Mário Fernando Oliveira Moura
Azulejos de
corda seca e de aresta das terras do ex-mosteiro de Jesus da Ribeira Grande
Ribeira Grande
«Quiero,
en primer lugar, felicitarte por la dedicación que has puesto en el estudio de
estos azulejos sevillanos.»
Alfonso Pleguezuelo, Sevilha,
5 de Maio de 1990
Introdução
As linhas que se seguem ocupar-se-ão de memórias:
memórias de fragmentos de azulejos de corda seca e de aresta do Museu da
Ribeira Grande encontrados nas terras e vizinhança do antigo mosteiro de Jesus
da actual cidade da Ribeira Grande, ilha de São Miguel.[1]
Deixaremos para outra ocasião, possivelmente para o relatório das escavações, o
tratamento dos azulejos seiscentistas de padrão policromo - até ao momento
temos descoberto, de acordo com a tipologia proposta por Santos Simões em a ‘
Azulejaria Portuguesa na Madeira e nos Açores’, Dentes de Serra, B2, P 35 e P
37 - , nem discutiremos os vestígios de monocromia azul e branca,
provavelmente, seis, sete, oito e novecentista , nem trataremos dos
‘embrechados’ e demais cerâmica não azulejar. Não apresentaremos, igualmente,
exemplares líticos: fontanário ( em traquite); ombreira de porta com chanfro
gótico ( traquite); cilindros basálticos ( fustes afeiçoados a pés de cafuão?)
; nicho basáltico; fragmentos de capitel e de colunelo; elementos de frontão,
entre outros. Igualmente não apresentaremos, pelas mesmas razões, o que resta
da “roda conventual” ( na garagem do Sr. Pinheiro), o interior da casa do Sr.
Gaipo, ou a “Casa dos Confessores”, o que, insistimos, tencionamos fazer no
relatório das escavações.
Centraremos a nossa análise nos fragmentos
recolhidos em 1989 e Março de 1998 - achados de superfície obtidos aquando do
alargamento da rua de Trás-os-Mosteiros -, e de Abril e Maio de 1998 - no
sector quatro, camada três.[2]
Porquê este opúsculo enquanto se desenrolam escavações e qual o valor
científico das hipóteses adiantadas e
das propostas de reconstituição de cada elemento. Qual a pertinência de o
apresentarmos desligado do contexto mais vasto? Por um compromisso entre o
cumprimento de prazos editoriais e a necessidade de ir fazendo o ponto da
situação, de ir mantendo o público interessado, de alertar os utentes do museu
para o valor e o interesse na continuação do estudo científico daquela ‘terra’.
Não é todos os dias que surgem fragmentos de corda seca sevilhana: únicos no
dizer do especialista Alfonso Pleguezuelo. Ou quando, ainda em Abril de 1989,
José Meco escrevia que: « A azulejaria do século XVI não teve qualquer expressão
colonial, tanto hispano-mourisca sevilhana, na primeira metade do século...
Apenas a Madeira constituiu ligeira excepção.»[3]
Não será, além do mais, precipitação, pois, o espólio recolhido em 1989 foi já
objecto de comunicação no Palácio Fronteira e de um artigo, de carácter mais
abrangente e generalista, a publicar recentemente em periódico. Nas últimas
semanas, e enquanto escrevo estas notas, descobrimos, pelo menos, o triplo do
que descobríramos em 89.
Validade?
Baseado em achados de superfície - em 1989 e 1998- , e em entulho do sector quatro,
terceira camada, por ora, só podemos afirmar que os fragmentos de azulejo foram
encontrados nas terras que pertenceram durante três séculos ao mosteiro de
Jesus - dada a persistência, a necessidade de alargar a área de cultivo e a
consistência dos achados é pouco provável que tivessem sido utilizados em outro
local e sido trazidos para lá como entulho - ; por conseguinte, é plausível que
tenham pertencido ao mosteiro. Toda a evidência produzida, até ao momento,
ainda que reconhecida e confessadamente “ circunstancial “ e inconclusiva,
aponta, não obstante , decididamente para tal conexão.
É
muito mais difícil provar-se o contrário, ou seja, provar-se que aqueles
fragmentos ali encontrados não pertenceram nem às casas dos instituidores nem
sequer aos edifícios do antigo mosteiro. Bom seria estabelecer-se um contexto
estratigráfico e uma análise às pastas, o que contamos fazer.[4]
Entretanto,
para já, examinando os fragmentos azulejares- análise formal -, é possível
obtermos, com alguma probabilidade, o local do seu fabrico, e, à falta de dados
específicos sobre a sua cronologia - documento arquivístico - , saber, ao
menos, o período cronológico provável do seu fabrico.
A certeza das reconstituições propostas varia em
grau. Estamos convencido, por exemplo, da apresentada para os de corda seca.
Além de que, o modo da sua colocação, a exemplo do que vemos na Sé de Coimbra,
Paço de Sintra, Quinta da Bacalhoa, mosteiros e igrejas pelo país fora, exceptuando-se
os do convento de Beja, obedecer a um gosto que os utilizava já de modo semelhante
ao utilizado para o padrão policromo seiscentista, recorrendo a combinações
quase infinitas - exemplo da superfície parietal da igreja de S.Paulo de
Frades, ou mais repetitivas - exemplo de frontal de altar da igreja de São João
das Lampas: utilização pavimentar e parietal. Sem mais provas arqueológicas
dificilmente saberemos mais sobre o onde e o como da utilização destes
azulejos. Estariam em uso após a destruição de 1563? Precisamos de mais provas
para formularmos opiniões mais sólidas, todavia, o estado dos seus vidrados e
os restos de argamassa no tardoz, parecem confirmar o seu uso para além daquele
período.Em ‘embrechados’, ou em outras reutilizações ? Não o sabemos.
Porquê esta publicação pela Associação Ecológica
Amigos dos Açores? Não só por ser seu sócio mas também, em nosso entender,
graças ao seu modo correcto e saudável de encarar o património cultural e
natural de um modo humanizado:
“ Nor should we stress too much the dichotomy of nature and culture, since
Kenneth Olwig ( in vol. I) had alerted us to their profound and complex
interconnections. Indeed, the very idea of nature as heritage is itself a
product of cultural imagination.” [5]
Finalmente, o esforço de recolha arqueológica
prende-se, em primeiro lugar, tal como a demais recolha, pesquisa, exposição e
estudo, com o projecto museológico para a
Ribeira Grande levado a cabo pela autarquia em colaboração com a Santa
Casa da Misericórdia.
Dedicamos estas linhas singelas, além da Filomena,
Filipa e Júlio, a todas as freiras do
convento de Jesus, a Ezequiel Moreira da Silva e ao Dr. Manuel de Sousa
Oliveira.
Breve
contexto: Viagem do início da ilha ao tempo dos azulejos
Desligo
a chave da ignição. Deixo os médios acesos. Gravador pronto.
Lá
em baixo, no prolongamento do feixe luminoso, enxergo um extenso salpico de
luzes que, naquele instante, por obra de qualquer associação subconsciente de
ideias, me parecem ser as velas cravejadas do bolo agridoce do tempo e do
espaço da Ribeira Grande.
Da
cidade de agora, então quase sem me aperceber, desprende-se o meu pensamento em
direcção ao ermo de outrora, passageiro clandestino na máquina do tempo do
professor Pardal, meu mestre das ‘estórias’ de banda desenhada.
A
Lua , quase cheia, veste-se e despe-se de nuvens sopradas por um vento forte.
Amanhã por certo choverá. E choveu!
Primeiro,
só mar. De seguida, a nascente, à minha direita surge parida na dor de muitas
convulsões e espasmos, a ilha de Nordeste.[6]
Depois,
à minha esquerda, a poente, surge a ilha das Sete Cidades. Finalmente, no sítio
onde me encontro, surge a última a unir as duas primeiras, perfazendo quase os
742 quilómetros quadrados da ilha mais tarde baptizada de Arcanjo São Miguel.
Este último naco de terra, na zona dos morros, e em seu redor, sofreria abatimentos
geológicos, segundo ainda o mesmo Professor, da ordem das centenas de metros.
Estou
a cerca de 1 444 quilómetros a ocidente de Lisboa e a menos de
2
000 da Terra Nova. O arquipélago encontra-se implantado na cordilheira
submarina denominada ‘Dorso Atlântico’.[7]
À
minha volta esvoaçam pássaros; os seus primeiros descobridores. Alguns ficaram.
Alguns, como o ‘priolo’, transformam-se. A floresta da ‘Laurisilva’ cobre
completamente o terreno. Gaspar Frutuoso descreveu a vegetação do seguinte
modo:
«
Muitas vezes se andava grande espaço de terra sem por os pés no chão, se não
por cima das árvores que estavam verdes, deitadas e alastradas umas por cima
das outras, com que ficavam liadas e cobriam toda a terra, pelo que não havia
caminho se não por cima delas…»[8]
É
no espaço entre estas duas ilhas primitivas que se situa a zona mais fértil e
mais plana da ilha. Nele se implantaria o lugar da Ribeira Grande de início
sufragâneo de Vila Franca do Campo.
Como,
quando e quem iniciou o aproveitamento sócio-económico da ilha e da Ribeira
Grande ?
Da
leitura das ‘Saudades da Terra’, depreende-se que São Miguel foi a segunda a
ser reconhecida e aproveitada, sendo Santa Maria a primeira. Os povoadores
iniciaram a sua aventura no lado sul nascente da ilha, na chamada Povoação
Velha; mas cedo tendo-se desiludido com a pobreza das colheitas deslocam-se em
direcção a poente. Assim surge Vila Franca
do Campo, a primeira capital da ilha, e a sua importância administrativa
e sócio-económica que manteria até perto da destruição causada pelo terramoto e
desprendimento de terras de 1522.
De
Vila Franca, novos povoadores devem ter partido ao longo da costa sul, em
direcção a poente, fixando-se nos locais de Lagoa, Ponta Delgada e, em
simultâneo ou não muito distante daquele período, flectindo para norte, por
onde se poderia aceder por terra com relativa facilidade, pela Mediana, para a
Ribeira Grande.
Os
dois primeiros capitães do donatário ( sendo o primeiro Donatário o Infante D.
Henrique), respectivamente Frei Gonçalo Velho Cabral e seu sobrinho João Soares
de Albergaria, reuniam numa só capitania as ilhas de São Miguel e de Santa
Maria. Apesar dos repetidos estímulos régios ao aproveitamento sócio-económico
de São Miguel, promulgando alvarás isentando os seus moradores da dízima do que
produzissem para exportação, o que se deduz ainda da leitura da obra de Gaspar
Frutuoso, é que o surto de desenvolvimento esperado só se veio a verificar
depois da vinda do terceiro capitão do donatário, Rui Gonçalves da Câmara, pai
do fundador do Mosteiro de Jesus e um dos fundadores da vila da Ribeira Grande.
Rui Gonçalves traz consigo gente da Madeira de onde era oriundo. Neste último
quartel de quatrocentos intensifica-se o cultivo de trigo, pastel e até de cana
de açúcar.
A
planície, na qual a Ribeira Grande se insere, sem dúvida veio a beneficiar
deste incremento. Todavia, virada a norte, sem bons portos de mar, tinha de
escoar os seus produtos pelos portos do sul.
Como
consequência do desenvolvimento ou como seu estímulo, por um lado, D. Manuel I,
Donatário por herança da ilha de S.
Miguel, por outro, plausivelmente, para limitar o poder dos capitães do
donatário, estabelece uma política de fragmentação do município único. Assim,
primeiro surge a vila de Ponta Delgada, seguindo-se-lhe a da Ribeira Grande e
as demais da ilha. Ponta Delgada aos poucos toma ascendente e ainda antes do
findar da primeira metade do século XVI é elevada por D. João III à categoria
de cidade.
No
início do século XVI, os mais notáveis do lugar da Ribeira Grande, sufragâneo
de Vila Franca do Campo, dão nele início a uma campanha de criação de
infra-estruturas. Em 1504 uma igreja, pouco depois, para facilitar a entrada e
a saída de produtos, uma ponte. São os trigos, os pastéis , as moendas dos
moinhos do capitão-do-donatário. A participar neste processo de infraestruturação e de petição ao rei para
a elevação do lugar a vila, na primeira linha da frente, encontra-se Pedro
Rodrigues da Câmara.
Até
1517, segundo Frutuoso, a malha urbana da Ribeira Grande, concentrava-se na
margem nascente da ribeira. Por esta data, de acordo com o mesmo cronista,
existiriam apenas duas casas no lado poente. As pessoas da altura
referiam-se-lhe como mato. A vila vai crescendo, em ambas as margens da
ribeira, onde se situarão até 1563/64 as principais casas e os moinhos da vila.
É neste período que surge Pedro Rodrigues da Câmara, o seu mosteiro e a parte
mais rara dos nossos “cacos.”
A Ribeira
Grande nos séculos XVI e XVII: dois cronistas
Não é de estranhar a riqueza do espólio arqueológico
encontrado, ou a encontrar, na Ribeira Grande. Gaspar Frutuoso, em finais do
século XVI, refere-se a ela, por
conseguinte, pouco depois da reconstrução da vila, após a catástrofe de
1563/64, como sendo a vila mais « abastada e farta de toda a ilha ». Liv. 4,
v.2, 1981, p.109 Nem sequer ainda será de estranhar o que lhe acrescentou, em 1646, o florentino
Diogo das Chagas em o Espelho Cristalino:
« he de tanto trafego e trato, como a Milhor Villa do Reino» 1989, p. 163; por
isso, opina que « a cidade [Ponta Delgada] se lhe não auentaje» p.164, vaticinando-lhe,
no futuro, a sua elevação à categoria daquela outra. p.164
O mosteiro de
Jesus da Ribeira Grande: Localização
Fica numa pequena colina junto às margens da ribeira
que deu o nome à terra, a sul do agregado populacional quinhentista, no local
de uma quinta e casas da família Câmara. A sua fachada abria-se para um espaço
denominado, ontem tal como hoje, Campo das Freiras: ao lado da Casa dos
Confessores (?) - franciscanos -,
erigiu-se de pedra e cal, em finais do século XVIII, um Passo Quaresmal,
substituindo os de madeira que se armavam por ocasião da festa dos Passos;
local do “Encontro” entre Maria e o filho crucificado, de alardes militares, da
frequência às celebrações conventuais, onde pontuavam as actuações do coro, as
profissões no mosteiro, as visitas às grades, as transacções com os
procuradores, as visitações, a entrada de lenhas, de demais víveres pela porta
do carro etc. … Existiu aí um cruzeiro. Acedia-se ao mosteiro
pela ponte Nova ou das Freiras, pela rua do Espírito Santo e pela canada de
Trás-os-Mosteiros.
