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Infra-estruturas e desenvolvimento na Ribeira Grande do terceiro quartel de oitocentos A ponte dos oito arcos, os mercados e as estradas.

                                              Infra-estruturas e desenvolvimento

                 na Ribeira Grande do terceiro quartel de oitocentos

                   A ponte dos oito arcos, os mercados e as estradas.                                                           

                        A ponte que nos levaria da crise ao sucesso

 

          Introdução

 

Nome. Não é ponte do Paraíso, visto este referir-se à ponte junto à antiga praça, hoje jardim público .

Há quem  gostaria de a chamar  ponte dos Oito Arcos.[1]

Houve quem lhe chamasse ponte Nova. Ou ponte do Estrela.[2] Ou ponte Grande.

Há ainda quem lhe chame ponte Sousa e Silva.

 

Segundo o testemunho de 1893 de  Manuel Emygdio da Silva, jornalista do “Diário de Notícias” de Lisboa , “ A ponte ( em questão) é uma das mais bellas obras de alvenaria em tufo apparelhado, que temos visto: tem mais de 20 metros de altura e 8 vãos de 10 metros cada um”[3]

Seja como for, o seu significado será sempre mais relevante do que o seu nome, pelo menos mais relevante para atingirmos os objectivos     que nos propusemos tratar nestas notas.

Curioso seria sem dúvida indagar das razões da névoa que ocultou, por largos anos, a memória da comunidade.

Porque é que a memória da ponte, dos seus autores, da estrada real nº 8 , dos mercados e dos seus benefícios sendo tão justamente celebrados,  agradecidos e apreciados  na altura, cairiam depois no esquecimento? Ou ,se calhar ainda pior, na confusão. Con-fusão de datas, de personagens, enfim confusão. 

Esta questão levar-nos-ia a estudar, não agora como é óbvio, os mecanismos e os me-andros sociais da memória colectiva. [4]

Não se trataria sequer de por à prova a justeza do aforismo que sentencia que “o dia do benfazer é a véspera da ingratidão.” Ao menos não se trataria só disso.

Será sempre de ter em conta que toda a comemoração, sem investigação séria,  conduz ao  puro mito, por vezes mil vezes pior do que o esquecimento.

Não só. Somos vizinhos e seus utentes. Há anos vínhamos roendo uma crescente curio-sidade acerca de quem os teria mandado construir (entenda-se por isso pessoas e insti-tuições) e quais teriam sido as suas motivações.

A ponte marcou a tal ponto a comunidade que levaria a edilidade em 1896 a mudar o nome à rua das Pedras. Passou a ser rua de Sousa e Silva:”por ser a este cavalheiro que se deve a construcção da ponte.”A mesma edilidade, em 1952, adoptaria a ponte para elemento central do brasão municipal.[5] A mesma obra faria com que, segundo a tradição oral, o mestre António Jorge  de Rabo de Peixe“que a fez e depois foi fazer a de Nordeste fizesse à sua custa a procissão de Santo António onde só pessoas de nome António levaram as insígnias.” [6]

Faço votos para que esta curiosidade partilhada, ainda que naturalmente lacunar, seja útil  tanto para os nossos concidadãos como para o estudo mais aprofundado e sistemático da Ribeira Grande de oitocentos da qual somos herdeiros próximos directos.

Conhecer aquele período, estamos em crer, seria conhecer um pouco melhor os nossos limites e as nossas potencialidades.

Dir-nos-á ainda que “ Mais do que nunca, a  chamada “pequena história” constitui hoje um foco de luz suficientemente forte para nos permitir “ver” melhor também a chamada “grande história”[7]

Pretende igualmente recorrer à História Oral como via para aceder a “una memoria más democrática del pasado” devolvendo a história “a la gente con sus propias palabras” falando não só dos “...líderes, sino también de entre la mayoria desconecida de la gente”[8]

Dito de outro modo, como o escreveu exemplarmente  Daniel de Sá em 1981, trata-se da inclusão na História daqueles que ”Foram homens e mulheres cuja paragem na morte não mudou a História. Importaram apenas a si mesmos e a um grupo pequeno a que os ligava o sangue, o trabalho ou a diversão. E só Deus, que nada esquece, sabe ainda que eles existiram. ”E, ainda no mesmo artigo: ”Pregaram a madeira dos tectos que nos cobrem. Assentaram as pedras das casas que nos abrigam. Juntaram os pedaços de basalto das estradas que pisamos. E em nada disso deixaram assinatura.”[9]

Será a voz de todos os que contribuíram para a concretização das infraestruturas em estudo e será falar dos canteiros, do engenheiro, do “condutor de obras”, do mestre, do servente, do homem da cal, do boieiro, do presidente e dos vereadores da Câmara Municipal. Assim talvez perceberemos melhor o quem, o como e o porquê das coisas. Perceber a ponte implica também , perceber o modo como foi construída, para isso nada como estudá-la em si mesma, ajudado por um “mestre experiente. ”Fazer, pois, etnoarqueologia.  

Antes de começar, registemos o que disse o historiador dos “Annales”, Lucien Febvre, acerca  da importância das estradas:

“Há sempre uma estrada na origem dos grandes países, dos grandes corpos nacionais.”[10]

Dedico estas notas à Filomena, Filipa e Júlio.

Dedico-as igualmente ao principal culpado desta curiosidade, o Dr.º Jorge Gamboa de Vasconcelos e aos guardiões e almocreves da memória, as escolas e os curiosos. Agradeço à Doutora Fátima Sequeira Dias, a Daniel de Sá, a Manuel Ferreira, à drª Graça Almeida Lima, drº Valter Rebelo, ao Doutor Rui Martins, ao dr. João Lima, a Gilberto Bernardo e ao presidente do Instituto Cultural, Dr. José Estrela Rego, pelo apoio  prestado.

Com a curiosidade agora um pouco mitigada, tentaremos a traços largos  explicar o si-gnificado daqueles empreendimentos. Tratar-se-á, outra coisa não poderia ser, de fazer um ponto da situação, de uma abertura à necessária e profícua crítica histórica, método eficaz de fazer progredir os nossos conhecimentos sobre o passado.

 

                                                       Tese

A existir, como deverá necessariamente existir uma tese, ou um núcleo de ideias mais ou menos sistemáticas, sujeitas a verificação documental, diríamos, para começar, que o significado da construção da ponte em questão, bem como o de qualquer outra que naquele tempo se erigiu ou pretendeu erigir, deverá ser apreendido no quadro das ideias e da prática daquilo que, adequada ou inadequadamente, a historiografia portuguesa cunhou por fontismo.

Poder-se-ia  sintetizar, de acordo com  tais princípios e práticas, que “o maior factor de progresso estava na abertura de vias e na obtenção de transportes para aproximar as populações e permitir a maior circulação de riquezas.” [11]

Igualmente dever-se-á falar de uma tipologia de pontes que o fontismo criou e que persistirá até ao Estado Novo, marcando em definitivo o “ último florescimento da ponte de pedra ensaiando soluções de futuro”[12]

Criara-se, e muita da responsabilidade caberia ao “Guia do engenheiro na construção de Pontes de Pedra “, do coronel de engenharia Luís Mousinho de Albuquerque, publicado em 1844,” um tipo de ponte de elevado pé-direito e de arco de volta inteira, de diâmetro idêntico à largura do álveo a transpor, sem corcova e com guardas estrangulando, por vezes, um pouco a largura do pavimento, muitas vezes reforçadas por frades ou mourões de secção quadrangular ou circular com cobertura piramidal ou esférica.”[13] E introduzem  “... autênticos revivalismos arquitectónicos , que vão desde a imitação das pontes romanas às góticas, não só nos casos de restauro como nas construções  ex novo.”[14]

Grosso modo, ressalvando as diferenças, diferenças de ponte para ponte e (seria necessário estudar mais este aspecto) de engenheiro para engenheiro, a ponte em questão parece poder inserir-se naquela tipologia.

Tratar-se-á também de analisar a complementaridade  entre a nova via, parte da qual era constituída pela ponte e pelo malogrado prolongamento da rua do Estrela, que se pretendia, tal como hoje, alternativa à rua Direita ( melhor dizendo as ruas de São Francisco, Nossa Senhora da Conceição, João do Outeiro e da Praça, já junto à ponte do Paraíso), e os novos mercados. Estes últimos estavam parcialmente a funcionar no ano de 1884. [15]

Não nos iludamos, porém, pois a ponte e as demais infraestruturas que estamos a ana-lisar foram implementadas no contexto de uma crise financeira nacional e de uma grave crise  motivada por questões económicas que conduziria à implementação das Juntas Autónomas, primeiro no Distrito de Ponta Delgada e algum tempo depois em Angra do Heroísmo. Era uma época de tentativa de reconversão económica nas ilhas, contrariada por imposições do governo central. Posto de um modo esquemático e lacunar, como é óbvio.

Será também falar-se  do papel de dois homens, António Manuel  da Silveira Estrela e de António Augusto de Sousa e Silva, que além do mais simbolizam as suas gerações.

Aqui entraríamos, caso o quiséssemos, obviamente este não é o local nem a ocasião, na questão da biografia e do papel do indivíduo na comunidade. A minha posição poder-se-ia resumir em que qualquer pessoa interage com cada qual das outras que vivem em  uma determinada comunidade.Será também falar do eng.º Mariano Machado Faria e Maia, do Conductor Districtal de Obras Públicas, Caetano Moniz de Vasconcelllos, dos Conductores de Seccão, alguns dos quais chegam a substituir os Directores distritais (caso de Sousa e Silva) e de todos os presidentes da Câmara desde o início das obras até à sua conclusão. Umas mais do que outras. A biografia deverá registar e analisar os graus desta interacção.Torna-se necessário apreender o modo como funcionavam as obras desde a sua elaboração no papel, passando pela sua dotação orçamental e à sua concretização no terreno. Determinismo ou livre arbítrio? 

 

1ª Parte

A construção da ponte

Passos da ponte

                               Da ideia à sua iluminação 

                                  Os mercados e a  estrada. Visão larga         

1. Antecedentes e razões para construir a nova ponte e demais infraestruturas.

 

Já em 1866, tanto quanto sabemos, a Câmara Municipal da Ribeira Grande dava provas de querer melhorar as vias de comunicação dentro e fora do núcleo urbano.

Na “Relação das obras municipaes que a camara municipal da Ribeira Grande tenciona pedir um subsidio ao governo de sua Magestade” consta, entre outros:

-”Uma ponte na ribeira dos Escarolas que liga as duas freguezias d’esta villa”[16]

-” O concerto da rua detrás dos moinhos d’esta villa”[17]

-” A factura da estrada canada do Feitor”

-” Concerto no grande oiteiro na rua do Saco.”

-” Melhoramentos das ruas do Balcão e Tornino do logar da Ribeira Secca”

-” A estrada da Lomba de Santa Bárbara á Mediana, que foi principiada pelo estado”

Além destas, também consta daquele relatório, uma série de obras ligadas á saúde e á higiene:

-”Melhoramentos na Caldeira da Ladeira da Velha”

-” Um estabelecimento de banhos na Caldeira Velha”

- E de banhos de água salgada para homens e mulheres na vila bem como a rua.[18]

A câmara da Ribeira Grande pedia autorização”à comissão Distrital para contrair um empréstimo de 5 781.000 rs para reparação das ruas direitas, São Francisco, da Con-ceição, da João do Outeiro e do Paraízo-” [19] Percebe-se pois a necessidade de uma via alternativa.

A solução inicial não foi a de se construir uma nova ponte mas a de se melhorar uma das duas existentes, nomeadamente a do Paraíso.E efectivamente seria, tal como já dissemos, ampliada em 1876.[20]

“ Precisa que se melhore a ponte que fica juncto do passeio publico da ditta villa” e que se mudasse”... a direcção da estrada real, que vae pela ladeira da Velha para as Furnas”.

Curiosamente é no ano em que se conclui a ampliação da ponte existente que em acta de 27 de Dezembro, tanto quanto sabemos, nos surge claramente o desejo de uma nova ponte. Logo se estabeleceria inequivocamente uma relação entre esta e o complexo

dos novos mercados . Em 1875 tratou-se da aquisição de terrenos para os mercados.

“...que sendo de summa utilidade para esta Villa, maxime, pelo estabelecimento dos novos mercados, a construcção d’uma ponte entre a ponte do paraizo e a praia”

E porquê uma nova ponte?

A antiga mesmo ampliada ainda seria insuficiente. Todavia, se ainda  fosse,  poderia ser de novo ampliada, com muito menos custos.  Pretendia-se uma via alternativa à rua direita, uma via capaz de ser mais flexível , mais ampla, de acordo com as ambições de aumento significatico do comércio. A ligação directa aos mercados e à estrada nº8 tor-nava-se assim vital. A ponte do Paraíso e o antigo espaço económico transformara-se na sala de visitas da vila. Também se trataria de um novo conceito de urbanismo.

O de Ponta Delgada tinha uma população de 45 031 pessoas e o da Ribeira Grande tinha 24 197. Era o segundo da ilha. As comunicações eram tanto do interesse daquela cidade como desta antiga vila. Vejam-se as possibilidades de criação de um mercado.

A construção da ponte permitiria a ligação da estrada n.º 8 que vinha de Ponta Delgada sem perturbar o tecido urbano mais burguês e mais antigo. As limitações do espaço e o sossego dos seus inquilinos seriam, tal como hoje, a preocupação dos nossos antepas-sados?

Veja-se a este respeito uma peça do cónego Cristiano Borges de Jesus de 2 de Novem-bro de 1895:[21]

“Alguns dos moradores da rua direita, ou melhor de São Francisco, teem levado as tardes na agradabilissima diversão da pesca aos eirós. Nada ha mais commodo nem de melhor recreio. Das janellas ou das varandas deitam á rua as linhas e, segundo nos di-zem, tem sido tanta a pesca.Pois se a rua se transformou n’uma grande ribeira lodosa!”

Enquanto os mercados estiveram , numa primeira fase até à década de 50 onde hoje é o Jardim público e, numa segunda fase, daquela data até 1882, na “Cascata” ( O Açougue e o Barracão tanto quanto sabemos e falta confirmarmos, permaneceriam, todavia, no espaço adjacente à anterior praça nas ruas do mesmo nome. O mercado do gado era em Santo André.) A rua Direita e a ponte tinham servido, bem ou mal, porém, agora que a praça se deslocara, ou iria deslocar-se, para onde a vemos hoje, na rua do Estrela, tornava-se necessário outro tipo de ligação. Era enorme a pressão sobre a rua Direi-ta.Ainda faltava retirar os entulhos da ponte nova já o trânsito circulava por ela, pois a rua direita estava fechada para obras.

 

1.2.Como seria  então o local envolvente da ponte e mercados?

 

1.2.1 Envolvente dos Mercados Novos.

 

Este último empreendimento ( os mercados) foi feito em quintais pertencentes à família Velho Cabral, sendo plausível conjecturar-se que a configuração daquele local fosse diferente da actual. Talvez ainda a rua das Pedras terminasse na junção da rua da Praça ou na das Espigas, hoje East Providence.

