e recebidos [?]
na freguezia de São José da cidade do Rio de janeiro.» BPAPD, Nascimentos
, Conceição, Ribeira Grande, 1873, fl.38
[23] A data pode referir-se
tão-só ao seu azulejamento.
ARFRG , Matriz Predial Rústica
Freguesia da Conceição, Ribeira Grande, n.º153
« Rua Direita- Conceição - João Vieira Jordão [riscado];
1899 - D. Maria da Glória Dutra Jordão e irmão. 1905- 1904 - Lydia Dutra Jordão
e irmão ; Izabel Maria Dutra Jordão.»
[24] SDUA, Correspondência
recebida [José do Canto] , Ribeira Grande, 5 de Março de 1880, n.º829-C
[25]“O Noticiarista”, Ribeira
Grande, 3 de Agosto de 1887; No AMMRG, Livro de Registos- Matriz , fl. 413 v.
está registado que:
na « Calçada da Polvora - Lydia Dutra Jordão e irmãs - Conceição / Prédio que consta de terra de cultivo, estufas e casa que confronta: a norte Aleida
Dutra Jordão, sul caminho, nascente… » Pode não ser o prédio referido em
1887, tanto mais que não sei a data deste registo predial, todavia,
tal como aquele, este fica no Rosário. Fica-se a saber, porém, que em um momento posterior ao falecimento do
pai, e1893, que as irmãs Dutra Jordão possuíam propriedades na Calçada da
Pólvora. Será o Rosário?
[26] SDUA, Correspondência
recebida [José do Canto] , Ribeira Grande, 22 de Fevereiro de 1883, n.º731 -C
[27]‘Estrella Oriental’, Ribeira
Grande, 26 de Maio de 1893
[28] BPAPD, Óbitos, Conceição,
R.Grande , 1893, fls 9 e v.
[29] BPAPD, Nascimentos, Conceição, R.Grande , 1884, fls. 20
[30] Estão em falta os anos de
1886-1888, pelo que se pode deduzir que
tenha falecido entre a Quaresma de 1885 e a de 1889.
[31] Testemunho identificado, Junho de 1998
[32] Os anos que os róis adiantam
não podem estar certos: se D. Maria da Glória em 1903 tivesse trinta e nove
‘dificilmente’ teria filhos depois dos quarenta anos, dada a menopausa, como teve. Portanto, as idades constantes dos
róis não são rigorosas.
[33] BPAPD, Nascimentos , Conceição, Ribeira Grande, 1884, fl. 20
[34] Será a data do casamento ou de averbamento posterior?
[35] APMRG, Óbitos , Matriz, Ribeira Grande, n.º7, fl.18v
[36] Testemunho de Natália Raposo
Moura, 3 de Junho de 1998. Penso que confunde a D.Beatriz com a irmã e os
sobrinhos. A memória das crianças prega partidas?
[37] Testemunho identificado, Junho de 1998
[38] Testemunho de Maria do Carmo
Cordeiro, 76 anos, 30 de Maio de 1998
[39] Cf. Livro de Registo de
Sepulturas do Cemitério de Nossa Senhora Da Estrela, Beatriz Noémia Dutra Jordão, 28 de Junho de
1980, sepultando-se no dia seguinte no
cemitério de Nossa Senhora da Estrela,
freguesia da Matriz da Ribeira Grande,
no quartel n.º 4, jazida n.º 31.
[40] Testemunho devidamente
identificado, 1998
[41] O proprietário do
‘Noticiarista’ vendia vinho na sua casa.
[42] Testemunho de Edmundo
Pacheco, 30 de Maio de 1998
[43] Testemunho de Dinarte
Miranda, 28 de Maio de 1998
[44] As variações coexistem nos
mesmos padrões.
[45] Meco, José, O azulejo em
Portugal, Alfa, Lisboa, 1989, p.79
[46] Vide foto 2
[47] Vide foto. 3
[48] Vide também desenhos 2-4 de
fragmentos
[49] Vide foto. 4
[50] É também desta opinião José Meco
[51] O Norte, Ribeira Grande, 1
de Fevereiro de 1896: A camara vae collocar lettreiros em todas as ruas da
villa. Este melhoramento ha tanto tempo começado só agora, segundo se diz, irá
ao fim. Também nos prédios se vão collocar numeros de policia.» Mas só,
segundo ‘O Norte de 27 de Outubro de 1900: « As chapas de azulejo são
fornecidas pela camara [números de polícia]
»
[52] Seria de tentar ver se há
algo no arquivo da fábrica de Lagoa.
[53] Vide foto. 1 e 5 e
compare-se com 9. Este último esteve colocado no interior e parece de execução
inferior.
[54] Vide foto. 8
[55] vide foto. 9
[56] Vide foto 7. Temos outro no
Museu da Ribeira Grande. Foram feitos com azulejos encontrados em cestos em
lojas da dita casa.Surge um exemplar com o mesmo motivo em Azulejaria de
exterior em Portugal, A.j. Barros Veloso, Isabel Almasqué, Inapa, Lisboa,
1991, p. 70, 74-75 - cronograma de 1870- ; p.76 - cronograma de 1863, ou na
página 72.
[57] Simões, op. Cit. , p.
128
[58] A.J. Barros Veloso, Op cit , p.67
[59] Abranches, Joaquim Cândido, Album Michaelense , Ponta Delgada, 1869,
p.40
[60] Costa, Francisco Carreiro
da, Cerâmica da Lagoa , in ‘Açoreana’,
Angra do Heroísmo, 1941, p. 3-4
[61] Simões, JM dos Santos, Azulejaria
nos Açores e na Madeira, p. 22
[62] Hipótese de trabalho a
verificar.
[63] Há pouco começou-se as
estudar o papel de Aveiro.
[64] Costa,
Francisco Carreiro da, Op. Cit ,
1941, p. 8
[65] Simões, J.M. dos Santos, Azulejaria
Portuguesa nos Açores e na Madeira , 1963,
p. 82
[66] Tudo isso carece, quanto a
mim, de um estudado mais sistemático, que envolva a produção nacional.
[67] Catálogo Azulejos no
Porto , CMP, 1996, [ s.p]
[68] Meco, José, O Azulejo em
Portugal , Alfa, Lisboa, 1989, p. 242
[69] Catálogo Azulejos no
Porto , CMP, 1996
[70] Vide foto. 3
[71] Vide foto. 7
[72] Vide foto. 7-9
[73] Vide foto. 1
[74] Pode ser feito.
[75] Haveria aqui que avançar na
análise exaustiva.
[76] Terão todas elas utilizado
marcas? Não vislumbro marcas nos fragmentos recolhidos.
[77] Vide foto. 11
[78] Vide foto. 6. Temos um
painel no Museu da Ribeira Grande.
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