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Azulejos seiscentistas da Ribeira Grande

 

 

I

Capítulo

 

Neste capítulo abordaremos a complexa mas aliciante problemática do azulejo seiscentista português de padronagem polícromo a fim de tentarmos compreender os azulejos seiscentistas que recolhemos e sugerimos o seu mais correcto e fidedigno restauro, preservação e exposição museológica.

         Tentaremos, tanto quanto nos for possível, esboçar um panorâmica sucinta daquela problemática, recorrendo, essencialmente a trabalhos especializados sobre a matéria.

         Fundamentalmente “O azulejo é uma peça cerâmica de faiança vulgar, constituído por uma placa geralmente quadrada de barro cozido e, vidrado na face nobre. Esta face vidrada é o suporte da cor, do desenho ou do símbolo ornamental.[1]

         Os azulejos seiscentistas que recolhemos sendo lisos e padronados utilizam, basicamente, o azul e o amarelo sobre um fundo branco esmaltado obtido através do uso extensivo dos óxidos metálicos sobre base estanífera e pela acção do fogo.[2]

         É importante que se saiba que “ O azulejo, tal qual o conhecemos, placa de barro esmaltada a fogo, só nos aparece na Pérsia, por volta do séc.VIII, numa Pérsia islamizada e sob o domínio mongol.”[3]

         Desde então e, até ao século XVII o azulejo dissemina-se por outras áreas geográficas, sobretudo graças aos muçulmanos, e vai sofrendo, pequenas e grandes modificações, derivando a azulejaria portuguesa que se fixa e desenvolve durante todo aquele século das técnicas e dos modelos, segundo Santos Simões, hispano-flamengos, adquirindo, quer pela sua monumentalidade, quer pelos particularismos da sua escolha ornamental, e, finalmente, pelo seu papel de complementaridade arquitectónica, um cunho e uma feição “sui generis”.[4]

         Apesar do azulejo ser de origem não-árabe, todavia, o vocábulo azulejo, etimologicamente, deriva do árabe ”al zulej “ que significa ( literalmente ) pequena pedra lisa e polida. Imagem ligada de certo modo à da pedra semi-preciosa, de intensa cor azul e remota procedência mesopotâmica, que os gregos e romanos conheciam por “ lápis-lazuli ”[5]

         E, para avaliarmos a importância do azulejo português, Transcrevamos a afirmação de Rafael Calado, aliás idêntica à de José Meco e à de Santos Simões, segundo a qual “Portugal, pode hoje ser considerado o país do azulejo, não só pela quantidade de exemplares que possui e da divulgação que lhe deu, mas sobretudo, pela singular importância que lhe soube atribuir ao longo dos séculos”[6]

         Os azulejos seiscentistas em Portugal foram utilizados “Para revestir as vastas superfícies parietais dos templos e, menos frequentemente, de algumas casas nobres, ...”[7],cobrindo-as com.”... grandes ou pequenos “ tapetes “ cerâmicos obtidos pela multiplicação de um motivo ornamental básico a que  chamamos padrão.”[8]

         Estes “tapetes” de azulejos derivam da “...hábil imitação dos motivos da tapeçaria oriental, [e]substituem as principais tapeçarias, se não no conforto, pelo menos no efeito e no papel de estabilizador das temperaturas e humidade e ambientes com a vantagem de ser em material mais barato e mais durável, e , na altura, já fabricado localmente.”[9]

         Os primeiros padrões policromos seiscentistas fabricados em Portugal, simplesmente “... copiam ou inspiram-se nos que constituíam o repertório semi-industrial das alferarias sevilhanas e talaveranas, mas, em breve, os azulejeiros portugueses adoptam modelos novos e , antes do meado do século XVII, encontra-se totalmente renovado o velho sortimento de desenhos, alguns dos quais se vão manter durante o resto da centúria. “[10]

         José Meco, porém, opina que só se mantém “...até próximo do quarto quartel do século XVII, com os ornatos um pouco aligeirados ou com o seu contorno acentuado através de um fino traço negro, realizado a manganês ”[11] e, continuando na sua diferenciação, ainda que subtil, acrescenta :

         “ Os ornatos dos padrões da segunda metade do século são mais dinâmicos e frágeis, como algumas das composições chamadas de “ camélia”( ou dália),...[12]

         Em todo o caso o século XVII produziu e criou “...algumas centenas de padrões, com inúmeras cercaduras, barras, frisos, cantoneiras e outros acessórios, na sua grande maioria catalogados por Santos Simões e Emílio Guerra de Oliveira...”[13]

         Todavia, as transformações operadas nos azulejos padronados seiscentistas (deixamos, propositadamente, outros que concomitantemente se iam fabricando ) caracterizaram-se, fundamentalmente, “... pela longa manutenção de fórmulas e processos decorativos e pela contenção das soluções inovadoras “[14], seja mercê do isolamento do nosso país, seja pelas suas condicionantes sócio-económico-culturais,  seja, ainda, pelo cunho acentuadamente conservador da igreja católica.[15]

         Antes de abordarmos aspectos, porventura, mais descritivos, no que concerne a definição dos padrões e seus acessórios, debrucemo-nos na definição das suas características essenciais, tal como as definiu e delineou José Meco.

         Primeiro do que tudo, destacam-se os inconfundíveis e originais revestimentos monumentais de tapetes cerâmicos, “... marca mais característica do azulejo seiscentista ...”[16]

         Depois, assiste-se, no século XVII, convém relembrar, à “... substituição total dos azulejos lisos (brancos e de cor ) , dos enxequetados, por azulejos com ornatos pintados, mantendo-se, porém, os esquemas e a posição típica do caixilho, que conduziu ao monumental padrão de 12X12 azulejos (usado no primeiro terço do século XVII. “[17]

         Em terceiro lugar, verifica-se o predomínio da posição dita normal, ao invés da oblíqua”..., embora os ritmos diagonais desenvolvidos nos revestimentos enxequetados tenham sido incorporados nos novos padrões e assumidos pelos ornatos pintados, que mantiveram a dinâmica das linhas oblíquas ao longo das paredes  que revestem.”[18]

         Igualmente à margem das composições enxequetadas, os azulejos seiscentistas de padrão, causam “[um]A sensação de escala obtida através da divisão em andares...”[19]

         Os diferentes andares foram revestidos com padrões “... geralmente  os de 2x2, 4x4 ou 6x6 azulejos, estando os ornatos organizados em função do número de azulejos abrangidos, funcionando como um contraposto harmónico à rítmica imposta pelas retículas que separam os azulejos. “[20], e, especifica que “ Os módulos menores eram geralmente colocados a revestir os espaços mais reduzidos ou na parte inferior das paredes, ao passo que os de módulo maior eram utilizados nos andares superiores dos espaços de maiores dimensões, como as naves das igrejas ,...”[21] e isto “para que a sua dimensão superior compensasse a diminuição provocada pela distância a que se encontram do espectador “.[22]

         Convém ainda saber que os ornatos estão colocados em interligação contínua.[23] Assim, “Apesar de organizados em função da ordenação diagonal, os ornatos irradiam rotativamente do centro e dos cantos do padrão, criando uma malha ornamental cerrada sobre a superfície revestida.”[24]

         Porém, conhecem-se algumas excepções, designadamente, em alguns padrões de módulo rectangular ou ainda em outros inspirados em tecidos que fogem à organização habitual acima referida, pois formam faixas verticais.[25]

         Se, em termos de azulejaria “... do século XVII estão quase ausentes as grandes inovações e a sua evolução foi lenta, as obras realizadas e o tipo de ornamentação revelaram um fortíssimo carácter e exprimem um encanto que é acentuado pela ingenuidade do gosto e a fantasia das soluções.“[26], porém, “Nada conservam do requinte estético, erudição da temática e dos ornatos e o preciosismo técnico do século anterior.“[27]

         Trata-se de “...obras oficinais, produzidas em larguíssima escala na cidade de Lisboa ( de onde se difundiram a todo o país e às colónias ), realizadas por artífices de formação empírica, trabalhando em regime não especializado e artesanal...”[28]

         E, classificando as complexas transformações operadas na azulejaria seiscentista, José Meco opina que “... só [insista-se no só] formalmente se mantiveram fiéis aos modelos e fórmulas maneiristas, esvaziando o seu formalismo através da irreverência e da dissolução formal, características do sentimento decorativo e anti-clássico que progressivamente se foi acentuando, até atingir culminâncias dramáticas de expressão barroca na transição para o século XVIII.”[29]

         A maneira como se utilizou em Portugal o azulejo, quer seiscentistas quer posterior, massiva, exacerbada e transfiguradoramente ”... pode ser considerada, em toda a Europa, como tendo constituído um fenómeno acentuadamente português, de onde se ramificou a áreas de influência portuguesa, nomeadamente às Ilhas Atlânticas e ao Brasil, porque, em nenhum outro país do continente, o azulejo teve um tratamento tão adaptado aos condicionalismos económicos, sociais e culturais específicos, e foi utilizado de maneira tão complexa e dilatada, com fins que ultrapassam um papel meramente decorativo, e num período de tempo que abrange cerca de cinco  séculos.”[30]

         Atribui, José Meco, esta peculiaridade do nosso azulejo, a “...factores de natureza estético - funcional - económica e por condições específicas de Portugal e da sua implantação geográfica, não esquecendo questões de mentalidade e de gosto igualmente determinantes.”[31]

         Por um lado, Portugal sempre foi “...carente em termos de industrialização e de produção dos bens de consumo necessários “[32] e , dependia largamente”... da precariedade e flutuações do comércio marítimo “[33], daí que , “...os recursos limitados de Portugal[implicassem]uma economia sempre deficitária e [limitassem]a tendência constante para a euforia sumptuária...”[34].Por outro lado, é um país”... onde o barro e os materiais cerâmicos abundam e se alicerçam em tradições seculares, nomeadamente a fecunda herança da presença muçulmana...[35]. Acresce ainda o facto “...[d] o modesto custo do azulejo e a facilidade da sua preparação artesanal ( em moldes oficinais ) [ compensar ] admiravelmente essas carências e necessidades pelas espantosas potencialidades ornamentais que [ apresenta ]e pela dinamização, cor e espectáculo visual que [ empresta ] à arquitectura “[36]

         Para além do mais, “O azulejo constituiu um complemento perfeito da arquitectura portuguesa mais tradicional, resultante da situação geográfica de Portugal numa região de influência mediterrânica e nas proximidades do Norte de África ...”[37]

         Naquela região “... predominam a volumetria compacta, a redução das aberturas e a utilização de materiais leves ou de pedra não aparelhada no enchimento dos parâmetros “[38] sendo determinantes “... os factores climatéricos contrastados (índices pluviométricos irregulares, verões quentes, influências continentais nas temperaturas baixas ) para a espessura e robustez das paredes e de outros elementos.”[39]

         Aqui, o azulejo, tal como já foi referido, funciona como “... estabilizador das temperaturas e humidade ambientes com a vantagem de ser material barato e mais durável,...”[40]

         O ambiente sócio - económico - político envolvente da azulejaria seiscentista, ou seja, a difícil fase do domínio filipino e o período de luta com Espanha, traduziu-se, “grosso modo2, em isolamento e carências de toda a sociedade portuguesa.[41]

         O “...,corte no consumo sumptuário devido à ausência da corte, [a]pulverização e [o] depauperamento da nobreza, e [a]crise geral que só nos finais do século foi atenuada com a actuação política do Conde de Ericeira “[42] ajuda a explicar, para o século XVII, a persistência e a “... manutenção de fórmulas e processos decorativos e [a contenção das soluções inovadoras][43]

         Esta persistência foi, tal como já disse, acentuada pelo carácter conservador da igreja católica, de longe o maior consumidor de azulejos.[44]

         Decorreu, concretamente, da situação sócio - económica - política, acima esboçada, uma situação de isolamento do nosso país ao exterior que “... favorecendo  as “obras de oficina”, em detrimento, das “obras de escala”...”traduziu-se na substituição dos mestres de formação mais erudita por artífices decoradores, de formação empírica.[ [45] Desconheço a sua localização ] [46]

         Todavia, e curiosamente, este aparente fecho ao exterior, e em torno de modelos já ultrapassados na época, permitiu a expansão da criatividade de acordo com padrões de gosto mais popularizados, mais informal, e contribui também, para a expansão de revestimentos cada vez de maiores dimensões e mais complexos, onde facilmente sobressai, nomeadamente, nos espaços religiosos, uma vincada e inconfundível personalidade. Aí o azulejo aliado à talha dourada às esculturas, às telas e à pintura ornamental dominam a arquitectura portuguesa.[47]

         Quanto às ilhas Atlânticas e, segundo Santos Simões, “...particularmente nas açorianas -, a ocupação espanhola, violentamente imposta, trouxe larga pausa ao seu desenvolvimento, é natural que tal contingência possa ter influído na escassez de azulejos, tidos na época filipina como o objecto supérfluo para as empobrecidas paróquias e famílias insulanas.“[48]

         Porém, e sem querer entrar em pormenores, aliás não directamente ligados ao assunto a que nos propusemos no início do capítulo, julgamos que, recentes trabalhos de investigação histórica sobre a economia do período filipino nos Açores, designadamente o de Alberto Vieira sobre o ciclo de cerealicultura, nos apontar o decréscimo da população cerealífera atribuída a causas independentes da política filipina.[49]

         Seja como for, e ao que parece, só “ A partir de 1640, - ,e muito particularmente no sexto e sétimo decénios [ tal como no continente português ], assistimos ao rejuvenescimento dos conventos e igrejas as ilhas a beneficiam finalmente daquela lealdade e constância com que se notabilizaram sempre na história portuguesa .”[50]

         E, prosseguindo, acrescenta Santos Simões que, “ São deste período  alguns famosos revestimentos azulejares designadamente os da nave da igreja de Santa Clara do Funchal ... - ou de Santo André, de Vila Franca do Campo,...” [51]

         É, por conseguinte, pelas razões acima expendidas que Santos Simões explica a escassez, entre 1580 - 1640, das espécies azulejíisticas nas ilhas Atlânticas, exemplificativas da génese da azulejaria polícroma do século XVII, ao invés, porém, encontrou inúmeros exemplares que atribuiu à segunda metade daquele século.[52]

         Algumas definições necessárias acerca da terminologia utilizada por Santos Simões para o azulejo padronado

         Referimo-nos, já, a vários aspectos do azulejo seiscentistas, nomeadamente, entre outros aspectos, do modo como eram utilizados, detenhamo-nos, agora, noutro aspecto, ou seja na explicação detalhada de alguma terminologia técnica a ele ligada.

         Santos Simões denomina o “... motivo ornamental básico “[53] de padrão e aos azulejos iguais do padrão uma unidade ornamental. A esta última unidade ele designa “... “ repetição “ e ao azulejo cujo desenho se repete, “elemento”.” [54] Tendo em conta aqueles pressupostos ele define “...os padrões pelo módulo “da repetição “exprimindo este pelo número de azulejos que o compõe: assim, por exemplo, um padrão de 4 azulejos iguais será de 2x2 (= 4) e, porque nele entra  apenas um elemento, indicaremos 2x2 /1, ou seja “repetição” de dois por dois azulejos a um elemento”[55]

         São deste tipo “Os padrões mais antigos ...”[56], que eram económicos e de fácil colocação, porém, seguiu-se-lhes, mais tarde, “...padrões de repetição mais complexas: 4x4 /2, 4x4 /3, 4x4 /4, 6x6 /8 até 12x12 /14 que é o maior que se conhece ! “[57] , segundo o mesmo autor, “ Para superfícies maiores ou para obter ritmos decorativos de mais largo desenvolvimento ...”[58]

         Limitavam sempre os tapetes”... bordaduras constituídas pela repetição linear de fracções rectangulares de azulejos - a que chamamos “ frisos”-, por um azulejo total - “cercadura “- ou ainda por 2 azulejos sobrepostos que denominamos ”barras”. Estes elementos acessórios dos tapetes tinham seus cantos próprios a fim de estabelecer a continuidade ornamental noa ângulos de ligação. “[59]

         Relembramo-nos que “A marca mais característica do azulejo seiscentista encontra-se nos gigantescos revestimentos repetitivos de padronagem, chamados “tapetes, devido à semelhança entre o resultado obtido e o forro com tecidos ornamentais ricos. É especialmente nos espaços internos das igrejas que os “tapetes” se dilatam com maior facilidade, revestindo as paredes desde o chão até ao tecto, envolvendo os arcos, cobrindo também vãos de portas e janelas, nichos, capelas, abóbadas e todas as superfícies desadornadas...”[60]

         Para organizar e orientar o núcleo seiscentista da secção azulejística da casa de Cultura da Ribeira Grande optamos por seguir à letra a classificação que Santos Simões faz dos padrões, ou seja, no nosso caso, 4x4 = P35, 6x6 = P37 etc..., ainda que o mesmo Santos Simões, noutros livros lhes dê outra numeração.[61]

 

Qualidade artística do azulejo.

 

Atribuímos a tudo o que vemos ou temos valor, e o azulejo não foge a esta regra, porém, José Meco, a propósito, adverte-nos que, “A” qualidade artística “ de um azulejo não pode ser questionada apenas como um problema de maior ou menor correcção ou qualidade pictorial,...”[62] já que ultrapassa “...largamente qualquer intenção de mera manifestação plástica,...[63]”.

         Isolar o azulejo “... do seu contexto estrutural global...”[64] é incorrer “[ n ] A parcialidade da análise...”[65] do mesmo azulejo.

         Esta falaciosa e incorrecta perspectivação, “... tem conduzido variadas vezes à sua depreciação ou a uma compreensão muito limitada e redutora da sua extraordinária riqueza, quanto à concepção ou ao papel que desempenha. “[66]

         Por estas razões esquece-se frequentemente que o azulejo “ Não é apenas (mais) um “ suporte de pintura “,...”[67] e que, “... não se limita a ser  uma inofensiva “ arte menor “, porque o seu papel é demasiado vasto e complexo e nunca o azulejo foi criado para estar dissecado em museus (onde só deverá entrar quando não for possível a sua preservação no local original ).”[68]

         É, concluindo adianta que, “ Muito menos ainda o azulejo poderá ser considerado ( juntamente com a talha dourada ) um sinal da inferioridade cultural de Portugal, em relação a uma Europa mais erudita e académica, constituindo, pelo contrário, a marca de personalidade, da vitalidade criativa e da diferença portuguesa...”[69]

 

         Onde eram fabricados os azulejos padronados seiscentistas portugueses ?

 

         A cidade de Lisboa foi o centro produtor, exportador e inovador,

por excelência, da azulejaria portuguesa, e, designadamente da seiscentista, a tal ponto que “ Se o azulejo é uma arte caracteristicamente portuguesa, é também uma arte predominantemente lisboeta.”[70]

         Ao proferir esta afirmação, José Meco, não só a fundamenta como igualmente delimita o local ou os locais precisos da área lisboeta. As olarias dedicadas ao fabrico do azulejo na área de Lisboa estavam “... situadas entre Santa Catarina, o Mocambo e a Rocha Conde de Óbidos, as do Castelo Picão ou as que deram o nome ao sitio das Olarias “[71] e isto”... porque a maior parte dos artistas de azulejos, até hoje identificados, tiveram a sua oficina em Lisboa ;...”[72]

         Todavia, sendo Lisboa o local predominante do fabrico e da exportação do azulejo seiscentista, outros locais do reino e , quiçá das ilhas, segundo alguns indícios, podem ter sido igualmente outros tantos locais de fabrico, senão para exportação, pelo menos para responder às necessidades de consumo local, designadamente a ilha de São Miguel.

         Santos Simões levanta esta hipótese ao mencionar o Dr.º Hugo Moreira o qual lhe teria assinalado “... a existência “ de azuladores” na ilha [ de São Miguel no inicio do século XVII]  ,entre os quais um Bartolomeu Fernandes “asulador” ...” [73]. Ainda que e “Se a terminologia era a mesma que se usava no Reino, tratar-se-ia de empreiteiros ou ladrilhadores e não necessariamente de fabricantes, os quais são geralmente denominados, oleiros de vidrado, oleiros de azulejo, malegueiros, pintores de azulejo...”[74]. Porém, e deixando em aberto a hipótese, conclui: “Seja como for, esta documentação [adiantada pelo Dr.º Hugo Moreira ] comprova que nos princípios do século XVII havia em Ponta Delgada pelo menos um “mestre azulejador” o que pressupõe a utilização de azulejos de certa escala [o que de certo modo contradiz, porventura, a sua escassez reconhecida anteriormente. Referir-se-ia aos de padrão?] ou  mesmo [repara-se] uma fabricação local [nosso sublinhado].”[75] e, corroborando os indícios arquivísticos-documentais acrescenta um exemplo:”... na capelinha da Grimaneza [Ponta Delgada ], por exemplo , há azulejos lisos cujas características se afastam das da azulejaria  continental.”[76]

 Em qualquer circunstância, porém, Lisboa ocupa um local preponderante, por várias razões, a  saber:

         Não só porque a maioria das “ fábricas” ou oficinas, tal como já foi dito, se situavam na área lisboeta, mas também porque “Lisboa  foi, de longe, o maior mercado consumidor de azulejos, e porque foi, finalmente, nas oficinas de Lisboa que se operaram as transformações  que, do azulejo hispano-mourisco de importação do Levante Espanhol e de Sevilha, e sob a influência das majólicas italianas e do azulejo holandês, exportado em quantidades em finais do século XVII, conduziram à produção local do azulejo português, no percurso de seiscentos e setecentos, com caracter próprio e inconfundível.” [77]

As transformações operadas nos azulejos e ocorridas em Lisboa são essenciais e caracterizam-se, essencialmente, pelo papel que o azulejo passa a desempenhar na arquitectura portuguesa.

         Em suma é nas oficinas lisboetas “... que o azulejo vai deixar de concorrer como simples elemento decorativo de aplicação indeterminada, para se transformar num complemento arquitectónico, preenchendo espaços, previamente determinados, criando perspectivas, realçando molduras e artesoadas, em comunhão estrutural íntima com aquela, de tal forma que não é possível abstrair qualquer palácio ou igreja seiscentista ou setecentista do seu complemento azulejar, como perde muito do seu sentido o revestimento de azulejo transformado em painel desligado do seu contexto arquitectónico...”[78]

        

Algumas linhas de força que se destacam do que foi atrás expendido.

 

         1-Que o azulejo não tendo origem em Portugal, todavia, pela extensão e integração arquitectónica, passou a ser considerado uma arte portuguesa, tão nobre como as demais e não menos digna do que as mais eruditas dos outros países do continente europeu, e, realce-se, predominantemente lisboeta. Pelo menos no que concerne ao período seiscentista.

         2-Que os azulejos de padronagem lisos e polícromos atingiram, no nosso país, o seu auge, quanto à concepção, formulas e desenhos em meados do século XVII, porém, mantendo-se até finais do 3º quartel.

         3-Seja pela grandeza dos padrões utilizados seja pelo aligeiramento  das formas e do recurso ao sublinhado a roxo de manganês distinguem-se dois períodos no seu fabrico.

         Deste modo os padrões mais pequenos ( 2x2 ) e as formas menos ligeiras denunciam o primeiro período, enquanto os maiores ( até 12x12 ), as formas aligeiradas e o traçado a roxo de manganês exemplificam o segundo.

