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Modelo de Interpretação do programa museal da vida e da obra de Madre Margarida Isabel do Apocalipse- quatro condições prévias e duas propostas iniciais concretas

Modelo de Interpretação

do

programa museal da vida e da obra de Madre Margarida Isabel do Apocalipse- quatro condições prévias e duas propostas

iniciais concretas.

 

I

 

1 - Algumas considerações pertinentes e aplicáveis ao nosso caso concreto sobre a política patrimonial da Diocese de Angra e ilhas dos Açores.*

 

2- O que nos parece ter pretendido Madre Margarida Isabel do Apocalipse, em relação às suas obras ao longo dos tempos.

        

3 - O que nos parece ter “ entendido “ a Confraria do Santíssimo Sacramento da Igreja Matriz de Ribeira Grande, herdeira de Madre Margarida.

 

4 - As linguagens que nos parecem poder “ ir interpretando “ ( de vários ângulos ) as relações entre a obra, a sua autora e nós, nos vários espaços e tempos em que ambos “ se têm desenvolvido “.

 

II

 

1 - Propostas de uma primeira exposição sobre a vida e a obra de Madre Margarida.

 

ABERTURA

ALGUMAS QUESTÕES INICIAIS

 

1 - Questão de conceitos.

 

         Em rigor, teriamos de apurar e de discutir o que, em vida de Madre Margarida, se entendia por Museu, Arcano Místico, musealização, museologia, e museografia, designadamente na Ribeira Grande.

         Só encontraríamos referências em relação aos dois primeiros. Quanto aos últimos, poderíamos depreender os conceitos pela praxis. É, contudo, difícil, mas necessária, fazer-se o seu rastreio. Fá-lo-emos neste trabalho sómente para se tentar dar um primeiro esclarecimento sobre o assunto.

         Compulsamos três diccionários de língua portuguesa, escolhendo-os por representarem uma amostragem cronológica coeerente: o “ Vocabulário Portuguez e Latino, aulico, anatomico, architectonico... “ do Padre Raphael Bluteau, editado em Lisboa no ano de 1716; “ Novo Diccionario de Lingua Portugueza “, da tipografia Rollandiana, Lisboa, 1835 , e o “ Diccionario da Lingua Portuguesa “ de António de Moraes da Silva, Lisboa, 1858 . (Madre Margarida, recordemo-lo nasce em 1779 e morre em 1858 ).

         Sabe-se o que, tal como o tentamos explicar no primeiro trabalho que fizemos para V. Exª, António Feliciano de Castilho e seu circulo literário, ilhéu, no qual se incluía João Albino Peixoto ( personagem, considerada por nós chave, conforme outro trabalho, na divulgação e proclamação do Arcano Místico ) entendem por Museu.

         A definição de Museu do dicionário de 1835, e a talhe de foice diriamos a da lei de 1836, coincidem com o modelo de museu proposto por aquele circulo através da Sociedade dos Amigos das Artes e das Letras Michaelenses:

         “... Lugar onde se guardão producções da Natureza, e da Arte, moedas, medalhas,... “

 

         Seria o Arcano Místico considerado um museu ?

 

         Tudo nos parece indicar que não. Importa dizer que, nenhuma das pessoas aludidas anteriormente, nem sequer a própria a Madre Margarida, consideraram o Arcano Místico, outra coisa que não fosse isso mesmo. Explico-me. Regressemos aos dicionários.

 

 

         Em todos eles, grosso modo, se define Arcano como sendo:

 

         “ s.m. Segredo, mysterio, as cousas que se occultão, ... “ e bluteau precisa :

 

         “ ... esta palavra não se diz de qualquer Segredo ordinario, mas do Segredo de Deos, ou dos Principes. “ ( ob. cit. pag. 472, tl )

 

         O mesmo se poderá dizer de “ Místico “. Recorremos de novo a Bluteau, corroborado, todavia, pelos outros dois.

 

         “ Místico, ou Mystico ( ort. etym. ) , A, adj. ( do Lat. mysticus, a, um, deriv. de mysterium ) Figurado, allegorico, mysterioso. “ ( Bluteau, T. 5 ).

 

         Parece, pois, corresponder exactamente à definição que Madre Margarida deu da sua obra ?

 

         “... venha a esta Caza ver ffiguradas as marauilhas do Sr. ...” ( carta de 21 de Setembro de 1853. )

         Ela pretendeu ( e di-lo em outros trechos ) explicar, recorrendo à figuração, a lei da Graça para que todos a pudecem cumprir. O Arcano Místico será uma história da Salvação figurada, relativamente vulgar na arte católica.

         Todavia, ainda em 1848, Madre Margarida hesita em atribuir-lhe um nome:

 

         “, para ver o Arcano [ em itálico ],ou como melhor nome se lhe possa dar , “ [ ( nosso sublinhado ) Avizo no A. Oriental de 9 / 9 /1848 ] As hesitações persistem ainda no testamento quando diz que “ tenho como meu Hum movel, chamado Arcano Místico “.O fio condutor porém, permanece firme e inalterável:

 

         “ ... que contem os Misterios mais importantes do Velho e do novo testamento, que comprehende as trez Leys que o Senhor Deos deu ao Mundo para que por figuras melhor pudece-mos entender o dever, a que estamos obrigados, e a escolha que devemos fazer daLey daGraça quepor Graça nos foi dada. “ ( Testamento ).

 

         Poderia ser,pelos cânones actuais e a julgar pelo que ela fez e pretendeu fazer, uma obra musealizada ? Julgo que a leitura apressada do ponto 2, deste trabalho, nos poderá levar a esta conclusão anacrónica. Erro que já cometera outrora, não sem alguns rebates de consciência, diga-se.

         Poderia ter recorrido, para falar de musealização e de museografia, a termos supostamente equivalentes utilizados pela autora ? Seria, neste caso, pior a emenda.

         Na já citada mensagem para o A. Oriental, a certo passo, lê-se :

         “ completar, aperfeiçoar, e collocar ... “

         É-nos difícil, talvez impossível, saber o que ela entendia exactamente por isso, em todo o caso, e para se tentar penetrar mais fundo nas fontes, parece-nos ser permitido supor que, na prática ela teria feito aquilo que hoje, não sem polémica, se designaria por musealização. No sentido de “ ir expondo “ de modo compreensível aquilo que parece ser um programa. Até surgem práticas daquilo que poderíamos chamar, se calhar imprópriamente, de museografia, na acepção francesa. Também aqui não desprovido de polémica.

         Tudo dependerá, como é óbvio, da definição daqueles conceitos.                 Há, contudo, uma prática clara, que, se poderia enquadrar dentro de algumas definições actuais.

         Curioso, deixe-se passar a redundância, é que os conterrâneos de então achavam o “ Arcano Místico “ ( com sinceridade, supomos. ) uma “ curiosidade “ uma “ maravilha digna de figurar em qualquer exposição Universal “.

        

         Porque o não considerariam, então, Museu ?

         Para além da definição atrás referida, talvez tal facto se devesse a ser considerado uma obra recente, ainda não valorizada pela antiguidade ? Talvez. Ou ainda, porque sendo uma só obra, não o poderia ser sózinha ? Quem sabe ? Seria, se calhar, vantajoso para o museólogo ( ou investigador de Museus ? ) Investigar tais assuntos.

        

         Resumo :

 

         1 - Haverá que definir os conceitos de musealização e os demais que deixei em aberto.

         2 -  Adoptamos, para este trabalho, os termos musealização, quando nos referimos ao programa do Arcano, e, museografia, quando tentamos perceber o modo como ela traduz as suas ideias. Polémico, é certo, mas tivemos de optar. É uma solução assumidamente circunstancial.

         3 -  Era considerado digno de figurar em exposição Universal e o seu nome consensual era de Arcano Místico.

 

         2 -  Relação entre o museólogo e a hierarquia .

         A relação ou relacionamento entre ambos, a meu ver, só lucrará se se pautar por uma atitude de mútuo respeito pelas competências e necessidades. Necessidade de liberdade para o “ criador “ criar. Aquilo que designei, noutro trabalho, por interdependência funcional e orgânica.

         “ Sendo da autarquia ou da paróquia, por exemplo, é lógico que as tutelas queiram, através dele, e justo, implementarem as suas políticas. Porém, por seu turno, estas têm que respeitar a natureza do Museu, a sua independência é também funcional, sem ela o trabalho museal não se cumpre. Eu, para não assustar os mais prudentes, diria que neste caso o Museu deveria ser um orgão interdependente. Os estatutos, nos quais o pai ( a tutela ) concede liberdade e responsabilidade ao filho ( o Museu ). O filho aceita a autoridade esclarecida do pai. Se se conseguir estabelecer um clima de confiança, por um lado, e criar mecanismos legais adequados, e existem exemplos, será possível.

         Todo o poder é centralizador e cioso das suas prerrogativas. Refiro-me igualmente ao poder do Museu, que tende ser controlado legalmente e pela opinião pública. Ao manifestarmos a opinião de que o Museu pode ser um embaixador da comunidade estamos a invadir o território, por exemplo, da autarquia, o que equivalerá a dizer que se está a fazer diplomacia paralela. A tutela não poderá consentir. Não se tratará, porém, desta diplomacia. Esta diplomacia, deixe-se passar o termo, tem de ter sempre um substracto base, a investigação e esta tem de seguir os métodos da ciência nunca as conveniências da política.

         O Museu tem de salvaguardar este “ privilégio “, esta liberdade. A partir daqui e da salvaguarda dos objectos do Museu que constituem limites ao poder, o Museu colabora na política da autarquia e de outras instituições. O tema da investigação é quase sempre decidido pelas necessidades da comunidade, todavia, tal como já discutimos, o seu desenvolvimento pertence por natureza ao Museu. Eis porque reivindico a interdependência para os Museus. “ ( In “ Museu Paroquial Madre Margarida Isabel do Apocalipse: uma proposta académica de gestão do projecto de musealização. Trabalho curricular da cadeira de Gestão. “ ).

         Encontrando-me a ler a biografia de Mozart de Norbert Elias, aprofundei este problema. A tensão entre o “criador ”  (museólogo, neste caso ) e o encomendador. O primeiro, só o poderá ser se tiver liberdade. Também não o poderá fazer sem compromissos. Até que ponto o compromisso coarcta e compromete a criatividade ? O poeta, terá muito menos constrangimentos. E o museólogo ? Suspeito que, em parte, a incoerência, surja da falta de liberdade ( para além da “óbvia “ falta  de recursos ou de conhecimentos ).

        

 

Mário Fernando Oliveira Moura

Cacém / Agualva 30/06/1994 c. 18:33

 

1

 

         Algumas considerações breves aplicáveis ao caso do Arcano Místico numa perspectiva de futuro Museu paroquial da Diocese de Angra do Heroísmo e Ilhas dos Açores.

 

         Torna-se fundamental, a todos os que desejarem compreender a recente política patrimonial da igreja portuguesa, para quem como nós enceta os primeiros passos nesta matéria, a análise de dois documentos eclesiais, a saber :

 

         1 - A constituição apostólica “ Pastor Bonus “ de João Paulo II de 26 de Junho de 1988 que entrou em vigor em 21 de Março de 1989 e criou a Comissão Pontífica para a Conservação do Património Artístico e Histórico da Igreja [1].

        

         2 - “ O Património Histórico - Cultural da Igreja “, documento aprovado em assembleia plenária da Conferência Episcopal Portuguesa em Lisboa aos 14 de Maio de 1990. [2]

 

         Baseando-mo-nos neles, bem como em outros textos, tentaremos esclarecer sucintamente três aspectos :

         1.1 - Qual a noção que a Igreja nos parece ter de património;

         1.2 - Que ideia nos parece igualmente ter  ( a igreja ) de Museu .

         1.3 - Quais as estruturas que cuidam do seu património - cultural, tanto a nível universal, como nacional e local. Tentaremos esboçar, ao de leve, o caso da Confraria do Santíssimo Sacramento da Igreja da Matriz de N. Srª da Estrela da cidade da Ribeira Grande, herdeira do “ Arcano

Místico “.[3]

        

1.1

 

         Nos documentos que já compulsamos, não nos parece ter encontrado uma definição explícita e directa de património eclesial. Neles surge-nos sempre aquilo que a igreja afirma considerar como património eclesial indissolúvelmente ligado à sua finalidade. Só deste modo podemos tentar apreender as linhas gerais dos conceitos.

         O património, por conseguinte, “ é constituido pelos bens e valores materiais ou imateriais tangíveis ou intangíveis, nos quais se consubstância um legado precioso da comunidade de salvação que é a Igreja Católica. Posto ao serviço desta, por natureza universal, esse legado também serve potêncialmente a uma humanidade toda; são bens e obras, ideias e valores que a todos interessam.” [4]

 

         Detenhamo-nos um pouco na análise do excerto supra..

 

         1 - A Igreja Católica é uma comunidade de salvação universal.

         2 - O seu património está ao serviço daquela comunidade mas não deixa, por isso, de poder servir aos que não pertencem a ela.

         3 - O património é definido tanto como bens, como valores tanto materiais ou imateriais tangíveis ou intangíveis.

 

         Se quisermos ser mais explícitos em relação à natureza daquele património bastar-nos-à, quero crer, dizer que ele “ contém em si próprio um valor artístico inseparável de uma convicção de fé, ... “ [5] e que os seus fins dependerão dos “ fins da Igreja e das suas Associações ou Institutos com organização própria e autónoma. “ [6]

         Se se quizer ser ainda mais explícito, poder-se-à dizer, ao que julgo com toda a propriedade que a Conferência Episcopal Portuguesa entende, entre as suas funções quiçá mais importantes, cinco objectivos, a saber :

 

         1.1.1 - Uma ” Imprescindível função de culto “ [7].