“Thereza de Jesus, casada com Fernando Piques, faz publico que mudou a sua hospe-daria para a casa que foi de Manoel das Flores ao canto da rua das pedras e frente para a rua da praça...”[22].Seria a casa nº39 construída no ano de 1859, como consta de uma placa colocada no seu frontispício. Assim sendo, a rua das Pedras já iria pelo menos até à das Espigas. Repare-se que o grosso da ponte começaria pouco depois. O que quererá isso dizer? Seria assim antes? Um mestre da terra olhando para a tal casa, disse-me que “parecia que a quinta do Sr. Pavão(hoje clube do Ideal) encostava àquela casa. Olha o acabamento da casa.”[23] 

 

 

Fig. 1  -  Mercado da Ribeira Grande

 

 O mesmo se poderia  conjecturar, já agora, da rua do Saco. Ou seja as extremidades da ponte não seriam provavelmente abertas quando esta se pretendeu construir.[24] .A agora denominada avenida Infante D. Henrique [25]seria mais estreita( Tanto fotografias antigas como opiniões de pessoas idosas no-lo parecem confirmar)  e estrangularia junto à rua Direita. A rua do dr.º Oliveira San-Bento era, até há pouco tempo, uma estreita canada, denominada rua do Rodrigo. Talvez encontremos algumas respostas na acta da câmara da Ribeira Grande de 23 de Abril de 1896.( data posterior à conclusão das infra-estruturas em estudo)[26]

Existiam, àquela data, para a área poente dos mercados, a rua do Rodrigo:”a que parte da rua de S.Francisco até aos Beccos do Rodrigo”.A havia a Travessa do Rodrigo:”a que vae da rua do Infante D.Henrique até este ponto.”Depois havia o 1º e o 2º “Beccos do Rodrigo”, ou seja “os beccos que limitam a rua e travessa do Rodrigo.” Seguia-se na lista a do Infante D.Henrique:”A que parte das ruas de S.Francisco e N.Srªa da Conceição até ao mar.”A rua da Feira:”a que vae da travessa da praia à Rua do Infante D.Henrique.”Ainda tinhamos a rua de “Luiz de Camões. A que vae da dita rua de N.Srª da Conceição, e desemboca na dos Mercados.” Finalmente, “ A Rua dos Mercados. A que passa em frente dos Mercados desde o extremo nascente da freguesia Conceição até ao extremo poente.”

Em 1896,  as artérias ao redor dos Mercados, fossem  ou não mais estreitas, presumi-velmente apresentariam grosso modo um traçado parecido ao que conhecemos.[27]Todavia, antes da construção dos Mercados, a julgar pela configuração dos terrenos comprados, não haveria a rua que separa o mercado do gado ao dos produtos hortícolas, ou então seria uma servidão.

“..., e por cada alqueire que se expropriar para rua e mercados.”[28]

 

1.2.2 Envolvente da Praça Velha

 

 

Fig. 2  -  Praça Velha

 

Viajemos até à antiga praça, hoje jardim. Já a vimos no século XVII, iremos tentar vê-la no século XIX.       

Socorrer-nos-emos de uma gravura do Album Micaelense de Cândido Abranches-(c.1860’s) e de uma fotografia do Álbum Açoriano(1903-confirmar).

Pela primeira , feita por alguém que se colocou de costas para a serra da Lagoa do Fogo e de face voltada para o edifício da câmara,enquadrando o seu olhar, a poente, nos limites daquele edifício e, a nascente, nas casas da praça, já surge o jardim público gra-deado e com árvores ainda pequenas.A nascente da torre sineira, ainda sem relógio (“Já  se acha completamente restabelecido do grande incommodo porque passou o relogio publico d’esta villa...Foi seu médico o sr. José Maria Vasconcellos, habil relojoeiro de Ponta Delgada.”[29]), duas casas, que mais tarde seriam alugadas pela administração do concelho e depois adquiridas.As duas foram reunidas, sendo hoje, no 1º andar a sede da Biblioteca da Gulbenkian. Já não existirá a fonte referida por Diogo das Chagas no século XVII. O aspecto exterior dos edifícios da câmara sofreria modificações consideráveis no século XVIII e grandes alterações no interior no século XX. Foi a torre , foi o arco, foram as escadarias. Pela fotografia tirada algures do lado poente da ribeira, um pouco á frente do ex-café Paraíso descobrimos a antiga rua da Fonte Grande( antes de 1896 era conhecida por rua da Cova do Milho) que descia do vértice da ponte do Paraíso( lado poente) indo morrer na Cova do Milho.[30]( Vê-se perfeitamente por uma outra fotografia que também nos ajudará a reconstituir  o canto norte da Praça. Será anterior a 1917 ou 1918, altura em que falece o Padre Luís Carlos Faria.Segundo consta na Ribeira Grande teria sido ele quem mudara o Passo Quaresmal da Rua João do Outeiro para o local da ermida de São Pedro Gonçalves)Hoje está entulhada  e integrada na calçada fronteira ao Teatro Ribeiragrandense.

Do lado nascente, descia a rua do Açougue. Açougue, hoje Tabuleiro, que possuía um 1º andar com telhado(encontrei uma referência que o parece indiciar.Há que confirmar).

A Fonte Grande ainda se mantinha junto às casas ditas de “João do Outeiro”, membro do 1º elenco municipal quinhentista da Ribeira Grande. Veja-se a este respeito Gaspar Frutuoso. Assim nos dizia o Dr.º Jorge Gamboa de Vasconcelos, que se lembrava per-feitamente das casas ditas de João do Outeiro, adiantando que muito possivelmente uma verga de janela ou de porta, que a D.Maria Mota tem exposta no átrio do Solar da Mafoma( há anos disse-nos “que a vira numa das dependências da câmara, se não lhe falhasse a memória no Mercado”)[31] ter-lhe-ia pertencido, e da Fonte Grande, onde brincara em miúdo,e que muito mais tarde veria  na fonte manuelina  de Castelo de Vide um modelo quase idêntico. Confrontado com a mesma pergunta, o senhor António Paulo Garcia de 87 anos, mais ou menos da mesma idade do dr.º Jorge, disse-nos “que a fonte que conheci estava metida na parede da casa, para o lado da Praça.Tinha uns bordados e uma taça.” tentei saber se era parecida com qualquer das existentes na Ribeira Grande, mas a resposta não foi conclusiva.[32]

A casa seria ,[33] já muito arruinada, os seus baixos à altura eram ocupados por sapateiros, demolida em princípios deste século para naquele local se construir o Teatro Ribeira-grandense. Infelizmente nem o fotógrafo nem o autor da gravura registaram o lado da igreja do Espírito Santo. Pelo menos nada chegou até nós. O barroco só seria valoriza-do mais tarde. Todavia, o que temos encontrado em documentos, leva-nos aos poucos a tentar reconstituir aquele recanto. A igreja tinha torre de sinos que fora demolida na década de quarenta do século dezanove por nela se fazerem “coisas contrárias à boa ordem e decência pública” Assim o justificou um documento oficial. Tinha existido até ao século XVIII um “Triatro” do Espírito Santo e na mesma altura o piso da praça, hoje Jardim, tinha sido nivelado. A própria igreja , tal como hoje a vemos, começaria a ser construída ainda naquele século (década de quarenta) prolongando-se alguns aca-bamentos pelo terceiro quartel do mesmo.A ermida de São Pedro Gonçalves, no vértice nordeste da praça, cedera o lugar, presumivelmente no início deste século XX(falta confirmar), ao passo quaresmal que se transferira da rua de João do Outeiro, no local onde hoje se encontra o B.C.A.

 

 

 

1.2.3 Nas imediações da ponte.

 

 

Fig. 3  -  Ponte

 

Imediatamente junto ao local onde se pretendia erigir a nova ponte, na Cova do Milho ou Paraíso , existia, como existiu até aos anos sessenta, um bairro. Na rua do Açougue, à esquerda de quem descia, existiam tendas de ferreiro, aliás como a nascente e a poente da vila. No fim dela um moinho de rodízio, do mesmo lado da ribeira, mais perto do local da ponte, segundo alguns informadores ( em 1983 gente com oitenta anos) um tal “Ti Ernegado” teria tido um moinho de azenha. Já na outra margem e a poucos metros da nova ponte um outro de rodízio.Há dias (1995) O Sr. Mestre António Alves, mestre de obras da câmara há pouco reformado, relatou-me o mesmo.

 

 

Fig. 4 - Reconstituição hipotética do local da futura ponte.

 

Ouvira-o da tia que o ouvira sempre do pai e vira-o quando fizera obras na casa da tia, hoje sua, e na Cova do Milho. ”Vi calçada e uma porta metida no chão. Ia para baixo. E também vi os alicerces do tal moinho. Fiquei surpreendido por encontrar uma casa no meio da ribeira.” Mostrei-lhe a fotografia na qual se vê no sítio onde trabalhou um edifício.Não é possível determinar se era também moinho.[34] Acedia-se a este bairro pelas ruas do Açougue,  da Fonte Grande e por uma outra que ainda hoje existe pelo lado poente.

A norte deste bairro, num pequeno promontório  conhecido pelo “Curral” havia, também até aos anos sessenta um outro bairro. Ambos eram constituídos por gente pobre. Muitas das doenças infecto-contagiosas que temos registado tiveram a sua origem naqueles locais ou aí se alastraram enormemente. Realojou-se parte dos seus últimos habitantes  nos novos bairros municipais  de Santa Luzia  bairros que também serviriam de acolhimento aos habitantes do lado do mar da rua do Castelo. Estes um pouco mais tarde. Todo este processo, iniciado na 1ª metade do século XX, tem contornos semelhantes, ressalvando-se as diferenças, com o projecto dos mercados, da ponte e da estrada nº8. Dele fazia parte o sonho, adiado em parte, de se ajardinar o Curral e as margens da ribeira. Opção urbanística, quanto a nós correcta, pois a Ribeira Grande é um agregado que deve muito do seu carácter à ribeira. Dela herdou o nome e dela herdou  parte do seu sustento e a sua proeminência.

 

 

 

1.2.4  Traços gerais

 

Seria este, pois, grosso modo, o aspecto envolvente dos locais onde se iriam construir as infraestruturas em análise. De pontes, só existiria então, além da do Paraíso, repita-mo-lo, a Ponte Nova ou das Freiras, na rua da Ponte Nova. Desconhecemos se já existiria,  se chegou mesmo  a existir, a da ribeira dos Escarolas (seria a de madeira da rua de Trás Mosteiros? E a da Cova do Milho?)[35] unindo a Matriz  à Conceição. A ribeira seria atravessada a vau por pessoas e animais. Tal como o faziam  há pouco tempo alguns moradores da rua do Barracão para irem à loja ou ao cinema na rua da Ribeira.

A ponte era vital, uma vez que os  mercados se tinham deslocado. Além do mais a vila estava estrangulada com as duas pontes. A Ponte Nova não permitiria grandes ajudas.

 

1.3  Passos da ponte

 

A ponte começaria a construir-se, segundo uma leitura plausível dos indícios que dis-ponho, antes de 29 de Fevereiro  de 1888,[36] se nisso incluirmos os trabalhos preliminares do projecto e, plausivelmente,  há um pouco mais de tempo, se nos referirmos ao pro-jecto de engenharia e à  sua aprovação  e dotação orçamental pelo governo central.

Aliás a encomenda de pedra para a ponte volta a repetir-se em Março daquele ano.[37] Um ano e pouco depois aparece um anúncio para 100 metros cúbicos de cal.[38] Segundo mestre António Reis:” Depois de encomendada a pedra foi necessário tempo para fazer o que se pedia. Leva tempo. Primeiro rebentar as pedras na pedreira depois, talhar as pedras... Quando isso estivesse pronto então começava-se a ponte. Por isso só pedem a cal tempos depois.” Então a ponte estaria a concluir-se em data muito próxima da última encomenda de cal no verão de 1890.[39] 

Retomemos o fio à meada. Sendo a obra da nova ponte, entre a do Paraíso e a praia, avaliada em” cinco para seis contos de reis; o que excedia as forças do município,” pediu-se ao governador civil que”... o ponderasse á Junta Geral afim de pedir ao Go-verno de Sua  Magestade subsidiasse esta construcção .”[40] 

Em 1875 (sessão de 27 de Setembro) tratara-se da aquisição dos terrenos para a nova praça, ou melhor mercados, o nome indica a diferença de atitudes, junto de Francisco de Paula Velho Cabral, que por ser vereador não participou na referida sessão.

“...; e por cada alqueire de terra que se expropriar para rua e mercados, 400$000 reis livres...”[41]

E, para reforçarmos ainda a ideia da concomitância das obras do mercado e da ponte, em 1877 dizia-se:

“Ali sobretudo, depois das importantes obras que se estão fazendo na construcção de mercados e abertura de novas ruas torna-se( naturalmente a ponte) até uma necessi-dade.”[42] O primeiro pedido de uma nova ponte surgira ainda no ano de 1876, como vi-mos. Há  claramente uma estratégia confessada de desenvolvimento integrado daquelas infraestruturas. Relembremos que  Sousa e Silva já era o director interino de obras públicas. Os mercados foram feitos pela câmara sob “Direcção da construcção” da di-ecção de obras públicas.[43] Estratégia que não atingiria todos os seus objectivos  porque, apesar de se construírem novas ruas junto aos mercados, de se construir a ponte e de se construir quase todo o troço da estrada real nº8, não se prolongara a rua do Estrela.

Emygdio da Silva em 1893 escreveu: “ A estrada, porem, não foi desviada...” [44]E, porque, segundo o mesmo , o peixe continuava a ser vendido nas ruas. Acrescentaríamos que os tempos eram difíceis, eram tempos de resistência às directivas do governo central.

Como em finais de 1877, o governo central não tivesse ainda respondido às pretensões da vila, a Junta Geral em novo relatório, plausivelmente através da insistência dos pro-curadores do concelho naquele órgão,insiste:

“Na Ribeira Grande insta-se e com rasão por que se peça ao governo de Vossa Ma-gestade que mande construir a ponte...”[45]

 

1.3.1 1ª fase- Até c. 1893

 

Só doze anos depois, em Fevereiro de 1888, encontramos no jornal ribeiragrandense “O Noticiarista” de 29 daquele mês, a notícia de que estava “... entre nós dirigindo os trabalhos da Ponte, o sr. Rodrigo Alves Guerra.”[46]

Pelo que se pede no citado anúncio, datado de 12 de Março de 1888, 270 cunhais de pilares, 967 cunhais dos contrafortes, 214 cunhais das testas dos arcos, 162 pedras claros (sic) dos contrafortes e mais 446 do mesmo tipo mas de dimensões diferentes, se poderá depreender  que o grosso da obra estaria por fazer. Todavia alguma coisa já teria sido feita. Um bom mestre talvez fosse capaz de nos dizer qual a fase em que se encontrava a obra antes  daqueles materiais serem utilizadas.[47]

É portanto plausível conjecturar-se que os trabalhos da ponte teriam começado antes de  Março de 1888. Antes dos pilares e arcos da ponte, etc, seria necessário preparar o terreno nas áreas circundantes, nas extremidades da futura ponte bem como proceder a alguns arranjos, já no Paraíso, na  área em que  se ergueriam os arcos da ponte.

A partir de 1888 a obra parece tomar fôlego e andar depressa, talvez com os bons ofícios do já deputado às cortes Sousa e Silva que”a deixara começada”.

Isto é tão certo que passado pouco mais de um ano , a 18 de setembro de 1889, no jornal “A Persuasão” o influente Francisco Maria Supico, seu proprietário, que colabo-rara no “Estrella Oriental” da Ribeira Grande e era,à data, um dinâmico relator da Junta Geral do distrito, entidade que, como vimos, superintendia as obras públicas do distrito, sob o elucidativo e revelador título”Deputados e obras” desabafara: “Que gente!”  

O pobre do cais de Nordeste, ao que parece, teria sido preterido com proveito da ponte da Ribeira Grande em construção. A verba que cá chegara, 500$000, destinava-se a pagar uma dívida já contraída. A ponte, pois, tinha bons e influentes padrinhos.[48] Entre esta data e a vinda de Emygdio da Silva em 1893 concluíra-se a ponte.