         4-Os gigantescos tapetes azulejísticos imitando as ricas tapeçarias orientais revestindo paredes de alto a baixo e espalhando-se incessantemente caracterizam inconfundivelmente a azulejaria portuguesa seiscentista e destacam-na das demais.

         5-A permanência de soluções e de concepções deve-se a condições “sui generis “ do nosso país, e ,ao invés do que se pode julgar, motivou a emancipação do nosso azulejo.

         6-É insofismavelmente uma manifestação “ maneirista” ainda que se distanciando paulatinamente dela.

         7-A apreciação do valor artístico do azulejo deve pressupor uma leitura ligada ao seu contexto envolvente mais vasto, e, do mesmo modo qualquer tentativa de musealização deve ter esta característica fundamental em conta.

 

CAPÍTULO II

 

Tentativa de identificação e datação

dos azulejos por nós recolhidos [ 1]

Os números a negrito entre os parêntesis rectos os nºs 1-2-3-4 , falta-lhes corrigir a sua ordem e localização no texto.

cotejando e analisando o estudo do eng.º Santos Simões sobre a azulejaria nos Açores e na Madeira[2]

 

         A datação e a identificação de azulejos depende da análise e do manuseio de vários dados, entre este destacamos os histórico que nos elucidam aspectos essenciais da sua “biografia”, nomeadamente, o ano e o local do seu fabrico bem como o local a que se destinaram, os “morfológicos “ que apareciam e estudam o aspecto cromático e os motivos decorativos utilizados e , completando e aprofundando estes dois últimos, os laboratoriais que se dissecam e identificam os materiais empregues.

         Só da conjugação da informação colhida através destas três perspectivas sairá a mais correcta e aproximada resposta à questão enunciada.

         Porém e, para o caso concreto dos que recolhemos, não logramos descobrir, ainda que tivéssemos empreendido uma exaustiva pesquisa arquivística quaisquer elementos ou sequer indícios históricos que lançassem alguma luz sobre o assunto .[3]

         Torna-se, pois, infrutífero esboçar uma abordagem directa posto isto, ensaiaremos uma análise comparativa e indirecta.

         Se, por um lado, numa análise comparativa, possivelmente, obteremos algumas pistas acerca do seu tipo e do período e local do seu fabrico por outro, dificilmente descobriremos o local a que se destinaram.

         Todavia, poder-se-à indiciá-lo através do recurso a provas circunstâncias. Ensaiar-lo-emos, porém, no próximo capitulo, circunscrevendo-nos neste ao esclarecimento do seu tipo e do período e local do seu fabrico.

         Como objecto de incidência da nossa análise temos os azulejos por nós recolhidos, completamente órfãos do seu contexto histórico e aqueles integrados no seu contexto estudados pelo eng.º Santos Simões.

         Afigura-se-nos, ainda, desnecessário e inconveniente , procedermos à sua análise laboratorial, seja pela falta de meios tanto económicos como técnicos, seja pela sua reconhecida vulgaridade.

         Desnecessário porque, para os identificarmos com uma certa margem de certeza, basta, queremos crer, tão-só, proceder-se a uma análise morfo-histórico comparativa.

         Analizá-los-emos, segundo de perto e comparando-os aos que sendo reconhecidamente iguais, em outros locais das ilhas, foram identificados e datados pelo eng.º J.M dos Santos Simões.[4]

         Neste cotejo, entre os elementos azulejísticos que recolhemos, descobrimos, tal como sugere no seu catálogo Santos Simões,[79] padrões 4x4, P35 ;6x6, P37 ( ambos denominados pelo eng. º Santos Simões como tipo “Marvila “[80], porém, João Saavedra Machado, só utiliza aquele designativo para o 6x6, designando o 4x4 como “ Quadrilobo”.) [81]; 2x2, P20 ( camélia para o eng. º [82] e camélia ou dália para José Meco[83] ; 2x2, P 12 (maçaroca para o eng.º [84] e alcachofra para o Dr.º Luís Bernardo Leite de Atayde [85] ; B2 [86]; Dentes de serra [87]; e C3 [88]. Para além destes descobrimos uma barra de laçarias vegetalistas não identificadas no catálogo. [89] [Consulte quadro anexo n.º XIV, XV, XVI, XVII. ]

         Compulsamos da dita obra locais que possuíssem aquele tipo de azulejo polícromo e padronado seiscentistas e,  para mais fácil apreensão, elaboramos quadros. [veja-se quadro n.º I ao XII. ]

         Para de facto e “in situ ”apuramos a correspondência entre os identificados no livro e os nossos [90], deslocamo-nos em visita de estudo aos locais no ilha de São Miguel onde eles existem.

         Não era viável vê-los todos “in loco”, já que envolvia deslocações fora da ilha, assim, vi-mo-los todos, primeiro no catálogo no final do livro e, de seguida, tal como acima referimos, fomos a Vila Franca do Campo, Lagoa e Ponta Delgada, não nos fossemos ludibriar ou deixar passar qualquer detalhe ou erro tipográfico, tão vulgar neste tipo de azulejaria ou neste tipo de obra.

         Não obstante todo o escrúpulo e cuidado, temos, mesmo assim, de confessar que não nos consideramos imunes ao erro e  ás incertezas na apreciação que esboçamos, até porque, e não só pelas razões acima expendidas, nos confessamos aprendizes da vasta e complexa problemática da azulejaria seiscentista portuguesa.

         Assentando nestes pressupostos lançamo-nos no estudo morfológico dos nossos e dos que estudamos tanto no livro de Santos Simões como no local.

         Verificamos que as dimensões se aproximavam e que os motivos empregues e as características cromáticas apresentavam uma quase perfeita correspondência.[Consulte-se quadro n.º XX ao XXII.]

         As ligeiras diferenças nas dimensões, ainda que foram ínfimas, explicam-se pelo facto dos nossos, na sua maioria, estarem incompletos nas margens, por conseguinte, com menos um ou dois centímetros.[91]

         As que se relacionam com as ligeiras diferenças nas tonalidades cromáticas ou, pura e simplesmente, no uso de outra cor, podem-se igualmente explicar.

         Os elementos A do Padrão 37, por exemplo, de Santo André de Vila Franca do Campo e os nossos são em tudo semelhantes, (apesar da colocação divergir da sugerida por Santos Simões ), porém, Santos Simões no desenho que apresenta daquele padrão utiliza o azul em vez do branco para cobrir a nervura central do pequeno motivo floral do canto do azulejo. O pormenor em ocre do elemento B sendo idêntico ao nosso e ao de Santo André        , porém, difere ligeiramente do do dito esboço. Apesar de tudo o eng.º Santos Simões não hesita em identificá-los como elementos constitutivos do padrão 37. [92]

         Alguns elementos B do Padrão 35 existentes na Capela de Nossa Senhora do Cabo, na Vila da Lagoa, exibem no seu canto superior pequenas formas lancionadas, tal como os nossos, porém em outros elementos B, por vezes no mesmo padrão inclui no mesmo canto igualmente pequenas formas mas curvilíneas. Santos Simões, apesar destas diferenças, incluiu-os também na padrão 35 [93]

         Para além destas ligeiras diferenças no formato dos motivos ornamentais e nas suas cores, existem pequeníssimas “nuances” cromáticas, coexistindo no mesmo local, no mesmo padrão e até no mesmo elemento.

         Tal deve-se, sem dúvida, à cozedura do azulejo e, talvez, ao local onde foram colocados ou recolocados. Não só porque a luz natural suscita uma percepção cromática diferente da da luz artificial, mas também pela acção dos agentes de poluição e de desgaste que agem sobre eles.

         Após cuidadosa limpeza da superfície esmaltada as tonalidades aproximam-se das primitivas.

         Alguns dos nossos azulejos foram encontrados entulhados em locais bastante húmidos, ( veja-se quadro n.º XVI e XV ) por conseguinte, a superfície esmaltada estava impregnada de uma espessa camada de sujidade que impedia a correcta percepção das suas tonalidades. Do mesmo modo e mercê do fumo das velas, das poeiras suspensas e das mudanças humidade / temperatura, bem como através da própria respiração humana, ainda que me escala menor, encontramos os azulejos de Santo André como os da Capela do Cabo  sujos na superfície esmaltada.

         Os elementos do Padrão 12 ( maçaroca ) ( quadro n.º XVII E XX ) correspondem exactamente aos nossos.

         Quanto aos de padrão 20, Santos Simões refere dois locais nas ilhas ( Igrejas de São José em Ponta Delgada [94] e Antigo Convento de Santa Clara no Funchal [95], porém, por um lado, como só vimos os da ilha de São Miguel, pelas razões atrás referidas e, por outro, como o padrão camélia da Igreja de São José ( São Miguel ) não ser, como se depreende do seu cotejo com o catálogo, P20 mas na realidade P18, circunscrevêmo-nos, assim, ao catálogo. [96]

         Deste cotejo verificamos a correspondência quanto à forma já que o não pudemos fazer quanto à cor e às dimensões.

         Os acessórios B2, C3 e dentes de serra também coincidem. B2 vimo-lo no catálogo bem como os dentes de serra, o C3 na capela da Rosa. Resta-nos uma barra não referida no catálogo, todavia, existe correspondência morfológica entre esta barra e as identificadas. ( veja-se quadro n.º XV )

         O eng.º Santos Simões, um dos maiores especialistas da matéria, e sobretudo estudioso da azulejaria dos Açores e da Madeira, não considerou as pequenas diferenças referidas como obstáculos à sua cabal identificação. Deste modo e, baseando-mo-nos, neste pressuposto ( diga-se inseguro porque deste cotejo muita coisa relevante pode escapar), ensaiamos a identificação dos nossos a partir dos dados morfo-históricos comparados. ( veja-se quadro n.º XXIII ao XXVI ).

         Identifiquemos, deste modo, os nossos, excluindo deste processo a identificação do seu local de destino que ensaiaremos no capítulo seguinte.

         Em primeiro lugar, trata-se de azulejos de padrão polícromo seiscentista, provavelmente do terceiro quartel daquele século. ( ver quadro n.º V ao X ). Até mesmo o azulejo ( quadro- XII ) sublinhado a traço de roxo de manganês se situa naquele período .[97]

         Em segundo lugar, vieram, muito provavelmente da cidade de Lisboa [98] onde, segundo José Meco, eram produzidos em larga escala e daí difundidos a todo o país e ás colónias. [99] E isto apesar, da hipótese, de se terem fabricado azulejos no século XVII na ilha de São Miguel [100] ou noutras partes do reino [101]

         Parece mais plausível e crível a Santos Simões a sua origem Lisboeta.

 

 

CAPÍTULO III

 

Os azulejos que recolhemos vindos

provavelmente da cidade de Lisboa no

3º quartel do século XVII a que local

da Ribeira Grande se destinaram ?

 

 

         Desconhecendo a existência de provas quer coevas quer posteriores, resta-nos tentar percorrer um caminho inverso, partindo dos locais onde os descobrimos tentaremos chegar ao(s) seu(s) local(is) primitivo(s).

         A maior parte do acervo azulejar que recolhemos provém da fachada da Igreja Matriz ( Ribeira Grande ) e do Ex-Externato Ribeiragrandense, os primeiros recolhidos na torre e os segundos no armazém camarário na rua do Ouvidor. ( [102] veja-se nota )

         No primeiro caso “ Os azulejos que havia na parte central da fachada [103] da Igreja Matriz, como se pode ver nas fotografias anexas, sendo de padrão policromo (branco, amarelo e azul ), ao gosto do século XVII, mostravam bem ter sido ali recolocados, não só pela irregularidade das quinas e dos cantos mas ainda pelo preenchimento ad hoc dos parâmetros, sem qualquer emolduração ou contorno racional dos acidentes arquitectónicos” [104]

         Quanto ao segundo, Santos Simões adianta-nos que “ Em dependências interiores [ do Externato ] foram colocados azulejos de padrão policromo, cuja proveniência se desconhece mas que bem pode ter sido a mesma dos que ornamentaram a fachada da Matriz da Ribeira Grande. “[105]

         Lamentavelmente, porém, desconhecemos qualquer nota alusiva à sua colocação, recolocação e remoção. Possuímos, tão-somente, alguns dados sobre as suas últimas remoções, pouco ou nada esclarecendo a sua primitiva colocação. Acerca da remoção dos da Matriz Santos Simões diz que “..., foram eles arrancados e destruídos em 1959, quanto das obras de “ reintegração e beneficiação “ (?); “[106]

         Porém, inclino-me para uma data sensivelmente anterior. Em primeiro lugar, o P.e Manuel de Sousa, ex- Prior da Matriz, iniciou o seu múnus sacerdotal naquela igreja em 1957, pouco antes do falecimento do Prior Evaristo Carreiro Gouveia e, segundo me afiançou os azulejos já estavam retirados.

         Em segundo lugar encontrei uma fotografia da procissão do Coração de Jesus de Setembro de 1956 ou de 1957 na qual se notam cinco pormenores deveras relevantes. [107]

         1- A estrutura norte que serve de baptismos e colada à fachada encontra-se destelhada.

         2- São visíveis andaimes na fachada, bem como se nota a ausência de azulejos seja na parte superior do frontão subposto à cruz cimeira, seja no mesmo frontão mas na parcela a norte da janela.

         3- A ponte cujo alargamento se inaugurou em 1957 ( conforme data ali colocada ) ainda se encontra na forma anterior a 1957.

         4-O prior ainda se encontrava vivo, como se pode ver no canto inferior esquerdo da fotografia ( f. em Outubro ou Novembro de 1957 )

         5-Quem leva o pendão do Coração de Jesus é a proprietária da fotografia, tendo esta comungado em 1957 e 1958. Por duas razões, porém, ela afirma ser de 1957. Primeiro porque o senhor prior ainda estava vivo e, em segundo lugar porque, regra geral, quem repita, normalmente, levava outro traje e não levava o pendão. Em todo o caso foi antes de 1959.

         Os do externato foram recolocados, segundo o Dr.º Manuel Barbosa logo após a transferência do Externato para aquele local, depois do verão de 1948 ou do de 1949, tendo sido removidos em 1984. (?) [108]

         Em todo o caso só isso sabemos. O que ensaiaremos não passará, pois, de um exercício de esgrima mental, para a qual dispomos de pouca ou de nenhuma prova, todavia, mesmo assim, valerá a pena a tentativa, nem que seja pelo exercício em si mesmo.

         Neste momento, ocorre-me o pensamento de Margarite Yourcenar sobre os historiadores:

         “Os historiadores apresentam-nos, do passado, sistemas excessivamente completos, séries de causas e efeitos exactos e claros de mais para terem sido alguma vez inteiramente verdadeiros; dispõem de novo esta dócil matéria morta, e eu sei que Alexandre escapará sempre mesmo a Plutarco. “[109]

         Tendo este pensamento em mente e, tal como qualquer detective, o historiador nestas circunstâncias, começa por rascunhar o perfil dos suspeitos.

         A que locais no século XVII terem eles possivelmente pertencido?

Partindo do estudo do eng.º Santos Simões ficamos a saber que, no que concerne os arquipélagos dos açores e da Madeira, o tipo e as espécies azulejísticas em questão quase só se encontravam em religiosos, designadamente em Mosteiros, conventos, Igrejas e Capelas.[110]          

         Efectivamente, compulsando o dito livro, só encontramos o P37, P35, P20, P12, C3, B2 e dentes de serra, em edifícios religiosos .[111]

         Num universo de onze mosteiros e conventos, oito eram de Franciscanos e de Clarissas, apenas dois de Jesuítas e um de Gracianos.

         Quanto às Igrejas e às Capelas, três eram igrejas, sendo uma Sé Catedral ( Angra do Heroísmo ) e, somente duas Capelas, ambas particulares. [112]

         O que equivale, em termos estatísticos, a um predomínio dos edifícios do clero regular ( c. de 69 % ) em relação aos do clero secular ( c de 18%) e às capelas particulares ( c. de 12 %, apenas )

         Por conseguinte, nesta ordem de ideias, tornam-se mais suspeitos os edifícios do clero regular, no caso da Ribeira Grande o Mosteiro de Jesus e o Convento de Nossa Senhora de Guadalupe, para além do mais pertencendo ambos à família franciscana que num universo de onze, detém 78%.

         Estes dados estatísticos hierarquizam potenciais candidatos, o que é vantajoso como hipótese de trabalho, porém, o seu uso exclusivo, decerto trairia a imensidade de possibilidades.

         Assim, discutiremos todos os indícios conhecidos acerca de quaisquer candidatos, sejam eles os conventos e os mosteiros, sejam as Igrejas e as Capelas, inclusive edifícios civis.

         No século XVII a Ribeira Grande tinha um convento de Franciscanos e um Mosteiro de Clarissas, uma igreja da Misericórdia, várias igrejas e capelas.[113]

         Um suspeito : A ermida de Nossa Senhora da Caridade (s) ou da (s) Candeia (s).

         Ao que sabemos foi o Dr.º Jorge Gamboa de Vasconcelos quem  primeiro lançou esta suspeita: “... pergunto [ sic ] a mim mesmo se esse templo não seria a ermida de Nossa Senhora da Caridade ( ou Caridades )...”[114]

         Esta ermida, de acordo com testemunhos orais e alguns parcos indícios poderá ter sido o local ( ou um dos locais) de destino dos primitivos azulejos seiscentistas.

         Todavia, nada nos impede ou desautoriza de pensar que paralelamente à hipótese dum único local de origem deve e pode acrescentar-se-lhe a de mais de um local da ex-Vila e quiçá, de fora dela.

         Entre outros factos menos relevantes, a nossa argumentação tem de elucidar as seguintes questões:

         1- Possuiu ou não a dita ermida azulejos seiscentistas?

         2- Não sendo possível responder à primeira questão, poder-se-à, ao menos, indicar a possibilidade de ela os ter tido?

         3-Se os teve, ou se é provável que os tenha tido, teremos ainda que provar o seguinte:

         a) Que tenha tido azulejos em número suficiente para revestir a parcela azulejada da fachada da Matriz.

         b) Que os seus hipotéticos azulejos fossem do tipo e do padrão identificado.

         c) E, por último, não basta provar que os tenha tido ou que é provável que os tenha tido em número e no tipo dos identificados, necessário se torna provar que foram parar à fachada da Matriz. Só assim estabeleceríamos a prova de proveniência de parte dos que recolhemos.

         Nada mais, porém, poderemos fazer do que insinuar a possibilidade da existência naquela ermida de azulejos seiscentistas e, talvez, indicar a sua possível recolocação na dita Matriz.

         A ermida é referida por Fr. Agostinho de Monte Alverne [115],sendo-o igualmente por António Cordeiro, [116] tanto um como o outro atribuem-lhe à invocação de Nossa Senhora da Caridade acrescentando o segundo “ o...que era da muito nobre Julia Taveyra,...”[117]

         Talvez mais de dois séculos depois, em 1858, o Prior da Matriz de então ‘Manoel Cabral de Mello’, escreve nas notas para o livro do Tombo que existia (existia em 1858 )” 4ª no Adro da Igreja Parochial,[sic] da invocação da senhora das Candêas,...”[118], registe-se-lhe a diferente invocação, porém, igualmente”...fundada por Dona Julia Taveira.”.[119]

         Ao certo sabe-se que no adro da Igreja da Matriz uma D. Julia Taveira herdara ou fundara ( ou até mesmo um seu sucessor ou sucessora, não interessa para o caso ) uma ermida. Quanto à sua aparente dupla invocação, poder-se-à tratar ou de erro [120], ou de mudança, ou até mesmo, quiçá de duas ermidas distintas. Ao que parece tal ocorrência teve lugar posteriormente.

         É, porém muito provável, que a ermida tenha sido construída no século XVII, já que Frutuoso que morre em 1591 nada diz a seu respeito, [121] e, no século XVII tanto Cordeiro como Monte Alverne se lhe referem [122]

         Provável, muito, é também a sua atribuição a D. Júlia Taveira, aliás, como veremos, D. Júlia Taveira de Neiva.[123]

         É importante saber-se que já no século XVII Cordeiro a atribuiu, tal como vimos, a D. Júlia Taveira.

         Existe actualmente no altar de Nossa Senhora da Piedade, na Igreja Matriz, um lampadário de prata atribuído aquela ermida [124] que contém a seguinte inscrição :”IVLIA TAVEIRA ANNO 1660”[125]

         Partindo do principio que esta inscrição é autêntica e coeva, igualmente pressupondo e aceitando que o lampadário proveio da dita ermida, a data inscrita para além de revelar provavelmente o ano do seu fabrico, pode insinuar, por um lado, a data da construção da ermida a que pertenceu, ou então, por outro lado, refere-se a um período de obras ou de beneficiações da mesma ermida.

         A data, 1660, situa-se no período atribuindo aos azulejos que recolhemos. [126] Em qualquer dos casos, apesar de adiantarmos só indícios, não devemos excluir a hipótese ou a do seu azulejamento.

         Não seria um caso isolado, já que, em 1675, a ermida de Nossa Senhora do Cabo na Vila da Lagoa foi azulejada tanto no interior como na fachada, constituindo este último facto um pormenor singular no panorama da azulejaria portuguesa.[127]

         Esboçaremos provar que a dita ermida foi construída pela família Taveira de Neiva e que possivelmente foi azulejada seguindo o exemplo de outras já azulejadas ou até mesmo servindo de exemplo.

         Maria Olímpia da Rocha Gila diz que “... foi Francisco Taveira de Neiva, falecido em 1624, na Vila da Ribeira Grande, S. Miguel. Cavaleiro fidalgo, homem da governança da Vila onde morava, junto do adro da igreja de Nª Sr.ª da Estrela,... “[128] repare-se que era fidalgo e morador junto ao adro da igreja onde Cabral de Mello situa a ermida fundada por D. Julia Taveira, aliás de Neiva, filha do dito fidalgo [129]. Mais à frente acrescenta que “..., Francisco Taveira de Neiva ocupa lugar de destaque entre esta aristocracia insular de grandes proprietários de trigo e de pastel dos finais do século XVI, começos do século XVII. “[130]

         É provável que a família Taveira de Neiva grande proprietária exportasse os seus trigos e pasteis seja pela vila da Lagoa, seja pela cidade de Ponta Delgada, tanto mais que a Ribeira Grande não possuindo um porto de mar exportava a sua produção principalmente pela Lagoa.

         “É, este dos Carneiros [ Lagoa], bom porto [ diz Gaspar Frutuoso],principalmente de Verão, de que se serve a Vila [ Lagoa] para suas pescarias e necessidades e carregação, e nele se carrega todo o pão que vai da banda do norte, como da Vila da Ribeira Grande e seu termo, com a obrigação que têm ali de guardar, sem contradição, os despachos que pelos oficiais da Câmara dela vão assinados, porque assim o tem a vila da Ribeira Grande por sentença, em um litígio que sobre isso tiveram.”[131]

         A estes inconfundíveis laços comerciais, poderíamos acrescentar os laços sócio-culturais. Assim sendo, não repugna supor que tivesse existido influência ao ponto dos Taveira de Neiva terem influenciado ou sido influenciados pelo azulejamento da sua ermida. Deve-se considerar relevante o fenómeno sócio-cultural de transmissão de estilos e gostos artísticos entre estratos sociais afins. Era frequente, entre os fidalgos e não só, construírem ermidas junto das suas residências. De meados do século XVII, temos, neste caso, 1651, a ermida de Nossa Senhora da Salvação. [132]

         Sendo plausível esta hipótese, todavia, não possuímos nenhum dado concreto. Acrescentamos a estas conjecturas uma outra, se bem que ténue, oriunda da tradição oral, segundo a qual Jaime Cabido Ferreira e Caetano da Silva Moniz teriam visto azulejos na dita ermida.

