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Memórias dos primeiros azulejos seiscentistas expostos no Museu da Ribeira Grande: da recolha, história, tratamento e exposição

 

 

 

 

 

 

Mário Fernando Oliveira Moura

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Memórias dos primeiros azulejos seiscentistas expostos no Museu da Ribeira Grande: da recolha, história, tratamento e exposição

 

 

 

 

 

 

Ribeira Grande, Junho de 1989


 

 

 

 

« [Carta dirigida ao eng. Hermano de Ataíde Motta, presidente da Câmara Municipal da Ribeira Grande]Há ainda outro assunto que gostaria de lhe referir: encontrei-me este verão, em Lisboa, com o Dr. Mário Moura, Conservador da Casa da Cultura, e tive a oportunidade de apreciar o relatório por ele elaborado sobre os azulejos que decoraram a frontaria da Igreja Matriz da Ribeira Grande, o qual inclui uma pesquisa desenvolvida sobre estes azulejos, a relação exaustiva com outros núcleos existentes nos Açores, afins, e ainda o estudo sobre os possíveis locais de onde provieram. Parece-me que a publicação deste trabalho seria um contributo bastante interessante para o conhecimento da azulejaria e da história da região, e ajudaria a explicar os exemplares que estarão em exposição no futuro Museu Municipal.»

 

José Meco

Oeiras , 6/12/1989
Introdução

 

Ao finalizar este despretensioso esboço de musealização do núcleo seiscentista da futura secção azulejística do Museu da Ribeira Grande, ocorrem-me várias perguntas, das quais duas se me impõem sobremaneira:

1- Porque me aventurei neste projecto?

2- A quem devo esta (a)ventura?

Lancei-me nele, essencialmente, impelido por duas razões.

Em primeiro lugar, mercê do estímulo, da sensibilidade e dos conhecimentos dos Dr. Jorge Gamboa de Vasconcelos e Nestor de Sousa, fui fácil e inexoravelmente fascinado pelo trema.

Em segundo lugar, ao tentar propor o mais correcta e honestamente possível o restauro, a conservação e a exposição do espólio em causa, recolhido no museu, fui motivado pela necessidade inerente à profissão que exerço.

É uma mistura entre “o ninguém consegue conhecer aquilo que não ama e o ninguém ama aquilo que não conhece.”

Porém, este esforço revela mais temeridade do que conhecimento, resultando daí mais uma série de questões e de sugestões preliminares, assumidamente lacunares, que um leigo pretende esclarecer junto dos especialistas, do que de um trabalho acabado.

É assim uma espécie de preparação ou prova informal para o pretendido e necessário exame. Só após ele, e se valer a pena, tentarei a sua publicação.

 

Para além de todos os autores consultados e dos que já mencionei, devo este trabalho a todos aqueles a quem entrevistei, nomeadamente, Dr. Jorge Gamboa de Vasconcelos, Nestor de Sousa, Manuel Barbosa, mestre Manuel de Almeida, Hermano de Oliveira, Ildeberto Piques Garcia, Maria das Mercês Rodrigues, Padre Manuel de Sousa, Sr. Humberto Viveiros, entre muitos outros.

 

Agradeço a prestimosa e oportuna colaboração, quer bibliográfica quer arquivística, da Dr.ª Maria Luísa Alves, do Instituto José de Figueiredo, do Dr. João Castelo-Branco Pereira e Deolinda Pavãs, do Museu Nacional do Azulejo, do sr. Henrique Parreira, do Centro de Conservação e de Restauro dos Açores, dos Dr. António Manuel Oliveira e Margarida Oliveira, do Museu Carlos Machado, da Drª Maria Graça Chorão Almeida Lima, dos Serviços de Documentação da Universidade dos Açores, da Drª Vanda Belém, da Biblioteca Pública e Arquivo de Angra do Heroísmo, do director da Biblioteca do Funchal, da Drª Margarida Gago da Câmara, da Biblioteca e Arquivo de Ponta Delgada, do sr. Plínio Maria da Ponte  Provedor da Santa Casa da Misericórdia da Ribeira Grande, do sr. Padre dr. Hermínio da Rocha Pontes, Prior da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Estrela da Ribeira Grande.

Agradeço ao Sr. Dr. José Frazão, Sr. Luís Faria e Srª Vargas, pela disponibilização e empréstimo de fotografias, assim como ao Sr. José Cabido, pela facultação de dados biográficos de seu pai.

Agradeço o apoio do senhor presidente da Câmara Municipal da Ribeira Grande, engº Hermano d’Ataíde Mota, à engenheira Maria do Céu Soromenho e ao senhor Manuel António Pinheiro, pelo apoio técnico que concederam ao nosso projecto  e a todos os funcionários do museu, pelo zelo, empenhamento e espírito de equipa, designadamente a D.Otília Botelho, responsável e autora dos desenhos, Maria de Graça Sousa, José Vieira, actual contínuo, e Constantino Pacheco, anterior contínuo.       

