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Azulejos setecentistas da Capela-Mor da igreja de Nossa Senhora da Estrela - Ribeira Grande- Açores

Mário Fernando Oliveira Moura

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Azulejos setecentistas da Capela-Mor da igreja de Nossa Senhora da Estrela - Ribeira Grande- Açores

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 Ribeira Grande, 6 de Junho de 1990
Algumas notas de estudo sobre uma proposta de criação de Secção de azulejos do Museu da Ribeira Grande - Açores [1]

 

Introdução

 

 

    Estruturei este trabalho em duas partes. Na primeira, esboço uma série de reflexões sobre o projecto de musealização de azulejos: sala-mãe, núcleos, cobertura fotográfica dos azulejos do concelho da Ribeira Grande, disponibilização de um banco de dados bibliográficos sobre a temática assim como a criação de uma biblioteca especializada na área, onde se inclua os próprios elementos azulejares não expostos. De certo modo, o que acima referi, vem sendo feito desde 1986.[2]

Na Segunda, trato do estudo específico de azulejos setecentistas figurados da primeira fase da monocromia. O intuito deste trabalho é, sem quaisquer dúvidas ou hesitações, partilhá-lo convosco. Acrescentei a primeira parte quando apresentei este trabalho no ‘II Encuentro de los Comites Nacionales Portugueses y Español del ICOM.’ A Segunda, apresentara-a já nos ‘Encontros sobre Azulejaria no Palácio Fronteira em Lisboa.

I

   A cidade da Ribeira Grande, situada na costa norte da ilha que tomou o nome do Arcanjo São Miguel, possui, oficialmente desde 1985, uma Casa Municipal de Cultura, a cujo projecto inicial se  acrescentou  - mercê da  necessidade de musealização do espólio arqueológico recolhido -  uma Secção de Azulejaria que procura ilustrar o percurso da produção e do consumo local da cerâmica Hispano-Sevilhana à contemporânea; numa singela mas significativa amostra do que o concelho possui.

   Tanto quanto nos permite a observação do espólio azulejar nacional sobrevivente, os Açores não foram, até ao início da segunda metade do século passado,[3] centro de produção azulejar, nem terão ido além do consumo médio nacional da produção azulejar continental.[4] Não nos parece que a Ribeira Grande tenha constituído excepção.

    Todavia, ao encontrar cada vez mais nesta área, curiosos e seguros  testemunhos da grande produção peninsular, foi-se-me entranhando a convicção de que tratar deles seria não só contribuir para  vivificar a memória colectiva local,[5] mas também contribuir para inscrever esta, na memória comum aos intervenientes (bens e pessoas) nas grandes rotas transatlânticas de antanho.[6]  

  A possibilidade de tratamento museológico daí decorrente é, no meu entender, por demais evidente. Este, entre outras razões que seria fastidioso e inoportuno aduzir, constitui motivo de sobra e de peso para não atirarmos para o lixo do menosprezo ou sequer para o (in)cómodo disfarce ‘do longe da vista debaixo do tapete do esquecimento’, mas não da consciência, estes pequenos ou grandes “cacos/testemunhos” do nosso espólio comum.

   É nosso dever contar a sua e a nossa história. Não a de pedantes lucubrações de bem intencionados, mas mal apetrechados diletantes de aldeia que, bastas vezes, confundem história local, conceptualmente inserida na história geral, com meros mexericos locais, presa fácil e irremediável de inúteis ninharias.

   Almejarei a elaboração de um parágrafo, pequeno ou grande, da história mais vasta da nossa experiência transatlântica e europeia. As perguntas serão sempre, por exemplo:

1- Até onde chegou a produção peninsular?

2- Que significado terá o seu aparecimento na Ribeira Grande?

3- Quais os elos?

 

A área da Ribeira Grande implantada numa ubérrima planície, esteve sempre bastante activa e ligada a ambas as margens do grande “rio Atlântico,” não só pelo que recebia, mas também pelo que enviava: sobretudo panos e cereais.

Por aí não se deduza que os Açores tinham “foros de realeza” nas grandes rotas comerciais transatlânticas de outrora, mas que tão-só, mais em alguns períodos do que em outros, nelas participava.

 Tal como na circulação dos bens de consumo, também as pessoas mantiveram contactos com as áreas peninsular e extra peninsular; com outras da rede de interesses europeus, de um e do outro lado do Atlântico. Os grandes centros sempre exerceram fascínios e geraram necessidades.

Gaspar Frutuoso, cronista quinhentista que escreveu as célebres e celebradas “Saudades da Terra”, estudou, tal como um punhado de outros, em Salamanca.

Com o intuito de explicar aqueles elos aos utentes do museu, deu-se início, em Março do ano transacto, a uma série de acções.[7] Agora, nesta segunda fase, visarei o estudo dos azulejos setecentistas por nós recolhidos, tanto na perspectiva da sua “genealogia”, como da sua apreciação técnico-estética, como ainda de todo e de qualquer conhecimento útil, adequado à terceira fase; ou seja à  sua conservação, restauro e exposição.[8] 

Com a proposta de criação da dita secção e seus núcleos “in loco”, pretende-se, como já se referiu, constituir uma amostra sincrónica e diacrónica no âmbito do nosso património azulejar dos séculos XVI ao XX.[9] O projecto que ora avanço, é mais um esboço inicial, um lançar linhas de rumo, do que um projecto definitivo. Estou em crer que surgirá ao longo deste e de futuros estudos, - como a  azulejaria de frontal de altar ( Gorreana, Boavista, Bom Sucesso etc…) , da Lagoa ( fachada da Santa Casa da Misericórdia desta cidade, placas toponímicas, registo de santos etc… ),[10] dos revivalistas ( Dr. João Alves de Sá feitos para o Solar da Mafoma ou os de Jorge Colaço para os lambris do salão da Câmara Municipal da Ribeira Grande -, [11] entre outros, um perfil de exposição museológica .

Cada um destes conjuntos deverá constituir, quanto às abordagens metodológica e expositiva, simultaneamente um objecto de estudo comum e distinto. Por exemplo, a musealização da azulejaria produzida nas fábricas da Lagoa, ainda no seu contexto de colocação original, será diferente da dos recolhidos e expostos no museu; e sê-lo-á, entre outras razões, porque é diferente a relação estabelecida entre nós, eles e os demais.

Ainda dentro da abordagem museológica dos núcleos azulejísticos dispersos, atendendo à sua natureza diversa, - ora colocados em fachadas de casas particulares, ora em saguões interiores de casas particulares, ora em salas públicas ou em capelas privadas - a sua gestão terá necessariamente de ser encarada de forma distinta mas integrada. Terá de passar tudo, pelo estabelecimento de protocolos com os seus diversos proprietários; mas terá igualmente de passar pela sua explicação e coordenação na “ Sala-mãe” no Centro de Interpretação do Museu.[12]

Só pela ponderação dos dados obtidos através de uma investigação  adequada ao objecto em estudo, ser-me-á permitido esboçar com alguma segurança e propriedade, uma proposta de projecto que designarei por coerente. Acrescente-se ainda à coerência em apreço, a prática da coerência obtida não só  na relação com a origem dos azulejos, mas com a intenção que presidiu à sua colocação nos espaços primitivos. Não me norteia a ideia, em meu entender peregrina, de incluir tudo ou sequer de tudo historiar, mas simplesmente de contar uma história pertinente, relevante, coerente, bem alicerçada na investigação; explicando  a técnica, a estética e o uso social do azulejo.[13]

Em vez de só falar de objectos, das suas medidas, cores, materiais e outras características físicas, procurarei ouvi-los, estar atento às suas características culturais; às pessoas que os produziram e comercializaram, aos mestres que os colocaram e aos que os usufruíram.. Os azulejos são, como já referi, igualmente ecos, símbolos e documentos do espólio comum da tradição azulejística peninsular e europeia.

Estejam eles, porventura, desinseridos dos seus contextos de colocação, como os depositados no Museu da Ribeira Grande, estejam eles presumivelmente ainda nos seus contextos originais, - felizmente, ao que parece, na maioria dos casos - , tentarei integrá-los na história mais vasta dos azulejos.

A explicação museológica destes e de quaisquer outros, pelo menos  no que diz respeito aos portugueses, deverá ter presente aquilo que José Meco tem dito e escrito acerca do assunto: que a sua utilização conjugada, dir-se-ia dialogante, com outros materiais - por exemplo os frescos dos tectos e a talha dourada - transforma os espaços. Em Portugal, o azulejo tal como a talha - a sua conjugação confere originalidade à nossa arte - , deve ter o estatuto de ‘arte maior’, tão nobre como as demais.[14]

A secção deverá funcionar como epicentro/sala de referência, ponto de partida e de chegada, da teia de núcleos locais. Por certo perguntarão se pretendo começar a montar este dispositivo depois de concluir os estudos, acerca de todos os conjuntos azulejísticos, ou se, ao invés, pretendo fazê-lo à medida que cada fase se complete ? Seja por razões técnico-científicas, seja por razões estratégicas - atrair público ao museu - , opto, obviamente, pelo segundo figurino.

No núcleo-mãe, disponibilizaremos um banco de dados constituído não só pelo material da sala de exposição, mas também pelo arquivo do material não exposto, formado pelos azulejos não utilizados, pela iconografia, pela bibliografia -  incluindo os catálogos de exposições, entre outro material. Nele, a imagem, o som, o desenho - sob a forma do video, fotografia, diaporama, ou outro - , poderá ajudar a sugerir ao visitante a história que nos propomos contar. Mas não se deve ficar por aqui. Para além do que se  mostra nas exposições ao visitante, tanto nos núcleos como na secção, assim como nas exposições temporárias ou permanentes, é preciso aconselhá-lo, incitá-lo a participar na cadeia operatória do fabrico ao uso do azulejo; ora levando-o a ver fazer azulejos nas fábricas em laboração, ora promovendo o fazer nas “demonstrações práticas,” no museu .

Deverá haver, por exemplo,  um expositor contendo os materiais nas suas diversas fases de transformação até ao produto final; como referi, uma parte da história deverá versar sobre o como, quem e onde se usa o azulejo.[15] Pormenor curioso será as marcas de colocação no tardoz - costas do azulejo. Em suma, trata-se da prática do aprender, fazendo, vendo e ouvindo.