Os
instituidores do Mosteiro do “Santo Nome de Jesus”
Quem
era Pedro Rodrigues da Câmara e D. Margarida de Bettencourt, instituidores do
Mosteiro de Jesus na ex - vila da Ribeira Grande, o 4º construído na ilha e no
referido triângulo ?
Não pretendo aqui biografá-los, mas tão
só tecer algumas considerações biográficas pertinentes e necessárias ao
esclarecimento do tema deste trabalho.
Recorremos a Gaspar Frutuoso, primeiro
cronista conhecido das ilhas portuguesas do Atlântico.
Pedro Rodrigues da Câmara era, segundo
o supracitado cronista, neto paterno do primeiro capitão - do - donatário e do
descobridor ( ou melhor reconhecedor ) da ilha da Madeira, João Gonçalves
Zarco. Seu pai, Rui Gonçalves da Câmara, segundo filho do dito capitão, casou
com D. Maria Bettencourt, dama francesa filha de um tal Misser Macioto de
Bettencourt, de quem Frutuoso diz ter sido rei das Canárias. [9]
Vivendo, Rui Gonçalves da Câmara,
ricamente na ilha da Madeira, veio ter com ele « João Soares de Albergaria,
segundo capitão das ilhas de São Miguel e de Santa Maria, com sua mulher, Beatriz Godiz, muito enferma,
em cuja cura, fazendo muitos custos, e foi necessário vender uma das ditas
ilhas; E tendo para isso procuração da capitoa, sua mulher, lhe comprou Rui
Gonçalves da Câmara esta ilha de São Miguel que então estava mais erma que a de
Santa Maria ...»[10]
A doação e as confirmações da aquisição
da ilha de São Miguel, foi oficializada pela Infanta D. Beatriz, representante
e mãe do Donatário, ainda menor em carta de 10 de Março de 1474.[11]
Veio assim « ... Rui Gonçalves da
Câmara, terceiro capitão ( do donatário ), a povoar esta ilha de São Miguel e
trouxe consigo a sua mulher, D. Maria Bettencourt, e muitos homens honrados, e
três filhos naturais e uma filha também natural, porque da capitoa, sua mulher,
não ter filhos nem filhas »[12]
Ao que parece, a mãe de Pedro Rodrigues
da Câmara, terceiro filho natural do capitão - do - donatário, era « ... uma
nobre mulher, de geração dos Albernazes ... » [13]
Pedro Rodrigues da Câmara casou com D.
Margarida de Bettencourt, filha de Gaspar de Bettencourt, sobrinho da esposa do
pai, Rui Gonçalves da Câmara.[14]
Estabeleceu-se Pedro Rodrigues da
Câmara, ainda no século XV, mas em data incerta, na área da Ribeira Grande.
Gaspar Frutuoso, ao referir-se ao Alvará régio concedendo o grau de Vila ao
lugar de Ponta Delgada, até então sufragâneo de Vila Franca do Campo, em 1499,
diz: “ foi chamado da Ribeira Grande, donde morava, Pero [ Pedro] Rodrigues da Câmara que então era logo -
tenente do capitão Rui Gonçalves da Câmara [ sic ], que no tal tempo era no
Regno”.[15]
E, para finalizar esta parte, ouçamos
atentamente o retrato elogioso que lhe fez o mesmo cronista:
“ Era Pedro Roiz da Câmara bem
apessoado, grave e gentil homem, e liberalíssimo de condição”.[16]
E, para prová-lo, fundamenta a sua
opinião nas obras do dito, o que, em nosso entender, constitui um óptimo
documento quinhentista sobre o que se entendia naquele século serem algumas das
principais virtudes dos homens de condição e da governança.
Assim se compreende melhor o homem à
luz da época em que viveu.
« Fez no assento e pomar de suas casas,
na Vila da Ribeira Grande, um Mosteiro de freiras observantes, da invocação de
Jesus, onde estão muitas e virtuosas religiosas suas parentes, e nele está
sepultado. Deixou-lhe dezoito moios de renda na sua fazenda da Achada, e trinta
mil reis que lhe ficaram de seu pai, de juro, na ilha da Madeira. Deixou certa
renda ao Espirital da Vila da Ribeira Grande. Dando cada um povo, a quem mais
dava, para a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Estrela da dita Vila, para que
se fazia finta, e, ficando baixa, ele lhe mandou acrescentar cinco palmos à sua
custa e deu um cálice grande, dourado, com suas campainhas e um pontifical de
damasco rosado para a mesma igreja, e dizem que outro para a igreja da Maia.
Foi logo - tento [ sic ], do Capitão Rui Gonçalves, seu sobrinho, e governou a
capitania sete anos, em sua ausência, com muita paz e justiça, deixando de si
bom exemplo e nome, distribuindo com grandes liberalidades sua fazenda, que era
muita, porque quando casou tinha, cada ano, cento e cinquenta moios de trigo de
renda, agora outra muita que depois lhe cresceu, e sua mulher, D. Margarida de
Bettencourt, filha de Gaspar de Bettencourt, vivendo com muita virtude, faleceu
vinte anos depois dele.»[17]
Em outro passo Frutuoso refere-se-lhe
como um dos fundadores da Vila da Ribeira Grande ocorrida em 1507.[18]
A igreja
segundo dois testemunhos do século XIX
De 1832: O auto de inventário dos bens móveis
mandado efectuar pelo ouvidor da Matriz, Elisardo Castro, aos nove de Junho de
1832, seguindo o exigido pelo decreto de extinção do convento, datado de 17 de
Maio daquele ano, permite-nos surpreender, ainda que de modo desfocado, uma
imagem do interior da igreja do Santo Nome de Jesus e de suas dependências
imediatas: confirma a existência de um altar-mor, em cujo camarim está colocado
o Senhor Crucificado, duas frestas de iluminação; três frestas no corpo da
igreja; coros alto e baixo; sacristia e torre de sinos. Dá-nos os pormenores
das fazendas que recobrem os diversos móveis, frestas, púlpito, camarim,
confessionários, grade da comunhão, altares; dos órgãos; dos registos de
santos; das imagens; dos sinos; em suma, de uma igreja conventual semelhante,
estamos em crer, ao mosteiro da Esperança, entre outros.[19]
O de 1813 -
publicado naquele ano-, descreve o coro
alto: « Numerous spectators occupied the chapel, and the orchestra of the
performers was in front of the large hall or study of the nuns, raised about 20
feet above the level of the chapel, and separated from it, but not obscured, by
a range of iron bars.»[20]
Depois do autor, um viajante inglês, declarar o seu espanto pelo tipo de
instrumentos utilizados pelas freiras - ‘violins, French horns, and flutes’- ,
e de o elogiar , e ao descrever o concerto dá-nos outra pista acerca do aspecto
do coro: « Between the grand divisions of the concert, a principal singer
advanced towards the iron bars in front of the audience, and, on the unfolding
of a gate in the center of the bars, sung a hymn, the chorus of which was
maintained by the whole body of the nuns, who were seated on semicircular
benches behind the orchestra.»
Existiam sepulturas no interior do coro, na igreja e
mesmo no adro da igreja: « Está sepultada [ Madre Jerónima da Graça em
1681]na segunda sepultura, à porta do adro » Monte Alverne, v.2 p.323; ou a Madre Isabel
Evangelista, aos 95 anos, foi no ano de 1679, sepultada « na primeira sepultura,
á entrada do coro» p.322.
O Mosteiro do
“Santo Nome de Jesus”
O
mosteiro de Jesus, o quarto construído na ilha, seguindo-se ao da Caloura, ao
de Santo André, em Vila Franca do Campo e ao da Esperança, em Ponta Delgada.
Tendo o processo de instituição do
terceiro - Esperança- , coincidido com o do quarto - Jesus- , verificam-se, sem
surpresa, afinidades entre os
padroeiros.
Assim, D. Filipa Coutinho esposa de Rui
Gonçalves da Câmara, segundo no nome, e sobrinho de Pedro Rodrigues da Câmara-
padroeiro do de Jesus -, foi a padroeira do Mosteiro da Esperança; sendo este
inaugurado aos 23 de Abril de 1541.
O tio iniciou o processo que culminaria
com a construção do seu, sensivelmente ao mesmo tempo: cerca de 1536; porém, só
sete anos depois, aos oito de Fevereiro de 1543, uma Breve Papal,
concretizava-lhe a pretensão:
« Fica-vos permitido erigir ou mandar
erigir, construir, edificar ou fazer um convento de freiras da Ordem de Santa
Clara, sob a invocação de Jesus, com perpétua clausura, com igreja, claustros,
refeitório, dormitório, cemitério, cercas, campanário, sinos e outras
dependências necessárias.» [21]
Aos 16 de Março de 1545, este e a
esposa, contratam mestre Manuel Machado
para lhes fazer especificamente «... uma capela de abóbada, com seu coruchéu
alto e um portal de Igreja do Bom Jesus do dito Mosteiro.»[22]
Todavia, só dez anos após a celebração
deste contrato ficou «... o Mosteiro feito, capaz de morarem freiras nele, no
ano de 1555 de mil quinhentos e cinquenta e cinco [ sic ], pela liberdade do
breve trouxeram duas religiosas”.[23]
Oito anos volvidos, em1563, a tragédia
abateu-se sobre o Mosteiro: a crise sísmico-vulcânica fê-lo sofrer graves
danos. Oiçamos o cronista Gaspar Frutuoso, que se transferiu para a Matriz da
Ribeira Grande, dois anos após o ocorrido :
« Veio um tão espantoso tremor que
parecia assolar o mundo e abriu a abóbada da capela pelo meio, como semelhante
coisa faria. E já a este tempo as casas e dormitório era tudo derrubado...”.[24]
Segundo o mesmo autor, fugiram as freiras para Ponta Delgada, onde foram
recolhidas em diversas casas. Henrique de Bettencourt e Sá, filho dos
fundadores, reedificou-o de novo, e, tendo o inquisidor informado que o
mosteiro “estava decente”, puderam regressar algumas, catorze anos após, a 9 de
Maio de 1577. Aos poucos a vida conventual foi-se recompondo.
Aos 23 de Fevereiro de 1629 as freiras
daquele Mosteiro obtêm do Núncio Apostólico a sua liberdade face ao herdeiro do
padroeiro e seu bisneto, Simão da Câmara e Sá.[25]
Libertas do padroeiro, enriquecidas com
inúmeras doações e bens de raiz, entre outros rendimentos, as madres
prosseguem, sob a orientação dos franciscanos da Província de São João
Evangelista e da Custódia da Puríssima Conceição das ilhas de São Miguel e
Santa Maria - a partir de meados do século XVII -, até à sua extinção decretada
em 17 de Maio de 1832,[26]
e executada provavelmente a 9 de Junho.[27]
Foi arrematado em hasta pública em 1833.[28]
Algumas
transformações do espaço do mosteiro de Jesus desde meados do século XVI a 1832
Conhecem-se,
razoavelmente, algumas das várias ocupações e vicissitudes por que passou o
espaço transformado desde meados do século XV até ao presente: de casa de
lavoura a mosteiro e de mosteiro a residência e a terra de cultivo. Aliás algum
tempo antes da vinda para São Miguel, na
década de setenta, de Rui Gonçalves da
Câmara: « Um Fernando Afonso, pai da mãe de Francisco Rocha, da governança da
vila da Ribeira Grande, que hoje nela vive, comprou a um Pero Afonso,
escudeiro, criado do conde de Monsanto, e a sua mulher Beatriz Rodrigues, cinco
moios de terra, junto da ribeira, acima da dita vila, que inclui os assentos de
Lopo Dias Homem e de Henrique de Betencor de Sá e o mosteiro das freiras e o
assento do mesmo Pires Rocha...»[29]
A sua destruição durante a crise sísmica de
1563, a sua reconstrução pelo filho do instituidor, e muitas obras de remonte e
de conservação que os livros sobreviventes do cartório monacal registaram: os
lintéis das portas do “pomar” e da “casa dos Confessores” exibem as datas: 1727
(?) e 1666, o que poderá corresponder a campanhas de obras. Aos 9 de Junho de
1832 lavra-se um termo de inventário dos bens móveis do mosteiro, que são recolhidos à Matriz e
posteriormente distribuídos pelas paróquias mais carentes.[30] Cada freira levou consigo as suas posses. Os
livros do Cartório foram recolhidos pelas Finanças.
Porque se
demoliram alguns edifícios depois de 1833
Possivelmente
porque tendo José Maria da Câmara
Vasconcelos, seu arrematante, decaído de bens - na década de quarenta - , plausivelmente
por se ter sobreendividado com a aquisição de propriedades antes pertencentes a
instituições religiosas, não ter tido capacidade - ou ter simplesmente
negligenciado: a tradição oral local atribui-a “a Castigo Divino” pela
destruição da igreja e do mosteiro - , para conservar aqueles edifícios. Ou
outras razões que desconhecemos. Segundo os Róis de Confessados da Matriz da
Ribeira Grande, José Maria encontrava-se a residir sozinho no Adro das Freiras
em 1834; todavia, só reapareceria registado no mesmo local, doze Páscoas
depois, em 1847; aí permaneceria até à
Páscoa de 1861; em 1862, o arrolador anotou
que falecera. É provável que, entre 1833 e 1847, tenha efectuado, muito
ou poucas não sabemos, obras de adaptação a moradia. Certo foi que, em 1858, o
vigário Pontes refere que - e a tradição oral repete-o -, a fachada do mosteiro
tinha sido levada para a igreja da vizinha freguesia de São Pedro, na Ribeira
Seca.[31]
Estando, na década de sessenta, Silveira Estrela, amigo de peito de José Maria,
a construir, naquele largo, no espaço
fronteiro, aquela que viria a ser mais tarde a‘ Casa da Natividade’, é de
presumir que, sendo a pedra muito procurada, tivesse sido aproveitada alguma do
antigo mosteiro. No início deste século, segundo Ezequiel Moreira da Silva,
responsável pelas obras do Teatro Ribeiragrandense, autor de um opúsculo sobre
o mosteiro de Jesus, foi utilizada na
construção daquele imóvel a pedra de uma torre - torre sineira ? - , demolida
para o efeito, que existiu no canto poente da cerca.
