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CONSIDERAÇÕES ACERCA DA SUA MUSEALIZAÇÃO (Preparação da conversa preliminar com o meu colega arquitecto)

 

 

ARCANO MÍSTICO DE MADRE MARGARIDA ISABEL DO APOCALIPSE

 

 

 

 

 

CONSIDERAÇÕES ACERCA DA SUA MUSEALIZAÇÃO

(Preparação da conversa preliminar

com o meu colega arquitecto)

 

 

 

 

 

 

Trabalho curricular da cadeira do arquitecto José Sommer Ribeiro

 

 

 

 

 

 

Mário Fernando Oliveira Moura

Moscavide, 23 de Janeiro de 1994

Cacém/Agualva - 14 de Fevereiro de 1994

 

 

 

 

[Formato pensado na ida e no regresso de Valada,

ontem, à medida que ia revendo a paisagem dos “Esteiros”]

 


OBSERVAÇÕES PRELIMINARES

 

 

Ao iniciar este trabalho curricular, para que nos entendamos, devo, desde já, colocar pontos em certos is.

O que proponho abordar, prender-se-á mais com a filosofia ou atitude científica do museólogo face à questão enunciada no título e ao seu relacionamento com o arquitecto. Será também a proposta de uma série de “regras básicas” (“ground rules”) de comportamento para ambos de modo a facilitar e maximizar a sua caminhada.

Assim, não faremos propriamente a proposta das condições objectivas e quantificadas do anteprojecto de musealização, pois, não dispusemos nem de tempo, nem desfrutámos da possibilidade de nos deslocarmos à Ribeira Grande.

Ele terá forçosamente de conhecer a biografia das peças ou das colecções, as condições em que se encontraram ao longo da história, a sua composição, como também terá de conhecer o ambiente e o espaço que se pretende musealizar.

Em todo o caso, já avançámos com o estudo laboratorial, conhecendo-se a sua composição e técnica de fabrico. (1) O mesmo diremos do estudo a que chamamos (à falta de melhor termo?) de etno-histórico e da proposta de conservação e restauro. (2)

Até certo ponto já esquissámos um primeiro esboço de “anteprojecto museológico”, porém, neste preciso momento, face a mais informação e face à reflexão daí decorrente, dispomo-nos a alterar muito do que então, e numa primeira tentativa, propusemos. (3)

Será, essencialmente, em torno destas questões, e, tendo em conta aquilo que ao longo dos semestres fomos aprendendo que, irei propor, sopesando prós e contras, a filosofia da sua exposição museológica.

O objectivo confessado é tornar a obra mais disponível, mais lisível e o mais conservada que for possível.

Tratar-se-á, pelo menos é essa a nossa intenção, da preparação de uma primeira conversa a ter com o nosso colega arquitecto.

 


I PARTE

 

O que é o Arcano Místico? Biografia do conjunto.

 

 

O Arcano Místico, grosso modo, consiste numa série de cerca de noventa e quatro conjuntos (incluindo subconjuntos) de quadros bíblicos constituídos por figurinhas moldadas à mão aludindo a passagens do Novo e do Velho Testamento. Eles transmitem-nos a visão popular e a visão institucional da igreja Católica Romana tridentina acerca de Jesus Cristo e da sua igreja. (Estou a reformular o número de quadros.)

Inserir-se-á na tradição portuguesa das “maquinetas” de presépio, tal como as de Machado Castro. Todavia, ao invés daquelas, em vez do barro, Me. Margarida utilizou a sêmola de cereais aglutinada com goma-arábica e gelatina animal colorida com pigmentos naturais. (4)

Foram, numa primeira fase, reunidos numa estrutura de “vidro”, pela autora, e, numa segunda, ainda pela mesma, num móvel de castanho de 2,44 x 2,28m e distribuídos por três prateleiras. (5)

Em 1870 foi colocado no coro alto da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Estrela, hoje cidade da Ribeira Grande, onde ainda presentemente se encontra. (6)

 

 

Quem o fez? Breves excertos auto-biográficos.

 

Me. Margarida Isabel do Apocalipse nasceu aos 23 de Fevereiro do ano de 1779, na freguesia de Nossa Senhora da Conceição e veio a falecer na Matriz, aos seis de Maio de 1858.

Já septuagenária, doente, como em grande parte da sua vida, sentindo, segundo no-lo confessa, a proximidade da morte, decide-se a fazer testamento. Este, quanto a nós, deveria ser considerado, para além do Arcano Místico, para além de uma carta dirigida a sua cunhada, a sua autobiografia. Poderia ser, sem dificuldade, igualmente considerado um dos melhores documentos oitocentistas que ajudarão a esclarecer muito da história local.

Eis, então, alguns traços autobiográficos retirados, aqui e além, de um trabalho nosso sobre s vida e a obra da Madre. (7)

 

“... na rua de João d’Horta d’esta villa, da Ribeira Grande, ilha de Sam Migel (sic) nas casas aonde eu Margarida Isabel do Apocalipse, religiosa professa egressa do convento de Jesus desta dita villa, vivo e moro.” (8)

 

E, continuando:

 

“... meus pais José Francisco Pacheco de Sousa e dona Ignez Euphrasia Botelho são falecidos,...” (9)

 

Logo de seguida revela, não só o tipo de cristã que considera ser, mas o tipo de cristianismo que professa, típico da sociedade portuguesa e da comunidade ribeiragrandense de então; conservador e rural.

A sua recusa ou incapacidade em perceber o alcance da nova sociedade paulatinamente introduzida pelos liberalismos revela-se, por exemplo, na tentativa de instituir, contra ventos e marés, uma festa que, por ser de “outras eras” e pertencer a outras atitudes mentais, dificilmente vingaria.

Me. Margarida teria sofrido no espírito, tudo leva a crer, as mudanças que o mundo, o país e a Ribeira Grande “sofreram” de 1779 a 1858. Face a tanta mudança, incerteza e insegurança, ela parece permanecer no único lugar que lhe pareceu adequado, a recordação do seu passado. O arcano, sob certos aspectos é também isso; o registo do passado como escudo protector para o presente. Deus não dorme nem brinca e a sua espada pode ferir a  todo o instante. A sua linguagem apesar de “racionalizável” não é, no entanto, completamente racional, pois seguirá uma lógica pré-cartesiana mais próxima da Idade Média. (10)

Apesar de, por cortesia e até por prazer e vaidade de demiurga (ainda que a este respeito se deva referir que o arcano é uma obra de “criação revelada”; adiante falaremos mais sobre este ponto), receber sempre os inúmeros visitantes que acorriam a sua casa, ela não se cansou de, em privado, lastimar a perda da sua privacidade:

 

“... Não quer senão o secego (sic) e costume com que tenho passado a vida, alem dhum deuer relegioso que me tem desobrigado das relações do mundo e comprimentos (sic) públicos, este conhecimento- Claro em que tinha posto amª vontade, tinha criado amor e sollição (sic) que sogeita sem embição    (sic)” (11)

 

Fora da segurança também material do seu extinto mosteiro do Santo Nome de Jesus, ela não vive pior na sua casa da rua de João d’Horta.

 

“1 - Recebi trinta e dois alqueires de trigo a preco de cinco centos reis à conta de vinte mil reis de legado que são obrigados a pagar os herdeiros de meu irmão Teodoro Botelho já defunto,...” (12)

 

“2 - Que adquiri pelo meu trabalho; e com servir sem dependencia,...” (13)

 

E persegue os seus desígnios com uma firmeza e perseverança não se poupando a esforços. Aliás, o altar de São João Evangelista e a sua festa foram a sua razão de ser. (14)

 

“... digo eu testadora que alcancei e tenho licença de uma capella na igreja Matriz d’esta villa...” (15)

 

Estes são apenas alguns dos muitos traços possíveis acerca da biografia (auto) da autora do arcano. Fazia parte de uma família ilustre da vila e professou num mosteiro de clarissas da mesma vila que recolhia no seu seio filhas ilustradas da terra e arredores.

 

 

Algumas considerações feitas por ela própria acerca do Arcano Místico

 

Me. Margarida hesitava ainda em 1853 quanto ao nome a atribuir à sua obra.

 

“... o Arcano em itálico, ou como melhor nome se lhe possa dar,... (16)

 

Explicava-se acerca do objectivo da sua obra:

 

“... para a relegiosa edificação das pessoas que lhe fizerem a honra de o verem.” (17)

 

E aprofunda a sua intenção acrescentando na mesma nota:

 

“..., em que mostra, com pequenas figuras ao seu modo, os mesterios (sic) da lei natural escripta, e de graça,...” (18)

 

 

O que disseram dela e da Obra os que a conheceram.