‘Last but not the least’, quero agradecer este esboço de projecto ao Júlio e à Filomena que muito me ajudaram e aturaram  nas fases absorventes da sua concepção, gestação e parto.

 

Mário Fernando Oliveira Moura

Museu da Ribeira Grande, solar de São Vicente Ferreira - 22- 06 -1989

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Capítulo I

 

Neste capítulo abordaremos a complexa mas aliciante problemática do azulejo policromo seiscentista português de padronagem, a fim de tentarmos compreender os azulejos seiscentistas que recolhemos e sugerimos o seu mais correcto e fidedigno restauro, a sua preservação e exposição museológica.

         Tentaremos, tanto quanto nos for possível, esboçar um panorâmica sucinta daquela problemática, recorrendo, essencialmente a trabalhos especializados sobre a matéria.

         Fundamentalmente “O azulejo é uma peça cerâmica de faiança vulgar, constituído por uma placa geralmente quadrada de barro cozido e, vidrado na face nobre. Esta face vidrada é o suporte da cor, do desenho ou do símbolo ornamental.[1]

         Os azulejos seiscentistas, que recolhemos, sendo lisos e padronados, utilizam basicamente o azul e o amarelo de óxidos metálicos[azul de cobalto e amarelo de antimónio] sobre uma base estanífera branca [óxido de estanho] fixada pela acção do fogo.[2]

        A azulejaria europeia fixa-se e desenvolve-se durante o século XVI, a partir das técnicas ( majólica e faiança) e dos modelos decorativos italo-flamengos, adquirindo, quer pela sua monumentalidade, quer pelos particularismos da sua escolha ornamental, e finalmente, pelo seu papel de complementaridade arquitectónica, um cunho e uma feição “sui generis”.[3]

         O vocábulo azulejo, etimologicamente, deriva do árabe ‘al zulej‘, ou noutras versões, ‘al zuleicha’ que significa ( literalmente ) pequena pedra polida.[4]

         E, para avaliarmos a importância do azulejo português, transcrevamos a afirmação de Rafael Calado, aliás idêntica à de José Meco e à de Santos Simões, segundo a qual “Portugal, pode hoje ser considerado o país do azulejo, não só pela quantidade de exemplares que possui e da divulgação que lhe deu, mas sobretudo, pela singular importância que lhe soube atribuir ao longo dos séculos”[5]

          A maneira como se utilizou em Portugal o azulejo, quer seiscentista quer posterior, massiva, exacerbada e transfiguradoramente ”... pode ser considerada, em toda a Europa, como tendo constituído um fenómeno acentuadamente português, de onde se ramificou a áreas de influência portuguesa, nomeadamente às Ilhas Atlânticas e ao Brasil, porque, em nenhum outro país do continente europeu, o azulejo teve um tratamento tão adaptado aos condicionalismos económicos, sociais e culturais específicos, e foi utilizado de maneira tão complexa e dilatada, com fins que ultrapassam um papel meramente decorativo, e num período de tempo que abrange cerca de cinco  séculos.”[6]

         Atribui, José Meco, esta peculiaridade do nosso azulejo, a “...factores de natureza estético - funcional - económica e por condições específicas de Portugal e da sua implantação geográfica, não esquecendo questões de mentalidade e de gosto igualmente determinantes.” [7]

         Por um lado, Portugal sempre foi “...carente em termos de industrialização e de produção dos bens de consumo necessários, “[8] e dependia largamente”... da precariedade e flutuações do comércio marítimo “[9], daí que, “ os recursos limitados de Portugal [implicassem]uma economia sempre deficitária e [limitassem]a tendência constante para a euforia sumptuária...”[10]. Por outro lado, é um país”... onde o barro e os materiais cerâmicos abundam e se alicerçam em tradições seculares, nomeadamente a fecunda herança da presença muçulmana...[11]. Acresce ainda o facto “...[d] o modesto custo do azulejo, e a facilidade da sua preparação artesanal (em moldes oficinais)  [ compensar] admiravelmente essas carências e necessidades pelas espantosas potencialidades ornamentais que [ apresenta ]e pela dinamização, cor e espectáculo visual que [ empresta ] à arquitectura. “[12]

         Para além do mais, “O azulejo constituiu um complemento perfeito da arquitectura portuguesa mais tradicional, resultante da situação geográfica de Portugal numa região de influência mediterrânica e nas proximidades do Norte de África ...”[13]

         Naquela região “ predominam a volumetria compacta, a redução das aberturas e a utilização de materiais leves ou de pedra não aparelhada no enchimento dos paramentos, “[14] sendo determinantes “... os factores climatéricos contrastados (índices pluviométricos irregulares, verões quentes, influências continentais nas temperaturas baixas ) para a espessura e robustez das paredes e de outros elementos estruturais.”[15]

         Aqui, o azulejo, tal como já foi referido, funciona como “... estabilizador das temperaturas e humidade ambientes com a vantagem de ser material barato e mais durável ...”[16]

        Os azulejos seiscentistas em Portugal foram utilizados “para revestir as vastas superfícies parietais dos templos e, menos frequentemente, de algumas casas nobres, ...”[17],cobrindo-as com”... grandes ou pequenos “ tapetes “ cerâmicos obtidos pela multiplicação de um motivo ornamental básico a que  chamamos padrão.”[18]