Em 1881a Câmara insistia com o governo Central para que viesse a verba que fora votada.[49] No “Estrella Oriental” estala a polémica da autoria de tal lei. Teria sido dos Históricos, partido a que o articulista pertencia bem como o elenco camarário de então, mas o governo passara às mãos do odiado Fontes Pereira de Mello.[50] A fazer fé no articulista. As Obras públicas distritais andaram a construir, até bem dentro de 1886, coisas da vila e nos seus arredores, como por exemplo o restauro da igreja da Mise-ricórdia e o troço da estrada real n.º 8 de São Pedro ao Rosário da Ribeira Grande numa extensão de quase 1 800 metros.No varadouro de Rabo de  Peixe, no Porto Formoso e em outros lanços da estrada real n.º 8.Era prioritário? Sousa e Silva e Faria e Maia aparecem-nos também naquele período que segundo “O Estrella Oriental” chegara a ter dois directores distritais de obras públicas, coisas que atribuía à má administração dos Regeneradores.[51]

 

1.3.2   2ª Fase- Até 1895. Fase final.

 

Todavia, algo que desconhecemos, até ao momento, não obstante as pesquisas que efectuámos, quer no Arquivo Municipal da Ribeira Grande quer nos jornais coevos quer nos fundos da Junta Geral, acontecera para que a 20 de Julho de 1895 o Cónego Cristiano Borges de Jesus, no seu jornal “O Norte”, pudesse escrever:

“Concluíram-se os trabalhos dos parapeitos da ponte nova d’esta villa.” E na mesma nota comenta que todo o trânsito da vila estava circulando pela ponte, uma vez que a rua de São Francisco se encontrava em obras.[52] Emygdio da Silva, dois anos antes, refere que a ponte dava somente servidão aos enormes mercados novos.[53] Prosseguimos a pesquisa no “Estrella Oriental”, porém a colecção que consultamos só tem um número de 1894 e poucos de 1895.Os jornais de Ponta Delgada nada nos disseram a este respeito. Em 1889 surge o pedido público para o fornecimento de mais material sendo repetido, salvo erro em Agosto de 1890.Depois é o silêncio das fontes.Estaria já completa. O mercado em 1893 ainda não estava apesar de estar a funcionar desde 1884.[54] Ainda no século XX, um vereador, o senhor Faustino, propõe a construção de duas portas laterais para o Matadouro e Mercado do Peixe.

A ponte, tal como a vemos hoje, o que é corroborado pela fotografia de 1903 ( ou mesmo anterior), portanto a 8 anos de 1895, terá plausivelmente a ver com a fase de 1895.

 

1.3.2.1  O que se teria passado.

 

O que se teria passado? Tudo o que possamos dizer não passará, obviamente, de conjecturas, mais ou menos plausíveis. Porém só assim poderemos fazer avançar os nossos conhecimentos sobre o passado.

Teria havido uma estrutura anterior à dos parapeitos, tal como os vemos actualmente, portanto, teria existido um elemento estrutural secundário, que por ter sido considerado inadequado, incompleto  ou ter sido danificado, sabe-se lá porquê, teria sido modificado.

Procuramos em vão nos documentos já referidos pelas razões de tais ocorrências. Ainda tentámos captar alguma tradição oral local. Debalde. As actas das sessões da Junta Geral interrompem-se em 27 de Abril de 1892, retomando somente a 7 de Janeiro de 1896, quando toma posse a Junta Autónoma consagrada pelo decreto de 2 de Março de 1895.Aliás um decreto de 6 de Agosto de 1892 extinguira as Juntas Gerais distritais e substituíra-as até 31 de Janeiro de 1893 pelas comissões executivas, denominadas a partir de então por comissões distritais.

As actas daquela comissão desde 16-07 de 1892 a 16-04 de 1895 não nos dizem nada  a respeito da nossa ponte. Sabemos que em 1893 o projecto do mercado ainda não estava concluído. Era da autoria do engenheiro Mariano Machado Faria e Maia. [55]

Estávamos em plena contestação autonómica. Não nos parece que tenha havido qual-quer catástrofe natural ou acidente. Se algo tivesse acontecido as fontes jornalísticas que pesquisámos, abarcando todo o período em questão,  no-lo diriam, tal como o fizeram para a catástrofe da Povoação. Ou para Ponta Delgada “,o molhe ia progredindo com relativa rapidez, quando em 1894, a 7 de Dezembro, sobrevem um violento temporal que derruba 190 metros da muralha.”[56] Até porque, não querendo falhar, procuramos em jornais da Ribeira Grande  confrontando-os com os de Ponta Delgada que tinham uma rubrica local. Debalde. O simples derrube de um parapeito de ponte não seria motivo para notícia de jornal? Teria havido uma estrutura gradeada parecida à da por do Nordeste? Se assim fosse, talvez aqui na Ribeira Grande, ao contrário da vila do Nordeste,mais abrigada aos ventos do quadrante norte, este facto o tivesse desaconselhado na prática. Quem sabe?

 

1.3.2.2  A ponte tal como a vemos hoje.

 

Em todo e qualquer caso, julgamos ser seguro afirmar que  a ponte, tal como a vemos hoje, data de 1895.

Não se tinham ainda retirado os materiais remanescentes da obra dos parapeitos já o trânsito circulava, como dissemos anteriormente, refere-se ainda o cónego Cristiano, com grande dificuldade. A rua Direita estava em obras e tal como hoje sem a ponte a vila paralisaria.

Mas não eram somente os entulhos, era necessário aperfeiçoar a obra, tanto mais que tinham ocorrido dois acidentes com crianças. A primeira, encontrando-se a brincar, ca-íra da ponte, tendo ficado muito ferida, refere aquele jornal na sua edição de 24 de A-gosto de 1895. Pouco depois, e segundo ainda o mesmo jornal, cairia uma outra criança tendo fracturada ambas as pernas. E o jornalista rematava:

“ Estes factos devem chamar a attenção de quem é obrigado a fazer um pequeno para-peito n’uma pequena aberta que deita para a ribeira.”

A 7 de Setembro de 1895 tal parapeito ainda não estaria pronto.

Faltava também a iluminação( a petróleo entenda-se). Em 16 de Janeiro de 1896 foi lido na vereação daquele dia um oficio do Director de Obras Públicas que autorizava a colocação de candeeiros na ponte. A 22 de Fevereiro, O Norte noticiava daquela ilu-minação:

 

 

 

1.3. 4  Homenagens

 

“ Era melhoramento ha muito reclamado e a que a camara com justiça attendeu”

Em Janeiro de 1896 mudam-se diversos nomes de ruas, atribuindo-as, exceptuando o capitão Mousinho de Albuquerque(?) , a correlegionários políticos da vereação de en-tão:Jácome Correia, João Franco, Hintze Ribeiro, Sousa e Silva. António Manuel da Silveira Estrela teria outra e Medeiros Correia outra.Só o primeiro não fora Regenerador.A Sousa e Silva a edilidade atribuía-lhe a responsabilidade da ponte:Por ser a este cavalheiro que se deve a construcção da ponte.” O que justifica o nome dado à rua que por ela passava.Em reunião de 20 de Fevereiro daquele mesmo ano a câmara sob proposta de Medeiros Correia, seu presidente, deliberou oficiar a cada um dos homenageados.Tanto quanto sabemos só o Conde Jácome Correia veria o seu agrade-cimento registado em acta, exactamente um mês depois e quase um mês antes da notícia da sua morte. Em 1926 quando falece Sousa e Silva não foi relembrado na Ribeira Grande. Eram outros os tempos e outras as pessoas.O progressista Mariano Machado

Faria e Maia ficara desde sempre oficialmente esquecido. É assim que funciona a memó-ria oficial. Aliás grande parte da acção da sua presidência girou à volta da reformulação toponímica da vila e a colocação de placas de azulejos encomendados na vila da Lagoa.

 

 

2ª Parte

Porque se construiu a ponte e as demais infra-estruturas

 

2  Importância das comunicações 

 

 

Os transportes e as vias para a sua circulação ocuparam o topo das prioridades das po-líticas de desenvolvimento em toda a 2ª metade do século XIX português. Não foi por acaso, nem caso único, já que pela Europa  e pelo  mundo fora, mais cedo, ao mesmo tempo ou mais tarde, essa era, teria sido ou viria a ser a prioridade do desenvolvimento. Vejamos toda a epopeia  da construção do caminho de ferro no oeste longínquo  norte-americano, tema central de películas cinematográficas tão caras à nossa juventude.

Bastará igualmente ler de relance a obra “Transportes e comunicações em Portugal, A-çores e Madeira (1750-1850) “ de Artur Teodoro de Matos para ficarmos na posse de um diagnóstico  seguro do estado das vias de comunicação e transportes nas áreas geo

gráficas enunciadas no título. E tal aponta para a necessidade de construir mais e melh-ores caminhos.

A crónica da viagem que José de Torres empreendeu à parte oriental da ilha de S.Mi-guel na década de quarenta do século XIX é um documento pungente e exemplar das  enormes dificuldades de comunicação entre Ponta Delgada, a Povoação e o Nordeste. Saído de Ponta Delgada por mar, arribado à Povoação, dirigir-se-ia àquela ultima vila

no dorso de uma mula, atravessando demorada e perigosamente a Tronqueira.

Caetano Alberto Maia, um engenheiro militar, pela mesma altura, em 1840, escreveu que, e permitam-nos, pela sua importância, incluir uma longa citação:

“ As estradas nas imediações da Cidade, com particularidade a que conduz à vila da Ribeira Grande, são soffriveis, e admittem transportes de qualquer construção; porém

todas as outras são más; passão em muitos logares entre ribanceiras de grande altura, e formadas de materiaes soltos como pedras pomes, cascalho, etc., as quaes desabando com frequencia no Inverno, entulhão a estrada, e expõe a vida dos individuos que as transitão, em outros logares o mar vem banhar o terreno a que impropriamente chamão estrada; finalmente aparecem com frequência ladeiras de grande extensão, e com tão aspera declividade que cauza não pouco receio desce-las a cavalo; tais são as ladeiras da Velha, do Pizão, da Gaiteira, do Trigo, etc, pelas quaes he quazi impossível passar um carro, ainda que seja descarregado”[57]

A Ribeira Grande encontrava-se ligada regularmente  ao resto da ilha e ao exterior. Ao exterior através dos portos da costa sul, sobretudo Ponta Delgada.

Em 1858 o Prior Cabral de Mello fala-nos de carreiras diárias com Ponta Delgada. Ida de manhã e regresso à tarde. E carreiras semanais com Nordeste.

Já mais tarde, no terceiro quartel do século, fala-se de um omnibus que ligava Ponta Delgada à Ribeira Grande passando por Rabo de Peixe e Pico da Pedra. A Mediana já não era a única via.

A Ribeira Grande, ligada a Ponta Delgada, recebendo parte dos excedentes produzidos no norte da ilha, parece querer ocupar estrategicamente e de facto um lugar de destaque na sua redistribuição. Daí a ponte que iria unir a estrada do norte ( pretendeu-se uma alternativa à Ladeira da Velha) à do sul.

“... mandasse construir outra ponte proxima á foz da ribeira e pela qual devia passar a estrada, depois de desviada para jusante”, e, continua,”...não foi desviada.” [58]

Aliás, só há pouco, há um par de anos, começou a ser concluída a estrada alternativa

à já então congestionada rua Direita ( da zona de Nascente).[59]

Daí a ligação da estrada de Ponta Delgada ao porto de S.Iria, onde chegariam por mar os produtos (Porto Formoso,Maia etc.) ou o varadouro que, ainda em 1896, se pretendia construir junto ao “castelo”na freguesia da Matriz, mais ou menos onde hoje se en-contra a praia de banhos.[60] As Calhetas, Rabo de Peixe, Porto Formoso, a Maia etc. dis-

punham igualmente de pequenos varadouros.

Daí a pretendida linha férrea que reuniria, numa primeira proposta da década de setenta do século XIX , Ponta Delgada, Lagoa, Capelas, Rabo de Peixe e Ribeira Grande.

“Ha uma empresa que se propõe a construir um caminho de ferro americano que co-munique à cidade de Ponta Delgada, com as povoações da Lagoa, Ribeira Grande, Ra-bo de Peixe e Capelas, e sendo a obra de grande utilidade e reconhecido proveito para esta ilha não pode esta Junta deixar...” [61]

 A ideia seria  retomada, tanto quanto sabemos, na década de noventa, aliás  o que viria  a persistir até aos anos vinte deste século. [62]

Além destas infraestruturas da competência da Junta Geral, muitas mais se pensaram e concretizaram a nível da câmara municipal. Por exemplo, algumas ruas da vila foram melhoradas, a estrada à Caldeira Velha. A ponte do Paraíso( a que fica junto ao jardim) construída na primeira metade do século XVI, (a este respeito veja-se a descrição seiscentista de Frei Diogo das Chagas) tendo sido danificada, sofrera melhorias no ter-ceiro quartel daquele século, e viria a ser alargada em 1876, sendo de novo ampliada em 1957.E de acordo com João Cabral de Melo e Silva, também em 1930.[63]

A Ribeira Grande, apesar de tudo, e no que toca à sua ligação com o sul e a banda oci-dental, tal como toda a área central da ilha, desfrutava dos melhores acessos terrestres,

tal não acontecia, todavia, com o seu lado oriental. A Ladeira da Velha era uma dificu-ldade. Por este lado seria mais fácil a cabotagem. Aliás, a cabotagem era muito impor-tante naquela altura.

As novas vias, os faróis, os cais, as pontes, os portos, os mercados, o telégrafo, porque não incluirmos aqui os jornais, segundo a filosofia reinante, iriam permitir a criação de um mercado interno abrindo simultaneamente e mais eficazmente a ilha aos mercados externos. Tal aplicar-se-ia a todo o país. A realidade ficou muito aquém do sonho.

 

2.1 Condições sócio-económicas de então. Procura de alternativas ao colapso da laranja

 

2.1.1 Ambiente social

 

O “alevante” (sic) da Ribeira Grande de 1869 e os demais ocorridos pela mesma altura em toda a ilha, tratados pela Profª. Sacuntala de Miranda, poderá ser um bom  baróme-tro da pressão social que então se vivia devido em parte a condições políticas e eco-nómicas. O alevante seria, também em parte, uma reacção  popular conservadora. Pre-tender-se-ia continuar a ter assegurada a “solidariedade vertical”. O sistema multisse-cular de controlo pela autarquia  das exportações de cereais visava acudir às necessi-dades básicas das populações do concelho.[64] Existiam os chamados portos secos, ou seja as saídas terrestres , onde se controlavam as entradas e as saídas, abolidos com o libe-ralismo.

Num documento do governo civil de Ponta Delgada datado de 1865 a freguesia de Nossa Senhora da Estrela com as suas 5 960 pessoas é a maior de toda a ilha de S.Mi-guel, tendo mais 650 que a segunda, São José, na cidade de Ponta Delgada.

concelho teria ao todo 24 197 pessoas sendo o 2º da ilha.

Para o americano Layman H.Weeks, em 1882, seria”... a pretensiosa vila da Ribeira Grande.” [65]

Para Emygdio da Silva os 9 339 habitantes da vila torná-la-iam:”... mais populosa que muitas das nossas  cidades do continente.” [66]

António Manuel da Silveira Estrela e José Maria da Câmara Vasconcelos, entre outros, em 1856, o primeiro sendo presidente e o segundo sendo relator de uma comissão nomeada pelo primeiro, aprovaram um relatório a pedido do governador civil no qual defendiam o livre comércio.Faziam parte de uma associação para a promoção do desenvolvimento da Ribeira Grande, sendo o jornal “A União” a tribuna deste gru-po.Nele se publicaram inúmeros artigos e reflexões sobre a problemática dos transpor-tes, do mutualismo e de outros problemas da comunidade.O jornal acabaria em 1861 com a morte de José Maria.António Manuel viria a falecer em 1879.Não era Regenera-dor e tivera um agravo de Fontes Pereira de Melo, conforme vem relatado no “Estrella Oriental” por Gualberto Soares Vargas. Porém conhecedores das suas consequências sociais intimavam o governo que lhes cobrava os impostos a cuidar dos excluídos que o livre comércio criaria. Aliás estas não eram ideias novas ou exclusivas da Ribeira Grande, já no século XVIII  José de Medeiros da Costa Albuquerque as defendera. Também não era nova a tensão entre os que queriam exportar e os que queriam manter esta exportação a níveis que não causassem conflitos sociais.[67]

É sintomático que  António Manuel da Silveira Estrela fosse igualmente o paladino dos mercados, da ponte e do melhoramento de vias.