A sala de exposição deverá ser preparada para o utente/visitante médio,  devendo constituir tão só uma primeira etapa. Se o visitante se sentir deveras curioso, haverá possibilidade de avançar para uma segunda etapa; percorrer o concelho e ir às fabricas ver como se faz. Haverá uma terceira,  caso a curiosidade se transforme e avolume. Aí chegado, entre outras iniciativas, poderá participar em “demonstrações práticas” e consultar os arquivos sobre a temática. Em todo o caso, para  atingirmos os nossos objectivos, no mínimo, caso haja interesse mútuo, o visitante deve sair do museu com uma noção clara dos objectivos da exposição. Atingiremos estes objectivos igualmente se o consciencializarmos para a importância daquele património. Ficaríamos ainda contentes se ele nos pudesse ensinar mais do que sabemos.

Como a exposição é sempre um ponto de partida para outras chegadas, e estas para outras partidas, seria aconselhável que esta tivesse várias durações e espaços; fosse fixa, móvel, temporária ou permanente. Deve transbordar do seu espaço. A itinerância pelos núcleos, por outros museus,  é um ponto de partida.[16] Qualquer secção de azulejaria que queira promover o estudo, a preservação e o restauro do azulejo, deve oferecer pelo menos, para além dos requisitos atrás referidos, uma oficina de pronto socorro, deve inclusive instituir um montante, prémio, ou outro atractivo, que promova junto de investigadores, o interesse  pelo estudo da temática..

E, em jeito de conclusão ou de remate, deixo registado algo que me impressionou no diálogo que entretivemos em 1989, em Paris, no “Musée des Arts et Traditions Populaires.”

A sala de exposição sendo como que a parte imersa de um “iceberg”, entendido como a totalidade do acto museal,[17] deve contribuir para entusiasmar o visitante a ponto deste desejar ser actor e se transformar em agente polinizador. Aquele ao se transformar, desce ou sobe às restantes partes imersas e submessas do “iceberg.” Primeiro aos bastidores, de seguida aos alicerces, e , por último, o regresso à sala de exposição. É sempre um percurso pessoal, resposta a um discurso de alguém. Acrescentará, porventura, ao utente/visitante, à sala e ao museu e seus agentes, o alimento que felizmente falta e sempre faltará saciar: a fome do passado/presente/futuro.

 

II

 

 

Traços biográficos dos azulejos encomendados para a capela-mor da Matriz que podem ser os mesmos cujos restos possuímos.

 

           Tudo começou, ao que parece, quando o visitador do eclesiástico, o licenciado António Pais de Vasconcelos, ordenou em 1696 à Confraria de N. Srª. da Estrela que azulejasse a capela-mor a seu cargo .[18]Nada de invulgar naquela ordem, antes pelo contrário.

 

Porquê azulejo figurado?

 

  Antes da utilização daquele tipo de azulejo, muitas superfícies parietais de igrejas, incluindo a de capelas-mor, foram cobertas por composições azulejares, ditas de ‘tapete’, imitando tecidos texteis, que entretanto caíram em desuso, substituídas por azulejos figurados vindos, numa primeira fase, dos Países Baixos - após o acordo de 1661 entre Portugal e os Países Baixos, para, após a proibição de importação entre 1687 e 1698, mantendo-se o novo gosto, aparecer uma fabricação nacional, essencialmente lisboeta, iniciada por Gabriel del Barco e seguida por outros, tais como Manuel dos Santos, o monogramista P.M.P, António Pereira, Garcia Ramires, Raimundo do Couto, entre outros desconhecidos dos investigadores, no período que se veio a designar por ‘dos mestres.’

Além das composições texteis e dos ‘tapetes’azulejares, segundo testemunho presencial coevo,  penduravam-se nas paredes, neste caso na Madre de Deus, em Lisboa , « algumas insignias, quadros, velas de navio, & outras cousas semelhantes, de que hoje[1707 - contemporâneo d o azulejo da Matriz]  não se vè [sic] nada destas cousas: por não cubrir o excellente ornato de azulejo do Norte de que estão guarnecidas as paredes dos quadros para baixo.»[19] São encomendados por grandes famílias nobres e pela igreja.

 

Painéis Marianos em 1698 na Ribeira Grande?

 

Porquê Nossa Senhora da Estrela?  Provavelmente, muito simplesmente porque Nossa Senhora da Estrela é a padroeira da igreja Matriz da Ribeira Grande, sendo Maria, desde 1646, consagrada pelo Papa, a pedido do novo monarca português, D.João IV, rainha de Portugal. A Universidade de Coimbra, depois de 1654, obrigava quem quisesse ser admitido nos graus académicos, a jurar que a ‘Mãe de Deus’ fora concebida sem pecado.[20] Aos 9 de Maio de 1699, portanto próximo do período dos nossos azulejos, o bispo, cria a paróquia de Nossa Senhora da Conceição, desanexando o lugar, ou Curato do mesmo nome, da igreja de Nossa Senhora da Estrela, a que pertencera até então. Trata-se, presume-se, de um esforço conjugado de difusão do culto mariano, por parte da igreja, no seguimento das orientações da Contra-Reforma, e do aproveitamento político que o ‘trono faz do altar,’ numa altura em que o trono se pretende legitimar face à Espanha e à Europa; não nos devemos esquecer que a legitimidade da nova dinastia não era universalmente aceite: a busca desta legitimidade levara o monarca a aliar-se com a Inglaterra, casando a sua filha Catarina com o rei inglês, ou procurara o acordo com a Holanda. Conseguir a proclamação papal de Maria, como rainha de Portugal, constituira sem dúvida, uma legitimação inquestionável. Promover, em tempo de D.Pedro II, num período florescente da nossa economia, estando ainda em guerra com Espanha, portanto ainda inseguros quanto à sobreviv~encia da dinastia, a difusão de um culto Mariano era, a par e passo, promover a dinastia. Portanto, incluir-se-ão, igualmente motivos propagandisticos, presumivelmente eficazes, tanto mais que a influência nacional da igreja, entrando directamente em todas as casas, muito mais que a coroa,  por um lado, por outro, o analfabetismo generalizado, aconselhavam a apostar neste tipo de difusão teológica /política.

Poder-se-à explicar o mesmo para as outras igrejas azulejadas nos Açores? Sim, além da ênfase  dada ao culto dos santos, designadamente a S.Pedro e S.Paulo, tipicamente, tridentina.

   De facto, e por várias razões, entre as quais as que se prendiam ao gosto e à doutrina, os visitadores daquela época, em todo o reino, aconselham e ordenam aquele tipo de melhoramento.

     Atente-se, por exemplo, ao caso da Ilha de São Miguel que, naquele período, assiste ao azulejamento de várias das capelas-mor das suas principais igrejas.[21]

 

Demora de uma encomenda?

 

       Tratarei de adiantar alguns indícios.O primeiro registo de encomenda que se conhece data de 1704, ou seja, oito anos após aquela visitação. Porquê aquele lapso de tempo ? Em todo o caso, por qualquer ou quaisquer motivos que desconhecemos, talvez por falta de meios, burocracia, ou até desrespeito à ordem do visitador, só se lhe deu seguimento algum tempo depois. Talvez, pelo facto de até 1701, data da inauguração da nova Torre, a igreja concentrara toda a sua energia financeira na concretização daquela prioridade. Acresça-se, talvez, ainda, o falecimento, pouco depois do seu vigário. Depois houve que recuperar financeiramente, parte dos recursos da paróquia, a partir da criação da nova igreja paroquial de Nossa Senhora da Conceição, passaram para aquela outra; além do mais, desde 1700 até cerca de 1703, ou mesmo desde 1691, atendendo a azulejos figurados, ( Simões,  1961, p.379), chegam azulejos de Lisboa, provenientes de vários autores, para capelas- mor e outros locais sagrados dos Açores. Incapacidade de dar resposta ao mercado? Ponderação de prioridades dos novos responsáveis pela Matriz: a reidificação da igreja era essencial. Prudência: aguardar para ver como se fazia em outros locais, designadamente em S.Sebastião e S.José?

 

Seis anos para entregá-la? Que teria sucedido ?

   

     Entre a sua encomenda registada em 1704, possivelmente em nota de Tabelião [22]- uma possível ponta da meada ?- e a sua entrega, passaram mais seis anos.

A encomenda tendo sido feita para Lisboa em 1704, só em 1710 chega à Ribeira Grande através de Angra.[23]

Os que chegaram em 1710 corresponderão aos que foram encomendados em 1704? Ou serão outros ?

Certo é que foram mandados fazer e pagos caixões para o transporte dos azulejos entre  Angra e a Ribeira Grande, como é certo que se pagou o frete, como ainda se teve de pagar ao provedor da fazenda por um ‘mandado’ de entrega.[24] Foi necessário, ainda, consertar caminhos para os trazer à Ribeira Grande.[25]

Que problemas terão surgido entre Lisboa e os Açores? Naufrágio, pirataria, mau tempo ? Procedimento normal ?Confusão ou desconhecimento da localização da Ribeira Grande ? Repare-se na coincidência da data da morte de Gabriel del Barco, em 1703 ou 1706, caso o painel do Seminário de Almada - atribuído com reservas e cuja datação é de difícil leitura - ( Meco, 1989, p.216) e a encomenda em questão. Tratar-se-á tão só de coincidência? É certo que existiam outros, por exemplo, Manuel dos Santos. Todavia, este último, estaria ocupado a fazer outros. O mesmo se passaria com os demais?

     Tentei alumiar o fundo do túnel, sem sucesso, pesquisando tanto no Arquivo de Ponta Delgada como no de Angra, assim como na Torre do Tombo.

 

Aspecto da primitiva capela-mor, ao tempo do seu azulejamento.

 

Vamos tentar perceber. Em 1662 foi inaugurada uma nova capela-mor abobadada [26]: « … Bento Soares, pedreiro, que neste tempo morava na vila, a fez dev abóbada, por ordem dos ministros de El-rei, e saiu obra tão excelente, como hoje se vê[ o cronista nasce na Ribeira Grande em 1629 e falece em 1726, em 1701, a sua letra é tremente] »[27] O mesmo cronista regista que a Torre « caiu em 15 de janeiro de 1681, com quebramento dos seus sinos, mas, …, em 19 de Março de 1701, por estar de novo feita, se ouviram de novo nela repiques.»[28]

Entre 23 de Janeiro e 17 de Fevereiro de 1741, o vigário Manuel da Costa, em nota exarada no ‘Livro do Tombo da Matriz de Nossa Senhora da Estrela’, intitulada, ‘Clareza de quando foi redificada a …’, a folhas 25-27, documento importante para o conhecimento do que se passou na Matriz no período da sua reconstrução, refere um outro pormenor interessante: « Cahio a thorre [sic] dos Sinos q. semdo SinCo quebrarão tres, e Como CahiSe p.a dentro da Igreja quebrou hua naue e aRuinou algua das outras.»