       Relembramo-nos que “a marca mais característica do azulejo seiscentista encontra-se nos gigantescos revestimentos repetitivos de padronagem, chamados “tapetes, devido à semelhança entre o resultado obtido e o forro com tecidos ornamentais ricos. É especialmente nos espaços internos das igrejas que os “tapetes” se dilatam com maior facilidade, revestindo as paredes desde o chão até ao tecto, envolvendo os arcos, cobrindo também vãos de portas e janelas, nichos, capelas, abóbadas e todas as superfícies desadornadas...”[19]

      Estes “tapetes” de azulejos derivam da “...imitação de revestimentos têxteis ( brocados), tanto orientais como europeus, substituindo as tapeçarias, se não no conforto, pelo menos no efeito e no papel de estabilizador das temperaturas e humidade e ambientes com a vantagem de ser em material mais barato e mais durável, e , na altura, já fabricado localmente.”[20]

         Os primeiros padrões policromos seiscentistas fabricados em Portugal, simplesmente “... copiam ou inspiram-se nos que constituíam o repertório das alfarerias sevilhanas e talaveranas, mas, em breve, os azulejeiros portugueses adoptam modelos novos e , antes do meado do século XVII, encontra-se parcialmente renovado o sortimento de desenhos, alguns dos quais se vão manter durante o resto da centúria. “[21]

         José Meco opina ainda que só se mantém “...até próximo do quarto quartel do século XVII, com os ornatos um pouco aligeirados ou com o seu contorno acentuado, através de um fino traço negro, realizado a manganês ”[22] e, continuando na sua diferenciação, ainda que subtil, acrescenta :

         “ Os ornatos dos padrões da segunda metade do século são mais dinâmicos e frágeis, como algumas das composições chamadas de ‘ camélia’( ou dália). Continuando , porém, a utilizar-se os ornatos anteriores.»[23]

         Em todo o caso, o século XVII produziu e criou “...algumas centenas de padrões, com inúmeras cercaduras, barras, frisos, cantoneiras e outros acessórios, na sua grande maioria catalogados por Santos Simões e Emílio Guerra de Oliveira...”[24]

         Todavia, a falta de transformações operadas nos azulejos padronados seiscentistas (deixamos, propositadamente, outros que concomitantemente se iam fabricando ) caracterizaram-se, fundamentalmente, “... pela longa manutenção de fórmulas e processos decorativos e pela contenção das soluções inovadoras “[25], seja mercê do isolamento do nosso país, seja pelas suas condicionantes sócio-económico-culturais,  seja, ainda, pelo cunho acentuadamente conservador da igreja católica, principal cliente.[26]

         Antes de abordarmos aspectos, porventura, mais descritivos, no que concerne a definição dos padrões e seus acessórios, debrucemo-nos na definição das suas características essenciais, tal como as definiu e delineou José Meco.

         No século XVII, grosso modo, destacam-se os inconfundíveis e originais revestimentos monumentais de tapetes cerâmicos, “... marca mais característica do azulejo seiscentista ...”[27]

         1º Em alguns destes casos, antes da estabilização dos padrões, a composição é obtida com a “ substituição total dos azulejos lisos (brancos e de cor ) , dos enxaquetados, por azulejos com ornatos pintados, mantendo-se, porém, os esquemas e a posição típica do caixilho, que conduziu ao monumental padrão de 12X12 azulejos (usado no 1º terço do século XVII). “[28]

         Na evolução da utilização de padronagens, verifica-se o predomínio da posição dita normal ( já usada pelos padrões de raíz flamenga, sevilhana e talaverana), [29] ao invés da oblíqua”..., embora os ritmos diagonais desenvolvidos nos revestimentos enxequetados tenham sido incorporados nos novos padrões e assumidos pelos ornatos pintados, que mantiveram a dinâmica das linhas oblíquas ao longo das paredes  que revestem.”[30]

         Igualmente, à semelhança das composições enxequetadas, os azulejos seiscentistas de padrão, através da divisão em andares dos revestimentos e da utilização constante dos enquadramentos, interferem na escala dos edifícios, tornando-a mais equilibrada e harmoniosa e relacionando melhor as várias partes dos edifícios entre si e com o revestimento de azulejos”[31]

         Os diferentes andares  dos edifícios religiosos eram revestidos com padrões “... geralmente  os de 2x2, 4x4 ou 6x6 azulejos, estando os ornatos organizados em função do número de azulejos abrangidos, funcionando como um contraponto harmónico à rítmica imposta pelas retículas que separam os azulejos. “[32], especificando-se que “ os módulos menores eram geralmente colocados a revestir os espaços mais reduzidos ou na parte inferior das paredes, ao passo que os de módulo maior eram utilizados nos andares superiores dos espaços de maiores dimensões, como as naves das igrejas ,...”[33] e isto “para que a sua dimensão superior compensasse a diminuição visual provocada pela distância a que se encontram do espectador “.[34]