Para
encurtar caminho : Em 1893 é vendido a Jacinto Júlio Ferreira, passou por
testamento a Corina Baptista e pouco antes de 1949 aos sobrinhos desta.[32]
Foi adquirido por Manuel Rocha Pontes, passando a
sua filha Laura Sousa Pedro, sendo presentemente propriedade da Santa Casa da
Misericórdia da Ribeira Grande.[33] O que
correspondeu à igreja e ao claustro, ao que parece - falta confirmar-, foi
demolido e incorporado no espaço agrícola.[34]
No tempo do Sr. Manuel Pontes funcionou
junto às arrecadações actuais, entre estas e a casa do s.º Pinheiro, um
secadouro de cereais. A ocupação do grosso daquele espaço, tem alternado entre
pomar e vinha e campo de milho, e mais
recentemente, pasto. Desde 1989 vem sofrendo, a poente, no lado da rua de
Trás-os-Mosteiros, cortes substanciais
com o sucessivo alargamento da rua.[35]
A Santa Casa tem um projecto de loteamento e pretende trocar com o Ministério
da Justiça uma parcela ( que corresponderá exactamente ao espaço da igreja e do
claustro) para nela se construir o Palácio de Justiça.
Como teria
sido o mosteiro: Hipótese de trabalho
Apesar da destruição a que tem sido submetido aquele
espaço, julgamos ser útil verificar, para confirmar o uso dos elementos
materiais que lá descobrimos, bem como cartografar aquele espaço, no que resta, no que sobreviveu, o seguinte:
Se a “Casa da Roda e a Portaria” do Mosteiro de
Jesus ficavam situadas a nascente como
se diz e vê, na actual garagem da família Pinheiro, então, seguir-se-lhe-iam,
tal como acontece nos demais mosteiros da ilha, um mirante, a sacristia, a
capela-mor, o corpo da igreja rasgado pelas portas e janelas, os altares
laterais - temos ideia de quais eram -, o mirante poente, o coro baixo; por
detrás da parede sul da igreja, de uma só nave, desenvolver- se- ia o claustro;
no vértice poente, encaixado entre o mirante poente e o claustro, erguia-se -
existem testemunhos orais e um desenho do Dr. Jorge Gamboa apresentado no livro
de Ezequiel Moreira da Silva -, a torre sineira. [36]A
porta do carro e a cerca poente foram destruídas em Agosto de 1997; o pomar
ainda lá está, mais a “Casa dos Confessores” , o aqueduto das freiras - ainda
na Mãe d´ Água -, a portaria, como já vimos, mais a casa do Sr. José Gaipo,
além ainda do próprio “Campo das Freiras”. Estará o adro incorporado no
terreno? Pretendíamos - vicissitudes várias no-lo impediram em 1987 -, de
aplicar o método de resistividade eléctrica, assim, recorreremos à escavação
selectiva - 1.º valas de sondagem, 2.º escavação em quadrícula - , se nos
permitirem, do espaço que presumimos ser
o correspondente à igreja e claustro: os achados de superfície parecem reforçar
esta hipótese. Outra pretensão é a de sabermos um pouco mais, apesar de os
livros de ‘Receita e de Despesa’, no-lo referirem, como viveram os seus
ocupantes: o que comiam, em que comiam, como se decorava a igreja etc. …
Ou simplesmente tentar estabelecer contextos
estratigráficos coerentes para os materiais já recolhidos e a recolher.
Entulhos de
onde?
Qual
a validade da informação assim obtida? Estamos perante duas situações
distintas.Numa primeira situação, em 1989, obtivemos os nossos elementos
peneirando no quintal do museu o material que foi retirado do canto - vértice
-, poente por uma pá escavadora, transportado em camiões e descarregado no
referido quintal. Em 1998, estamos a
remover ‘manualmente’ - com a pá, sacho e picareta -, o aterro/entulho - camada
3 -, registando toda a ocorrência no
‘Diário’. O entulho do sector 4, terceira camada « veio de um muro de cerca de
metro e qualquer coisa e de cinco, às vezes mais de largura que corria da
fracção 2, no lado da canada do Rato indo pela fracção 3, virando a sul até á
arquinha. Meu pai quis aumentar o terreno de cultivo e tirou de lá centenas de
carroças e de camiões de entulho. Deste entulho é que ele fez o secadouro de
trigo. Isto na década de cincoenta, mais ou menos.» [37]Sabemos,
pois, quando, como e quem o organizou este aterro - que corresponderá a uma
pequena fracção do total -, mas desconhecemos, não temos provas quanto à sua
proveniência original. Temos suspeitas. É provável que do próprio terreno, da
zona onde se situou o mosteiro. Porquê? Dado
o custo e a dificuldade dos transportes na ilha, até mesmo na sua parte mais
acessível pelo interior, e para o período em questão, ( veja-se a obra do
professor Dr.º Teodoro de Matos e consulte-se
José Torres ), seria improvável que alguém os trouxesse de fora do
concelho e os colocasse naquele local.Ou até de outro local da Ribeira Grande.
Parece-nos mais lógico/provável ter-se
utilizado o entulho provocado pela demolição de alguns edifícios do mosteiro,
no século XIX ( 1832 / 3 / - 1858 ), [38]quer
para o preenchimento das covas deixadas pela remoção das paredes, quer para
espalhar os montículos de entulho que nestas ocasiões se formam, antes de os
recobrir com terra arável do terreno mais alto a nascente e a sul, aliás
visível para quem esteja no interior da antiga cerca conventual. O espólio
recolhido até ao momento - o local apresenta algumas intromissões de roedores e
elementos da época do segundo entulho -, é consistente na sua ligação àquele
espaço: Até agora tínhamos c. de oito fragmentos de azulejaria mudéjar, em duas
semanas descobrimos c. de 44 -
misturados com tijolos, cerâmica vidrada e não vidrada, telha, rebocos, vidros
etc. ; cinco volutas de frontispício; um
fragmento de coluna, entre outros. São tudo elementos pertencentes a demolições
de casas, no nosso caso, de casas religiosas (?). Se no primeiro momento, 1989,
tínhamos razão em ter poucas certezas, em 1998, temos suspeitas fundadas. Suspeitas
que carecem, obviamente, de ser confirmadas pela estratigrafia.
Seja
como for, sejam os azulejos de fora da terra
ou fora daquele local - o que nos parece improvável -, os azulejos em si
valerão o estudo.
Quem eram os
ocupantes do mosteiro?
Gaspar
Frutuoso, escrevendo em finais do século XVI, refere como intenção dos seus
fundadores proporcionar um espaço para donzelas pobres mas honradas. Margarida
Nogueira Lalanda, para todo o século XVII, apesar de não haver dados para a
maioria dos pais, ao comparar as categorias sociais existentes no Convento de
Jesus e nos restantes micaelenses opina que :
«
Sentimos a especificidade daquele: ao contrário do vilafranquense e dos
citadinos de S. João e de N. S. da Esperança, o número de grupos
socioprofissionais representados é muito pequeno; ao invés do de N. S. da
Conceição ( onde os dois outros grupos presentes, para além dos capitães e
demais milicianos, são os lavradores e os sapateiros), na Ribeira Grande os
capitães estão acompanhados por mercadores e pelos letrados, licenciados e
doutores. Só Santo André, em Ponta Delgada, se lhe assemelha algo, pois os pais
das suas dotadas são apenas capitães, juntamente com um mercador e um capitão.»[39]
Casa
onde se professava à perpetuidade e se assemelharia, em muitos aspectos, às
casas da elite local, teria além das trinta e pouco freiras numerárias,
pupilas, noviças, criados e criados, o que , em certos momentos mais do que
duplicava o número das freiras.[40]
Assim, ao estudar esta casa, senhora de terras e de rendas em toda a ilha,
estaremos a estudar, a lançar um olhar, igualmente as casas da elite
extramuros.
Além do culto religioso, a que estavam obrigadas, as
freiras do mosteiro de Jesus, de acordo com o testemunho de Ezequiel Moreira da
Silva, fruto, supomos, da tradição oral local, estiveram na origem da indústria
caseira
« das amêndoas bicadas … A doçaria, como os ovos
reais, as trouxas, os bolos pôdres e as maçarocas de milho… Também ali
trabalhavam muito bem em flores das freiras com que se ornavam altares, oratórios
e presépios e de que se faziam os ramos que, no domingo deste nome, os padres e
músicos conduziam nas cerimónias da Matriz e de S. Francisco.»[41]
Como explicar
a construção de mosteiros naquele período ?[42]
A
extraordinária riqueza da ilha, mercê da fecundidade do seu solo, sobretudo da
zona, por mim designada de triângulo, mereceu violentos reparos de Fr. Afonso
de Toledo, que lhe atribui a origem do mal que então grassava:
“ Ponta Delgada, que no tal tempo era
Vila ( 1522 ) foi o porto por onde entrou; daí foi passando às outras e foi
notando em todas fortuna grande e vida deliciosa, com uma corrente de
prosperidade nunca vista; como tinha visto e lido muito, não lhe pareceu aquilo
bem, antes era causa total de toda a ilha arder em destemperança de gula e
devassidão de luxúria; temendo-lhe grande perigo, lhe começou a propor com
fervor a doutrina evangélica...” [43]
Esta prédica e as catástrofes que se
lhe seguiram pouco depois, em 1522 o terramoto e o desprendimento de terras que
subverteu o centro administrativo da
ilha, Vila Franca do Campo, e a peste que grassou na ilha, de 1523 a 1527, sem
dúvida contribuíram para um clima de remorso propício à catarse individual e
colectiva através do misticismo, seja saindo da vida secular, seja
proporcionando estas condições a quem o desejasse.
Nas ilhas, existe uma correlação quase
perfeita entre crises sísmicas ou vulcânicas e surtos místicos.
Não possuímos, segundo Maria Margarida
Sá Nogueira Lalanda, dados demográficos seguros para o período em questão, séculos
XVI e XVII,[44]
todavia parece ter havido uma espécie de “explosão demográfica” de filhos da
vaga chegada à ilha com Rui Gonçalves da Câmara, e como sempre, um excedente na
população feminina. Era, também, muito menos oneroso dotá-las para o mosteiro
do que para o casamento.[45]
É uma época de recrudescimento da
pirataria. A criação do mosteiro de Santo André, em Vila Franca do Campo,
denuncia, por parte das freiras de Vale de Cabaços na Caloura, esta
preocupação:
“ Como as mais religiosas que estavam em
Vale de Cabaços, eram de Vila Franca e filhas dos melhores que nele havia,
temendo que os franceses corsários entrassem em ele, por estar junto ao mar e
remoto da vizinhança da Vila, requereram os seus pais que as tirassem dali...” [46]
Repare-se na tónica de arrependimento e
de castigo:
“... depois da subversão de Vila Franca
e tremor de toda a ilha, que foi castigo da terra enviado pelo mesmo Deus; e
assim, a peste, que sobreveio, comeu algum resíduo dos pecadores que ficaram do
dito tremor e subversão...”.[47]
Os contactos comerciais, as visitas
frequentes à corte dos familiares dos capitães e dos membros da elite da ilha
devem-nos apontar à uniformização do padrão do gosto entre estes e os seus
congéneres das outras partes do reino, nomeadamente, na corte, onde imperava o
gosto hispano-mourisco ( veja-se Sintra ).
A riqueza pôde transformar o gosto em
realidade. Era também uma questão de reconhecimento do sucesso, de marcar o seu
“status quo” imitando os demais pares.
Dos contactos iniciais da ilha e das
ilhas, no século XV, com navios de retorno da Mina e com o continente e ilhas
portuguesas do Atlântico norte, seguiram-se-lhes os contactos com navios das
grandes rotas Atlânticas, as quais, apesar do aparato descritivo de António
Cordeiro, parecem não nos ter beneficiado tanto quanto este autor nos quis
fazer crer.[48]
Para além destes contactos, os
açorianos encetaram outras ligações, estas obrigatórias com a Madeira e as
praças do sul do Norte de África, para onde deveriam enviar o seu trigo a
preços tabelados.[49]
Conhece-se a ligação do Funchal e mesmo
dos Açores, numa breve e ruinosa fase, através da produção de açúcar ao
Mediterrâneo, [50] e
desta cidade aos Câmara de São Miguel.[51]
Como explicar a existência
na ilha de São Miguel de azulejos presumivelmente sevilhanos ?[52]
Sevilha era igualmente conhecida
directamente pelos membros da elite micaelense da época.
« Chegando Cristovão Soares a Sevilha,
foi Ter com ele João de Melo, por cartas que teve em Lisboa, do Capitão Rui
Gonçalves da Câmara[ segundo de nome - 1505-1535], em que lhe mandava que fosse logo ter com
Cristovão Soares, para que ambos fossem em busca de seu filho Manuel da Câmara
, onde quer que estivesse, e fizessem com ele que se tornasse para essa ilha.»[53]
Repare-se
que, entre outros: « [ cerca de 1490] O faialense de nobre linhagem Baltazar
Brum da Silveira, morador em Sevilha, era o poderoso corretor do pastel
açoriano que lhe era enviado por seu pai e irmãos que nesse negócio tinham
grande casa e trato.»[54]
Os próprios arrematantes e fretadores
de barcos que ali aportavam para comprarem pastel [55]e
trigo, teriam interesse, sobretudo na ida para as ilhas, sabendo do gosto ou
querendo incentivar o gosto dos naturais ricos, em trazer todos os produtos
vendáveis, incluindo os azulejos, como forma de tirarem o máximo de rendimento
das suas viagens.
Vimos até aqui que é perfeitamente
crível e aceitável que o casal Pedro Rodrigues da Câmara e D. Margarida de
Bettencourt, residindo desde o século XV na área da Ribeira Grande e no local
onde posteriormente erigiram o Mosteiro de Jesus, tivesse encomendado azulejos
hispanos-mouriscos tão ao gosto da época.[56]
Sevilha:Triana
Por esta altura Sevilha, sendo mais Lisboa, um
grande centro peninsular transoceânico, a “Casa da Contratación” estava lá
sediada, consegue dominar o mercado dos produtos cerâmicos arquitectónicos -
conhece-se mal o da loiça sevilhana ; assim exportaram-se azulejos para outras
partes da Espanha, designadamente as regiões ribeirinhas do mediterrâneo -
Barcelona, por exemplo, França, Itália, até para Inglaterra, possessões
ultramarinas e, sobretudo Portugal, o maior cliente de azulejaria sevilhana.