 

Numa pequena brochura publicada em 1850, João Albino Peixoto, poeta Ribeiragrandense, refereriu-se-lhe do seguinte modo:

 

“... e eminente a Ribeira Grande tendo produzido e em si contendo aquella insigne religiosa, productora de uma obra tão grande, tão admirável, onde se ve desenvolvida a fecundidade de assombroso talento!”  (19)

 

E num arrombo de entusiasmo ultra-romântico (Castilho estivera na ilha a exercer a sua influência) o “Cisne da ribeira”, como era conhecido, acrescentava:

 

“Por tanto se a Ribeira Grande nunca houvera tido outras prerrogativas que a ennobrecem, bem nobre se tornaria só com a glória de ser mãi (sic) de tão illustre filha, que produziu a magnífica obra; a que dá o nome  de Arcano,...” (20)

Em 1856, no então novel jornal ribeiragrandense “Estrella Oriental”, Félix José da Costa, açoreano do grupo central e um dos seus mais destacados intelectuais do século XIX, dizia que Me. Margarida Isabel do Apocalipse... “... é quem tem tido a insignificável perserverança (sic) de formar, ela só, e por sua mão, este formozo compendio de maravilha!” (21)

Aos 23 de Janeiro de 1897, o cónego José Joaquim de Sena Freitas, publicava no Jornal “O Norte” (também ribeiragrandense) um artigo intitulado “Um presépio” no qual conta de memória a sua visita quarenta anos antes à casa da freira, teria ele nove anos, então. Com o devido cuidado que uma memória deste tipo nos merece, vejamos o que escreveu Sena Freitas:

 

"Ela gostava singularmente de mostrar aos curiosos aquele seu primor artístico: se era vaidade não tinha outra.” (22)

 

E continuava:

 

“Não havia ainda cosmoramas, o animatographo estava atrazado de 40 anos. Ali, na pequena vila, o presépio reinava sem concorrência.” (23)

 

 

O que disse o laboratório do Arcano?

 

A fim de proceder à musealização e à correcta conservação da obra, para além do estudo “etno-histórico”, era necessário considerar outros aspectos.

A análise, do ponto de vista estético-artístico e a análise laboratorial dos materiais foram aspectos fundamentais a desenvolver.

Para dar cumprimento ao segundo ponto tivemos que ultrapassar, com cautela, alguns “mal-entendidos ou mitos” que se engendraram (ao longo dos anos) à volta do Arcano. Por exemplo, o que supostamente impediria o Arcano de sair do coro alto por alegada (pretensa) disposição testamentária. (24)

Ou ainda, mais incrível, o vaticínio de que este se esboroaria em contacto com o ar, mal se abrisse o móvel. (25)

Pesquisas documentais levaram-me à conclusão de que, não existiriam, quer do ponto de vista jurídico quer mesmo do ponto de vista ético quaisquer impedimentos. Trataremos deste assunto quando tratarmos da sua musealização. Enfim, o arcano foi, removidas certas dificuldades, submetido a um estudo histórico-cientifico (laboratorial) por parte da Casa de Cultura e do Laboratório do Instituto José de Figueiredo. Este último, teve como objectivo identificar os materiais utilizados pela autora assim como descobrir as suas técnicas. (26)

O relatório concluía que conjugando os dados obtidos ao longo do trabalho poder-se-ia colocar a hipótese de que as peças do arcano teriam sido executadas da forma que se seguia:

 

“O corpo das figuras foi modelado com massa à base de miolo de pão aglutinado com goma-arábica, sobre estes foram colocadas as roupagens (modeladas na mesma massa à qual foram adicionados pigmentos consoante a cor pretendida) como que a vestir as figuras. Algumas das roupagens (mantos, vestidos, etc...) apresentam decorações em relevo, as quais foram executadas com o mesmo tipo de massa,...” (27)

 

No que concerne o exame de estruturas, chegou-se à conclusão de que todos os conjuntos e subconjuntos do Arcano eram “suportados por estruturas” em forma de tabuleiros móveis, sendo igualmente visíveis em alguns deles, relevos, colinas, etc...

Foram identificados alguns destes materiais, a saber: o suporte de madeira resinosa do género Pinus sp.. Os relevos, uns são de madeira folhosa, de um carvalho de folha caduca do género Quercus sp., outros de casca de árvore (suber) com líquen foliáceo, etc... (28)

Chegou-se igualmente à conclusão que as figuras não tinham quaisquer estruturas metálicas a suportá-las interiormente, Uma análise conjugada dos dados obtidos por observação microscópica e testes micro dos diferentes pigmentos empregues na sua execução, determinaram a sua composição. São pigmentos naturais, sendo a maioria de origem orgânica, aliás, tal como os aglutinantes.

Tendo obtido, em grau mais do que razoável, as informações sobre a autora e a sua obra, a fim de se avançar mais no projecto de musealização foi forçoso avançarmos para as condições ambientais com vista à sua conservação preventiva e curativa, se fosse caso disso. (29)

 

 

Dados de Conservação e de Restauro

 

Se há mais de século e meio o arcano “tem convivido bem com o seu ambiente”, sem artificialismos, ele deve continuar este convívio saudável sob pena de se perder. É esta a filosofia da sua conservação. Vejamos.

Atendendo a que ele, doravante, receberá uma carga maior de visitantes, é, porém, absolutamente necessário, estudá-lo a fim de conhecermos objectivamente o seu “habitat”.

Urge, por conseguinte, recorrer aos dados que terão de ser obtidos pelo luxímetro, pelo higrografo e termohigrografo. Recolhê-los e interpretá-los ao longo de períodos previamente seleccionados durante um ou mais anos.

Se entre as que agora iremos encontrar no novo espaço (regresso às origens como veremos, porém, as obras de adaptação e a mudança condicionarão o novo “ambiente”) e as que existiam no coro alto, existirem diferenças significativas, teremos de lhes acudir o mais sensatamente possível. (30) Em primeiro lugar não nos devemos esquecer da realidade orçamental.

Tentaremos reproduzir “naturalmente” as condições do coro alto na nova casa.

A não ser que o afluxo de visitantes suba vertiginosamente em flecha e que tal mude drasticamente as condições ambientais, eventualidade para a qual devemos de estar preparados, dever-se-á manter as condições presentes. Discutimos já estes aspectos na disciplina e no trabalho curricular para o eng. Elias Casanovas. (31)

Os materiais constitutivos são, como já vimos no capítulo precedente, quase todos de origem orgânica, quer as bases quer os pigmentos, por conseguinte, devemos antes do mais, ter o nível de “lux” reduzido. Deve ser mantido na obscuridade (ou semi- -obscuridade) sempre que não esteja a ser visitado, mantendo-se, então, talvez, tão só uma luz de presença.

Um sobrevoo às condições ambientais ao longo dos tempos (século e meio), desde que foi criado até à actualidade, inclina-nos a sugerir a continuar prudentemente os processos de conservação tradicionais. Arejamento dos quartos, cortinas de linho nas janelas e gelosias no exterior. Tal como outrora. Continuar-se-á, então a proceder ao arejamento habitual? Creio que sim. A atmosfera da pequena cidade continua a ter os mesmos teores e constituintes de outrora? É uma área rural dedicada à agro-pecuária, designadamente aos lacticínios. Quanto à “Humidade Relativa”, tal como sempre, poderá, ser controlada (autocontrolada) pela própria higrospicidade dos materiais, que, entraram, ao longo dos tempos em E. M. C. (Equilibrium Moisture Content). Preocupa-  -nos, entre outras, o impacto que terão as obras e a mudança (para além do aumento previsível de visitantes) na conservação, por isso teremos de estar atentos e vigilantes. O que se vier a fazer no edifício, é óbvio, e o que se fará ao Arcano, como já declaramos. Havendo duas possibilidades de o mostrar, uma, mantendo-se o móvel e o seu recheio tal qual o encontramos hoje, outra, retirando-se-lhe o seu conteúdo e dando-lhe uma apresentação diferente, por exemplo, destacando as três prateleiras. (32) Como reagirá a obra à mudança?

Quanto ao restauro do existente, afigura-se-nos desejável tão-só a limpeza de camadas superficiais (remoção) de poeira e a estabilização de um ou outro elemento que nos parece necessitar. (33)

Quanto à temperatura e à calafetagem de frinchas dos vãos  que comunicam com o exterior, tal preocupação parece-nos, neste momento, desnecessária, visto que, as variações térmicas (tal como a humidade) nos Açores são pouco relevantes ao longo do ano inteiro. Devido à grande sismicidade, por seu turno, torna-se absolutamente necessário, proteger os objectos expostos. (34)

A localização da casa (para onde vai. Repito, casa onde o arcano foi feito. Veja-se as fotografias 9 a 13) (35), que adiante veremos em detalhe, o próprio ambiente constante aconselha à manutenção de processos naturais de controle do ambiente. Isto para além da nossa proverbial falta de verbas. (36) Do mesmo modo há que ir “controlando” (acompanhando) o ambiente, através dos instrumentos já referidos, e se se demonstrar que é necessário mudar, mudaremos.


II PARTE

 

Dados espaciais e outros elementos.