         Convém ainda saber que os ornatos estão colocados, de módulo para módulo, em interligação contínua.[35] Assim, “apesar de organizados em função da ordenação diagonal, os ornatos irradiam rotativamente do centro e dos cantos do padrão, criando uma malha ornamental cerrada sobre a superfície revestida.”[36]

         Porém, conhecem-se algumas excepções, designadamente, em alguns padrões de módulo rectangular que formam faixas verticais ou ainda em outros inspirados em tecidos que fogem à organização habitual acima referida.[37]

         Se, em termos de azulejaria “... do século XVII estão quase ausentes as grandes inovações e a sua evolução foi lenta, as obras realizadas e o tipo de ornamentação revelaram um fortíssimo carácter e exprimem um encanto que é acentuado pela ingenuidade do gosto e a fantasia das soluções.“[38], porém, “nada conservam do requinte estético, erudição da temática e dos ornatos e o preciosismo técnico do século anterior.“[39]

         Trata-se de “...obras oficinais, produzidas em larguíssima escala na cidade de Lisboa ( de onde se difundiram a todo o país e às colónias ), realizadas por artífices de formação empírica, trabalhando em regime não especializado e artesanal...”[40]

         E, classificando as complexas transformações operadas na azulejaria seiscentista, José Meco opina que “... só [insista-se no só] formalmente se mantiveram fiéis aos modelos e fórmulas maneiristas, esvaziando o seu formalismo através da irreverência e da dissolução formal, características do sentimento decorativo e anti-clássico que progressivamente se foi acentuando, até atingir culminâncias dramáticas de expressão barroca na transição para o século XVIII.”[41]

         O ambiente sócio - económico - político envolvente da azulejaria seiscentista, ou seja, a difícil fase do domínio filipino e o período de luta com Espanha, traduziu-se, ‘grosso modo’, em isolamento e carências de toda a sociedade portuguesa.[42]

         O “ corte no consumo sumptuário devido à ausência da corte, [a]pulverização e [o] depauperamento da nobreza, e [a]crise geral que só nos finais do século foi atenuada com a actuação política do Conde de Ericeira “[43] ajuda a explicar, para o século XVII, a persistência e a “... manutenção de fórmulas e processos decorativos e [a contenção das soluções inovadoras][44]

         Esta persistência foi, tal como já disse, acentuada pelo carácter conservador da igreja católica, de longe o maior consumidor de azulejos.[45]

         Decorreu, concretamente, da situação sócio - económica - política, acima esboçada, uma situação de isolamento do nosso país ao exterior que “... favorecendo  as “obras de oficina”, em detrimento, das “obras de escola”...”traduziu-se na substituição dos mestres de formação mais erudita por artífices decoradores, de formação empírica. [46]

         Todavia, e curiosamente, este aparente fecho ao exterior, e em torno de modelos já ultrapassados na época, permitiu a expansão da criatividade de acordo com padrões de gosto mais popularizados, mais informal, e contribui também, para a expansão de revestimentos cada vez de maiores dimensões e mais complexos, onde facilmente sobressai, nomeadamente, nos espaços religiosos, uma vincada e inconfundível personalidade. Aí o azulejo aliado à talha dourada às esculturas, às telas e à pintura ornamental dominam a arquitectura portuguesa.[47]

         Quanto às ilhas Atlânticas e, segundo Santos Simões, “...particularmente nas açorianas -, a ocupação espanhola, violentamente imposta, trouxe larga pausa ao seu desenvolvimento, e é natural que tal contingência possa ter influído na escassez de azulejos, tidos na época filipina como o objecto supérfluo para as empobrecidas paróquias e famílias insulanas.“[48]

         Porém, e sem querer entrar em pormenores, aliás não directamente ligados ao assunto a que nos propusemos no início do capítulo, recentes trabalhos de investigação histórica sobre a economia do período filipino nos Açores, designadamente o de Alberto Vieira sobre o ciclo de cerealicultura, atribuem o decréscimo da produção cerealífera a causas independentes da política filipina.[49]

         Seja como for, e ao que parece, só “ a partir de 1640, - ,e muito particularmente no sexto e sétimo decénios [ tal como no continente português ], assistimos ao rejuvenescimento dos conventos e igrejas as ilhas a beneficiam finalmente daquela lealdade e constância com que se notabilizaram sempre na história portuguesa .”[50]

         E, prosseguindo, acrescenta Santos Simões que, “ são deste período  alguns famosos revestimentos azulejares designadamente os da nave da igreja de Santa Clara do Funchal ... - ou de Santo André, de Vila Franca do Campo,...” [51]

         É, por conseguinte, pelas razões acima expendidas que Santos Simões explica a escassez, entre 1580 - 1640, das espécies azulejíisticas nas ilhas Atlânticas, exemplificativas da génese da azulejaria policroma do século XVII, ao invés, porém, encontrou inúmeros exemplares que atribuiu à segunda metade daquele século.[52]

         Algumas definições necessárias acerca da terminologia utilizada por Santos Simões para o azulejo padronado

         Referimo-nos, já, a vários aspectos do azulejo seiscentistas, nomeadamente, entre outros aspectos, do modo como eram utilizados, detenhamo-nos, agora, noutro aspecto, ou seja na explicação detalhada de alguma terminologia técnica a ele ligada.