         Estes testemunhos foram-me recentemente transmitidos pelo Dr.º Jorge Gamboa de Vasconcelos que com ambos dialogou sobre o assunto, nomeadamente, com o primeiro.

         Seria óptimo se conseguíssemos obter as seguintes informações :

         1-A confirmação da existência de azulejos na ermida.

         2-Que estes foram retirados e recolocados da fachada da Matriz.

         Antes, todavia, temos de apurar se ambos, ou um deles, teria,          efectivamente visto na dita ermida azulejos ?

         Tê-los-iam, porém, visto colocados, recolocados ou simplesmente armazenados, vindos de outro local ?

         Teriam sido testemunhas da remoção e recolocação na Matriz ?

         É pouco provável que eles assistissem à recolocação na fachada da Matriz, todavia, poderiam ter ouvido de alguém que viu, podendo ainda ter visto azulejos colocados, recolocados ou armazenados na dita ermida, neste caso azulejos que sobravam ou da ermida ou de outro local.

         O que é certo é que eles não foram testemunhas oculares da recolocação na Matriz, pelo menos na parte apresentada por Cândido Abranches, já que o primeiro nasceu em 18/12/ de 1879 [133] e o segundo em 2 ou 22 de Julho de 1875 [134].

Portanto, treze e nove anos, pelo menos, após a recolocação. (?)

         Com data de 23 de Setembro de 1866, Cândido Abranches, remete ao seu patrocinador, o Sr Visconde da Praia, uma cópia do seu Álbum que sairia do prelo em 1869. [135]

         Nesta obra figura a gravura XXX onde se vê esboçada a fachada da Matriz já azulejada, pelo menos quase toda a área que foi revestida, há excepção, a julgar pela gravura, da parte superior do frontão subposto à cruz cimeira, o que poderia ter ocorrido após Abranches ter recolhido as suas notas.

         Quando recolheu ele os dados sobre a Matriz ? Não sabemos ao certo, porém na introdução Abranches confessa que o seu livro era “...o fructo de aturados labores em bastantes annos,...”[136]

         O facto de C.A. não nos parecer ter esboçado a dita parcela da fachada deixa em aberto a hipótese de ela ter sido revestida em data posterior à recolha de C.A. ;e por conseguinte, neste caso, não seria improvável que uma ou as duas testemunhas o pudessem ter visto. [137]

         Temos, porém, de convir que os azulejos poderiam ter lá sido recolocados, vindos não se sabe bem de onde, num período de tempo que vai desde o inicio do segundo quartel de setecentos, altura em que a igreja foi reconstruída, [138] até cerca de 1866 (?) data em que Cândido Abranches recolheu os elementos para a elaboração da gravura XXX ( ele ou outro ).

         Todavia, se porventura a parte superior do frontão em 1866 ou perto ainda não estivesse azulejada, podemos supor duas coisas:

         1- Continuar a pensar que já, há muito ou pouco tempo, tinha sido azulejada, mas que aquela parcela não o fora ou que o tendo sido, por qualquer razão tenha perdido os azulejos.

         2- Que em 1866 ou perto se estava a proceder ao acabamento do azulejamento da fachada.

         Mas, mesmo que as duas testemunhas tivessem vivido muito perto da época em que se presume que os azulejos foram recolocados, tal facto só por si não nos garante que tivessem transmitido a noticia do ocorrido com exactidão.

         Analisemos como se processou a transmissão da informação. As duas pessoas que presenciaram ou que simplesmente ouviram de quem ouviu ou viu, volvidos muitos ou poucos anos, não o sabemos, transmitiram, sabe-se lá como e em que contexto, a informação a uma terceira pessoa, tendo esta, por sua vez, transmitido a informação a uma quarta pessoa, volvidos pelo menos vinte ou trinta e nove anos.[139]

         A informação obtida através do recurso às fontes da tradição oral é preciosa, sobretudo no nosso caso, quando se desconhecem outras provas, porém, há que ter em conta a sua natureza. Para obter o máximo de informação útil temo-nos que rodear de cautelas e munirmo-nos de métodos adequados.

         Além do mais “. Le discours sur le passé enfin, et nous l’avons précédemment dit en filigrane, n’est pas forcément “passeíste”. On le comprend aisément: le passé peut être conçu comme définissant une dynamique à venir, un ressourcemente qui n’exclut pas les donnés actuelles mais simplement les corrige, les repense et les enrichit, cherche à les percevoir comme le fait d’une évolution et non d’une rupture.”[140]

         Vejamos um caso concreto. A remoção dos azulejos da Matriz ocorreu não há muito tempo, todavia, quer o pedreiro que lá esteve, o mestre Almeida, quer alguns vizinhos da igreja seus frequentadores assíduos, não me souberam precisar a data certa da remoção.

         É, ainda, possível aceitar-se que existiram azulejos ( seiscentistas ?) na e da dita ermida e que, creio eu, após 1858 e à volta de 1866, eles tenham ido para a fachada da Matriz, sendo, porém, menos provável que o tivessem feito antes de 1858 e muito menos, antes de 1852.

         Não obstante os fortíssimos abalos sísmicos de 1852 [141] o Prior Manoel Cabral de Melo em 1858, seis anos apenas após a ocorrência ainda se refere à ermida nos seguintes termos:

         “ 4ª No Adro da Igreja Parochial, da invocação da Senhora das Candêas, fundada por Dona Julia Taveira. Não tem serventuario. Tem de renda, proveniente d’un foro - 20$500 rs.”[142]

         Ao que parece ela manteve-se de pé, sendo provável que o Prior a não incluísse na lista se estivesse irremediavelmente arruinada. Para além do mais a ermida dispunha de uma renda que poderia ter sido utilizada para lhe reparar os danos do sismo. aquele foro correspondia, pouco mais ou menos, à soma que vitaliciamente a Me Margarida Isabel do Apocalipse recebeu até 1858 [143]e do preço de uma das suas casas vendida na década de setenta daquele século [144]. Por conseguinte, tratava-se de algum dinheiro, talvez o suficiente para reparar a ermida.

         Tanto mais que em 3 de Maio de 1852 o Prior da Matriz Francisco José Pacheco diz explicitamente que “ Em os dezeseis dias do mez d’Abril do anno de mil oito cincoenta e dois, sendo pouco mais das déz hóras da tarde, ou noite daquelle dia, se sentio em toda esta Ilha úm grande abálo da terra, ou terramoto : todos os edifícios da Ilha sofrerão ruinas, uns mais, outros menos: esta Matriz pouco sofrêo só apparecerão, algumas fendas nos cantos das paredes do Côro junto ao frotìspico: desabôu párte da cimalha do gradiamento de pédra da tôrre dos sinos, quebrando em baixo degráos do ádro: algumas Pessoas morrerão de báixo das ruínas causadas pelo terramoto, e outras ficarão feridas: nesta Villa só morrerão duas raparigas na Rúa dos foros, da Freguezia da Conceição, sendo Irmãas, de idade, uma de dezoito annos, e outra de quatorze: foi, horrorõso: duróu somte. doze segundos, e á (?) continuár por mais alguns de cérto ficariá toda a Ilha reduzida a um montão de ruinas e debaixo d’estas sepultadas os seus habitantes: não consta que a Ilha em tempo algum sofresse outro igual, e para que os Vindoûros tenhão conhecimento d’esta desastrosa calamidade, faço esta declaração, vále aentre linha que diz ruínas. Ribrª. Grde. 3 de Maio de 1852 O Prior Francisco José Pacheco “ Como se depreende nada aconteceu à ermida.[145]

         Segundo os dados da genealogia da família Taveira de Neiva da autoria do Dr.º Hugo Moreira aquela família foi ficando sem descendentes legítimos e extinguiu-se em 1861 quando D. Angélica Joaquina Taveira faleceu na vila de Corumbá no Brasil.[146]

         Assim sendo, e sem ninguém para cuidar da ermida, é provável que esta fosse, a partir de então, arruinando até que foi demolida, segundo se crê, no final do século passado ou no início do presente.[147] Deste modo se compreende que as ditas testemunhas a tenham conhecido.

         Viram azulejos ? Podem muito bem ter sido os que sobraram do revestimento da Matriz e que aí estivessem armazenados. Teria tido a dita ermida azulejos suficientes para revestir a fachada da Igreja ?

         Fizemos os nossos cálculos e achamos que sim. Estiveram a revestir a Matriz cerca de 1800 azulejos [148]. Medindo uma ermida seiscentista, a de Nossa Senhora da Salvação, [149] verificamos que tinha uma área parietal mais do que suficiente para levar muito mais do que 1800 azulejos. [150]

         Não pudemos, como é obvio, incluir nos nossos cálculos, os imponderáveis e hipotéticos estragos do sismo de 1852.

         Finalmente, numa análise aos elementos constituintes dos padrões de grande dimensão P 37 (6x6), leva-nos a supor que foram utilizados em grandes superfícies parietais. Ou o P37 (6x6) e o P35 (4x4), estavam decompostos em pequenos padrões 2x2 (aliás tal como já vimos no caso do P35 para a capela de Nossa Senhora do Cabo e mesmo para a fachada da Matriz) ou então é muito possível terem pertencido a edifícios maiores.

         Se é impossível provar, com os dados que dispomos, e com certeza que existiram azulejos seiscentistas na ermida e que estes foram parar à fachada da Matriz, é igualmente impossível provar-se o contrário.

         Existem, porém, outros candidatos cujos indícios são, porventura, mais perturbantes, nomeadamente o Mosteiro do Santo Nome de Jesus na Ex-Vila da Ribeira Grande .

 

OUTRO CANDITATO: MOSTEIRO DE JESUS DA EX-VILA DA RIBEIRA GRANDE

 

Foi, ”...,na era de mil e quinhentos e trinta e seis, pouco mais ou menos, que Pero Roiz da Câmara e sua mulher, D. Margarida de Betencor, fundaram o mosteiro de Jesus na Vila da Ribeira Grande, no assento e casas onde eles mesmo moravam. “[151] Depois, sendo o mosteiro destruído, recolheram-se as freiras em 1563 a Ponta Delgada “ E tornaram na de setenta e sete [ 1577 ]” [152]

         Volvidos quase três séculos, em Junho de 1832, [153] um mês após o decreto de extinção das ordens religiosas de 17 de Maio de 1832, [154] as freiras saiem definitivamente do Mosteiro.

         “ Artº 1º - Ficam supprimidos os seguintes Mosteiros de Religiosas, a saber:

         ... Na ilha de S. Miguel..., assim como o de Jesus na Ribeira Grande”[155]

         Aos quatorze de Dezembro de 1833, conforme titulo publico passado em nome do Provedor Interino do Concelho da Ribeira Grande, António Manuel da Silveira Estrella, o mosteiro e suas dependências foram arrematados em haste pública. [156]

         Estes bens de raiz, fazem parte do património de Dona Mariana Amália Narciza, primeira esposa de José Maria da Câmara Vasconcelos que aparece como seu inventariante num documento de 7 de Janeiro de 1834.[157]

         Em Agosto de 1858, o prior Cabral de Mello diz que “ O frontispício da Igreja da Ribeira Sêca, era o da Igreja das Freiras. “[158]

         Independentemente de o interpretamos à letra ou não, que a fachada tenha sido transferida e reposta tal qual ou se somente parte ou tão somente que a fachada tenha sido transferida e reposta tal qual ou se somente parte ou tão somente a pedra utilizada foi adaptada, o certo é que, e é o que nos interessa provar, ocorreram, em qualquer dos casos, demolições, em data desconhecida, mas provavelmente entre Junho ou Julho de 1832 e Agosto de 1858.

         Assim sendo, e caso aí existissem azulejos, estes teriam forçosamente de ser removidos.

         Porém, não encontramos quaisquer referências escritas, seja coevas seja posteriores, aludindo à existência naquele estabelecimento religioso de azulejos seiscentistas, todavia, encontramos, em vários locais onde se erigia o mesmo, centenas de fragmentos de azulejos. [159] 

         É evidente que os fragmentos podem ter lá ido parar posteriormente, neste caso, nada tendo a ver com o Mosteiro. Só uma intervenção arqueológica poderia responder a essa dúvida.

         “ Archaelogical excavations are ultimately a process of recording subsurface features and the provenience, or precise relationships, of the artifacts within the site.”[160]

         O derrube das paredes  da igreja e das dependências do Mosteiro de Jesus, provocou, decerto, espaços vazios no terreno que tiverem de ser preenchidos a fim de todo o terreno, ou parte, ser utilizado para fins agrícolas.

         Este preenchimento pode ter sido feito, em parte com o recurso aos entulhos do próprio Mosteiro recobrindo-os com a terra adjacente.

         Existem, nas paredes interiores da ex-cerca do Mosteiro, sinais visíveis de remoção de terra, sobretudo no lado nascente, onde parte da pedraria dos alicerces que deveria estar soterrada, nalguns pontos, está mais de um metro acima do nível do terreno, indício de que a terra que os cobria foi removida para as partes mais baixas do terreno situadas do lado Norte e poente, precisamente no local onde deve ter estado implantado o Mosteiro. (?) [161]

         A suspeita acerca dos azulejos do Mosteiro começou em finais de 1987, no último trimestre, quando encontrei numa vala paralela ao passeio junto à parede norte, onde provavelmente outrora ficava a fachada principal ou o adro do antigo Mosteiro [162] e, designadamente entre o portão norte e o vértice formado pela rua de Trás-os-Mosteiros e o murete gradeado do Ciclo Preparatório, alguns fragmentos e azulejos seiscentistas assim como outros fragmentos cerâmicos. [163]

         A vala, porém, fora aberta a pá escavadora mecânica, a fim de se substituir a tubagem de chumbo abastecedora de água às residências circunvizinhas por outra tubagem de material sintético.

         Em todo o caso, inspeccionando os estratos, num e no outro lado da vala, verifiquei que, logo a seguir à camada de areia suporte dos paralelepípedos da calçada se encontrava uma camada de barro da qual recolhi alguns fragmentos de azulejos.

         Todavia, não me foi possível proceder a qualquer registo estratigráfico, porque a vala tinha de ser fechada o mais depressa possível.

         Para além do mais a maioria do fragmentos foram recolhidos da mistura de terras revolvidas pela pá mecânica.

         Contactei com a Associação Arqueológica que de Setembro a Outubro de 1988 promoveu uma campanha arqueológica, no interior das terras do ex- Mosteiro, onde em camadas de entulhos e em achados de superfície foram encontrados, segundo me foi dado a ver, fragmentos do mesmo tipo de azulejo. Foram escavados dois hexágonos junto à traseira da casa do Sr Pinheiro que confronta os terrenos do Ex-Mosteiro e abertas duas valas de verificação, uma perto da antiga arquinha, no vértice sul-poente do terreno e a outra no interior do “quarto” à entrada do portão virado a norte. [164] A classificação, identificação e estudo do que foi recolhido está a decorrer.

         E, mais recentemente, em Março de 1989, quando se procedeu à correcção do nó viário da rua de Trás-os-Mosteiros com o dominado “ Adro das Freiras”, perto do local onde pela primeira vez encontrei fragmentos, a pá escavadora descobriu muitos outros. [165] Parte do troço poente do muro do Ex-Mosteiro foi demolido e remexida a terra que lhe ficava a nascente. Foi neste troço que os encontramos.[166]

         Terão estes achados, mormente os primeiros e os últimos valor científico ou pelo menos algum valor documental ? Quanto aos fragmentos recolhidos no primeiro e no último caso, descobertos a pá escavadora, terão pouco valor arqueológico visto que nos foi impossível proceder ao adequado estudo e registo estratigráfico. Quanto ao segundo caso, porém, objecto de estudo cuidadoso e metódico, o seu valor é mais seguro.

         “ O estudo de uma estação arqueológica não pára nas escavações. Antes de publicar os resultados de uma campanha - e não só publicar equivale a destruir pela segunda vez aquilo que se devastou ao escavar -, é preciso poder tirar conclusões. Ora, os elementos que uma escavação fornece podem não ser suficientes. É necessário que o estudo pormenorizado das amostras, dos objectos e de tudo o mais que se tiver encontrado no local, venha em apoio das teses estabelecidas pelo arqueólogo. Os estudos tipológicos, os exames das ossadas humanas e animais, o estudo tecnológico dos objectos fabricados pelo homem, o estudo dos solos, das condições do meio, do clima, a identificação dos pólens, etc., enfim, as estimativas absolutas ou relativas das datas dos vestígios encontrados e o estabelecimento de cronologias, são absolutamente necessários ao arqueólogo para estabelecer um quadro exacto da vida durante as épocas estudadas e dos acontecimentos cronológicos que tiveram lugar na estação escavada. Esta informações são indispensáveis para fazer da arqueologia o que ela é verdadeiramente, não uma vã escavação da terra para fazer a recolha de testemunhos, mas um estudo racional dos modos de vida e das estruturas sociais, económicas e culturais dos povos do passado. “[167]

         Até ao momento, estas descobertas, talvez só nos permitam concluir que há data das escavações, foram encontrados naqueles locais fragmentos de azulejos seiscentistas, mas, em si mesmas, não nos autorizam a concluir que aqueles fragmentos pertenceram a azulejos do Ex-Mosteiro.

         Desapareceram os Livros de Receita e de Despesa do Século XVII do Mosteiro e desconhecemos a existência de quaisquer notas sobre a compra e a colocação nele de azulejos seiscentistas, todavia, a existência deste tipo de azulejos em quase todos os Mosteiros de Clarissas da Custódia Franciscana da Puríssima Conceição das Ilhas de São Miguel e Santa Maria, lança a suspeita que o Mosteiro de Jesus também os tivesse tido .[168]

         Aqui o fenómeno da difusão de padrões de gosto deve ter sido fortemente influenciado pelo gosto dos visitadores Franciscanos que percorriam, um a um, todos os Mosteiros da Custódia. Não admira, pois, que os Mosteiros da dita Custódia, no que concerne a azulejos, apresentassem sinais de gostos idênticos.

         É certo, porém, que o Mosteiro de Jesus pode ter, neste contexto, constituído uma excepção à regra, porém, a tendência uniformizadora deveria ter sido enorme e, para além dela, o facto de termos encontrado nas suas terras fragmentos, ainda que de atribuição problemática. Ambos constituem indícios de crédito a favor da sua existência no Mosteiro de Jesus.

         Os próprios locais onde encontramos os fragmentos parecem insinuar que estes pertenceram ao Mosteiro. Vejamos. Ao serem as paredes derruídas e, concomitantemente, retirando-se-lhes os azulejos (?) , alguns fragmentaram-se, caíram ou foram atirados para o chão, sobradado, térreo ou lajeado, seja para o interior do Mosteiro seja para a rua. Os que caíram na terra foram sendo calcados pelos materiais amontoados e os que caíram no sobrado ou no empedrado desviados para a terra ou simplesmente empilhados. Tal como já foi atrás referido, é provável que mais tarde, tenham sido espalhados pelos espaços vazios no terreno provocados pela demolição dos edifícios e cobertos de terra arável.

         A identificação de fragmentos pertencentes a elementos do Padrão 37 (6x6), regra geral, utilizados em tapetes que revestiam grandes superfícies parietais também sugere a sua utilização pelo Ex-Mosteiro.

         Porém, nada disso, é evidente, prova à sociedade e sem ambiguidades que existiram azulejos no Mosteiro, todavia, lança fortes suspeitas.

         Mas, supondo que lá existiram azulejos, ainda temos que esclarecer três pontos.

         Primeiro, foi o Mosteiro efectivamente demolido? Segundo, foi demolido no período em que se pensa que a fachada da Matriz foi azulejada ? Terceiro, os azulejos da Matriz vieram do Ex-Mosteiro ?

         Cabral de Mello em 1858 afirma que “... havia um [ Mosteiro ] do sexo feminino, onde se chama o Adro das Freiras. “[169]

         Em Junho de 1832 são as religiosas expulsas, distribuídas e os bens de raiz inventariados:

“... Houve por bem Supprimiar [ sic] o Mosteiro das Religiosas de Jezus desta Villa, determino que Vossa Senhoria fassa invacuar o mesmo Mosteiro em trez dias impreterivelmente, entregando as ditas Religiosas as Pessoas constantes da Relação junta asignada pelo Escrivão José de Medeiros Souza outro sim [ sic] determino que Vossa Senhoria passe a invatariar com o Sindico do Refferido Mosteiro os Vasos Sagrados, Ornamentos e Vestiduras dos Artigos terceiro e quinto, cuja copia também Remetto asignada [ sic ] pelo dito Escrivão fazendo Remover tudo para a Matriz desta mesma Villa...” [170] e mais adianta data: ...Villa da Ribeira Grande Seis Seis [ sic ] de Junho de mil oito centos trinta e dois”...”[171]

         Fica, por conseguinte, de Junho de 1832 até finais de 1833 mais de um ano, o Mosteiro abandonado e exposto a todo o tipo de vandalismo e à incúria dos tempos. Na Quaresma  de 1834, vemos José Maria da Câmara de Vasconcelos a morar lá, [172] saindo logo após, só regressando na Quaresma de 1847. [173]

         Por um lado, provavelmente, os edifícios, naquele lapso de tempo de treze anos, devem ter ficado entregues a si mesmos, por outro lado, devem ter sofrido obras de adaptação a moradia. De 1832 até finais da década de quarenta, pelo menos, e segundo documentos do Arquivo Municipal da Ribeira Grande, José Maria da Câmara Vasconcelos adquire e vende bens de raiz, confessando, perto de 1850 que tem dificuldades económicas [174], portanto, deve ter sido neste período que, para arranjar dinheiro, começou a desmantelar o Ex-Mosteiro e a vender tudo aquilo que pudesse interessar.

         Os violentos abalos sísmicos de 1852, caso o edifício ainda se mantivesse de pé, e sem os devidos cuidados de manutenção, podem ter sido o seu cântico de cisne, danificando-o irremediavelmente ou mesmo derruindo o que lhe restava.[175]

         Todavia a demolição pode ter sido feita muito antes, Em 1858, o Prior Manuel Cabral de Mello, quando se refere à Ermida das Caldeiras, que ostenta no seu frontispício a data de 1850, refere-se-lhe, como tendo sido construída há muito poucos anos, sendo, porém, no tocante ao frontispício da Igreja de São Pedro que atribui à Igreja do Mosteiro mais vago na datação, o que, só por si, pode querer indicar, para a demolição da igreja, um período de tempo algo anterior a 1850. [176]

         O próprio Cândido Abranches ao declarar que levara muitos anos a recolher os elementos para o seu Álbum, não sabemos quantos, concluindo em 1866, de certo modo, parece corroborar tal conjectura.

         As demolições podem ter sido, por conseguinte, levadas a cabo a partir de 1832, mas muito provavelmente, na década de quarenta, pelo menos em parte. Em todo o caso, antes de 1858 e perto do período em que C. Abranches recolheu os dados para o seu “ Álbum”, no qual já se vê os azulejos na fachada da Matriz.