O rendoso cultivo da laranja e a sua exportação, que a par de outras actividades eco-nómicas igualmente relevantes, ajudara a alimentar a economia da ilha desde meados do século XVIII,  entrara em colapso.

A doença das laranjeiras e o aparecimento de mercados mais competitivos tinham des-tronado a laranja  micaelense do lugar de primazia que ocupara “à mesa dos súbditos de sua majestade britânica.”Entre outras razões.

Daí e de outros circunstancialismos agrícolas, tais como as rendas altas, resultou uma massa de desempregados ou de rendeiros miseráveis. Muitos destes, bem como os que fugiam ao  universalmente indesejado recrutamento militar,  aliciados pela publicitação

de recrutadores, engrossaram o caudal dos que partiram para  longínquas paragens.

Tudo parece indicar que as obras públicas e o incipiente desenvolvimento agro-indus-trial não foram suficientes para absorverem esta potencial mão- de-obra.

Em 1885, numa acta da vereação, a câmara municipal da Ribeira Grande, desculpava-se, a propósito  de um inquérito para apurar quotas a pagar, alegando :

 “ ...sendo certo que este concelho de si pobre, se tornou pobrissimo  á falta da sua principal fonte de receita= os laranjais”[68]

E, no mesmo documento, acrescentava-se que” A maior corrente de imigrantes nos ultimos dez anos ( fora) para as ilhas Sandwich e San Paulo”[69]

Desconfiando, talvez, de um certo exagero compreensível, dado o objectivo do inqué-rito, (ninguém voluntariamente aceitaria agravar as suas contribuições, daí o possível exagero) resta-nos ainda a impressão de que a emigração era forte e que os responsá-veis locais  a atribuíam  em parte ao colapso da laranja.A acta de 19 de Novembro de 1885 refere, como motivos, a fuga ao serviço militar e a tentativa de melhorar as con-dições de vida:”...parece que as causas mais poderosas sam, em uns o temor do recru-tamento militar, e em outros o desejo de mudar de sorte.” [70]

É importante dizer-se que é neste período de crise, nos anos  à sua volta, que se irão acentuar as tentativas de introdução de novos produtos.

Em primeiro lugar era preciso mudar radicalmente os meios de comunicação, pois, em parte, o mercado da laranja também se perdera pelas condições dos transportes, enten-didos como “veias” por onde circulariam as riquezas a criar ou já existentes.

 

2.1.2 Ambiente económico

 

Em 1883, mais precisamente em Dezembro,  a inauguração da estação do Telégrafo 

na Ribeira Grande abriria novas possibilidades a todos os níveis, inclusive à indústria e

ao comércio local.[71] A partir de então o governador civil telegrafava delicadamente à edilidade pedindo-lhe ,quase sempre com urgência ,esclarecimentos sobre diversos assuntos.”O Noticiarista” de 10 de Novembro de 1886 anuncia:”N’esta villa começou a construir-se uma nova linha que põe em communicação esta villa com a Achada e Maia.”Tinha sido colocada, segundo o mesmo periódico de 12 de Maio de 1884 uma “Caixa de Correio” à porta da Administração do Concelho.

A imprensa , veículo de ideias por excelência( a Ribeira Grande com  a publicação do jornal“ Estrella Oriental”em 1856  viria a ser o terceiro concelho açoriano a tê-la) tam-bém ajudaria a mudar a face da vila e da ilha. Sem a  preocupação de sistematizar e-xaustivamente respigamos na imprensa coeva da Ribeira Grande ( em jornais como a já citada “Estrella Oriental” ou “O Noticiarista, “O Norte”etc) alguns ecos inequívocos de diversos empreendimentos económicos.

Neste período o chá começa a ser comercializado com sucesso.”A cultura do chá aca-bou por ocupar consideráveis áreas sobretudo nas zonas norte de S.Miguel, chegando a existir 14 fábricas, devidamente licenciadas”[72].

Jordão Vieira, ao que consta, regressado do Brasil, proprietário do edificio que hoje a-lberga a Santa Casa da Misericórdia da Ribeira Grande [73] explorava as suas estufas de ananás no Rosário.

“Ananazes.Presentes, Festejos.Banquetes!! Ananazes.Divina Fructa.Vende-se todos os dias para comer já, e para embarque.Todos os tamanhos de primeira qualidade a esco-lher na estufa a 500 rs o Kilo.Vende o Estufeiro.Nas estufas do Jordão, ao Rozário, d’esta Villa.Há caixinhas promptas para encaixotar.”[74]

Inicia-se a exploração comercial das águas   das Lombadas.” Água das Lombadas.ao Publico. Água mineral da Lombada Ribeira Grande.O descobridor d’esta maravilhosa água, José da Costa Labeta, vende cada duzia de garrafas a 200 rs de 3 duzias para ci-ma; as rolhas e garrafas que lhes enviarem sejam de bôa qualidade.Os consumidores e negociantes poderão fazer as encomendas no estabelecimento do Ill.mo Snrº Herme-negildo Dias Tavares”[75]. Pensa-se e com acerto, ousamos dizer, que seria útil construir uma fábrica de garrafas, desconhecemos se se chegou a construir, e um caminho de acesso às nascentes daquela água. Este sim construído.Ou começado a construir, tanto quanto sabemos.

“Começaram já os trabalhos de construcção da estrada da Ribeira Grande às Lombadas, para facilitar o transporte da água das Lombadas”[76].

O jornal “A Persuasão” de 29 de Maio de 1895 anuncia que “...já estava tomada a casa para o capitão Gomes que vai proceder aos estudos necessários para a montagem de fábrica de garrafas na Ribeira Grande(conforme “O Norte”). Dizem que há por aqui material abundante conforme sugestão de Dr.º Eugénio Pacheco.”[77]

Gabriel de Almeida, quase em finais do século XIX, fala de uma fábrica de lacticínios

fundada pelo senhor Caetano José de Mello.

“S exª emprega na fabricação os mais modernos processos industriais”[78]

 E uma fábrica de destilação:

“Do Norte( refere a Persuasão) esta a concluir-se a colheita da batata doce e parece que vão terminar os trabalhos da fabrica de destilação.”

Um requerimento para uma fábrica “de derreter óleos de baleia no porto de Santa Iria”[79].

Segundo “A Persuasão” de 6 de Fevereiro de 1895, em balanço do ano de 1894, a pri-meira tentativa falhara, vingando à segunda. Tendo-se constituído a empresa em Lisboa com capitais micaelenses e do continente.Em Abril começaram os trabalhos de cons-trucção do edifício e a 6 de Novembro o serviço de assentamento da maquinaria.

 Contínua a produção de vinho, naquela altura já de cheiro, e de aguardente “da terra.”

“Manuel F. Castro-vende na Rua do Arco-Bom vinho de cheiro vinho abafado e a-guardente da terra”.[80] Também continua o cultivo e venda de outros produtos agrícolas:” Manoel Jacintho de Medeiros vende no seu granel na rua direita d’esta villa, milho, trigo, fava de semente e favica.”[81]

Se os jornais fossem , como julgamos que o sejam para a época em questão, um bom indicador, diríamos que a quantidade de anúncios de produtos comerciais que neles en-contramos pode não só atestar o reconhecimento pelos comerciantes das vantagens da publicidade, mas também, entre outras razões, confirmar um relativo desenvolvimento

comercial da Ribeira Grande.Os consumidores são aliciados com todo o tipo de pro-dutos. Repare-se neste anúncio:”Machinas Singer para costura.Agulhas,Algodões... acabam de chegar a Manoel Pedro da Silva Piques com officina de Alfaiate na rua di-reita d’esta Villa.”[82] 

 Algumas lojas da Ribeira Grande são extensões de congéneres de Ponta Delgada.

Arruda Furtado refere-se ao povo ribeiragrandense, em livro publicado em 1884, como “...sendo o mais industrial, é também o mais traficante.”Antes já tinha escrito que “Antigamente na villa da Ribeira Grande a industria tomou um certo desenvolvimento, e ainda hoje é lá que está monopolisada a fabricação de todos os pequenos instrumentos agrícolas de ferro que se gasta na ilha . A importante ribeira que atravessa aquella villa faz com que seja lá também a principal moagem de cereaes, mas os moinhos são d’uma construcção muito primitiva.”[83]

“A Persuasão” de 29 de Maio de 1895 fala de uma exposição onde se exibiram trabal-hos de ferreiros da Ribeira Grande e Nordeste etc e cerâmica da Lagoa.

 

 

 

 

2.1.3 Convívio

 

Chegam-nos também ecos desta elite, das gentes que investem ou que vivem das suas rendas, através das notícias dos banhos nas “Poças”( Um documento de 1866 já  fala d’O Estabelecimento de dois banhos de agua salgada, um para homens e outro para mulheres, n’esta villa e estrada para os mesmos” , do Passeio Público, ou Jardim do Povo( já lá es-taria antes da publicação do Album Micaelense de Candido Abranches, presumivelmente na década de cinquenta conforme se poderá ver pela gravura aí publicada), das sociedades de recreio, de música( existiam ao tempo 4 filarmónicas na freguesia da Matriz), dos ilustres  veraneantes das Caldeiras, entre outros.

 

2.1.3.1 Cascata

 

Além do Jardim do Povo o Passeio Público, no espaço primitivo da praça do município, fez-se um Passeio Público, no local para onde aquele se transferira até ser mudado para o local onde hoje se encontra:”O sr. vereador Pacheco Botelho propoz, para perpetuar os nobres feitos civicos do virtuoso e sabio Doutor Gaspar Fructuoso, primeiro Vigario da Matriz d’esta villa, e eminente historiador insulano, que o passeio publico do ex-mercado fosse denominado= Largo de Gaspar Fructuoso.= Submetida esta proposta á discussão foi unanimemente approvada.”[84]

O senhor António Paulo Garcia de 87 anos lembrava-se de um arranjo anterior ao coreto.”Tinha bancos e árvores mais ou menos como hoje, mas havia uns montes de cascalho, uns dois ou três, havendo um maior com uma espécie de cabana no meio, no meio de tudo.”[85]

 

2.1.3.2 Poças

 

“O Noticiarista” de 30 de setembro de 1885 refere sob o título “Poças” que os”Banhos do mar-Teem sido este anno muito frequentados pela nossa melhor sociedade.A poça acha-se muito melhorada, é verdade, mas sentimos que por pouco tempo, pois é de esperar que no proximo inverno fique novamente intulhada (sic) com a pedra que d’ella tiraram pela proximidade em que foi lançada.”

Os “outros” tomavam banho no areal.”A semana passada foi arrastado pelo mar na Ri-beira Seca da Ribeira Grande, um rapaz de 16 anos, que guardava gado e aproveitava a ocasião para tomar banho.” [86]

 

2.1.3.3 Caldeiras

 

O mesmo jornal em 21 de Agosto daquele ano relata umas festas nas Caldeiras com batalha de flores.”Caldeiras.-Houve alli duas batalhas de flores, sendo o posto de com-bate para as senhoras, o balcão da casa do sr.  João Borges de Mello  Cabral. No dia 12 ao meio dia salvaram os castellos dos srs. João Borges e António Cabral, saudando o anniversario d’uma interessante filha d’aquelle cavalheiro.No dia 12 em despedida ás familias do sr. Manuel Borges e Diogo Tavares do Canto, houve baile, em que se dan-çou até dia claro.Á partida d’estas distinctas e amabilissimas familias a 14, foram a-companhadas por um cortejo de damas e cavalheiros, em oito trens, ladeados por quatro cavalleiros.N’este genero foi o mais imponente que se tem visto nas Caldeiras, e tudo merecidissimo. N’esta noite não houve festa em demonstração de pezar pela ausência de familias que se impõe à veneração de todos, pelos finos primores das pessoas que as constituem.-Ha já 505$000 reis subscriptos para a casa da assembleia e comprado o terreno preciso para ella á Exmª Srª D. Amelia Tavares de Mello.”[87]

 

2.1.3.4 Outras diversões.

 

As festas populares:”Fizeram-se n’esta villa as festas populares do Espirito Santo com o aparato costumado.N’algumas ruas houve illuminação á (sic) noite.” [88]O mesmo jornal em 19 de Fevereiro de 1883 refere-se a bailes e à falta de trabalho:”A Sociedade Fraternidade que se compõe da classe camponeza, pretende dar mais tres bailes para a Festa da Paschoa.Fazem bem.Na falta de trabalho dança-se.Laranja-Alem de pouca máos(sic) preços, as ultimas noticias são péssimas. Isto vae tudo...bem.”

A 4 de Julho daquele ano noticiava “Bailes campestres,”onde se pantominava e havia vinho de cheiro no quintal do srº José de Medeiros Bettencourt e Rego. A 8 de Agosto bradava-se, ainda no mesmo jornal, contra as “Jogatinas nas lojas da vila”que contribuiriam ainda mais para reduzir as famílias trabalhadoras à miséria.

Esta gente também visitava o Arcano mas”pelos tumultos e algasarras que por essa ocasião se dão na Igreja, especialmente quando se agrupão para ellas pessoas de menos educação.”[89]

Mais tarde repete-se a proibição, sobretudo no Domingo de Páscoa e dia de São Pedro.

Vicente Coutinho Veloso,a quem se atribui a introdução do Corpo de Bombeiros Vo-luntários Municipais na vila,abre na “Fraternidade Camponeza” as inscrições para a es-cola nocturna “para os que não possam frequentar a escola régia diurna.”[90] “Também naquele ano, o mesmo Veloso aparece associado a Martiniano Cabido, a João Vieira Jordão e a José de Medeiros Paiva etc ( pertencentes ao partido progressista) na tentativa de de criar de um Montepio na vila para todas as classes.

Pelo menos no último ano do século já se jogava “Foot-Ball” na vila.”Amanhã pelas 16 horas da tarde há uma partida de foot-ball no campo d’Avenida de Camões n’esta villa.” [91]

 

2.1.3.5  Jornais

 

 Publicavam-se vários jornais, como vimos. Criara-se o corpo de Bombeiros municipais.[92] E a criação do Asilo de Infância Desvalida.

Por Alvará de 3 de Janeiro de 1895, de acordo com “A Persuasão” de 24 de Abril de 1895, fora nomeada a Comissão Instaladora do Asilo de Infância Desvalida Feminina da Ribeira Grande mercê da doação de 40 contos de João F. Cabido. Fundara-se o asilo de Mendicidade da Ribeira Grande, de acordo com o mesmo jornal.(11 de Janeiro de 1885)

Pelo menos já em 1886 existia uma Biblioteca Popular:”5 Livros para a bibliotheca po-pular... 50$000.”[93] Em 1877 iniciara-se a iluminação pública a petróleo da Ribeira Grande.[94]A eléctrica, viria depois de Vila Franca do Campo, em 1902.