         Dentro de cada padrão, segundo José Meco, Santos Simões denomina de ‘elemento’ cada azulejo com decoração diferente. Tendo em conta aqueles pressupostos ele classifica cada padrão ou módulo ‘de repetição’, pelo número de azulejos que o compõe: assim, por exemplo, um padrão de 4 azulejos iguais será de 2x2 (= 4) e, porque cada um deles apresenta  apenas um elemento, indicaremos 2x2 /1, ou seja  módulo de ‘repetição’ de dois por dois azulejos a um elemento”[53]

         São deste tipo “os padrões mais antigos ...”[54], que eram económicos e de fácil colocação, porém, seguiu-se-lhes, mais tarde, “...padrões de repetição mais complexas: 4x4 /2, 4x4 /3, 4x4 /4, 6x6 /8 até 12x12 /14 que é o maior que se conhece ! “[55] , segundo o mesmo autor, “ Para superfícies maiores ou para obter ritmos decorativos de mais largo desenvolvimento ...”[56]

         Limitavam sempre os tapetes”... bordaduras constituídas pela repetição linear de fracções rectangulares de azulejos - a que chamamos “ frisos”-, por um azulejo total - “cercadura “- ou ainda por 2 azulejos sobrepostos que denominamos ”barras”. Estes elementos acessórios dos tapetes tinham seus cantos próprios a fim de estabelecer a continuidade ornamental noa ângulos de ligação. “[57] 

         Para organizar e orientar o núcleo seiscentista da secção azulejística do Museu da Ribeira Grande da Ribeira Grande optamos por seguir à letra a classificação que Santos Simões faz dos padrões no volume ‘ Azulejaria nos Açores e na Madeira’, ou seja, no nosso caso, 4x4 = P35, 6x6 = P37 etc..., ainda que o mesmo Santos Simões, noutros livros lhes dê outra numeração.[58]

 

Qualidade artística do azulejo.

 

Atribuímos valor a tudo o que vemos ou temos, e o azulejo não foge a esta regra, porém, José Meco, a propósito, adverte-nos que, “a” qualidade artística “ de um azulejo não pode ser questionada apenas como um problema de maior ou menor correcção ou qualidade pictorial,...”[59] já que ultrapassa “...largamente qualquer intenção de mera manifestação plástica,...[60]”.

         Isolar o azulejo “... do seu contexto estrutural global...”[61] é incorrer “[ n ] a parcialidade da análise...”[62] do mesmo azulejo.

         Esta falaciosa e incorrecta perspectivação, “... tem conduzido variadas vezes à sua depreciação ou a uma compreensão muito limitada e redutora da sua extraordinária riqueza, quanto à concepção ou ao papel que desempenha. “[63]

         Por estas razões esquece-se frequentemente que o azulejo “ não é apenas (mais) um “ suporte de pintura “,...”[64] e que, “... não se limita a ser  uma inofensiva “ arte menor “, porque o seu papel é demasiado vasto e complexo e nunca o azulejo foi criado para estar dissecado em museus (onde só deverá entrar quando não for possível a sua preservação no local original ).”[65]

         E, concluindo adianta que, “ muito menos ainda o azulejo poderá ser considerado ( juntamente com a talha dourada ) um sinal da inferioridade cultural de Portugal, em relação a uma Europa mais erudita e académica, constituindo, pelo contrário, a marca de personalidade, da vitalidade criativa e da diferença portuguesa...”[66]

 

         Onde eram fabricados os azulejos padronados seiscentistas portugueses para exportação insular e colonial ?

 

         A cidade de Lisboa foi o centro produtor, exportador e inovador,

por excelência, da azulejaria portuguesa, e, designadamente da seiscentista, a tal ponto que “ se o azulejo é uma arte caracteristicamente portuguesa, é também uma arte predominantemente lisboeta.”[67]

         Ao proferir esta afirmação, José Meco, não só a fundamenta como igualmente delimita o local ou os locais precisos da área lisboeta. As olarias dedicadas ao fabrico do azulejo na área de Lisboa estavam “... situadas entre Santa Catarina, o Mocambo e a Rocha Conde de Óbidos ou as que deram o nome ao sitio das Olarias “[68] e isto”... porque a maior parte dos artistas de azulejos, até hoje identificados, tiveram a sua oficina em Lisboa ;...”[69]

         Todavia, sendo Lisboa o local predominante do fabrico e da exportação do azulejo seiscentista, outros locais do reino foram igualmente  locais de fabrico, senão para exportação, pelo menos para responder às necessidades de consumo local. Estão neste caso as produções do Porto, no século XVII, a de Coimbra, no XVIII, e a de Lagoa, no XIX..[70]