 

Propomos que a casa do arcano seja o museu do arcano (algo que é simultaneamente oculto mas que se deixa revelar) e de Me. Margarida Isabel do Apocalipse e que seja a sede do museu do mesmo nome. (37)

Para além deste edifício, farão parte do museu, as ermidas, a igreja Matriz de    N. Sra. da Estrela, os passos quaresmais mais a igreja do Espírito Santo. Todos estes pólos distam a uma curta distância uns dos outros, sendo fácil, acessível e agradável percorrê-los a pé. (Veja-se acetato 1 da Planta 1) (38) Neste trabalho circunscrever-me-ei à casa do arcano e a musealização da vida e da obra da sua autora, pese embora, sendo ela destinada a sede do museu paroquial, nela precisamos de instalar os serviços. Pequena estrutura de serviço, registe-se.

 

 

Casa do Arcano Místico - Onde se situa?

(veja-se Plantas I e III) (39)

 

A sua fachada principal abre-se para o lado nordeste da rua João d’Horta ficando a cerca de 75 metros do início da escadaria que conduz à igreja Matriz e a 100 (cem) da sua porta principal. (40) (Plantas I e III)

Fica igualmente a 25 metros da rua de Sousa e Silva, vulgo rua das Pedras, por onde se escoa quase todo o tráfego de nascente a poente. O alçado lateral dá para a rua Me. Margarida do Apocalipse, vulgo Travessa dos Cabidos, conforme se vê na Planta I e V, que é uma via secundária bastante sossegada, aliás tal como a de João d’Horta ou até mesmo a de Sousa e Silva, se tomarmos como padrão o trânsito das cidades do litoral do continente português. Todavia, esta última, acaba por se tornar, forçoso é reconhecer-se, um pouco desagradável seja pelo trânsito de pesados que nela circula carregados de toros de criptoméria, seja pelos camiões-cisterna de recolha de leite seja ainda pelos de gado vivo para a feira semanal da quinta-feira, a 500 metros a poente, no mercado municipal. Admito que para o forasteiro tal possa constituir um motivo pitoresco, para alguns, talvez exótico, em qualquer das circunstâncias, não deixa de ser desagradável. Pelo menos para os que lá vivem, como eu. Fica ainda a menos de duzentos metros do coração político-administrativo da cidade. (41) (continue-se a consultar as Plantas sugeridas anteriormente ou outras que julgarem pertinentes.)

A cidade, segundo o último censo populacional, terá menos de quinze mil habitantes e o concelho chegará aos vinte e seis mil habitantes distribuídos por catorze freguesias. É o segundo concelho em extensão e em população da ilha de São Miguel. A cidade situa-se no seu lado norte, quase a meio dela, e é composta por quatro freguesias, duas das quais, Conceição e Matriz, constituem o cenário de toda a vida de Me. Margarida Isabel do Apocalipse.

A cidade, desde 1981, salvo erro, para além de ser agradavelmente pequena, ainda conservando grande parte do seu património edificado de seiscentos e setecentos, dedica-se essencialmente à agro-pecuária. (42) (Mapa III e IV transparência 3)

O maior empregador é, no entanto, a autarquia, logo seguido da fábrica de lacticínios e dos diversos serviços dos quais sobressaem as repartições públicas e os bancos. No concelho concentram-se quase todas as empresas de construção civil da ilha (pequenas e médias) bem como de inertes e de materiais de construção.

Desde há pouco tempo possui um parque industrial a cerca de dois quilómetros do centro urbano. (43) A Ribeira Grande é um ponto obrigatório, muitas vezes “malgré elle”, de passagem, não tanto de permanência, e a ela ocorrem todos os fluxos turísticos estivais. (44) (veja-se Mapa III)

As suas festas, tanto profanas como religiosas, a gastronomia, já atraíram mais gente do que actualmente atraem. Por exemplo nos anos sessenta.

 

 

 

 

Dados históricos das Casas. (45)

 

Após a extinção do mosteiro de Jesus pelo decreto de 17 de Maio de 1832 (não é gralha, é 1832), Me. Margarida e as outras freiras, servas, noviças e demais internas, saíram dele. Já em Junho o mosteiro estava desocupado. (46) (veja-se Planta I e transparência I)

Algumas recolheram-se ao convento da Esperança em Ponta Delgada, outras regressaram às casas de familiares, algumas, porém, alugaram ou adquiriram casa própria. Me. Margarida apesar de ter família a viver perto, por exemplo, o seu irmão Teodoro, optou por alugar uma casa. Já em 1833 lhe encontramos a morar numa casa da rua das Pedras, hoje de Sousa e Silva, e, em 1834, alugou a casa que veio a ser mais tarde conhecida por casa do arcano, onde viveu até falecer em 1858. Adquiriu-a aos 8 de Fevereiro de 1837. (47) (para ver a Fonte do eng. militar Sousa e Silva que mais tarde deu o nome à rua, vejam-se as fotografias 9 e 10. As fotografias 4, 5 e 6 são essenciais para visualizarmos toda a envolvente espacial do nosso esboço de projecto. As número 2 e 3 ilustram a cidade) Por sua morte, aos 6 de Maio de 1358, a Confraria do Santíssimo Sacramento, tornou-se, por disposição testamentária, sua proprietária. E, porquê?

Para com o produto desta e das outras duas, assim como do arcano, fazer-se “enquanto o mundo for mundo” (É assim que ela se exprime, tal como os demais do seu estatuto social e naquela época se exprimiam) a festa do seu padrinho e intercessor     São João Evangelista. A festa só se fez esporadicamente para deixar de se fazer no início da Republica.

Uma das obrigações deste museu seria, quanto a mim, por um lado, sensibilizar a paróquia para o cumprimento desta obrigação, por outro, e, como consequência, ao menos no dia da pretendida festa, 27 de Dezembro, se não me falha a memória, instituir- -se “o dia do museu”. Para ele, e à volta dele (quadra natalícia) agendar-se-ia uma série de actividades. (48)

A casa foi alugada e nela se manteve o arcano, no melhor quarto da casa, até 1870. (49) (fotografia 9, primeira da direita; as duas janelas do primeiro piso, no lado direito do observador correspondem ao “quarto do arcano”; fotografias 11 e 12; Planta VII) Por razões que tentei escalpelizar em outro trabalho curricular, entre as quais, “o reconhecimento pela elite” da sua importância e relevância patrimonial, o arcano, contra as disposições legais testamentárias, não foi vendido.

Em 1878, aos 27 de Abril, é finalmente vendida. Creio que em 1988, a Câmara Municipal da Ribeira Grande e a Secretaria Regional dos Transportes e Turismo compram-na e oferecem-na à paróquia para nela se recolocar o Arcano e o seu      museu. (50)

Tipologicanente, à primeira vista, não nos parece ser uma casa de feição seiscentista de acordo com os parâmetros do Dr. Luís Bernardo Leite de Ataíde. Nem tão-pouco setecentista. Será já oitocentista? Constituirá uma excepção tipológica (sempre de acordo com os parâmetros definidos por Leite de Ataíde), portanto, podendo ser tanto de oitocentos, como de setecentos ou seiscentos? Ainda não lhe descobrimos qualquer prova documental que remonte à sua fundação. Adianto, se me permitem, algumas dúvidas. Os lintéis são lisos, não têm nem pontas de diamante nem são ladeados por “suásticas” ou “sexifólias”. (designação do Leite de Ataíde) (51) Também não são contracurvadas como o eram os da segunda metade de setecentos. Porém, exibem “aventais”. (52) Só a documentação (insistimos) coeva do início da sua construção poderia responder a estas questões. Terá havido mudanças no seu interior? Existem indícios.

A divisão da casa, refiro-me ao primeiro piso, com um corredor em forma de cruz servindo de distribuidor das várias dependências, parece ser “típico” do século XIX da Ribeira Grande, sendo os tabiques estucados uma das técnicas então      disseminadas. (53)

Examinando-se a planta (números VII e VIII) da casa e recordando-me da visita que a ela efectuei, inclino-me a admitir que as paredes estucadas do primeiro piso foram (não se sabe bem quando) introduzidas numa fase posterior.

Teria sido a Me. Margarida para, permitir, por um lado, a visita ao arcano, e, por outro, manter uma certa privacidade? Terá sido a confraria, com os mesmos propósitos?

 

 

Dados correntes actuais

 

Recordamos que não pretendemos tratar aqui de todo o museu paroquial mas da sede e do Arcano que ficarão (caso o arquitecto e eu chegarmos a esta conclusão) no mesmo edifício. Considero esta questão o ponto chave deste trabalho curricular.

Uma das primeiras tarefas que efectuei, pouco depois de começar a estudar o arcano, foi o de proceder ao levantamento tanto da casa como da obra. A casa da Cultura da Ribeira Grande ocupou-se prontamente do segundo ponto, todavia, quanto ao primeiro, só no mês passado se realizou.

Fiz, mesmo assim, algumas prospecções na casa e efectuei o seu levantamento fotográfico em 1987 ou 88, salvo erro. (54) (fotografias 11, 12, 13 e cópia do 93, números 9 - Plantas IV a VIII) Tratarei destes dois aspectos neste ponto.

Actualmente o arcano está, tal como já se disse, no coro alto da igreja Matriz, dispondo o visitante de um pequeno espaço de cerca de um metro para circular entre o móvel e a parede. (55) (fotografias 14 e 15. Planta IX)

 

 

E a coerência interna dada pela autora? Será depois possível conciliar esta com a  musealização “ideal”?