         Apesar de alguma evidência em relação à existência de azulejos seiscentistas no Ex-Mosteiro, falta-nos estabelecer a ligação deles aos da Matriz. Também neste caso não possuímos documentação, para além da circunstância de os hipotéticos azulejos do Ex-Mosteiro estarem disponíveis à data (?) do azulejamento da Matriz e dos próprios fragmentos recolhidos nas terras do Ex-Mosteiro que, quanto aos P37, P35 e dentes de serra, se assemelham aos que estiveram recolocados na Matriz.[177]

         Não obstante a inexistência de provas concludentes, assim como a vulgaridade deste tipo de azulejos leva-nos, mesmo assim, por um lado, a procurar outros suspeitos e, por outro, a manter de pé a hipótese que os hipotéticos azulejos do Ex-Mosteiro pudessem ter contribuído em parte ou na sua totalidade para o azulejamento da Matriz.

 

OUTRO SUSPEITO: O Convento de Nossa Senhora de Guadalupe, vulgo Convento dos Frades da Ribeira Grande

 

 

Assim, examinemos outro candidato, o Convento de Nossa Senhora de Guadalupe. Situado mesmo na entrada poente da Ex-Vila e construído no primeiro quartel do século XVII.

         “... em 30 de Abril do ano acima [ 1612 ], se anteciparam clero e povo, em uma Segunda-Feira da Pascoela, em que se rezava dos Prazeres de Nossa Senhora e botaram a primeira pedra no edifício deste convento, ...”[178] e, “..., cantou-se a primeira missa nesta igreja [ Nossa Senhora de Guadalupe ] em 10 de Fevereiro de 1613 ...”[179] .As provas que dispomos acerca da existência naquele convento de Franciscanos de azulejos seiscentistas não são nem mais fortes nem melhores das que aduzimos para os dois candidatos anteriores. Sem documentos históricos ou vestígios arqueológicos só dispomos de alguns azulejos a ele atribuídos pelo Marquês de Jácome Correia.

         Num catálogo publicado em 1944, inserta na secção de azulejos, sob os números 8 e 13 o Dr.º Luís Bernado escreve: “ N.º 8 - Quadro em 4 ornatos de 4 azulejos cada um, em azul e amarelo sobre branco, e mais 2 azulejos em trechos separados; representando dois de eles, faixas e outro, um mascarão composto de acantos estilizados. Época, século XVIII. Este quadro foi oferecido ao Museu pelo Sr. Marquês de Jácome Correia em 1917- Os primeiros 16 azulejos, formando 4 ornatos, vieram do vestíbulo do Convento da Ribeira Grande, hoje Misericórdia, os outros, da antiga ermida de São Caetano situada nas areias de São Roque desta Ilha. “[180] E, no número 13 da secção refere:

         “Nº 13- Quadro com uma faixa em dentadura de 14 azulejos de diversos tamanhos e mais 5 ornatos de 4 azulejos cada um e um de 5 .- A faixa é pintada em azul e amarelo sobre branco e os ornatos em azul sobre branco, representando um mascarão e encadeamento de acantos estilizados. Século XVIII. -Este quadro foi oferecido em 1917 ao Museu, pelo Sr Marquês de Jácome Correia, tendo pertencido os azulejos da faixa ao Convento onde hoje se acha instalada a Misericórdia da Ribeira Grande,...”[181]

 

         Mais tarde, o eng.º Santos Simões, diz em relação a azulejos que viu no dito museu “ Muitos outros azulejos fazem parte da colecção museológica , a grande maioria pertencentes a grupos decorativos de padronagem policroma do século XVII, provenientes de demolições não só dos conventos da Esperança e de Santo André, de Ponta Delgada, como do antigo Convento de S. Francisco de Ribeira Grande, e da ermida de S. Caetano, nas Areias de São Roque.”[182]

 

         Quanto ao n.º 8, e no que concerne nos atribuídos ao Convento dos Frades, que corresponde ao Quadro n.º 384 [183] Santos Simões diz que são” A ) Padrões do tipo maçaroca, vulgar 2x2 de pontinhas, como os do quadro 398 “[184] quanto ao n.º 13 ( Quadro n.º 389 ) e um dente de serra ligeiramente diferente dos recolhidos na Matriz e no Ex-Mosteiro de Jesus mas idêntico aos da ermida das Caldeiras. [185]

         Trata-se, pois , segundo lemos e vimos de elementos P12 ( maçaroca , para o n.º 8 ) e dentes de serra ( ligeiramente diferentes para o n.º 13 ).

         Ambos os quadros encontram-se, presentemente, na arrecadação do museu. [186]

        

         Portanto, segundo o Dr.º Luís Bernardo, tais azulejos teriam, segundo informação do próprio marquês (?), vindo do Convento dos Frades da Ribeira Grande, aliás, tal como um quadro setecentista, representando o “ Cenáculo” que, se encontra no Palácio de Santana.

         “ II -Nossa Senhora de Guadalupe, do antigo convento de - Do refeitório do vetusto convento franciscano da Ribeira Grande, adaptado agora  a hospital, veio o grande painel de 14x16 azulejos mostrando, na parte central a representação do Cenáculo “[187] e mais adiante acrescenta :

 

         “... Tipológicamente poder-se-à colocar em época vizinha de 1735 -45 a julgar pelo estilo dos enquadramentos que se vêem em Santo André [ Vila Franca do Campo ]”.[188]

 

         Teria o Dr.º Luís Bernardo ou o Marquês de Jácome Correia feito confusão? Não o sabemos. Todavia segundo o testemunho do Senhos Jaime Ferreira Cabido que transmitiu ao Dr.º Jorge Gamboa de Vasconcelos o vestíbulo do Ex- Convento não teve azulejos, recordava-se, porém, da troca de materiais para restauro das cozinhas (?) pelo painel setecentista.

        

         A este testemunho aponho as mesmas reservas que referi quando analisei a ermida da Caridade. Em todo o caso registe-se a dúvida.

 

         Existe, porém, um outro vestígio circunstancial que, quiçá, pode reforçar as suspeitas Em 15 de Agosto de 1988 reparei, pela primeira vez, existir na ermida das Caldeiras, quer no seu corpo principal quer na sacristia um rodapé de azulejos ( tipológicamente ) seiscentistas. Mais tarde, descobri na casa ao lado, propriedade do senhor Humberto Viveiros, dois azulejos do mesmo tipo.

 

         O grande impulsionador da edificação daquela ermida foi, segundo Cabral de Melo, um ex-frade, egresso daquele convento, cujo nome era Frei José da Purificação:

         “10 a. Situada nas Caldeiras, a trez quartos de Legoa [ ? ]ao sul da Parochia ;da invocação da Senhora da Saúde; fundada, há poucos annos, por Dona Izabel Margarida Botêlho, na sua família e outras pessoas devotas a instâncias do Sabio, e virtuoso Padre Mestre Frei José da Purificação, da extincta Ordem Ordem de San Francisco, meu Sancto Patriarcha. Não tem Serventário. Tem de renda proveniente d’um juro 2 400 rs. “[189]

        

Num Acórdão da Santa Casa da Misericórdia da Ribeira Grande, datado de 30 de Setembro de 1839, o escrivão regista que pelas 10 horas da manhã daquele dia o Administrador do Concelho tinha dado posse do Edifício do Ex-Convento de S. Francisco aquela Santa Casa. Mais adianta se faz o diagnóstico do que se necessitava fazer para adaptar aquele edifício a Hospital: “ Concerto da cozinha do novo Edifício que vai servir de Hospital : desmanchando-se a Caza, que em outro tempo servia de despejos por se achar já de molida (sic ), e esta ter parte dos materiais, que se precisão para a mencionada cozinha.”[190] . Depois enumera, entre outros, o arranjo da casa e da cozinha do Boticário, o retelho geral de todo o edifício, o concerto da casa do Consistório que ficava sendo o lugar da sacristia velha ficando o local da Capítulo a servir de sacristia à igreja, arranjo de fechaduras novas para todas as portas.[191]

 

         Se em finais da década de 30 o ex-convento se encontrava a sofrer obras de restauro e adaptação, a julgar pela data do frontispício da ermida das Caldeiras, na mesma altura ou pouco depois, esta última, encontrava-se em construção. Não seria improvável que o egresso, empenhado como vimos, na construção da ermida, levasse para lá azulejos do seu ex-convento. Nada, porém, o impedia de os levar de outro local. Os conventos franciscanos das ilhas utilizavam muito aquele tipo de azulejo.

        

         Tendo desaparecido os Livros de Receita e Despesa daquele convento, só nos resta, talvez, tentar descobrir zonas de entulho do ex-convento e proceder a uma adequada intervenção arqueológica. Tal seria como procurar uma agulha no palheiro já que desde 1839 até ao presente, novos edifícios se têm implantado nos antigos terrenos.

         Atentemos a dois pormenores curiosos.

1- Os rodapés da dita ermida das Caldeiras são heterogéneos sendo constituídos por elementos dos Padrões 37, 35, 20, 12, C3 e dentes de serra ligeiramente diferentes dos que recolhemos nos outros locais.

        

         Para além do mais estes últimos são semelhantes aos existentes no museu Carlos Machado e atribuídos ao ex-convento de S. Francisco.[192] Quanto aos C3 só os encontramos na Capela de Nossa Senhora da Rosa.

 

         2-O Sr Humberto Viveiros informou-me que o seu avô construíra a casa onde veraneia junto à ermida há mais de sessenta anos e que nos alicerces da casa anterior o avô encontrara muitos fragmentos e azulejos iguais aos da ermida, entre os quais dois, que recolocou na sala de estar junto à lareira. [193]

        

         Entre as infindáveis questões sugeridas por estes indícios tento ponderar nas seguintes, sem todavia, querer ou poder esgotar as possibilidades:

        

         1- Não se sabe quando o rodapé foi colocado, sendo provável que o tenha sido na altura da construção da ermida (?)[194]

        

         2-Pela heterogeneidade dos seus elementos depreende-se que:

         a) Sobretudo pelos elementos p37. (6x6) que vieram dum edifício            com grandes superfícies parietais. ( não existia naquele local,   ermidas antes da construção da que nos referimos )

         b) Que iriam utilizar os conjuntos completos mas que, por qualquer          razão que desconhecemos, não o fizeram.

 

         3-Era intenção utilizar todos os que vieram do ex-convento mas a   Matriz antecipou-se ? ( As Caldeiras pertencem à paróquia da        Matriz  ).

        

         4- Não houve antecipação e foram utilizados os que sobraram do

         azulejamento da Matriz vindos.

 

         a) do Ex- Mosteiro de Jesus ?

         b) do Ex- Convento dos Frades ?

         c) de outro local tanto na vila ou fora dela?

O que sabemos ao certo é que, ao tempo provável da recolocação dos azulejos seiscentistas na Matriz, existiam na Ribeira Grande, e mesmo fora dela, azulejos disponíveis, assim sendo, como saber quem contribuiu.

        

OUTRO SUSPEITO: A IGREJA DE NOSSA SENHORA DA ESTRELA VULGO DA MATRIZ - R.G.

 

Teriam os azulejos recolocados na fachada da Matriz pertencido ao edifício anterior demolido em 1728 ?[195]

         Antes, contudo, temos de ensaiar provar que existiram, naquela igreja, azulejos seiscentistas do tipo dos que se presume terem estado na dita fachada.

         Foi o Dr.º Jorge Gamboa de Vasconcelos quem pela primeira vez insinuou esta hipótese “ Devem ter pertencido, pois, ou a outra dependência da igreja [ Matriz ] ou a outro templo, [ refere-se, neste caso, à ermida de Nossa Senhora da Caridade (s) ou da(s) Candeia(s) ]...”[196]

         Por um lado a Matriz, fundada no inicio do século XVI, [197] no século XVII, estava aberta ao culto e, por outro conhecem-se uma a outra igreja nos Açores azulejada no século XVII com aquele tipo de azulejos [198]

         Nos entulhos que “remexi” [199] na sua torre, reconstruída em 1701, [200] encontrei muitos azulejos e fragmentos do tipo em questão e, que tanto podem ser restos dos hipotéticos azulejos removidos em 1728 da Matriz, como também dos que sobraram (?) da sua recolocação ou ainda dos da remoção final em 1950’s.

         Só, talvez, uma análise mais aprofundada dos entulhos poderia ajudar a solucionar este enigma. Em qualquer das circunstâncias registe-se a possibilidade de os entulhos serem, em parte ou na sua totalidade, vestígios dos hipotéticos azulejos da dita igreja. O que não é de todo improvável, porém é difícil fazê-lo.

         Em primeiro lugar, os dados já adiantados não passam de meros indícios circunstanciais, em segundo lugar, desconhece-se a existência de Livros de Receita e de Despesa daquela igreja anteriores a 1674, período provável do fabrico dos azulejos em causa.

         Tanto quanto sei o Dr.º Luís Bernardo consultou o livro que começa em 1674 [201] ( que não pude consultar por desconhecer o seu paradeiro ) tendo encontrado referências a azulejos setecentistas e, [202] das duas uma, ou ele consultou todos os livros de Receita e de Despesa, nomeadamente a partir de meados do século XVII, e, nada encontrando se pode deduzir que não existiram azulejos seiscentistas, ou então, não os consultou e, mantem-se a possibilidade da Igreja os ter tido. Tanto mais que ele, por um lado, pode os não ter procurado e, por outro, a informação acerca deles pode ter sido inclusa noutro tipo de documentação. Temos vindo, por várias razões, a compulsar toda a documentação existente no Arquivo Paroquial, porém, nada encontramos.

         Estaria a igreja capaz de, no período em questão, de meados de seiscentos até finais do 3º quartel daquela centúria, receber tais azulejos?

         Vamos ver se, entre 1650 e 1680, existiu algo que impedisse ou desaconselhasse o seu azulejamento.

         1-” Em 28 de Setembro de 1612 caiu a capela - maior da igreja desta Vila, sendo de maneira muito formosa e a melhor obra que havia no bispado; e a 2 de Fevereiro de 1622 se cantou já missa nela, por estar já feito de abóbada (1) ”[203]

         2-” A torre da Ribeira Grande (sic), desta vila, caiu em 15 de Janeiro de 1681, com quebramento de seus sinos, mas, por indústria do licenciado reverendo padre vigário, o licenciado Jerónimo Tavares Homem, em 19 de Março de 1701, por estar de novo feita com sinos novos, se ouviram nela repiques (1)” [204]

         Ao que parece, entre 1622 e 1681, nada aconteceu que impedisse ou desaconselhasse a encomenda e colocação de azulejos do tipo em questão.

         Provamos a disponibilidade da igreja e insinuamos a possibilidade da sua existência, porém, há que provar que os hipotéticos azulejos foram recolocados na fachada.

         Em primeiro lugar, em 1681 a torre caiu “... pª. dentro da Igreja [ e ] quebrou huma naue e aRuinou alguma das outras;...”[205].Sendo as superfícies parietais das naves um dos locais prováveis de colocação de azulejos ( tal como se vê em St André-Vila Franca do Campo ), até que ponto aquele desabamento prejudicou os hipotéticos azulejos? Não me parece que a capela- mor os tenha tido visto que, em 1622 foi reconstruída e saindo”... obra tão excelente, como hoje se vê.”[206] Segundo diz Monte Alverne, se manteve, pelo menos até inícios de setecentos. Tanto mais que “ Em 1696, o licenciado António Pais de Vasconcelos ordenou que se azulejasse a capela- mor da Matriz da Ribeira Grande (2), “[207] acabando por sê-lo em 1710 [208].

         Se os teve então foram retirados antes de 1710. Quanto aos das naves (?), em parte, alguns teriam caído com o desabamento da torre em 1681 e, outros, em 1728:

         “ Começarão logo no desmancho dadtª. obra a qual aCharão toda deSpregada [ sic ] jncapax [ sic ] deq .[ ? ] offiCiais SobiSem [ sic ] atirar oa maSSames [?] eSe tinha empe por milagre.”[209]

         Mas se os azulejos foram retirados do interior da igreja, o mais tardar, ao que parece, em 1728, ( assumindo que ela os tenha tido), porque se esperou muito mais do que um século para os recolocar na fachada, já que, ao que suspeito, a sua recolocação ocorreu à volta de 1866 ? A igreja foi inaugurada em 1736. [210]

         Resta-nos, porém, a hipótese, da recolocação ter ocorrido perto da inauguração.

         Temos ainda duas questões a resolver.

         1- Partindo do principio que a recolocação teve lugar logo após a inauguração em 1736 com os azulejos removidos do interior, ainda nos falta saber se foi possível salvar azulejos em número suficiente, o que nos parece possível.

         2- Partindo dos mesmos princípios do ponto um, porém, situando a recolocação perto de 1866, levantam-se outras questões.

         a) Num tão vasto lapso de tempo os azulejos da igreja poderiam ter sido destruídos.

         b) poderiam ter sido recolocados em outros locais como por exemplo na casa da Rua do Botelho e da de São Vicente ) [211].

         c) Arrumados e mais tarde utilizados na fachada

         d) Utilizados com outros provenientes de outros locais no revestimento da fachada.

         O que acima se escreveu parece-nos plausível, porém, faltam-nos as provas.

        

 

OUTRO SUSPEITO: Igreja do Espírito Santo, ou Igreja do Senhor dos Passos ou ainda da Misericórdia Velha

 

         A igreja anexa ao antigo Hospital da Santa Casa da Misericórdia da Ribeira Grande, bem como as suas dependências, não deixa de ser um candidato plausível.

         Conhecem-se inúmeros exemplos de edifícios de Santas Casas com azulejos seiscentistas, destaco, o das Caldas da Rainha e, ao que parece o de Ponta delgada, na ilha de São Miguel:

         1-” ”Despendeo mais o pe. Almoxe. sento E sessenta mil rs por       compra de azulejo com que se azulejou a Igreja e oratorios das       enfermarias, E capella da pia da ditta Igreja “”. [212][ 1659 -        

         quadrilobos 4x4 e 2x2 / Caldas da Rainha ] [213].

 

         “. A designação explicita de “ mestre dos azulejos “ dada ao  defunto Matias Martins [ século XVII ] leva a crer que ele foi o         encarregado “ dos azulejos “ da própria Misericórdia os quais como      é sabido, desaparecem com os edifícios. “[214] [ Ponta Delgada ]

 

         Gaspar Fructuoso ao enumerar as ermidas sufragâneas de Nossa Senhora da Estrela diz que havia “... a do Espírito Santo, que é um sprital para pobres e doentes, situado junto á praça,... “ [215] Porém, só aos 7 de Novembro de 1592 a Câmara propõe e é aceite a ideia de se fazer na vila uma Misericórdia assentando “... que fosse na igreja do Espírito Santo, onde, de presente, estava o hospital, contíguo à praça, por ser sítio bastante para as oficinas que a dita Casa havia mister.”[216]

 

         Efectivamente os 24 “ mesteres” que governavam o dito hospital, aos  17 de Dezembro daquele ano, fizeram escritura pública de desistência a favor da nova irmandade que se reúne logo no dia seguinte. [217]

         Finalmente, a irmandade, obtém autorização do bispo D. Manuel de Gouveia aos 14 de Fevereiro de 1593.[218]

        

         Perto de meados do século XVIII e prolongando-se até quase finais do mesmo, procedeu-se à reconstrução do templo, suas dependências, bem como à construção dos passos Quaresmais de pedra e cal.

         Já em 1748, ao que parece, começaram as obras:

         “ D. Com Pedreiros Cavo quei ros [ sic ] Car pin teiros [ sic ]e homens deSer uir [ sic]...”[219]

         Aos 2 de julho de 1752”... por estar a obra deSta Stª. Caza por aCabar [ sic] e Ser Comuiente [ sic ] dar Se lhe [ sic ] fim ...”[220] foi proposto e aceite que “... fiCaCe ames ma. menZa [ sic ] por ter por pran -Cipiado [ ? ] a mesma orbra [ sic ]...”[221]

 

         Dois anos volvidos repete-se o mesmo e justifica-se “..., que por eStar Varias obras por aCabar fronteSpiCio [ sic ], adro, Coro, e mais obras neCeSSarios adicta j greja [ sic ] dami zeriCordia por fazer, e Ser [ sic ] Conviniente [ sic ] dar Se lhe fim ; fiCaSSe a mesma menza,...”[222]

         No ano seguinte repete-se “... que por eStar uarias [ sic ] obras por aCabar. Fronte adro Coro emais obras neCeSarias [ sic ] adita Igreja [ sic ] da miZeri Cordia [ sic ] por Fazer e ler Comveniente [ sic ] dar Ce lhe fim ...” [223]

         Aos 22 de Dezembro de 1768 os irmãos acham que “... eraividente aperSizão qe. tinha aCazado [ sic ] os pital [ sic ] de Se fazer de novo por eStar totalmte. perjudiCada e Com perigo evidente dehuma grde. Ruina pella inCapaSide. Com q-. Se aChava...”[224]

 

         Aos de Outubro de 1773, dizem “... pella nCiCide. [ sic ] em que a igreja [ ? ] deS ta Stª CaZa Se aChaCe finde  [ ? ] o Coro e adro e portas dela...”[225]

 

         Mas, quer no interior quer no exterior, procedia-se a obras: “... o gasto q- fes Com a ComduSão da Agoa da fonte q- Corre no fronteEspiÇio desta Stª CaZa que emportou em trinta e SinCo mil outo Centos e outenta Reis e tambam aprezentou o gasto q- fes o Svalho da Igreja  [ sic ]...” [226], ou ainda, “... aCordaraão[227] Se fizeSe vestoria No Retabollo  [ sic ] do Altar de NoSa Senhora do Amparo Cujo fes o mestre dionizio de fontes e na Sua prezenSa Se avaliou pella mesma Meza toda a obra...”

 

         Finalmente, em 1790, os irmãos estendem a sua acção aos Passos”...fazer os Santos Passos de pedra e Cal a emitação  [ sic ] dos PaSSos daSide. e da Villa da Lagoa...”[228]

         Nesta conjuntura, parece-nos mais “lógico” que, a terem existido azulejos seiscentistas na igreja e nas dependências da Santa Casa da Misericórdia da Ribeira Grande, decerto que eles teriam de ser removidos.

         Todavia, não dispomos de quaisquer documentos, não obstante termos compulsado toda a documentação do seu Consistório referente ao século XVII, [229] daí sendo mais provável concluir-se que os não tenha tido ?

         A não ser que esta informação tivesse sido registada em outro tipo de documentação ou, ainda, quiçá, tratar-se-ia de uma doação não registada.

         Partindo do princípio que os teve, ainda temos de explicar que eles foram removidos a tempo de serem recolocados na fachada da Matriz, já que sem provas, não podemos provar que para lá foram, ao menos se insinue que estavam (?) disponíveis.

         Ora, as demolições em questão nos diversos edifícios da Santa Casa ocorreram no século XVIII, a partir de 1740, S, tendo-se prolongado, no que nos interessa, até finais do terceiro quartel daquele século. Tudo isso ocorre, depois da inauguração da nova Matriz em 1736 e antes de 1866, data em que Cândido Abranches terá provavelmente acabado o seu Álbum.

         Neste período os hipotéticos azulejos seiscentistas da Misericórdia estavam disponíveis.

         Tudo pode ter acontecido, todavia, tudo parece depender da data da recolocação dos azulejos na Matriz.