         Santos Simões comenta outra hipótese ao mencionar o Dr.º Hugo Moreira, o qual lhe teria assinalado “... a existência “ de azuladores” na ilha [ de São Miguel no inicio do século XVII]  ,entre os quais um Bartolomeu Fernandes “asulador” ...” [71]. Ainda que e “se a terminologia era a mesma que se usava no Reino, tratar-se-ia de empreiteiros ou ladrilhadores e necessariamente não de fabricantes, os quais são geralmente denominados, oleiros de vidrado, oleiros de azulejo, malegueiros, pintores de azulejo...”[72]. Porém, e deixando em aberto a hipótese, conclui: “Seja como for, esta documentação [adiantada pelo Dr.º Hugo Moreira ] comprova que nos princípios do século XVII havia em Ponta Delgada pelo menos um “mestre azulejador”, o que pressupõe a utilização de azulejos de certa escala [o que de certo modo contradiz, porventura, a sua escassez reconhecida anteriormente. Referir-se-ia aos de padrão?] ou  mesmo [repara-se] uma fabricação local [nosso sublinhado].”[73] e, corroborando os indícios arquivísticos-documentais acrescenta um exemplo:”... na capelinha da Grimaneza [Ponta Delgada ], por exemplo , há azulejos lisos cujas características se afastam das da azulejaria  continental.”[74] O que vem reforçar a ideia de não haver produção de azulejaria decorada nos Açores antes do século XIX, já que azulejos lisos não decorados, são os únicos que podem ser facilmente fabricados em qualquer olaria, mesmo que não produza outros tipos de azulejo. Por outro lado, foram usados em Portugal na 1.ª metade do século XVI azulejos lisos produzidos em Sevilha.[75]

 Em qualquer circunstância, porém, Lisboa ocupa um local preponderante, por várias razões, a  saber:

         Não só porque a maioria das ‘ fábricas ou oficinas’, tal como já foi dito, se situavam na área lisboeta, mas também porque “Lisboa  foi, de longe, o maior mercado consumidor de azulejos, e porque foi, finalmente, nas oficinas de Lisboa que se operaram as transformações  que, do azulejo hispano-mourisco de importação do Levante Espanhol e de Sevilha, e sob a influência das majólicas italianas e do azulejo holandês, exportado em quantidades em finais do século XVII, conduziram à produção local do azulejo português, no percurso de seiscentos e setecentos, com carácter próprio e inconfundível.” [76]

As transformações operadas nos azulejos e ocorridas em Lisboa são essenciais e caracterizam-se, principalmente, pelo papel que o azulejo passa a desempenhar na arquitectura portuguesa.

         Em suma é nas oficinas lisboetas “... que o azulejo vai deixar de concorrer como simples elemento decorativo de aplicação indeterminada, para se transformar num complemento arquitectónico, preenchendo espaços, previamente determinados, criando perspectivas, realçando molduras e artesoadas, em comunhão estrutural íntima com aquela, de tal forma que não é possível abstrair qualquer palácio ou igreja seiscentista ou setecentista do seu complemento azulejar...”[77]

        

 

CAPÍTULO II

 

Tentativa de identificação e datação

dos azulejos por nós recolhidos,

cotejando e analisando o estudo do eng. Santos Simões sobre a azulejaria nos Açores e na Madeira.[78]

 

         A datação e  identificação de azulejos depende da análise e do manuseio de vários dados, entre estes destaco os histórico que nos elucidam aspectos essenciais da sua “biografia”, nomeadamente, o ano e o local do seu fabrico bem como o local a que se destinaram, os “morfológicos “ que apreciam e estudam o aspecto cromático e os motivos decorativos utilizados e , completando e aprofundando estes dois últimos, os laboratoriais que dissecam e identificam os materiais empregues.

         Só da conjugação da informação colhida através destas três perspectivas sairá a mais correcta e aproximada resposta à questão enunciada.

         Porém e, para o caso concreto dos que recolhemos, não logramos descobrir, ainda que tivéssemos empreendido uma exaustiva pesquisa arquivística quaisquer elementos ou sequer indícios históricos que lançassem alguma luz sobre o assunto .[79]

         Torna-se-ia, por conseguinte, infrutífero esboçar uma abordagem directa. Assim ensaiaremos uma análise comparativa e indirecta.

         Se, por um lado, numa análise comparativa, possivelmente, obteremos algumas pistas acerca do tipo, do período e local do seu fabrico, por outro, dificilmente descobriremos o local a que se destinaram.

         Todavia, poder-se-à indiciá-lo através do recurso a provas circunstânciais. Ensaiá-lo-ei, porém, no próximo capitulo, circunscrevendo-me neste ao esclarecimento do seu tipo, do período e local do seu fabrico.

         Como objecto de incidência da minha análise tenho os azulejos por mim recolhidos, completamente órfãos do seu contexto histórico e aqueles integrados no seu contexto, estudados pelo eng. Santos Simões.

         Afigura-se-me, ainda, desnecessário e inconveniente , proceder à sua análise laboratorial, seja pela falta de meios, tanto económicos como técnicos, seja pela sua reconhecida vulgaridade.[80]

         Desnecessário porque, para os identificarmos com uma certa margem de certeza, basta, quero crer, tão-só, proceder-se a uma análise morfo-histórico comparativa.