 

2.1.4 Tentativa gorada

 

Mas, eis aqui o busílis da questão, o desejo de reconversão económica não encontrou uma conjuntura favorável. Não nos devemos iludir pelas aparências.A economia não se tinha ainda recomposto da quebra da laranja, estava-se a ensaiar as mais diversas alter-nativas , a Filoxera dava cabo das vinhas, as desejadas e necessárias  infraestruturas tar

davam, e surgia viva a polémica do álcool, do tabaco e da equiparação da moeda insu-lana à continental. Estávamos em plena campanha pela livre administração dos distritos islenhos. Eis o período das nossas infraestruturas.E o esforço da Ribeira Grande a ser analisado no contexto da ilha, sobretudo confrontado  com  o Ponta Delgada, realçaria decerto uma débil tentativa.O mesmo se poderia dizer daquela cidade no contexto na-cional? Maria Isabel João parece ser desta opinião.[95]

 

2.2 Circunstâncias políticas

 

O testemunho de Manuel Emygdio da Silva refere  que o governo português autorizara a construção da nova ponte”numa época eleitoral qualquer...” E a tradição oral  local conservou a ideia de que, e segundo o Dr.º José de Estrela Rego, “não se fez o resto do prolongamento da rua do Estrela porque o governo mudou.” Parecem ser lícitas as suspeitas de que nem tudo teria sido um mar de rosas.

“O Estrella Oriental” de 6 de Maio de 1881 noticia esta polémica entre Progressistas e Históricos:”; e mais pedio a Camara que fosse subsidiada a ponte projectada entre as freguezias Matriz e Conceição, a fim de tornar amais acessíveis os novos mercados aos povos da freguezia Matriz, ou que pelo menos, para acabamento dos ditos mercados lhe fosse concedido o subsidio de 2:000$000 reis.A lei foi votada pelos Progressistas, e o actual ministro das obras publicas cumprindo-a nada mais faz do que o seu dever, e mentem aos povos os que dizem ser o sr. dr.Ribeiro quem fez este beneficio.”E mais adiante “; mas por ora ex. com os seus jovens companheiros só cuidam de estudar a Cartilha da Governação, tendo por perceptor o velho estadista Sampaio, e por inspector o sr.Fontes, que de palmatura em punho vigia se os rapazes sam espertos, receiando nós que apanhem alguma bolaxa.” O mesmo jornal em 23 de Setembro acusa o Fontes Pereira de Melo de ter apressado”por assim dizer, a morte ao venerando ancião António Manuel da Silveira Estrella.” 

Em Março de 1888 surge a encomenda de pedra e em Setembro de 1889 parece que estão adiantadas. A Ribeira Grande tornara-se um bastião importante para o Partido.   

Mudara de mãos.Era preciso mantê-lo.Nas eleições de 8 de Novembro de 1895 para Procuradores à Junta Geral de Ponta Delgada na Ribeira Grande, ao contrário de Ponta Delgada, só foram eleitos Regeneradores.Para as Cortes, na eleição de 21 de Maio de 1894, o círculo de Ponta Delgada elegera três Autonomistas e um só Regenerador, porém, nas eleições de 28 de Março de 1895 o mesmo círculo elegeria só Regenerado-res.Veja-se a correlação entre estes dados e as fases da ponte, por exemplo.Em 1895 completava-se a segunda fase, logo no início de 1896,a edilidade distinguia uma série de figuras do partido Regenerador, entre as quais, Sousa e Silva.Era então presidente o dr.º Medeiros Correia.Ao referir-se aos Açores no período em apreço,Vítor Rodrigues escreve:” Zona de Caciques por excelência, estes encontravam aqui um terreno fértil para executarem as suas maquinações políticas,centradas muitas vezes numa suspeita defesa dos interesses da sua área geográfica... as autoridades locais manobravam com total à-vontade, impondo candidatos  e “persuadindo” os eleitores ao voto nas individualidades da sua confiança.”[96] E, quanto a nomes:”...  ou Francisco Manuel Rapozo Bicudo Correia e Frederico Carlos da Silveira Estrela na Ribeira Grande.”[97] O cunhado de Sousa e Silva foi um conhecido cacique Regenerador. Porém, Silveira Estrella não era (morre em 1879) e tivera problemas com Fontes Pereira de Melo.                                                  

Parte da implementação dos empreendimentos em apreço, registe-se, teve lugar antes que o decreto legislativo de 2 de Março de 1895 entrasse em vigor. A nova Junta Geral tomou posse em Janeiro de 1896. Em Agosto de 1892, como vimos, as Juntas tinham sido extintas.Não nos devemos esquecer de toda a fase de contestação às medidas do governo central que conduziu ao movimento e à vitória da linha autonômica consagrada no decreto já referido.

Não obstante tudo isso e apesar de existirem partidos rivais  que se alternavam no poder, tanto quanto pudemos perceber, teria havido mesmo assim alguma concertação de objectivos e de estratégias entre as diversas vereações ao longo da execução da obra.

Mas não sem contestação, como vimos. Entendimento mas não harmonia total, como seria de esperar.O cónego Cristiano no seu Jornal “O Norte” ataca a câmara pela  demora das obras na rua de São Francisco nos termos seguintes:” Pois se a rua se transformou n’uma grande ribeira lodosa! Abençoada câmara  bemaventurados cama-ristas! Pelo amor de Deus tornem a elegel-os para o proximo triennio, porque elles são capazes de mais ainda, tem sciencia e artes de fazer d’esta villa uma... grande cidade”

Apesar de tudo as obras, como vimos, avançaram.

 

3ª parte

Pessoas e instituições envolvidas

 

3. António Augusto Sousa e Silva.

 

 

Fig. 5  -  António Augusto Sousa e Silva

 

A 23 de Janeiro de 1896, como vimos, foi aceite a proposta  do  Dr.º Francisco Manuel de Medeiros Correia, presidente da câmara  de se dar  à rua das Pedras, a exemplo do que já se fizera ou faria (Na acta de 23 de Abril de 1896  identifica-se a ”A Rua dos Mercado” como  “A que passa em frente dos mercados desde o extremo nascente da freguesia Conceição até ao extremo poente”) com a nova rua dos mercados, atribuindo-a a António Manuel da Silveira Estrela, o nome de António Augusto de Sousa e Silva, alegando “...ser a este cavalheiro que se deve a construção da ponte  que liga esta rua à outra margem da ribeira”[98]

Quase dois anos após aquela data, Mendo Bem,aliás Francisco J. Moniz Bettencourt,[99] conhecido e amigo de Sousa e Silva, escreveria  no jornal  de Ponta Delgada“A Actualidade” sobre o então ainda coronel: ”Também estudou uma variante á estrada real dentro da Ribeira Grande, deixando começada a ponte, que hoje se vê sobre a ribeira de (sic) Paraizo e que fez com que a camara municipal da importante villa michaelense désse o seu benemerito nome á rua que por alli passa.”[100] O mesmo diria no seu livro publicado em 1899 intitulado.”O Coronel Sousa e Silva:Cartas Açoreanas á redacção da Actualidade.”[101]

Mendo Bem explica-se :”A biographia, que nos foi amavelmente commetida, ha de ser tão completa quanto possivel.É este o nosso dever de consciencioso escriptor, e, uma como que satisfação ao affectuoso sentimento que nos liga desde 1880 a Souza e Silva.” [102]Utiliza, registe-se o rigor, “ uma certidão passada pela direcção geral da secretaria da camara dos deputados...”[103]

O que nos parece poder deduzir da leitura dos documentos que compulsámos poder-se-á  sintetizar no seguinte: António Augusto de Sousa e Silva, enquanto responsável pela Direcção de Obras Públicas, a exemplo do que fizera em todo o distrito,teria estudado e projectado a ponte(a 12 de Junho de 1875 é nomeado director interino de obras públicas da Junta Geral do distrito de Ponta Delgada passando a efectivo em 2 de Abril de 1881 exercendo estas funções até ter sido nomeado para o mesmo cargo na cidade do Funchal em 4 de Outubro de 1886.Há todavia aqui uma área que é preciso conhecer melhor. Surge neste intervalo o nome de outros dois engenheiros.Também surge num jornal a nota de que , numa dada altura, teria existido simultaneamente dois directores distritais de obras públicas.Ao tempo que Sousa e Silva pede pela primeira vez o seu ingresso nas obras públicas, em 1872, era director o eng.º Mariano Augusto Machado Faria e Maia, em 1879 ainda o é.Em 1880 Sousa e Silva, segundo o “Estrella Oriental” de 5 de Novembro, “Foi collocado na direcção d’obras públicas do districto de Lisboa...”Em 5 de Junho de 1885 surge como director o engenheiro civil Anibal Gomes Ferreira Cabido.Num Edital de 4 de Junho de 1886, Sousa e Silva assina como director.De novo  Faria e Maia em 1888.Em 1891 repete-se a sua nomeação.Sousa e Silva será Inspector Regional ). Já em Lisboa como deputado e mais tarde  como Par do reino  empenhara-se junto das estruturas do governo central.Ele estará no sítio certo, no sítio onde se decide desde o alargamento da ponte do Paraíso, passando pelos mercados, estrada real e ponte dos Oito Arcos.Veja-se a maneira de actuar de Sousa e Silva:”Não se poupou a canseiras, e, se os serviços de gabinete representam grande somma de estudos profissionais, os de campo demonstram a sua cuidadosa assistência em trabalhos de que muitas vezes, podia dispensar-se.”[104] E, a páginas 23:”interessou-se nas camaras por muitos melhoramentos açoreanos, que por virtude dos seus benemeritos esforços, tem produzido os melhores resultados.” Prosseguindo escreve:”Emfim, bem pode dizer-se que, no longo decurso de quinze anos, que tantos foram os que representou em cortes este importante districto insular, só cuidou dos interesses moraes e materiaes das duas ilhas do archipelago açoreano, que se habituou a amar como terras suas, e cujos habitantes, embora de varias matizes políticos, viram sempre em Souza e Silva o procurador desvelado , solicito e honesto, o representante directo dos seus desejos, foros e regalias.Não me será, estou certo, contestada esta affirmação.A muitos que não comungam no seu credo politico, tenho ouvido dizer:-Foi um bom deputado, foi! Felizes seriamos se todos seguissem a sua esteira.”[105]

Repare-se que na sessão de 13 de Agosto de 1885 a vereação, por proposta do seu presidente José Tavares Moreira, decidira exarar em acta “ um voto de honra e de re-conhecimento para com o distincto deputado por este districto, o excellentissimo senhor António Augusto de Souza e Silva pelos relevantes serviços prestados por sua excelência a este concelho.” A 14 de Maio de 1883 a Ribeira Grande tinha-o já louvado em acta.Outras autarquias do distrito já o tinham feito ou fá-lo-iam : a Povoação  em 22 de Março de 1886; Ponta Delgada em 13 de Julho de 1885, entre outros.(Mendo Bem) 

Voltariam a fazê-lo de novo em 5 de Novembro de 1891, quando já era Par do reino.

Quanto à estrada real n.º 8,  a 13 de Abril de 1896  a acta da Junta Geral Autónoma, no seguimento do decreto de 2 de Março de 1895, que tomara posse na sessão anterior,

refere que o Procurador do Concelho, dr.º Francisco Machado, interviera no sentido de alertá-la para  a necessidade “... da conclusão da estrada numero 8 na parte compreendida entre a rua do Estrella e a Ribeira Secca” Registe-se que aquela estrada percorria o litoral norte da ilha e que uma outra vinha de Ponta Delgada e presumivelmente acabaria no porto de Santa Iria tomando o trajecto , grosso modo, da actual, excepto nas ligações com o porto de Santa Iria e com o interior da então vila (necessário confirmar). Tratava-se aqui tal como hoje de descongestionar a rua direita.

A 17 de Abril daquele ano, no mesmo órgão distrital, dir-se-ia “--- já se acha estudado e approvado “ mas.... A resposta todos nós a conhecemos.[106]

 

 

 

 

3.1 António Manuel da Silveira Estrela: “O Estrela”

 

O da rua da Praça Nova.( em 1896 uma acta ainda não regista o seu nome) Quem seria ele? Será o mesmo companheiro de José Maria da Câmara Vasconcelos, cunhado de Teodoro Botelho de São Paio, irmão da famosa Madre Margarida Isabel do Apocalipse, autora do “Arcano Místico”.

Companheiros nas andanças liberais pós-Ladeira da Velha. Estiveram juntos na repres-são à revolta dos Calcetas em 1835. Comprara em nome do amigo o antigo mosteiro do Santo Nome de Jesus em 1833. Juntos participaram na fundação do “Açoriano Oriental”

Pertenceram a uma geração que participou nas lutas liberais e viveu o período contur-bado de lutas políticas até à Regeneração. Sousa e Silva nascido na década de quarenta era de outra geração.

António Manuel da Silveira Estrela, tal como o amigo, militara no liberalismo radical. Na década de quarenta, tendo sido José Maria eleito, fora demitido ainda no princípio do seu  mandato. Na década seguinte, António Manuel é presidente e pede os bons ofícios do amigo na redacção de um relatório ao governador civil. Nele, ambos, juntamente com o Botelho do Estrela Oriental, José Maria era director da “União”, bem como Manuel Pedro de Melo e Silva, primo de madre Margarida, espelham o seu liberalismo. Era preciso fazer circular as riquezas sem as peias antigas, porém, o estado como receptáculo dos impostos deveria acudir aos mais carenciados. Daí se poderá especular com verosimilhança a sua adesão aos princípios da política fontista de criação de infra-estruturas.O que é aliás corroborado com a candidatura à nova ponte .Era Silveira Es-trela presidente, José Maria  falecera na década anterior.Pertencia ao Partido Regene-rador.

Na ilha de São Miguel a ideia de criar riqueza através do comércio de produtos agríco-las e industriais vinha já do último quartel do século XVIII e prolongara-se pelo se-guinte. A este respeito é elucidativo o “Relatório de José de Medeiros da Costa Albu-querque” de 1797. Ou a interpretação que dele fez Carlos Riley sob o titulo “As luzes escondidas da modernidade em S.Miguel”.[107] No século XIX torna-se evidente o papel, a este nível, da Sociedade Promotora da Agricultura Micaelense.

António Manuel, enquanto presidente da câmara da Ribeira Grande, por sua iniciativa e em comunhão de ideias com os seus correligionários, ou em sintonia com a opinião prevalecente, propugnou , mais os seus colegas de vereação, pelo desenvolvimento económico ligado à necessidade de desenvolver os transportes e as vias de comunicação. Daí o mercado, a estrada nº8 e a ponte. Insistimos.

 

3.2 Eng.º Mariano Augusto Machado Faria e Maia[108]

 

Nasceu em Ponta Delgada em 1843 e faleceu em Lisboa em 1917.Bacharel em Mate-mática pela Universidade de Coimbra e engenheiro civil. Foi director de Obras Públicas na Madeira e das obras do porto de Ponta Delgada.Foi igualmente Inspector Geral de Obras Públicas e professor no Liceu de Ponta Delgada.Eleito pelo Partido Progressista nas eleições de 23 de Dezembro de 1892 às Cortes para a legislatura de 1893 pelo cír-culo de Ponta Delgada.Foram eleitos dois deputados Progressistas e dois Regenerado-res.Em 1893 Manuel Emygdio da Silva atribui-lhe a autoria do projecto dos novos mercados da Ribeira Grande.Tanto quanto sabemos, também se lhe atribui um projecto do porto de Ponta Delgada.[109]

Parece que foi director de obras públicas distrital quando Sousa e Silva foi interi-no.Depois, tanto quanto sei, um ia revezando o outro. Fez importantes estudos sobre as Sete Cidades e o Farol da Ponta da Ferraria.