        

         1-Se a Matriz já estivesse azulejada, os disponíveis  (?) da Santa Casa poderiam ter sido disseminados por casas particulares, saído do concelho, destruídos ou armazenados”. Para as duas primeiras hipóteses conhecem-se precedentes:

         a) Vestígios em algumas casas da ex-vila [230]

         b) Pelo menos o Marquês de Jácome Correia levou alguns [231]

        

         2- Se, porém, a Matriz ainda não estivesse azulejada o mesmo acima referido poderia ter acontecido, acrescentando-se todavia, a hipótese de:

         a) terem sido eles na sua totalidade a revestirem a fachada da dita     igreja ou:

         b)de terem contribuído em parte.

 

         Em todo o caso, mesmo que os tenha tido, nada nos obriga a aceitar que tenham ido para a Matriz.

         De entre, todos os suspeitos já referidos, e de acordo com os dados que avançamos, parece-nos ser este o candidato mais improvável.

         Para além dos suspeitos já debatidos insinuam-se outros, [232] ainda que remotos, nomeadamente, algumas casas particulares.

 

 

OUTROS CANDITATOS: Casas Particulares (?)

 

         O eng.º Santos Simões que, “ in loco”, estudou, queremos crer, a maioria dos azulejos dos Açores e da Madeira, referindo-se às diversas manifestações artísticas insulares, entre as quais, o azulejo afirma que estes existiram .

        

         “ Nos velhos conventos, nas igrejas paroquiais, nas ermidas e capelas particulares numa ou noutra casa nobre ou nos prédios urbanos de algum porte... “[233]

         Porém, compulsando o seu livro e, no que concerne os azulejos seiscentistas dos Açores, a expressão “ numa ou noutra casa-nobre, resume-se tão-somente a um espaldar de muro da Quinta do Pico da Urze, na ilha da Terceira, onde ele encontrou um P28 raríssimo. [234] Diz, textualmente que a dita quinta “..., possui vestígios de ter sido outrora mimoso retiro ou freiria.” [235], mas então “ Dispostos a granel...” [236], sinal de que poderiam ter vindo de outro local.

         A inexistência, ou quase inexistência de vestígios seguros de utilização de azulejos seiscentistas nas casas particulares Açorianas aconselha-nos e autoriza-nos a conjecturar que provavelmente os que encontramos dispersos em casas particulares da Ribeira Grande vieram de edifícios religioso ?[237]

         Não repugna, porém, que pensemos o contrário.

         1-A Ribeira Grande pode ter constituído uma excepção.

         2-O eng.º Santos Simões pode ter visto tudo.

         3-Mesmo que visse tudo, isso só provaria que ele somente viu os que sobreviveram, mas não todos aqueles que de facto existiram. Em todo o caso, cada caso, deve ser estudado em si mesmo.

         Por exemplo, caso se confirme a correcção da data de 1948 ou 1949,[238] adiantada pelo Dr.º Barbosa, no que concerne os azulejos que ele encontrou soltos no edifício do Externato Ribeiragrandense, inclinámo-nos para esta possibilidade, tanto mais que os azulejos da Matriz só foram removidos em data incerta mas seguramente após Abril de 1952 e antes de finais de 1957. [239] Terá feito confusão ?

         No seu livro “ Memórias da cidade futura”, ele diz que “ Formalizado este acto em 11 de Novembro de 1948, procedeu-se à mudança do mobiliário e material didáctico para o edifício da Rua Sousa e Silva, número sete, previamente arrendado pela Câmara, e à preparação do novo ano lectivo. “[240]

 

         Todavia, quer descrevendo o edifício como o encontrara quer registando as diversas obras que foi sofrendo, mormente, as de adaptação a instituição de ensino, nada diz a este respeito. Estes azulejos estiveram recolocados na sala das alunas, disse-mos ele, porém, quando a descreve nada diz:

 

         “ A sala das alunas ficou situada no primeiro andar, por cima da aludida aula, com janela voltada ao norte sobre os recreios e entrada pela sala interior, esta uma espécie de plataforma que, além da referida serventia, dava acesso a várias aulas, à sala dos professores, à escada  e ao recreio das alunas, através do balcão exterior. “[241]

 

         Para além do mais, instado noutra ocasião, declarou que segundo ouviu foi o comandante Armando Soares, antigo proprietário daquele edifício, quem os ali arrumara, provavelmente vindos da Matriz e, que mais tarde ele ( Dr.º Barbosa ), por motivos estético - didácticos os recolocara na sala das alunas. [242] Registe-se que o edifício tem um cunho acentuadamente seiscentista.

         Eram de lá ou foram lá parar ? Como foram lá parar ? Quando? Para além do que já dissemos notamos que estavam a esmo e incluíam elementos de padrões de grandes dimensões ( P37 6x6   P35 4x4 ) indiciando uma utilização em grandes superfícies parietais.

 

         Estando soltos e a esmo, em 1948 / 1949, antes das obras de restauro e, no chão da antiga cozinha, como nos disse o Dr.º Barbosa, leva-nos a supor que, ou a casa estava desabitada há muito tempo, o que não nos parece provável, e assim eles ter-se-iam conservado, ou então não poderiam ter lá estado há muito tempo pois correriam o risco de soltos e na cozinha se terem extraviado ?

         Um outro indício desta hipótese é-nos insinuada pela existência em casas da Rua do Botelho ( faz canto com a de São Vicente Ferreira ) e da rua de São Vicente Ferreira ( quintais separados pelo mesmo muro ) de azulejos seiscentistas que já lá se encontravam antes de 1932 [243],isto apesar da primeira casa ser de cunho setecentista, já que naquele local poderia ter existido uma do século anterior.

        

         Esta informação foi-nos dada no dia 16 de Abril de 1989 pela senhora Maria das Mercês Rodrigues nascida aos 28 de Março de1915 filha de António Rodrigues “ Batacão”.

 

         Aos dezasseis anos de idade, em 1931, a família Rodrigues foi morar para a casa dos “ azulejos” na Rua do Botelho, lá permanecendo, pelo menos, até 1948. [244]

        

         Afirmou-me que já em 1431 os encontrara recolocados (?) no muro que faz a divisória com a casa da rua de São Vicente Ferreira, ao fundo do quintal, dois ou três degraus abaixo do nível do terreno. [245]

         Para confirmar estes dados, primeiro consultamos os Roes Quaresmais da Matriz e verificamos que o Sr António Rodrigues “ Batacão” ( Moleiro e Farinheiro ) morara, efectivamente, na rua do Botelho desde a Quaresma de 1932, onde se vê a nossa informadora com idade de 17 anos, até, pelo menos 1948. Na Quaresma de 1951 já lá morava o Sr Jacinto da Silva Piques e a Senhora Maria de Lurdes Cabral.[246]

 

         Em segundo lugar entrevistamos o actual proprietário, o senhor Albano Cabral de Melo que nos afirmou tê-los arrancado do local referido pelo senhora Maria das Mercês Rodrigues. [247] O que resta deles foi-nos oferecido pelo Sr Cabral de Melo.[248]

         Na casa ao lado, na rua de São Vicente Ferreira, numa cozinha já desmanchada, o Mestre Augusto Rocha (Çafate) arrancou azulejos que ,eram parecidos com os do Colégio ( Externato Ribeiragrandense) e que, segundo ele eram do tempo da senhora Marquinhas Marota. Portanto, estavam lá muito antes de 1940. Não os vi ainda. Aquele mestre teve oportunidade de conhecer os azulejos do “ Colégio” já que era “... o carpinteiro da casa, mestre Miguel ( depois, mestre Augusto Çafate ),...”[249] Além do mais tendo trabalhado na casa do Sr. Luís Mota em Ponta Delgada viu um painel 2x2 camélia ( P20 ) referiu ao mesmo que tinha igual na sua cozinha.

         Todavia, sem os ver e sem os estudar não me predisponho a aceitar a sua existência, ou melhor a existência de azulejos seiscentistas de padrão. por um lado o Mestre Augusto pode ter confundido por outro pode ter exagerado ou veiculado informações incorrectas. Tentou, por exemplo me convencer que uma fotografia ( postal ) da Matriz que mandara ampliar era de 1819 quando foi ele ou alguém da família que a lápis de cor escreveu no original ( vi ambos na sua casa ) aquela data.

         Por último, encontrei solto no quintal da casa do falecido senhor Angelo Ledo, avô materno da minha esposa, um azulejo e um fragmento de cercadura sublinhado a traço de roxo de manganês.[250] Infelizmente, nem a viúva nem os familiares me souberam explicar a sua proveniência, em todo o caso foi o senhor Angelo que os trouxe não se sabe de onde. [251]

         Não encontrei em mais nenhuma parte aquele tipo de cercadura.

         De onde vieram, então os azulejos, que estiveram no Externato, na casa da Rua do Botelho e a cercadura da rua de Sousa e Silva ?

         Os primeiros dois provavelmente não vieram dos removidos em 1950,s da fachada da Matriz. Podem ter tanto pertencido a edifícios civis como a edifícios religiosos.

         As hipóteses que se abrem são quase infinitas.

         De uma análise morfológica aos que vieram da torre da igreja Matriz, do Externato ( encontrados na arrecadação da Câmara ) e da casa da rua do Botelho, verificamos serem os azulejos em tudo iguais. [252]

         Ensaiando o mesmo através de fotografias da fachada da Matriz azulejada [253] e do que nos diz a esse respeito o Dr.º Luís Bernardo depreendemos que existiram na fachada azulejos do tipo dos da torre dos do Externato e dos da casa do Botelho.

1- “Revestindo as paredes laterais da grade do côro baixo do convento da Esperança [ verifiquei-os in loco “], aparecem alguns modelos, assim como na fachada da Matriz da Ribeira Grande, na ermida da Caloura do Sr. António Albuquerque ( Fot. 27 e 28 ),... [ P37 e P20, pelo menos] ”.[254]

        

2- Fotografias. É pelo menos visível elementos do P35. O que pensar então?

 

1- Cartografam o itinerário dos azulejos e revelam um origem comum seja de Lisboa seja do local onde estiveram primitivamente colocados ou posteriormente recolocados ou posteriormente recolocados ?

 

2-Podem deixar subentendido que vieram da Ribeira Grande ou mesmo de fora dela em épocas e de locais diferentes ?

 

3-Insinuam a sua utilização em edifícios particulares ?

         Em todo o caso trata-se de azulejos seiscentistas de padrão policroma, reconhecidamente de fabrico lisboeta do 3º quartel do século XVII. (?)

 

CONCLUSÃO DESTE CAPÍTULO

 

É relativamente seguro afirmar-se que a Ribeira Grande possui azulejos seiscentistas encomendados e colocados naquele século, num ou em vários edifícios daquela ex-vila. É seguro afirmar-se que os teve recolocados vindos não se sabe de onde. [255]

         Não é totalmente improvável que os que foram recolocados na fachada da Matriz tivessem vindo fora do concelho, porém, sendo mais provável que tenham vindo da própria ex-vila. por um lado, existem vários candidatos suspeitos de poderem ter contribuído para o azulejamento da Matriz, por outro, existem alguns vestígios arqueológicos e uma atribuição.

         Os vestígios arqueológicos encontrados nas terras do Ex-Mosteiro de Jesus ( Ribeira Grande ) atestam que ( ou podem atestar ) neste local, ou muito próximo dele existiram azulejos seiscentistas aí colocados primitivamente, já que ninguém de fora do concelho os iria aí entulhar. Seria mais prático e mais económico, atendendo à carestia e dificuldade de transporte, fazê-lo mais perto.

         “ Pelas onze horas e meia da manhã de 21 de septembro 1848 punha pé dentro do barco Águia do Norte, e sahiamos do caes da cidade de Ponta Delgada, caminho do porto da villa da Povoação, para o nascente, onde saltámos pelas seis horas da tarde do mesmo dia.”[256]

         Isto era o tempo que levava por via marítima, mas mais à frente na mesma obra o autor refere que gastou ( salvo erro, mais de onze horas (?) de burro no percurso da Povoação à vila de Nordeste .[257]

         E, quanto aos preços, Teodoro de Matos adianta que “ sobre o custo do transporte terrestre em Portugal, muito pouco pode concluir-se para o que importava conhecer, já que as pontes são escassas e pobres e, a multivariedade de preços dificulta para já qualquer sistematização. “[258] Porém, conclui que, “ A deslocação terrestre, quando possível, era cara. “[259]

         O local mais habitual de lançamento de entulhos na Ribeira Grande é, e talvez o tenha sido também no passado, o mar e a beira-mar. Aqui diz-se ( dizia-se ? ) frequentemente que se ia “ lançar lixo pr’o calhau  “.[260] Inclusive foi para a beira-mar que foram levados os fragmentos e o reboco da fachada da Matriz.[261]

         Porém, hoje, tal como talvez outrora, verifica-se que em certos locais onde se explorou tufo e cascalho, os proprietários compram ou pedem entulhos de modo que, numa primeira fase, se preencham as covas e, numa segunda, se recubram estes com uma camada de terra arável.[262]

         Todavia, sabendo-se que os edifícios do Mosteiro foram demolidos, não seria mais lógico que os novos proprietários do Ex-Mosteiro , tivessem utilizado os entulhos resultantes das demolições para preencherem as covas e os vazios deixados pelas mesmas ?

         Quanto ao fornecedor da fachada da Matriz, apesar de muitas reticências e de nenhuma prova concludente, inclino-me a pensar que o principal, se não o único, fornecedor teria sido o Ex-Mosteiro de Jesus da então Vila da Ribeira Grande. Continua, porém, de acordo com as provas que dispomos, bem como da interpretação que delas fizemos, a ser o principal mas não o único suspeito.

        

         Se assim for, os da fachada da Matriz, situação curiosa de utilização oitocentista de padrões seiscentistas, em parte ou na sua totalidade teriam vindo do Ex-Mosteiro. Ou então, para os não convencidos e, eu sou um deles, dever-se-ia concluir que os da fachada da Matriz espelham e reflectem todas as dúvidas que temos acerca do seu local primitivo.

         Em todo o caso, terá valido a pena o esforço ? Creio bem que sim. Nem que fosse só para tentar suavizar a visão cinzenta e pessimista de Marguerite Yourcenar acerca da história e do historiador de que este último “..., dispõe de novo esta dócil matéria morta, e eu sei que Alexandre escapará sempre mesmo a Plutarco. “ [263], teria já valido a pena. Ao menos verifiquei que, não obstante corrermos o risco de Alexandre escapar sempre ou quase a Plutarco ( e com este era inevitável que o fosse ) a matéria não é nem  tão doce nem tão morta quanto se possa supor.

         A história, mesmo quanto dá resposta, quase sempre parcial, a perguntas e a questões formuladas, estas nunca constituem um fim mas um meio para atingir outros “ fins-meios” e, assim sucessivamente.

         É desta dinâmica ( natureza ) que resulta o conhecimento histórico.

 

CAPÍTULO IV

 

Preparação, tratamento, conservação

e exposição museológica dos azulejos

seiscentistas de padrão policromo da

Casa da Cultura da Ribeira Grande 

 

Visamos nos capítulos anteriores, primeiro, o conhecimento dos nossos azulejos seiscentistas, integrando-os no contexto histórico-artístico do nosso país e da região, seguidamente, tentamos clarificar a sua “ biografia”, e, neste último, discutiremos finalmente aspectos da sua conservação, tratamento, e  exposição museológica, já que este estudo se destina a orientar a musealização de um núcleo azulejístico a constituir na Casa de Cultura, bem como a sugerir o roteiro azulejístico do concelho.

         Antes, porém, convém esclarecer dois conceitos indissoluvelmente interligados entre si e ao conceito de exposição, a saber: Conservação e restauro.

         Defino conservação como a aplicação da ciência à análise e ao tratamento das obras de arte, quaisquer que sejam, e ao estudo do ambiente em que se encontram inseridas.[264]

         Restaurar, sendo uma parcela importante e primordial da conservação, “ não implica reconstituir a obra de arte devolvendo-a ao seu estado inicial mas sim impedir a deterioração dos materiais originais respeitando a integridade material e estética da obra”.[265]

         Abordaremos esta problemática almejando a elucidação de aspectos concretos do restauro, conservação e exposição do nosso núcleo permanente de azulejos seiscentistas, em dois locais distintos, antes e após a exposição, quer na sala de exposição quer no depósito.

         Primeiro encetaremos o restauro ( fixação dos esmaltes e remoção das argamassas ), entraremos na primeira fase preparatória da exposição padrão em painéis, por exemplo, entre outras tarefas ), e, por última, tendo em conta as condicionantes ambientais de conservação específicas ao azulejo e a todo o material utilizado, designadamente, madeira e ferro inoxidável, alcançaremos a segunda e última fase do percurso. Nesta, à exposição dos painéis, deverá presidir a criteriosa ponderação, quer de aspectos objectivos de conservação, história e exposição, quer de aspectos subjectivos de ordem estética.

         Comecemos pela conservação dos azulejos e do seu núcleo. Qualquer que seja a expressão artística esta pressupõe sempre um suporte material e o seu envolvimento ambiental, no nosso caso, os azulejos seiscentistas a expor na capela anexa à Casa de Cultura, defenindo-se este último aspecto, em relação aos azulejos, “ como o conjunto de todas as influências exteriores à mesma[ expressão artística do azulejo ]” [266]

         A humidade, a poluição atmosférica e a luz constituem os principais factores ambientais, que “ actuando em conjunto, podem concorrer para a sua destruição”. A solução para que possam ser estudadas, observadas e admiradas, será a criação de condições  que possibilitam o mínimo de deterioração, o que implica conhecer para cada caso concreto : o material, as condições ambiente de exposição, as possibilidades de criação de máxima preservação”[267]

         1.O azulejo e o seu suporte de madeira e a humidade.

         a) O suporte directo dos painéis de azulejos será o acrílico, porém, estes painéis, assentar-se-ão numa pequena estrutura em madeira sacada da parede e presa a quatro braçadeiras em T de aço inoxidável, por conseguinte, há que conhecer a reacção ambiental daquele material.

         “O equilíbrio higroscópico da madeira é um equilíbrio dinâmico, uma vez que o material lenhoso está continuamente a perder ou a adquirir água, resultado da higroscopicidade das substâncias fundamentais constituintes do lenho - a celulose e a lenhinha”[268]

         “ Donde, a vantagem de se manter a humidade dos locais onde estão armazenadas peças cujo o suporte é a madeira, doutro modo haverá adsorsão e desadsorsão com resultados maléficos...”[269]     

         Temos ainda que considerar a espessura e a densidade da madeira bem como o seu E. M. C (equilibrium moisture content) com a H. R. (humidade relativa) e a temperatura ambiente, de modo a não alterar o seu equilíbrio dinâmico [270] Stolow apresenta em gráfico o estudo desta correlação [271]. No nosso caso, e mesmo antes de se proceder ao estudo da humidade, julgo que uma taxa de 55% mais ou menos 5% e uma temperatura de 18º C mais ou menos 2º C, contribuirá para manter o E.M.C. Além do mais, como o suporte é indirecto não corremos o risco de prejudicar os azulejos. Há, todavia, que ter cuidado, não vá a estrutura apodrecer e deixar cair o painel.

b) Os azulejos

 

         Os azulejos constituem o material a expor e a conservar já que se trata de um núcleo asulejístico, porém, os barros sendo materiais que absorvem a humidade ambiente em menor extensão não variam apreciavelmente em dimensões. Nestes materiais a “ absorção de humidade - evaporação “, traduz-se por “ solubilização - cristalização “ de sais em superfície  ou para grandes variações de temperatura, que não é o nosso caso, rupturas por gelificação, tudo se mostrando por uma erosão de superfície.[272]

         A superfície esmaltada dos nossos azulejos é menos higroscópica, porém, tardoz, é mais vulnerável, ainda que esteja colado ao acrílico, todavia, seja o local escolhido, o interior da capela, seja a H. R. existente, mesmo sem leituras, permite-nos antecipar tarefa fácil. Em todo o caso, deve-se estabelecer um padrão constante de humidade e temperatura.

 

c) Fotografias e legendas explicativas

                                                

         O suporte de papel das legendas e das fotografias também tem que ser considerado evitando-se os desequilíbrios físico-químicos com o meio, além da tinta utilizada nas legendas e os químicos fotográficos, que exigem cautelas mais complexas. Todavia, há que, para além da luz, controlar a humidade e a temperatura.

 

         d) Parafusos metalizados e braçadeiras de aço inoxidável

         Estes elementos de fixação dos painéis, tal como os demais metais, em maior ou menor grau, podem sofrer os efeitos do oxigénio, gases sulfurosos, sulfírico e impurezas salinas da atmosfera na presença de humidade. “ O efeito corrosivo das impurezas salinas a elevada humidade é importante” [273] conhecendo a nossa altíssima taxa de humidade, e, sabendo que, ruindo estas estruturas, caiem os painéis, devemos manter a humidade em taxas constantes e médias ( 55 a 60% / 18% a 20ºC )

e) Cola e acrílico

 

         Não nos devemos preocupar quanto ao segundo, porém, quanto ao primeiro, há que ter cuidado.

         2. A exposição destes materiais à poluição atmosférica

         “Além da humidade e temperatura devemos encarar um terceiro factor - a composição atmosférica ambiente. De entre os agentes de poluição repartidos pelos dois grupos: partículas poluentes ( fuligem, fumos, poeiras ),poluentes químicos ( dióxido de enxofre ), os indicados são os mais importantes em problemas de conservação” [274]

a) Madeira  b) Metais

         O mesmo que se disse em relação à humidade.

         c) Azulejos

         “ Como nos têxteis é importante a deposição de partículas de carbono e alcatrão combinado com o ataque gradual de SO2 convertendo o carbonato de cálcio em sulfato de cálcio. Não é tão marcante o efeito nas peças de museu como nas de exterior expostas à chuva e a variação de temperatura mais marcadas conjuntamente com os poluentes” [275]

Utensilagem técnica

“ O conhecimento das condições do ambiente deve ser feito com material adequado, a H. R. e a temperatura pelo uso de termohigrógrafos. Para os poluentes do ar U. K. Air pollution Laboratory at Warren Sping tem um método semi-automático de medida de partículas e SO2, por aspiração,  do ar ,primeiro através de um papel de filtro e depois através de uma solução de peróxido hidrogénio tanto as partículas com o SO2 são registadas diariamente precisando  o aparelho ser visitado apenas um vez por semana ”[276]

                   3.A luz e os objectos do museu

         “ Dos efeitos de luz sobre as obras de arte, -iluminação, valorização estética e degradação salientaremos este último aspecto...” [277], isolando-o, por conveniência de exposição, do contexto ambiencial do qual impossível destacá-lo na prática. [278]

         “ As radiações visíveis e invisíveis sejam de origem natural ou artificial oferecem perigo a certas  categorias de obras de arte. A pedra, a cerâmica e os metais são pouco sensíveis à luz. Vidros e esmaltes ( azulejos )expostos por grandes períodos e radiações intensas podem alterar-se.”[279]

         As degradações sofridas pelos objectos dependem da qualidade e quantidade de radiação a que estão sujeitas. Assim são tanto mais graves as alterações se a radiação é tanto mais rica em azul, violeta e ultra-violeta, se a radiação ultra-violeta é do comprimento de onda mais curta, se o tempo de exposição é mais longo, se a intensidade da radiação global ( em watts) na direcção do objecto é maior, se a uniformidade de iluminação energética do objecto ( em watts por cm2) é má, e se a temperatura e humidade são maiores, e conjugam a sua acção. [280]    

         Constituem fontes de iluminação, o sol, as lâmpadas de incandescência ( lâmpadas vulgares, lâmpadas de halogénios ), e as lâmpadas de descarga ( tubos fluorescentes, balões fluorescentes e luz mista ).