 

Comecemos pelo primeiro ponto. Adiantaremos, primeiro, dois testemunhos que viram e descreveram a obra ainda em vida da autora, um refere-se a uma estrutura em vidro, o outro, dá-nos conta do móvel tal como hoje o conhecemos. Seguidamente falaremos de quem possivelmente o construiu e orientou a sua transferência. De como este último sendo conhecedor da obra deve ter, plausivelmente, feito uma transferência sem erros ou confusões. Vamos ver a sua organização.

Existe ainda a possibilidade de o arcano ter sido removido por volta do ano de 1903 tendo regressado, em data desconhecida, ao mesmo local: o coro alto. Se assim tivesse sido quem nos garantiria então a sua “coerência interna”? Bom, as descrições anteriores e posteriores parecem coincidir na organização geral, não nos dando, todavia, informações de pormenor. Não existe qualquer prova para a mudança de 1903 só sabemos da intenção da confraria.

Estarão os próprios conjuntos marcados? Não tenho a certeza, pois não me debrucei sobre este aspecto. Todavia terei que observar este ponto, quanto antes .

Já verificámos, no entanto, que, alguns conjuntos estão incompletos (vandalismo, furto ou pelo facto de ela não os ter completado ou de os ter         oferecido? - temos indícios de todas estas hipóteses). Ou ainda, segundo ela própria nos diz, alguns elementos que não pertencendo ao Arcano foram arrumados por ela no móvel:

 

“... a manga do vidro que contém o Menino Jesus, e a criação do primeiro homem e duas panelas de vidro huma que contem o sacrificio de Abraão e outra a morte do gigante Golias." (56)

 

Escrevia, Sena Freitas, um dos testemunhos:

 

“... o presépio tomava todo um quarto, que aliás não era pequeno, era completamente de vidro, formando como um segundo quarto dentro do primeiro, e de altura media quasi (sic) e do quarto continente. O interior era dividido em diversos planos horizontais, também de cristal, à feição de andares.” (57)

 

Dois parágrafos adiante refere-se à organização espacial “do ideário da obra” (concretização da doutrina ou tese central) - veja-se nota 18.

 

“O andar superior do presépio representava a antiga lei, o antigo povo judaico, o do mosaismo que descia, na sucessão das gerações, ao primeiro andar, ao que symbolizava a dos seculos das leis da Graça em cujo inicio foi o Presépio de Belém.” (58)

 

Freitas teria lá estado na década de quarenta, ou em 1847 ou 48, ou à volta daqueles anos. Fm 1856, surge-nos o testemunho de Félix José da Costa.

 

“Oh! é muito mais ainda o que ali encerrado está nesse pavilhão quadrilongo, envidraçado, e cujos lados tem mais de dez pés de largura, e perto de doze palmos d’altura.” (59) (veja-se Planta IX e fotografias 15 e 16)

Ao que tudo leva a crer, o arcano, por orientação e vontade da sua autora, organizado num móvel e nele se incorporam, também com o conhecimento dela, algumas outras peças, designadamente a manga e as duas panelas de vidro, como vimos.

Em 1870 foi transferido pela mão de mestre Pedro Araújo Lima que muito certamente trabalhou para ela na adaptação do altar de São João Evangelista (na igreja Matriz por ela adquirido), segundo se diz construiu o móvel, pode ter feito o tal corredor de “tabique” e foi uma das testemunhas que validaram o seu testamento. Parece-nos, pois, plausível, supor que Araújo Lima o fizesse correctamente?

Será possível manter-se o móvel tal qual?

Subdividido intencionalmente pela autora em três prateleiras (as três leis que Deus deu ao mundo) obriga o visitante a inúmeras e complicadas piruetas, ora ajoelhando, ora colocando-se em bicos dos pés, ora dobrando-se. Além do mais, muitos conjuntos estão ocultos por outros, assim, aspectos que deveriam ser vistos, estão tapados. Por conseguinte, e por tudo isso, inclino-me a sugerir uma nova orientação que concilie a coerência com a musealização. (60) (fotografias 16, 17, 18, 19)

 

 

Achegas para uma musealização coerente, protegida e apetecível.

 

Baseado nos dados históricos e da sua conservação, dissertarei sob e a sua exposicão museológica.

Antes de mais, forçoso é necessário é esclarecermos o que queremos afinal de contas. O que é que queremos fazer à volta desse tema?

Ensaiaremos um primeiro sobrevoo ao nosso (pré) programa museal. Desejaríamos uma exposição permanente cujo núcleo principal focasse os aspectos que abaixo apontaremos mais exposições temporárias e uma oficina onde o programa fosse sendo iluminado sob vários ângulos. Sobretudo queremos obviar ao cansaço museológico, o mais que nos for possível.

Grosso modo, a exposição permanente aludiria os seguintes aspectos:

 

1 - Biografia da autora.

2 - Biografia da obra.

3 - a) Contexto histórico-geográfico da Ribeira Grande entre o seu nascimento e a sua morte.

b) Idem para o espaço para além da antiga vila.

4 - Uma área que foque:

a) A apropriação patrimonial do arcano pela Ribeira Grande. Relação entre a obra e a comunidade.

b) Relação entre a obra e a sua preservação.

 

A tese da exposição passará pela explicação da obra como criação do “Ancien Régime” que deve muito à lógica simbólica e à revelação dos arcanos. É uma obra que deve tanto à chamada arte erudita como à popular, não é obra de artesanato. Embora sendo obra de autora, será um pouco mais. Ela deixa transparecer (confessa-se) que o arcano é tanto o fruto da inspiração criadora com o da revelação.

É uma obra única, sem antecedentes nem sucedâneos, feita tal como os artesãos o faziam outrora (tem isso em comum) secretamente. A oficina, activa na feitura de figuras em miolo de pão, fará parte integrante (como irmã gémea) da exposição permanente. Será um esforço dessacralizado de revelação: da técnica.

 

5 - Como teria sido a vida naquela casa durante a vivência de Madre Margarida Isabel do Apocalipse?

6 - O que significará a sua tentativa (vã) de instituir à perpetuidade a festa de São João, Evangelista?

 

Seria ela própria, tal como o fizera em vida, quem explicaria a sua vida e a sua obra. Acompanhá-la-iam os comentários daqueles que a visitaram. Integrar-se-ia toda essa informação no contexto histórico de então. Aqui seria útil, parece-nos, o recurso a um quadro sinóptico de 1779 a l858. A visão do arcano reflecte a sua visão sombria acerca do que se estava a passar no mundo. Registar-se-iam alguns acontecimentos ocorridos na ilha, no país e no mundo, quer na sociedade civil, quer na eclesiástica.

Em certa medida ela parece dizer que “Deus” não dorme e há-de vir para castigar aqueles que persegue a sua igreja. Foi a época da extinção dos conventos, da revolução e das invasões francesas, etc... À Ribeira Grande chegam, em parte, ecos, ecos que exageram e deformam, muitas vezes, a realidade. Alguns surgem perto e são mesmo reais. D. Pedro visita o convento. A escaramuça da Ladeira da Velha ali a dois passos.

O museu deverá explicar a pulsão destes olhares para o mundo. A história local recebendo os ecos do que acontecia lá fora, mas, ao mesmo tempo, seguindo o seu próprio destino (percurso) de pequena comunidade rural quase auto-suficiente, todavia, mantendo estreitos laços comerciais com as demais ilhas do Atlântico e o Brasil. A comunidade com os seus “imigrantes e regressante” brasileiros.

Mas o arcano é também um objecto estético e como tal deve ser igualmente mostrado, como veremos. Para além da casa em si mesma e do Arcano, dispomos de diverso material gráfico e iconográfico. Exemplifico. Possuímos o testamento, o codicilo e o Rol que são textos imprescindíveis quase autobiografias. As escrituras das casas, os registos de baptismo, óbito, árvore genealógica da família auto de profissão, registo de gastos na farmácia, pedido de montagem de água ao domicílio, documentação referente à aquisição do altar posteriormente dedicado a São João Evangelista, etc... Duas ou três gravuras coevas e um preciosíssimo inquérito datado precisamente de 1858, preenchido pelo prior da Matriz, que de um modo sucinto, descreve a Ribeira Grande de então. Uma delicia. Além destes elementos disporemos de um ou outro testemunho arqueológico exumado nas escavações levadas a cabo nas terras do ex-mosteiro de Jesus onde madre Margarida esteve professa durante trinta e dois anos. Conhecemos as casas onde terá morado, antes de professar, bem como a igreja onde se baptizou e comungou.

Como iríamos tentar conseguir estes objectivos?

Seria ela própria, já o dissemos em parágrafo anterior, quem apresentaria a obra e se identificaria. O testamento, mais o rol e o codicilo, uma carta inédita autografa, por exemplo, retractam estes aspectos. Seriam excertos seleccionados destes documentos que elucidariam (de acordo com o arquitecto) o que pretendemos.