 

3.3  Caetano Moniz de Vasconcelos[110]

 

 Natural do concelho da Ribeira Grande. Caetano Moniz de Vasconcelos era distrital ao passo que Serpa,  Alvares Cabral e  Borges eram de secção. Serpa chegou a substituir várias vezes  Sousa e Silva, a pedido deste, enquanto se encontrava em Lisboa nas Cortes. Era o Director em funções. No tempo dos mercados era condutor distrital  Caetano Moniz de Vasconcelos.No tempo da ponte, durante um primeiro período esteve  Alvares Cabral passando de seguida  Serpa a ocupar o lugar daquele.Estes elementos eram importantes no desenrolar da obra tanto no aspecto burocrático como técnico.Interpretavam as directivas dos engenheiros.Sob a sua responsabilidade, veja-se Teodoro de Matos, trabalhavam os apontadores e outros operários.O engenheiro aparecia no início, e quando surgia algum problema.Ou nos intervalos parlamentares. Contudo precisamos estudar mais em detalhe este período.

 

 3.4 Rodrigo Guerra Alvares Cabral

 

De acordo com um seu currículo de 6 de Março de 1931,[111] nasceu a 27 de Maio de 1861 na ilha do Pico. Casou em 16 de Julho de 1901, não tendo tido filhos. Entrou para o quadro auxiliar de engenharia civil em 18 de Novembro de 1886, com a categoria de condutor de 3ª classe, tendo sido colocado na Direção de Ponta Delgada, foi encarregado da construção da estrada nº8. Possuía o curso dos liceus e era diplomado com o curso de Minas pelo Instituto Industrial de Lisboa os quais concluiu em 28 de Julho de 1884. Foi senador da República em várias legislaturas desde 1915 a 1926 e vereador da Câmara Municipal de Lisboa de 15 de Junho de 1919 até 26 de Março de 1923. Foi nomeado em 25 de Março de 1919 Inspector da Via e Obras da Direcção Fiscal de Caminhos de Ferro, cargo que desempenhava à data da elaboração do documento em apreço.

 

3.5  Francisco Bento Pamplona Borges

 

Faleceu em 21 de Fevereiro de 1918.[112] Era natural de São Miguel. Quer Faria e Maia quer Sousa e Silva desejaram a sua colaboração. Em 1887 era conductor adido de 3ª classe com o curso de conductor de Obras Públicas e Minas pelo Instituto Industrial de Lisboa. Foi responsável pelas obras do porto de Ponta Delgada, tendo pedido a sua exoneração para ir para as estradas.       

 

3.6 Como era e como funcionava as instituições envolvidas? Quais os seus objectivos?

 

Detenhamo-nos na apreciação, ainda que sumária, das instituições responsáveis pela execução das obras em apreço. É preciso compreendermos o funcionamento, humano, das estruturas.

A autarquia , mercê do esforço centralizador do estado liberal, perdeu muitas das suas antigas prerrogativas. A Junta Geral do Distrito de Ponta Delgada, composta por re-presentantes eleitos dos diversos concelhos das ilhas de São Miguel e de Santa Maria, herdara muitas das competências que anteriormente pertenciam às autarquias.[113]

A Direcção de Obras Públicas da Junta Geral era, sem dúvida, o instrumento por exce-lência da política de desenvolvimento de então.

No relatório impresso da Junta Geral do distrito de Ponta Delgada de 7 de janeiro de 1875 dizia-se explicitamente que:

“... o desenvolvimento futuro do nosso commercio e agricultura” dependeria “...da rede de estradas que ha a construir n’este Districto”

Registe-se a talhe de foice que, na altura a câmara municipal da Ribeira Grande estava a ampliar a ponte do Paraíso, indo pouco depois candidatar-se a uma nova ponte.

A rede distrital de estradas teria de ser criteriosamente classificada, todavia, como as condições do distrito diferiam alegadamente das do continente, aconselhava-se o go-verno de “Sua Majestade” a ter em conta as legítimas e fundadas especificidades locais.

Tal como a nível nacional, as vias foram divididas em reais e municipais.Ora bem, de acordo com o Dr.º Jorge de Melo Manuel,[114] a Junta Geral do Distrito fora criada inici-almente em 1833, como Junta da Comarca, tendo o seu estatuto evoluído ao longo dos séculos XIX e XX.

Ainda de acordo com o mesmo investigador, teriam ocorrido duas mudanças significa-tivas, uma primeira  motivada pela aplicação do Decreto de 2 de Março de 1895 e uma segunda originada pelo Decreto n.º 15 035 de 16 de Fevereiro de 1928 alterado pelo nº15 805 de 31 de Julho daquele ano. Talvez se pudesse acrescentar o de Agosto de 1892 que extinguira, entretanto, as Juntas Gerais. Tendo sido legalmente extintas em 1976, e com ela os três distritos, para dar lugar à Região Autónoma dos Açores.Talvez ainda o de 1933.  

Como vimos a Câmara Municipal, a pedido do governador “do distrito”, adiantou as suas prioridades, em termos de realizações pretendidas, as quais depois de analisadas em Junta Geral do distrito, sendo consideradas válidas, foram subscritas pelo governador “do distrito” que, por seu turno, as endossou ao governo de sua majestade.

Neste processo, não se  dispensava os bons ofícios dos deputados ao parlamento nacional, aliás como veio plausivelmente a suceder no caso da ponte. Relevante será, quanto a nós, o facto de no processo que culminou com a construção e abertura da ponte ao trânsito ( a 1ª fase de 1876 a uma data anterior à passagem de Manuel Emy-gdio da Silva , a 2ª a partir daí até 1895-”A mesma data da ponte sobre o rio Degebe, curiosamente, parecida a esta”[115]) ter existido um entendimento globalmente concertado de esforços entre a autarquia que a desejou, o governo central que votou e dotou a pretensão, a Junta Geral que instruiu o processo e o executou e os deputados açorianos às cortes que serviram de procuradores.

 

4ª Parte

Visão através de alguma História Oral

 

4. Testemunho de mestre António Reis ( 73 anos- 6-10-1923)

 

Aqui a tradição que recolhemos aponta duas pessoas: mestre António Jorge de Rabo de Peixe e mestre António de Sousa Calouro, conhecido também por António Cardão, da então vila da Ribeira Grande.

Passarei a transcrever as entrevistas com o padre António Rocha e mestre António Reis.

Este último tem 73 anos(6-10-1923) é natural de Rabo de Peixe.Foi pedreiro e foi cria-do desde bebe pelo avô Manuel da Silva Botelho que lhe ensinou a arte.O avô” era até mestre de obras da Casa Bensaúde.Eu também trabalhei lá e até depois da tropa. O meu avô também trabalhava para o sr.Albano da Ponte, gerente da Casa Bensaúde.Ele morreu quando a minha Gabriela era pequenina.Ela tem agora 46 anos.Morreu mais ou menos com 82 anos.Talvez se fosse vivo teria aí uns 120 anos.

 

4.1 O mestre que fez a ponte.

 

O meu avô lembrava-se bem de o mestre António Jorge, aqui de Rabo de Peixe, ter feito esta ponte e a do Nordeste(apontando para a fotografia que levei).Eu penso que o meu avô, no tempo em que o mestre António Jorge, fez a ponte o meu avô fez a chaminé na fábrica do Açúcar em Ponta Delgada.Não cheguei a conhecer o mestre António Jorge.Nem sei se o meu avô chegou a trabalhar com ele.

Tenho a certeza que este mestre António Jorge era mais velho que o meu avô.Um filho dele, que eu conheci bem, era já um homem velhinho.E ainda há família desse Jorge.O sr.Heitor (de Sousa) que está para a América vem dessa família.Esse filho velhote tinha um armazém de fazendas aqui na Praça.Era filho do que fez a ponte.Parece que era on-de era a Caixa Portuguesa[ Caixa Geral de depósitos].

 

4.1.2 “ A festa dos Antónios.”

 

Quando ele fez essa ponte, quando passou o primeiro carro de bóis pela ponte ele fez aqui em Rabo de Peixe a procissão de S.António.”Porquê?

Porque ele era António e tudo o que levou as insígnias era também António.Convidou todos os Antónios.E porque a obra estava boa, tinha saído boa e forte, ainda lá está.Com a alegria do seu trabalho ser perfeito.Ele fez a festa à sua custa, pagou o sermão e tudo.O filho era Nicolau Jorge.Tem um neto no Canadá(o Nicolau)casado com uma pessoa da minha família.O Zé Jorge já é trisneto, penso eu.Quando acabou esta foi fazer a de Nordeste.[116] A de cá de cima ao pé da câmara, eu estive trabalhando nela. [117]

 

4.1.3 “Como se faz uma ponte destas.”

 

Querendo obter informação acerca de como se poderá fazer uma ponte, continuei a entrevista perguntando-lhe como faria aquela:

“Fazia-a com olhos fechados. O meu avô dizia que os engenheiros faziam alguns riscos mas a gente é que fazia tudo. Primeiro limpa-se  a testada dos terrenos onde se vão fa-zer as fortalezas da ponte.Quando se encontra rocha não há melhor. Depois abrem-se os alicerces até achar terreno duro. Depois pega-se a fazer as colunas até chegar ao nível do redondo.A partir daí pega a meter a madeira para assentar as pedras todas.Mete o fecho que é a última pedra e fica logo a fazer força sobre si.Os vãos têm que ser bem apertados para ficar maciço. Puxa sempre um vazio para engatar.O pedreiro dá o molde e os canteiros fazem-nas. Barro com cal e areia ou cascalho.Para cima do arco é qualquer pedra, é para encher só.Mete-se a tira de lavoura e pôe-se os mainéis.Eu fiz uma pequena nos Remédios da Bretanha.Nos lados procuravam a barreira firme. Limpar a barreira se tem ervas, se tem pedreira é bom é a coisa mais

firme.”

 

4.1.3.1 “ É complicado construir no meio de uma ribeira?”

 

É complicado construir uma ponte no meio da ribeira?”Ia tapando, fazendo canais.Di- fícil é lá fora.Têm um aparelho que vai atirando a água como aparece no filme do Moisés(Os dez Mandamentos).O sítio que escolheram para a ponte do Paraíso era o melhor para aquilo que queriam.Foi feita para carros de bói mas aguenta o peso de ho-je.Para cair era preciso que as cabeças caíssem. Cada metro cúbico é igual a 1 000 qui-los de base.”

 

4.1.3.2 “ Porque demoraria aquele tempo todo?”

 

Porque acha que só um ano e qualquer coisa depois de se pedir pedra é que começaram a construir a ponte?“A casa do srº Agnelo teve quinze anos a fazer cantaria e eu levei cinco a fazê-la.Os passeios da Ribeira Grande foram feitos pelos canteiros na rua das camionetas.Eles levaram anos a fazer estas coisas.A rua estava cheia deles de cima a baixo dos dois lados da rua.Não era entrega imediata, tinha que dar tempo.Havia o anúncio, ganhava-se o concurso e levava tempo.Deve ser pedra da Chã das Gatas ou do Bandejo.” Um ano e meio, insisti?”O senhor admira-se?Já contou a pedra? Se calhar cada canteiro levou três dias a fazer cada uma.E antigamente não havia muita cantaria.” Como é que se diz que a ponte está pronta em 1893 e volta-se a dizer que está a acabar-se a ponte em 1895?”Podia-se andar com carroças sem as guardas.podia haver uma estacada enquanto se faziam as pedras.”E o abrir os alicerces? “Aquilo era a picareta e a sacho.Não era os pedreiros mas os serventes, os jornaleiros.Os mestres iam atrás atacando os alicerces.” O que quer dizer isso?”É encher até ao nível que se precisasse o mestre Jorge fez por conta do governo ele devia ter um bom salário  porque ele era o mestre da obra.havia três qualidades de mestres:havia o mestre, o 3/4 de mestre e o 1/2 mestre.Em todas as artes é assim.Há o vigário, o bispo o padre.”Que pessoal acha que precisaram?”Não sei se ele fez depressa ou devagar.Na casa do srº Agnelo levei cinco anos com mais três ou quatro pedreiros.De repente quatro ou cinco pedreiros, mas o melhor é eu ver a ponte e medi-la.Havia que haver trabalhadores para fazer material e acartar as pedras ao mestre.Os serventes dos mestres. Também abrem os alicerces.As carroças de bóis traziam as pedras, a cal e o barro.As pedras podiam ter sido feitas junto à obra.Os bóis haviam de servir para puxar alguma pedra mais pesada.Podia também ter sido assentada com tetim.Só vendo.se calhar junto à água seria tetim como nas valas dos moinhos.Era o cimento da altura, não havia nada mais rijo.”[118]

 

4.1.3.3 Mais técnica.

 

Regressei no outro dia para aprofundar os meus conhecimentos sobre a ponte.”Escavava terra mole até achar duro.Faz peso para os lados.É verdade que a arcada aguenta o peso, mas tem que ter a barreira para aguentar o peso, ou seja o encosto.Para fazer o maciço de dentro das colunas. O maciço que aguenta o peso. Vão assentando uma pedra de um lado e outro do outro para fazer o simples(o arco) e por fim a última , a do fecho. Como eu disse ontem. Pilar é a coluna que vai de baixo acima. Contraforte o que está de dentro. Parapeito ou as guardas, em cima. ”Esta encomenda de 100 metros cúbicos de cal, mais outra de 50 metros cúbicos, a seu ver seria suficiente para fazer esta ponte? “Depende das misturas. Cinco para um. Cinco de barro e um de cal. Se se fez uma dosagem de barro cinco para um. Se teve tetim podia ir até dez para um.Assim dava 1500 metros cúbicos de material.”Mas não encontrei nada sobre barro ou tetim nos documentos? “A Junta geral podia ter algum barreiro e a areia tirava-se ali mesmo de graça.Podia ser. O tetim é a beira-mar, mas também há dentro em terra.Às vezes por baixo das pedreiras havia tetim.Era o cimento da ilha.”Diga-me lá se se faziam as fortalezas à junta?”Fazia-se uma de um lado e a outro do outro. Examinava-se os lados para ver como começar.Começa a ponte e vai tudo subindo  ao mesmo nível.De uma ponta à outra as colunas e as duas fortalezas.Fazendo depois cada simples um a um(arco).Era também para poupar a madeira.” Portanto também devia haver carpinteiros?”Sim, sim.”Quantos pedreiros seriam aqui necessários?” Depende da grossura.Podia ter dois como podia ter tido quatro. Para pôr as pedras e encher os vãos feitos primeiro em madeira.Uma pedra de cada lado até à do fecho.As pedras iam às costas pelas escadas acima.Quando era mais difícil, uma roldana e um boi a puxar para cima.Na chaminé da fábrica do Açúcar foi assim.”Então quantos mestres, serventes etc?”Tenho de saber quantos metros.Um mestre faz dois, três metros por dia, se não tiver muita complicação. Se a ponte tiver 130, 140 metros de vão e vinte de altura mais uns cinco de largura.Faça aí as contas:20x140x5=14 000 metros cúbicos.Isso fora os intervalos e outras coisas.se eu medisse sabia ao certo tudo isso. 

Mas vamos a ver. Com dias feriados e tudo um ano teria menos de 300 dias de trabal-ho.Mas vamos fazer as contas a 300.Um mestre fará 3 metros cúbicos por dia e 900 m3 por ano.Se a ponte dos alicerces até acima levou pouco mais de um ano, então teria sido necessário uns quinze mestres.Talvez um pouco menos para o pedreiro. O canteiro leva outro tempo.A cantaria representa mais trabalho e mais tempo.”E, rematando: ”Isso tem aqui muito mestre.”