         1.1.2 - Uma “ finalidade de catequese “ [8] ouçamos o documento : “ A mensagem evagélica e a doutrina da Igreja chegam aos homens através de uma actividade permanente de anúncio e de educação formal e informal, que exige meios de instrução dos povos “ [9].

         1.1.3 - “ Meios de exercício da caridade da Igreja [10].

         1.1.4 - “ Memória Histórica “[11].

         1.1.5 - “ Identidade da comunidade eclesial “ [12].

 

         E concluem, depois de, entre muitos outros aspectos de interesse, terem falado da “ pernicidade “ da proposta de Lei  do Património do Estado para a Igreja de 85, e de terem historiado as desavenças quase todas confessadamente ultrapassadas :

 

         “ As funções de culto, de catequese, de memória histórica e de identidade da comunidade exigem que o acesso ao património histórico-cultural da Igreja seja determinado pela própria igreja e não por qualquer entidade externa. “ Reclamam por outro lado, que, “ a utilização do património se faça respeitando sempre a sua natureza e não desvirtuando-a “.[13].

1.2

Qual a ideia que tem de Museus ?

 

         A referida conferência Episcopal entende que o património artístico, cultural e documental da igreja não deve circunscrever-se apenas aos imóveis, às alfais e outros objectos valiosos mas que deve igualmente ( entender-se ) inclui todos os objectos e documentos, que, intitula, de humildes. Entre estes refere as pedras tumulares, outras marcas epigráficas, os nichos rurais e os ex-votos, as melodias antigas e as orações populares. Além destes, inclui ainda os “ roes de fregueses “ e os livros das irmandades. Incita os leigos e o clero a colaborarem a empenharem e conscienciosamente nesta tarefa considerada um dever de primordial importância . Recomenda  a sensibilização dos “ fiéis “ através da publicação de artigos, e, que “ se dê o exemplo iniciando a recolha, conservação e estudo “.[14]

         Repare-se que, este programa proposto, ultrapassará a mera atitude de conservação do espólio existente. Igualmente registe-se, de novo, a concepção do património destinado a promover o “ crescimento integral do ser humano e designadamente o católico na sua comunidade de fé. Curioso ainda é registar o modelo de Museu que este programa parece conduzir. Um Museu  histórico com um maior pendor antropológico [15].

         O 1º Encontro da Comissão Nacional de Arte Sacra e do Património Cultural da Igreja, reunido em Fátima no dia 20 de Abril de 1990, congregando catorze das vinte dioceses de Portugal, tratou específicamente dos Museus da Igreja. O orgão oficial da Conferência Episcopal, o Boletim de Pastoral Litúrgica, dirigido por Monsenhor Aníbal Ramos ( propõe-se o dito Boletim trazer duas ou três páginas sobre temática cultural ) transcreveu o resumo das conferências, proferindo um “ voto de que os Museus da Igreja, acima de tudo estejam ao serviço da evangelização do nosso povo “ [16].

         Já em 1989, entre os dias 13 e 16 de Novembro, também em Fátima, numa outra reunião, a mesma Conferência Episcopal, salientara a necessidade de se “ formar uma federação dos museus da Igreja, aos quais se pedirá maior cuidado na sua função evangelizadora “.[17] No 1º Encontro esboçara-se  um primeiro inventário geral dos Museus da Igreja [18].

         A Comissão Pontífica para a Conservação do Património Artístico e Histórico da Igreja, em “ Carta “ dirigida aos Arcebispos e Bispos da Igreja, de 15 de Outubro de 1992, [19] insiste na função evangelizadora : “ ... e museus, muitos dos quais estão surgindo hoje, ou vão sendo renovados e actualizados com uma explícita qualificação eclesial “.

         A Igreja portuguesa, a julgar pelos textos que lemos, quer vindos a lume na “ Vida Católica “, orgão do Patriarcado, quer no “ Boletim de Pastoral Litúrgica “, orgão da Conferência Episcopal, seja pela autoria colectiva dos Bispos, seja pela pena de Monsenhor Aníbal Ramos ou de outros, toma como modelo declarado a perspectiva que orientou as exposições “ As idades do Homem “, levadas a cabo pelas dioceses de Leão e Castela. ( visitei em 1990 uma destas exposições ) D. Angel Sancho Campo um dos mentores daqueles eventos, deslocou-se a Portugal a convite da Conferência Episcopal e proferiu uma lição sobre “ a distinção entre a evangelização sobre o património da evangelização do património e acentuou as imensas possibilidades pedagógicas desta pastoral “ [20].

 

1.3

 

         Em primeiro lugar e a nível universal, tal como já referimos, a Comissão Pontificia para conservação do Património Artístico e Histórico : “ Près de la Congregation pour le Clergé est établie une Comission qui a pour fonction de présider à la preservation du patrimoine historique et artistique de l’Église tout entière. “ [21] e no artigo 102 diz :

         “ La Comission offre son concours aux Églises particulières et aux organismes,  épiscopaux et, le cas échéant, travaille en collaboration avec eux, afin que soient constitués les musées, les archives et les bibliothéques, et que soient réalisées au mieux la collecte et la preservation de tout le patrimoine artistique et historique dans l’emsemble du territoire, pour qu’il soit à la disposition de toutes les personnes intéressées. “ [22]

         A nível de cada estado nacional, existe uma Comissão Nacional de Arte Sacra na dependência da Conferência Episcopal Portuguesa que tomou posse no dia 22 de Maio de 1987, sendo constituido quer por membros do clero quer por leigos.

         Escrevia-se , então, que “ Todas as dioceses portuguesas têm já as suas comissões ou secretariados de Arte Sacra, como estabelecem as normas da Igreja, que foram actualizadas pelo 2º Concílio Vaticano na Constituição sobre a Liturgia, promulgada há 25 anos “ [23].

         Ainda em 1982, numa entrevista ao Padre Albino Cleto saída no Boletim de Pastoral Litúrgica, este diz que a Comissão Nacional de Arte Sacra, actuando através do seu Secretariado Nacional, “ coordena, a nível de todo o país e sem substituir as dioceses, esforços e iniciativas no campo da pastoral litúrgica. E, como bem deve entender, a pastoral litúrgica supõe necessáriamente uma cuidadosa atenção aos campos da música sacra e das artes plásticas, mais concretamente da arte sacra “ [24].

         Em cada paróquia pode e deve haver uma comissão deste âmbito. Presentemente, a prioridade é dada e com carácter obrigatório à constituição do inventário geral. O Código de Direito Canónico e as demais disposições legais da Igreja regem a relação entre a igreja local, nacional e universal também no que diz respeito ao património.

        

         A Confraria do Santíssimo Sacramento, proprietária do Arcano Místico é uma associação de leigos católicos sediada na igreja Matriz, cujos primeiros estatutos remontam a finais do século XVII. [25].

         A paróquia de N. Srª da Estrela,erigida canónicamente  em 1504, é uma das 153 da Diocese de Angra e Ilhas dos Açores. Esta foi fundada aos 3 de Novembro de 1534 pela bula “ Aequmm reputamos “ de Paulo III (26) ( não encontro esta nota no índice das notas). O Código de Direito Canónico vigente, de 1983 que substitui o de 1917, explica a sua ligação ao bispado e confere-lhe, assim, personalidade jurídica. Aliás igualmente reconhecida pela Concordata de 1940 e pelo Código Civil Português. É gerida por uma Mesa encabeçada por um Provedor coadjuvado por um secretário e um tesoureiro. Os seus estatutos são aprovados pelo Bispo e estão, tanto quanto sei, neste momento a ser reformulados.

 

2

 

         O que nos parece ter pretendido Madre Margarida Isabel do Apocalipse, em relação às suas obras.

        

         O Arcano Místico, segundo se poderá depreender da análise das fontes, pretendia ser uma obra de militância catequética num período conturbado para a Igreja católica. [26] Pretendia mostrar em pequenas figuras, a história da salvação, ou seja o modelo de salvação proposto pela vida de Jesus Cristo . Obra que se insere nas “histórias da salvação “ vulgares na igreja católica.

         Revela, ( parece, pelo menos revelar ) todavia, uma componente de circunstancialidade e individualidade criadora, não só pela matéria ( ao que parece inédita ) em que foi feita ( miolo de pão ) mas também pela peculiaridade da vida da sua autora . Poder-se-à dizer, de um modo geral, que, o seu “ programa “ se cumpria em certa sintonia com os acontecimentos do mundo de então .[27] Seja através da sua mais que óbvia alusão, ou seja ao confronto “ silencioso “ e súbtil e implícito das “ Três leis que Deus dera ao Mundo “ com as leis que “ os homens de então faziam e desfaziam .A superioridade das primeiras parecia-lhe não poder sofrer qualquer contestação, pois estas, ao invés das últimas que proporcionavam o relativo e o efémero do mundo dos vivos, proporcionariam o eterno do mundo de  Deus . [28]

         Madre Margarida sugere-as, ao que parece, de um modo simples e lógico ( para as mentalidades de então ), distribuindo a obra em três prateleiras ( ou patamares ) cada qual correspondendo ( ? ) a uma das sobreditas leis. [29] E sugere a correlação sem se lhe referir explícitamente. [30] Bastaria às pessoas conhecedoras do que se passava então no mundo, verem uma realidade para evocarem “ a realidade total cristã “. Como sugerirei este aspecto hoje ? Como já me referi no trabalho curricular para o arquitecto Sommer Ribeiro, que tive a oportunidade de lhe dar uma cópia, mantenho as minhas dúvidas quanto à correspondência exacta entre a última disposição que a autora lhe deu e a actual. Aqui, passarei por cima do assunto, não sem, contudo, insistir na necessidade de “ voltar ao arcano “ e procurar nele marcas ou outros indícios. Neste trabalho, procurarei descobrir os aspectos “ nodais “ da sua museologia e museografia. [31] Destino-o a esclarecer alguns aspectos que me possam ser úteis na elaboração da proposta do programa de uma primeira exposição. Tento, apreender a sua coerência.

         Madre Margarida recorreu, para explicar a sua obra, à legendagem de cada um dos quadros bíblicos e religiosos que descreveu. São quase todas impressas, exceptuando-se uma ou duas, manuscritas. [32] Uma linguagem que utiliza a escrita, a imagem e a oralidade. Quando à primeira, toda ela em português, não sei se também um ou outro em latim, exprime-se de um modo simples e directo. Todavia as letras são pequenas .Exceptuando-se, este último aspecto, sou tentado a dizer que estas são as legendas ideais, pois o texto é curto mas suficientemente esclarecedor. Vejamos.

         1 - “ Paraiso Terrestre em que Deos fez Adão com a sua mão, e o pôz em graça, com preceito de morte “ [33]

        

         Ou, em outra legenda :

 

         “ Portão da Rainha Vasta [ sic ] repudiada do Rei Asuero [ sic ], seu marido. “ [34]

         A liguagem imagética, aparece associada quer à simbólica quer à iconográfica .[35] O recurso à pomba e à língua de fogo como simbolos do Espírito Santo, ou ainda, o uso da serpente, símbolo da tentação, entre muitos outros, constitui a “ lexicografia “ do Arcano. Seria, talvez, uma achega à musealização do abstracto numa comunidade cultural católica. [36] Exemplos da “ iconografia “ católica surgem-nos em “ quase “ todos os quadros do Arcano. Mantenho, a este respeito algumas reservas, por me parecer que Madre Margarida terá recorrido a outras fontes que podem não ter qualquer relação com a iconografia católica. [37] Mas, se tal “ lexicografia “ parece  ter sido a lexicografia de então será que a paróquia de hoje entenderá ? Só a experiência o dirá. [38]

         Para além das explicações, escritas e imagéticas, Madre Margarida utilizou igualmente a exposição oral. Não esqueçamos as que deu ( poucas ) por escrito, [39] quer na carta à sobrinha D. Teodora, quer no Avizo ao Açoriano Oriental, quer no Testamento e no Codicilo. Chegaram, igualmente, outros ecos das suas explicações, sobretudo, através da escrita de seus contemporâneos. [40] São textos simples e sintéticos e poderão ser aproveitados na nossa exposição. Todos falaram com ela e todos escreveram sobre ela e a sua obra. Em todas elas ( sobres ) sai a mensagem directa e simples em todas parece-se destacar a ideia da sua musealização que atrás conjeturamos. [41]

         Ao que tudo parece indiciar, escolheu com a mesma minúcia que colocou na feitura dos quadros do Arcano, o móvel para o Arcano.[42] Recorreu ao melhor entalhador de então que havia na vila e na ilha, Pedro Araújo Lima, segundo reza a tradição.[43]Como poderia ela tirar partido do espaço concreto do quarto? Como poderia ela “ mostrar “ o conjunto de quadros naquele quarto?

         Só seria conseguido recorrendo a um móvel que permitisse a visão em todo o seu perímetro e em toda a altura. Ela mais um bom mestre encontrariam a solução. Mandou fazê-lo simples, o mais “ transparente “ possível, sem muitos ornatos, de linhas sóbrias até, de 2x2x2 metros, sensivelmente. O pé direito do quarto ultrapassaria os três metros.[44]Deixaria ainda ( a fazer fé na planta actual da casa o que  não sendo improvável não é certo ) cerca de dois metros no sentido norte-sul do quarto [45] e um metro e pouco no sentido nascente-poente. Resguardava-se o “ interior “ da casa da devassa dos visitantes menos íntimos. [46] Registe-se que a casa, ( não tenho a certeza absoluta ) já estaria dividida por dois corredores entrecruzados. Aceder ao quarto do Arcano como ainda hoje é conhecido, não significava necessáriamente devassar o resto da casa. Acedia-se a ele, subindo a escadaria da porta principal, e, voltando-se logo à direita no corredor para entrar também, à direita, numa das duas portas. Madre Margarida poderia sair e entrar daquele quarto por uma pequena porta, que, comunicava com aquele que presumo ter sido o seu quarto de cama. Entre esta e o seu presuntivo quarto, abria-se, como ainda se abre, um minúsculo vestíbulo de onde partia a escada da falsa. [47]Tinha duas janelas voltadas para a rua de João d’Horta .