Ora este último documento, apesar de referir que, quando se iniciou a reconstrução do templo, « a qual aCharão toda deSpregada jncapax [sic] de q. offiCiais SobiSem  [sic] a tirar os maSSames [sic] e Se tinha em pe por milagre», nada diz, porém, acerca da construção de uma nova capela-mor. Mais, implicitamente Manuel da Costa, reconhece e corrobora o que disse Agostinho de Monte Alverne da referida capela-mor- ‘como ainda hoje se vê [falece em 1728, covém repetir] ‘- ao escrever que José Jácome da Costa « tratou tambem da Redifição [sic]  da dita Igreja en [sic] Cujo tempo fes as cadeyras [sic]  para o Coro de pao de Cerne e Brazil.» Atente-se ao seguinte pormenor: Foi o Licenciado João de Sousa Freire quem « deu prinCipio a Redificação da Igreja [Matriz, obviamente]», sendo o mesmo que « pelas Suas gramdes premdas em eSpeCial em RiSCos, e moldios, e foi o q. deu os RiSCos p.a eStas cadeiras do Coro da Capella quando ajmda era Vig.ro na Ribeira SeCCa.»

João de Sousa Freire, natural de Ponta Delgada,presumo, é um personagem chave na compreensão do problema em questão, porquanto alia as suas aptidões artísticas á oproximidade física da Matriz, tanto mais ainda que seria o iniciador das obras de reconstrução. Além de ster sido visitador do eclesiástico e de ter estado na Matriz de Ponta Delgada. ( confirmar) Entre 1696, data da visitação, e 1728, data do início da  reconstrução, foi ele quem a deu início, esteve por perto, tendo falecido , pouco depois, em data que desconheço.

É importante, primeiro, porque sendo ‘habilidoso’tal como fez os ‘riscos’ da reconstrução da Matriz, mais tarde abandonados, após a sua morte, por serem considerados de difícil execução, tal como presumivelmente esteve ligado aos ‘riscos’ do retábulo da capela de São Vicente Ferreira - hoje Museu da Ribeira Grande, de onde foi capelão, como demonstra documento de sua dotação, datado de 1725 -  ou talvez da Matriz de Ponta Delgada, a confirmar, segundo, porque ‘riscou’ o cadeiral para a capela-mor onde iriam os azulejos em questão. Poderia, no mínimo, quem estaria por perto mais qualificado do que ele , ter ajudado na escolha dos painéis. Além das referências da confraria da capela-mor sobre os azulejos, as fontes conhecidas são de um mutismo total: nem Agostinho de Monte Alverne, nem manuel da Costa, os referem; o primeiro, talvez porque arredado da Ribeira Grande, o segundo, escrevendo em 1741, talvez não tenha sido testemunha presencial. Em todo o caso os azulejos mereceram referência nos livros - hoje desaparecidos- da confraria da capela-mor.

Não podemos, contudo, deixar de lançar, ainda que a título de hipótese de trabalho, a suspeita sobre João de Sousa Freire, como alguém que teria tido algo a ver, directa ou indirectamente, não só com a com  asolução de azulejos para dignificar a capela-mor, ele foi visitador do eclesiástico, como também para sugerir temas e outros adereços. Homem interessado por coisas artísticas teria visto, ou mesmo concorrido, os painéis figurados encomendados antes dos da Matriz da Ribeira Grande, para vários templos de Ponta Delgada.

 

Vejamos como se processou uma encomenda coeva de azulejos

 

Ruth Oldenziel publicou um elucidativo trabalho sobre um processo de encomenda, em 1708,  de azulejos holandeses a Van der Kloet, para a igreja portuguesa de Nossa Senhora da Nazaré, que poderá ser útil comparar, para perceber o que se passou com os nossos. Vejamos:

« o padre António Caria, que estava encarregado de dirigir a ampliação do templo, [tal como João de Sousa Freire o seria para a reconstrução da Matriz] … o cliente forneceu as medidas exactas da superfície que deveria ser revestida de azulejos [note-se] , dando ao mesmo tempo minuciosqas indicações sobre as cenas que queria representadas nos painéis.»[29]

Pelo que se leu,apesar de ser o único caso que se c        onhece bem, é plausível, admissível, supor-se que João de Sousa Freire, encontrando-se disponível, por perto, tendo feito o cadeiral, estando a igreja no período de projectos e de vangariação de fundos para a sua reconstrução, sendo autor de um projecto, sendo iniciada a reconstruçãopor ele em 1728, que mais razões precisámos para o transformarmos no principal suspeito. Mas a história, pode ter-se feito de outro modo.

 

Como se processou a encomenda?

 

Em 1704, libertos do encargo da reconstrução da torre, já o escrevi, possivelmente já com o cadeiral no coro da capela- mor, como julgo poder deduzir-se de documento já transcrito, a confraria daquela capela, presumivelmente vcoadjyuvada pelo ‘parecer’ de João de Sousa Freire, com uma nova e muito boa capela-mor como ‘ se vê hoje’ - recorde-se Agostinho de Monte Alverne [30]- remeteu-se uma letra para Lisboa na importância de 1000$00 réis[31] A julgar pelos cerca de 3 850 azulejos que poderão ter estado na Matriz, sairia a c. de 25 000$00 réis o milheiro. Será caro? Falta ver

Teriam enviado alguém de confiança que já tivesse experiência de os colocar, como se fez para a Nazaré, ou ter-se-ia aproveitado alguém que estava cá e que tinha colaborado na colocação dos painéis das igrejas de S.José e de S.Sebastião?

Segundo Santos Simões [1961, p. 379 ] , entre outros,

 

Teria esta sido desmanchada em 1728 com a reconstrução da nova igreja ? Porque então ordenar o seu azulejamento em 1696 e encomendar azulejos em 1704, quando já se sabia que a igreja se encontrava seriamente danificada .[32] Talvez tenha sido esta a razão principal do tempo que medeou entre a recomendação/ordem, a encomenda e a sua entrega e colocação. Quem sabe ?

     Colocaram-nos antes ou depois das obras ? Leite de Ataíde, não refere explicitamente 1710, como sendo a data da sua colocação. Certo, porém,  é que, de acordo com uma nota de caiação, lá estariam em1823:

« se caíassem as paredes da capela, do azulejo para cima. »[33]

É provável que tenha ocorrido entre o período das obras -1728 /1736 - e 1823.Como não será de excluir que tenham sido colocados, mal chegaram em 1710, ou em data anterior à reconstrução da igreja. Mas quando? Vamos tentar ver. Ora em 1754, o licenciado João de S. Bettencourt escrevia que a capela-mor tinha:

 

 “... um vistoso retábulo feito à custa de sua magestade, com o tecto, frisos e arco...”.[34]

 

Porém não se refere aos azulejos; mais ainda, lamenta que a imagem não tenha um trono. O facto é que -ainda é visível-, o retábulo avançou sobre a superfície parietal azulejada,  sobrepondo-se a uma parte dos azulejos. Além do mais o tecto foi levantado.[35]

Leite de Ataíde inclui azulejos na reconstituição do aspecto que a capela-mor teria em 1754:

A capela-mor deveria ser, por este tempo ( 1754 ) uma das mais interessantes, aliando-se provalvelmente a esse vistoso retábulo, feito pelo artista André de Fontes, e ao tecto e arco entalhados, azulejos ornamentais nas paredes e o cadeirado de amarelo do Brasil, como já vimos, delineado por João de Sousa Freire.[36]

Pelo que acima se expôs, além das hipóteses enunciadas, poder-se-á adiantar: 1- Que os azulejos chegaram em 1710 ; 2- Que existiam azulejos na capela-mor em 1823; 3- Que existem por detrás do retábulo actual marcas de colocação que parecem corroborar a existência de azulejos em período anterior ao avanço de um retábulo - aquele ou outro.

E quando teriam sido retirados? Segundo o Dr. Jorge Gamboa de Vasconcelos, em nota publicada no livro de João Manuel dos Santos Simões seria:

« … entre 1871 e 1878, período em que o douramento dos altares e as pinturas a fresco de todas as paredes do templo foram adjudicadas ao pintor Sebastião Ribeiro de Almeida, natural de Lisboa.»[37]

 

Independentemente da data da sua colocação e remoção, devo reter, primeiro: que a superfície azulejada possivelmente não incluiu a área ocupada pelo cadeiral;[38]segundo, que a construir-se o trono antes da data atribuída pelo Dr. Gamboa para a remoção dos azulejos, os da área coberta pelo trono foram, presumivelmente, arrancados naquela altura. [39]

Porque os arrancaram? Talvez - insisto- , porque o avanço do trono tivesse truncado parte substancial dos painéis. Talvez ainda porque a moda do azulejo fora substituída pela da pintura a fresco. Os símbolos marianos existentes nos azulejos, tranferiram-se para o tecto da nave central. Ainda assim, teria sido um compromisso entre a modernidade e a perenidade da temática alusiva à padroeira daquele templo?

 

Tentativa de estudo do que resta dos painéis setecentistas da igreja Matriz de Nossa Senhora da Estrela [40]

 

 

    Aceitando que o contexto original dos setecentistas que possuímos , tal como aponta a tradição oral local e tal como parece corroborar a nossa pesquisa, seja  a capela-mor de Nossa Senhora da Estrela,[41]tendo em mente a constituição de uma secção de azulejos, primeiro, seriei o conjunto dos azulejos inventariados em dois grupos:

1- Azulejos setecentistas soltos que, por razões várias, foram deslocados do seu contexto primitivo.

2- Azulejos setecentistas nos seus contextos de origem.[42]

     Ocupar-me-ei unicamente dos primeiros; os segundos foram estudados por  Santos Simões [43] e Leite de Ataíde.[44]

   Os primeiros, correndo sérios perigos, seja de degradação, seja de desaparecimento, exigem-nos um tratamento imediato.