Aliás a cerâmica arquitectónica mudéjar casava bem com a arquitectura, ou
estilo decorativo, tardo-gótica designada por manuelino, como se verifica na
notável simbiose de arquitectura e azulejo, tanto parietal como pavimentar, no
Palácio Real de Sintra. Por todo o país- veja-se também os exemplos de Coimbra
- , quer no continente quer nas ilhas dos Açores e da Madeira, se receberam
azulejos vindos de Triana. O seu repertório, segundo Alfonso Pleguezuelo ‘la
variedad de motivos detectable es inmensa.”[57]
Triana, na margem direita do rio Guadalquivir, era o
bairro dos oleiros ligados à produção azulejar; em Sevilha, no início do século
XVI, estabeleceu-se Francisco Niculoso, italiano de origem que pretendeu
introduzir, sem sucesso na altura, o que se atribuiu a um gosto conservador das
clientelas do azulejo, a técnica da
majólica, ao mesmo tempo que introduz, com sucesso, novos padrões de gosto
renascença, que vieram influenciar composições realizadas nas técnicas da
aresta e da corda seca: « Se instaló [Niculoso] en
Triana, el popular barrio de alfareros, en unas casas de la calle ancha de
Santa Ana».[58]Foram
várias as famílias que, dentro daquelas técnicas e em Sevilha, fabricaram
azulejos para o mercado que referimos, por exemplo, entre outros: « Fernán
Martínez Guijarro, el ceramista de más prestigio en Sevilla hasta ese momento[início do século XVI]».[59]
O barro vinha, segundo Mercedes Martín, perto do
mosteiro de Santa Maria das Covas, porque : « Las condiciones del suelo en esa
zona, resultaban óptimas para abastecer de barro a los numerosos alfares
estabelecidos en la Vega de Triana.»[60]
Não esquecer
que :
1 -
A cronologia corrobora esta asserção.
2 -
O local também.
3 -
A emulação social e o padrão universal do gosto igualmente.
4 -
Os fragmentos ainda que obtidos por meios não científicos, parecem querer
corroborá-lo.
Tanto
quanto sabemos, não existe nenhuma referência a uma ermida anterior ao mosteiro,
porém, tal não quer dizer que os não tivessem noutro local das suas casas.
5 -
Finalmente, pergunto a mim mesmo se este tão rico e tão nobre casal, aparentado
aos capitães-do-donatário, e com ligações à corte, não teria comprado para as
suas casas e para o seu mosteiro azulejos ao gosto da época, tanto mais que,
repita-se, encontrámos vestígios deles nas terras do antigo mosteiro ?
Para além do mais, o ‘orgulho e o
bairrismo daquela vila,’ segundo Gaspar Frutuoso ( até ao século XVI ), a
melhor de todo o reino e segundo Diogo das Chagas, que a conheceu no século
XVII, quase tão importante como a cidade
de Ponta Delgada, decerto teria contribuído para mover os seus moradores, nomeadamente os mais ricos e “ liberais ”( na
acepção antiga ) a imitarem os demais da ilha e do reino.
Primeiro tinha sido a Caloura, de
seguida Vila Franca, depois Ponta Delgada e finalmente a Ribeira Grande. Ou por
outra ordem.
Uma vila ou cidade da época que se
prezasse não poderia prescindir de um Mosteiro e este dos seus azulejos.
Outros
azulejos do mesmo tipo existentes nos Açores
Gaspar
Frutuoso refere-se ao ‘magnífico pontifical’ da Matriz - « poucas igrejas se
acharão de tão boa vista, nem tão ricas de ornamentos, por ter um pontifical de
brocado» -,[61] e
exceptuando, tanto quanto sabemos, uma alusão aos azulejos da Santa Casa da
Misericórdia de Ponta Delgada - « e por dentro toda forrada de azulejos
lavrados » -, [62]
mesmo quando descreve o mosteiro de Jesus - « sumptuoso mosteiro da advocação
de Jesus, acima do sprital, não tão rico em edifícios, como em virtudes de
nobres e virtuosas religiosas.» - ,[63]pouco
mais se refere a azulejos.Talvez por os considerar, ao contrário do pontifical,
ou do grande número dos de Ponta Delgada,
‘normais’.
São raros os azulejos de aresta conhecidos
na ilha de São Miguel. Para além dos em questão, somente conheço, fora do
contexto original, os existentes no Museu Carlos Machado ( tanto no depósito
como na sala de exposição ), em Ponta Delgada, os da Ermida de Nossa Senhora
dos Remédios, na Lagoa, os da Senhora da Lapinha, no Sanguinho, em Água d’Alto[64]
e os que pertenceram às colecções do Marquês de Jácome Correia e ao Dr.º Luís
Bernardo Leite de Ataíde.
Compulsando o livro de azulejaria do
eng.º Santos Simões sobre a Madeira e os Açores, encontram-se mais azulejos de
aresta, e no que diz respeito ao segundo arquipélago, para além de vários
exemplares de aresta do museu de Angra provenientes da Quinta da Urze, um
pequeno fragmento encontrado por Santos Simões junto à igreja dos Cedros, haverá outros descobertos recentemente por
Francisco Ernesto na sua casa em Angra.[65]
Quanto aos de corda seca registou um existente no museu de Angra vindo do
convento de N.Senhora da Luz, na Praia
da Vitória.[66]
Quanto a estes últimos, encontramo-los, em
certo número e diversidade, porém os de corda seca conhecidos até ao momento
não constituem mais do que um pequeno grupo de dois ou três inteiros na capela
do Sanguinho (recolocados) em Água d’Alto, uns fragmentos encontrado pelo
arqueólogo Dr.º Manuel de Sousa de Oliveira, nas escavações levadas a cabo na
década de sessenta em Vila Franca do Campo,[67]
e os vários fragmentos agora encontrados na Ribeira Grande [que viria a
permitir uma reconstituição plausível do padrão de que faria parte].[68]
Até ao dia 8 de Maio de 1998 temos registados: um padrão de corda seca e cinco
de aresta.
É
muito provável que o que temos hoje não corresponda à totalidade do que existiu
nas ilhas. Por exemplo, Gaspar Frutuoso, como se disse, refere que a igreja da Misericórdia de Ponta
Delgada estava toda coberta de azulejos.
Azulejos feitos
em Portugal
Possivelmente
a partir dos meados do século XVI, segundo José Meco. Portanto, depois da
construção do mosteiro de Jesus, produzem-se em Portugal azulejos « lisos de
cor branca, azul, verde ou negra».[69]
Ainda segundo o mesmo investigador, até meados do século XVI, « as fábricas
sevilhanas de Triana foram as abastecedoras de Portugal.»[70]Há
a possibilidade de, ainda na primeira metade do século XVI, existir uma
rudimentar produção portuguesa, sobrevivência «da cerâmica ornamental de raiz
mourisca [que]fo[i] certamente
influenciada pela azulejaria sevilhana relevada, entre as quais incipientes
peças de possível produção portuguesa, como os rudes azulejos de aresta, verdes
e brancos, dos meados do século XVI»[71]
A
introdução da majólica, técnica utilizada pelos nossos de padrão policromo, «
deu-se em data pouco precisa do terceiro quartel do século XVI.»[72]
Porém, Francesco Niculoso, em Sevilha, ainda no primeiro quartel de quinhentos,
realiza diversas obras azulejares recorrendo à majólica.[73]
Porquê só
então?
Talvez Santos Simões ofereça parte da explicação ao
referir que «Portugal, liberto das influências mouriscas desde a conquista
definitiva do Algarve - 1267, pelo Tratado de Badajoz ... - , [tenha ficado] demasiado afastado dos
centros de irradiação granadina».[74]
Talvez ainda, segundo Irisalva Moita , a afluência proporcionada pelo comércio
ultramarino, permitiu a aquisição de revestimentos têxteis: « Não estando ainda
generalizado entre nós o aquecimento, por meio de fogão de sala, o conforto era
conquistado pelo uso e abuso de tapeçarias e forros de toda a espécie, no
inverno, substituídos, no verão, pelos guademecis com rica decoração dourada,
que vão cair em desuso a partir da segunda metade de quinhentos, substituídos,
cada vez mais, pelos revestimentos de azulejo... O exagero no uso de panos
ricos e tapeçarias para ornamentação de ambientes ia ao ponto de com eles
decorarem os interiores de embarcações ...»[75].
Porém, a economia portuguesa era “deficitária e [limitava ] a tendência constante para
a euforia sumptuária...”[76].
Portugal era também o país”... onde o barro e os materiais cerâmicos abunda[va]m e se alicerça[va]m em tradições seculares,
nomeadamente a fecunda herança da presença muçulmana...[77].
Para além do “modesto custo do azulejo, e a facilidade da
sua preparação artesanal.” [78]
O gosto pela aplicação do azulejo em Portugal parece dever muito aos exemplos
de D.Afonso V, de D. Manuel I, deslumbrado pela visita que efectuou a
Sevilha, e ao bispo-conde de Coimbra, D.Jorge de Almeida.
Algumas directivas contra o luxo dos panos, como as dimanadas pelo sínodo de
Sevilha no início do século XVI, terá facilitado a sua expansão. O que terá
levado ao surgimento de olarias em Portugal dedicadas à produção de azulejo? Existia
o mercado e existia quem o fabricasse mais perto, em Portugal. Quem? Artífices
estrangeiros, numa primeira fase, certamente, mas igualmente locais, pouco
depois? Teria sido assim?
Os
azulejos
O que parecem
dizer os nossos fragmentos
Vamos organizar esta parte de modo que, partindo da
análise visual dos fragmentos recolhidos, possamos, conjugando dados
arquivísticos, arriscar a sua reconstituição, data, local, técnica de fabrico e
o modo como foram colocados.
Proposta de
reconstituição[79]
Antes de tudo torna-se, obviamente, necessário
reconstituir os fragmentos que temos, de modo a que cheguemos ao elemento e daí
ao padrão ou cercadura. Qual o grau de certeza desta ‘proposta’ de
reconstituição? Não existe, como acontece para a policromia de padrão
seiscentista, um catálogo, nem existem nos Açores exemplares diversificados, o
que dificulta a nossa tarefa.
Todavia, em seis motivos diferentes, temos a certeza
em quatro das reconstituições propostas: 1-A; 3-A, 4-A e 6-A; das restantes,
temos c. de 55% de certeza da do 5-A[80]
e alguma da do 2-A. Ficam de fora, alguns fragmentos muito pequenos, difíceis
de identificar. São reconstituições plausíveis: No caso dos de corda seca -
3-A-, o A 59-91,[81]
corresponde a ¾ de um inteiro - algumas dúvidas foram resolvidas com o cotejo
de outros fragmentos.[82]
A ‘regra,’ neste e em outros três casos: ‘estrela’ (4-A),’barra azul’( 2-A) e
‘motivos florais tipos A’ (6-A), da formação dos nossos parece ser a repetição
na oblíqua e na horizontal do mesmo motivo; assim, se temos o A 59-91-
fragmento-, com dois elementos vegetais verdes na oblíqua e um só azul, por
esta ordem de ideias, pede um segundo elemento azul. O que é comprovado pelos
outros fragmentos. Seguirão esta regra a ‘ de motivos florais’ e a ‘estrela de
oito pontas.’ No caso dos de ‘laçarias’- sobretudo nas variantes A, a B sendo
de padrão 1/1, pode fugir a esta regra?
- nossa classificação- , parece funcionar do seguinte modo: a metade da
esquerda, na vertical, neste caso, ou vice versa, repete-se na metade da
direita; assim: reconstituiremos as ‘laçarias’, tipo A, com certeza, tanto mais
que outros fragmentos, o parecem confirmar.[83]
A ‘cercadura de barras azuis’ também deverá obedecer a esta ‘regra.’[84]
Temos menos certeza quanto aos restantes: ‘fragmento
de cercadura- muito pequeno, nosso tipo B’, uma espécie de friso floral
estilizado;
’ motivo ‘floral B’- os dois fragmentos podem
ser do mesmo lado -; fragmentos mais pequenos e ‘laçarias com alvéolos góticos
(?)’. Todavia, para este caso, José Meco encontrou um padrão 1/1 na Sociedade
Geográfica portuguesa[85].
A ‘Estrela oitavada’, apesar dos pequenos fragmentos, parece também, pela
inclinação das pontas, estar confirmada.[86]
Com este pensamento, com a ajuda de José Meco e de Alfonso Pleguezuelo e de
diapositivos, adiantamos as propostas atrás referidas. Encontramos a
correspondência de quatro: 6-A - existe na Cartuxa de Sevilha;[87]
4-A - Sociedade Geográfica de Lisboa;[88]
5-A - Lisboa, colecção particular; ‘cercadura de barra azul’ - n.º 206.[89]E
de um único: 3-A - corda seca - “No podria citar otro ejemplo semejante … Sus
colores son exactamente iguales a los que se emplean en la decoracion de la
vajilla sevillana de cuerda seca »
Todavia, ainda assim, é bom registar que não
existem certezas absolutas.Pelo que conhecemos há muitas variantes e uma
infinidade de modelos: os nosso 5-A e 2-A, poderão ser variantes.
Os motivos de corda seca distinguem-se dos
demais: são estilizações de motivos vegetais que nos parecem a meio caminho
entre as laçarias, os motivos geométricos, de influência mudéjar, e as
composições naturalistas, de influência renascentista. Entre os azulejos de
aresta, apesar de pertencerem a tipos diferentes, existem motivos que se
assemelham, não obstante pequenas diferenças: 1-A e MJ66-4-3-98 - tipo não
identificado- ( folha verde) ;1-A e 6-A
( folhas, uma verde, no 1-A, e azul, no 6-A); MJ57-4-3-98 ( fragmento de friso
- tipo coroa em ocre ) e MJ 71-4-3-98 (
mesmo motivo, tipo floral?- Talvez pertença ao 4-A).Parece haver a tendência
para a inclusão, entre as composições florais,
de ‘motivos circulares’: ‘Motivos florais VB’ e 4-A.
Universo de
estudo
Com as ressalvas anteriores, partimos à aventura de
seriá-los; quanto à técnica de fabrico agrupam-se em dois grupos: corda seca -
um- , e aresta- os restantes- ; no que diz respeito à temática decorativa,
parecem poder agrupar-se em seis tipos.[90]Dentro
destes vejamos como se poderão combinar: Fitomórficos e geométricos: O de corda seca - 3- A -, a ‘estrela
oitavada’- 4-A-, e a ‘cercadura de barra
azul’- 2-A ; fitomórficos: 6-A; laçarias,
motivos vegetais e alvéolos góticos: 5-A; idem, talvez sem alvéolos góticos: 1
-A. Ao todo serão, sensivelmente seis
tipos, destes, talvez existam
duas variantes, uma contendo motivos vegetalistas, geométricos e góticos, outra,
laçarias ‘não identificadas.’[91]
Vê-los ao
pormenor
Tardoz: Comecemos pela parte não pintada do azulejo.