         As maquinetas de presépio que conheço, [48] o Arcano inserir- se - à  nelas, regra geral, e tanto quanto conheço, só são visíveis, na melhor das hipóteses, por três dos seus lados. O Arcano, ao ser visível pelos seus quatro lados, pelo menos na ilha, e insisto, e, tanto quanto sei, introduziu uma inovação ou variação. [49] Era um espaço o mais público possível dentro de um espaço privado. Demonstrava igualmente já uma certa  responsabilidade perante o público, ao ponto de se sentir obrigada, a fazer um anúncio publicado a fim de pedir que a não visitassem enquanto não acabasse a obra. [50]

         Quanto aos” horários “ de visita, dependeriam das ocasiões e das horas consideradas decentes para se visitar um ex- freira. Suponho que de manhã, durante a semana, estaria excluída qualquer visita, e que só de tarde o seria permitido ( aconselhado ) , antes das trindades e entre as refeições. A etiqueta assim o aconselharia. Suspeito que o Natal e o Verão ( melhor o Outono ) seriam os períodos mais movimentados. [51]

 

         Como ideias fundamentais a reter propunha :

 

         1 - O programa não foi cumprido, pois está inacabado.

         2 - A década de 40, parece ter sido a de acelaração da sua formação. Tê-lo-à sido por Castilho, pela Ribeira Grande, por si e pelos acontecimentos da época.

         3 - A obra era vista como uma obra catequética e de louvor ( culto a Deus ) tanto como de memória e de identidade daquela comunidade católica.

         4 - Contém intenções implícitas e explícitas de museografia.Modelo humano e dirigido às elites ?

         5 - Recorre a dois tipos de expositor :

         a) Móvel

         b) Manga e panela de vidro.

 

3

 

         O que nos parece ter “ entendido “ a Confraria do Santíssimo Sacramento, herdeira de Madre Margarida.

 

         Não faz parte dos objectivos deste trabalho, enumerar ou discutir as inúmeras burocracias que, em primeiro lugar permitiriam a Madre Margarida fazer o Testamento e, em segundo lugar, fazê-lo a uma associação de leigos católicos. Contudo, para compreendermos o quarto geral, torna-se, ao menos necessário, tocar, ainda que ao de leve, no assunto.

         As donzelas ao tornarem-se freiras, ao professarem, perdiam, os direitos de sangue que tinham tido numa dada família. Tentava-se, deste modo, corrigir e evitar a amortização, considerada então exagerada de bens de raiz ou móveis. O governo do Marquês de Pombal iniciou uma série de legislação que teve continuidade no período liberal.[52]

         Só em 1835 se lhes permitiu, se estivessem secularizados, “ alienar, testar e dispor de seus bens por qualquer modo, nos termos em que pelas leis do reino era permitido aos clérigos seculares. “ [53] Mas só o poderiam fazer em relação a leigos, o que lhe permitiu, assim, Madre Margarida, primeiro testar a um seu parente do Brazil, em 1854, e, em 1857, completar o que pretendia testar à confraria, comunidade de leigos. Esta proibição seria levantada em 1855. [54] Só o código civil de 1852 ( salvo erro ), segundo Fortunato de Almeida, lhes daria, em pleno a igualdade de direitos, porém, na condição de serem egressas.

         Por seu turno, a Confraria só poderia receber aquele legado se o Governador Givil reconhecesse o seu valor e a sua utilidade tendo em vista os fins e os objectivos da Confraria. Como os governos e os governadores foram mudando naquele período de alguma alternância política [55], mudaram também as orientações. Em 1830 criaram-se as Juntas de paróquia, entidade que passou a tutelar também as confrarias. [56]

         Começou por ter de participar obrigatóriamente nas despesas de manutenção conservação da igreja, disposição não consignada nos estatutos primitivos, depois, teve de concorrer, sempre que julgava necessário pela mesma junta, no provimento de certos encargos com os párocos. [57] A aprovação da receita e da despesa passa a ser feita, depois da Ladeira da Velha [58] pelo Governo Civil. Isto no que concerne o século XIX, período objecto da nossa análise. A mesa da Confraria que recebeu o legado depois do falecimento de Madre Margarida em 6 de Maio de 1858, pretendeu cumprir à letra o espírito e o estipulado no testamento. [59] Aliás, com o aval do testamenteiro escolhido por Madre Margarida, o seu primo, filho da prima Umbelina, o Srº Melo e Silva.

         Para tal venderiam  as três casas e o Arcano para com o rendimento do seu produto fazerem enquanto o mundo fosse mundo a festa de São João Evangelista, festa instituída por Madre Margarida. Na realidade, porém, as coisas passar-se-iam de outro modo [60].

         O Governo Civil pediu-lhes uma avaliação criteriosa. Fizeram-na, porém, sobre o Arcano afirmaram que, pela sua natureza e material, teria mais valor de estimação e que só poderiam apurar o “ seu valor comercial “ se o levassem à praça [61]. Foi-lhes dada autorização.[62]

         Mas não chegaram a vender a casa e o Arcano. Alugaram as casas e permitiram que se visitasse o Arcano mantido no mesmo quarto em que o mantiveram Madre Margarida. Tal situação ( no que concerne ao Arcano ) manteve-se até 1869. [63] Adaptaram-se à nova situação tentando tirar o melhor partido dela. Designaram o coadjutor da Confraria como o responsável pela conservação e recolhimento das entradas do Arcano. Decerto contrataram com o inquilino da casa do Arcano para este facilitar o acesso de visitas. São estes dois personagens que terão a responsabilidade de explicar o Arcano. [64]Mais tarde, a Confraria chegou a estipular o preço das entradas. [65]

         Manter-se-à, pois, a situação, até 1869. Então, tentou-se de novo a sua venda e a das casas. O então governador civil, as suas competências tinham mudado, responde que quanto às casas competia ao Ministério das Finanças dar autorização,e, quanto ao Arcano, competiria, e não foi muito explícito, ao governo de sua Magestade.[66] Não sabemos o que se terá passado entre aquela carta e a nota do livro de Receitas e Despesas da Confraria, numa alinea, ao fim da página, explicativa do reforço orçamental destinado a preparar e a transferir o Arcano da casa onde estivera para o coro alto em que presentemente está. Lê-se, grosso modo, não textualmente:

         “ porque um monumento de tal importância deve estar em lugar condígno  [67]

         O que se passará ? Tirar o Arcano de uma casa ( e a razão, encontramo-la em actas da mesma Confraria, prendia-se com a valorização da mesma antes de a levar à praça. Ninguém quereria uma casa com o melhor quarto ocupado e a casa devassada com visitas ) para um local de culto ? Não havia outro lugar, provavelmente. Mais tarde, não muito mais tarde, vir-se-iam a arrepender amargamente. As pessoas ( cada vez em maior número ) não respeitavam o lugar de culto.[68]

         A partir de 1869, o Arcano muda de espaço, e de certo modo, muda a sua museografia. O espaço passa a ser mais restrito, e, se calhar, na mudança o “ arcano “sofreu uma nova (des) ordem.[69] Teriam inclusivé, cortado os pés do móvel, para o tornar adequado ao seu novo espaço? Terão misturado os quadros?

         O número de visitantes parece que aumentou e ter-se-iam diversificado.As alturas de mais afluência coincidiam com a Páscoa e com o dia de São Pedro ( 29 de Junho ). Por duas vezes a mesa da Confraria proibiu ou restringiu as visitas, tentando seleccionar o público, debalde, pois, por um lado o público, e, por outro o coadjutor, precisavam do Arcano.[70]  ( introduzi esta nota aqui pensando ser aqui a sua localização, visto não constar no texto ).

         Neste novo espaço ( sagrado ), o público não podia dar largas à sua admiração e ao seu convívio. Aliás, parecendo que não, não será também esta a nossa atitude face ao visitante do museu ? [71] Não será coerente e saudável deixá-lo acontecer na nossa proposta de exposição?

         Por diversas vezes, a mesa, refere  o coadjutor como o “ conservador, guardião e guia ” do Arcano. Sobre esta personagem, mal paga, e com pouca ou nenhuma formação, recai a responsabilidade que hoje cairia sobre os ombros de diversos profissionais.[72]

         Para impedir a “ profanação do templo “ e para permitir o livre acesso da luz natural e porque o “ arcano “ era importante ( continuava a ser ) a Mesa de 1892 ( ou 3 ), salvo erro, [73] ou melhor o Provedor, propôs a construção de um edifício anexo, acoplado ao alçado lateral norte da igreja, junto ao baptistério. Far-se-iam dois quartos, um destinar-se-ia ao Arcano, outro, à sala das reuniões. [74]

         Até 1890’s, a exposição pública do arcano no coro fora uma solução digna mas revelara-se indesejável, a partir de então, proporcionar-lhe-iam outra dignidade. O quarto construido, e, julgo que este seria o do Arcano, se ele se transferisse, tem sensivelmente o triplo do comprimento do coro alto, do alto do Santíssimo, e, com pouco mais de largura. Tem quatro enormes janelões e está, voltado para norte.

         Hoje, a paróquia, dispõe da antiga casa do Arcano. Este é o espaço concreto que teremos de musealizar.

 

         Em traços largos, tentei dar a imagem da 3ª exposição do Arcano. As primeiras duas ocorreram em vida de Madre Margarida, a primeira, noticiada por Sena Freitas (que não será segura), e, a segunda, pelo móvel actual. Resumindo.

         1- Depois de 6 de Maio de 1858 passou a ser da Confraria que desistiu da venda em 1869, desconhecendo-se as razões.

         2- Talvêz tenha mudado a ordem das peças.

         3- Os visitantes aumentaram em número e diversificaram-se.

         4- O tipo de convívio dos novos visitantes era diferente do convívio de elite e aproximar-se-à do tipo de visitante  médio actual da Ribeira Grande.

         5- Passou a ser paga a entrada. Existindo mesmo uma tabela de preços.

         6-”O conservador, guardião e guia” passou a ser, primeiro, o coadjutor e o inquilino da casa (até 1869), segundo, sómente o  coadjutor.

         7-Retenha-se a ideia de que se pretente, pelo menos desde 1892 (3 )   retirar o Arcano do coro e colocá-lo na pretendida casa anexa e que desde a década de 80 deste século se pretente retorná-lo à sua casa primitiva.

 

 

4

 

 

         As linguagens que nos parecem poder “ ir ajudando ” ( de vários ângulos ) a interpretar as relações entre a obra, a sua autora e nós, nos vários espaços e tempos em que ambos se têm desenvolvido .[75]

 

         “ O estudo, catalogação e apresentação do Património Cultural da Igreja não deve ficar no como e quando mas passar ao porquê e para quê .E não será difícil verificar que as suas razões profundas se prendem com o anúncio da História da Salvação.” [76]

 

         Este museu pretende ser de identidade, de memória e de catequese, de uma comunidade paroquial, que, por laços históricos e antropológicos multiseculares sempre se identificou com o concelho e vice-versa.[77] Um e outro eram a mesma coisa. [78] Daí que, em nosso entender, a paróquia deva dialogar, de igual para igual, com a rede museal municipal, bem como com as  outras entidades ou pessoas.[79]

         Museu que, quanto a nós, estaria permanentemente a ser (re) musealizado. Sê-lo-ia, de acordo com cada questão concreta desenvolvida no âmbito da sua temática central. Não será só o museu do Arcano, mas o museu paroquial. Será ingenuidade ou inexperiência da nossa parte? Possivelmente. Todavia devemos convir que, só tiraremos a prova dos nove, no confronto com a prática.

         Teria porventura, um nucleo mais ou menos homogéneo mas não rígido. Refiro-me tanto ao espaço da exposição como ao seu conteúdo e  à sua interpretação. Á sua volta, propor-se-iam diversos olhares. Por exemplo “ O Arcano Místico e a catequese tridentina “,ou ainda “A vida quotidiana de uma freira exclaustrada “. Não seria, correcto do ponto de vista científico, lançar um só olhar. Seria, em nosso entender, redutor, ficar-se-ia inadvertida ou propositadamente “ mais aquém “ do que, se calhar nos seria possível ir, se tentássemos ir “ mais além”.

         O conhecimento (a tentativa de apreensão) de todas “ as relações possíveis “ ou a combinação de temáticas afins, não se esgotará tão cedo. Penso que só seriam conhecidos (de certo modo) os limites impostos ao nosso bom senso, às nossas disponibilidades e à nossa imaginação. Não se esgotaria ( presumivelmente ) mas teria limites, convenhamos, nem que fosse os impostos pelo “dejá vu”, pela repetição, pelo cansaço, quer do paroquiano quer do organizador.