Quanto à Ribeira Grande , já atrás dissemos, socorrer-nos-iamos do texto do citado inquérito de 1858 mais as gravuras e plantas que possuímos. (62) Para a vida conventual, entre outros, existe a preciosa e pouco conhecida descrição que dele fez um viajante inglês. Por exemplo, descreve um serão de canto a que assistiu na igreja do convento. Oiça-mo-lo:

 

“Many of them speak the principal of the continental languages and all of them are skilled in music and the principles of drawing, and designing paper flowers and patterns for lace.” (63)

 

Dada a notória fragilidade de alguns destes documentos (gravuras, plantas etc...), não gostaríamos que figurassem muito tempo na exposição, admitindo mesmo que, em seu lugar, figurassem réplicas ou simples cópias. Não queria cair no excesso de informação escrita nem tão-pouco queria que essa prescindisse da informação iconográfica de modo a tornar a exposição menos árida e mais atraente. Apetecível. Admito igualmente que alguns documentos só figurem em pequenas exposições temporárias. Insisto; mas para tentar obviar ao cansaço museológico das exposições permanentes, para além do cansaço das saturadas de informação, por um lado, e para tentar potenciar todo o programa museal (ainda para além da dita exposição permanente, dos colóquios, dos “Workshops”, enfim de toda a animação cultural adequada) teremos de dispor de um espaço oficinal que sirva simultaneamente de local de ensino e de local de fabrico de peças em “miolo de pão” almejando a difusão desta técnica “revelada” recentemente pelo laboratório do Instituto José de Figueiredo e deste material.

Será oportuno um pequeno balcão de vendas ou esta fár-se-á na própria oficina? Talvez um pequeno balcão não seja desaconselhável já que lá colocaríamos postais, diapositivos, fotografias e outras lembranças.

Seria necessário uma pequena sala auditório com capacidade equivalente a uma sala de aulas (quarenta pessoas). Realizações maiores poderiam utilizar o salão paroquial. Em caso de falta de espaço, estou preparado para prescindir dela já que poderia recorrer ao salão ali a dois passos. Pequeno núcleo administrativo e todo o espaço possível, diria melhor, espaço generoso, para as exposições temporárias, “almas gémeas” da permanente e da oficina. É uma das receitas para tentar manter o museu atractivo.

Um espaço para a “sala de síntese” (espaço de síntese pois poderá ocupar mais do que uma sala) do museu paroquial polinucleado de Me. Margarida Isabel do Apocalipse. (64)

Quais seriam os objectivos deste museu paroquial?

Desta temática ocupei-me na cadeira curricular de Gestão. Darei, tão-só, alguma pincelada rápida, até porque, recordo, este trabalho trata da Casa do Arcano e da sua musealização não do todo do museu paroquial. Todavia existem convergências, como por exemplo, a sala de síntese, a sala administrativa e talvez uma sala de primeiros mais um espaço de reservas (?). Não é de todo impensável que o museu não crescerá como também seria impensável que tudo tivesse de figurar. Também poderá ser verdade que  nem tudo poderá nem deverá ficar na casa do arcano, mesmo que esta seja a sede do museu.

Essencialmente, centrar-se-ia no estudo, na inventariação, na conservação, na exposição e animação de todo o património paroquial ou das confrarias e irmandades da paróquia por elas próprias. Seria igualmente uma espécie de conselho paroquial para o património e funcionaria, de um modo geral, à base do voluntariado.

O rés-do-chão (65) (Planta VIII) seria ideal já que se evitaria todo o contacto (promiscuidade) desnecessário com a exposição permanente no primeiro andar. Estas exposições (temporárias) tentariam “ir ilustrando” vários ângulos da vida e da obra da autora, de aspectos do artesanato, da arte em geral, etc... Tentar-se-ia através delas e da realização de colóquios, seminários, “workshops”, fazer a ponte entre o passado e o presente e o cruzamento de saberes.

Pretendo demonstrar, por exemplo, que o arcano pode ser considerado uma obra de arte exemplificativa da interdependência funcional entre a “ainda” chamada arte erudita e a arte popular.

 

 

Quais os públicos alvo do programa?

 

Em primeiro lugar teremos os quatro mil e tal paroquianos. Depois todos alunos das escolas paroquiais, do ensino básico, do preparatório e do secundário da cidade. Não excluiria as crianças em idade pré-escolar, porém, dado a especificidade deste grupo etário não os incluiria entre as demais.

Os tempos fortes para este público será o Natal e a Páscoa e incluirá todo o período escolar de Setembro a Junho.

Os imigrantes começam a aparecer pelo Senhor Santo Cristo (festa móvel que tanto pode ser ainda em Abril ou já em Maio), continuam a chegar pelos “Espíritos Santos” e prolongam-se pelas festas dos “Padroeiros” das suas paróquias de origem. Não chegam a ficar, em média, um mês, a maioria não ultrapassa as duas semanas. As saudades das coisas e das pessoas das ilhas são diariamente alimentadas pelo chamado “mercado da saudade”. Para além da exportação de produtos ilhéus, as comunidades imigrantes, dispõem de meios de comunicação social que lhes mantêm a par de tudo o que se passa na sua ilha natal.

Existe um outro grupo mais pequeno mas talvez mais influente e culto. É formado por aqueles que trabalham no continente português. São sobretudo técnicos superiores. Vêm geralmente nos meses mais seguros do verão.

Os de fora da cidade, oriundos de outras partes da ilha, ocorrem sobretudo no período das Cavalhadas (29 de Junho) e do Natal, entre estes, chegam os da cidade mas que moram fora dela. Estes últimos, por várias razões, têm vindo a distanciar-me da vida social da sua terra de origem. Os turistas (os de fora da ilha) começam a chegar em maior número a partir do mês de Junho mantendo-se o fluxo até finais de Setembro. Julho e Agosto são os meses de maior afluência.

A situação geográfica das ilhas (veja-se Mapas I e II) não condicionará tanto quanto as tarifas aéreas. O preço das deslocações inter-ilhas são muito pouco em conta assim como a viagem do continente. A ilha que atrai mais forasteiros, segundo as estatísticas, é a ilha de São Miguel.

A maioria dos turistas vêm através de agências de viagens e ficam poucos dias. Como não existem hotéis na Ribeira Grande alojam-se em Ponta Delgada. Todavia todos os programas turísticos passam pela Ribeira Grande e pelo Arcano.

Há um outro tipo de turismo, de maior qualidade que o primeiro,  formado por reformados ou por quadros técnicos superiores dos países do norte da Europa. Vêm para cumprir um circuito cultural mais rico e ficam menos dias do que os anteriores. Estes ainda vêm em grupos mas nada têm a ver com as agências locais.

Finalmente, todos aqueles que vão por sua conta e risco e que incluem os “turistas de mochila” às costas, jovens quase sempre, e toda uma gama de outros.

Existem inúmeras brochuras para auxiliar o viajante (ainda o ano passado a Câmara editou um guia do concelho), em todas elas o arcano é ponto obrigatório.

 

 

Estes serão os nossos públicos.

 

Temo os horários de abertura intensos e longos. Temo igualmente o crescimento do público visitante. A média de 40 a 50 pessoas, no máximo, a visitarem simultaneamente o arcano pode ser ultrapassado. Gostaria de discutir e ponderar uma solução que evitasse a entrada a mais de x pessoas em simultâneo. Número e tempo limite de visita? Tentar-se-á oferecer tarifas mais baixas nas horas de ponta? Gostaria de saber a opinião dos mais experientes. Teremos os visitantes normais, acima descritos, mais o público (alunos e também visitantes) das oficinas .

 

 

Espaço real da Casa do Arcano: Seu estado actual.

Palco interior e exterior da nossa encenação.

 

O segundo piso (de acordo com a planta) tem um pé direito de cerca de 3,60 m e o alçado principal mede 7,90m de altura e 14,90m de comprimento. (66) (fotos 9 a 13. Plantas IV a VIII ). Todo o segundo piso, sem tabiques rondará os 112m2, incluindo o espaço da cozinha. O primeiro piso (rés-do-chão), por seu turno, andará à volta dos 154m2, incluindo o espaço da pequena casa arruinada a poente. O sótão terá cerca de 54m2, um pé direito máximo de 2m (até ao forro), numa largura de 4 metros.

O logradouro (antigo quintal), tendo sido amputado recentemente, conta com cerca de 37 m2. (67) (Planta VIII) Eis, mais metro, menos metro, o palco real do nosso projecto.