Uma observação dos fragmentos azulejares referidos, sem o recurso à lente
binocular, ou de outros instrumentos de precisão, leva-nos a afirmar que, para
os casos em apreciação, ao contrário do que Alfonso encontrou,[92]não
existem quaisquer marcas nos nossos.[93]
O barro apresenta uma coloração amarelada, sensivelmente igual em todos;
alguns, enquanto não completamente enxutos, ou mesmo enxutos, apresentam um tom
mais róseo.[94]
Existem vestígios de argamassa simples composta por cal e areia - grãos
redondos iguais aos de ribeira, a dois passos do mosteiro, porém também existe
no areal da Ribeira Grande, um pouco mais distante, mas ainda perto do
mosteiro. O MJ 65-4-3-98 ( vide 4-A) fragmento de ‘estrela oitavada-, foi
rebocado partido. Ter-se-ia partido na viagem ou durante uma reutilização?
Formato
O de corda seca, 3- A, de motivos florais, o 6-A, e
o 1-A são inequivocamente quadrangulares. Não temos a certeza dos restantes
porque os fragmentos que possuímos não têm, pelo menos, três lados. É bem
possível que os outros também sigam aquele formato. Por exemplo: apesar de
termos um só lado do ‘estrelado,’ a aceitarmos a reconstituição proposta, só
poderá ser de forma quadrangular. Além do mais, comparando a amplitude das verrugas do A-62-91- 6-A- [95]com
a sua, se o azulejo não fosse quadrangular, o tripé, colocado daquele modo, com
aquela projecção, poderia desequilibrar a pilha de azulejos. Esta, porém, é uma
prova insuficiente. O MJ70-4-3-98 confirma a forma quadrangular dos de laçaria
variante A.
A espessura dos fragmentos varia não só de elemento
para elemento, mas também no interior de cada elemento.[96]
Assim temos registado, no MJ41-4-3-98, um mínimo de 19mm e um máximo de 21mm;[97]
no MJ 69-4-98, um máximo de c. de 27mm.[98]
Esta variação dá-se igualmente dentro dos elementos do mesmo padrão de corda
seca.[99]
O comprimento e a largura - nos casos de 3-A e 6- A- os que têm três lados- , é
de cerca de 135 mm;[100]
nos que têm um lado completo - MJ56-4-3-98 e P-4 -S-98 -, temos 136mm e 140 mm,
respectivamente. São modificações mínimas que podem resultar só da pouca
perfeição do seu fabrico?
Cores
Tons de verde, indo do mais escuro ao amarelado, às
vezes, no mesmo elemento, nos motivos florais, VB, MJ51-4-3-98 -,
progressivamente do escuro para o claro - a maioria transparente. O azul,
apesar da transparência, uma certa, é mais homogéneo: 3-A = MJ63-4-3-98. Pode
dizer-se do amarelo o que se disse do verde, neste caso, do ocre bem claro
passa-se ao castanho: MJ66-4-3-98 e MJ57-4-3-98. O cor de vinho é tão homogéneo
quanto o azul, todavia, por vezes, apresenta-se mais translúcido nos centros e
nos lados do azulejo: 5-A = MJ42-4-3-98. Passa-se algo de interessante com o
branco: Um branco mais opaco , no 3-A = MJ 12-S-98 e MJ- 63-4-3-98 e um branco
translúcido, quase rosa, em todos os demais, havendo a tendência de todas as
outras cores se misturarem no branco. Não parece, exceptuando o branco, ou os
tons de verde e de ocre, variando do muito claro para o muito escuro, haver
grandes divergências nas cores de todos os fragmentos que temos. Algumas são
pouco visíveis porque estão misturadas - A-62-91- ( 6-A), cobertas por uma
película de sujidade, casos do A-61-91 (
3-A) ou do MJ 59-4-3-98 ( não
identificado), entre outros. As arestas de quase todos estão gastas. O que nos
poderá dizer a superfície de alguns de corda seca - A61 e A59 -91 - ,
recobertas com uma fina camada de sujidade, contrastando com a ‘limpeza’ de
outros de corda seca - MJ 63-4-3-98 e MJ 62-4-3-98 ? Uso em espaço aberto, ao
contrário dos segundos? O A59-91 parece apresentar desgaste por fricção, prova
do seu uso pavimentar? A superfície pintada dos fragmentos números MJ 25-4-3-98
e MJ 68-4-3-98 apresenta bolhas, provavelmente, motivadas por uma cozedura
deficiente. A ineficácia da separação das cores está patente no exemplar MJ
58-4-3-98. Em conclusão: primeiro lugar, as cores variam dentro do mesmo
azulejo. Em segundo, estas variam entre azulejos com os mesmos motivos: 3-A =
A61-91 e MJ 63-4-3-98. Não há, neles todos, eficácia na contenção das cores.
As cores, segundo José Meco, « o verde, o negro e o
amarelo foram realizados com zarcão corado com óxido de cobre, de manganês e de
ferro, e as restantes cores de vidrado estanífero, simples para o branco (
usado como cor e não como suporte de pintura) e corado com óxido de cobalto e
de manganês para as cores azul e roxa.»[101]
Técnica
empregue
Que são
azulejos de corda seca ?
São,
de um modo geral e sem atender-se ao longo processo evolutivo daquela técnica,
aqueles que, para manterem durante a cozedura do azulejo as suas diversas cores
separadas, recorrem ao uso de gorduras. Não obstante, muitos azulejos saíam com
as cores misturadas.
«
Con esta denominación de interpretción algo confusa (12) se suele aludir a un
tipo de cerámica decorada mediante un dibujo trazado a pincel con una materia
grasa mezclada con óxido de manganeso.Sobre las superficies que este trazo
delimita se aplican, también a pincel, otros óxidos minerales que constituyen
la de coración a color (13).»[102]
Começo,
pois, pelos ‘hispanos-mouriscos,’de provável origem sevilhana. [103]
Em primeiro lugar, pelos três fragmentos de azulejo de corda seca, registados
por nós, respectivamente com os números 2 e 3 e10[vide 3-A]. [104]
Apresentam os mesmos motivos ornamentais, dois- 2 e 10 -, pertencem ao mesmo
elemento ( digo azulejo ).
Em que
consiste a técnica da aresta?
De
um modo simplista tratava-se de recorrer a uma ranhura ou aresta para manter as
cores separadas durante a cozedura. Marca um avanço técnico em relação à corda
seca. Todavia, é bom reter que, tal como para aqueles primeiros, houve uma maturação naquela técnica:
«
En el camino de la progressiva simplificación del proceso de fabricación del
azulejo, la aplicación de una matriz que mecánicamente imprimiera el relieve
sobre el barro, fue un paso revolucionario… El perfeccionamento de esta técnica
posibilitó la eliminación del retoque a pincel de cada pieza en lo referente al
trazado del diseño, aunque la aplicación de los esmaltes sobre éste, tal vez
siguió siendo manual.»[105]
Sobre um fundo branco transparente - não pintado
como a majólica - pintado a pincel e não com instrumentos como os alicatados,
reconhecemos nos nossos de corda seca , à vista desarmada, um menor grau de
relevo na corda dos elementos centrais e externos cor de vinho.[106]
Agrupamentos
Apesar de só as cercaduras e o 5-A serem 1x1, todos
os demais padrões que possuímos, 2x2, exceptuando talvez o 4-A - ‘Estrela oitavada-,[107]
podem ser colocados em 1x1. Tal depende do modo como os colocaram: existem
exemplos de elementos de padrão 2x2 usados como cercadura.
Não existem em São Miguel e nos Açores, nenhum
conjunto colocado no modo primitivo; em Portugal, em Espanha e pelo mundo fora,
onde quer que esta cerâmica arquitectónica tenha penetrado - tanto quanto nos é
dado a conhecer -, são poucos os exemplares nesta situação, o que torna
imprudente qualquer generalização.
Os nossos fragmentos têm sido, é bom repeti-lo,
encontrados dispersos no meio de entulho. Temos cercaduras e elementos que
poderiam constituir padrões de 1x1 e 2x2, encontrados no mesmo local,
pertencendo, presumivelmente, àquele local e usados, provavelmente,
conjuntamente, ou seja na mesma superfície.São tudo, nos que estudamos, ao
contrário dos padronado do século XVII, repetições do mesmo elemento.
Segundo José Meco : « Foram principalmente usados em
Portugal os padrões e cercaduras decorados pelos sistemas de corda seca e de
aresta, frequentemente usados em simultâneo nos revestimentos mais complexos,
associando os exemplares de ornamentos de laçarias geométricos de expressão
mudéjar … com os que apresentam motivos naturalistas livres e elaborados
ornatos tipicamente renascentistas … , adoptados a partir da fixação de
Niculoso em Sevilha, cerca de 1500.»[108] E agrupar-se-iam de dois modos: À portuguesa
- « misturando os mais diversos padrões e cercaduras de modo a formarem
combinações dinâmicas e contrastadas, completamente distintas das arrumações de
padrões usadas na Andaluzia »[109]
- e à andaluza, no caso do Convento da
Conceição, em Beja - « diversos modelos renascentistas de aresta, envolve as
paredes da sala numa integração cuidada, com os diversos padrões agrupados a
formarem painéis colocados lado a lado, envolvidos por uma cercadura e
rematados por friso com palmetas.»[110]
Portanto, quanto aos nossos, não dispondo do
contexto original de colocação, nem tão pouco- todos os exemplares existentes,[111]
tudo será possível, seria vão tentar ir mais além do que a sugestão acima referida. A nós compete
sugerir os vários modos de colocação. Qualquer que tenha sido a sua colocação,
pelos elementos reconstituídos, podemos dizer que o 3-A e o 6-A imprimem ao
olhar uma dinâmica oblíqua - igual à que seria apanágio das composições de
padrão policromo seiscentistas - ; o 1-A, vertical , o 2-A, como cercadura,
depende do modo como a utilizaram. O 4-A e 5-A, sugerem aparentemente movimentos
circulares; todavia, o primeiro, ao estabelecer a ligação entre o octógono e a
cruz permite as laçarias, sugerindo outros movimentos.
Onde,
porquê e quem usava azulejos ‘mudéjares’?[112]
Segundo Maria João Goulão, o que será aplicável ao
mosteiro de Jesus e a outros edifícios da Ribeira Grande,[113]
eram utilizados desde as obras da elite às humildes igrejas paroquiais,
revelando-se os azulejos mudéjares «durante o século XVI como um elemento
decorativo muito divulgado e apreciado. As razões desta generalização
prendem-se naturalmente com as vantagens que tal tipo de decoração apresentava.
Não sendo um produto excessivamente caro, oferecia possibilidades quase infinitas
de utilização, podendo ser usado sem distinção em edifícios de carácter
religioso ou civil, em paredes externas ou internas, em abóbadas, pátios,
corredores, caixas de escada, bancos de jardim ou salões. O seu brilho
esmaltado, as cores fortes e os motivos utilizados conferiam-lhe um acentuado
sabor exótico, de que se tirou partido ao associá-lo à arquitectura mudéjar.
Nas construções mais modernas, alguns exemplares de azulejos bastavam para
guarnecer um frontal de altar ou um rodapé, conseguindo-se sem grande despesa
uma decoração policroma duradoura e vistosa.»[114]
O seu uso está intimamente ligado à substituição dos
panos, mais caros e mais demorados a fazer, além de serem menos resistentes à
humidade. Também trazia convenientes em relação ‘aos alicatados’ e casava bem com o estilo manuelino. Além do
mais uma pragmática emanada do concílio de Sevilha, em 1509, desencorajando o
uso excessivo de panos, veio contribuir para os frontais de altar azulejados. O
azulejo protegia a parede de sujidades e da humidade.
No nosso caso, porque o mosteiro foi reconstruído
depois de 1563, foi ocupado depois da sua arrematação em 1833, é possível que
possa ter tido outro uso: em fontanário de jardim ou alegretes. Três
fragmentos, como já afirmamos, apresentam desgaste na sua superfície, o que
aponta, seja durante o período conventual ou no posterior, para o seu uso
pavimentar. O que se pode adiantar, para além do que já referido, será que,
caso os nossos azulejos tenham sido utilizados na casa dos fundadores do
mosteiro, os locais da sua colocação
seriam, provavelmente, diferentes dos do mosteiro - presumindo a sua existência
- , e mesmo neste caso, do que se passou, posteriormente, na reconstrução
ocorrida no último quartel de
quinhentos, nas modificações de então até 1832 - novas campanhas de obras - ,
bem como nas demolições e obras a partir de 1833 até hoje. No mosteiro, até à
reconstrução, poderiam ter sido utilizados, tal como seria plausível que o
fosse em outros edifícios da Ribeira Grande, [115]em
frontais de altar,[116]
em silhares, nos coros, no refeitório, nos claustros, ou a forrar o lavabo do
claustro, como em Setúbal, talvez em pavimentos, conjugado com tijolo, [117]depois
da reconstrução, apesar da destruição descrita por Frutuoso,[118]
possivelmente, teriam sido em parte ou na totalidade, reutilizados, [119]até
porque houve muitas dificuldades económicas durante a sua reconstrução.
Percebemos que, por motivos tradicionais, apesar de, na primeira metade do
século XVI, já existir a novidade da majólica, esta não ter sido, regra geral, seguida pelo
«apego da clientela peninsular aos tradicionais azulejos hispano-mouriscos »,[120]
percebemos a opção do mosteiro de Jesus, só não entendemos, em parte, a sua
reutilização já que, na segunda metade daquele século, dentro do período da
nossa reconstrução, sendo a sua substituição e « aceitação rápida pela Contra
Reforma»[121] por
a arte mudéjar estar « imbuída de islamismo»,[122]
o mosteiro de Jesus ainda os (re)utilizar. Talvez pelo conservadorismo que o
‘atrazo’favorece, talvez, como já dissemos, também por razões económicas, ou
por ambas razões conjugadas. Os que resistiram à crise sísmico vulcânica, os
que não foram para o lixo ou reutilizados, tal como dantes, ou na decoração de
nichos, banquetas, e outras utilizações - só o contexto estratigráfico nos
poderá resolver estas dúvidas-, com a introdução da policromia de padrão
seiscentista,[123] os
que eventualmernte estariam em sítios/locais mais nobres - frontal e
superfícies parietais diversas da igreja - habitualmente foram cobrir os panos
interiores das igrejas -,[124]
por exemplo, poderiam ter sido retirados, arrumados ou empregues, alguns ou
todos, como ‘embrechados;’[125]mais
tarde, teria sucedido o mesmo com a introdução de azulejos azuis e branco, seis
e setecentistas.[126]
José Maria da Câmara Vasconcelos e os sucessivos proprietários do local
poderiam ter dado outro uso aos que encontraram.[127]
Não esquecer que a colocação, modo e local,
dependiam tanto do gosto do encomendador, Pedro Rodrigues da Câmara, como do
reutilizador, seu filho, como do ladrilhador, elemento essencial, segundo José
Meco, como da abadessa. Esta última veio do Funchal- veja-se a magnifica
utilização azulejar do convento de Santa Clara no Funchal - , passando pela
Praia, na ilha Terceira -, ou o vestígio de azulejo de corda seca proveniente
do convento da Praia-, e perceber-se-à um pouco a possível transmissão do
gosto. Não esquecer também que Pedro Rodrigues da Câmara era parente dos
fundadores do Mosteiro da Esperança em Ponta Delgada e que viera da Madeira, de
onde seria natural.