 

4.2 Testemunho do Padre António Rocha (73 anos- 3 Abril 1923)

 

4.2.1 Mestre António de Sousa Calouro- Um mestre da ponte.

 

E o depoimento do padre António Rocha:”Tenho 72 anos feitos a três de Abril (entre-vista feita aos dezanove de Janeiro de 1996).Nasci em 1923.O meu avô materno, An-tónio de Sousa Calouro, de apelido Cardão, morreu em 1916 com perto de sessenta anos, morreu muito novo. Morreu antes da guerra terminar. Era mestre de obras da Câ-mara. Segundo a minha mãe, sua filha, filha mais velha, ele teria não só estado na ponte como no Jardim e no mercado. Tudo isso passou por ele. E nesta casa do Outeiro de Nossa Senhora da Conceição, à direita de quem sobe, na casa que era de uma família Paiva que se fixou em Ponta Delgada. na casa onde morou o Sr Círio e agora mora o engenheiro Furtado. Ele é que a fez. Não sei de mais pormenores. Esta família Cardão era de mestres de executar obras. Ele dizia que as obras que vinham através do Sr Rego Lima davam sempre mais interesse e mais dinheiro, ao passo que as do Sr Serpa eram mais justas, não davam lucro . Meu tio Manuel, Jacinto, José e António Pedro para distinguir do meu avô António.Eram todos pedreiros.

Na direcção de obras públicas, aqui na Ribeira Grande, o Sr Frederico Serpa, também me disse a minha mãe que morreu há doze anos com 91 anos, teria agora 104 anos, que era dono e proprietário da casa onde morou o Dr.º Jorge Gamboa de Vasconcelos, na rua de São Francisco.Ali morou até se aposentar e retirar-se para Ponta Delgada indo morar com uma filha, D.Maria da Glória, casada com o coronel Serpa Afonso.Ela dizia que o seu pai, o mestre António Cardão, mestre de obras da câmara, sob a orientação do Sr Frederico de Serpa, teria estado na ponte.[119]

 

4.3 Testemunho de Domingos Oliveira- 93 anos

 

4.3.1 “Um servente da ponte.”

 

“ A minha avó a mim me dizia que atravessava para a outra banda da ribeira de pedra em pedra no lugar onde hoje está a ponte grande. Dizia-me mais que ia vender farinha à praça onde hoje está a Casca-ta. Eu não conheci o tempo antes da ponte, mas tal como lhe disse as pessoas passavam, como ainda hoje passam mais para baixo, junto ao mar. Penso que o meu avô ou alguém da minha família chegou a trabalhar na construção da ponte. Penso que foi um tio meu. Trabalhou certamente como servente. Ou outro trabalho.”

 

4.3.1.2 “Lembra-se de...?”- Envolventes.

 

 Estávamos sentados num banco do jardim municipal e continuou. “ Isto aqui era muito diferente. Lembra-se da fonte? Não se lembra que é muito novo. E das casas no sítio onde se construiu o teatro? Também não? Vou-lhe contar, então. Prepare-se para ouvir. Olhe a fonte, linda, grande com  a água a correr em bicas  para um tanque, ficava onde estás a ver aqueles carros, em frente ao teatro. Ao lado descia uma rua para a Cova de Milho. Entulharam-na. Foi uma pena. Nunca o deveriam ter feito. Ali em baixo era o Açougue, e de ambos os lados havia tendas de sacho. E lá em baixo, isso deves-te lembrar, era o bairro da Cova de Milho. Bem pobrezinho! O barracão de peixe, sabes onde era? Não sabes também. Tu também não sabes nada. Era para aquela rua, a que ainda hoje se chama de Barracão Velho. Olha por detrás do edifício da Câmara Municipal, ali para a Rua das Espigas, partia uma rua que passava junto ao Restaurante Costa e ia ao moinho do tio Ernigato. Conhecias? Também não?”

 

5. Em aberto

 

 

Quem pretender conhecer a Ribeira Grande de hoje terá forçosamente de estudar a Ribeira Grande do último quartel de oitocentos.

Algumas das questões de então são ainda questões de agora. Aliás todo este trabalho aponta para tal. Será a alternativa à rua Direita. Será o exemplo de vistas largas. Será ainda a prova do poder político que a Ribeira Grande dispunha então. Será o trabalho de equipa de diversas vereações, que não obstante pertencerem a partidos rivais persistiram, no geral, nos planos das demais. É um certo sentido de trabalhar para o bem comum da terra vestindo a camisola azul da selecção local.Julgo ter consciência do efeito apaziguador e mitificador  da distância. Será ainda estudar a relação entre o município e um organismo supramunicipal.Entre outros,obviamente.

 Obviamente que todo o historiador, ao sê-lo, não deixa de ser cidadão,muito pelo contrário, a sua cidadania reforça a sua condição de cientista social,  ajuda-o a perceber o presente, ajuda-o a fazer ao passado as perguntas relevantes ao presente e assumindo conscientemente os defeitos e as virtudes da sua parcialidade .Parcialidade mas não facciosismo, pois se uma coisa a história ensinará será o respeito pela diferença.Ou pelo menos deveria.

 Foi, ao fim e ao cabo, o que veio dizer  Marc Bloch um dos pais da Nova História, em clara oposição ao positivismo reinante. Preferimos sentir o pulsar de todo o homem,  e de toda a mulher ,qualquer que tenha sido a sua condição ou importância. Assim uma história antropológica.

Não se trata de reeditar a polémica sobre as lições da história e da irrepetibilidade dos factos históricos. Neste caso, apesar das diferenças, os tempos, os homens, as técnicas são diferentes, aquele período ainda não se encerrou,  e porventura só se apaziguará com a satisfação do sonho de outrora.

 

5.1 A ponte e o ecomuseu da Ribeira Grande.

 

Gostaria de propôr que esse conjunto aqui estudado fizesse parte do roteiro do ecomu-seu da Ribeira Grande, para tal bastaria a sua interpretação de um modo simples. Faria parte, sobretudo a ponte, do complexo patrimonial da Cova do Milho, onde se musea-lizarão dois moinhos de rodízio.

 

 

 

Mário Fernando Oliveira Moura

Mestrando em museologia e património

30 de Novembro de 1995 até 20 de Janeiro de 1996.

 

 

 

Infra-estruturas e desenvolvimento na Ribeira grande no terceiro quartel de oitocentos.

A ponte dos oito arcos, os mercados e a estrada. A ponte que nos levaria da crise ao sucesso.

Índice

 

 

Introdução……………………………………………………………..   p.1

Tese……………………………………………………………………   p.2

1ª parte

A construção da ponte

Da ideia à sua iluminação

Os mercados e a estrada. Visão larga.

 

 

1. Antecedentes e razões para construir a nova ponte e demais infraestruturas…. …p.4

1.2 Como seria então o local envolvente da ponte e mercados?……………………  p.5

1.2.1 Envolvente dos Mercados Novos.....................................................................p.5

1.2.2Envolvente da Praça Velha...............................................................................p.6

1.2.3 Nas imediações da ponte.................................................................................p.8

1.2.4 Traços gerais...................................................................................................p.8

1.3 Passos da ponte……………………………………………………………….     p.8

1.3.1. 1ª Fase- Até c. de 1893.................................................................................p.10

1.3.2. 2ª Fase- Até 1895. Fase final.........................................................................p.11

1.3.2.1 O que se teria passado.................................................................................p.11

1.3.2.2 A ponte tal como a vemos hoje...................................................................p.12

1.3.4 Homenagens..................................................................................................p.12

 

2ª parte

Porque se construiu a ponte e as demais infra-estruturas

 

2.         Importância das comunicações…..…………………………………………..p.12 

2.1   Condições sócio-económicas. Procura de alternativas ao colapso da laranja …..p.14

2.1.1    Ambiente social.............................................................................................p.14

2.1.2    Ambiente económico.....................................................................................p.16

2.1.3    Convívio.......................................................................................................p.18

2.1.3.1 Cascata.........................................................................................................p.18

2.1.3.2 Poças............................................................................................................p.19

2.1.3.3 Caldeiras.......................................................................................................p.19

2.1.3.4 Outras diversões...........................................................................................p.19

2.1.3.5 Jornais..........................................................................................................p.20

2.1.4    Tentativa gorada...........................................................................................p.20

2.2   Circunstâncias políticas………………………………………………………….p.20

 

 

3ª parte

Pessoas e instituições envolvidas

 

3.    António Augusto de Sousa e Silva………………………………………………p.21

3.1 António Manuel da Silveira Estrela: “O Estrela”.......…………………………….p.24

3.2 Eng.º Mariano Augusto Machado Faria e Maia..…………………………………p.25 3.3 Caetano Moniz de Vasconcelos..…………………………………………………p.25

3.4 Rodrigo Guerra Alvares Cabral......………………………………………………p.26

3.5 Francisco Bento Pamplona Borges.………………………………………………p.26

3.6 Como era e como funcionava as instituições envolvidas..………………………..p.26

 

 

4ª Parte

Visão através de alguma História Oral

 

4. Testemunho de mestre António Reis- 73 anos- 6-10-1923………………………p.27

4.1 O mestre da ponte.............................................................................................p.29

4.1.2 “ A festa dos Antónios.” ...............................................................................p.29

4.1.3 “ Como se faz uma ponte?”...........................................................................p.29

4.1.3.1 “ É complicado construir no meio de uma ribeira?”.....................................p.30

4.1.3.2 “ Porque demoraria aquele tempo todo.”....................................................p.30

4.1.3.3 Mais técnica...............................................................................................p.31

4.2 Testemunho do Padre António Rocha- 73 anos- 3-04-1923…………………   p.31

4.2.1 Mestre António de Sousa Calouro- Um mestre da ponte................................p.31

4.3  Testemunho de Domingos Oliveira- 93 anos....................................………….p.31

4.3.1 “ Um sevente da ponte.”...............................................................................p.32

4.3.1.2 “Lembra-se de...?”- Envolvente..................................................................p.32

 

Em aberto

 

5.  Em aberto…………………………………………………………....................p.33

5.1 A ponte e o ecomuseu da Ribeira Grande........................................................p.33

 



[1] Dr. Jorge Gamboa de Vasconcelos

[2] Ponte do Estrella, “ A Semana”, 11 de Junho de 1910, nº45, fl.3

[3] Manuel Emygdio da Silva, S.Miguel em 1893-Cousas e pessoas,  vol.I, Ponta Delgada, p.68

[4] Paul Connerton, Como as sociedades recordam, Celta editora, 1993

[5] Manuel Ferreira, A Simbologia do Açor na heráldica dos Municípios Açorianos, 1º v., P Delgada 1996, p.82

[6] Testemunho de mestre António Reis, 1996

A de Nordeste é de 1883, portanto anterior à da Ribeira Grande.

[7] Laure Adler, Segredos de Alcova. História do casal de 1830 a 1930, Terramar, 1980

[8] Paul Thompson, La voz del Pasado. Historia Oral, Edicions Alfons el Magnànim, Valencia, 1988

[9] Daniel de Sá, Em memória dos sem nome, in”Correio dos Açores”, 28-06-81

[10] Lucien Febvre, A terra e a evolução humana, p. 698

[11] Joaquim Verissimo Serrão, História de Portugal: 1851-1890, Verbo editora, p.231

[12] Manuel Justino Pinheiro Maciel, Pontes e viadutos numa perspectiva de património industrial, I Encontro sobre o Património Industrial, Coimbra/ Guimarães/ Lisboa/ 1986, vol. II, Associação Portuguesa de Arqueologia Industrial, Coimbra editora, 1990, p.302

É essencial a consulta do “ Guia do engenheiro na construção de Pontes de Pedra, do Coronel de eng. Luís da Silva Mousinho de Albuquerque publicado em 1844, verdadeiro manual da época).

[13] Manuel Justino Pinheiro, Op. Cit. , p.302

[14] Idem, p.302

[15] “O Noticiarista”, 21 Jan. 1885

[16] Trás-Mosteiros? Existiu até ao início da década de sessenta uma ponte de madeira. Este termo ribeira dos Escarolas aplicar-se-à, tal como o de ribeira do Paraíso, a um troço da Ribeira Grande.Por esta altura há um moinho situado naquela ribeira.Foi conhecido por moinho da Velha.A freguesia é dividida não pela ribeira mas pela vala dos moinhos da Condessa. Registe-se a conjectura.

[17] Qual será.Quais moinhos, os da ribeira ou os da Condessa?

[18] Relatório da Câmara Municipal da Ribeira Grande em 1866 ao Governador Vicente Machado Faria e Maia

[19] A.M.R.G. Acta da vereação de 9 Outubro de 1894

[20] A.MR.G. Acta de vereação, 27 Dez. 1876

[21] Cónego Cristiano Borges,  Noticias,“O Norte”, 2 Nov. 1895

[22] “ O Noticiarista”, 1 Fev 1888

[23] Testemunho de mestre António Roberto, 1996

[24] Cf. Projecto do Asilo de Mendicidade da Vila da Ribeira Grande, José Pereira do Rego Lima, 17 de Maio de 1918

[25] Já o era em 1896

[26] A.M.R.G, Acta da Vereação de 23 de Abril de 1896

[27] O grande melhoramento, “ O Norte”, 13 de Abril de 1901, fl.2

“ ….o que até hoje se fez não passou d’uma pequena expropriação da Junta Geral d’um quintal na extensão d’uns quarenta metros… esse pequeno pedaço de’estrada que vae entroncar na canada do Rodrigo…”

[28] A.M.R.G. , Acta de Vereação de 27 de Set. De 1875

[29] “O Norte”, 2-11-1895

[30] Cf. Projecto do Asilo de Mendicidade da Vila da Ribeira Grande, José Pereira do Rego Lima, 17 de Maio de 1918

[31] Testemunho de D. Maria Mota, 1988

[32] Fonte Grande, “ A Semana”, 26 Mar. 1910, nº 34, fl.3

“… que aquella obra monumental, coeva dos Wisigodos, architectada sob um estylo groenhandico, está ahi para mostrar á geração presente e attestar aos vindouros que os nossos antepassados soffreram por largos annos o jugo castelhano, para que ninguem ouse levantar vista ou voz indignada aoa grandioso padrão! “

-Testemunho de Domingos Oliveira, 1996

[33] Ou casas. Vimos planta na qual constava duas casas e um quintal a nascente propriedade do sr. Alberto Ferreira Moniz.

[34] Corroborado pelo Testemunho de Domingos Oliveira

[35] Ponte, “ Correio do Norte”, 19 Abril de 1919, nº39, fl.3

“ Ponte- rua da Ribeira para a do Espírito Santo. Esta-se procedendo à construção d’uma nova ponte …”

[36] Obras da Ponte, “ O Noticiarista”, 29 Fev. 1888

[37] O Noticiarista”, 14 Mar. 1888, fl.4

[38] Ponte em construcção na Ribeira do Paraizo, Estrella Oriental, 26 de Jul. 1889 ( repetido a 2 de Agosto)

[39]  Ponte em construcção, Estrella Oriental”, 25 Jul. 1890

[40] Relatório e Consulta… em 8 Jan. 1877, P.Delgada, 1877

[41] Registe-se que não existia rua.Podendo existir eventualmente uma servidão.

[42] Relatório … em Dez. De 1877, Ponta Delgada,1878, p.56

[43] Mapa de 31 de Outubro de 1882 feito pelo Conductor Distrital Caetano Moniz de Vasconcellos.

[44] Manuel Emigdio da Silva, S. Miguel em 1893. Cousas e pessoas, p.67-68

[45] Relatório e Consulta… em 8 Jan. 1877, P.Delgada, 1877

[46] O nome apareceria de maneira diferente no anuncio para o fornecimento de materiais publicado no mesmo jornal, Rodrigo Guerra Alvares Cabral.

[47] Um arquitecto confirmou como plausível esta hipótese.