         Todavia, creio que valeria a pena, “experimentar” este “diálogo museológico prolongado”. Além do mais, perdoem-me a possível ignorância, desconheço quaisquer modelos capazes de, numa só assentada, abarcarem com rigor, a “totalidade possível da fonte”. Nem seria desejável fazê-lo de uma só vez. Não se tratará, porventura, da limitação da linguagem museal mas da limitação inerente a qualquer linguagem. Tal como o arquitecto, para quem, a obra estará sempre inacabada ou passível de ser continuada, o museólogo sendo ( presumo, ao menos, um co-artísta do espaço, enquanto co-preparador de exposições ),portanto, parceiro de arquitecto, partilhará daquela opinião?

         Todas as exposições já efectuadas até hoje, mesmo as que se pretenderam  permanentes “, no fundo não passaram de temporárias. Existirão ainda algumas que não foram alteradas, é certo, mas não será menos certo dizer, que, neste momento, grande parte, ou estão a ser renovadas, ou se não o fizerem serão consideradas retrógradas.[80]

         Aceito que devam, até certo ponto, continuar a existir algumas que sirvam de “ memória histórica “ à história da museología e do património. Porém , hoje em dia, existirão outros processos mais “ eficazes “ de preservar estas memórias.Impenderá sobre este tipo de exposições um ónus acrescido? Creio que será assumidamente mais caro, mas não tão caro como se poderá supôr,[81] e muito mais trabalhoso, mas será, suponho, mais rentável culturalmente. E mais autêntico, pois, estes discursos “tenderão “ a aproveitar mais “a realidade social total dos testemunhos da memória”.Presunção? Não sei, só gostaria de o poder experimentar [82]. Não se poderá aplicar a todo e a qualquer caso? Plausívelmente. Exigirá uma maior especialização e um maior investimento e uma atitude permanente de pesquisa de transmição dos resultados. O público deverá ser sempre chamado a avaliar. Se o tema do Arcano se esgotar ou, por hipótese, cansar, admito que se deva iniciar “ outras observações “. Ou mesmo concomitantemente. Não quero com isso significar que ele se tenha esgotado de todo, “ad saecolorum “, mas que necessite de repousar, nem quero com isso tão pouco, como é óbvio, significar o seu desprezo. [83]

         Tal não se ficará somente a dever ao facto de as técnicas de exposição e os critérios de conservação mudarem a um ritmo alucinante mas igualmente dever-se-á a novos / velhos [84] conceitos de exposição museológica. Dever-se-à, igualmente, a um modo de nos relacionarmos com “ os objectos e os seus contextos vivos “, que, como tentei indiciar para o Arcano, se encontrará, quer implícita quer explícitamente, sempre presente.

         Não será, no meu caso, nem uma descoberta nem uma recuperação acritica do antigo, mas uma das maneiras que se me afigura capaz de ligar com o Arcano.[85]

         Não existindo duas investigações patrimoniais iguais, porque não existirão duas abordagens nem dois investigadores iguais, a não ser que trabalhem em equipa e mesmo assim a tendência é para se cultivar a diversidade de olhares, nem dois museólogos iguais, nunca poderá haver ( admito que possa haver ) exposições rigorosamente idênticas. Felizmente.

         Montar uma exposição para além de ser ou ter de ser um acto e uma atitude técnico-cientifica, será também sempre um acto criativo. E não será necessário “ procurar originalidade “ para sê-lo, basta ser-se verdadeiro.

         Se quizessemos ir mais fundo, diriamos que, apesar de ser possível e até desejável reconhecer no museólogo e nas demais técnicas patrimonias e da memória, um estilo, tal como o detectamos no pintor ou no arquitecto ou ainda no romancista ( entre muitos outros ) presumo que cada exposição, se for “ sincera[86]espelhará/reflectirá forçosamente o cunho pessoal. O mesmo observador, observando  de “ janelas “ e de “ patamares diferentes “ a mesma matéria, verá, e, por conseguinte deverá mostrar, aspectos diferentes.[87]

         A razão ou as razões não serão unicamente epistemológicas ou hermenêuticas ( teoria do conhecimento ) mas decorrerão igualmente da própria psicologia do homem.Se quizermos “ tentar “ que o museu vá sendo um local de busca dinâmica de identidade de memória e de conhecimento e não um mero depósito de objectos, devemos “ renová-lo, renovando-o “. A identidade, por exemplo, não é estática e é relacional.

         Renovar significará tentar “ atrair “ e ir com a comunidade. Quando se visita o mesmo local repetidas vezes e nele se encontra o mesmo, perde-se o desejo de lá voltar ? Não, necessariamente. Porém, a renovação é muito mais profunda do que uma mera moda superficial. Os locais de memória têm que ter uma certa estabilidade, uma certa previsibilidade. Refiro-me à inovação dentro da temática e às renovações acompanhando “ o querer da memória da paróquia “.[88]Lugares de memória, são sempre, de certo modo, também de culto, são lugares de identidade e a memória tende a ser “ conservadora “. Medite-se no caso do presépio movimentado da Ribeira Grande e ver-se-à que a “ corte fiel “ não dispensa uma “ certa e determinada inovação “.[89]

         Também teremos de admitir que a comunidade possa e deva “ referendar “ ( ao contrário do que gostariamos ) um certo tipo de discurso e uma determinada permanência deste discurso.[90] O que fazer, então? Seria caso para, na eventualidade de querermos ser a “ luz que ilumina “, mantermos um núcleo duro mais permanente e apostarmos nas exposições e outras actividades mais circunstânciais ? Não tenho certezas.[91]

         O museu, se não tiver a paróquia consigo ( parte ) não será o museu que eu idealizo. Torná-lo atraente e significantemente importante para a paróquia seria o seu objectivo permanente. Seria igualmente um espaço de “ experimentação “, tal como, à sua maneira, o foi, no tempo de Madre Margarida.

         Ao que parece, ela não desdenhava ( diz ela por cortesia, diz Sena Freitas, que, por prazer ) o diálogo com quem a visitava, abrindo-se ( suponho ) às suas presuntivas sugestões, resguardando tão-só o segredo da massa do Arcano.

         Pretendendo-se que seja um espaço de “ experimentação “ onde se lançariam novos olhares, e se desvendaria o segredo da sua técnica, seria também um centro de estudos paroquiais. [92]

         Eis em suma, a filosofia de base, norteadora do projecto de musealização do Arcano. Confesso que, desde 1989, me tenho mantido fiel a este modelo. [93] Se calhar faço -o, repito-o, porque ainda não “ testei “ a ideia no terreno.

         Irei, assim, propôr, uma primeira exposição ( talvez a quarta que o Arcano já teve ) e não “ a exposição “ como já deve ter ficado sobejamente demonstrado pelo que atrás se disse.

         Uma primeira exposição que se dirija ao gosto do grosso da paróquia de Nª. Srª da Estrela. Fá-lo-emos, como paroquianos e fregueses da Matriz, tentaremos responder a algumas lacunas sobre o Arcano e a sua autora. Tentaremos ainda descobrir o que eles sabem e o que querem saber. [94]

         Pela imigração, por saturação ou por outros motivos somados aos primeiros, os paroquianos da Matriz de 1994, têm uma vaga ideia do Arcano, e do seu património, [95]perderam a ideia viva de outrora. Esta primeira exposição tentará ser, não o ponto da situação, mas a resposta a algumas perguntas dos meus colegas paroquianos. Quem era a freira, quem era a sua família, o que fez e porque o fez. Essencialmente. Disso nos ocuparemos na II parte deste trabalho, onde ensaiaremos  traduzir singelamente ( “ e sem espaventos exagerados “ ) o que nos propomos. Exposição simples, inteligível e proxima de nós. Em Sevilha, seria uma coisa, na Ribeira Grande será outra ? Supomos que sim.

        

 

II Parte

 

Propostas de uma primeira exposição sobre a vida e a obra de Madre Margarida.

 

         O que se pretende, para além do que já foi dito na primeira parte ? Em primeiro lugar, pretende-se dizer ao grosso da paróquia aquilo que ela quer ou precisa de saber.[96]

         Em segundo lugar, pretende-se dizê-lo de um modo que ela o preceba. A linguagem museal terá de ser clara e directa.

         Em terceiro lugar, procurar-se-à, permintam-me a metáfora, fazer o fato à medida do freguês e não fazê-lo pelo padrão-tipo do pronto a vestir. À sua medida com uma margem confortável para compensar os emagrecimentos ou os alargamentos razoáveis.

         Tenho um espaço concreto e limitado e nunca teremos, nem na melhor das hipóteses, um orçamento generoso.[97]Se dependesse somente da nossa vontade construiriamos o museu do Arcano de raiz, perto da Casa do Arcano. [98] Daríamos destaque a um e ao outro. Vamos dar dois modelos de exposição, mas antes do mais, entraremos na apresentação dos módulos temáticos propostos do primeiro modelo, e de seguida, entraremos na sua implementação no espaço. Implantação no espaço que agora dispomos e incursão no espaço sonhado.

         O ponto de partida será o “ retomar-se o espírito inicial de Madre Margarida “, recorrendo às técnicas capazes de exprimi-lo com gosto e com simplicidade. A musealização do abstrato “ será tentada “ recorrendo

à iconografia católica ainda reconhecível pela comunidade. Recorrer-se-à às suas legendas, adaptando-as, porém, à actualidade, ampliando-as. Algumas serão ou suprimidas ou acrescentadas. As suas palavras ( conforme já nos referimos ) explicarão o programa, o que se pretendeu com o Arcano, quem foi a sua autora e o que fez e porquê. Os que a conheceram, repetimos, falarão dela.

         Todavia, tudo isso de acordo com, repetimos também esta ideia, os requisitos técnico-científicos da conservação preventiva, das técnicas expositivas e da museografia, não traindo ou ferindo, “ aquilo que fomos descobrindo “ como sendo a coerência da obra e da vida, [99] bem como assim a política patrimonial da Igreja Católica.

          Em nenhum caso, porém, façamos fé nisso, a coerência e a clareza da mensagem, em nenhum momento, poderão andar de candeias às avessas. Temos de tentar encontrar um equilíbrio viável. Como elementos a utilizar nesta musealização temos a casa em si mesma e o seu quintal, a vila ( agora cidade ), o Arcano, o Testamento, o Rol e o Codicilo. [100] Convirá ainda relembrar, suponho, que, por mais bem planeada que seja uma exposição, o confronto directo com a montagem no espaço real, de um modo geral, permite ou impõe alterações.

 

Primeiro Modelo

 

         Subdividiria a exposição em cinco módulos ou capítulos interligados, a saber:[101]

        

         1 - O lugar / o espaço - A Ribeira Grande ( vila ) convento e casa .

        

         2 - O tempo - a época, os grande acontecimentos, o modo como foram lidos localmente.

 

         3 - A personagem autora - A família, a freira e o testamento.

 

         4 - A Obra ( O Arcano ) - programa, iconografia, materiais, custos / recursos.

 

         5 - O Icone de Identidade local, a fama, as vicissitudes, as análises laboratoriais, o futuro. Para ela, a sua obra, era a Festa de São João Evangelista.

 

1 - O espaço.

 

Ribeira Grande : Caracterização entre 1779 e 1858.

 

         1.1 - A VILA  - ( em que nasceu biologicamente e morreu para o mundo ) -  Cartografia sete ou oitocentista ( cópia ampliada do original pertença da Biblioteca e Arquivo de Ponta Delgada e Serviços de Documentação da Universidade dos Açores ).

 

         - Gravuras e fotografias da Ribeira Grande - ( cópia ampliada da gravura de Cândido Abranches - início da segunda metade do século XIX.)

         - Igreja da Matriz e escadaria e Largo do Município.

 

         - Maquete reconstitutiva da vila em meados do século XIX de acordo com um inquérito existente no Arquivo Paroquial .

         1.2 - Mosteiro de Jesus ( Clarissas ) em que Margarida morreu para o mundo.

         - Planta conjectural do Mosteiro . ( com breve história ).

        

         - Fotografia a preto e branco do que sobreviveu ( notícia da sua venda e dos vários proprietários ).

 

         - Azulejos ( séculos XVI, XVII e XVIII )

         - Cerâmica ( séculos XVI, XVII e XVIII ) recolhida no local.Imagens e alfaias litúrgicas hoje dispersas ( os Azulejos e a cerâmica estão depositados na Casa de Cultura Municipal as Imagens e as alfaias segundo nota da sua redistribuição poder-se-à localiza-los ).

 

         Observação : Tanto o ponto 1.1 como  o ponto 1.2 só “ estarão completos “ com um percurso exterior onde os “ diversos locais “ serão explicados. Incluo aqui as casas da família, as igrejas que frequentou e o mosteiro, bem como o cemitério onde está sepultada.

        

         1.3 -  A casa em que se preparou para o seu terceiro nascimento.

-Para a vida eterna quando morre biológicamente.

 

         - Repetimos. A casa é em si um documento. Como a fazer realçar com o espaço disponível ?

        

         - Maquete da Casa do Arcano com a sua presumível reconstituição na altura da sua ocupação por Madre Margarida ( baseado tanto no testamento, Rol e Codicilo como nas sondagens que já fizemos e que temos de fazer ).

 

         - Óculo de ventilação recolhido no seu quintal e exposto na Casa de Cultura.

 

         - Documento notarial da sua aquisição.

 

         - Alvará de concessão de uma pena de água .

 

         Se me fosse possível, a casa, tal como já afirmamos, seria tratada como um documento em si, o que implicaria a colocação dos “ outros documentos “ noutros espaços. [102]

 

2 - O Tempo.

 

         O fim de um Mundo.

 

         - A crise do Antigo Regime e o seu desmantelamento.

 

         - Decreto de extinção das ordens religiosas nos Açores ( 17-05- 1832 ) -Tenho-o na Colecção das Leis ( Casa de Cultura ).