Como assentavam azulejos
A utilização das técnicas de aresta e de corda seca
permitiu, além de embaratecer o produto, levando menos tempo a fabricá-los,
diferenciar quem fazia e quem ‘assentava ‘ o azulejo, bem como substituir os
instrumentos dos ‘alicatados’- feitos no local, cortando placas uniformes de
várias cores - , pelo pincel.
O ladrilhador « desempenhou sempre um papel
primordial na selecção das peças e na combinação e aplicação das mesmas,
realizando muitas vezes soluções decorativas ingénuas e altamente eficazes ( no
caso dos azulejos repetitivos) e resolvendo os problemas levantados pelas
superfícies irregulares, as curvas ou esféricas, os cantos e as escadas, que
exigem cortes nos azulejos, feitos habilmente pelos ladrilhadores com picadeiras.»[128]
E acrescenta: « A aplicação deve ser feita depois de os azulejos terem estado
de molho, através de uma argamassa simples, apenas de cal e areia.»[129]
Datação dos
nossos
Não dispondo de dados escritos sobre os nossos
azulejos - documento de encomenda ou outro, por exemplo -, resta-nos tentar
conjugar outros dados, de modo comparativo, com elementos históricos, estéticos
e técnicos - eles próprios como documento - , com as datas da campanha inicial
de obras da transformação da residência do casal Pedro Rodrigues da Câmara e
sua mulher em mosteiro de freiras clarissas.
Ora, a data, finais do segundo quartel do século
dezasseis, coincide com a coexistência daquelas técnicas - corda seca e aresta,
como vimos - , e com a utilização dos motivos que registamos, exceptuando-se,
talvez, segundo Alfonso o 3-A:
« La cronologia que proporciona la construcción del
edificio e donde proceden (1545-1555) es totalmente congruente con los
azulejos. En esos años se estaban produciendo en Sevilla todos esos modelos. El
único del que no poseo datos ni paralelos es el que tambien a ti te suscita las
dudas
( n.º 2 y 3 [o n.º 10 também é deste tipo
mas foi encontrado depois de Março de 1990: 3-A »[130]
Mais tarde, em 1997, foi-nos possível enviar-lhe aquele exemplar:
« Se trata de um ejemplo de azulejaria sevillana de
cuerda seca, datable hacia 1500...»[131]
Também não haverá certeza de que tenha continuado a ser produzido´, tanto mais
que pouco se sabe sobe aquele padrão único. Em todo o caso, as casas do
instituidor, estavam lá já no período do seu fabrico: antes de finais do século
XV.
Portanto, atendendo à experiência que Meco e Alfonso
têm sobre a matéria,[132]
o aparecimento de elementos azulejares seguindo aquelas técnicas e aqueles
motivos - tardo-góticos, renascença e mudéjar-, coincide com a data de
construção do mosteiro, exceptuando, talvez, o 3-A. Dizem-no com alguma
certeza, não toda, pois que, nem em Portugal, nem em Espanha, está feito o
catálogo daquela produção. Subsistem dúvidas. Há ainda, para além da
constituição criteriosa e exaustiva do catálogo, investir na análise
laboratorial, na pesquisa documental e arqueológica.Isto não só para se apurar
dados cronológicos, como também a origem das peças.[133]
De onde terão
vindo?
Quer Alfonso quer Meco identificaram-nos como sendo
sevilhanos.Uma coisa parece ser certa: não são de fabrico português.Mas como
distinguir os fabricados em Sevilha dos de Toledo, Granada ou Málaga? Vejamos o
que escreveu Alfonso, sobre a dificuldade em distingui-los:
« Entre los Azulejos de Sevilla y los de Toledo no
hay demasiadas diferencias aparentes. Un examen simplesmente visual arroja
pocos datos. Además de algunas variaciones en los colores, sobre todo en el
verde, más transparente y brillante en Sevilla, más opaco y apagado en Toledo,
sólo parece existir una distinción que se mantendrá en el caso de los azulejos
de arista. Las pastas toledanas suelen presentar un color rojizo de cierta
intensidad, en tanto que los exemplares sevillanos son de pastas claras
amarillentas o a lo sumo con un leve matiz rosáceo.»[134]
E, mais adiante acrescenta mais um dado que complica, ainda mais, a
identificação visual:
« Las diferencias entre los azulejos realizados en
estos tres focos[Sevilha, Toledo e Muel], residen en los diseños, en las pastas y en
los colores empleados, pero [repare-se!, nosso sublinhado] con seguridad también debieron darse
puntos de conexión entre ellos a través de intercambios de obras e de artistas.
»[135]
Portanto, não pode haver certeza absoluta. Uma
análise aos barros, por exemplo, poderia fornecer a prova de serem de
Sevilha?As nossas pastas, numa análise visual, parecem-se às descritas por
Alfonso como sendo de Sevilha, bem como os verdes translúcidos, e as relações
comerciais com Sevilha, via Lisboa, ou directamente, tanto quanto sabemos, eram regulares, por conseguinte, será
plausível, até termos provas irrefutáveis, considerar que os nossos sejam
sevilhanos.
Em Aberto
Musealização
destes azulejos
A partir das ilações que o material e os demais
documentos nos permitem, proporemos a sua explicação e exposição museológica.
Temos que ter em mente o grau de validade variável das reconstituições
propostas, da sua datação e ligação ao espaço do mosteiro. Assim, serão
fragmentos de azulejaria utilizando as técnicas da corda seca e da aresta,
cujos motivos ornamentais - fitomórficos e geométricos -, denunciam influências
tardo-góticas, mudéjares e renascença, recorrendo a cores verdes e brancas
translúcidas, a amarelos, azuis e cor de vinho, tendo sido presumivelmente
fabricados em Sevilha, dentro da primeira metade do século XVI.[136]
Foram também presumivelmente utilizados no espaço onde esteve o mosteiro - não
sendo improvável que o 3-A tenho mesmo sido antes, a crer na cronologia
proposta por Alfonso - , ou seja: altares, silhares, talvez pavimento e em ‘embrechados
.‘Estão inseridos, tal como o tríptico flamengo, no período de abundância
proporcionada pela exportação de pastel e trigo.
Quando terminarem as escavações far-se-á a avaliação
- em termos de diversidade e de quantidade - , do espólio azulejar recolhido,
só então se poderá o modo como os apresentaremos. Existirão elementos
suficientes para sugerir padrões? Sugeriremos os que falta, tal como fizemos
para os seis e setecentistas? Usaremos mais suporte gráfico? Em qualquer das
circunstâncias, exemplificaremos os estilos ‘à portuguesa’ e à ‘andaluza’ de
colocação, bem como os locais em que eram, normalmente, utilizados. Não devemos
desligar estes azulejos dos demais já estudados, dos a estudar, da cerâmica, ou
outros elementos que compõem um organismo complexo que é um edifício, seja ele
igreja, mosteiro, casa moradia, jardim, ou praça pública. Os azulejos não vivem
desgarrados desta realidade. Seria uma verdade parcial, muito pequena,
miserável até.
Como o fazer no museu da Ribeira Grande? A nossa proposta
não diverge muito da que fizemos para os demais azulejos já estudados e
expostos parcialmente.[137]
Devemos ‘fazer falar as pessoas” e as suas técnicas, as ligações
transatlânticas entre os Açores e a Península Ibérica.
Trata-se, pois, como sempre, no nosso caso, de um
estudo para orientar, por um lado as escavações em curso, por outro, dar
consistência científica à exposição museológica que propomos.
Ribeira Grande, 11 de Maio
de 1998
Azulejos de
corda seca e de aresta das terras do ex-mosteiro de Jesus da Ribeira Grande
Introdução
Hipótese
de trabalho
Breve
contexto:Viagem do início da ilha ao tempo dos azulejos
A
Ribeira Grande nos séculos XVI e XVII: Dois cronistas
O
Mosteiro de Jesus da Ribeira Grande: Localização
Os
instituidores do Mosteiro do “Santo Nome de Jesus”
A
igreja segundo dois testemunhos do século XIX
Mosteiro
do Santo Nome de Jesus
Algumas
transformações do espaço do mosteiro de Jesus desde meados do século XVI a 1832
Porque
se demoliram alguns edifícios depois de 1833?
Como
teria sido o mosteiro: Hipótese de trabalho
Entulhos
de onde?
Quem
eram os ocupantes do mosteiro?
Como
explicar a construção de mosteiros naquele período?
Como
explicar a existência na ilha de São Miguel de azulejos presumivelmente sevilhanos?
Sevilha:Triana
Não
esquecer que:
Outros
azulejos do mesmo tipo existentes nos Açores
Azulejos
feitos em Portugal
Porquê
só então?
Os
azulejos. O que parecem dizer os nossos fragmentos
Proposta
de reconstituição
Universo
de estudo
Vê-los
ao pormenor
Formato
Cores
Técnica
empregue. Que são azulejos de corda seca
Em
que consiste a técnica da aresta
Agrupamentos
Onde,
porquê e quem usava azulejos mudéjares?
Como
se assentavam azulejos?
Datação
dos nossos
De
onde terão vindo?
Em
aberto. Musealização destes azulejos.
[1] Vide Plantas de S.Miguel e
da Ribeira Grande.
[2] Vide Planta. O espólio da
escavação depositado pela Associação arqueológica do arquipélago dos Açores, não obstante o relatório não o mencionar,
contém vestígios de azulejaria de corda seca e de aresta.
[3] Meco, José, O papel do azulejo de Lisboa no contexto colonial português e alguns substitutos , Encontro sobre a estética do azulejo, Palácio Fronteira, 7-8 de Abril de 1989 [s.p.]
[4] Por exemplo, prosseguir, na
linha avançada por Darlindo Lucas, conforme o relatado em ‘Composição de
pastas, vidrados e argamassas de azulejos dos séculos XVI a XX’ , Encontro
sobre a História da azulejaria em Portugal III: Do Pombalino ao Romantismo,
Palácio Fronteira, 1992
[5] David Lowenthal, Heritage
revisited: A combining address , in Heritage Interpretation, v. 2, ed.
David Uzzell, Belhaven Press, Londres, p. 212
[6] Segundo o Prof. Doutor
Victor Hugo Forjaz em visita guiada que fez aos Ámigos dos Açores’.
[7] Moreira, José Marques, Alguns
aspectos de intervenção humana da paisagem da Ilha de S. Miguel ( Açores) ,
Lisboa, 1987, p. 13
[8] Frutuoso, Gaspar, Saudades da Terra , Instituto Cultural de Ponta Delgada, Ponta
Delgada, lv. 4, v. 1, 1924
[9] Frutuoso, Gaspar, Saudades da Terra, lv. 4,
v. 2, 1981, p. 261
Idem
, p. 261-262
[10] Idem , p. 261-262
[11] Monteiro, Manuel Velho
Arruda, Colecção de Documentos relativos ao descobrimento e povoamento dos
Açores, Instituto Cultural de Ponta Delgada, Ponta Delgada , 1977, p.
166.
[12] Frutuoso, Gaspar ,Op.
Cit, lv.4 , v. 2 ,1981, Instituto
Cultural de Ponta Delgada, Ponta Delgada ,
p. .262
[13] Idem,
p. 264
[14] Idem, p. 267.
Maia,
Francisco de Ataíde Machado de Faria e, Capitães do Donatário, 2ª Edição,
I. C. P. D. , Ponta Delgada, 1989,
p. 35. Aí escreve que naquela
época o capitão do Donatário era João Rodrigues da Câmara.
[15] Idem, p. 72
[16] Idem, 267
[17] Idem, p. 267
[18] Idem, p. 104
[19] AHMF. Inventário do Convento
de Jesus da Ribeira Grande, n.º 485
[20] History of the Azores or
the Western Islands , London, 1813, p.189
[21] Monte Alverne, Agostinho de,
Crónica da Província de São João Evangelista e Ilhas dos Açores, v. 2,
Instituto Cultural de Ponta Delgada, Ponta Delgada, 1961, p. .312, p. 461
[22] Frutuoso, Gaspar, Saudades
da Terra, lv. 4 , v. 2, p. 107
[23]Monte Alverne, Agostinho, Op.
Cit, v. 2, p. 314
[24] Frutuoso, Op. Cit
, lv. 4, v. 3, p. 45
[25] Agostinho de Monte Alverne, Op.
Cit, v. 2, p. 319
[26]Colecções de Decretos de
Mouzinho da Silveira, 1829 - 1834.
[27]Capitão Boid, Descrição dos
Açores ou ilhas ocidentais, trad. João H. Anglin, “Insulana”, Ponta
[28]Aos catorze de Dezembro de
1833, conforme título público passado em nome do Provedor Interino do Concelho
da Ribeira Grande, António Manuel da Silveira Estrella, o mosteiro e suas
dependências foi arrematado em hasta pública. Estes bens de raiz, fazem parte
do património de Dona Mariana Amália Narciza, primeira esposa de José Maria da
Câmara Vasconcelos que aparece como seu inventariante num documento de 7 de
Janeiro de 1834. Capitão Boid, Descrição dos Açores ou ilhas ocidentais,
trad. João H. Anglin, “Insulana”, Ponta Delgada, Instituto Cultural, vol. 7,
1951, p. 325
Parte por volta das sete da manhã com amigos
montados em burros no dia 8 de Junho de 1832 sendo sua intenção passar por Vila
Franca .(p.314)A páginas 325 escreveu que ”Os conventos haviam sido dissolvidos
na véspera da nossa chegada (a Vila Franca) e todas as freiras mais velhas, que
visitámos numa casa particular, ainda se encontravam chorosas e deploravam a
mudança, para elas funesta, pois que, passados já os sentimentos e atractivos da mocidade, se lhes estancara a
sede dos prazeres do mundo; os seus
hábitos, ocupações e afectos abrigavam-se adentro dos muros do convento e entre
a comunidade que haviam deixado.”