     Desde Fevereiro último, logo após o ‘Encontro de Azulejaria no Palácio  Fronteira’, passei ao estudo dos azulejos azuis e brancos setecentistas  figurados.

 

 A que período pertencem?

 

   Os fragmentos deste conjunto vistos por Simões, Leite de Ataíde e José Meco, foram, tanto pelo primeiro como pelo último atribuídos ao período dos grandes mestres, à primeira fase da monocromia, ou seja a finais do século XVII, inícios do seguinte.

 

 

 Quem teria sido o seu autor?

 

 Em 1989, quando esteve na Ribeira Grande, José Meco adiantou, como hipótese inicial de trabalho, os nomes de Manuel dos Santos, de Gabriel del Barco ou alguém muito próximo deles. Em 1991, após recolhermos mais dados, escreveu-me a dizer que:

« Quanto aos azulejos da capela-mor da Matriz, por agora não te posso dar mais elementos nem fornecer imagens. Desde que vi o material já passou tanto tempo, com tanta coisa pelo meio, que já não me lembro de maneira precisa dos azulejos. As comparações que fiz na altura foram a conjuntos que não estão bem estudados, e que ainda não consegui relacionar devidamente, pelo que a base de comparação é muito fraca. Enquanto não voltar a mexer nesse período com mais atenção não sei o que poderei avançar. Podemos ter alguma certeza de que não são do Gabriel del Barco nem do Manuel dos Santos, apesar de terem algumas semelhanças quanto à pintura.»[45]

  

Ensaio de cálculo do número primitivo de azulejos.[46]

 

     No sentido vertical da superfície parietal sul da capela-mor, no vão interior do seu retábulo, registámos, pelo menos , trinta e três marcas de azulejo; correspondendo estas, muito presumivelmente, à parte do painel oculto pela construção daquele retábulo.

    Sendo, por motivos de colocação, cada azulejo de um painel historiado, marcado no tardoz; primeiro, removi a argamassa; de seguida, registei as suas marcas. Apesar de algumas dúvidas na sua transcrição, creio possuir elementos para adiantar que do registo do A (Ù A 27- n.º167) maiúsculo até ao registo do X (Ù X 63 - n.º211) -  talvez incluindo o Z, e excluindo o I e o K - temos uma fiada vertical de vinte lugares/ azulejos. Acrescentando os registos das letras minúsculas - assinalando os rodapé, apesar de haver também aí maiúsculas: n.º 64= Ù L 50 -,  que vão dos registos  “a,  j “- sem I nem l ? - possivelmente até aos registos m e n, sem p, teremos aproximadamente uma fiada vertical de  32 ou 33 azulejos.

Por conseguinte, multiplicando aquele número por 14 cm, sem contar com os intervalos entre os azulejos, teremos uma altura máxima provável de cerca de  4,62 m (14cmx33). Consultando-se a Planta III verifica-se que havia espaço.

Calculei o comprimento máximo da superfície azulejada, multiplicando o comprimento de um azulejo -14 cm - pelo número 81 ( + h 81- n.º 53- elemento de uma barra de acantos no lado sul), que corresponde exactamente ao número mais elevado que transcrevi. Assim sendo, temos um comprimento máximo de (81 x 14 cm = 1 134 cm ) 11,34 m.. Estes dados - temos uma grande percentagem de azulejos das filas dos sessenta-  coincidem sensivelmente com a área actual da capela.( vide Plantas I, II e Desenho)[47]

 

Quantos azulejos haveria     

 

   Com estes números aproximados, não entrando no nosso cálculo a área do intervalo entre cada um dos azulejos, nem a área dos presumíveis elementos incompletos, cheguei a cerca de 2 000 unidades para cada parede; e a um total de 4 000 para ambas.Todavia, desconhecendo se existiam janelões[48] com o tamanho dos actuais e se o cadeiral estava no local onde hoje se encontra, parece-me prudente, pelo menos, ponderar um número mais baixo. Vejamos. Se não existiam janelões teremos que descontar (área de cada janelão= -alt.- 4,5m x - lar.- 2 m= 9 m 2. De ambos 9m2 x 2 = 18 m2. Que corresponderá a cerca de - 18 m2 : 0,14 m = 128, 3 azulejos) cerca de 128 azulejos. Se lá estava o cadeiral,[49] teremos ainda de descontar ( alt.- 2, 25m x - com.- 4,50 m= 10,125 m2 x 2 - lados = 20,25 m2: 0,14= 144,6 azulejos) aproximadamente 144, 6 azulejos. São, insisto, números exploratórios.

 

Quantos temos

 

    Além dos que recolhemos na sacristia, na edícula da fachada, no quarto da ‘ervilhaca,’alguns fragmentos na torre de sinos, e em mais um ou outro local disperso, [50]animados pelo que escreveu Ventura Rodrigues Pereira no seu livro sobre a  Ribeira Grande, tentamos encontrar mais elementos que tivessem pertencido àquele conjunto. Escreveu ele que: “na freguesia [de Matriz]há algumas lojas ladrilhadas com azulejos que foram da capela-mor da Matriz. ”[51]

   Refere-se, tanto quanto sabemos, a um período compreendido entre os anos quarenta - quando o autor chegou à Ribeira Grande- e sessenta - quando emigrou para o Canadá. Porém, após várias buscas infrutíferas, escrevi ao senhor Ventura Rodrigues Pereira que me respondeu:

« - ‘houve’, mas não há jamais, porque foram demolidas as casas onde existiam. Apenas se encontrarão ainda na ‘casa do fumo’, onde se acende os turíbulos em certos dias. Não conheci as respectivas casas onde existiram.»[52]

 

      Assim, ficámos restringidos ao estudo dos cerca de 335 elementos que temos recolhidos.[53] Confrontando-os com os presumíveis 3 850 a 4 000 primitivos, entre inteiros e fragmentos, poder-se-á esperar que os 335 possam corresponder a cerca de 8 a 9% do total. Pelo menos, daquele hipotético total.

     Podendo, em princípio, e conforme as circunstâncias, cada azulejo ajudar a reconstituir o espaço de  cinco ou seis, antes mesmo de prosseguir na hermenêutica das fontes, pode-se esperar que a amostragem equivalha a cerca de 40% do total ? Seria bom, mas tal dependerá da sua representatividade.O cálculo é tão necessário quanto arriscado.[54] Numa primeira e superficial abordagem a que procedi, julguei poder entrever contornos e perfis dos antigos painéis. Atente-se nas manchas de arvoredo, por exemplo, que nos  podem reconstituir manchas consideráveis do painel; ou os elementos de barras, que definem os contornos de cada quadro; os ‘putti’ e as grinaldas que nos descobrem rodapés.[55] Atente-se, ainda, a pormenores tais como a estrela ou como a cartela com um edifício acastelado, elementos constitutivos dos símbolos marianos.Estes aspectos, entre outros, poderão constituir como que palavras chaves, ou código para abrir-nos à iconografia dos painéis. 

Apercebi-me que, os azulejos exibindo sinais de terem sido  remarcados antes de colocados, permitem-me suspeitar que fariam parte de elementos que se repetiriam na mesma oficina, de encomenda para encomenda. São sobretudo barras.[56]

      Serão, insisto, os sobreviventes recolhidos, uma amostragem representativa do todo? Constituirão como que tiros certeiros num jogo da batalha naval?[57]

      É lícito ser prudente e duvidar de que todos aqueles elementos azulejares tenham, em parte ou na totalidade, pertencido à capela-mor da dita igreja.[58]

Os números 216, 217 e 218 - números que atribuí à medida que retirava a argamassa do tardoz- , por exemplo, retirados do entulho da torre da Matriz, exibem no seu tardoz pequenos sinais que os distinguem dos demais recolhidos.[59]

Vejamos:

a)  Ao invés dos demais, possuem um traço sublinhando a letra e o número.

b) A marca, ao que parece, destinada a diferenciar as duas superfícies parietais opostas em que estiveram colocados, neste caso, não é nem o sinal de mais (+) nem o triângulo sem base, mas algo confuso derivado (?) do último sinal.[60]

    Em todo o caso, seja pelas marcas de colocação já transcritas, seja pela característica do traço e da pincelada na superfície esmaltada, seja ainda pelas referências arquivísticas, ou pelo exame aos vestígios existentes nas paredes da capela-mor, inclino-me a supor, como hipótese de trabalho, que parte dos nossos 335, tenha aí estado colocado até ao século XIX..[61] Não excluo a hipótese da existência, entre aqueles,  de azulejos pertencentes a outros conjuntos.[62]

      A expectativa - fundada espero- de “reconstituir” o mais e o melhor que puder do painel ou painéis a que pertenceram os elementos que disponho, consistirá em uma espécie de exercício de ‘invulgar’ quebra-cabeças.

     No quebra-cabeças ‘normal,’como se sabe, apesar da mistura propositada de peças, o jogador dispõe de, para sua orientação, não só de um desenho, masde todos as peças/ elementos do conjunto. No caso dos azulejos da Matriz, não disponho de nenhum daqueles dados.

     Todavia, insistimos, retomando a ideia de que os nossos azulejos possam corresponder a algo aproximado de 9%  do total, tendo a sorte de serem representativos do todo, encontrando em outro local um conjunto parecido, ou uma imagem aproximada deles, poderão aqueles 9%, equivaler a uma taxa superior.

    A ser correcta esta hipótese, ficar-se-ia com uma ideia, mais ou menos clara, de como teriam sido os painéis.[63]

 

Mais perguntas aos sobreviventes

 

    Intriga-me o facto de, por exemplo, entre os 335 azulejos não se encontrar vestígios insofismáveis da figura de Maria, cenas da vida, morte e ressurreição de Cristo. Porquê? Vejamos. Presumivelmente  porque sendo consideradas imagens ‘sagradas,’tivessem tido outro destino; pretendera-se dar-lhes um destino mais digno, mais piedoso. Relembre-se que o grosso dos vestígios que temos, estavam, no caso do quarto da ‘ervilhaca’e da edícula, a cobrir o chão e, no caso da sacristia, ou melhor anexo, a servir de rodapé.