 

         - Inventário do convento ( será utilizado para reconstituir no ponto 1.2 ). O Mosteiro ( diz respeito à igreja, coros e sacristia. É um documento precioso ).

 

         - Cópia da Acta da Vereação em que o nome do TIRANO ( D. Miguel ) está riscado.

 

         - Acta de Adesão da Câmara .

        

         - Recepção a D. Pedro ( 1832 ) - Lista minuciosa das despesas.

 

         - Maquete ou Mapa com a reconstituição da Batalha da Ladeira da Velha. ( placa a assinalar / explicar o local ).

 

         - Estandarte da Monarquia Constitucional.

 

3 - Madre Margarida Isabel do Apocalipse autora do Arcano Místico.

 

         - Quadro com a sua árvore geneológica ( da autoria do Dr. Hugo Moreira ).

 

         - Carta Autógrafa ( cópia do original - descoberto pelo Dr. Hugo Moreira, e pertencente a um seu descendente ).

 

         - Almanaque do sobrinho com o seu nome no dia dos seus anos.

 

         - Tentativa de reconstituição, em tamanho natural de um recanto de trabalho com a freira apresentada de costas a pintar figurinhas [103].

 

         - Imagem religiosa que lhe pertenceu.

 

         - Termo de baptismo / ingresso e óbito.

        

         - Planta actual da Ribeira Grande com a localização presumível dos lugares em que passou a sua vida e a dos seus familiares.

 

 

4 - A Obra ( O Arcano )

 

         - Texto da autora.

 

         - Reprodução fotográfica de cada conjunto, tal como foi feito, por exemplo, na exposição Álvaro Pires de Évora, na Torre do Tombo [104], distribuidos em redor do espaço onde ficará, no meio o Arcano ( ou no espaço possível da casa ou no espaço desejável de um anexo ou de outra estrutura de raíz ).

 

         - O Arcano, como se disse, seria colocado no centro de um espaço, e, o seu interior, em princípio ficaria tal qual. Talvez fosse necessário criar uma estrutura que permitisse a sua leitura correcta. [105]

 

         - Mostrar alguns incompletos e as mangas e as panelas que, apesar de estarem no móvel, não lhe pertencem.[106]

 

Observações: Pode ser que se deva dar “ a ordem “ inicial do Arcano, se, porventura, ela for descoberta.

 

         - Daremos, nas fotografias, a ordem bíblica.

        

         - Explicaremos, sucintamente, o significado do Arcano e o  seu percurso.

 

5- O Icone de identidade local .

 

         - Reprodução de algumas gravuras em que a autora se, terá inspirado, com fotos das cenas ou motivos inspirados, ao lado.

 

         - História da obra ( datas, etc... ) - vicissitudes, o projecto de reinstalação ( esta parte já a tinha incluido em outra área ).

         II MODELO  para a primeira exposição sobre a vida e a obra de Madre Margarida.[107]

 

         1- Biografia da autora .

 

         2- Biografia da Obra ( tanto Arcano como altar de S. João )

        

         3- a) - Contexto histórico-geográfico da Ribeira Grande entre o seu nascimento e a sua morte.

 

         b) - Idem para o espaço para além da antiga vila.

        

         4 - Uma área que foque :

        

         a) - A apropriação patrimonial do Arcano pela Ribeira Grande. Relação entre a obra e a comunidade.

        

         b) - Relação entre a obra e a sua preservação.

 

         5 - Como teria sido a vida naquela casa durante a vivência de Madre Margarida Isabel do Apocalipse.

 

         6 - O que significará a sua tentativa ( vã ) de instituir à perpetuidade a festa de São João Evangelista. ( O altar terá tanto valor como o Arcano )

 

Observações: Estes dois modelos que acabamos de esboçar, deverão ser flexíveis. O segundo modelo tenta abarcar toda a sua obra: Arcano  e altar de São João. Assim, poderemos fundir ou suprimir neles o que achamos que o deva ser sobretudo para, por um lado, aliviar  o peso da documentação, e por outro, facilitar a clareza interpretativa da exposição.

         É nossa convicção de que, deveriamos “ reduzir “ o número de módulos  não só pela falta de espaço como também para se evitarem a “ prolixidade “. Alguns módulos, deverão, no futuro, servir de tema a outras exposições. [108] É igualmente nossa convicção de que, nesta fase, tal como já o dissemos, o arquitecto tem que trabalhar connosco.[109] Consideramos ambos modelos, “ esboços em bruto “, tal qual os que fazem os escultores, para, depois, os irem burilando.

 

Propostas de Acrescentos a ambas  .

 

 

         Ambas terão de ter como  complemento uma “ oficina de miolo do pão “ com objectivos didácticos. O percurso exterior será também aconselhado, assim como um programa de animação, enquanto a exposição durar. Pensamos ser útil (até que ponto poderíamos, por um lado, aliviar a exposição, e por outro atrair as pessoas ) o recurso a um “ video “ com a vida e a obra mais desenvolvidas. [110] Recorrer-se-ia, igualmente, ao computador, para nele se colocar toda a documentação já compulsada sobre a temática bem como  a sua bibliografia.

         Esta primeira exposição não deveria durar mais do que dois anos, em princípio, e insistimos, completar-se-ia com tudo aquilo que esboçamos anteriormente. Programa de visitas guiadas, exposições pontuais e algumas conferências. Seria avaliada continuamente durante todo aquele tempo, e tal avaliação, destinar-se-ia a “ ir conduzindo a exposição “ em direcção ao nosso objectivo primordial : Ter a comunidade paroquial connosco e faze-la conhecer parte da vida e da obra da autora do Arcano. [111]Tentaremos tal como Madre Margarida fazia, uma abordagem pessoal. Assim guiaremos as exposições.[112]

         Seria inaugurada no dia 27 de Dezembro, dia de São João Evangelista. As outras exposições e conferências distribuir-se-iam pelo Natal, Quaresma  e Festas da Paróquia ( primeiro Domingo de Setembro ).Gostaria que V. Exª me desse a sua opinião. 

 

 

Notas

 

         1 - Percurso propostos.

         2 - Exposições.

         3 - Conferências.

         4 - Oficina.

 

1 - Percurso proposto .[113]

         a) - Núcleo até ter professado .

 

         - Local da casa onde presumivelmente nasceu. Convento dos frades.

         - Casas das avós.

         - Igreja da Conceição.

         - Praça Municipal.

 

         b) - Núcleo de professa .

        

         - O que resta do convento.

 

         c) - Núcleo de exclaustrada até à morte .

 

         - Igreja Matriz - altar de São João Evangelista.

         - Casas.

         - Cemitério.

 

         2 - Exposições

 

         Gostaríamos de fazer em dois anos duas grandes, e deixaríamos em aberto, duas mais pontuais.

 

         - Traje setecentista e oitocentista ( é algo que atrai muita gente ).

 

         - Culinária conventual ( outro tema também aliciante ).

 

         Ambas as exposições teriam uma componente muito prática. Por exemplo, na de culinária, teríamos as cozinheiras a fazer, sobretudo a doçaria conventual, para consumo imediato. O mesmo se diria do “ Traje “ ( em moldes que se adaptassem, bem entendido ).

        

3 - Conferências.

 

         À volta de seis, uma em cada um dos períodos fortes da paróquia.

 

         - Dois ou três convidados para dialogarem acerca do museu e património e identidade tanto na perspectiva eclesial como civil. ( convidaria especialistas destas áreas ).

 

         - Sobre culinária conventual.

 

         - Sobre Traje.

         - Sobre Música Sacra ( diálogo e concerto de orgão ).

         - A igreja e o culto dos Santos ( 27 de Dezembro dia da festa de São João Evangelista ).

         - Arquivos e memória.

 

4- Oficina

 

         - Escola “ de miolo de pão “ [114] aberta todo o ano coincidindo com o ano lectivo.

        

         Nótula: Os dois modelos, parecendo à primeira vista idênticos, não o são. Um restringe a obra ao Arcano, o outro abrange a sua obra preferida, a festa de São João Evangelista. Este segundo modelo, parece-me mais humano , pois propõe uma biografia mais intima. Através dele poder-se-á destacar melhor ( frisar ) os laços sociais de Margarida, por exemplo, com alguns familiares, designadamente o filho da prima que no seu almanaque registou o dia dos seus anos e a prima que lhe envia todos os domingos vinho para as refeições e que lhe cuida das enfermidades. É evidente que nem tudo isto aparecerá na exposição, até porque ,tudo isso são pistas para a sua biografia que quero escrever. À medida que penso nos seus “ objectos  e testemunhos “ mais a percebo. Quero crer. Será por isso também que uma exposição não bastará.

 

 

Sugestão de leitura para quem se queira iniciar na Política Patrimonial da Igreja.

 

 

1982 ( Janeiro / Março ) “ Os Problemas da Arte Sacra em Portugal “       entrevista com o Padre Albino Cleto. Boletim de Pastoral Litúrgica.        Janeiro - Março de 1982 nº 25, pág. 13 a 15.

 

1982 ( Janeiro / Março ) Património da Igreja - pelo arquitecto        Formosinho Sanchez. Janeiro - Março de 1982 nº 25, pág. 16 e 17.

 

1983 ( 4 de Julho de ) Protocolo celebrado entre o Ministério da Cultura,          através do Instituto Português do Património Cultural, e a    Conferência Episcopal Portuguesa, sobre os bens do estado com       afectação permanente ao serviço da igreja. Vida Católica - 1986 -          Número especial, pág.311 a 314.

 

1985 Lei das Bases do Património Cultural - com a intervenção       parlamentar de Fernando Larcher Nunes - Gabinete Português de      Estudos Humanísticos - Lisboa 1993.

 

1986 “ Remodelação da Comissão de Arte Sacra “ ( Lisboa ) Vida

          Católica - 1986 Janeiro - Abril nº 1, pág. 59.

 

1986  ( Janeiro - Março ) “ Arte Sacra. É urgente que os sacerdotes pensem“ A. M. Boletim de Pastoral Litúrgica, Janeiro - Março - 1986, nº 41,          pág. 30 a 32.

 

1986 ( Abril - Maio ) “ Serviços Diocesanos do Património Histórico -     Artístico: um sector a não olvidar “ José António Falcão. Boletim de    Pastoral Litúrgica, Abril - Maio, 1986 nº 42, pág. 9 a 12.

 

1986 ( Julho - Setembro ) “ O Templo e a Arte Sacra Actual algumas       reflexões “ José António Falcão. Boletim de Pastoral Litúrgica,    Julho - Setembro, 1986 nº 43 págs. 27 a 29.

 

1986 ( Outubro - Dezembro ) “ O Templo e a Arte Sacra Actual -   Algumas reflexões II, José António Falcão. “ Boletim de Pastoral        Litúrgica. Outubro - Dezembro, 1986 nº 44, pág. 13 a 16.

 

1987 ( 10 de Março ) “ Utilização dos lugares sagrados para fins alheios    ao culto divino “ - Esclarecimento. ( Lisboa ) Vida Católica. 1987 - Janeiro - Abril nº 4, págs. 209 a 210.

        

1988 “ Comission pontificale pour la conservation du patrimoine artistique        et historique “ II parte nº 1970 ( 16 de Outubro ) La Documentation       Catolique - 1988.

 

1988 ( Janeiro - Março ) “ Comissão Nacional de Arte Sacra e do    Património Cultural da Igreja “ Boletim de Pastoral Litúrgica.         Janeiro - Março, 1988 - nº 49, págs. 61 a 62.

 

1988 ( 3 de Fevereiro ) “ Concertos nas igrejas “. Decreto. ( Lisboa ) Vida          Católica. 1988  Janeiro - Abril nº 7. págs. 159 a 162.

 

1988 ( 25 de Fevereiro ) “ Modo de proceder em caso de construção ou   grande reparação de igrejas e outros imóveis “ ( Lisboa ) Vida   Católica - 1988 Janeiro - Abril, nº 7, págs. 167 a 168.

 

1988 ( Outubro a Dezembro ) “ I Encontro das Comissões e Serviços de Arte Sacra das Dioceses do Sul “ Boletim de Pastoral Litúrgica,       Outub         ro - Dezembro 1988, nº 52 págs 121 a 125. 

 

1989 ( 7 de Fevereiro de 1989 ) Especiais cuidados em relação aos sacrários e aos bens móveis da igreja. ( Lisboa ) Vida Católica -        1989, Janeiro - Abril, nº 10 págs. 167 a 168.

 

1989 ( 10 de Fevereiro de 1989 ) “ Normas sobre a cedência do inventário        “ ( Lisboa ) Vida Católica - 1989, Janeiro - Abril, nº 10, págs. 169 a 170.

 

1989 ( Outubro - Dezembro ) “ Comissão Pontifícia para a conservação do        Património Artístico e Histórico.” Boletim de Pastoral Litúrgica.     Outubro - Dezembro, 1989, nº 56, págs. 121 a 124.

 

1989 ( Outubro - Dezembro ) “ A Arte Sacra e o Património Cultural da   Igreja em Portugal “ Boletim de Pastoral Litúrgica. Outubro -    Dezembro.  124 e 125, págs. 125 e 126.

 

1989 A Conferência Episcopal e o Património da Igreja. ( Outubro -         Dezembro ) Boletim de Pastoral Litúrgica. Outubro - Dezembro,    1989, nº 56, págs.124 e 125 .

        

1989 ( Outubro - Dezembro ) “ II Encontro das Comissões de Arte Sacra do Sul do País “ Boletim de Pastoral Litúrgica. Outubro -    Dezembro, págs 127 a 128.