Do original: Captain Boid, A description of the
Azores or the Western Islands from personal observation by Captain Boid, London,
Edward Church, 1835; B. P.A. A. H , Auto de Inventário, Cartório da Mitra de Angra, mç. 567, doc. 25
(cota provisória ) Diz claramente que se deveria fechar imperetrivelmente o
convento 3 dias depois daquela data: ‘ Houve por bem Supprimiar [sic]
o Mosteiro das Religiosas de Jezus desta Villa, determino que Vossa Senhoria
fassa ivacuar o mesmo Mosteiro em trez dias impreterivelmente’ A ter-se
cumprido a ordem teriam saído a 9 de Junho.
[28]Aos catorze de Dezembro de
1833, conforme título público passado em nome do Provedor Interino do Concelho
da Ribeira Grande, António Manuel da Silveira Estrella, o mosteiro e suas
dependências foi arrematado em hasta pública. Estes bens de raiz, fazem parte
do património de Dona Mariana Amália Narciza, primeira esposa de José Maria da
Câmara Vasconcelos que aparece como seu inventariante num documento de 7 de
Janeiro de 1834.
Em
Agosto de 1858, o prior Cabral de Mello diz que “ O frontispício da Igreja da
Ribeira Sêca, era o da Igreja das Freiras. “Independentemente de o
interpretamos à letra ou não, que a fachada tenha sido transferida e reposta
tal qual ou se somente parte ou tão somente que a fachada tenha sido
transferida e reposta tal qual ou se somente parte ou tão somente a pedra
utilizada foi adaptada, o certo é que, e é o que nos interessa provar,
ocorreram, em qualquer dos casos, demolições, em data desconhecida, mas
provavelmente entre Junho ou Julho de 1832 e Agosto de 1858.
[29] Idem, p. 167
[30] AHMF, Inventário do Mosteiro
de Jesus, Inv. n.º 12, n.º 485
[31] Desconhece-se se foi reposta
tal qual, ou se só se aproveitou a pedra para fazer uma nova.
[32] Silva, Ezequiel Moreira da, O
Convento de Jesus da vila da Ribeira Grande , Tipografia do Correio dos
Açores, Ponta Delgada, 1949, p. 10-13
[33] ARFRG , Matriz Predial
Rústica Freguesia da Matriz, Ribeira Grande.
[34] Não trato aqui da “Casa dos
Confessores” e outras mas tão só do espaço referido.
[35] Vimos desde 1987 a
constituir uma pasta contendo observações, desenhos, fotografias e outros
registos bem como plantas sobre o local e sua envolvente e tudo o que nele se
tem feito desde então.
[36] Consultar para as escavações o livro de Ezequiel Moreira da Silva.
[37] Testemunho de Manuel Pontes,
Abril de 1998: Filho do proprietário que levou a cabo as modificações acima
referidas. Corroborei com vizinhos e gente que andou nesta tarefa. Vide Planta.
Sem confirmar a fiabilidade da planta, por alto, tal equivaleria: c. de 44 metros -no lado da
canada do Rato da fracção 2- , + c. 90 m - naquele lado, mas na fracção 3 - , + c85m
-lado sul da fracção 3= c.219 m . Multiplicando por 5 m de largura= 1
095m2 O Sr. Pontes diz que o desaterro recuperou 4 alqueires de terreno. A área
que estamos a escavar - camada 3- , terá grosso modo: c. 1, 10 m alt. X c.16 m comp. X c. 8 m larg.
= 140, 8 m3. Ou seja, a área que estamos
a escavar, sendo a superfície = c.128m2
= 1/8 do alqueire.
[38] O mosteiro foi arrematado em
1833 e a demolição ocorreu até 1858. Ainda se encontram vestígios: Casa dos
Confessores, Portaria com Roda, muro da cerca, entre outros.
[39] Margarida Nogueira Lalanda, Do
convento de Jesus, na Ribeira Grande ( S.Miguel) , no século XVII: as cartas de
dote para freira , Sep. Revista Arquipélago, U. Açores, Ponta Delgada,
1995, p.116
[40] José de Torres
transcreve documento de 1701, no qual o
visitador do mosteiro de Jesus : « ... restricçam do N.º de lugares a 80; 20
logares da sua Fund. am... ; 44 pelo ... etc..» Sobre os Conventos
de São Miguel, 1845. Em 1832 eram uma trintena.
[41] Ezequiel Moreira da Silva, O convento de
Jesus da vila da Ribeira Grande , Correio dos Açores, Ponta Delgada, 1949,
p.9
[42] Para um melhor conhecimento
da Ribeira Grande na época em questão aconselha-se a leitura de:
António dos Santos Pereira, O concelho da
Ribeira Grande ( S. Miguel) : aspectos económicos e sociais no século XVI ,
Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, Angra do Heroísmo, v. 45,
1987, p. 1 113-1 140;
Marília Assis Tavares, A pobreza na Ribeira
Grande durante a Segunda metade do século XVI: Estudo quantitativo baseado nos
Registos de Óbito, Revista Arquipélago/ Ciências Humanas/ número especial,
Universidade dos Açores, Ponta Delgada, 1983, p. 43-60
[43] Agostinho de Monte Alverne, Op.
Cit. , v. 2, p. .232
[44]Margarida Sá Nogueira
Lalanda, A admissão aos Mosteiros de
Clarissas na ilha de São Miguel -
séculos XVI / XVII, 1987[provas de aptidão pedagógica e capacidade
científica].
[45] Idem.
[46]Agostinho de Monte Alverne, Op.
Cit. , v. 2, p. 251
[47] Gaspar Frutuoso, Op. Cit,
lv. 4, v. 2, 1981, p. .333
[48] António Cordeiro, História
Insulana , Secretaria Regional da Educação e Cultura, Angra do Heroísmo,
1981
[49] Alberto Vieira, A questão
cerealífera nos Açores nos séculos XV-XVIII ( elementos para o seu estudo)
[cópia dactilografada oferecida pelo autor. Já foi contudo editado.]
[50] Carlos Frederico de Sousa
Miguel, Açúcar , in Dicionário de História de Portugal, Joel Serrão, v.
1, Livraria Figueirinhas, Porto
[51] Gaspar Frutuoso, Op. Cit,
lv. 4, v. 2, 1981, p. 261
[52] Apesar de não haver prova
arquivistica e laboratorial daquela proveniência temos o reconhecimento de
Alfonso Pleguezuelo.
[53] Idem, p.353
[54] Valdemar Mota, O pastel
na cultura e no comércio dos Açores, Ponta Delgada, 1991, p.23
[55] Idem
[56] Para entender esta teia de
relações leia-se Alberto Vieira, O
comércio inter-insular nos séculos XV e XVI... , 1987, p.
147-157: ‘ A partir de Lisboa, Cádiz e Sevilha activar-se-á um assíduo
comércio, secundado pelos outros portos atlânticos e Mediterrânicos do litoral
peninsular.’ Segundo aquele investigador, em conversa tida recentemente, os
contactos eram pouco frequentes directamente com Sevilha , sendo mais
frequentes através de Lisboa.
[57] Alfonso Pleguezuelo, ob
cit , p.41
[58] Idem, p.42
[59] Idem, pp 42-43
[60] Maria Mercedes Martín, La
Cartuja de Santa Maria de las Cuevas en la Historia del Azulejo sevillano,
Actas do Encontro de Azulejaria em Portugal I, do hispano-árabe à policromia
seiscentista, Fundação das Casas de Fronteira e Alorna, [
1990], [ s.p]
[61] Gaspar Frutuoso, Saudades da Terra , 1981, lv.4, v.2, p.107
[62] Idem, lv. 4, v.3 , 1987, p.105
[63] Idem, lv. 4, v.2, p.107
[64] Estive lá de novo em 26-04-1998: Tanto quanto
me foi dado observar - estão em mau estado, o que dificulta a sua identificação
- , teremos três tipos de corda seca - ao todo sete
unidades -, e dois de aresta - cinco unidades.
[65] Tive notícias, depois das
apresentação deste trabalho no Palácio Fronteira, de que teriam sido encontrados alguns em
Angra do Heroísmo. Ainda não confirmei.
[66] Simões, João Manuel dos , Azulejaria nos Açores e
na Madeira , Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1963, p.56.
[67] Bento, Carlos Melo, Escavações
arqueológicas em Vila Franca do Campo , Associação Arqueológica do
Arquipélago dos Açores, Ponta Delgada, 1990,
p. 43; 72 [ « Azulejos de aresta e de corda seca na Gruta do Sanguinho
de Água d’ Alto que Sousa de Oliveira identificou já depois da descoberta
referida na notícia anterior.» ]; 79
[68] Vide desenho 3 -A . Em caixa n.º 599- nossa numeração- ,
depositada no museu da Ribeira Grande fruto das escavações efectuadas nas
terras do ex-mosteiro de Jesus pela AAAA
veio um fragmento de corda seca
do tipo 3-A e um outro de aresta, não são referidos no relatório, nem registados. Todavia, em nota divulgada na
imprensa, segundo o responsável pela escavação, alude-se sem especificar à «
descoberta de azuleijos[sic]
, louças e moedas dos últimos quatro séculos», acrescentando que «algumas das
peças de azuleijaria e de cerâmica... são originárias do Oriente e Península Ibérica.»Mais
de 5 mil vestígios foram descobertos na R.Grande , Correio dos Açores, 3
Nov. , 1988, fls 1 e 9
[69] José Meco, O azulejo em
Portugal , Publicações Alfa, Lisboa, 1989, p. 39-40
[70] Idem
[71] Idem, p.43
[72] Idem, p.52
[73] Idem, p.48
[74] Simões, J.M. , Azulejaria
em Portugal nos séculos XV e XVI , 2.ª ed. , 1990, p. 52
[75] Catálogo da Exposição de Lisboa quinhentista,
CML, 1983, p. 20
[76] Catálogo de exposição: Azulejos de Lisboa, CML, 1984, p.19
[77] Idem
[78] Idem
[79]Darei a numeração da entrada no inventário geral, quando já tiver sido feita, ou o número da ficha de recolha: MJ = Mosteiro de Jesus; 4= sector 4; S= superfície; 3= camada e 98 ao ano. Vejam-se as reconstituições propostas em:1-A; 2-A; 3-A; 4- A a 6- A.
[80] Temos elementos que nos confirmam 55% do total: é uma variante da nossa reconstituição.
[81] Vide proposta de
reconstituição 3-A. Corda seca: dimensões:
c.136mm
x c.126; o n.º 3: c. 92mm x c. 86mm.
Aresta (5-A) 1 -a - n.º1: c. 85
mm x c. 70 mm; -b - n.º9: c. 52 mm x c. 62 mm. São provavelmente do primeiro
quartel do século XVI, seguindo uma arrumação em faixas verticais, combinações
de 2 x 1 azulejos e grelha ou alvéolos góticos com ornatos florais=. O número 4 : c. 86 mm x c. 67 mm. É
provavelmente do segundo quartel daquele século, combinação 2 x 2 e de
decoração renascentista a formar estrelas de oito pontas = 4-A . Os números 5 e 6 - ao que parece fazem parte
do mesmo azulejo- , sendo de motivos naturalistas, apresentam, porém, quanto à
temática, influências da Renascença, provavelmente da primeira metade do século
XVI, tendo respectivamente as seguintes dimensões: a) n.º 5: c.136 mm x c.64 mm ; b) n.º 6: c. 80 mm x c.80 mm; juntos: c. 136mm x c. 140 mm x
c. 23 mm= 6-A.
[82] Por exemplo: MJ 63-4-3-98 e
MJ 62-4-3-98
[83] O MJ70-4-3-98 confirma Lç VA = P-4-S-98. Vide 1-A
[84] MJ -8-4-3-98 e MJ 6-4-3-98 (
2-A ) parecem encontrar uma
variante no n.º 206 do catálogo ‘Lisboa
quinhentista: a imagem e a vida da cidade’, C.M.Lisboa, 1983. Ao contrário, o 5-A, não segue a
‘regra’ da cercadura (2-A) : ou seja em 2-A a metade, de baixo, na horizontal, repete-se para cima.
[85] Vide 5 - A. Todavia, o que dispomos, até agora,
só nos permite reconstituir um pouco menos de 55% do total. Digamos que,
nesta parte, exceptuando um pequeno pormenor central, o nosso assemelha-se a
ele. Aqui a metade na horizontal não se repete para cima, ao que parece.
Aguardamos mais dados da arqueologia.
[86] Vide 4- A. O fragmento MJ
71-4-98 parece ser o seu elemento central. Todavia, para uma reconstituição segura, faltam mais elementos. Reparamos que a um fundo comum - observação
de fotografias - este motivo de estrela oitavada, apresenta uma variante
octogonal e duas circulares, às vezes, como em Coimbra, apresentadas no mesmo
pano.
[87] Havendo neste exemplar pequenas variantes que justificam as nossas.
[88] Exposição de azulejos de Lisboa, CML,
1984, n.º40
[89] N.º206= Lisboa quinhentista: a imagem e a vida da cidade, CML, 1983
[90] Tudo sujeito a confirmação,
obviamente. Corda seca: Fitomórfico e
geométrico = ( vide 3-A) A 59-91;
A-61-91; MJ 48-4-3-98- perdeu o vidrado ; MJ 50-4-3-98; MJ 61-4-3-98; MJ
12-S-98; MJ 13-S-98. Aresta: Laçarias:
Variante A ( vide 1-A) ( +motivos
florais) = Lç 1 V. A ( e urna?) : MJ
55-4-3-98; MJ 56-4-3-98; MJ 46-4-3-98; MJ 49-4-3-98; MJ 37-4-3-98; MJ9-4-3-98;
P-4-S—98 ( no Passal) ; Lç Variante B (
vide 5-A) - ( + alvéolos góticos,
urna ? e motivos florais) : A
-63-91; A- 64-91; MJ 42-4-3-98; MJ 47-4-3-98; MJ 10 -S-98 e MJ 56-4-3-98; Lç V.C :MJ 68-4-3-98;MJ58-4-3-98;
MJ25-4-3-98 ( com dados pouco seguros). ‘Estrela
oitavada’ ( vide 4-A) : A 60-91; MJ 74-4-3-98 ( encontrado em 28-04-98
possibilita a reconstituição); MJ 38-4-3-98; MJ 65-4-3-98; talvez: MJ 71-4-3-98
e MJ44-4-3-98. Estes elementos podem pertencer a uma figura oitavada. ‘Motivos florais’: V.A ( vide 6-A) = A -62- 91; MJ 2 -4-3-98; MJ
56-4-3-98; V.B ( inclui laçarias):
MJ11-4-3-98; MJ 51-4-98. O motivo floral não dá para reconstituir. Será que
pertence a outro? Cercadura do Tipo A -
vide 2-A ( barras azuis e motivos
florais estilizados) :MJ 8-4-3-98;
MJ-6-4-3-98; MJ 52-4-3-98; MJ 7- S-98; MJ 11-4-3-98; MJ 53 -4-3-98: V.B ( tipo friso coroado? ) :MJ
45-4-3-98; MJ 66-4-3-98. Outros fragmentos não identificados, entre outros: MJ
45-4-3-98; MJ 66-4-98. O MJ 25 e 68-4-3-98 parecem pertencer a uma outra
variedade de laçarias, uma variante do 5-A?