   A limpeza das argamassas do tardoz, permite em 90% dos casos uma leitura correcta das marcas de colocação aí registadas. Nalguns casos, porém, as marcas deixaram de ser claramente legíveis: ou porque a tinta se esvaneceu, ou porque  ainda, tendo havido reutilização do azulejo - caso de elemento de barras - ou erro na marcação, se reescreveram - sobrepondo - novas marcas; [64] neste caso, se se justificar, tentaremos torná-los legível através do recurso a procedimentos laboratoriais.[65]

Constituir-se-á uma ficha para cada azulejo, na qual será registada, tal qual, as marcas do tardoz, as da superfície esmaltada ( neste último caso veja-se o nº97 -  [uma espécie de Y ]    21  ao que parece - enquanto no tardoz temos + [ângulo recto com semi-círculo] £ o), [66]para além das dimensões e outras   particularidades. Incluirá, no verso da ficha, uma fotografia de 5 cm x 5  cm da superfície esmaltada equivalendo aos 14 x 14 cm; no reverso,  a transcrição das marcas.

Por aí se poderá registar a letra que determinado sinal representa, se é maiúscula ou minúscula, se ocorreram reutilizações perceptíveis - por exemplo os números 130 e 140 - , decidir quais os sinais que vigoraram.[67]

É necessário, pois, ser sempre cuidadoso na análise e minucioso no  registo de variantes da mesma letra, seja na forma, seja no tamanho, seja ainda no modo como foi traçada.[68]

Os painéis figurados - no nosso caso os setecentistas - , já o disse, traziam no tardoz, marcas que correspondiam ao lugar exacto que cada elemento azulejar ocupava no painel. Daqui se depreenderá facilmente a importância em redescobrir as suas marcas. [69]

A utensilagem prática abrangerá, sempre que necessário for, a análise da pincelada e da temática; uma ou outra, mormente a primeira, constitui uma verdadeira impressão digital do ou dos seus demiurgos. Não será de excluir - caso seja necessário e possível- uma análise química da pasta.

Há que tentar - como vimos - reconstituir os documentos a que, porventura, aqueles exemplares dirão respeito.

Há, todavia, antes de mais, que responder  satisfatóriamente a questões essenciais, das quais destacamos as seguintes:

1-  Pertencerão todos os azulejos já referidos ou a recolher - apesar das aparências e da tradição oral- ao mesmo painel?

2- Ao mesmo autor e à mesma época?

3- Ou, ainda, pertencerão aos que vieram para a Matriz encomendados em 1710 pela Confraria da sobredita?

Apesar de já termos deixado insinuado algumas destas possibilidades, - insistimos -; os nossos 335 pertencem, muito provavelmente, aos azulejos que chegaram à Matriz em 1710 porque entre eles existe um elo de plausibilidade cronológica. Por outras palavras, os que temos, tal como os encomendados em 1710, parecem pertencer à primeira fase da monocromia setecentista.

Assim sendo, tal bastaria para com eles fazer boa figura na pretendida - proposta - sala de exposições. Diríamos: azulejos setecentistas figurados da primeira fase da monocromia atribuíveis a um dos muito pintores  de azulejo que desconhecemos , encomendados em 1704 pela Confraria da Capela-Mor de Nossa Senhora da Estrela - destinados à sua capela-mor -, onde muito presumivelmente estiveram até ao século XIX. Versavam, possivelmente, sobre temática mariana, sobre a biografia de Maria.

Mas como tornar inteligível a quase babélica amálgama dos elementos de que dispomos ?

Quais, de entre eles, seleccionaríamos? E como os agruparíamos ?

Nestes painéis, nem sempre o que parece óbvio, evidente, o é. Vejamos: antes de retiramos a argamassa do tardoz de alguns elementos de barra rectilínea, tínhamos agrupado alguns elementos de acanto - constitutivos daquelas barras- , por nos parecerem formalmente iguais, todavia, mais tarde, após a remoção das argamassas, confirmou-se o erro. Aliás já detectado por José Meco. Este é um, entre os já detectados.

A ficha, pois,  será o documento instrumento imprescindível à segunda fase. Esta, ordenar-se-á, numérica e alfabéticamente de acordo com as marcas constantes do tardoz.[70]

Muito joio será separado do trigo no manuseio das ditas marcas cotejadas numa grelha à escala de 5 cm =14 cm.

Nesta grelha ou quadrícula simulando o hipotético espaço ocupado outrora pelo painel ou painéis, colocar-se-á no número a que corresponde cada azulejo a sua representação fotográfica de 5 cm x 5 cm.  [71]

Retomemos o fio à meada. Arrisquei já as dimensões de cada área parietal azulejada; daí, de um modo provisório passei à contabilização percentual dos que tínhamos; depois insinuei, caso constituíssem boas amostras, a sua quintuplicação. Esse último ponto, poderá, entre outros exemplos ser indiciado no quadro que intitulei de “ Reconstituição de caras com chapéu ou anjos (?) com auréolas”.

Grosso modo vemos que ao + H 54 e ao +H 55,  se terá de juntar um H 56, um I 54, 55 e 56, um L 53, 54, 55 etc. ...[72]

Sei já, antes mesmo de iniciar a sua cartografia através da fotografia dos existentes, que o triângulo sem base (^) designa a colocação ou pertença a uma superfície parietal diferente da que sustenta o sinal de mais (+).

Enquanto o primeiro, ao que tudo indica, se refere à superfície parietal norte da capela-mor ; aliás, encontrei colocados, por entre a talha do retábulo, os azulejos número 211( Ù X 63), 212 (Ù V 62), 213 (Ù S 62) e 214(Ù X -?- 62), que ostentavam aquele sinal- triângulo sem base.[73] É pois de presumir  que o sinal ‘ + ‘ pertencesse à superfície sul.

Prosseguindo no nosso raciocínio, (vejam-se notas), fundado no cotejo dos azulejos, dir-se-ia que -quanto à parede norte -, o azulejo com o A maiúsculo, tanto poderia estar colocado no canto superior ou inferior poente; desenvolvendo-se o resto do alfabeto na vertical. Acabadas as letras maiúsculas, retomavam-se as minúsculas, sempre na vertical.

Em toda a extensão, na horizontal, e de poente para nascente desenvolviam-se os números de cada letra. Quer isto dizer que, na vertical- vamos supor -, de A a X, tudo é um - A 1, B 1, C 1 etc.- , na segunda coluna, de A a X, igualmente, tudo é dois- A 2, B 2, C 2 etc. -, e assim sucessivamente.

No lado sul, a colocação, ao que parece, orientava-se do mesmo modo, mas, de nascente para poente.[74] Todavia, temos elementos que entram em contradição com este princípio, ou seja, parecem orientar-se de baixo para cima.[75]

Utilizando estes dados como premissas flexíveis, não como dogmas infalíveis, e com a grelha ou rede (como se lhe queira designar ), atento aos azulejos e aos seus mais ínfimos pormenores, tentarei “levedar o material”; ou seja multiplicar o que tenho no máximo que o material/prova autoriza.

Aqui vem a terreiro de novo, uma outra consideração; nesta fase e em todo o percurso deste trabalho reputo de importante não perder de vista o estudo temático e estilístico das obras documentadas e das atribuídas aos nossos suspeitos, para além daquelas de outros, conhecidos ou anónimos, do mesmo período (1710). E como quem os fez, de certo não os fez nem faria “ex-nihilo.” Circulavam, na altura,  inúmeros livros de gravuras, a que os ditos pintores de azulejos ou seus encomendadores recorreriam para a elaboração dos painéis. Talvez, não seja de todo descabido, dar uma vista de olhos às colecções de gravuras.[76]

Os confrades ao encomendarem o azulejo para a capela-mor, bem poderiam ter anexado à encomenda, para além das medidas da superfície parietal a azulejar, da descrição da temática a tratar, uma gravura.. Seria de todo improvável ?

 

Ribeira Grande, 6/06/1990

 

Actualização

Em Aberto

 

    Os azulejos setecentistas que estudamos estão, desde 1990,  em exposição, juntamente com os seiscentistas e os fragmentos de corda seca e de aresta sevilhanos. [77]Tendo sido possível reconstituir - com alguma segurança - uma barra rectilínea formada por acantos e vieiras, rodapés com ‘putti’ e cartelas, creio ter-me aproximimado, por um lado, do modo como se orientavam os painéis e, por outro, possivelmente, do período e do local do seu fabrico.[78]Elementos centrais dos painéis, designadamente o traço de elementos constitutivos de conjuntos vegetais, abrem as portas à análise comparativa com outros conjuntos, abrindo assim a possibilidade de se identificar o seu autor. Podemos ter alguma certeza de que não são do Gabriel del Barco nem do Manuel dos Santos, apesar de terem algumas semelhanças quanto à pintura. Elementos dos rodapé apontam para a existência de cartelas contendo a simbologia mariana.

Ainda graças ao registo e cotejo das marcas no tardoz confirmámos o seguinte:

1- Barras

a) Existiram barras em ambos os lados da capela-mor. Temos o sinal + e o triângulo sem base.

b) As barras de acantos são, exceptuando-se talvez o azulejo n.º 64, L 50 , marcadas com letras minúsculas.

c) Emoldurariam os painéis, e situar-se-iam, algumas delas, pelos elementos que possuímos, sensivelmente, ao longo das faixas a, b f, g, h, L, v (V ?), j, a.  VER MELHOR

d) Este tipo de barra surge no primeiro período da monocromia setecentista.

Limitações da observação: a - Não pudemos reconstituir toda a malha;b - Tivemos que utilizar elementos de sítios diferentes mas que encaixam na reconstituição. É um risco.

2- Silhares

a) Haveria, em ambas as superfícíes parietais- norte e sul - , “Putti” entrelaçados em grinaldas de flor, brincando com aves.[79] Os sinais que registei nestes azulejos: + e o triângulo sem base - lados norte e sul- , autorizam-me a pensar que existiriam “Putti” em ambos os lados.

No quadro XIV a : as marcas são feitas com letras minúsculas [números 32, 42 e 148 = + e 55, + c 15 , + c 34- superfície parietal sul] e apontam para a existência de três conjuntos. O que quererá dizer que haveria, pelo menos, três grupos de ‘Putti.’No quadro XIV b: as marcas referentes igualmente à superfície parietal sul surgem em maiúsculas; ‘Putti’ em campo de grinaldas [números 186-189: + L 45; +L 34 e + M 57] ; comprovam a existência, no rodapé, não se confundindo com os antecendentes, de mais três grupos de ‘Putti.’

b) Os silhares, de ambos os lados, eram povoados por cartelas ovais, contendo símbolos das litanias marianas, envoltas em folhas de acanto. A cartela com a “Stella Maris,”[80] estava no lado sul, a  da “Torre Eburnea” igualmente.[81] Porque existem azulejos com o sinal + que encaixam nas cartelas acima referidas, penso que tal corroborará a existência de cartelas no lado norte.