O tecto do segundo piso poderá ser subido ou rebaixado visto ser um estucado de ripas. (veja fotografias 11 e 12) O reboco, tanto das paredes interiores como das exteriores, em mau estado, permite infiltrações, é constituído à base de uma terra vulcânica chamada tufo, de cor cinzenta, do barro, da areia e da cal, ao que suponho. As paredes são “aparelhadas” com pequenas “rachas” de pedra basáltica da pedreira ali a dois passos (fotografia 3), exceptuando-se os vãos, a cornija e os cantos. O chão, o que resta dele, em parte foi roubado, é soalho de pinho resinoso. (não é o da terra como o povo diz. (Fotografia 13)

As portas que comunicam com o exterior medem 1 x 2 m e as janelas l x l, 5m. A escada interior de pedra é um pouco íngreme, tem à volta de 1,30m de largo. Cada degrau tem 30 por 30 cm. Do primeiro ao último degrau mede 4,7m. Se imaginarmos um triângulo terá de altura 2,8m, 3,9 de largura e os 4,7m, já referidos, no lado oposto ao do ângulo recto. Precisaremos de um dispositivo para os deficientes. (68) A casa não tem vestíbulo, a porta da entrada comunica logo com a escada. Onde será a entrada do museu? (veja-se Planta VIII) Numa das outras portas que dão acesso a quartos? Qual delas?

A primeira camada de argamassa é de barro. Os tectos em duas águas (a desaguarem para a fachada principal e para o quintal) estão cobertas com telha de barro de fabrico local. (69) (vêm-se mal nas fotografias 9 e 10) O forro está assente em vigas e em barrotes que aproveitam a madeira quase tão-só afeiçoada com a enxó o quanto baste. (70)

O chão das lojas (lº piso segundo a planta. Rés-do-chão?), em parte é lajeado em pedra basáltica aparelhada com o picão, em parte foi acimentado e ainda, quero crer, a que corresponderia à das lenhas, em terra batida. Tanto quanto a memória não me está a trair, registe-se.

Em Outubro passado, 1993, foi aberta una pequena vala exterior, ao longo do alçado lateral esquerdo (veja-se Planta V) de cerca de 70cm de profundidade e de 50cm de largura (depois de retirada a areia e os paralelepípedos da calçada). Pude então verificar, o meu quintal dá para a mesma rua mas do outro lado do passeio) a existência de uma imensa pedreira, em redor da qual se encontrava uma canada de pedra pomes.

Segundo a “mestrança” da cidade, toda aquela área até à igreja, subindo a rua das Pedras, é simptomático o nome, estaria assente sobre pedreiras. A própria igreja. Facto que pude ir comprovando ao acompanhar a abertura de valas naqueles locais nestes dois últimos anos. (71)

A casa tendo sido consecutivamente habitada desde 1870 (data em que foi como dissemos vendida) (72), tem estado desabitada desde que o seu último inquilino imigrou para os Estados Unidos da América, na década de sessenta. (73) A varanda tem cerca de 0,5m de sacada por 4,70m de comprimento. A balaustrada, em ferro fundido, tem um metro de altura. A placa azulejar entre as duas janelas portas que dão acesso à varanda foi aí colocada em l962 por deliberação da edilidade de então a fim de relembrar os ribeiragrandenses quem fora Me. Margarida. (74)

Para o quintal desce uma escada de pedra em cujo patamar sobre um pequeno balcão de onde se pode desfrutar uma magnífica vista da baía da Ribeira Grande. O mesmo se poderá dizer da nesga de quintal que restou do último desmembramento? Este, infelizmente, ficou esmagado pelos quintais vizinhos.

Todo o primeiro piso (r/c) foi, segundo o que se pode apurar da consulta atenta do testamento (terá sido atenta?), utilizado para a adega, o celeiro e arrumo das lenhas. Existem, porém, indícios de uma reutilização posterior com fins habitacionais. Aliás tal como foi confirmado pelo último proprietário. No quintal vê-se um curral de porcos e vestígios de galinheiro, mais a pia de lavar roupa. Desconhece-se, todavia, se no tempo da madre eles já existiam, ou se existiriam só os pátios onde os animais andavam livremente. (76) Vê-se hoje uma figueira, junto ao curral de porcos e à estrumeira, restos de canteiros de flores, de latada de uvas e de espaço para ervas caseiras e culinárias. Não existe, no entanto, prova documental de que tal tenha existido no tempo dela. A cozinha, a casa pequena tem outra, possui um forno de pão a lenha sendo o chão lajedo. Esta estrutura assenta numa “mesa” de pedra, como se poderá constatar observando a    Planta VIII, que segura o peso da chaminé, do forno e do balcão contíguo. (o ano passado observei um idêntico quando acompanhei a sua demolição) De tudo isso o que virá do tempo da Madre? O que se poderá deixar da memória da casa? (77)

A casa encontra-se bastante degradada. Todos os estuques estão a cair de podres. Para tentarmos a sua recuperação e o acolhimento do filho pródigo (arcano) esboçámos uma proposta académica, que poderá eventualmente ser utilizada, de candidatura a fundos de apoio. (75)

 

 

Sugestão de novas apresentações do Arcano: Rabiscos e esboços.

 

Deixem-me dizer duas ou três coisas prévias. Primeiro eu gostaria de sentir o espaço concreto (será monopólio do arquitecto?). Como o pretendia Raul Lino: No próprio palco da futura encenação e suas envolventes. E gostaria de o sentir em casa, quando o estivesse a “imaginar”, numa “maqueta” tipo da que vi na Fundação Calouste Gulbenkian. Só assim me sentirei capaz de começar a entender o meu parceiro arquitecto.

Vamos ao caso concreto do arcano. Deixá-lo tal qual, sem mais nem menos? Não, creio que não. Já vimos as dificuldades da sua leitura. Deixá-lo dentro do móvel mas criar uma estrutura que permita ao visitante ver cada uma das prateleiras (leis) a 1,50m de altura? Primeiro, falemos de uma hipotética estrutura fixa. Por outras palavras, tudo o que se faria nesta sugestão, seria fora do móvel sem mexer nele. A primeira prateleira, cada uma tem cerca de 80 cm de altura, para ficar a 1.50m (altura de visão padrão?) teria de ficar levantada do soalho 1,10m (?). Até aí, se não me falham as contas, tudo bem. A segunda, a do meio, ficaria a 2,30m e a última a cerca de 3,10m. Seriam ambas invisíveis. A não ser que se fizesse uma estrutura ao nível da base do móvel, porém, sendo tal concerteza tecnicamente possível, não sei se economicamente viável, seria desastroso em termos museológicos.

E uma estrutura não fixa? Ou seja o Arcano seria regulado para subir e descer à altura ideal de visão? Será tecnicamente possível mas, pelas razões anteriores, indesejável.

Retirar do móvel? Vamos a ver e a ponderar. Retirar tudo do interior do móvel e espalhar os conjuntos pelo espaço do segundo piso? Alguns conjuntos, como já dissemos, “querem ser vistos” por vários ângulos, dificilmente o poderão ser se permanecerem no interior do móvel. (fotografia 17) Ou não se poderá realçar pormenores (fotografia 19) Ou ainda dificilmente se falará dos incompletos ou se documentará as técnicas e as fases de fabrico. Mas como Manter ainda assim a coerência intrínseca da obra?

Esta parece apontar para que cada prateleira corresponda exactamente a cada uma das três leis que Deus deu ao Mundo. Por conseguinte, bem ou mal, cada uma terá de vir junta e “intacta” e uma a seguir à outra. Seria assim “vantajoso” (do ponto de vista museológico) retirar do móvel uma a uma cada prateleira e dar-lhes destaque? Como se poderá ainda conciliar a coerência da obra com a sua visibilidade/lisibilidade? Não sei e espero que o meu colega arquitecto me ajude a encontrar a solução adequada. Evidentemente sem se esquecer dos requisitos da sua conservação. (78)

Não basta só dizer-se que se optou pelo segundo piso, creio ser igualmente necessário decidir o que se fará aos tabiques? Conservam-se ou não? À primeira vista, não me parecem relevantes, por um lado, por outro, mesmo que o fossem, teríamos de optar entre eles e o arcano. Julgo que equacionei bem a situação. Todo o segundo piso ficaria um espaço aberto? Parte? Existirão, à partida três obstáculos:

 

1 - o acesso à falsa (sótão)

2 - escada principal

3 - cozinha e exterior.

 

Como resolver o problema daqueles acessos no espaço da exposição permanente? Só o diálogo entre os técnicos envolvidos no projecto no confronto com os objectos e o espaço concreto poderá trazer respostas. Creio que, nas conversas posteriores, quando o programa estiver mais amadurecido, se poderá avançar para soluções conforme os objectivos pretendidos.

Como regra, ou pacto de jogo, deve existir um acordo de cavalheiros entre o arquitecto e o museólogo. Primeiro qualquer solução deverá ser tomada consensualmente. Segundo, o arquitecto tem de ser discreto mas não ao ponto de se apagar. Por seu turno o museólogo deve refrear o seu ímpeto (defeito) de   prolixidade. (78)

 

 

Tentativa “esforçada” de resumo deste esboço preliminar de programa museal.

 

Receio bem que, para uma primeira abordagem, a informação aqui avançada seja desequilibrada, enfim prolixa. Após o primeiro contacto tentarei de adequá-la. Por outro lado, subdividi este trabalho em duas partes. A primeira poderá ser facultativa, todavia, nela incluí muita informação útil à segunda, esta sim, objecto inquestionável desta disciplina.