[48]Francisco Maria Supico, “A Persuasão”  , 18 de setembro de 1889

[49] Ponte, “ Estrella Oriental”, 6 de Maio 1881

[50] Idem

[51] Idem

[52] Cónego Cristiano de Jesus Borges, Ponte, “ O Norte”, 20 de Jul. 1895

[53] Manuel Emigdio da Silva, S. Miguel em 1893. Cousas e pessoas, p.67-68

[54] “ O Noticiarisra”, 21 Jan. 1885

[55] José Guilherme Reis Leite, Política e administração nos Açores de 1890 a 1910. O 1º movimento autonomista ,  J. C. , Ponta Delgada, Anexos,1995, p.67

[56] Francisco de Faria e Maia, Novas Páginas da História Michaelense, 1947, p.261

[57]Teodoro de Matos, Transportes e comunicações em Portugal, Açores e Madeira (1750-1850) ,  p.56

[58] Manuel Emigdio da Silva, S. Miguel em 1893. Cousas e pessoas, p.67-68

[59] Em 5 de Novembro de 1996 ainda não estava pronta.

[60] Varadouro, “ O Norte”, 28 Maio 1896

[61] Relatório da Junta Geral de 31 de Dezembro de 1873,p.29

[62] Paulo Casaca, Caminhos de ferro em S.Miguel-Para uma introdução à História económica Micaelense do primeiro período autonómico, in “Açoreana”, vol. VI, Fasc.III, p.218-260

[63]  João Cabral deMelo, Memória da Vila da Ribeira Grande..., manuscrito,sec.XX

[64] Sacuntala de Miranda,  Quando os sinos tocavam a rebate, Salamandra, Lisboa, 1996 

[65] Layman H. Weeks, Nos Açores , “ Insulana”, Ponta Delgada,  XIV, 1958, p. 83-124; 235-324; XV, 1959, p.49-91

[66] Manuel Emigdio da Silva, S. Miguel em 1893. Cousas e pessoas, p.67-68

[67] Margarida Rego Machado, Produções agrícolas, abastecimento, conflitos de poder. São Miguel-1766-1806, Jornal de Cultura, Ponta Delgada, 1994

[68] A.M.R.G., Acta de Vereação 19 Nov. 1885

[69] Idem

[70] Idem

[71] “ Noticiarista”, 26 Dez. 1883

[72]Manuel Carreiro da Costa, Esboço Histórico, p.220

[73] Rua de Nossa Senhora da Conceição.

[74]“O Noticiarista”, 3 de Agosto de 1887

Pertencia ao partido progressista, correlegionário do editor do jornal.

[75] “O Noticiarista” de 7 de Abril de 1886

[76] “Persuasão”, 18 de Set. de 1895

[77]Mais tarde o nome é corrigido para capitão Sequeira e refere-se a Lombadas.

[78] Gabriel de Almeida,  Agenda do viajante na ilha de S.Miguel , Ponta Delgada, Editora Campeão popular, 1893

[79] “O Noticiarista”, 21 de Maio de 1884

[80] “O Noticiarista”,  27 de Fev. de 1889

Este senhor é o proprietário do jornal .

[81] “O Noticiarista”, 24 de Nov. de 1886

[82] “O Noticiarista,”  27 de Jul. de 1887

[83] Francisco Arruda Furtado, Materiais para o estudo antropológico dos povos açorianos. Observações sobre o povo Michaelense , Ponta Delgada, Tipografia Popular, 1884, p.21-22

[84] A.M.R.G., Vereação  2 de Dez. 1886

A 21 de Janeiro de 1885 “O Noticiarista” acusa um vereador de querer transformar para seu proveito o  espaço do mercado em estância de madeiras.

[85] Testemunho de António Paulo Garcia, 1995

[86] “Persuasão,”  14 de Agos. 1895

[87] “ O Noticiarista”, 21 Ago. 1885

[88] “O Noticiarista,”  5 de Jun. de 1882

[89] Confraria do Santíssimo Sacramento, sessão de 7 de Março de 1883

[90]O Noticiarista”,1882

[91] ”O Norte,”  20  Maio de 1899

[92] Armindo Moreira da Silva,  120 Anos ao serviço da comunidade, 1995

[93] “ Estrella Oriental”, suplemento, nº 54, 1886

[94] “Persuasão”, 10 Out. 1877

[95] Leia-se o seu livro”Os Açores no século XIX.Economia, sociedade e movimentos autonomistas” , Cosmos,  Lisboa, 1991, ou ainda, para um período anterior, o de Carlos Cordeiro”Insularidade e Continentalidade.Os Açores e as contradições da Regeneração 1851-1870,” Minerva, Coimbra, 1992.

[96] Vitor Rodrigues, Geografia eleitoral dos Açores de 1852 a 1884, Ponta Delgada ,Universidade dos Açores, 1985, p.189

[97] Idem, p.112

[98] A.M.R.G., Acta de 23 Jan. 1896

[99] José Guilherme Reis Leite, Política e administração nos Açores de 1890 a 1910.O 1º Movimento autonomista, Jornal de Cultura,1995,Anexos, p.82

[100] Mendo Bem, O coronel Sousa e Silva, Actualidade, nº72, 19 Fev. 1899, fl.1

[101] Mendo Bem, O coronel Sousa e Silva: Cartas Açoreanas á redacção da Actualidade, Ponta Delgada, 1899, p.13

[102] Idem, p.21

[103] Idem, p.16

Confirmamos em parte aquelas informações  no “Annexo ao manual parlamentar...” de José Marcelino de Almeida Bestas, Lisboa, Imprensa Nacional, p.35.

[104] Mendo Bem, Op. Cit. , p.12

[105] Idem, p.26

[106] Nota. Quem seria ele?

Terá nascido no dia 24 de Fevereiro do ano de 1844 na freguesia de Santos o Velho na cidade de Lisboa. Seria um homem sensato de carácter honrado de trato lhano e amigo. Aliás a fotografia publicada no “Actualidades” dá-nos a imagem de um homem digno e amável. Faleceu a 12 de Agosto de 1926(como consta nos currículos existentes no Arquivo Histórico-Militar e no Arquivo Histórico do Ministério das Obras Públicas). 1925 segundo Victor Luís Gaspar Rodrigues,”A Geografia eleitoral dos Açores de 1852 a 1884,”P.D. 1985,p.279.(copiado por Reis Leite,”Anexos”,1995,p.82)Será gralha tipográfica?

Bom administrador, foi simultaneamente militar e civil, engenheiro, burocrata e político. Muito ligado aos Açores e à Madeira onde foi governador civil sendo ali alvo, tal como na Ribeira Grande, de homenagens públicas.

Chegou aos Açores aos 21 anos de idade , como 2º tenente da Companhia da guarnição da ilha Terceira, sendo depois transferido para a Companhia da Artilharia na ilha de São Miguel.

Frequentou a Escola do Exército e a Politécnica onde terá lido e estudado, queremos crer,  entre outros livros, o “manual do engenheiro de pontes de pedra” de Luís Mou-sinho de Albuquerque, manual da ponte modelo do fontismo, manual que terá, pelos vistos, influenciado a nossa ponte de Sousa e Silva.(Vejamos a este respeito Teodoro de Matos e Manuel Justino Pinheiro Maciel- O primeiro refere a páginas 236 outras obras.”É de aludir ainda ao interesse que certos oficiais engenheiros demonstravam na leitura de algumas dessas obras e, muito especialmente, do Curso de Construções (co-mo assim era designado) de Sganzin, que seria distribuído por todos os directores de obras públicas do país.”(Teodoro de Matos, p.238) )

“: Souza e Silva é engenheiro de 1ª classe, effectivo, do corpo de engenheiros das Obras Publicas.”(Mendo Bem, p.15) Já a páginas 8 o mesmo escrevera”tendo todas as ha-bilitações legalmente exigidas pela organisação d’obras publicas de 1868, foi nomeado, em 12 de junho de 1875, director interino das obras publicas d’este districto.”

Era comum os engenheiros militares trabalharem na área civil.Teodoro de Matos (p.230) descreve-nos a reacção negativa “dos engenheiros militares à hipótese de criação de um corpo civil daquele ramo há muito preconizado em Portugal e cujo projecto fora apresentado às Cortes, ainda em 1845.” “Até à publicação do decreto de 3 de Outubro de 1864 que estabelece o plano de organização da engenharia civil, esta é essencialmente desempenhada pelos oficiais do Exército com aquela especialidade.E, embora quatro anos depois fosse revogada tal lei, em Abril de 1869 eram aprovados os estatutos da Associação dos Engenheiros Portugueses.”(idem) 

Passa a 1º tenente aos 24 anos, tendo casado por esta altura, a 14 de Outubro de 1868, com D.Maria José Machado, única irmã do comendador António José Machado”im-portante e conceituado negociante da praça de P.Delgada.”O cunhado foi Visconde de Santa Bárbara, era membro do Partido Regenerador e foi um cacique local.Segundo Reis Leite.Não é um pormenor sem importância registar tal facto, já que Sousa e Silva também foi Regenerador, tal como Hintze Ribeiro, Jácome Correia, Medeiros Correia, António Manuel da Silveira Estrela etc.Todos eles terão a ver, como adiante veremos, com a Ribeira Grande e com os empreendimentos em questão.Exceptuando o cunhado todos os demais terão na Ribeira Grande uma rua com o seu nome.

Em 1873 é promovido a capitão, passando naquele mesmo ano a comandante da Com-panhia nº2 dos Açores. Onze anos depois é já major e em 1888 é tenente- coronel.Aos 49 anos de idade, em 1893, atinge o posto de coronel.Reformou-se em 1908, no posto de general.(Reis Leite, p.82)

Porém, segundo ainda o mesmo informador, seria na esfera civil e política que mais se distinguiria. Concomitantemente à progressão na carreira militar ia ocupando cargos na administração civil.

Em 1875 é nomeado, aos 31 anos, Director interino de obras públicas do distrito de Ponta Delgada, sendo Director efectivo em 1881. Portanto, quando em 1876 se inicia o processo da ponte nova, ou enquanto se amplia a do Paraíso, Sousa e Silva já estava na direcção de obras públicas da Junta Geral. Jovem, prestável e numa situação de inte-rinidade decerto gostaria de mostrar serviço. Em 1881 teria sido recompensado pelo esforço.

Em 1879 era vogal da comissão encarregada da elaboração do plano de melhoramentos do vale  e povoação das Furnas.

Em 1886 é transferido para a cidade do Funchal indo exercer lá as mesmas funções.É importante reparar-se nestas datas. Vejamos. A ponte teria começado em 1888. Sousa e Silva não estaria em São Miguel. O que quer dizer então “deixara começada a ponte?

Referir-se-ia ao projecto de engenharia assim como a algum trabalho no terreno? O grosso só depois como se poderá depreender pela arrematação de materiais em 1888.

O que quererá significar” a ele se deve a construção da ponte?”( Teodoro de Matos a páginas 205 por diante explica este processo.Nos ficheiros já informatizados do Arquivo Histórico das Obras Públicas não existe nenhum desenho ou planta assinada por ele ou referente à ponte em questão.Mas nem tudo foi ainda registado.Poderia ter-se perdido ou extraviado.Onde para o arquivo da antiga Junta Geral? Temos tentado debalde obter autorização para fazer uma pesquisa nesse sentido )A organização das obras aponta para a coadjuvação no terreno de encarregados, no caso da ponte foi em 1888 o senhor Rodrigo Alvares Cabral:”Conductor de obras. Se “o ter deixado começada a ponte fosse” considerado insuficiente para lhe atribuir a responsabilidade da construção porque não se menciona então o putativo verdadeiro responsável?A responsabilidade foi pública e notória, veio em actas, em jornais e em livro, mas nunca foi desmentida.

 Além do que se disse significaria o seu empenho junto do poder político na metrópole. Veremos adiante.

Em 1887, sendo exonerado, seria nomeado chefe da secção de estudos da Terceira Circunscrição Hidráulica de Lisboa.

De novo regressa às ilhas dos Açores e da Madeira como inspector regional. Em 1892 é director das obras públicas no Funchal e em 1894 é seu governador civil. Em 1899 era Director da repartição da estatística e carta agrícola do reino, no ministério das obras públicas, na cidade de Lisboa. É pois não só um “engenheiro” do fontismo mas o administrador e o político. Foi deputado pelos Açores às cortes e Par do Reino pelo partido Regenerador.

 

[107] Carlos Riley,  As luzes escondidas da modernidade em S.Miguel ( uma proposta de itinerário retrospectivo) , Actas “ A Autonomia no plano Histórico”, 1º vol. , Jornal de Cultura, 1995, p.159-184

[108] Fotocópia cedida pelo Arquivo Histórico do Ministério das Obras Públicas.

[109] Reis Leite, Op. cit. , p.67

[110] Fotocópia cedida pelo Arquivo Histórico do Ministério das Obras Públicas.

[111]Idem

[112] Idem

[113] Leia-se a este respeito  a obra de António Pedro Manique intitulada “Mouzinho da Silveira .Li-beralismo e administração pública”, Livros Horizonte,1989.

[114] Reis Leite, Op. cit p. 227 e segs;

José Medeiros Ferreira, A Autonomia dos Açores na percepção espacial da comunidade portuguesa , Jornal de Cultura,  Ponta Delgada,1995, p. 23-27

[115]  testemunho deDaniel de Sá, 1996

[116] A de Nordeste, segundo placa aí existente, é de 1883. Segundo ainda outras placas, as demais pontes lá existentes serão anteriores.

[117] Eu era o responsável e o empreiteiro era o mestre José Rita da Maia.dali fui para o Canadá.Não a deixei pronta.Foi em 14 de Abril de 1957 que cheguei ao Canadá. Deixei os alicerces com mais ou menos dois metros de altura.Eu não quiz pegar naquela empreitada com medo do DrºJorge(Gamboa de Vasconcelos) e de um doutor que tinha um aparelho no ouvido.O mestre José Rita tinha feito as calçadas da Ribeirinha, por cima, da estrada.Depois o chefe Cabral, filho do srº Cabral entalhador,ele era o chefe Cabral da Junta Geral e o cabo Garrido, o chefe dos cantoneiros, morava mais abaixo do chefe Cabral(rua do Passal).Disseram logo que o Filipe que era o mestre de obras que trabalhava com o José Rita, não punha lá os pés.Ficaram atrapalhados.O senhor Cristiano que era pagador do Cabral, falou de mim ao mestre Rita. “Porque teve medo?”Ele(drº Jorge) ponha-me doido ali.Não pode ser, tem de ser como está na planta.O empreiteiro fugia, tinha medo deles.Como já tinha trabalhado com a câmara e o senhor doutor Jorge conhecia-me bem.Eu tinha trabalhado na ermida de Santo André.Eu é que sofri o DrºJorge.Às vezes, quando estava assentando os passeios perto da casa dele, ele vinha ainda de pijamas, às vezes ficava ali e o consultório cheio de gente à espera(rua de são Francisco).Fiz a calçada desde o Hospital até ao senhor dos Passos.Os passeios tinham pedra mal feita, cada qual com o seu tamanho. Ficou pedra mais bem casada. Dos dois lados do passeio.”

[118] Testemunho de mestre António Reis, 20-01-1996.

[119] Eramos pobres e a minha mãe através de uma tia do eng.º Armindo Moreira da Silva, morava numa casa defronte do P.P.D., aqui na Ribeira Grande, e quando eu fui para o seminário em 34 a D.Alexandrina passou recado ao Sr Serpa que eu, neto do mestre António, que ele conhecera bem, ia para o seminário.Ele quis-me ver e que fosse a Ponta Delgada e passou a dar-me ajuda.Quando me viu, disse:Como eu havia de conhecer o neto de mestre António.Não adiantou mais, eu era uma criança. Ele terá morrido naquele mesmo ano . Morava no Largo de Camões onde foi a Florestal.Ele ocupava isso tudo, o senhor coronel e a senhora, ela morreu primeiro. Um filho desse senhor era o dr.º Serpa e também essa D.Fédra que mora na Mafoma.Ela era filha do senhor Frederico de Serpa.”

 

 


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