    No tecto da nave central desta igreja existem, talvez desde finais do século passado, talvez influenciadas pelos azulejos da capela mor, seis cartelas contendo símbolos marianos, a saber da entrada em direcção à capela mor: 1- Espelho - símbolo da justiça - , 2- Estrela - significando orientação, luz - , 3- Torre - fortaleza-,4- Arco de Triunfo - vitória sobre o pecado - , 5- Arca da Aliança - co-redentora- , 6- MM erntrelaçado - Mãe de Misericórdia (?).[82]Destes seis, temos duas: a Torre e a Estrela; é provável  que tivéssemos mais. Vejamos: o quadro XV ( representação do lado norte) sugere a existência de quatro cartelas, no lado sul, temos duas. Pelo menos teríamos seis cartelas? É arriscado concluir-se dessa maneira.

 Os ‘Putti’ envolviam as cartelas: -no lado sul- , os vestígios das cartelas + L 30 e + M 52 encaixam nos vestígios dos ‘Putti’ + L 34 e + M 57.

3- Conteúdo dos painéis [83]

a) Representação de construção humana. Um janelão “trompe l’oeil” (?) -  ou mais do que um- ,  no lado norte.[84] Também existiu no lado sul ( n.º 190 - + X 33) Ainda no lado sul, um fragmento de uma ponte.[85]Ainda no mesmo lado, ‘um vaso com flores de acanto’ poderá dizer respeito a dois ( há c. de 2, 5 m a separar elementos coincidentes).

b) Figuras masculinas.[86] O n.º 33 estaria no lado sul. Existiriam - no lado norte - dois jovens com chapéu. A foto 18 ilustrará uma figura humana a segurar, em atitude de colher, um elemento vegetal . Isto no lado norte. Para o lado sul surge-nos um fragmento com o mesmo motivo vegetal com montanhas ao fundo.[87]A foto 21, quase ao mesmo nível da foto 18, parece tratar de um jovem a tocar um instrumento musical de sopro. Formariam um grupo? O azulejo inferior da  foto 14 representa um fragmento de uma figura humana, talvez um jovem sobraçando um livro, no lado norte. O da parte superior representa a cabeça de um ou uma jovem que estaria colocado no lado sul.

c) Motivos vegetais. Uma cornucópia com frutas e flores no lado norte, pelas mesma altura dos jovens com chapéu.[88] Arvoredos com montanhas ao fundo no lado norte e no enfiamento dos jovens de chapéu e da cornucópia.[89] Ervas no lado norte.[90]

4- Modo de colocar os azulejos .Confirma-se que, apesar das excepções, os do lado norte seguem em ordem alfabética de cima para baixo.[91] Em fiadas da esquerda para a direita do observador.[92] Os do lado sul seguem igualmente em ordem alfabética de cima para baixo e da esquerda para a direita do observador.[93]

5- Maiúsculas e minúsculas. Os fragmentos de barras de que disponho parecem recorrer, com excepções, à marcação utilizando letras minúsculas.[94] Quanto ao uso de letras maiúsculas e minúsculas no painel central: utilizam-se letras maiúsculas.[95]

6- Quanto à totalidade do silhar, mercê dos elementos representados nas fotos 15 e foto 13, não consigo saber se estes também fariam parte dele, temos ainda uma ideia muito vaga acerca dele .

 

Se se  pretendesse sumariar para explicar ao visitante?

 

Talvez  se pudesse adiantar que estes azulejos certamente pertenceram a painéis setecentistas figurados, foram muito provavelmente colocados depois de 1710 na capela-mor da igreja Matriz de Nossa Senhora da Estrela da então vila da Ribeira Grande e foram comprovadamente retirados depois de 1824 ( nota de caiação). Parte deles, poderá ter sido retirada quando se fez o trono e o altar de talha. Já existiriam os dois janelões? Não é de excluir a contemporaneidade entre o seu arranque e a pintura dos tectos daquela igreja, na segunda metade do século XIX. Desconhece-se o autor. Eram formados por quadros de barras rectilíneas em cujos vértices estavam vieiras, ou conchas. Os silhares são - complexos-  constituídos ( exceptuando as dúvida que avancei)por “Putti” entrelaçados em ramagens brincando com aves, no meio dos quais surgem cartelas ovais com símbolos das litanias marianas. Tal será verdade para ambos os lados. Nos painéis encontrei figuras de jovens a tocar instrumentos, colhendo flores ou sobraçando um livro. Portanto,  são painéis figurados.

A marca de colocação dos mesmos, segundo opinião de quem trabalha no restauro de azulejos, parece seguir o que se verifica na quase totalidade da azulejaria restaurada. Poder-se-ia lançar, como hipótese de trabalho a confirmar, a exemplo do que acontece em conjuntos semelhantes conhecidos, que os temas dos painéis, para além das cenas bucólicas sobreviventes, muito provavelmente, continuariam a temática mariana patente nas cartelas dos silhares: a vida de Maria e de seu filho, desde a Anunciação, passando pela Visitação a Santa Isabel, Nascimento de Jesus, Adoração dos Pastores e Reis Magos, Fuga para o Egipto, Matança dos Inocentes, Paixão, Morte, Ressurreição até à Assunção de Maria. Terá valido a pena tanto esforço por tão pouco?  

 

Ribeira Grande

24/10/1997

 

 

 

Azulejos e fragmentos setecentistas figurados encontrados na Matriz da Ribeira Grande ou fora dela mas que segundo a tradição pertenceram à sua capela-mor[96]

 

Quadro I

 

Na igreja da Matriz

Onde

Quantidade

N.º de registo que atribuído

Data

em que foram encontrados

Data

em que foram retirados

Rodapé da sala da sacristia

10

1-10

1987

1987

 

 

296 (c. de)

11-119; 122-210, 215; 219-260; 262-316

1987

1987

 

Junto à talha do retábulo do altar-mor ( lado norte)

4

211-214

Abril de 1990

Abril de 1990

 

Em vão da parte posterior do dito retábulo ( lado norte). Solto.

1 Fragmento

317

Abril de 1990

Abril de 1990

 

Torre da igreja. Entulho.

3 e diversos fragmentos ainda não registados

216-218

Dez. de 1988

Dez. de 1988

 

Edícula do frontispício

18

ainda não foram estudados

Março de 1990

Março de 1990

Particular: Octávio Botelho ( antiga casa do Prior)

Servindo de Floreira

120-121

Ainda não foram estudados

Março de 1989

Março de 1990

Particular: D. Maria Mota - Mafoma

Solto. Colocado em estante.

1

261

Junho de 1989

Abril de 1990

Quinta de S. António

 Mais de 6. Desaparecidos

 

Quadro VI

Plano de prospecção de elementos, para além dos já conhecidos,que se crê serem constitutivos deste painel.

 

 

Pesquisa na própria igreja

Para além dos já encontrados, temos até ao momento, sem resultado, procurado outros naquele espaço

Pesquisa junto da comunidade

Convidámos a população ( sobretudo a mais idosa) para uma exposição/isco, na sacristia da igreja, de alguns azulejos que já temos para tentar desencadear a memória acerca dos citados por Ventura Rodrigues Pereira

Pesquisa bibliográfica

Tem sido feita e dela respigamos as informações de Leite de Ataíde, Santos Simões, Gamboa de Vasconcelos e Ventura Pereira. Este último, menciona a existência deles, nos anos sessenta, em lojas[espaço de arrumo] da freguesia.

 

[Além dos da D.Maria Mota e do sr. Octávio Botelho, depois de 1990 fomos encontrando os seguintes fragmentos:

a) No Adro das Freiras- um pequeno fragmento que poderá ser setecentista. Todavia, não é o suficiente para daí tirarmos qualquer ilação segura; b) Na casa onde reside o Prior, na rua João d’Horta, outrora moradia da família Botelho, do “Estrella Oriental”.No local do quintal, transformado em garagem; c) Dois fragmentos recolhidos na mesma rua, na casa que foi de Madre Margarida Isabel do Apocalipse, autora do Arcano Místico; d) Pequeno fragmento encontrado junto ao nicho, no local das “Alminhas”, estrada da Ribeira Grande. ]

 

Quadro X

Depois de recolher o maior número de azulejos possível, de retirar a argamassa e de transcrever as indicações epigráficas há que cartografá-los.

- Exemplo de mapa -

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Exemplo lado D

 

   Com fotografias de 5cm x 5cm representando os 14cmx14cm do azulejo, necessitaria de traçar uma carta de 4,05. Por exemplo, o azulejo a que atribuímos o n.º 53, exibindo no tardoz o sinal + h 81, estaria colocado, menos o espaço entre os azulejos, a 11,34 m, ou seja: 14cm x 81=11,34. Mas, reduzindo cada azulejo à escala de 5cm, estando a altura de acordo com o alfabeto com letras maiúsculas sem I nem Z até X ainda mais as minúsculas, precisaria de uma carta de 4,05m de comprimento. O que dificultaria o seu manejo, pois, seria uma carta enorme. É necessário, por conseguinte, reduzir o modelo para metade, ou seja, passar as fotografias - ou desenhos - de 5 cm x 5 cm para 2 cm x 2c cm. Assim teremos uma carta de 2 x 2 metros. O que a torna mais manejável.

 

Quadro XVUI

Roteiro selectivo de azulejos

( Sala- mãe  no Museu da Ribeira Grande)

 

Exposição dos deslocados (1)

Exposição fotográfica ( mostra dos colocados nos seus contextos) (2)

 

Banco de dados

 

Azulejos não expostos (3)

Vídeo (4)

Diaporama (5)

Fotografia (6)

Biblioteca temática (7)

 

Fábrica de cerâmica da Lagoa [existe desde Julho de 1994 uma fábrica na R. Grande] (8)

 

Alguns núcleos sugeridos (9)

 

Boavista

(frontal) (10)

Bom Sucesso

( frontal)(11)

Gorreana

(frontal) (12)

Quinta de S. António

(registo) (13)

Santana (14)

Museu Carlos Machado (15)

Caldeiras

( casa /igreja) (16)

 

Solar da Mafoma

(17)

Calhetas

(Registo) (18)

Ermida de S.Sebastião

(R. Peixe) (19)

Casa da rua Direira

( R.Grande) (20)

Câmara Municipal da Ribeira Grande ( sala das sessões) (21)

Capela de São Vicente Fereira- Museu Municipal

Registo

E outros dos demais concelhos da ilha.