         Analisá-los-emos, seguindo de perto e comparando-os aos que sendo reconhecidamente iguais, em outros locais das ilhas, foram identificados e datados pelo eng. J.M dos Santos Simões.[81]

         Neste cotejo, entre os elementos azulejísticos que recolhemos, descobrimos, tal como sugere no seu catálogo Santos Simões,[82] padrões 4x4, P35 ;6x6, P37 ( ambos denominados pelo eng. º Santos Simões como tipo “Marvila “, porém, João Saavedra Machado, só utiliza aquele designativo para o 6x6, designando o 4x4 como “ Quadrilobo”.) [83]; 2x2, P20 ( camélia para o eng. º [84] e camélia ou dália para José Meco[85] ; 2x2, P 12 (maçaroca para o eng. [86] e alcachofra para o Dr.º Luís Bernardo Leite de Ataíde [87] ; B2 [88]; dentes de serra [89]; e C3 [90]. Para além destes descobri uma barra de laçarias vegetalistas não identificadas no catálogo. [91]

         Compulsei da dita obra locais que possuíssem aquele tipo de azulejo policromo e padronado seiscentista, e  para mais fácil apreensão, elaborei quadros. [veja-se quadro n.º I ao XII. ]

         Para de facto e “in situ ”apurar a correspondência entre os identificados no livro e os nossos, desloquei-me em visita de estudo aos locais na ilha de São Miguel onde eles existem.

         Não era viável vê-los todos “in loco”, já que envolvia deslocações fora da ilha, assim, vi-os todos, primeiro no catálogo no final do livro, e de seguida, tal como acima referi, fui a Vila Franca do Campo, Lagoa e Ponta Delgada, não me fosse ludibriar ou deixar passar qualquer detalhe ou erro tipográfico, tão vulgar neste tipo de azulejaria ou neste tipo de obra.

         Não obstante todo o escrúpulo e cuidado, tenho, mesmo assim, de confessar que não me considero imune ao erro e  às incertezas na apreciação que esbocei, até porque, e não só pelas razões acima expendidas, me confesso aprendiz da vasta e complexa problemática da azulejaria seiscentista portuguesa.

         Assentando nestes pressupostos, lancei-me no estudo morfológico dos nossos e dos que estudei, tanto no livro de Santos Simões como no local.

         Verifiquei que as dimensões se aproximavam e que os motivos empregues e as características cromáticas apresentavam uma quase perfeita correspondência.[Consulte-se quadros n.º XX-XXII.]

         As ligeiras diferenças nas dimensões, ainda que sejam ínfimas, explicam-se pelo facto dos nossos, na sua maioria, estarem incompletos nas margens, por conseguinte, com menos um ou dois centímetros.[92]

         As que se relacionam com as ligeiras diferenças nas tonalidades cromáticas ou, pura e simplesmente, no uso de outra cor, podem-se igualmente explicar.

         Os elementos A do Padrão 37, por exemplo, de Santo André de Vila Franca do Campo e os nossos são em tudo semelhantes, (apesar da colocação divergir da sugerida por Santos Simões ), porém, Santos Simões no desenho que apresenta daquele padrão utiliza o azul em vez do branco para cobrir a nervura central do pequeno motivo floral do canto do azulejo. O pormenor em ocre do elemento B sendo idêntico ao nosso e ao de Santo André        , porém, difere ligeiramente do do dito esboço. Apesar de tudo o eng. Santos Simões não hesita em identificá-los como elementos constitutivos do padrão 37. [93]

         Alguns elementos B do Padrão 35 existentes na Capela de Nossa Senhora do Cabo, na Vila da Lagoa, exibem no seu canto superior pequenas formas lanceoladas, tal como os nossos, porém em outros elementos B, por vezes no mesmo padrão inclui no mesmo canto igualmente pequenas formas, mas curvilíneas. Santos Simões, apesar destas diferenças, incluiu-os também na padrão 35 [94]

         Para além destas ligeiras diferenças no formato dos motivos ornamentais e nas suas cores, existem pequeníssimas gradações cromáticas, coexistindo no mesmo local, no mesmo padrão e até no mesmo elemento.

         Tal deve-se, sem dúvida, à cozedura do azulejo, e talvez, ao local onde foram colocados ou recolocados. Não só porque a luz natural suscita uma percepção cromática diferente da da luz artificial, mas também pela acção dos agentes de poluição e de desgaste que agem sobre eles.

         Após cuidadosa limpeza da superfície esmaltada as tonalidades podem aproximar-se das primitivas.

         Alguns dos nossos azulejos foram encontrados entulhados em locais bastante húmidos, ( vide quadros  XVI e XV ) por conseguinte, a superfície esmaltada estava impregnada de uma espessa camada de sujidade que impedia a correcta percepção das suas tonalidades. Do mesmo modo e mercê do fumo das velas, das poeiras suspensas e das mudanças humidade / temperatura, bem como através da própria respiração humana, ainda que em escala menor, encontrei os azulejos de Santo André como os da Capela do Cabo  sujos na superfície esmaltada.