 

1990 ” Regime Geral dos Museus e do Património Museológico da Região        Autónoma dos Açores ”.

 

1990 ( 20 de Abril ) “ Museus da Igreja “ Boletim de Pastoral Litúrgica.    Abril - Junho, nº 58 - 1990, págs. 56 a 57.     

 

1990 ( Abril a Junho ) “ Restauro de Pintura e Imaginária “ José Bernardo         Guedes. Boletim Pastoral Litúrgica - Abril a Junho - 1990 - nº 58,          págs. 43 a 49. 

 

1990 ( 14 de Maio ) “ Património Histórico-Cultural da Igreja “       Conferência Episcopal Portuguesa. Edição do Secretariado Geral do       Episcopado - Lisboa 1990. 2 ª edição.

 

1990 ( 14 de Maio ) “ Património Histórico - Cultural da Igreja ”.    Conferência Episcopal Portuguesa. Edição do Secretariado Geral do       Episcopado - Lisboa  1990, 2 ª edição.

 

1990 ( Outubro - Dezembro ) Arte Sacra. Encontro sobre o espaço Litúrgico e Arquitectura.Boletim  Pastoral Litúrgica. Outubro -       Dezembro - 1990, nº 60, pág. 115.

 

1991 ( Janeiro - Março ) Arte Sacra. Encontro sobre espaço Litúrgico e     Arquitectura. Boletim de Pastoral Litúrgica. Janeiro - Março, n º 61,      1991, pág. 28 a 34.

 

1991 ( Outubro - Dezembro) “ Jornada de Reflexão e Estudo sobre o       Património Artístico da Igreja ”págs. 135 a 136. Boletim de Pastoral        Litúrgica - Outubro - Dezembro 1991, nº 64.

 

1991 ( Outubro - Dezembro ) Património Cultural da Igreja. Boletim de   Pastoral Litúrgica. Outubro - Dezembro, 1991, nº 64, págs. 134 a    135.

 

1992 ( Janeiro - Março ) “ Arte Sacra e Património Cultural da Igreja “ A.          Ramos. Boletim da Pastoral Litúrgica. Janeiro - Março 1992, nº 65,       págs. 27 a 32.

 

1992 ( Abril - Junho ) “ Notas litúrgicas relativas à Arte Sacra e às igrejas “ Boletim de Pastoral Litúrgica. Abril - Junho, 1992, nº 66, págs. 43    a 53...  

 

1992 ( 6 de Julho ) Comissão de Arte Sacra do Patriarcado. Bens da Igreja         à guarda de particulares. ( Lisboa ). Vida Católica, 1992, Maio -      Agosto, nº 20 - 407 a 408.

 

1992 ( Outubro - Dezembro ) “ O espaço Litúrgico e as Artes “ Boletim    Pastoral Litúrgica. Outubro - Dezembro, 1992 nº 68, pág. 157.

 

1992 ( 15 de Outubro ) “ Comissão Pontifícia para a conservação do        Património Artístico e Histórico da igreja “. Vida Católica - 1993 -         Janeiro - Abril, nº 22 págs. 17 a 32.

 

1993 ( Abril - Junho ) “ I Jornadas sobre o Património Cultural da Igreja “.        Boletim de Pastoral Litúrgica. Abril - Junho 1993, nº 70, págs. 77 a        78.

 

1993 ( Abril - Junho )  Património Artístico e Histórico da Igreja. Boletim         de Pastoral Litúrgico. Abril - Junho, 1993, nº 70, págs. 78 a 79.

 

1993 ( Junho - Setembro ) Conservação e valorização dos Arquivos da    Igreja. Tomás Machado Lima. Boletim de Pastoral Litúrgica. Julho -        Setembro 1993, nº 71, págs. 111 a 117.

 

1993 ( 23 de Setembro ) “ Arquivo Histórico do Patriarcado de Lisboa.    Decreto “ Vida Católica - 1993 Setembro - Dezembro, nº 24, págs.          361 e 362.

 

1993 ( 8 de Outubro ) “ Vigararia Geral. Novo Precesso para acelarar a     inventariação dos objectos de Arte Sacra “ Vida Católica - II série -           Ano VIII - 1993, Setembro - Dezembro, nº 24, págs. 373 a 375.

 

1993 ( Outubro - Dezembro ) Arquivo Histórico do Patriarcado, pág. 151.        “ Departamento Histórico e Artístico da Diocese de Beja “ pág.     152. Boletim de Pastoral Litúrgica. Outubro - Dezembro 1993, nº        72.

 

1993 ( Outubro - Dezembro ) “ Encontro Diocesano dos Açores “ Boletim        de Pastoral Litúrgica. Outubro - Dezembro, 1993, nº 72, pág. 150.

 

1993 Rocha, Manuel Joaquim Moreira da, Inventário do Paço Episcopal do Porto em 1911, Revista de Ciências Históricas, Universidade       Portucalense vol. VII, 1993, pp 197 - 228.        

 

Smoléu, Ks Wladyslaw, Le musées Diocesains, Museeum, págs. 98 a 102

 

 

 

Índice de Mapas Plantas fotografias e textos.

 

 

I - Planta da ilha de São Miguel onde está localisada a freguesia da Matriz.

II - Planta da cidade da Ribeira Grande onde se localizam a casa do Arcano e a Igreja Matriz mais os diversos locais de memória de Madre Margarida.

III - Localização da Igreja Matriz e rua João d’Horta.

IV - Fotografia do alçado sul da casa do Arcano e acoplada a ela, o que resta de outra casa também de Madre Margarida.

V - Fachada principal da dita casa.

VI - Quarto dito do Arcano - lado noroeste.

VII - Idem lado nordeste.

VIII - Presumível quarto de cama de Madre Margarida.

IX - Fachada da Igreja da Matriz. O Arcano está colocado no coro alto. ( Janela ao lado da torre sineira ).

X - Arcano no coro alto.

XI - Vista do Arcano.

XII - Aspecto interior  do Arcano.

XIII - Documento enviado pelo Exmo. Cónego Augusto Cabral, Presidente da Comissão Diocesana de Angra de Arte Sacra. ( Entrevistei-o em Lisboa ) “ Medidas de segurança contra roubos “.

XIV - Normas para requerer autorização para o museu paroquial.

XV - Museus de Arte Sacra em edifícios do Governo ou sob a sua responsabilidade ou de outra entidade.

XVI - Respeito pelas propriedades da igreja.

XVII - Associação dos Guardas de Igrejas. ( Estes últimos documentos já me chegaram depois do trabalho estar batido à máquina ).

XVIII - Planta da Casa do Arcano.Como se vê o espaço real é bastante limitado. ( Uma das propostas é esventrar todo o primeiro andar. Já fiz esta proposta na cadeira do Arquitecto Sommer Ribeiro ).

 

Nota:( Mapa da ilha de São Miguel. Mapa da cidade da Ribeira Grande. FALTA INTRODUZIR ESTES DOIS MAPAS NESTA PARTE DO TEXTO ).

 

 

 

XIII

 

OUTRAS NORMAS PRÁTICAS A OBSERVAR NA DIOCESE.

 

I

 

MEDIDAS DE SEGURANÇA CONTRA ROUBOS.

        

         Para obviar ao número cresente de roubos em igrejas e outros lugares de peças de arte sacra, impõe-se que os rev. Párocos procurem respeitar as seguntes normas:

 

         1. Mandem verificar, regularmente, a segurança dos edificios e de torres, janelas e outros acessos possíveis...Procurando ter fechos reforçados e chaves a recato, etc.

        

         2. Providenciem para que todas as alfaias litúrgicas sejam guardadas em cofres, armários ou arcazes cuidadosamente fechados e não fiquem à mão de quem visita a igreja.

 

         3. Tendo o cuidado de não os prejudicar, fixem no lugar onde estão expostos, os quadros, as imagens e outros objectos que não podem ser guardados e que são facilmente transportáveis.

 

         4. Controlem as chaves das igrejas e ermidas, exigindo que os responsáveis por elas ou por sua guarda, nomeadamente nas igrejas e ermidas de interesse histórico, acompanham os eventuais visitantes.

         Na visita ao museu de arte sacra, pelo menos, haja mais outra pessoa além do guarda, quando se trate de grupo visitante. Nunca se deve deixar sozinho um desconhecido.

 

         5. Mantenham bem fechados ou vigiados todos os lugares de possível acesso ou que possam servir de esconderijo.

 

         6. Promovam a inventariação, quer discritiva quer fotográfica, de todos os bens patrimoniais.

 

         7. A abertura de igrejas seja controlada por pessoas que se encarreguem de vigiar.

 

         8. Comuniquem imediatamente que a G.N.R. ou à P.S.P. quer à Polícia Judiciária qualquer roubo de que a paróquia tenha sido vítima.

 

         9. Procurem obter sacrários de metal e chave bem guardada, mantendo porventura os sacrários existentes, muitos deles belos, mas introduzindo neles os Sacrários-cofre. Ter cuidado especial na guarda da chave.

 

 

XIV

 

 

NORMAS PARA REQUERER AUTORIZAÇÃO PARA MUSEU PAROQUIAL.

II

 

I - A pedido dos respectivos Párocos, o Ordinário do lugar pode autorizar- sempre por escrito - a constituição de museus paroquiais.

         São condições exigidas:

        

         1. A existência provada e devidamente catalogada de alfaias, paramentos, imangens e outros objectos históricos e artísticos de reconhecido valor e em número justifivativo da pretensão.

 

         2. A existência  de espaço capaz e digno, suficientemente resguardado para colher e exporem suficiente aproveitamento o recheio possuido.

 

         3. Possibilidade de a paróquia manter, por si ou com o auxilio de outrém, o museu paroquial bem como o pessoal preciso e de garantir a necessária segurança.

 

         4. Capacidade de assegurar apoio mínimo aos visitantes para apreenderem o valor artístico e o significado religioso e litúrgico das alfais e mais peças expostas.

 

         5. Cuidado de integração na evangelização da paróquia de visitas ou exposições dos objectos guardados no museu, de modo a formar humana, espiritual e liturgicamente os próprios fiéis e outros visitantes.

 

II - A  autorização para constituir o museu paroquial pode considerar - ao lado do museu - a igreja paroquial  e o seu recheio artístico e litúrgico, bem como imagens expostas na igreja e que aí permanecerão, e também imagens e outras peças propriedade da paróquia e que estejam fora.

 

III - Anualmente o Pároco apresentará à Comissão Diocesana de Arte Sacra sucinto relatório da actividade do mesmo.

 

XV

 

MUSEUS  DE ARTE - SACRA EM EDIFÍCIOS DO GOVERNO OU SOB A SUA RESPONSABILIDADE OU DE OUTRA ENTIDADE.

 

III

 

         No caso de a Diocese não poder constituir ou orientar sob sua responsabilidade directa um museu de objectos de arte - sacra e peças do património religioso da mesma, pode negociar com outras entidades ou com o Governo Regional a constituição ou funcionamento do aludido museu, nas seguintes condições :

 

         1. Manter o nome do museu de arte - sacra.

 

         2. Ser a propriedade da igreja quanto ao recheio devidamente inventariada e declarada em documento guardado na Cúria diocesana, com uma cópia para a entidade responsável e outra para a Direcção do museu.

 

         3. O Director e funcionários serão preparados para elucidar os visitantes não apenas quanto ao valor artístico das peças expostas, mas igualmente quanto à sua finalidade religiosa e respectivo significado.

 

         4. Por se tratar de serviço de natureza social e a bem da população, será de conta do Governo a manutenção e segurança da casa e o pagamento dos funcionários.

 

         5. Quando necessário, algumas alfaias ou peças poderão servir em celebrações litúrgicas. A tempo, o respectivo Pároco oficiará nesse sentido ao Director do museu, responsabilizando-se pela guarda e especial cuidado a haver com a peça usada.

 

         6. Com o parecer favorável do Ordinário do lugar e do Director do museu, poderá permitir-se a deslocação de peças ou objectos do museu a exposições de interesse.

         A autorização será pedida com a devida antecedência em oficio dirigido ao Ordinário do lugar, responsabilizando-se os promotores da exposição pela segurança e entrega das peças em tempo devido.

 

 

XVI

 

IV

 

RESPEITO PELAS PROPRIEDADES DA IGREJA.

 

         Para obviar a abusos que, por vezes, se verificam, importa ter presente o seguinte.

 

         1. Nenhum sacerdote nem qualquer leigo como nenhuma Comissão ou Conselho Administrativo pode alienar, por venda ou doação, por posse clandestina, autorizada ou permitida, qualquer bem ou parcela de bens de uma paróquia ou curato. Isto refere-se a livros, objectos litúrgicos, peças de arte, alfaias e também a terrenos ou parcelas de terrenos.

         Para qualquer alienação ou posse por outrém de qualquer bem duma paróquia é indispensável sempre a autorização escrita do Ordinário do lugar e de acordo com as normas canónicas.

 

         2. Qualquer bem - sejam parcelas de terreno possuídas ou usadas sem licença, sejam objectos litúrgicos, livros, alfais ... desviados indevidamente, possuídos ou desfrutados sem autorização, constituem roubo de coisa sagrada, e devem ser devolvidos à Fábrica da Igreja ou ao Pároco logo que possível, onerando gravemente a consciência dos que permitiram o seu desvio, bem como dos que se assenhoriaram desses bens ou estão no seu uso.

 

         Estas normas aplicam-se igualmente à posse indevida ou ao uso de ermidas e templos sem a precisa autorização.

 

Aurélio, Bispo de Angra.

 

XVII

 

ASSOCIAÇÃO DOS GUARDAS DE IGREJAS.