         Em termos de exposição museológica “ há a ter em conta o grau de iluminação, a composição espectral da luz e a natureza do objecto”.[281]        

         Sabe-se que, quanto aos azulejos, é um dos objectos praticamente insensíveis à luz, cujo máximo de valor de iluminação recomendada é sem limite mas sujeito à exposição e aquecimento.[282]                              

         Medição e análise da radiação

 

         “ Para a conservação das obras de arte sensíveis à luz ( não é esse o

caso dos azulejos )         é necessário conhecer-se as radiações recebidas pelos objectos. Estando o poder destruidor não só ligado à intensidade da radiação como ao seu comprimento de onda, é necessário não só conhecer a intensidade como analisar a sua composição espectral. Deste modo, deve o conservador possuir três categorias de aparelhos: Luxímetro, aparelho para detecção e medida da radiação U. V. e indicadores de temperatura” [283]

         “ Quando o conservador expõe as peças no Museu, conhecendo-as sob o ponto de vista material, situação histórica e qualificação estética, vai distribuí-las num espaço, como variável terá o ambiente-humidade relativa, temperatura, poluentes do ar e a luz, factores com os quais terá de jogar sabiamente para dar à obra e ao visitante o ambiente adequado”[284]

         Do que ficou acima exposto, esclarecemos o modo como os azulejos e os materiais de apoio reagem a um dado ambiente “tipo”, resta-nos, adequar aqueles conhecimentos ao ambiente específico em que ficarão expostos e armazenados, tal como já se disse, na Capela anexa à Casa de Cultura.

         Os potenciais agentes de degradação discutidos e analisados, influenciam muito pouco o azulejo e o seu material auxiliar, já que os vamos expor no interior de uma capela, cuja amplitude térmica e taxa de humidade ambientais, não é, para o primeiro caso muito elevada, e para o segundo, apesar de elevada, entre 60 a 80%, mantém-se constante, além do que o próprio azulejo ter tido sempre um “... papel de estabilizador das temperaturas e humidade ambientais...”[285]

         Por uma questão de se proporcionar um ambiente agradável ao visitante, e até mesmo manter constante o ambiente, julgamos que se deve recomendar uma temperatura ambiente constante à volta do 18 a 20º centígrados e evitar que a humidade suba acima dos 60%. Por conseguinte é necessário adquirir material, designadamente, um termohigrógrafo que regulará a temperatura e a humidade.

                   Quanto à iluminação artificial, já que o interior da capela tem pouca iluminação natural, dever-se-à proporcionar ao visitante uma ambiência que lhe permita uma leitura fácil e agradável do material azulejístico exposto evitando-se as fontes luminosas directas sobre os azulejos, não para evitar a degradação do material, que tal como já vimos é insensível à luz, mas para evitar excessos de reverberação que confundiriam e impossibilitariam a perfeita percepção dos azulejos.

         Não se deve, nem se pode de todo eliminar o reflexo da luz sobre a superfície esmaltada do azulejo, até porque eles foram concedidos para reflectirem a luz, seja a do sol, quando colocados no exterior, seja a das velas, candeias, e das tochas, quando no interior.

         Temos, pois, que conjugar os imperativos estéticos com os inerentes à sua autenticidade histórica, nomeadamente, aproximar a sua exposição museológica da sua primitiva ambiência expositiva.

         Sabendo que os nossos azulejos são seiscentistas e que, muito provavelmente, estiveram primitivamente colocados no interior de um edifício religioso temos que ponderar e decidir o tipo de iluminação que mais se aproxime da primitiva, sem contudo, descurar nem o visitante actual nem a segurança do edifício. Afigura-se-me quatro hipóteses.

         1. A autenticidade quase absoluta seria obtida através do recurso ao tipo de iluminação utilizada no interior dos edifícios religiosos no século XVII. Obteríamos, assim, efeitos muito próximos dos primitivos, mas, descuraríamos, de certo modo, o visitante e teríamos de resolver problemas de segurança, o que aliás era viável.

         2. Fazer-se tábua rasa do primeiro ponto e optar por uma iluminação artificial, sem mesmo atender à proximidade da luminosidade primitiva, é também defraudar o visitante.

         3. Escolher uma luz artificial que reflicta a intensidade das primitivas fontes de iluminação.

         4.Conjugar a iluminação primitiva com a iluminação artificial moderna.

         Julgo que a exposição museológica se deve aproximar o mais possível do contexto original, e como tal, se deve combinar sensatamente as fontes de  luz primitivas e actuais.

         A superfície esmaltada dos azulejos deverá ser periódica e cuidadosamente limpa com um pano de lã embebido em água destilada e ser recoberta por uma camada fina de resina incolor de modo a fixar o esmalte.

         Os azulejos que não serão expostos, os que se repetem e ou os que estão muito danificados, destinar-se-ão ao “ armazém do museu”, mas deverão igualmente ser resinados, sendo, porém, desnecessário, e até desaconselhável, para estudo posterior, a remoção da argamassa do tardoz, bastando o seu encaixotamento em local seguro.

         Serão colocados em caixotes de madeira, juntando-se superfície esmaltada com superfície esmaltada. A humidade e a temperatura pode ser a H. R, sendo a luz desnecessária.

         Mal recolhemos os nossos azulejos tivemos o cuidado de pensar nas condições da sua preservação, mesmo antes da sua exposição, e tendo apurado que as condições reais ambientais não eram desfavoráveis, só nos preocupamos com a fixação da superfície esmaltada.

         Seguiu-se-lhe o estudo, no qual se inclui a preocupação de encontrar o local ideal para a sua colocação, tanto do ponto de vista histórico como do ponto de vista da autenticidade ambiental.

         Julgamos que, apesar das incertezas quanto à primitiva proveniência dos nossos azulejos, o lugar que melhor se aproxima, até porque disponivel, quer no aspecto histórico quer no museológico, é o interior da capela de São Vicente Ferreira, anexa à Casa de Cultura, já que manterá a ambiência religiosa a que, quase de certeza, eles pertenceram.

         A escolha do local é norteada, por conseguinte, pela preocupação de os devolver ao seu ambiente primitivo, mesmo que a capela seja setecentista e os azulejos seiscentistas.

         Em todo o caso a maior parte deles veio de parte do frontispício da Igreja da Matriz da Ribeira Grande, que tal como já se disse foi azulejada, em parte ou na sua totalidade, no século XIX com azulejos seiscentistas.

         Fomos igualmente confrontados com um dilema, ou constituía-mos padrões, tal como o eng.º Santos Simões aponta no seu livro, e teríamos de utilizar elementos recolhidos em locais diferentes e quiçá, de origem diversa, ou então, teríamos uma multiplicidade de padrões incompletos.

         Para além deste facto, sabemos que nem sempre os padrões foram colocados ou recolocados correctamente, ou melhor como indica e propõe o catálogo do eng.º Santos Simões.

 

         Muitas vezes, seja pelo desconhecimento dos mestres que os colocaram ou por outros motivos, decompôs-se quer na altura da sua colocação quer na recolocação padrões 4x4 P35 em desdobramentos de 2x2, como se pode ver nos exemplos da capela de Nossa Senhora do Cabo, na Vila da Lagoa, e como se via, através da fotografia, na fachada da Igreja Matriz da Ribeira Grande ( Ver quadros XI e XII ) FOTO- 3

 

         Mais por razões estético-pedagógicas do que por razões historicamente comprovadas, ainda que seja plausível que tenham sido correctamente colocados na Ribeira Grande, aliás, tal como sucede, e no que concerne ao P 37, ao Ex-Mosteiro de Santo André de Vila Franca do Campo, optamos pela sua exposição em padrões 4x4 P35 e 6x6 P 37.

         Há, que ter em conta, igualmente que, “... perde muito do seu sentido o revestimento de azulejos transformado em painel desligado do seu contexto arquitectónico”[286] “..., já que a qualidade pictorial” do azulejo é quase [sempre ? VER] secundária em relação à sua inserção numa globalidade ornamental e, principalmente na maneira como complementa, dinamiza, enriquece e transforma a arquitectura, integrando as suas partes num todo e desempenhando, a vários níveis, um papel que nunca foi passivo nem inocente, resultante essencialmente da escala dilatada da sua aplicação e do profundo conhecimento, que os pintores, azulejadores e ladrilhadores possuíam sobre as possibilidades expressivas e dinâmicas desses revestimentos. “[287]

         “ Para revestir as vastas superfícies parietais dos templos e, menos frequentemente, de algumas casas-nobres, utilizaram-se no decorrer deste século XVII grandes ou pequenos “tapetes” cerâmicos obtidos pela multiplicação de um motivo ornamental básico a que chamamos “padrão”. “ [288] “ Para superfícies maiores ou para obter ritmos decorativos de mais largo desenvolvimento passaram em Portugal a fabricar-se e a utilizar-se padrões de repetição mais complexas: 4x4 / 2, 4x4 / 3, 4x4 / 4, 6x6 /8 até 12x12 / 14 que é maior que se conhece : “ [289]. Para além destas advertências necessário se torna aludir e sopesar mais duas.

         1. “ Em todos os conjuntos de azulejo, o ornato, padrão ou composição não é normalmente livre, mas antes sujeito a duas dimensões extremas, a de cada azulejo e a da totalidade da superfície a revestir...” [290].

         2. Que “ As escalas integradoras e a divisão em andares tanto serviram para a diversificação dos revestimentos de padronagem, nos quais os módulos de maiores dimensões se encontram colocados a maior altura, nos espaços mais dilatados, de maneira a compensarem os erros de paralaxe cometidos pela visão, que vê menor o que está distante, como determinaram a organização das composições historiadas... “[291].

         Porém, os azulejos não foram criados para estarem dissecados em museus onde só deverão entrar quando não for possível a sua preservação no local original.

         Os nossos azulejos seiscentistas foram recolhidos urgentemente, as condições dos locais onde se encontravam eram péssimas, além do mais estavam dispersos, longe dos locais de origem, portanto, órfãos do seu contexto. Atendendo ás advertências acima explanadas sugerimos dois figurinos de exposição ( vejam-se propostas ). Quadros XXVII e XXVIII.

         Num, que desaconselhamos, predominam os critérios museológicos, no outro, que aconselhamos, predominam os critérios de autenticidade. Assim sendo e, atendo-nos ao segundo, o P37 deverá ficar colocado acima dos outros padrões  ( veja-se proposta). Porque só temos um padrão de cada, e, porque, desse modo a exposição museológica altera o contexto inicial, propomo-nos a incluir, por um lado, fotografias e vídeo dos locais onde existam ainda colocados, e, por outro, encorajar o visitante do museu a visitá-los. Deve-se, porém, aproximar a colocação museológica das medidas reais da parede da Capela onde se destinam, tendo em conta que se deve eliminar distâncias muito sensíveis entre o P37 e o  P 12 e o P 20, por exemplo.

         Porém, e não nos supondo imunes ao erro, iremos proceder à sua colocação em estruturas que permitam facilmente a sua remoção.

         Quanto ao uso de elementos de padrões recolhidos em locais diferentes e cujo origem comum desconhecemos mas suspeitamos, julgamos, por razões estético-pedagógicas, ser lícito e desejável agrupá-los no mesmo padrão, deste que os diversos elementos constitutivos sejam clara e inequivocamente referidos e identificados em quadro anexo à exposição ( veja-se quadro XXIX ).

 

         O núcleo seiscentista da secção azulejística da Casa de Cultura da Ribeira Grande será formado por diversos painéis colocados sobre acrílico bem como fotografias e quadros explicativos que, por um lado, elucidem o visitante do essencial sobre aquele tipo de azulejo, e por outro lado, o transportem o mais fidedignamente possível à sua autêntica ambiência primitiva. ( Veja-se o quadro da nossa proposta ) Quadro n.º XXIII, XXIV, XXV, XXVII e XXVIII.

         A exposição museológica não pode ser um lacunar e distante epitáfio tumular, por mais bonito que seja, mas uma proposta viva e próxima de contacto com o ambiente original da obra exposta.

         As fotografias dos locais onde foram recolhidos e dos locais onde presumimos terem pertencido ajudará e fornecerá não só pistas biográficas preciosas como também sugerirá ambientes, o mesmo farão as legendas.

         Julgo até que se deve recorrer a uma gravação explicativa em vídeo, com música gregoriana, e, cujo teor será explicado em várias línguas, e a passar permanentemente.

         Paralelamente, incluiremos alguns expositores que exibam fragmentos - provas recolhidos, rodeando-se-lhes dos mesmos cuidados expositivos. ( Quadro XXXI e  XXXII ).

         Este núcleo azulejístico será exposto obedecendo à ordem cronológica das espécies azulejísticas, já que a secção será constituída por outros conjuntos do século anterior e dos séculos seguintes, seja em fotografia, seja em fragmentos, seja em exemplares azulejísticos mais completos, tal como os azulejos figurados setecentistas provenientes da capela-mor da Igreja da Ribeira Grande, agora na Casa de Cultura.

         Para aqueles que vieram de outras ambiências, dar-se-lhes-à um tratamento ambiental adequado à sua origem, nomeadamente, a sua exposição em sala distinta.

         Neste, esboço, porém, só tratamos dos seiscentistas de padrão policromo.

         Pretende-se com a constituição desta secção criar um roteiro azulejístico dos azulejos do concelho desde os mais antigos aos mais recentes. A secção da Casa de Cultura deverá funcionar como o núcleo central agregador do roteiro, sendo os vários locais onde existam outros, pequenos museus “ in situ ”.Tal filosofia é não só recomendável do ponto de vista museológico e histórico, como também turístico, já que convida o visitante, sobretudo os de fora do concelho, a circular por todo o seu espaço territorial, suscitando um melhor conhecimento do mesmo, não só do ponto de vista dos azulejos, ou pelo menos terá mais motivos e mais oportunidades para permanecer nele mais tempo, com todos os benefícios que daí advém.

         Dever-se-à estabelecer protocolos precisos com os diversos proprietários dos azulejos do concelho, quer no seu espaço ou fora dele, como é o caso dos do palácio de Santana e dos do Museu Carlos Machado, ambos em Ponta Delgada, a fim de se coordenar e preparar a visita a estes locais e a torná-la enriquecedora.

         Em todo o caso, e no que concerne somente aos azulejos concelhios, a Casa de Cultura recolherá e exibirá na sua secção toda a informação histórica e fotográfica relativa a todos os conjuntos azulejísticos do concelho.

         Dever-se-à recomendar e auxiliar tecnicamente os proprietários dos azulejos do ponto de vista do restauro, conservação e exposição.

         Entendemos que esta perspectiva museológica é aquela, entre outras, que concilia e que melhor permite a conjugação eficaz do museu-edifício ao museu mais vasto que é a comunidade.

         Sendo inúmeras as técnicas de exposição, todavia, e para além dos considerados de conservação, sendo em grande parte subjectivos, acabam sempre por exigir de cada conservador a última palavra. Fi-lo entendendo e conjugando todos os factores acima expostos.

         Entremos, agora, no domínio do restauro. Antes de expormos os azulejos seiscentistas da Casa de Cultura temos-lhes de remover completamente a argamassa do tardoz, fixar-lhes as superfícies esmaltadas, colocá-los num suporte de acrílico e, finalmente, expo-los na sala num suporte indirecto de madeira que assenta em quatro “ abraçadeiras “ metálicas. ( Vejam-se as fases de restauro Quadro XXX )

         Os elementos em falha dos padrões não serão preenchidos ou sequer substituídos por cópias, mas tão só se lhes pintará o espaço vazio, não excluindo a hipótese de outra solução, utilizando uma cor neutra, preferivelmente num tom algo parecido com a cor predominante dos azulejos, de modo que, se por um lado não se fere o aspecto estético do conjunto, por outro, não se introduza elementos que confundam a verdade histórica.

         O mesmo critério presidirá ao tratamento dos elementos danificados ou incompletos. Em relação às falhas na superfície esmaltada, nada se fará, a não ser, tal como já se disse, a sua fixação através da resina incolor. Se, porventura, os “tardoz ”forem desiguais, deve-se ponderar a maneira como os azulejos devem ser colados ao acrílico, de modo que as superfícies esmaltadas não apresentem desníveis consideráveis. A observação directa de superfícies azulejadas, mormente, nos seus, locais primitivos, mostra-nos, frequentemente, superfícies sensivelmente desniveladas. Há, contudo, que conciliar sensatamente os imperativos históricos com os estéticos, assim sendo, não nos devemos preocupar com ligeiros desníveis.

        

         Conclusão:

        

         Destaco o seguinte:

         1. A temperatura e a humidade devem ser mantidas, respectivamente, entre 18ºC e 20ºC, e 55% e 60%.

         2.A iluminação deve ser próxima da existente no ambiente original.

         3.A Sonorização deve reflectir a Sonorização ambiental da época, nomeadamente a música sacra.

         4.Deve haver um vídeo explicativo assim como quadros e fotografias.

         5.Os padrões policromos, restaurados e não refeitos, devem ser colocados entre 1, 40 e 1,50m do solo, mas com os P37 em cima

         6.O núcleo seiscentista ocupará o seu lugar cronológico.

         7.A secção azulejística da Casa de Cultura da Ribeira Grande deve ser o núcleo agregador dos pequenos museus “in situ” do roteiro azulejístico do concelho.

 

QUADRO I

 

TIPO DE EDIFÍCIO ONDE FORAM COLOCADOS - CONVENTOS E MOSTEIROS

 

I Convento de S. Francisco - Ponta Delgada - S. Miguel Açores

II Mosteiro de Stª Clara ( Clarissas ) - Funchal Madeira

I Convento de S. Francisco - Vila do Porto - Stª Maria Açores

II Mosteiro de Nª Sª da Esperança - Ponta Delgada - S. Miguel Açores

II Mosteiro de Stº André ( Clarissas ) - Vila Franca do Campo - S. Miguel Açores

III Colégio dos Jesuítas - Ponta Delgada - S. Miguel Açores

III Colégio dos Jesuítas - Funchal - Madeira

I Convento da Graça - Angra - Terceira - Açores

I Convento de S. Francisco - Angra do Heroísmo - Terceira Açores

IV Recoleta da Caloura - Lagoa - S. Miguel Açores

II Mosteiro de Stº André - Ponta Delgada - S. Miguel Açores

 

OBS: De 11 oito são de Franciscanos e Clarissas. Dos restantes dois são   de Jesuitas e o ultimo de Gracianos.

         A ligação dos Franciscanos e Clarissas reforça a nossa tese da identificação dos existentes na Ribeira Grande como pertencentes ao Convento de S. Francisco e Mosteiro de Jesus. Todavia a ermida de Nª Sª da Caridade (?) também é uma candidata.

 

 

QUADRO II

 

TIPO DE EDIFÍCIOS ONDE FORAM COLOCADOS - IGREJAS E CAPELAS

 

II Sé Catedral - Angra do Heroísmo - Terceira Açores

I Igreja da Mãe de Deus - Ponta Delgada - S. Miguel Açores

III Capela de Nª Sª da Rosa - Ponta Delgada - S. Miguel Açores

III Capela de Nª Sª do Cabo - Lagoa - S. Miguel Açores

I Igreja de S.Pedro - Ponta Delgada - S. Miguel Açores

 

OBS: Uso exclusivo em Mosteiros, Conventos (10) ( esta nota não encontro ) e cinco em 3 Igrejas         uma das quais a Sé Catedral com mais duas Capelas Particulares.

 

QUADRO III

 

LOCAL ESPECÍFICO DA SUA COLOCAÇÃO INICIAL

 

Convento de Stª Clara

Funchal

Madeira

Capela da Ressurreição, parte do antigo claustro.

Interior da edicula, ( P20 )

Convento de S. Francisco

Vila do Porto - Stª Maria

Açores

Templo que seria de culto público.

Interior da Igreja ( B2 )

Sé Catedral Angra do Heroísmo

Terceira

Açores

Baptistério ( P10 )

Igreja da Mãe de Deus

Ponta Delgada - S. Miguel

Açores

Interior da Igreja ( P10 )

Capela de Nª Sª da Rosa

Ponta Delgada - S. Miguel

Açores

Arco da Capela mor. Por trás da mensa do altar mor ( P 10 )

Igreja Paroquial de São José

 Ponta Delgada - S. Miguel

Açores

 

Sacristia ( P 10 )

Mosteiro de Stº André

Vila Franca do Campo - S. Miguel

Açores

Nave Sul e Norte da Igreja do Mosteiro ( P10 ) e ( P 37 )

Capela de Nª Sª do Cabo

Lagoa - S. Miguel

Açores

Fachada. Forrando as paredes do interior ( P35 )

 

Colégio dos Jesuitas

Funchal

Madeira

Capela mor e do Transepto. ( P37 )

Convento da Graça

Angra do Heroísmo - Terceira

Açores

Refeitório ( 37 )

Convento de S. Francisco

Angra do Heroísmo - Terceira

Açores

Refeitório ( 37 )

Recoleta da Caloura

Lagoa - São Miguel

Açores

Subcoro da igreja ( 37 )

Igreja de São Pedro

Ponta Delgada - São Miguel

Açores

Sacristia ( P 37 )

Mosteiro de Stº André

Vila Franca do Campo - S. Miguel

Açores

 

Nave do lado Norte ( P 37 )

Mosteiro de Stº André

Ponta Delgada

S. Miguel - Açores

                         

                           ?                                