[91] MJ25-4-3-98
[92] Alfonso Pleguezuelo, Sevilla y la tecnica
de cuerda seca: vasilla y azulejos , ‘ Azulejos’, Museu Nacional do
Azulejo, n.º 1, 1991, pp. 11-21
[93] O A 59-91 tem reboco.
[94] No 1-A é mais róseo.
[95] C. de 7 cm. A verruga era deixada pelas marcar de um tripé separador dos azulejos durante a cozedura. Portanto, a distância seria de 7 cm.
[96] Medições da espessura feitas com a craveira.
[97] Para outros: ‘Estrela’ 4-A = MJ38-4-3-98=c.21mm; A60-91= idem; ‘Cercadura de barra azul’ 2-A= MJ52-4-3-98= 22 e 23mm etc. ; Laçarias A =1-A= P4-S-98= c.22mm;MJ55-4-3-98=c.23mm;MJ70-4-3-98= c24 e 25mm; Laçarias B- 5-A= MJ47-4-3-98= c.19 e 20mm; A63-91= c.23mm; MJ42-4-3-98= 19 e 22mm etc.
[98] Fragmento : c. 54 mm. Não
descobrimos o motivo.
[99] A59-91= c. 24 e 25 mm; A61-91= c.22 e 23mm; MJ 61-4-3-98= c.19mm etc.
[100] Medidos com régua normal dá-nos valores sensivelmente diferentes.
[101] José Meco, O azulejo em Portugal , Publicações Alfa, Lisboa, 1989, p. 38
[102] Alfonso
PleguezueloHernández, Azulejo Sevillano. Catalogo del Museo de Artes y
Costumbres Populares de Sevilla , Padilla Libros, Sevilha, 1989, p.26-
33
[103] Devo a classificação e
identificação a José Meco e a Alfonso Pleguezuelo.
[104] Aconselha-se que se consulte
o anexo sempre que se mencione um número atribuído a fragmentos ou a reconstituições.
Mantive ainda alguma numeração da altura em que apresentei em 1989 um trabalho
sobre os padrôes 3-A a 6A, ou seja 1, 2, 3 etc para cada fragmento, todavia,
dado termos encontrado, até ao momento c. de uma quarentena, dado ainda
imperativos de publicação, resolvemos agrupá-los nas reconstituições propostas.
Tal será complementado com fotografias de alguns fragmentos de todos os tipos
encontrados até ao momento.
[105] Alfonso Pleguezuelo
Hernández, Op. Cit , p. 33
[106] Observando-os com atenção somos tentado a pensar no que escreveu Santos Simões : « As cristas parece já não terem a função de separar os esmaltes mas apenas o de conferir ‘relevo’ e valor plástico à decoração. Na verdade nota-se que os esmaltes cobrem estas arestas, como se se tratasse de pintura.» Simões, Azulejaria em Portugal nos séculos XV e XVI, 2.º ed. , p. 71
[107] Idem, p. 47 : « A gramática
decorativa aceitou um esquema básico para a ornamentação, obtido com a combinação
de duas figuras geométricas fundamentais: a estrela de oito pontas e a cruz que
com aquela estabelecia as ligações. É este esquema que vai prevalecer na
organização das laçarias típicas da arte islâmica.»
[108] José Meco, O azulejo em
Portugal , Alfa, Lisboa, 1989, p.187
[109] Idem, p.188
[110] Idem, p.187
[111] Ainda ontem, dia 20 de Abril se descobriu indícios de outro tipo.
[112] Como designá-los adequadamente: Hispano-sevilhanos; mudéjares ou hispano-árabes?Eram produzidos na Península Hispânica recorrendo a técnicas utilizadas no mundo islâmico e a uma gramática decorativa com motivos árabes, góticos e renascença.. Será isso um aspecto do mudéjarismo?
[113] Encontrei, no dia 16 de
Fevereiro de 1998, num muro de pedra seca do destruído Passal da Matriz um
exemplar que está a ser estudado.
[114] Maria José Goulão, Alguns
problemas ligados ao emprego de azulejos ‘mudéjares’ em Portugal nos séculos XV
e XVI , Valhadolid, 1986, p.151-152
[115] Encontrei, no dia 16 de Fevereiro de 1998, num muro de pedra seca do destruído Passal da Matriz um exemplar que está a ser estudado: P 4-S-98 ( vide 1-A). Na escavação, pouco depois, encontrei fragmentos daquele tipo. Tanto poderá ter vindo das terras do mosteiro, como o contrário: MJ 9-4-3-98; MJ37-4-3-98. Há, assim a hipótese de ter pertencido a outro espaço.
[116] « A sua utilização foi fomentada pela Pragmática do concílio de Sevilha, em 1509, que limitou a utilização de tecidos ricos no revestimento de frontais de altar.» Lisboa quinhentista: A imagem e a vida da cidade, CML, 1983, p.172
[117] Temos desde Março deste ano,
vindo a descobrir, no entulho em que encontramos azulejos, tijolos de toda a
forma e tamanho; alguns, á primeira vista, é necessário estudar melhor, parecem exibir sinais de uso pavimentar. Vide o que se diz e as ilustrações sobre
azulejos pavimentares em: santos Simões, Azulejaria em Portugal nos séculos
XV e XVI, Gulbenkian, Lisboa, 2.ª
ed. , 1990, p. 75-81
[118] Gaspar Frutuoso, Saudades da Terra, liv 4, v. 3, p.45 « Abriu a abóbada da capela pelo meio, derribando-a até ao chão … e já a este tempo as casas e dormitório era tudo derribado.»
[119] O reboco no tardoz - falha na chacota-, do MJ 65-4-3-98, fragmento de ‘Estrela oitavada’ 4-A, demonstra que ele foi (re)utilizado(?). Teria vindo assim ou seria algo a ver com a reconstrução?
[120] José Meco, O Azulejo em Portugal, p. 192
[121] Idem
[122] Idem
[123] Temos recolhido, ao longo de
doze anos, provas da existência de
azulejos tipo P 37, P35, Dentes de Serra e B2.
[124] Vide nosso trabalho a publicar sobre os seiscentistas.
[125] Temos, na escavação em curso
desde Março de 1998, recolhido
fragmentos de composições de ‘embrechados’, todavia, ainda não encontramos
vestígios de utilização de azulejo nos naquelas composições.
[126] Temos vindo, ainda nas mesmas escavações, de Março para cá, sistematicamente a descobrir vestígios desta monocromia. Hoje, por exemplo, 21 de Abril de 1998, de manhã, descobriu-se um fragmento setecentista de barra de acanto: MJ 67-4-3-98. Entre outros: MJ 31-4-3-98 e MJ 4-S-98 ( traço diferente).Destinavam-se, entre outros usos, a julgar pelos exemplos conhecidos, à capela-mor. Vide nosso trabalho sobre os azulejos setecentistas da Matriz de Nossa Senhora da Estrela.
[127] No trabalho sobre os seiscentistas lanço a suspeita da reutilização, em parte, dos presumíveis do mosteiro na fachada da Matriz ou de que ali existiram azulejos de motivos idênticos.
[128] José Meco,O Azulejo em
Portugal , p.31
[129] Idem, p.31 e 33
[130] Alfonso Pleguezuelo, carta de
5 de Maio de 1990
[131] Alfonso Pleguezuelo, carta
de 19 de Novembro de 1997
[132]
Poderá ser útil transcrever na integra a troca de impressões:
«As
perguntas, poucas espero, que te formularei, na sequência do último ‘Encontro
do Palácio Fronteira’ [Encontro sobre a História da
Azulejaria em Portugal I. Do hispano-árabe à policromia seiscentista]
dizem respeito aos fragmentos n.º 2 e n.º 3. Desconheço o período da sua
encomenda, assim como o estilo arquitectónico do edifício a que se destinaram,
porém, posso afirmar com alguma segurança que o local onde foram encontrados
foi provavelmente sendo ocupado desde finais do século XV mantendo-se a sua
ocupação até ao século XX.. Afirmo-o pelo que as fontes me parecem indicar.
Primeiro as casas do instituidor do mosteiro serviram de seu núcleo inicial,
segundo o contrato da obra do mosteiro foi assinado em 1545, terceiro a sua
inauguração ocorreu em 1555. Números 2 (dois) e 3 (três) e 10 (dez) - Fragmentos de azulejos
Hispano-Mourisco- Mudéjar. Técnica: Corda seca. Origem - Bairro mouro de
Triana em Sevilha? Decoração - Ainda sem a reconstituição concluída
arrisco a descrevê-los como não utilizando motivos geométricos mas
fitomórficos. Haverá uma influência tardo-gótica no mudejarismo? Influência
proto- renascentista? O que te parece? Datação - Segundo José Meco o
tipo de decoração fitomórfica nos azulejos de corda seca utilizou-se em dois
períodos ( a responsabilidade de um possível mal-entendido, naturalmente é
minha) : a) Até cerca de 1500, quando este tipo era raro; b)Depois de 1500
quando já coexistia com a técnica da aresta se usou muito este motivo.
Gostaria, primeiro, que me conseguisses reconstituir o azulejo em causa,
segundo, dar opinião sobre o que te parecer
ser útil para esclarecer as minhas dúvidas. Junto envio-te outros já
reconstituídos[Números 1, 4, 5, 6 e 9 ]
/Mário Moura/ Ribeira Grande, 14 de Março de 1990» /Resposta de Alfonso Pleguezuelo ao autor / «Quiero, en primer
lugar, felicitarte por la dedicación que has puesto en el estudio de estos
azulejos sevillanos. Los dibujos me han parecido espléndidos y tus comentarios,
todos acertados. Poco podría yo añadir a lo que tú ya sabes. .......[132]
Puedes tener por seguro que son todos sevillanos: non sólo los de arista ..La
cronologia que proporciona la construcción del edificio e donde proceden
(1545-1555) es totalmente congruente con los azulejos. En esos años se estaban
produciendo en Sevilla todos esos modelos. El único del que no poseo datos ni
paralelos es el que tambien a ti te suscita las dudas ( n.º 2 y 3 [o n.º 10 também é deste tipo
mas foi encontrado depois de Março de 1990. Com este elemento foi possível
reconstituir-se o desenho 3- A] ). He realizado yo mismo la
reconstrucción del diseño completo pero tampoco he encontrado paralelo[encontrámos
o desenho antes de recebermos esta missiva. Ambos os desenhos coincidiam].
Cuando en Lisboa me atreví a decirte que lo identifiqué me estaba equivocando.
Lo he verificado despues y no es igual que el que yo pensaba. No obstante puede
considerarse sevillano de los primeros años del siglo XVI. Siendo de cuerda
seca me resulta algo tardía para éste la fecha del resto del conjunto pero
tampoco sería imposible. En cualquier caso data del primer tercio del siglo
XVI. Motivos fitomórficos de un tipo parecido aunque no iguales a los de este
azulejo se encuentran en los platos de cuerda seca sevillanos que proyecté
precisamente en mi comunicación de Lisboa recuerdas ? Lamento de verasa no
poder facilitarte una információn más exacta sobre este modelo pero quiero que
sepas que se trata de una pieza especialmente rara y sin paralelos conocidos. La
dimensión tambien coincide con otras piezas sevillanas. Un dato que me hubiera
sido muy util sería reconocer directamente el color, textura y composición de
la pasta cerámica que, imagino, será muy similar a la de los otros azulejos de
arista del conjunto. Sólo con un análisis visual directo podré confirmar todo
esto. Espero poder hacerlo personalmente cuando te haga la visita que aún
tenemos José y yo sólo proyectada. / Sevilla, 5 de mayo de 1990/Alfonso
Pleguezelo Hernández » / E como não vieram, enviei-lhe os fragmentos 2 e 10 -
reunidos no mesmo azulejo; obtive a seguinte resposta:
«Finalmente recibo a tus amigos que me enseñan el azulejo que paso a comentarte. Se trata de um ejemplo de azulejaria sevillana de cuerda seca, datable hacia 1500 y con un motivo ornamental realmente muy poco frecuente. No podria citar otro ejemplo semejante y aunque creo haber visto antes el disenõ, dudo si es el que me mostraste hace tiempo en dibujo. Sus colores son exactamente iguales a los que se emplean en la decoracion de la vajilla sevillana de cuerda seca de la cual existen bastantes ejemplares en Museos y aparecen fragmentos en excavaciones arqueológicas de esta ciudad y de lugares oceánicos visitados por barcos que hacían escala en Sevilla. / Se percibe que ha sido utilizado en pavimento, lo cual era bastante frecuente en el siglo XVI aunque se han conservado pocos conjuntos originales. No se me ocorre màs información sobre este ejemplar. Si se me ocurre alguna idea más te la comentaré por carta o mejor, personalmente …» Alfonso Pleguezuelo Hernández , carta de Sevilha datada de 10 de Novembro de 1997/ O que te faz afirmar peremptóriamemte que são de Sevilha e não de outro local? Aguardo resposta.
[133] Os 1A e 2-A, desconhecidos
em 1989, parecem seguir o que se disse sobre os de aresta que já tínhamos.
[134] Alfonso Pleguezuelo, Azulejo
Sevillano , Padilla, Sevilha,
1989, p. 29
[135] Idem, pp. 33-34
[136] Para ser rigoroso só o
deveríamos fazer, a datação, após uma cuidada e criteriosa análise laboratorial
às pastas e aos vidrados.
[137] O museu ainda não existe como estrutura.
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