 

V

 

N.o 1 - É formada na Diocesse de Angra a Associação dos guardas dos     templos.

         São patronos da Associação os Santos Anjos da Guarda.

 

N.o 2 - A Associação tem como finalidade :

         - Agregar voluntários de um e outro sexo que dêem algum tempo à           guarda de uma igreja.

         - Promover o espírito de oração nos associados e formá-los para      bem participarem no culto.

         - Vigiar as igrejas segundo o passo bíblico: “ vigiai e orai “.

         - Sendo necessário, auxiliar os que visitam o templo e ajudar na      oração.

 

N.o 3 - Podem ser membros da Associação:

         - Os fieis de ambos os sexos, com mais de 20 anos, e que       activamente tomem parte na vida da Igreja.

         A aceitação faz-se por meio de inscrição no livro dos irmãos, que    ficará a cargo do Presidente.

 

N.o 4 - Presidente da Associação, na Sé Catedral, será um membro do      Cabido,nas igrejas paroquiais será o Pároco. O Presidente na Sé       Catedral será nomeado pelo Bispo da Diocese pelo prazo de 6 anos.

 

N.o 5 - A Associação é representada pelo Presidente e mais dois      associados eleitos. Estes devem apresentar contas do seu trabalho,   ao longo do ano, na reunião anual.

 

N.o 6 - Cada Associado se compromete :

         a) A dar um número de ... horas por semana na guarda da igreja.

         b) A rever diariamente como foi seu proceder fraterno no contacto   com as outras pessoas.

         c) A meditar e a formar-se no espírito de caridade e de serviço ao     próximo.

         Recomenda-se a cada associado a leitura diária da Bíblia.

 

N.o 7 - São dias da Associação :

         - O Dia dos Santos Anjos da Guarda - 2 de Outubro.

         - O Dia da reunião anual - Dia de Reis ou um dia de sua oitava.

         Os associados, sempre que possível devem participar na reunião      anual, para a qual serão convocados.

         O dia da reunião anual é o dia de conversão e de planificação.         Haverá Missa pelos associados falecidos.

         Após a Missa, encontram-se todos os associados para o relatório      anual e planificação e para o convívio.

 

N.o 8 - Espírito do associado: alegria e brio por servir a Deus e poder ter tempo para rezar e para ajudar outros a melhor conhecerem e          estimarem a sua igreja.                                                                                                                                                                                                        

 

 

 

 

 

 

 

 



[1] Comissão Pontífica para a Conservação do Património Artístico e Histórico, in Boletim de Pastoral Litúrgica, Outubro - Dezembro - 1989, nº 56, páginas 121 a 124.

[2]  Conferência Episcopal  Portuguesa, “ Património histórico - cultural da Igreja “, Edição do Secretariado Geral do Episcopado, Lisboa, 1990, 2ª edição.

[3]  Pelo Codicílo ao Testamento de 16 de Março de 1857.

[4] Ibidem 2, pag. 5

[5] Ibidem, pág. 6 .

[6] Ibidem, pág. 6 .

[7] Ibidem, pág. 6 e 7.

[8] Ibidem, pág. 7.

[9] Ibidem, pág. 7.

[10] Ibidem, pág. 7.

[11] Ibidem, pág. 7 .

[12] Ibidem, pág.7 .

[13] Ibidem, pág. 34.

 

[14] Ibidem, pág. 28.

[15]O que vem ao encontro daquilo que idealizamos para o Museu paroquial, como adiante tentarei explicar.

[16] Museus da Igreja, in Boletim de Pastoral Litúrgica, Abril - Junho, nº 58 - 1990 - página 56 .

[17] Idem.

[18] Idem.

[19] Carta, in Vida Católica, 1993, Janeiro a Agosto, nº 22, página 24.

[20] Arte Sacra e Património Cultural da Igreja, in Boletim de Pastoral Litúrgica, Janeiro - Março 1992, nº 65, página 136.

[21] Comission Pontificale pour la Conservation du  patrimoine artistique et Historique, 1988, página 912.

[22] Ibidem, pág. 912.

[23] Comissão Nacional de Arte Sacra e do Património Cultural da Igreja, in Boletim de Litúrgica, Janeiro a Março, de 1988, nº 49, pág. 61.

[24] Cleto, Albino, “ Os Problemas da Arte Sacra em Portugal “, Boletim de Pastoral Litúrgica , Janeiro - Março de 1982, nº 25, pág. 13.

[25] Arquivo da Confraria.

* Veja-se documentos XII a XVII.

[26] Para discutir este ponto é imprescindível consultar os seguintes documentos :

 

a) - AVIZO, Açoriano Oriental, 4 de Setembro de 1848.

“ ... para ver o Arcano [ em Itálico ], ou como melhor nome se lhe possa dar, em que mostra, com pequenas figuras ao seu modo, os mistérios da Lei Natural escripta, e da graça,... “e mais abaixo “ ... franqueal - o para a relegiososa [ sic ] edificação das pessoas que lhe fizerem a honra de o verem. “ Assinado por Madre Margarida Isabel do Apocalipse.

 

b) - Carta à sua sobrinha D. Maria Teodora datada de 21 de Setembro de 1853.

“ ... He para mim Desprezo pecuminozo emtereçar Nas obras deDeos aquem he déuido Só eRetiro todo ó louur... “ e “ ... [ a quem ] Venha a Esta Caza  ver ffiguradas as maravilhas doSrº... “

 

c ) - Testamento datado de 31 - 03 - 1854 - página 4.

“ ... Digo eu  Testadora que tenho como meu hum movel chamado Arcano Mistico que contem os Misterios mais importantes do Velho e novo Testamento, que comprehende as trez Leys que o Senhor Deos deu ao Mundo para que  por figuras melhor pudece-mos [ sic ] entender o dever, a que estamos obrigados, e a escolha que devemos fazer daLey daGraça quepor Graça nos foi dada. Em o meu Rol de que neste meu Testamento faço particular menção explicarei a dizpozição deste importante móvel, o que não faço agora por estar incompleto ... “

 

d ) - Codicilo - 16 - 03 - 1857. [ Especialmente para legar o Arcano ] verso da pág. 12.Por não ter ainda em 54 colocado o São João “ não dispozera  do Arcano e mais objectos que lhe pertencem o que agora vai fazer por este Codicillo em additamente no dito Testamento, e declara que deixa o mesmo Arcano, com todos os seus pertences, e a manga de vidro que contem  o Menino Jezus, e a criação do primeiro homem, e duas panellas de vidro, huma  que contem o Sacrificio de Abraham, e outra e outra [ sic ] a morte do Gigante Golias, à Confraria do dito Santíssimo Sacramento, para fazer, com o rendimento dos mais bens...” A festa de São João Evangelista.

[27] Tentei começar a estabelecer esta correlação no trabalho que apresentei  Professor Jorge  Crespo .

[28] Para além das correlações que tentei indiciar no trabalho referido no ponto 2 , poderei acrescentar a ligação estreita entre os “ Castigos “ ( terramotos de então ) e a desordem que predominava . Os tremores de terra eram “ castigos “ divinos, sinais, a fim dos homens se emendarem . Madre Margarida tem um quadro sobre Sodoma e Gomorra, por exemplo. A pesquisa da actividade sísmico-vulcânica, foi ao que julgo saber tentada pelo historiador  Le Roy  Ladurie. Tem que esplorar mais esta área .

[29] Cónego Joaquim de Sena Freitas, “ um Presépio “, in Norte , nº 89, de 23 de Janeiro de 1897 . Neste artigo o cónego fala das Prateleiras e das três leis.

[30] O pensamento analógico é comum ao catolicismo,  por um lado, por outro o acontecimento mundano, bom ou mau, tem o dedo de Deus.

[31] Utilizo aqui os conceitos utilizados em França hoje em dia. Sei que incorro no perigo de anacronismo, mas a meu ver, será a tentativa de no presente, e com as preocupações do presente, tentar encontrar respostas no passado. Seria necessário pesquisar as ideias de Museu de Museografia e de museologia no século XIX.

[32] Suspeitamos ( pelo cotejo caligráfico ) que seja do seu próprio punho.

[33] Fichas que tirei sobre o Arcano.

[34] Idem.

[35] É  dificil de distinguir. A iconografia tende, a meu ver, no caso do Arcano, e no momento actual dos meus conhecimentos, a ser mais abrangente do que o simbolo. A iconografia encerra simbolos e dá-lhes, no seu conjunto, um significado diferente. Assim, pelo menos, me parece.

[36] Depois da nossa conversa, à frente dos Jerónimos, meti-me a pesquisar, por sugestão do Drº Fernando António Baptista Pereira, a obra de Louis Réau sobre a iconografia cristã. Estou convencido que parte da resposta se poderá encontrar aí.

[37] Por exemplo o Dogma da Imaculada Conceição ? Preciso ainda de retornar à Biblioteca Nacional e ao Museu do Traje. Aí tentarei encontrar algumas respostas. Ou até surgido da sua imaginação.

[38] As pessoas da minha geração ainda a compreendem.

[39] Idem de ( 1 ).

[40] a) - Costa, Félix  José da , “ O Arcano da Freira “,  A Estrella Oriental,  nº 3, 1856 “ ... temos à vista toda a escriptura  sagrada representada em figuras, caracterisadas em emblemas, em soffrimento, em martyrios, em milagres... “ e “ Prende toda a reflexão, quando se vê significado em vulto quando a Alta Sabedoria em sua Vastisima omnipotência designo e desde a creação do mundo até o último Remate da emancipação Religiosa dos povos ... “ e  “ ... o que ali encerrado nesse pavilhão quadrilongo, envidraçada, e cujos lados tem mais de dez  pés de largura, e perto de doze palmos d’ altura ... “ “ ... é porque convergio para isto todas as Suas saudosas lembranças do claustro, as queridas reminiscências do Seu livro, da cruz, e da oração... “

 

b) - Freitas, Cónego José Joaquim de Sena, “ Um presépio “ , in O Norte , 23-01-1897 “ ... O presépio tomava todo um quarto, que aliás não era pequeno. Era completamente de vidro, formando como um segundo quarto dentro do primeiro, e de altura média quasi [ sic] a mesma que a do quarto continente.

                O interior era dividido em diversos planos horisontaes, também de cristal, à feição de andares... O andar superior do presépio representava a antiga lei, o antigo povo judaico, o do mosaismo que descia, na sucessão das gerações, ao primeiro andar, ao que symbolisava o dos séculos das leis da Graça cujo início foi o presépio de Belém. “

                Já me referi mais detalhadamente em outros trabalhos, designadamente no do Prof. Yanes Casal.

[41] Felix José da Costa é um liberal que pelas suas ideias esteve preso na Graciosa. Gostaria de, mais tarde, tentar estabelecer relações entre o “ liberalismo “ e o “ conservadorismo “ no Arcano. Um certo liberalismo. Ainda não  fiz e creio que o devo fazer.

[42] Os documentos de Madre Margarida dão-nos a imagem de uma perfeccionista.

[43]  Não nos parece improvável , pois, é ele quem mais tarde derigirá a remoção do Arcano e a sua colocação no coro alto. Foi ele uma das testemunhas na assinatura do Testamento  na altura em que ela o estava a querer completar e a pretender doar.Havia uma maneira anterior de apresentar o Arcano, segundo no-lo diz Sena Freitas, o armário, teria sido na última fase.

[44]  Será que a altura dos pés foi encurtada na sua  transferência para o coro alto?

[45]  O quarto direito, no topo das escadas, virado para a rua de João d’ Horta.

[46] O prior seria figura íntima de sua casa, a sobrinha, seria uma figura da família mas não íntima. A carta dela de 1853 reflecte um distanciamento respeitoso e indica que ela a visitara. A prima Umbelina seria íntima, porém, não se entenda “assidua “ no sentido actual. O resto era constituido pelas principais figuras da vila, da ilha e até estrangeiros que por delicadeza e educação ( segundo ela confessa ) lhes franqueava a porta.

[47] A falsa  seria o local onde as “ raparigas “ ( as criadas ) dormiriam ? Quanto a espaços da casa, ocorre-me,o facto de ela, ter recebido o tabelião e as testemunhas em locais diferentes da sua casa. Em 1854, quando fez, pelo seu punho o Testamento, encontrar-se-ia no quarto onde teria a sua escrivaninha ( sala ou quarto de cama ) , e estaria sentada perto dela. Em 1857, pelo seu  Codicilo, estando doente, recebeu-os sentada na beira da cama ou na cama. Ao ler as “ coisas que escreveu “ cada  vez  me convenço mais da sua “ educação “, aliás forma distintiva entre as mulheres da elite e as do povo . Esta cortesia fidalga ainda a encontrei  hoje  em gente “ bem “ da cidade.O costume  de se “ presentearem “, o recurso aos “ bilhetinhos”, a boa “ educação “ de saber  receber os de fora .São tudo atributos da sua condição de Botelho  de Sampaio e de mulher . Porém, a sua natureza, e a sua condição de freira, não a obrigariam a isso. No fundo ela  sentia orgulho na sua obra e reconhece, a sua importância e o papel que tem de desempenhar.

[48] O Arcano é, no meu entender, mais de um presépio, ele é uma história da Salvação . Um presépio tratará do nascimento de Jesus Cristo e de alguns episódios relacionados com o seu anúncio e prenúncio, pouco mais ou menos. O Arcano pretende “ retratar “ a história do povo de Deus desde a criação  até à sua salvação.

[49] Na ilha conheço os das Igrejas de São José e de São Sebastião em Ponta Delgada.