Sem qualquer experiência prévia de trabalho de equipa com o arquitecto (79), mas, porventura, (intuindo) apercebendo-me do interesse, predisponho-me a encetar o mais despreconceituadamente e o mais interdisciplinarmente possível, esta caminhada. Não existirão regras definidas, suponho. Cada arquitecto e cada museólogo, traçará o seu percurso e cada projecto será único.

Neste caso concreto, parto do princípio que o meu parceiro (é a realidade) nunca trabalhou em museus ou em exposições museológicas. Por conseguinte, se calhar exagerei, julguei em boa-fé, útil fornecer-lhe dados mais detalhados. Até porque ele desconhece tudo sobre o arcano e o que se pretende.

Fi-lo não só para que “sentisse e visse” a pessoa que fez os objectos e não só os objectos mais o espaço e o seu contexto espácio-temporal envolvente. Mais, que sentisse as vivências, passe a insistência, da casa, sobretudo a da sua proprietária mais ilustre: Me. Margarida Isabel do Apocalipse. Para além do mais, incluímos toda a informação da sua conservação.

Numa segunda conversa, se o arquitecto ainda estivesse interessado (e que aceitasse o nosso compromisso de cavalheiros), adiantaria o guião (programa escrito com as peças seleccionadas com medições, sua história, motivos de realce ou outros motivos e aspectos de relevância...). (80)

 

 

Post-Scriptum

(a propósito, creio eu!)

 

O nosso palco é um espaço reconhecidamente exíguo e mais exíguo se tornará com o aumento previsível de visitantes/utentes.

Precisamos, pois, de bastante espaço para uma correcta circulação, materiais seguros e “baratos”. Talvez tenhamos, no confronto com o espaço real, de sacrificar o “acessório” ou o não tão essencial. Talvez tenhamos de pensar seriamente num “modelo de visitas” que preveja um “plafond máximo”. As oficinas e o auditório mais o espaço administrativo (inclusive reservas? Inclusive sala de primeiros socorros?) poderiam e deveriam ficar de tal modo que não interferissem  no museu nem nas exposições temporárias?

Convido-o a vir comigo ver a Ribeira Grande e a casa do Arcano?


Índice/Notas

 

 

(1) Ribeiro, Maria Isabel Macedo, Estudo Científico do Arcano Místico, Instituto José de Figueiredo, Lisboa, 1988.

 

(2) Moura, Mário Fernando Oliveira, Vida e Obra de Me. Margarida Isabel do Apocalipse, (trabalho manuscrito), 1988.

Moura, Mário Fernando Oliveira, Excertos da vida e da obra de Madre Margarida  Isabel do Apocalipse mais notas sobre a sua musealização e restauro, IV Ciclo de Cultura Açoreana - Mississauga, Ontário, Canadá - Outubro/Novembro - 1990.

Moura, Mário Fernando Oliveira, Arcano Místico de Me. Margarida Isabel do Apocalipse. Considerações acerca da sua conservação e musealização. 1993, (trabalho curricular para a cadeira do Eng.º Elias Casanovas - Conservação e restauro).

Moura, Mário Fernando Oliveira, O Arcano Místico de Madre Margarida Isabel do Apocalipse: De sua a nossa. (Tentativa  de história diacrónica comentada de uma identidade), 1994 (cadeira do professor Adolfo Yanes Casal).

 

(3) Idem de (2).

 

(4) Deslocando-me com regularidade ao Palácio Galveias (Biblioteca Municipal) e à Hemeroteca Municipal para me manter a par das notícias da minha terra deparei com um trabalho do Hugo Moreira sobre uma maquineta de presépio, hoje propriedade da Matriz de Ponta Delgada, contemporânea do arcano e da escola de Machado de Castro (se não me erra a memória). Tinha já feito um levantamento dele e dos demais da ilha e dos do continente, nomeadamente Museu Machado de Castro, Sé de Lisboa e Museu Nacional de Arte Antiga. (Ver fotografia 19)

 

(5) Móvel - Numa observação mais cuidada verifiquei que a madeira seria de pinho resinoso. Cada lado tem cerca de 36 vidros de 31,5 x 31,5 cm, seis fiadas de 6 vidros cada. Tem de altura: 1º da pata com garras que serve de suporte até ao vidro mais alto são 2,44 m, até ao cocuruto 2,70 m. De largura 2,28 m. O fundo do armário é de pinho branco, sendo da mesma madeira o estrado onde hoje se encontra. Veja-se a este propósito a Planta XIX. O estrado, por debaixo do móvel, não assenta directamente no chão. Há uma trave grossa, em jeito de coluna que, atravessa desde o topo do armário, rompendo-o, bem como na base, indo-se travar numa pequena armação no soalho. Cada uma das três prateleiras, aliás a primeira tem o tecto pintado de azul celeste polvilhado de fantasiosas estrelas. Cada prateleira terá pouco mais de 80 cm de altura e 2,28 m de comprimento, exceptuando-se a primeira que terá um pouco mais de altura. Observações levadas a cabo no dia 31 de Dezembro de 1986. Fotografias 15 e 16. Planta XIX.

 

(6) Conforme documento da confraria do Santíssimo Sacramento. Arquivo paroquial da Matriz da Ribeira Grande. Fotografia 15.

 

(7) Idem da nota (2).

 

(8) Testamento da Madre Margarida Isabel do Apocalipse, arquivo paroquial da Matriz.

 

(9) Idem.

 

(10) A isto me refiro no trabalho curricular do professor Adolfo Casal.

 

(11) Carta de Madre Margarida a sua sobrinha - 1853 inédita - arquivo do Sr. Agnélo Borges seu descendente (Abelheira - São Miguel).

 

(12) Idem.

 

(13) Idem.

 

(14) Veja-se a fotografia.

 

(15) Testamento.

 

(16) Carta a sua cunhada.

 

(17) Idem.

 

(18) Idem.

 

(19) Peixoto, João Albino, “Hino da Sociedade Escolástico Ribeirense”, 1850.

 

(20) Idem.

 

(21) Costa, José Félix, “O Arcano”, Estrella Oriental, 1856.

 

(22) Freitas, José Joaquim de Sena, “Um Presépio”, in Norte, 23 de Janeiro de 1897.

 

(23) Idem.

 

(24) Idem.

 

(25) Julgamos, tal como já o indicamos do Prof. Yanes Casal que tal se engendrou para impedir a sua venda testamentária.

 

(26) O trabalho foi iniciado em Abril de 1987 com o envio de amostras. Verificou-se que eram constituídos por materiais solúveis em água e por pigmentos de origem mineral, contudo, dada a necessidade de se estabelecer os contextos  das amostras, e, afim de se obter novas colheitas mais representativas do todo da obra, deslocou-se à Ribeira Grande uma equipa do laboratório.

Chegou em Novembro de 1987, sendo constituída por um fotógrafo (sr. Manuel João Palma) e uma engenheira (Maria Isabel Ribeiro). O primeiro procedeu ao levantamento a preto e branco e a cores de todo o interior e o exterior do móvel. A segunda recolheu amostras representativas de todos os materiais a cores. Inquiriu-se igualmente sobre as técnicas de feitura. Já no laboratório, procederam a exames de estratigrafia, de estrutura, espectrometria IV e cromotografia gasosa.

 

(27) Idem de 1.

 

(28) Idem.

 

(29) O arcano, a bem dizer, sempre esteve musealizado, o que se pede agora é uma “nova musealização”.

 

(30) Ver fotografias 9 a 16.

 

(31) Cf. 1.

 

(§§) Idem. Fica anulada!

 

(32) Veremos adiante porque sugerimos esta exposição. Coerência temática. Cada prateleira representa um estado de lei.

 

(33) Desconheço se a actual direcção do Instituto estará na disposição de continuar a colaborar no projecto. As novas directivas emanadas da tutela não o permitirão. Resta-nos a privada?

 

(34) Consultamos uma série de artigos, sobre o tema, desenvolvidos na Califórnia.

 

(35) Fotografias 9 e 10.

 

(36) Quanto à falta de verbas tentaremos colmatar este aspecto conforme a proposta que elaboramos para o trabalho curricular de Gestão. Quanto à validade da proposta de conservação natural, monitorizada embora com a aparelhagem aconselhada e referida no início deste trabalho, foi objecto de aprovação (benção) por parte do Eng.º Elias Casanovas.

 

(37) A este respeito falei mais detalhadamente no trabalho curricular de Gestão. Fotografias 9e 10.

 

(38) Planta I, Transparência 1. Nótula sobre estes pólos. As ermidas são quase todas dos séculos XVI, XVII e XVIII (Santa Luzia, Santo André e Rosário do      século XVI / Salvação do século XVII / São Vicente Ferrer do século XVIII). As três primeiras foram mandadas erigir pelas irmandades. Por exemplo a do Rosário surge ligada aos escravos. A da Salvação e a de S. Vicente pertencem a dois solares. A primeira tem uma bonita tabela brasonada. Estou presentemente a estudá-la.