 

Quadro IV

 

SÍTIOS ONDE FORAM RECOLOCADOS E / OU TRANSFERIDOS

 

EDIFÍCIOS ONDE SE ENCONTRAM

 ONDE ESTAVAM

PARA ONDE FORAM ( LOCAL NO EDIFÍCIO )

Convento de S. Francisco

Ponta Delgada

S. Miguel

Açores

 

 Não Sabemos

Sacristia do mesmo Convento

Marquês Jácome Correia

Ponta Delgada

S. Miguel / Açores

Antiga Igreja da Mãe de Deus ( interior )

Escadaria do Palácio de Santana Ponta Delgada

Mosteiro da Esperança

Ponta Delgada

S. Miguel / Açores

não sabemos de que pontos do Mosteiro vieram

antiga cozinha

Convento dos Jesuítas

Ponta Delgada

S. Miguel / Açores

 Desconhecemos

Armário da cozinha

 

 

Museu de Angra do Heroísmo

Terceira

Açores

Refeitório do Convento da Graça

 Painel no Museu de Angra

Convento de S. Francisco Angra / Terceira

Açores

Antigo Refeitório

Espaldar dos bancos e dispersos em troços da parede

 

Casa do Senhor José Leão, Rua Ernesto do Canto

Ponta Delgada / S. Miguel

Açores

Sacristia da Igreja de S. Pedro

Ponta Delgada

No interior da casa

 

Quadro V

 

QUADRO - TIPO P 37     6X6 / 8

 

 

 

ILHA

 

 

LOCAL

 

DATA ATRIBUIDA PELO ENGº SANTOS SIMÕES NA AZULEJARIA NOS AÇORES E MADEIRA

Madeira

Igreja do colégio, de S. João Evangelista ( Jesuíta )

Estes azulejos provam que a Capela - Mor já estava pronta antes de 1650 data que me parece ajustar-se a este tipo de parâmetro, meados do séc. XVII

Angra do Heroísmo

Terceira

Açores

Convento da Graça ( actualmente no Museu de Angra )

Trata-se de padrões do Século XVII, de repetição vulgar

Angra do Heroísmo

Terceira

Açores

Antigo Convento de S. Francisco

São azulejos de padrão polícromo dos tipos vulgares usados no 3º quartel do século XVII

Lagoa

S. Miguel

Açores

Recolhimento da Caloura

Igreja de Nª Sª das Dores

São do tempo do Conde

Manuel da Câmara que mandou fazer o coro em 1664

Ponta Delgada

S. Miguel

Açores

Igreja de S. Pedro

( Seg .Tradição )

Não adianta datas

Vila Franca do Campo

S. Miguel / Açores

Mosteiro de Stº André

( Clarissas )

Cerca de 1650 - 1660

 

QUADRO VI

 

QUADRO - TIPO  P 35  4X4/5  MARVILA - ( diz Santos Simões )

 

ILHA

LOCAL

DATA ATRIBUIDA PELO ENGº SANTOS S. NA AZULEJARIA NOS AÇORES E MADEIRA

Lagoa

S. Miguel

Açores

Capela de Nª Sª do Cabo

Podemos aceitar a data de 1675 para toda a azulejaria

Ponta Delgada

S. Miguel

Açores

Mosteiro de Nª Senhora da Esperança

Não adianta data

Ponta Delgada

S. Miguel

Açores

Colégio dos Jesuitas

Igreja de todos os Santos

Não adianta data

 

QUADRO VII

 

QUADRO - TIPO P 20 CAMÉLIA OU DÁLIA ( PADRÃO )

 

ILHA

LOCAL

DATA ATRIBUIDA PELO ENGº SANTOS S. NA AZULEJARIA NOS AÇORES E MADEIRA

Ponta Delgada

S. Miguel

Açores

Igreja Paroquial de S. José Ex-Convento de S. Francisco

Não adianta datas

Obs: existe lá o P 18 e não P 20 como verificamos - 21.04.89

 

Funchal

Madeira

Antigo Convento de Santa Clara

Este tipo de azulejaria aparece nos meados do séc. XVII atingindo maior desenvolvimento cerca de 1660

 

QUADRO VIII

 

QUADRO - TIPO  P12 - MASSAROCA

 

ILHA

LOCAL

DATA ATRIBUIDA PELO ENGº SANTOS S.

São Miguel

Madeira

S. Miguel / Vila Franca do Campo

Mosteiro de Stº André P. Delgada Capela de S. Filipe

Igreja do Mosteiro de Stº André

???

Cerca de 1666

Cerca de 1650 - 1660

Obs: Existe P 12 no Mosteiro de Stº André - lado Norte e Poente, e não P 10 como o Engº S. Simões afirma. Observação in loco - 21.04.89

 

QUADRO IX

 

QUADRO - TIPO B 2

 

 

ILHA

 

LOCAL

DATA ATRIBUIDA PELO ENGº SANTOS S.

Vila do Porto

Santa Maria

Açores

Igreja de Nª Senhora da Victória

Ex - Convento Franciscano

Bem marcadamente dos meados do século XVII

 

 

QUADRO X

 

QUADRO - TIPO C3 ACANTOS E PÉROLAS COM DIAMANTES A OCRE

 

 

ILHA

LOCAL

DATA ATRIBUIDA PELO ENGº SANTOS SIMÕES

Caldeiras

Ribeira Grande

S. Miguel

Açores

Ermida de Nª Senhora da Saúde

 

O Engº Santos Simões não sabia da existência destes azulejos, não os menciona

 

Ponta Delgada

S. Miguel

Açores

Mosteiro da Esperança

 

Não atribui data

Ponta Delgada

S. Miguel

Açores

Capela de Nª Senhora da Rosa

1650 - 1660 (?)

Não atribui data

 

QUADRO XI

 

TROCA ORIGINAL DA COLOCAÇÃO DOS PADRÕES  4X4/5  (P35) E  6X6/8  (P37) POR  2X2

 

 

 

ILHA

 

 

LOCAL

 

LUGAR EXPECÍFICO

 

PADRÃO CRIADO

DATA ATRIBUIDA PELO ENGº SANTOS SIMÕES

Lagoa

S. Miguel

Açores

Capela de Nª Senhora do Cabo

Na nave da Capela-Mor

Substituiu-se os 4x4/5 por 2x2

Provavelmente por ignorância da sua ordenação

 

QUADRO XII

 

RECOLOCAÇÃO INCORRECTA DOS PADRÕES  4X4 ( P35) E  6X6/8 (P37)  POR  2X2

 

 

 

ILHA

 

 

LOCAL

LUGAR EXPECÍFICO

 

PADRÃO CRIADO

DATA ATRIBUIDA PELO ENGº SANTOS SIMÕES

Ponta Delgada

S. Miguel Açores

Mosteiro da Esperança

Coro baixo

4x4/5  e 6x6/8 por 2x2

Por ignorância ??

Ponta Delgada

S.Miguel

Açores

Colégio dos Jesuítas

Cozinha

 4x4/5  por 2x2

Mera colocação utilitária

Angra do Heroísmo

Terceira

Açores

Antigo Convento de S.Francisco

Do refeitório passaram a revestir bancos

6x6/8 por 2x2

 

       ???

 

 

 

NOTA EXPLICATIVA

 

Os quadros com as letras correspondem aos elementos dentro dos padrões de acordo com a “Azulejaria nos Açores e na Madeira” bem como as notas do mesmo antes endereçadas ao Museu Carlos Machado.

         Os quadros numerados correspondem aos quadros como os temos à espera de ser correctamente montados.

 

CONCLUSÃO

CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICAS

 

A técnica da inclusão das cores e a pintura do azul sobre o branco e do amarelo sobre o azul.

         Os traços desenhando as formas geométricas ou fitomórficas são feitas a grosso na cor dos mesmos elementos. Não há o mínimo vestígio de roxo de maganés, excepto no azulejo que tenho na minha colecção e que não sei a origem.

         As cores utilizadas são os tons de amarelo ( torrado inclusive e laranja ) azuis, claro e anil, e branco.

         Quanto às dimensões do lado os do Padrão P37 variam entre 140mm a 150mm. A média é a seguinte:

 

 

LEGENDAS

 

(1) - Nota Introdutória onde se explica o interesse dos azulejos seiscentistas bem como a biografia dos que se encontram expostos.

(2) - Padrão polícromo 37. Referir que se segue o indicado pelo Engº Santos Simões.

(3) - Dentes de Serra. Cercadura usada nos padrões maiores, por conseguinte, julgamos mais adequado a sua colocação abaixo de outro padrão.

(4) - Nota explicativa do padrão, incluindo a menção de que alguns dos seus elementos foram recolhidos em locais diferentes.

(5) e (6) - Fotografia dos locais onde recolhemos e dos locais onde pensamos terem estado colocados originalmente.

(7) - Padrão 35. Não dispomos dos elementos centrais. Quer para o P35 quer para o P37 desconhecemos se na origem estiveram colocados como indica o Engº S. Simões. Porém, por razões didácticas e mesmo estéticas resolvemos agrupá-los em padrões 4x4 e 6x6.

(8) - B2 - Barra utilizada vulgarmente para emoldurar quer os paineis individualmente quer os tapetes por isso colocámo-la por baixo de um padrão.

(9) - Nota explicativa do P35 e do B2, incluindo a indicação do uso de elementos provenientes de locais diferentes.

(10)  (11) e (12) - Fotografias dos locais onde foram revelados e daqueles que pensamos terem sido aqueles em que estiveram colocados.

(13) - O padrão 12, chamado de “massaroca”.

(14) - Friso ou cercadura não identificado.

(15) - Padrão 20 ou “camélia”.

(16) - Explicação do P12 e P20, também da cercadura ou friso.

(17) - Fotografias.

 

EXPLICAÇÃO DA 2ª PROPOSTA

 

1 - O padrão P37  6x6 deverá ser colocado acima da linha média da superfície parietal onde será exposto, dado que, por razões de erro de paralaxe, este padrão ter sido sempre aí colocado. Para além do mais, só assim se poderá conciliar os imperativos museológicos, quer estéticos quer históricos. Esta situação é comprovada, entre outros locais, na Igreja de Stº André, Ex-Mosteiro do mesmo nome, na Vila Franca do Campo.

 

2 - Quanto ao padrão P35 4x4; apesar de por vezes ter sido colocado em partes altas, sobretudo em pequenas capelas, também foi colocado em partes baixas, designadamente, em igrejas. Deste modo, tanto se poderia colocá-lo na parte superior como na inferior. Não obstante, na proposta, o colocarmos na parte inferior, podê-lo-emos colocar, mais tarde, na parte superior, desde que seja mais estético.

 

3 - Os padrões P20 e P12 foram geralmente colocados, nas igrejas, na parte inferior, porém nas capelas, revestindo-as de alto a baixo. Desconhecendo-se o local primitivo da sua colocação, o mesmo se poderá dizer do P35 e do P37, porém, desconfiamos que, dada as características do 6x6, eles tivessem estado colocados em grandes superfícies parietais. Em qualquer caso, e ressalvando esta dúvida, propomos a sua colocação na parte inferior.

 

4 - Quanto às barras B2 e não identificada, como era hábito usá-las nos padrões, quaesquer que eles fossem, P37 ou P12, portanto, 6x6 ou mesmo 2x2, optamos, aleatoriamente, por escolher o B2 para o P37 e o não identificado para sublinhar os P12 e P20.

 

5 - Quanto aos Dentes de Serra, também aleatóriamente, optamos pela sua colocação junto ao P35. Todavia convém referir que este tipo, ou seja, os Dentes de Serra, eram também utilizados tal como as barras.

 

CONCLUSÃO:

 

Esta segunda proposta é aquela que melhor concilia os aspectos museológicos sejam os estéticos sejam os históricos, já que, ainda que fragmentáriamente, é aquela que melhor propõe o esboço da reconstituição original dos painéis.

         As distâncias reais entre o B2 e o P37, por um lado, e o P35, por outro, por exemplo, os primeiros na parte superior, e , os segundos, na inferior, não devem, todavia, ser muito grandes, daí o bom senso que se exige na exposição.

 

CÁLCULO DA QUANTIDADE DE AZULEJOS QUE ESTIVERAM NA FACHADA DA IGREJA DA MATRIZ DA R. GRANDE

 

1 Azulejo                                                                       ( 0.14 x 0.14 ) m2

 

X______________________________ 12 m2

 

                      Y _____________________________  3 m2

                      

                      Z _____________________________  5,50 m2

 

X = _____12______ = 612.2449

                                          0.14 x 0.14     

                                                 

                                 Y = ______3_______ =153.06

                                          0.14 x 0.14 

                               

 

                                  Z = ______5,5_____ =280,6

                                          0.14 x 0.14

 

X----------> 612.24 x 2 =1224.48

Y----------> 153.06 x 2 =306.12 

Z---------->  280.6  

 

                                                                                                               TOTAL = 1811.2

 

         Respingando os Fragmentos, grandes e pequenos, bem como os azulejos inteiros danificados que temos em quadro e que provêm de certeza, há excepção dos 7 danificados do Ex-Externato, fizemos um quadro elucidativo da sua taxa de destruição.

         Com isso pretendemos esclarecer que não bastava à ermida de Nª Srª das Caridades (?) ter espaço de paredes para fornecer os cerca de 1811 que estiveram recolocados na fachada da Matriz, há que ter em conta, que, e não obstante os cuidados de quem os Hipotéticamente retirara tendo em vista a sua posterior recolocação na Matriz, a taxa de destruição.

         Abordaremos um caso limite (?), nomeadamente os que sendo recolocados na dita Igreja foram em meados deste século retirados. Atende-se que a intenção não era preservá-los para, mais uma vez, serem recolocados. mesmo assim vejamos:

        

AZULEJOS DANIFICADOS

7 + 4  (1)

FRAGMENTOS PEQUENOS

66

FRAGMENTOS PEQUENOS

54

 

         (1) Quatro vieram do Ex-Externato e não temos a certeza absoluta que vieram da fachada da Matriz.

         Os cinquenta e quatro fragmentos pequenos não correspondem necessáriamente a outros tantos azulejos, porém, suponhamos que existe esta correspondência e adicionemos-lhes aos demais, visto que, estes parecem equivaler, cada um, a um azulejo.

         Deste modo obtemos cento e trinta e um azulejos. Se antes de serem arrancados da fachada da Matriz, pelo menos, ao que podemos apurar à lupa no confronto com uma fotografia de 1927, existiam 448 azulejos P35 agrupados em 2 x 2 ( dos elementos que formam um circulo tal como se encontra na Ermida de Nª Srª do Cabo, na Lagoa ),os 131 do mesmo tipo, evidentemente, equivalem a cerca de 29%, o que revela uma perda da ordem dos 70%. É uma questão em aberto.

 

 

ESBOÇO DO ITENERÁRIO DE ALGUNS AZULEJOS SEISCENTISTAS ESTUDADOS

 

 

ATENÇÃO: ( FALTA INTRODUZIR ESQUEMAS)

 

     

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

NOTA CRONOLÓGICA EXPLICATIVA DE COMO E ONDE ENCONTRAMOS OS AZULEJOS

 

1-Algures em Outubro de 1987 encontramos, com a coloboração e pistas de mestres, antigos professores e o Srº Encarregado Geral da Câmara, no Armazém da Câmara Municipal da rua do Ouvidor dois cestos de vimes cheios de azulejos seiscentistas provenientes do Ex-Externato Ribeiragrandense, na Rua de Sousa e Silva, para ali levados após as obras de adaptação daquele Ex-Externato de ensino secundário a Serviços Judiciais em 1984 (?)

         Graças à informação dos Srºs Drºs. Jorge Gamboa de Vasconcelos, Manuel Barbosa, após os reconhecer inequivocamente, já que o Padrão 2x2 que deveria ter sido P35, incluia um elemento repetido que reconheceu, disse-me que os encontrara soltos na cozinha na Externato no Verão de 48 ou 49 e que provavelmente teria sido o Comandante Armando Soares, antigo proprietário do edifício que os levara para lá, de onde não sabia, mas provavelmente da Igreja da Matriz .

        

         2-Um mês ou dois após, encontrei numa vala de saneamento básico no Adro das Freiras alguns fragmentos do mesmo tipo. Nem os vizinhos mais antigos ou os mestres da Câmara me explicaram a sua origem.

         Conctatei o Drº Sousa de Oliveira, arqueólogo, que mais tarde iria proceder a escavações no interior das terras do Ex-Mosteiro, e, que veio propositadamente à Ribeira Grande.

 

         3- Em 15 de Agosto de 1988, verifiquei que no interior da Ermida das Caldeiras existiam azulejos daquele tipo.

 

         4- Em Setembro daquele ano falei, pelo telefone, com o Srº Humberto Viveiros, proprietário da casa junto à Ermida e a zelar pela manutenção da mesma e referiu-me que na dita casa ele tinha dois azulejos iguais aos da capela. Explicou-me que os descobrira o seu avô, no entulho quando há  mais de sessenta anos reconstruira a casa.

         A Ermida fora rebocada caiada e retelhada recentemente e que, por incúria alguns dos mestres danificaram alguns e os atiraram para o entulho.

         Garantiu-me que fora a primeira vez que tinha rebocado de novo a capela.

 

         5- Em Setembro e Outubro de 1988, a Associação Arqueológica de São Miguel procedeu a escavações arqueológicas nas terras do Ex-Mosteiro de Jesus e encontraram-se novos fragmentos.

        

         6-Em Novembro de 1988, segundo as pistas de Srº Ildeberto Garcia e o Mestre Almeida que trabalhou na remoção dos azulejos da Matriz, procedi a uma pequena intervenção na Torre da Igreja da Matriz e encontrei muitos azulejos. A zona entulhada situa-se no primeiro andar da torre e num fundão que parece ter sido uma escadaria em pedra que ía desembocar onde presentemente se encontra o primeiro altar a contar do guarda-vento, da nave lateral direita. Neste entulho também encontrei azulejos setecentistas.

        

         7- Em Dezembro daquele ano foi a vez de encontrar um azulejo C3 e um fragmento ambos delineados a traço roxo de maganês no quintal do Srº Ângelo Ledo, já falecido na rua de Sousa e Silva.

 

         8- Em fins de Fevereiro e princípios de Março encontrei muitos outros na correção do nó viarro da rua de Trás-os-Mosteiros com o Adro das Freiras. Interior das terras do Ex-Mosteiro. Como não pude proceder a uma intervenção arqueológica recolhi o que pude e mandei transferir a terra para o quintal da Casa de Cultura onde tenho “remexido e peneirado”. Já encontrei muitos fragmentos ali de séculos anteriores.

         A terra depois de “revistada” foi utilizada para compor os canteiros botânicos da nossa secção botânica situada entre o edifício da Casa de Cultura e o Barracão a poente.

 

         9- Ainda em Março de 1989 encontrei na Rua do Botelho, na casa do Srº Cabral de Melo, alguns azulejos deste tipo que ofereceu à Casa de Cultura.

 

         10- Em finais de Abril encontrei na arrecadação do Museu Carlos Machado dois paineis atribuidos ao Convento dos Frades que foram oferecidos ao Museu pelo Marquês de Jácome Correia.

        

         11 e 12. Vi na casa de familiares, em Ponta Delgada, do actual presidente da Câmara um painel de azulejos vindos da Matriz e ouvi o Drº Jorge Gamboa dizer que também tinha alguns na sua casa da Ribeira Grande.

 

         13-Em Abril de 1989 o Srº Mestre Augusto Rocha, morador na Rua da Salvação disse-me que tivera iguais na cozinha da mãe, junto à sua e que os guardara na arrecadação.

         Ainda não os vi.

 

 

INDICE TEMÁTICO

 

Nota Introdutória

 

Capitulo I - pag. 1 à 21

 

Capitulo II - Tentativa de identificação e datação dos

         azulejos por nós recolhidos cotejando e analizando o estudo do       Engº Santos Simões sobre a azulejaria nos Açores e na Madeira

         - pag. 22     à 31.

 

Capitulo III - Os azulejos que recolhemos vindos provavelmente da cidade        de Lisboa no 3º quartel do século XVII a que local da Ribeira      Grande se destinaram ?

         pag. 32 à 96

         a) Um suspeito: A Ermida de Nossa Senhora da Caridade (s) ou da (s) Candeia(s) -pag. 36 - 48

         b) Outro canditato: Mosteiro de Jesus da Ex-Vila da Ribeira Grande         -pag. 49 - 58

         c) Outro suspeito: O Convento de Nossa Senhora de Guadalupe,     vulgo Convento dos Frades da Ribeira Grande

         -pag 59 - 64

         d) Outro suspeito: A igreja de Nossa Senhora da Estrela vulgo da    Matriz da Ribeira Grande

         - pag. 65 - 69

         e) Outro suspeito: Igreja do Espirito Santo, ou igreja do Senhor dos          Passos ou ainda da Misericórdia Velha

         pag. 70 - 73

         f) Outros canditatos:Casas particulares 74 - 79

         g)Conclusão deste capítulo - 79 - 82

Capitulo IV - Preparação, tratamento, conservação e exposição        museológica dos azulejos seiscentistas de padrão polícromo da Casa de Cultura da Ribeira Grande 97 - 118.

 

INDICE DE GRAVURAS E FOTOGRAFIAS

 

 

 

 

Nº 1- Gravuras XXX (1866) de Cândido Abranches - Matriz da Ribeira   Grande ( azulejos )

Nº 2 - Postal s/ data - Matriz Ribeira Grande ( azulejos )

Nº 3 - Fotografia de 1927 - Matriz Ribeira Grande ( azulejos )

Nº 4 - Fotografia de 1952 - Matriz Ribeira Grande ( azulejos)

Nº 5 - Fotografia de 1956 (?) - Matriz Ribeira Grande ( remoção dos        azulejos )

Nº 6 - Fotografia de 1959 - Matriz Ribeira Grande ( já sem azulejos )

Nº 7 - Interior das terras do Ex - Mosteiro de Jesus - Ribeira Grande

Nº 8 - Interior do Ex - Mosteiro junto aos locais escavados - Ribeira         Grande

Nº 9 - Exterior do Ex- Mosteiro. Local incluído na rua pública - Ribeira   Grande

Nº10 - Interior do Claustro do Ex - Convento de Nossa Senhora de          Guadalupe - Ribeira Grande.

Nº 11 -Igreja do Espírito Santo - Ribeira Grande

Nº 12 - Ermida e casa do Senhor Humberto Viveiros. Caldeiras da ribeira          Grande

Nº 13 - Externato Ribeiragrandense

Nº 14 - Casa de Cultura da Ribeira Grande ( Solar de S. Vicente Ferreira )

Nº 15 - Fachada da Igreja  de S. Pedro, Ribeira Seca da Ribeira Grande ( atribuida ao Ex - Mosteiro de Jesus )

 

ÍNDICE DE MAPAS

 

Mapa I - Locais de São Miguel onde encontramos azulejos iguais aos        estudados pela Casa de Cultura

 

MapaII - Mapa onde se indicam os locais da Ribeira Grande onde   encontramos os azulejos que recolhemos.

        

Mapa III - Indica a localização das Caldeiras da Ribeira Grande de            onde se situam a ermida e a casa do Srº Humberto Viveiros.

 

Mapa IV - Planta indicando os locais onde foram recolhidos os fragmentos        de padrão nas ex - terras do Mosteiro de  Jesus.

 

 

INDICE DE QUADROS

 

Quadro I - Tipo de edifícios onde foram colocados - Conventos e   Mosteiros.

Quadro II - Tipo de edifícios onde foram colocados - Igrejas e Capelas

Quadro III - Local específico da sua colocação inicial.

Quadro IV - Sítios onde foram recolocados e / ou transferidos.

Quadro V - Tipo P37 (6x6)

Quadro VI -Tipo P35

Quadro VII-Tipo P20

Quadro VIII Tipo P12

Quadro IX - Tipo B2

Quadro X - Tipo C3

Quadro XI - Troca original da colocação dos Padrões 4x4 e 6x6  por 2x2

Quadro XII - Recolocação incorrecta dos padrões 4x4 por 2x2

Quadro XIII -Quadro do tipo de azulejos que estudamos.

Quadro XIV - Inventário dos azulejos recolhidos.

Quadro XV - Idem

Quadro XVI - Idem

Quadro XVII - Idem

Quadro XVIII - Casa de Cultura da Ribeira Grande. Mosaicos existentes  (estudo )

Quadro XIX - Ermida de Nossa Senhora do Cabo ( estudo )

Quadro XX - Igreja de Stº André Vila Franca do Campo ( estudo )

Quadro XXI - Idem (estudo)

Quadro XXII -Museu Carlos Machado ( estudo)

Quadro XXIII - Padrão 37

Quadro XXIV - Elementos em 2x2 do P37 ( E, B, A, F, D, C )

Quadro XXV - Elementos decompostos do 4x4  P35  (A e B não tem o C)

Quadro XXVI - P35 tal como temos e tal como deveria ser completo

Quadro XXVII - 1ª Proposta de exposição.

Quadro XXVIII - 2ª Proposta de exposição.

Quadro XXIX - Identificação de cada um dos elementos dos Padrões e     acessórios quanto ao local da sua recolha.

Quadro XXX - Esboço das fases de tratamento / Exposição dos azulejos   seiscentistas da Secção de azulejos da Casa de Cultura da Ribeira   Grande .

Quadro XXXI - Fragmentos da vala do Ex - Mosteiro de Jesus.