[50] c f. (1 ) . O público  seria mais a elite, exceptuando-se um ou outro, como já tentei explicar no trabalho do Professor Casal, pois a “ democratização “ só ocorrerá   após a sua morte. Também nos parece curioso a data do aviso, Setembro de 1848. Coincide com a preparação da I exposição promovida em Ponta Delgada por António Feliciano de Castilho .

[51] Sena de Freitas visita-a  no Natal e o aviso de Madre Margarida surge em Setembro, bem como a visita que a sobrinha lhe faz .As horas das refeições divergiam das de hoje: almoçava-se perto das dez da manhã. Seria entre o jantar e a ceia. O costume de se “visitar “ em certos dias e em certas alturas do dia ainda o “ apanhei “. Era um companheiro da minha avó nestas andanças. Nestas ocasiões havia sempre chá, café, bolachas e licores caseiros. Faria isso ela aos seus visitantes? Creio que sim . Tentei fazer isso com algunm êxito ( “ presunção e água benta “...)  na Casa de Cultura. Eram visitas e não utentes. Nem sequer lhes cobrava  entrada conforme se poderá ler na carta à sobrinha cf. nota 1.

 

Nota final : Para melhor conhecer a sua casa terei de fazer prospecção arqueológica no quintal e nas estruturas.

[52] Almeida, Fortunato,  História da Igreja em Portugal , vol. III, ed. Damião Peres, Livraria Civilização, Porto Editora, 1970, pág. 47.

[53] Idem - pag. 48 - Lei de 30 de Abril de 1835.

[54] Idem - pag. 48 - Lei de 13 de Julho de 1855. Só a egressas, as freiras não podiam.

[55] Conforme período da Regeneração.

[56] Idem 1, pág. 64 - Decreto de 26 de Junho de 1830.

[57] Idem de 5; Nos Açores o bispado e as paróquias sempre foram mantidas, dada a sua origem histórica, pelo Estado. A este respeito veja-se o artigo sobre a Diocese de Angra e Ilhas dos Açores saído no “ Dicionário de História da Igreja “ vol. I, 1980.

[58] Batalha decisiva para a tomada pelos Liberais da Ilha de S. Miguel  ocorrida, perto da Ribeira Grande ( lado nascente ) em Agosto de 1830.

[59] Documentos da Confraria,  nomeadamente Actas das sessões, Testamento etc. Temos toda esta documentação transcrita.

[60] Primeiro, queremos crer, porque a vila apropriara-se do Arcano, mas achava que o dever de o conservar, competiria à Confraria, segundo, porque o governo, por último, parece que também o entendeu. Registe-se que o Arcano era considerado importante, até mesmo pela Confraria.

[61] Carta dirigida ao Governo Civil  de 1858 . Confraria do Santíssimo Sacramento da Igreja Matriz da Ribeira Grande. Sessão de 26 de Junho 1858.

Folha 209:

                “...; não se julgando porem habilitada para poder estimar o valor do arcano tambem legado, por que em si não encerra valor algum intrinsico [ sic ], e simplesmente valor d’estimação, so este se podera saber por meio da sua venda annunciada convenientemente.”            

[62] Carta do Governo Civil  de 1858.

[63] Carta da Confraria  de 1869.

[64] Este corte deve ter contribuido para, através do “ ouvi dizer a gente que a conheceu “ de muitos equívocos sobre a vida e a obra da autora.

[65] Se fossem três pessoas a primeira pagava  x  e as outras duas menos. Se, enquanto a porta estivesse aberta, viessem mais pessoas, estas pagariam o mesmo que as segundas e as terceiras anteriores. O produto destinava-se a complementar o magro peculio do coadjutor. Não nos parece ter sido muito. Aliás dispomos das quantias.

 

Administração do Concelho

8-03-1869

                “ ..., tenho de ponderar a V. Exª, com relação à venda do Arcano, que é ao Governo da Sua Magestade que compete conceder authorisação para ella solicitada, devendo, pelo que respeita às casas, reclamar a consessão para a sua venda do Ministério da Fazenda,...”

[66] O que se teria passado exactamente ? Estou a pensar ir ao Arquivo do Ministério das Finanças tentar encontrar  uma pista.

[67] Arquivo Paroquial da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Estrela. Confraria do Santíssimo Sacramento. Anno 1870-1871 / folha 5 (f)

                “...; ora entendendo a Meza da Confraria que aquelle logar não é proprio para um monumento d’aquella ordem,  resolveo  removel-o para um dos coros laterais da Igreja Matriz d’onde tem de fazer concertos, e obra nova adquados para a collocacção do mesmo Arcano,...”

[68] Para além da catequese, teria o arcano sido objecto de culto ? Pelo menos, uma das intenções de Madre Margarida era de louvar as obras de Deus.

                Para além do que já dissemos em trabalhos anteriores, julgo poder acrescentar neste a suspeita, que numa conversa com o Drº Jorge Custodio, me ocorreu. Preparar-se-ia, por esta altura, uma lei, estaria a opinião pública  favorável a tal, ou estaria o governo de Sua Magestade sensibilizado. Sobretudo após o que se verificara no reino após 1834 e denunciado por Alexandre Herculano? Bulhão Pato andava, nesta altura, na ilha e visitara o arcano. Seria outro suspeito. Aliás mais o conde da Silvã.

[69] Como o mudaram ? Já tentei explicar o assunto no trabalho curricular do Arquitecto Sommer Ribeiro.

[70] Há documentação que se lhe refere, sobretudo as actas de  reuniões. Tal  acontece, se não me falha a memória nas décadas de 70 e de 80 ( 1870 e 1880 ).

[71] Esta atitude perante o “ exposto não sagrado “, por parte do público, que contrasta com as regras de conduta pressupostas ( ou impostas ) ao visitante não se verifica no público que conheço. Tenho o exemplo de presépio movimentado, e por aquilo que se disse, tenho o exemplo do século passado com o arcano. Não será saudável permitir esta “ dessacralização museal “ ? Não será  coerente “ deixá-lo acontecer na nossa proposta ? A exposição é um local de convívio ?

[72] Sabemos que ele limpava o pó ao arcano. Também sabemos que, em data posterior, ele foi assaltado. A porta mantinha-se fechada e a janela com os reposteiros corridos.

[73] Acta da Confraria 1892 / 93 (?) Não tenho os documentos comigo.

[74] A casa construiu-se, porém, a I Républica deu-lhe outro uso, sobretudo com a Lei de 20 de Abril de 1911. Registe-se que nesta altura chegou-se a votar  a transformação da Confraria em associação cultural.

[75] O trabalho curricular para o Professor Jorge Crespo explica o que entendo pelas relações entre a obra, a sua autora e nós, nos vários espaços e tempos em que ambos se têm desenvolvido. É  uma tentativa  de biografia. Igualmente trato do mesmo, mas de outro ângulo, no trabalho que desenvolvi para  o prof. Casal.

[76] “ Arte Sacra e Património”, in Boletim de Pastoral Litúrgica, nº 65 - 1992, pag.30.

[77] Catequese entendida no sentido em que a Conferência Episcopal lhe deu.

[78] Deve-se respeitar a realidade actual que não é bem a mesma coisa.

[79] Neste momento, penso na Santa Casa da Misericórdia, também organização da Igreja, e na possibilidade de se expor o seu espólio arquiológico já exumado ou a exumar  no futuro, seja o das terras do ex-Mosteiro de Jesus seja o da casa que lhe serve actualmente de sede ( ambos depositados na Casa de Cultura ).Ou ainda do que foi recolhido na casa do Arcano ou a recolher bem como  assim o da igreja Matriz, também depositados na sobredita Casa da Cultura. Não esqueceria igualmente os moinhos de rodizio particulares,  a fábrica do linho, o aeroporto de Santana, a 1ª fábrica de chá, a central  hidroeléctriaca do Salto do Cabrito, entre outros. Conforme nestes últimos casos, já nos referimos em trabalho de 1990.

[80] Em países como os Estados Unidos onde existe o sistema de “ accreditation” as exposições tendem a renovar-se constantemente.

[81] Os materiais serão reutilizados.

[82] A realidade social é um factor decisivo a ter em conta. Dela dependerá  muito do êxito. Dela e do relacionamento com ela.

[83] Todas as gerações têm (  re ) descoberto o Arcano. De um modo variado. Ficaria numa reserva disponível  e visitável.

[84] Muitos destes conceitos  e destas práticas encontramo-las no passado.

[85] Até agora tivemos dois modelos. Um protagonizado pela sua autora e até à sua morte, o outro, pela Confraria. O primeiro aproxima-se daquilo que eu considero a atitude museal adequado ao Arcano. Acrescentar-lhe-ia o pendor democrático do segundo. Mais à frente, abordarei de novo este tema.

[86] Coerente com um programa técnico-cientifico e com a sua criatividade pessoal.

[87] Uma demonstração do que afirmo, poder-se-ia encontrar nas diversas abordagens que tenho feito, ao longo do mestrado, ao Arcano.

[88] Tentar estar em sintonia, pelo menos.

[89] São eles ás vezes, que a sugerem.

[90] Referendo no sentido de ir lá e de ter gostado e de pretnder a sua continuação. Mas que comunidade paroquial? Retorquirão, com justeza. A comunidade paroquial , tal qual, a “ civil “, também estará segmentada . Nesta primeira exposição tenho por objectivo atingir o grosso da comunidade.

[91] A solução adoptada pela Fundação Calouste Gulbenkian.

[92] Do património na acepção que a Igreja lhe atribui.

[93] A rede mudeal municipal, porém, os objectivos patrimoniais são diferentes, existindo, contudo, pontos de contacto.

[94] Dizer tudo o que já sabemos, não está nos nossos planos, seria o equivalente às exposições dos eruditos renascentistas, entre outros, que enquanto houvesse espaço haveria algo a colocar.

[95] O mesmo fenómeno se passa na sociedae em geral, como tentei demonstrar no trabalho de 1989.

[96] Ir alimentando a curiosidade de modo a provocá-la.

[97] Suspeito que nunca o teremos, tanto mais que a paróquia é remediada e tem outras prioridades, nomeadamente o Salão Paroquial. Oxalá que não fosse assim.

[98] Estou de acordo  com V. Exª e com a sua sugestão do modelo da casa. Tanto mais que, e de acordo igualmente com o seu comentário, o Arcano e a casa juntos, de certo modo é uma redundância. O Arcano  e a casa do Arcano são ambos “ documentos “ memória da sua proprietária, Madre Margarida.

                Se calhar a construção do Salão paroquial poderá dar-nos esta opurtinidade. O salão pretendido não fica longe da casa do Arcano.               

[99] Remeto-lhe para os pontos 1, 2 e 3 da Parte I e para os trabalhos que fomos elaborando ao longo deste mestrado.

[100] Sentir o espaço, ou espaços, como dizia o Arquitecto Raul Lino, é essencial. Na cadeira do arquitecto Sommer Ribeiro cheguei a adiantar a hipótese de aproveitar o subsolo da Casa e do quintal bem como a falsa como espaços, sobretudo no primeiro caso, neutros . Espaços onde dois documentos carregados de memória não se chocariam.

[101] Esta proposta deriva, em parte, de conversas que mantive com V. Exª , com os Arquitectos Sommer e Fernando Canas e o Dr. Fernando António Baptista Pereira.

[102] Gostaria que o Museu se destacasse da paisagem tal como o fazem as igrejas e a Câmara. Tal como aquelas instituições o Museu também é importante. Os norte americanos e os nórdicos tendem a construir museus que, eles próprios, se destaquem,  ao contrário, dos Italianos. Mas isto é assunto para o meu colega Arquitecto.

[103] Ideia do Dr. Fernando António Baptista Pereira.

[104] Em 1994.

[105] A este respeito adiantei algumas hipóteses no trabalho do Arquitecto Sommer Ribeiro. Ainda mantenho algumas reservas. Suponho que só o concurso de um arquitecto me possa ajudar a “ demovê-las “.

[106] Conforme disse a própria autora.

[107]Moura, Mário Fernando Oliveira, Arcano Místico de Madre Margarida Isabel do Apocalípse. Considerações acerca da sua  musealização ( Preparação da conversa preliminar com o meu colega arquitecto ),Ttrabalho curricular da cadeira do arquitecto José Sommer Ribeiro, 23-01-1994, pag.9e10 ( principalmente ).

[108] Será desnecessário, quanto a nós, desenvolver o II modelo acompanhando-o com “ os objectos “ da exposição, já que, grosso modo, serão os mesmos utilizados no Modelo I.

[109] Razões apontadas na obra citada na nota ( 12 ) deste capítulo.

[110] O peso e a importância do audio-visual deve ser aproveitado. Há tempos fui com o meu filho de sete anos ver uma exposição aqui em Lisboa. Tudo o que “ ele viu “ no video “ ele viu “ na exposição e ainda hoje o recorda. Ao invés, o resto, não lhe despertou grande interesse. Aqui tentariamos usar o video também para “ criar espaço “ e aliviar a exposição.

[111] A avaliação em permanência ou contínua, tal qual a “ académica “, orientará o museólogo para, mesmo enquanto dura o programa,  ir dando mais ênfase a um aspecto do que a outro, para alterar ou suprimir coisas. Aliás, na prática passa-se exactamente isso.

[112] É  viável e desejável. Temos esta experiência da Casa  de Cultura. É  uma ocasião propícia para nos avaliarmos.

[113] Estar sempre em sintonia com os gostos das pessoas.

[114] Fiz esta proposta  mais detalhadamente no “Museu Paroquial Madre Margarida  Isabel do Apocalipse “. (Uma proposta  académica de gestão do projecto de musealização 14-01-94 ).


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