A igreja Matriz, dedicada a Nossa Senhora da Estrela (ver fotografias 14 e 15) foi primitivamente construída em 1504 (não falamos aqui de uma provável ermida anterior dedicada à Sr.ª do Loreto), a actual foi reconstruída no início do segundo quartel do século XVIII. O exterior exemplifica a sobriedade do barroco islenho, eu diria mesmo que são mais apontamentos. O interior documenta o barroco decorativo não estrutural. A igreja do Espírito Santo, foi outrora da Santa Casa da Misericórdia e foi construída na segunda metade do século XVIII. É o melhor exemplo do barroco nortenho. A sua fachada, côncava e convexa, está carregada de simbolismo como já tentei demonstrar. O interior, para além de ter só duas naves, como o tem a da Misericórdia de Vila Franca do Campo, por exemplo, é de uma vulgar igreja “Chã”. Tem apontamentos Barrominianos e tem qualquer coisa do barroco do Aleijadinho? Influência dos abrasileirados da Ribeira Grande? Os Passos Quaresmais (foto 6, ao fundo a seguir ao edifício da Câmara Municipal) são pequenas ermidas com os passos da Paixão de Cristo. Vi-os, por exemplo, em Guimarães, e nalgumas localidades do Alentejo por onde passei recentemente (Ponte de Sôr e Mora). Os da Ribeira Grande são de 1791.

 

(39) Veja-se Plantas I e III.

 

(40) Plantas I e III.

 

(41) Roberto Oliveira (arquitecto), José A. Gonçalves (arquitecto), Mário           Moura (historiador), Inventário do Património Arquitectónico da Ribeira    Grande - Secretaria Regional do Equipamento Social, Direcção de Urbanização e Ambiente, 1988.

Neste trabalho que tive o prazer de colaborar com dois colegas arquitectos propusemos a criação do centro histórico coincidindo com o centro administrativo, porém, até hoje a Assembleia Municipal, não conseguiu chegar a qualquer consenso dado os interesses em jogo. Quanto ao P. D. M. A ser feito por gente de fora nada sei a não ser que estarão eventualmente trabalhando. Um destes dias, e é curioso registar-se, apareceu um a alguém que eu conheço bem, com “uma lista de compras”, subentenda-se uma lista de questões para o outro ver e o outro (esperto) aproveitar. Estes P. D. M.’s só servem para dar uns cobres a uns poucos, mais nada.

 

(42) Idem de 41. Veja-se as Plantas sugeridas anteriormente.

 

(43) Até ao momento não se lhe reconhece qualquer benefício evidente (substancial) para a Ribeira Grande. Há quem diga que serviu de “Vazadouro” da cidade de Ponta Delgada. Sou de opinião de que ainda não houve tempo para se sentir os efeitos.

 

(44) Existem, naturalmente, estatísticas, mas não disponho delas aqui. Todavia, não existem grandes números. É expressivo entre os meses de Junho e Setembro. Há o turista e há o migrante ou imigrante local que regressa de férias. Veja-se Mapa III.

 

(45) A casa do arcano mais duas adjacentes, todas elas foram propriedade da madre que as foi adquirindo. Fotos 9 e 10. Plantas IV a VIII.

 

(46) Todos os de frades foram fechados, só ficaram três de freiras, um na Horta, outro em Angra e o terceiro em Ponta Delgada. Nas ilhas os decreto antecede de cerca de dois anos e decreto de 1834. Veja-se a Planta I, Transparência 1.

 

(47) Aos seis de Março de 1844 assina a escritura de compra e venda de uma casa sita à travessa dos Cabidos, 6. Hoje rua Me. Margarida do Apocalipse. Esta casa ainda faz parte do espaço que nos propomos musealizar. Veja-se a planta V.

 

(48) À frente referirei os outros desígnios deste museu.

 

(49) Veja-se fotografias 10 a 13.

 

(50) Querem lá colocar tudo o que puderem, inclusive o presépio movimentado (do início do século XX, hoje depositado na Casa da Cultura local) que ocuparia, só ele, uma sala enorme, não esquecendo que tem um determinado tipo de público, o museu de Arte Sacra, o arquivo e a Biblioteca. O meu papel será o de contrapor um aproveitamento mais coerente e que “CAIBA”.

 

(51) Fotografias 9 e 10. Tenho visto símbolos iguais um pouco por todo o norte do nosso país. Por exemplo, no Museu do Vairão vi inúmeras cangas ou jugos de bois com eles. Existem profusamente em Trás-os-Montes. No norte da Itália também. Veja-se o esboço que fiz no fim destas notas.

 

(52) Avental. Rectângulo em pedra igual às vergas dos vãos colocado na sua continuação e com a mesma espessura. Veja-se desenho no fim.

 

(53) Veja-se desenhos que fiz no fim.

 

(54) Veja-se fotografias 11, 12, 13 e 9 e Plantas IV a VIII.

 

(55) Veja-se Planta IX e fotografias 14 e 15.

 

(56) Codicilo do Testamento de Me. Margarida Isabel do Apocalipse, Arquivo Paroquial da Matriz, Ribeira Grande.

 

(57) Freitas, Cónego José Joaquim de Sena, “Um Presépio”, in Norte, 23 de Janeiro de 1897, nº 89 (n/t página). Este artigo foi originalmente publicado no “Correio Nacional” por alguém que aos 9 anos vira o arcano e que passados 50 anos escrevia de memória sobre ele. Será um testemunho fiável.

 

(58) Idem.

 

(59) Costa, José Félix da, “O arcano da freira”, in Estrella Oriental, 11 de Julho de 1856. Planta IX, fotografias 15 e 16.

 

(60) Quanto à sua transferência do coro, penso que o assunto será explicado rapidamente:

1 - A transferência em 1870 foi um expediente. Queria-se vender a casa mas para o fazer e maximizar o seu valor haveria que desimpedir o quarto do arcano.

2 - O arcano transformou-se num pólo de desassossego para a igreja. Tumultos e algazarras.

3 - Aquele móvel impede a luz de penetrar na nave do Santíssimo. Veja-se fotografia 15.

4 - Pelo menos desde 1903 se pensa em transferi-lo. Transferi-lo para a sua casa primitiva parece-me lógico

 

(61) Parece-me que apesar de haver vestígios do seu uso, a técnica da freira não teve antecedentes nem sucedâneos. Quero lançar este artesanato. Questões de desenvolvimento local.

 

(62) Tenho estes documentos transcritos.

 

(63) “General description of St. Michael’s - History of the Azores or the Western Islands”, 1813, pág. 195.

 

(64) esta casa será a sede do tal museu que, tal como já referimos, incluirá a Matriz e as ermidas, os Passos e o presépio movimentado. Resumirá o que se poderá ver na casa e fora dela. A ligação com o exterior far-se-á através igualmente da realização de visitas guiadas ou de material de apoio para os que queiram fazê-lo sozinhos. Ou ainda outras soluções, como por exemplo “cassetes” audio alugadas?

 

(65) Veja-se Planta VIII.

 

(66) Veja-se Planta I e fotos 9 a 13. E também Plantas IV a VIII.

 

(67) Já depois da paróquia ter recebido a oferta das 2 casas por razões de ordem económica, esta vendeu parte do quintal a dois vizinhos. Há dois ou três anos, salvo erro. Estas contas são aproximadas. Planta VIA.

 

(68) Pelo que V. Ex. disse existirá um dispositivo simples.

 

(69) Desenho no fim.

 

(70) Se não me falha a memória. Veja-se desenho no fim.

 

(71) Nos anos setenta abriu-se a rua das Pedras (Sousa e Silva), salvo erro.

 

(72) Recolhi dados sobre os inquilinos até à actualidade.

 

(73) Ele já regressou há alguns anos. Junto dele tenho recolhido muitas informações acerca de mudanças na casa.

 

(74) Ironicamente contém imensas inexactidões.

 

(75) Tema da cadeira de Gestão.

 

(76) Espaço onde livremente os animais andavam e não a fase mais organizada do galinheiro e do chiqueiro.

 

(77) A recolha fotográfica de todo o existente actual será a documentação para ajudar neste aspecto. Não sou favorável à reconstituição inventada. O que acabei de fazer sobre o quintal poderá correr este risco. É difícil saber se o quintal actual tal como está organizado corresponde ao quintal de Me. Margarida.

 

(78) Desde que comecei a estudar o arcano tenho pensado em várias soluções.

 

(79) Quase o tive, porém, o meu colega, por excesso de trabalho, roeu-me a corda. É uma maneira brincalhona de dizer que fiquei sozinho.

 

(80) Exemplo:

1 - Um conjunto enorme sem legenda específica. Dei-lhe então o número 78 e tem de comprimento 1,30 e de largura 35 cm.

2 - Exemplo de um pequeno.

Casa de São José, Jesus e Maria Santíssima no Egipto, alt. 20 x 20, comp. Realce-se as expressões e o vestuário. Esta peça deveria ser vista de frente e de três quartos. Por exemplo. A casa de S. José no Egipto só existirá na imaginação não nos livros sagrados, etc...

3 - Um que finalmente nos parece indicar a média deles.

“Casa de Pôncio Pilatos”, alt. 63 x 67 cm de larg. O tema de Pilatos é muito caro à religião cristã, pelo menos no catolicismo. Outro aspecto a realçar?


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