Quadro XXXII - Fragmentos da parte interior da cerca do Ex - Mosteiro de Jesus.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



[1] Calado, Rafael Salinas, “cinco séculos do azulejo em Portugal “, in “ Diário de Noticias” , Funchal, Domingo, 26 de Março de 1989 , pag 8 .

[2] Simões, J. M. dos Santos, Azulejaria nos Açores e na Madeira, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1963, pag. 11

[3] Freitas, Paulo Fragoso de, “Azulejos. Itenerário duma exposição”, in Atlântico “, Madeira,  nº 7 , Outono, 1986, pag 192

[4] O Simões, ibid, pag. 11

[5] O Calado, ibid, pag. 8

[6] Idem, ibid, pag. 8

[7] O Simões, ibid, pag 11

[8] Idem, ibid, pag 11

[9] Meco, José, Exposição: Azulejos de Lisboa,  Câmara Municipal de Lisboa, Fev. / Março; 1984, pag 10

[10] Idem, ibid, pag 12

[11] O Meco, ibid, pag 42

[12] Idem, ibid, 42

[13] Idem, ibid, pag 41

[14] Idem, ibid, pag 39

[15] Idem, ibid, pag 40

[16] Idem, ibid, pag. 41

[17] Idem, ibid, pag. 41

[18] Idem, ibid, pag. 41

[19] Idem, ibid, pag. 41

[20] Idem, ibid, oag. 41

[21] Idem, ibid, pag. 41

[22] Idem, ibid, pag. 41

[23] Idem, ibid, pag. 40

[24] Idem, ibid, pag. 40

[25] Idem, ibid, pag. 40

[26] Idem, ibid, pag. 40

[27] Idem, ibid, pag. 19

[28] Idem, ibid, pag. 19

[29] Idem,ibid,pag.19

[30] Idem,ibid,pag.19

[31] Idem, ibid, pag. 19

[32] Idem,ibid,pag.19

[33] Idem, ibid, pag. 19

[34] Idem, ibid, pag. 19

[35] Idem, ibid, pag. 19

[36] Idem, ibid, pag. 19

[37] Idem, ibid, pag. 10

[38] Idem, ibid, pags 30, 40

[39] Idem, ibid, pag. 40

[40] Idem, ibid, pag. 39

[41] Idem, ibid, pags. 45 e 46

[42] Idem, ibid, pag. 40

[43] Idem,ibid,pag. 40

[44] Idem, ibid, pag. 12

[45] Vieira, Alberto,  A questão cerealífera nos Açores séculos XV-XVII, [ tenho as provas oferecidas pelo autor em 1985 mas não o livro ]

[46] O Simões, ibid, pag 13

[47] Idem,ilid,pag. 13

[48] Idem, ibid, pag. 12

[49] O Meco, ibid, pag. 25

[50] Idem,ibid, pag. 25

[51] Idem, ibid, pag 25

[52] Idem, ibid, pag 25

[53] Idem, ibid, pag.25

[54] Idem,ibid, pag. 25

[55] Idem, ibid, pag. 25

[56] Idem, ibid, pag. 25

[57] O Simões, ibid, pag. 12

[58] Idem, ibid, pag. 12

[59] Idem, ibid, pag. 12

[60] Idem, ibid, pag. 12

[61] Idem, ibid, pag. 10

[62] Idem, ibid, pag. 10

[63] Idem, ibid, pag. 12

[64] O Meco, ibid, pag. 40

[65] Op. Cit.,[ catálogo ]

[66] O Meco, ibid, pag. 9

[67] Idem, ibid, pag. 9

[68] Idem, ibid, pag. 9

[69] O Simões, ibid, pag. 13

[70] Idem, ibid, pag. 13

[71] Idem, ibid, pag. 13

[72] Idem, ibid, pag. 13

[73] O Meco, ibid, pag. 9

[74]  Idem, ibid, pag. 9

[75] Ver quadro que se refere os azulejos e a nota final.

[76] Simões,  J. M. dos Santos,  Ajulejaria nos Açores e na Madeira,  Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1963.

 

   [77] Percorremos a seguinte documentação:

1. Arquivo da Igreja Matriz da Ribeira Grande

A confraria do Santíssimo Sacramento

- Livros de Receita e Despesa (séculos XVII, XVIII,  XIX, XX)

- Doações ( séculos XVII-XVIII-XIX-XX)

B. Igreja Matriz

- Notas para o Tombo

-Outras notas

- Receita e despeza (não tem o século XVII!)

- Legados Pios

2. Arquivo da Ouvidoria  (na Igreja da Nossa Senhora da Conceição)

   -Pesquisamos toda a documentação desde o século XVII, porém só começa em finais daquele século.

3. Arquivo Municipal da Ribeira Grande

   - Actas da Vereação

   - Livros de Receita e despeza

4. Arquivo Municipal de Ponta Delgada

   -Alfândega (séculoXVII)

   -Almoxarifado (século XVII)

   -Mosteiro de Jesus (não tem documentação pertinente ao assunto no século XVII)

  - Convento de N. Sr ª da Guadalupe -  (nada)

   -Tablionato ( nada )

   -Orfanológico ( nada )

5. Arquivo da Santa Casa da Misericórdia

   -Actas ( nada )

   -Receita e despesa ( nada )

   -Doações ( nada )

[78] O Simões, ibid

[79] Idem, ibid, pags 203 à 218

[80] Idem, ibid, pags 83 e132

[81] Machado, joão Saavedra, Azulejos do Hospital Termal das Caldas da Rainha  - séculos XVI - XVIII, Instituto Português do Património Cultural, 1987, pag 32.

[82] O Simões, ibid, pag. 114

[83] Meco, José, Exposição Azulejos de Lisboa, Câmara Municipal de Lisboa, Fev. / Março, 1984, pag. 42

[84] O Simões, ibid, pag. 171.

[85] Atayde, Luís Bernardo Leite, Etnografia, Arte e Vida antiga nos Açores (Etnografia Arte e Vida Antiga dos Açores, Luís Bernardo Leite de Atayde.

[86] O Simões, ibid, pag. 142.

[87] Idem, ibid, catálogo.

[88] Idem, ibid, pag. 110.

[89] Veja-se quadro anexo nº XV. Aliás para toda esta questão

[90] Ver quadro anexo nº

[92] O Simões, ibid, pag 132. Quadro XXI

[93] Ibidem, ibid, pag 83 e 84 e também quadro XIX

[94] Ibidem, ibid, pag 114

[95] Ibidem, ibid, pag 167

[96] Ibidem, ibid, catálogo

[97] O Meco, ibid, pag 42

[98] O Simões, ibid, pag .132

[99] O Meco, ibid, pag .40

[100] O Simões, ibid, pag. 13

[101] O Meco, ibid, pag. 9

[102] Veja-se nota anexa sobre os locais em que os recolhemos - Nota cronológica e explicativa de como e onde encontramos os azulejos estudados, foto : nº3 e 13

[103] Vejam-se as fotografias anexas, de 1 a 5

[104] Simões, J. M. dos Santos, Azulejaria nos Açores e na Madeira, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1963, pag 128. Nota da autoria do Drº Jorge Gamboa vasconcelos

[105] Idem, ibid, pag. 129. Foto 13

[106] Idem, ibid, pag. 128.

[107] Veja-se fotografia  nº 5

[108] Veja-se nota “ Cronológica, explicativa de como e onde encontramos os azulejos estudados.

[109] Yourcenar, Marguerite, Memórias de Adriano,  Ulisseia, 6 ª edição, pag. 24.

[110] O Simões, ibid.

[111] Veja quadro da origem V, VI, VII, VIII, IX, X. Veja indicação do livro já citado do engº Santos Simões

[112] Vejam-se quadros I, II, III

[113] Monte Alverne, Frei Agostinho, Crónicas da Provincia de S. João Evangelista das Ilhas dos Açores, Instituto Cultural de Ponta Delgada, 1961, vol II, pag 297.

[114] O Simões, ibid, pag 128 ( Nota do Drº Jorge Gamboa de Vasconcelos )

[115]  O Monte Alverne, Ibid, pag 297

[116] Cordeiro, Pe. António, História Insulana... S.R.E.C, 1981,  Pag 142.

[117] O Cordeiro, ibid, pag 142,  O Monte Alverne, ibid, pag 297.

[118] E (119) Notas para o Tombo da Igreja Matriz da Ribeira Grande, Collecção de quesitos dirigidos pelo governo aos Parachos em 1858 [ 15 / 08 / 1858] responde o Prior Manoel Cabral de Mello, Arquivo Paroquial da Matriz, fol. 137

[119] Idem.

[120] O Simões, ibid, pag 128 ( nota do Drº Jorge de Vasconcelos Gamboa ).

[121] Gaspar Fructuoso, Saudades da Terra.

[122]  Ob. cit. pag 297 e 142.

[123] Notas genelógicas cedidas pelo Drº Hugo Moreira.

[124] O Simões, ibid, pag 128 ( nota do Drº Jorge Gamboa de Vasconcelos).

[125] No altar de Nossa Senhora da Piedade.

[126] Veja-se o capitulo antecedentes. II

[127] O Simões, ibid, pag 84.

 

[128]   Maria Olimpia da Rocha Gil, O arquipélago dos Açores no século XVII Aspectos sócio-económicos ( 1575-1675, Castelo Branco, 1979, pag 143

[129] Geneaologia cedida pelo Drº Hugo Moreira.  D. Julia de Neiva filha de  Francisco Taveira de Neiva e de Isabel Caldeira de Mendonça, batizou-se a 10 de Outubro de 1598 e faleceu aos 24 de Janeiro de 1672. ( Ribeira Grande Matriz )

[130] Gil, ob. cit.... ,P 143

[131] Gaspar Fructuoso, Saudades da Terra , Livro IV, vol II, Ponta Delgada, 1981, pag 61.

[132] Rua de Nossa Senhora da Salvação Ribeira Grande. Quadro XXXV

[133] Jaime Ferreira Cabido. Vi o bilhete de identidade mostrado pelo seu filho.

[134] Caetano da Silva Moniz. Confirmei no arquivo Paroquial da Igreja Matriz

[135] J. Cândido Abranches, Album Michaelense , Ponta Delgada, Typographia de Manoel Corrêa Botelho, 1869, dedicatória.

[136] Idem, ibid, introdução.

[137] Veja-se fotografia da gravura XXX Fotocópia I

[138] pn a data da reconstrução da Matriz.

[139] Data do falecimento 1950 e 1971 (?)

[140] Jean-Claude, Tradition Orale et identité Culturel. Problémes et Méthodes, Centre National de la Recherche Scientifique, 1980, pags. 54 e 55.

[141] “ Açoriano Oriental”, sábado 24 de Abril de 1852, nº 899, Arquivo e Biblioteca Pública  de Ponta Delgada.

 

[142] Ob. cit flo. 137

[143] Nota do test. de 20.000 rs.

[144] Livro para as notas do Tombo, Ar. P. da Matriz, v. da 31, 3/ 05 / 1852 Prior Francisco José Pacheco

[145] Preço de uma casa

[146] Dados geneológicos cedidos pelo Drº Hugo Moreira.

[147] Segundo testemunhos.

[148] Veja-se contas em anexo Cálculo da quantidade de azulejos que estiveram na fachada da Igreja da Matriz da Ribeira Grª.

[149] Tem na fachada a data de 1651

[150] Ver contas da ermida em anexo, XXXV, XXXVI, XXXVII

[151] Gaspar Fructuoso, Saudades da terra, Livro IV. Vol, III, Ponta Delgada, 1987, pag 47.

[152] Idem, ibid, pag 48.

[153] A ultima despeza do refeitório é deste periodo.

[154] Collecção de Decretos e Regulamentos Publicados Durante o Governo da Regencia do Reino Estabelecida na Ilha Terceira desde 15 de Junho de 1829 até 28 de Fevereiro de 1832 Lisboa, Imprensa Nacional, 1836.

[155] Idem, ibid.

[156] Inventario Orfanológico por falecimento de Dona Mariana Amália Narciza, inventariante seu marido Joze Maria da Camara Vasconcelos B. P. A. D. P. D. , R. E.  Nº 1367 [ 1834], v. da 17 à 18.

[157] Idem ibid, v. da 17 à 18 .

[158] Ob. cit. fol 141. Foto 15.

[159] Veja-se quadro sobre os Quadros XIII, XVI, XXXII e Mapa IV framentos encontrados no Ex-Mosteiro. O quadro não regista os não identificados.

[160] Brian M. Fagan. , In the begining. An introduction to Archaelogy, fourth edit, Boston, 1981, pag. 179

[161] Nas escavações arqueológicas de Set / Out de 1988 que observei descobriram-se alicerces no lado norte e nascente. Mapa IV. Fotografias VII e VIII.

[162] Veja planta da zona. Mapa IV  Fotografia IX, Nota cronológica explicativa de como e onde encontramos os azulejos estudados.

[163] Veja-se quadro que indica os azulejos estudados que descobrimos .

[164][164] Veja-se planta. Mapa IV, Fotografias VII e VII

[165] Veja-se planta. Mapa IV, Fotografia IX.

[166] Idem Mapa IV.

[167] Louis Frédéric, Manual Prático de Arqueologia, Livraria Almeidina, Coimbra, 1980, pag 245.

[168] Veja-se Quadro dos Mosteiros I, II e Conventos de Franciscanos.

[169] Notas para o Livro do Tombo da Matriz. Collecção de quesitos dirigidos pelo Governo aos Parachos em 1858. ( Prior Manoel Cabral de Mello ), fol. 141.

[170] Auto de Inventário,B. P.A. A. II, cartório da Mitra de Angra, maço 567, doc. 25 ( cota provisória ).

[171] Idem.

[172] Rol Quaresma de 1834, Arquivo da Matriz da Ribeira Grande.

[173] Rol Quaresma de 1847, A. da Matriz da Ribeira Grande.

[174] - -

[175] O Prior Francisco Jozé Pacheco nada diz a este aspecto.

[176] Notas para o Livro do Tombo da Matriz.

[177] Veja-se Quadros XIV e XV.

[178] Monte Alverne, Fr. Agostinho de, Crónicas da Provincia de S. João Evangelista das ilhas dos Açores, Instituto Cultural de Ponta Delgada, 1961, vol II, pag 302.

[179] Idem, ibid, pag 303.

[180]Drº Luís Bernado Leite d’Atayde. As secções de arte e etnografia do museu de Ponta Delgada, ( Dr. Carlos Machado ). 1944, pag 51.

[181] Idem, ibid, pag 51.

[182] O Simões, ibid, pag 103

[183] O Simões, ibid, pag 102. Veja anotação nº 22 (rodapé)

[184] Simões, J. M. dos Santos, Delineamento da maneira de expor os azulejos do Museu “ Carlos Machado” de Ponta Delgada, ( Cópia das notas que fez  para o Museu “Carlos Machado”), pag 7.

[185] Veja-se Quadro XVI.

[186] Vi-os, estudei-os e fotografei-os.

[187] Simões, J.M. dos Santos, Azulejaria nosn Açores e na Madeira, pag. 96.

[188] Idem, ibid, pag 96

[189] Notas para o Tombo da Matriz,..., fol. 139.

[190] Accordãos, Santa Casa da Misericórdia da Ribeira Grande, Livro 8, 1839-1851, 30 de Setembro de 1839, fol. 22, Arq. Santa Casa da Misericórdia da Rib. Grande.

[191] Idem, ibid, fol 22.

[192] Veja-se Quadro. XIV

[193] Veja-se Quadro. XIV

[194] O Srº Humberto Viveiros garantiu-me que, ao que sabe e se lembra, numca o interior da ermida tinha sido novamente guarnecida.

[195] Notas para o Tombo,..., v. 25.

[196] Simões, J. M. dos Santos, Azulejaria nos Açores e na Madeira,... pag 128.

[197] Gaspar Fructuoso, Saudades da Terra, vol II, Ponta Delgada, 1981, pag 105.

[198] Ver quadro II.

[199] Ver notas em anexo, nota cronológica explicativa de como e onde encontramos os azulejos estudados.

[200] O Monte Alverne, vol II, 1961, pag. 300

[201] O Ataíde, vol II, pag 108 XIII, XV

[202] Idem, ibid, pag 108.

[203]Monte Alverne, Frei Agostinho de, Crónicas da Provincia de S. João Evangelista das ilhas dos Açores. Ponta Delgada, vol II, 1961, pag 294.

[204] Idem, ibid, pag 300

[205] Notas para o Livro do Tombo da Matriz, Clareza dequando foi Re deficada a Igreja de NoSa Snrª. da Estrella, Arq, Paroquial da Matriz  v. fol 25.

[206] O Monte Alverne, vol II, pag. 297.

[207] Ataíde, Luis Bernardo Leite de, Etnografia Arte e vida antiga dos Açores, vol II, Coimbra, 1974, pag 108.

[208] Idem, ibid, pag 109.

[209] Notas para o Livro do Tombo da Matriz, Clareza etc..., Arq Paroquial da Matriz, fol. 26.

[210] Idem, ibid, fol. 27.

[211] Veja-se Quadro XV.

[212]João Saavedra Machado, Azulejos do Hospital Termal das Caldas da Rainha - séculos XVI_XVIII, Instituto Português do património Cultural, 1987, pag 57.

[213] Idem, ibid, pag 32.

[214] O Simões, Azulejaria nos Açores e na Madeira, 1963, pag 13

[215] Gaspar Fructuoso, Saudades da Terra, 1981, Livro IV, vol II, pag 107.

[216]  Frei Agostinho de Alverne Crónicas da Província de S.João Evangelista das ilhas dos Açores, 1961, vol. II, pag. 331. Foto nº II

[217]Idem, ibid, pag 331

[218]Idem,ibid,pag 331

 

[219]Receitas da Santa Casa da Misericórdia, 1725..., Arquivo do Consistório, Ano 1748, fol  96.

[220]Acordãos-1743-1815, L. 6, Arquivo do Consistório da Santa Casa da Misericórdia da Ribeira Grande, v. 25.

[221] Idem, ibid, v. 25.

[222]Acordãos-1743-1815, L. 6, Arquivo do Consistório da Santa Casa da Misericórdia da Ribeira Grande, v. 31 [ 2 de Julho de 1754 ]

[223] Idem ibid, [ 3 de Julho de 1755 ] v. 35.

[224] Idem, ibid, [ 22 /12-1768 ] fol. 55.

[225] Idem, ibid, [ 31/ 10/ 1773 ] v. 76.

[226] Idem, ibid, [ 4 de Julho de 1778 ] f. 94.

[227] Idem, ibid, [ 12 / 01 / 1775 ] ,f. 83 .

[228] Idem, ibid, [ 11 / 07/ 1790 ],v. 142.

[229] Livros de Receita e Despesa entre outros.

[230] Veja-se Quadro e Esboço do itenerário dos azulejos. XV, XVI, XVII.

[231] Idem.

[232] Veja-se Quadro Esboço Itenerário dos azulejos seiscentistas estudados.

[233] Simões, J. M. dos Santos, Azulejaria nos Açores e na Madeira, 1963, pag I.

[234] Idem, ibid, pag 53 .

[235] Idem, ibid, pag 53 .

[236] Idem, ibid, pag 53 .

[237] Veja-se Quadro I, II.

[238] Entrevista com o Drº Mnuel Barbosa .

[239] Pelas fotografias que temos.

[240]  Manuel Barbosa, Memórias da Cidade Futura..., Ribeira Grande, 1988, pag 43.

[241] Idem, ibid, pag 55. Há quem diga que os azulejos estiveram no rés-do-chão e não no 1º andar. Porém em qualquer dos casos o Drº Barbosa não os mensiona. Info. óbtida posteriormente à elaboração do capítulo III.

[242] Entrevista posterior com o Drº manuel Barbosa.

[243] Conforme verifiquei  no roes Quaresmais e entrevistas dos antigos proprietários.

[244] Dados biograficos colhidos do seu Bilhete de Identidade.

[245] Entrevista na sua casa da rua do Barracão Velho no dia 16 / 04 /  1989. ( outras seguiram-se-lhe ).

[246] Roes Quaresmais da Matriz de 1931 a 1952 Arquivo Paroquial da Matriz.

[247] Entrevista com o senhor Cabral de Melo em Abril de 1989. ( Houve outras antes e depois ).

[248] Veja Quadro. II, XV.

[249] Manuel Barbosa, Memórias da cidade futura..., Ribeira Grande, 1988, pag 69.

[250] Cercadura que não consegui identificar Quadro XVII Veja Quadro anexo.

[251] Entrevistei os famaliares.

[252] Veja-se Quadro XV.

[253] Veja-se Fotografia III.

[254] Luís Bernardo Leite de Ataíde, Etnografia arte e vida antiga dos Açores, Coimbra, 1974, vol II, pag 95.

[255] Esboço do Itenerário dos Azulejos seiscentistas Estudados Mapas II e III.

[256] José  de Torres , Ensaios. Viagens no interior da ilha de San-Miguel, I , Ponta Delgada, 1849, pags, 9 e 10 .

[257] Idem, ibid.

[258] Artur Teodoro de Matos, Transportes e Comunicações em Portugal, Açores e Madeira ( 1750-1850 ), Ponta Delgada, 1980, pag, 419.

[259] Idem, ibid, pag 421.

[260] O Monte Verde foi feito de entulhos na década de quarenta (?).

[261] Segundo o mestre Almeida. Aliás, pela altura da sua remoção, os entulhos eram encaminhados para o Monte Verde onde eu próprio aos 4 anos ( 1961 ) os ia, com os adultos, numa carroça de mão, atirálos.

[262] Veja-se no Caminho das caldeiras a cova do tufo do senhor Aurino Tachinha, por exemplo.

[263] Margarite Yourcenar, Memórias de Adriano , Ulisseia, 6ª edição, pag. 24.

[264] Azevedo Alves, Luisa Maria Picciochi, O Ambiente e as obras de Arte, Instituto José de Figueredo, nº 11, Lisboa, 1980, pag 1.

[265] Idem, ibid, pag 1.

[266] Idem, ibid, pag 2.

[267] Idem, ibid, pag 2.

[268] Idem, ibid, pag 3.

[269] Idem, ibid, pag 5

[270] Idem, ibid, pag 4.

[271] Idem, ibid, pag 3.

[272] Idem, ibid, pag 6.

[273] Idem, ibid, pag 8.

[274] Idem, ibid, pag 6.

[275] Idem, ibid, pag 8.

[276] Idem, ibid, pags 8 e 9.

[277] Idem, ibid, pags 9 e 10.

[278] Idem, ibid, Idem.

[279] Idem,ibid,pag 10.

[280] Idem,  ibid, pag 10

[281] Idem, ibid, pag 12.

[282] Idem, ibid, pag 14.

[283] Idem, ibid, pag 17.

[284] Idem, ibid, pag 9.

[285] José Meco, Exposição: Azulejos de Lisboa, C. M. L, 1984, pag 25.[ FALTA A NOTA  Nº 23 , Idem, ibid, pag 9]

[286] Idem, ibid, pags 20 e 21.

[287]  J. M. dos Santos Simões, Azulejaria nos Açores e na Madeira, F. C. Gulbenkian, Lisboa, 1963, pags 11 e 12.

[288] Idem, ibid, pag 12.

[289] O Meco, ibid, pag 24.

[290] Idem, ibid, pag 24.

[291] Idem, ibid, pag 10.


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