 

 

 

 

Índice do quadro XVI

 

(1) A. Seiscentistas de padrão policromo ( P 37; P 35; P 20; P 12 ; B 2 etc. )

B. Hispano-mouriscos ( corda- seca e de aresta)

C. Elementos de composições enxaquetadas

D. Figurados setecentistas

(2) Do n.º 10 ao 21 inclusive, como se verá.

(3) Restos dos mencionados em 1.a e 1.d

(4) “Falará da história” ( subentenda-se da nossa história) do azulejo, da sua produção, do seu contexto passando a sala de exposição mas incluindo os núcleos visitáveis.

(5) Diaporama a interligar com (4)

(6) Este suporte já existe em embrião.Dever-se-á utilizar quer nos núcleos quer na sala de exposição.

(7) Idem

(8) Modo de ver ( sugerir vendo) “ in loco” a preparação, pintura e fabrico do azulejo. Proposta a fazer ao proprietário.[ sugere-se visita à fábrica de Cerâmica Micaelense na  Ribeira  Grande cuja constituição de sociedade e início de actividade ocorreu em Julho de 1994. A laboração plena ( com sala de exposição, catálogo etc. ) foi em Janeiro de 1995.]

(9)   Idem

(10) Interior da capela de N.S. da Conceição das Vinhas - Está normalmente fechada exceptuando o dia da sua festa. Fica em Rabo de Peixe na estrada Regional Ribeira Grande/P.Delgada  ( 7 x 16 azulejos - Frontal de altar, segundo Santos Simões, c. 1745-50).

(11) Interior da capela de N.S. do Bom Sucesso - Na freguesia de São Pedro/ R.Grande - ( 8x13 azulejos - Frontal de altar - c.1740-1745- segundo Santos Simões.

(12) Interior da Capela de Nossa Senhora do Resgate.No lugar da  Gorreana/Maia. Segundo o mesmo autor marcará o elo de ligação entre os seiscentistas e os da primeira metade do século XVIII.

(13) Registo encimando o portão da quinta de S.António. ( 4 azulejos. Datado de 1743)

(14) No palácio outrora do Marquês Jácome Correia, agora palácio da Presidência do Governo Regional dos Açores.Painel “ O Cenáculo”, pertencente ao antigo convento de Nossa Senhora da Guadalupe, na Ribeira Grande, onde esteve colocado no refeitório dos frades.Foi oferecido pela Mesa da Santa Casa da Misericórdia da Ribeira Grande ao Marquês de Jácome Correia em acta de 23 de Fevereiro de 1916. Hoje tem azulejo oitocentista[no dia 27/10/97 irão arrancar os oitocentistas].Segundo Santos Simões, serão de uma época vizinha de 1735-1745.

(15) Restos de seiscentistas inventariados por Luís Bernardo Leite de Ataíde atribuídos por ele ao convento mencionado em (14),  hoje na arrecadação do Museu Carlos Machado.

(16) Restos de seiscentistas inventariados por nós, parte do rodapé da Ermida de N.S. da Saúde nas Caldeiras da Ribeira Grande, quer no seu corpo central, quer na sacristia anexa.

(17) Azulejos atribuídos por Luís Bernardo de Ataíde ao Dr. João Alves de Sá ( século XX de Coimbra) - São “revivalistas” e estão colocados no saguão alpendrado, escadaria e pátio interior do solar da Mafoma - São Pedro/ Ribeira Grande.

(18) Exterior de uma casa em ruínas nas Calhetas- “Alminha”- 4 azulejos datado de 1743.

(19) Exterior e interior da ermida de S.Sebastião- Rabo de Peixe.

a. Altar - Figura avulsa - Século XVIII de provável fabrico português. [Santos Simões]

b. Fachada norte e nascente- Registos alusivos ao padroeiro. C. de 1750.[Santos Simões]

c. Interior - Um painel sobre a“Descida do Espírito Santo.”c.1740. [Santos Simões]

(20) Fachada azulejada e saguão de casa da rua de N.S. da Conceição, hoje sede da Santa Casa da Misericórdia da Ribeira Grande. Século XIX.Tanto poderão ser de fabrico local como continental.

(21) Lambril da sala de sessões da Câmara Municipal da Ribeira Grande da  autoria de Jorge Colaço ( século XX), constituído por cinco “postais de convite”e molduras fitomórficas revivalistas. Curiosa colecção de emblemas identitários da década de trinta deste século.Deles não faz parte o Arcano Místico:

    Ao fundo da sala voltado para o lado do mar:

    a) Painel com vista panorâmica da então vila contendoo seu brasão municipal.

Do lado da torre ( nascente):

a) Gaspar Frutuoso no púlpito.

     Do lado do Jardim Municipal (sul):

a) “Lavadeiras em uma levada de moinho de rodízio.”

     Do lado da ribeira, poente, de sul para norte:

a) “Cavalhadas de São Pedro.”

b) “Indústria do Chá.”

c) “Cortejo de carros de bóis engalanados, Festas do Espírito Santo, em Rabo de Peixe.”

(22) Na fachada da Ermida de São Vicente Ferrer, sede do Museu da Ribeira Grande. Registo de São Vicente- Século XVIII.

 

 



[1] Apresentei  proposta de projecto à vereação. Vide foto. 37

[2] Em 1986 iniciei a recolha   dos azulejos,  cobertura fotográfica e pesquisa documental. Todavia,  só em 1989, iniciei a fundo o estudo.

[3] Período em que foi fundada na ilha uma fábrica de cerâmica.

[4] Vide  a obra de João Manuel dos Santos Simões, Azulejaria Portuguesa nos Açores e na Madeira, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1963

[5] Vide Mário Moura, Memórias dos primeiros azulejos seiscentistas expostos no Museu da Ribeira Grande: da recolha, história, tratamento e exposição  ( não publicado) ; Memórias dos fragmentos de azulejos quinhentistas e seiscentistas do Museu da Ribeira Grande encontrados nas Terras do Ex-Mosteiro de Jesus da actual cidade da Ribeira Grande, ilha de São Miguel ( não publicado).

[6] A este respeito consulte-se algumas obras de Frederic Mauro, Bentley Duncan, Alberto Vieira, Vitorino Magalhães Godinho, Maria Olimpia da Rocha Gil, e porque não Gaspar Frutuoso, Diogo das Chagas, António Cordeiro, Agostinho de Monte Alverne…

[7] Já em 1986 tinha levado a cabo outras, como por exemplo, a inventariação do espólio azulejar concelhio e a recolha dos deslocados.

[8] Vide quadro XVI

[9] Chegamos à conclusão que deveremos propor um roteiro a nível de ilha.

[10]  Mário Moura, O Museu da Ribeira Grande e os azulejos oitocentistas sobreviventes da casa das meninas Jordoas ou a casa de ‘tijolo’ da Rua Direita,[10] sede da Santa Casa da Misericórdia  da cidade da Ribeira Grande ( não publicado) ; Produção de azulejaria Regional na Ilha de São Miguel nos séculos XIX - XX ( não publicado)

[11] Luís Bernardo Leite Ataíde, Etnografia arte e vida antiga dos Açores , v.4,  Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, Coimbra, 1976, p. 14

[12] Vide Mário Moura, Em defersa do Museu da Ribeira Grande ( não publicado)

[13] Não me esqueço de abrir este material a investigadores de outras áreas científicas. Assim, poderão sugerir outras exposições. A exposição, a meu ver nunca é definitiva.

[14] José Meco, Exposição:Azulejos de Lisboa , C.M.Lisboa, Lisboa, 1984

[15] Para perceber o percurso do barro à sua utilização, assim como da sua importância no contexto da História da Arte em Portugal, aconselha-se, entre outros a consulta das obras de Santos Simões, José Meco, Rafael Salinas Calado. Ou ainda para o azulejo sevilhano, Alfonso Pleguezuelo. Não esquecer as actas dos encontros sobre azulejaria organizados pela Fundação de Fronteira.

[16] A prática do museu dinâmico, como um meio e não um fim em si  mesmo.

[17] Como o define o ICOM 

[18] Ataíde, Op. Cit. , v.2, p.108

[19] Os azulejos de Willem van der Kloet,  Lisboa, 1994,  p.13

[20] Licínio Lima, Imaculada Conceição divide cristãos , in ‘Diário de Notícias’, Lisboa, 7 de Dezembro  de 1997, fl. 26

[21] Despesas feitas pela Fazenda Real nas igrejas das freguesias da ilha de São Miguel de 1631 a 1775 ,  in “Arquivo dos Açores,” v.12,  Universidade dos Açores, Ponta Delgada, 1983, p. 39- 47

[22] Procurei em vão no fundo notarial da BPAPD.

[23] Luís Bernardo Leite Ataíde,  Op. Cit , v.2,  p. 108 - 114

[24] Idem

[25]Luís Bernardo Leite Ataíde,  Op. Cit , v.2,  p. 111

[26] «Em 28 de Setembro de 1612 caiu a capela-mor da igreja desta vila [Ribeira Grande] sendo de maneira muito formosa e a melhor obra que haverá no bispado; e a 2 de Fevereiro [dia da padroeira] de 1622 se cantou nova missa.» Agostinho de Monte Alverne, 1961, 2,  p. 294

[27] Agostinho de Monte Alverne, 1961, 2,  p. 297

[28] Idem, p. 300

[29] Os azulejos de Willem van der Kloet , 1994, p. 41

[30] Agostinho, 1961, 2, p. 294

[31] APMRG, Livro da despesa e receita da Matriz da Ribeira Grande- altar de Nossa Senhora da Estrela- , 1674… ,  f.40 v[não o vi].

[32] Mário Moura, Memórias dos primeiros azulejos seiscentistas expostos no Museu da Ribeira Grande: da recolha, história, tratamento e exposição  ( não publicado)

[33] Idem

[34] Luís Bernardo Leite Ataíde,  Op. Cit , v.1,  p. 34-35. É curioso notar que no retábulo que hoje se vê, talvez para dialogar com o azulejo colocado anteriormente, se vêem folhas de acanto, uma cartela com a estrela, conchas, para além do tom azul dos fustes das colunas torsas. Estes elementos assemelham-se aos do azulejo. Simples coincidência?

[35] Vide Plantas I-II

[36] Leite de Ataíde, Op Cit ,  v.1,  p. 234

[37] Simões, Op. Cit. , p.128;

APMRG, [Documento avulso da Confraria do Santíssimo- Orçamento de 1876-1877], fl. 3

« Para complemento das obras da Igreja restão somente o douramento dos altares, e outros acessorios…»

[38] Vide Planta III

[39] Assim poderei explicar a existência de alguns azulejos setecentistas na edícula da fachada, sobretudo quando aquela fachada parece ter sido azulejada cerca de 1860? É uma hipótese.

[40] Vide fotos 1-36; Plantas I-III

[41] Vide quadro I ;Simões, João Manuel dos Santos, Azulejaria Portuguesa nos Açores e na Madeira, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1963,  p.128; Ataíde, Luís Bernardo Leite,  Etnografia arte e vida antiga dos Açores , v.2,  Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, Coimbra, 1974, p. 108

[42] O inventário foi apresentado , salvo erro, em Fevereiro de 1989 à vereação. Não obtive resposta.

[43]João Manuel dos Santos Simões, Azulejaria Portuguesa nos Açores e na Madeira, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1963

[44] Luís Bernardo Leite Ataíde,  Etnografia arte e vida antiga dos Açores , v.2,  Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, Coimbra, 1974,  p. 87- 114; v.4 , p. 5-18

[45] Carta de José Meco escritade Oeiras e datada de 10 de Junho de 1991. Já em 1997, em outro contacto,  referiu-se que,  neste período, existiram vários pintores ainda não-identificados. Por exemplo os da escadaria principal da Reitoria da Universifdade do Minho em Braga, apesar de datada de 1704, salvo erro, não estão assinados. Os da Ribeira Grande sendo contemporâneos destes, podem ter sido pintados por um destes inúmeros autores que ficaram anónimos. Será tudo o que se poderá dizer no momento actual da investigação. Não sei se se poderá dizer o mesmo do conjunto de painéis do Hospital de Santo António dos Capuchos, em Lisboa, que, segundo A.J. Barros Veloso e Isabel Almasqué, serão do início do sec. XVIII e « cuja autoria é atribuída ao pintor António Pereira, cujo estilo foi muito influenciado por Gabriel del Barco e pelos painéis holandeses da época.» Hospitais civis de Lisboa. História e Azulejo , Inapa, Lisboa, 1996, p.122 Só os vi no livro em finais de Dezembro de 1997, todavia, apesar da fotografia, fiquei ansioso por os ver no local: pelas barras rectilíneas, pelo tom e o traço das folhas de acanto; pelo tratamento da figura humana; pelos conjuntos vegetais; pelos rodapés com ‘putti,’ levou-me a desejar comparar o nosso com aquele. Fica em aberto.

[46] Vide Plantas I-III

[47] Os números 211- 214, encontrados no lado norte, junto à talha, exibem os números 62 e 63; multiplicando-se 63 por 14cm = 8, 82 m de comprimento.

[48] Pelo facto de existir, entre os vestígios azulejares por nós recolhidos, um janelão ‘Trompe l’ oeil’ e de a parede da capela mor ter sido comprovadamentealtada em meados do século XVIII, poderei presumir que: a existir um janelão este poderia ter sido inicialmente mais pequeno, se se fez um janelão ‘trompe l’oeil’ em azulejo é provável que não existisse anteriormente um ‘natural’. Não necessáriamente. Uma análise mais intensiva dos azulejos recolhidos - sobretudo a números que pudessem coincidir com o espaço actual dos janelões- , ou uma radiografia da superfície parietal, quem sabe, poderia ajudar a resolver este problema.

[49] Estando Sousa Freire,  autor atribuído do risco do cadeiral,  vivo em 1710 - data da vinda dos azulejos - e, além do mais, integrando-se aquele cadeiral harmoniosamente no conjunto da talha e do azulejo - a exemplo do que acontece por esse país fora - , é de presumir que o azulejo fosse colocado à volta do dito cadeiral; todavia, só talvez um exame radiográfico às paredes poderia tirar as dúvidas.

[50] Vide Quadro I

[51] Ventura Rodrigues Pereira, A Ribeira Grande , p.167

[52] Carta de Ventura Rodrigues Pereira dirigida ao autor de Kitchener, província de Ontário no Canadá datada de 17 de Agosto de 1991

[53] Não estão incluídos os fragmentos pequenos. Podem ser consultados no Arquivo Arqueológico do museu da Ribeira Grande.

[54] Vide plantas I e II e nota 5.

[55] XIII, XIV ,XV

[56] Quadro IV

[57] Vide quadro II e compare-se com o II e III.

[58] A.A.M.R.G. , caixa n.º 504; contém um fragmento de B 2 seiscentista encontrado junto à talha do retábulo do altar mor da Matriz, tal como lá se encontraram fragmentos de rodapé oitocentista. Como e quando foram lá parar?Terão servido para remendar/remediar a queda de azulejos setecentista? Não sei. Fica a dúvida.

[59] Quem tem trabalhado com este tipo de azulejo diz que a norma parece ser a colocação de marcas por ordem alfabética da primeira fiada de baixo para cima. Quando a superfície da parede excede as letras do alfabeto, recomeça-se de novo mas acrescentando-se algo mais. Também será da esquerda para a direita. Mas há excepções. É preciso pois analisar caso a caso. Assim talvez esta marca diferente corresponda ao mesmo painel. O nosso segue a regra.

[60] Vide quadros II e III

[61] Até mesmo os diferentes, a exemplo do que vêmos hoje em conjuntos originais, poderão ter sido utilizado como ‘tapa-remendos dos primeiros’.

[62] Vide quadros VIII -IX e anexo.

[63] Vide quadros I e VI

[64] Por exemplo os números 245 e 314, entre outros.

[65] Vide quadro IV

[66] Vide Ficha de estudo de cada azulejo ou fragmento…

[67] Idem. Da cuidada e minuciosa observação, segundo o Prof. José d´ Encarnação e o Dr.º Nestor de Sousa,  que generosamente me aconselharam, dependerá o valor da transcrição como documento capaz de fazer brotar conhecimento.

[68] Vide  quadros II-XV

[69]A par e passo,  proceder-se-á à hermenêutica de todo o tipo de fontes utilizadas e a utilizar,  designadamente, dos próprios azulejos.

[70] Quadros VIII e IX

[71] Quadro X  É necessário, por conseguinte, para o tornar mais manejável, reduzir o modelo para metade, ou seja, passar as fotografias - ou desenhos - de 5 cm x 5 cm para 2 cm x 2 cm. Assim teremos uma carta de 2 x 2 metros.

[72] Quadro XI a/b.

[73] Idem e notas nele incluídas. Repare-se que a multiplicar-se 63 por 14cm = 8, 82 m de comprimento.

[74] Idem

[75] Quadro XII.

Quem tem trabalhado com este tipo de azulejo diz que a norma parece ser a colocação de marcas por ordem alfabética da primeira fiada de cima para baixo. Quando a superfície da parede excede as letras do alfabeto, recomeça-se de novo mas acrescentando-se algo mais. Também será da esquerda para a direita. Mas há excepções. É preciso pois analisar caso a caso. Assim talvez esta marca diferente corresponda ao mesmo painel. É o que se verifica no nosso caso.

O  ‘jovem  a tocar flauta’, por exemplo, tem o + c 15 - n.º 42 -  por baixo do + d 15 - n.º 90;

‘ vegetação e rocha’ o Ù C 49 - n.º 101- está por baixo do  Ù d 49 - n.º 103 . Há casos duvidosos:  -a ‘ponte’ tem o ‘O (n?) + 59’ (3) em baixo de um ‘P ( R ?) 59’ ( 126) - pode ser outra marca - ; a ‘cornucópia’ - caso estivesse na vertical, o que não é seguro - , segue por esta ordem: + F 49 ( n.º 229) ,  +G 49 ( 226) e + H 49 (173); ‘ um outro grupo vegetal e rochas’ - dependendo do modo como esteve colocado - tem o + m 24 (10- tem uma sobreposição de S ) por baixo do + n (?) 24 ( 139).

[76] Consultei gravuras na Biblioteca Nacional em Lisboa. Procurei iconografia sobre litanias marianas e outra afim. Até ao momento em vão. Joaquim F. S. Torrinha, As Medalhas Concepcionistas das Régias Confrarias Caliponenses , Vila Viçosa, 1972; Consultei o Dr. Fernando António Baptista Pereira especialista em iconografia, director do Museu de Setúbal, sobre painéis de temática mariana. Observei em Coimbra um claustro com aquela temática.

[77] Vide foto. 37

[78] Vide fotos. 1-2

[79] Vide fotos 4-6

[80] Vide foto 9

[81] Vide foto 7

[82] Testemunho de Daniel de Sá.

[83] O tamanho do(s) quadro(s) dos painel(éis) é, normalmente, sensivelmente igual em ambos os lados da capela. Seria um só painel de cada lado, tal como o que se verifica na capela-mor da igreja de S.José em Ponta Delgada, ou mais do que um? Não sei.

[84] Vide fotos 19-20. Os vestígios de que dispomos concentram-se numa mancha que tem o seu ponto mais alto em E e o mais baixo em V. O que dará uma altura de ( 14cmx15=) 2,10m;  tendo a amplitude máxima de 28 azulejos ( 14cm x 28 =) 3, 92 de comprimento: seria uma janela de altura

2, 10X comprimento 3, 92. Ou várias? Ou ainda outra coisa qualquer?

[85] Vide foto 22

[86] Vide fotos 14 e 34-36

[87] Vide foto 16

[88] Vide foto 33

[89] Vide fotos 27-28

[90] Vide fotos 23-25

[91] Vide foto 33: ‘Cornucópia’ =+ F 49; + G 49; + H 49/

[92] Vide foto 34 : “ Jovem com Chapéu” =  + G 44; + H 44 ; + H 45/

[93] Vide foto 11: L L 14; L L 15; L  j 15/

[94] Temos letras b como V ou v. As barras seguem uma numeração à parte?

[95] Excepções: fotos 16, 21

[96] Vide fotos. 1-36


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