         Os elementos do Padrão 12 ( maçaroca ) ( quadro  XVII e XX ) correspondem exactamente aos nossos.

         Quanto aos de padrão 20, Santos Simões refere dois locais nas ilhas ( Igrejas de São José em Ponta Delgada [95] e antigo convento de Santa Clara no Funchal [96]; porém, por um lado, como só vi os da ilha de São Miguel, pelas razões atrás referidas e, por outro, como o padrão camélia da Igreja de São José ( São Miguel ) não ser, como se depreende do seu cotejo com o catálogo, P20 mas na realidade P18, circunscrevi-me, assim, ao catálogo. [97]

         Deste cotejo verifiquei a correspondência quanto à forma, já que o não pudemos fazer quanto à cor e às dimensões.

         Os acessórios B2, C3 e dentes de serra também coincidem. Vi o B2  no catálogo bem como os dentes de serra e o C3 na capela da Rosa. Resta-nos uma barra não referida no catálogo, todavia, existe correspondência morfológica entre esta barra e as identificadas. ( vide quadro XV )

         O eng. Santos Simões, um dos maiores especialistas da matéria, e sobretudo estudioso da azulejaria dos Açores e da Madeira, não considerou as pequenas diferenças referidas como obstáculos à sua cabal identificação. Deste modo e, baseando-me, neste pressuposto ( diga-se inseguro porque deste cotejo muita coisa relevante pode escapar), ensaiei a identificação dos nossos a partir dos dados morfo-históricos comparados. ( vide quadros  XXIII-XXVI ).

         Identifiquemos, deste modo, os nossos, excluindo deste processo a identificação do seu local de destino que ensaiarei no capítulo seguinte.

         Em primeiro lugar, trata-se de azulejos de padrão policromo seiscentista, provavelmente do segundo terço daquele século. ( ver quadro  V ao X ), excepto o azulejo ( quadro- XVII ) sublinhado a traço de roxo de manganês  que se situa no terceiro quartel.[98]

         Em segundo lugar, vieram, muito provavelmente da cidade de Lisboa [99] onde, segundo José Meco, eram produzidos em larga escala e daí difundidos a todo o país e ás colónias, parecendo também  mais plausível e crível a Santos Simões a sua origem lisboeta.

 

 

CAPÍTULO III

 

Os azulejos que recolhemos, vindos

provavelmente da cidade de Lisboa no

século XVII, a que local

da Ribeira Grande se destinaram ?

 

 

         Desconhecendo a existência de provas, quer coevas quer posteriores, resta-me tentar percorrer um caminho inverso. Partindo dos locais onde os descobri tentarei chegar ao(s) seu(s) local(is) primitivo(s).

         A maior parte do acervo azulejar que recolhi provém da fachada da Igreja Matriz da Ribeira Grande  e do ex-Externato Ribeiragrandense, os primeiros recolhidos na torre e os segundos no armazém camarário na rua do Ouvidor.  [100]

         No primeiro caso, “ os azulejos que havia na parte central da fachada [101] da Igreja Matriz , sendo de padrão policromo (branco, amarelo e azul ), ao gosto do século XVII, mostravam bem ter sido ali recolocados, não só pela irregularidade das quinas e dos cantos mas ainda pelo preenchimento ad hoc dos parâmetros, sem qualquer emolduração ou contorno racional dos acidentes arquitectónicos” [102]

         Quanto ao segundo, Santos Simões adianta-nos que “ em dependências interiores [ do Externato ] foram colocados azulejos de padrão policromo, cuja proveniência se desconhece mas que bem pode ter sido a mesma dos que ornamentaram a fachada da Matriz da Ribeira Grande. “[103]

         Lamentavelmente, porém, desconhecemos[desconhecía até 1997, como veremos] qualquer nota alusiva à sua colocação, recolocação e remoção. Possuímos, tão-somente, alguns dados sobre as suas últimas remoções, pouco ou nada esclarecendo a sua primitiva colocação. Acerca da remoção dos da Matriz, Santos Simões diz que “..., foram eles arrancados e destruídos em 1959, quanto das obras de “ reintegração e beneficiação “[104].

         Porém, inclino-me para uma data sensivelmente anterior. Em primeiro lugar, o P.e Manuel de Sousa, ex- Prior da Matriz, iniciou o seu múnus sacerdotal naquela igreja em 1957, pouco antes do falecimento do Prior Evaristo Carreiro Gouveia e, segundo me afiançou, os azulejos já estavam retirados.

         Em segundo lugar, encontrei uma fotografia da procissão do Coração de Jesus de Setembro de 1956 ou de 1957, na qual se notam cinco pormenores deveras relevantes. [105]

         1- A estrutura norte, em cujo primeiro piso se encontra o Baptistério  anexo à fachada, encontra-se destelhada.

         2- São visíveis andaimes na fachada, bem como se nota a ausência de azulejos, seja na parte superior do frontão subposto à cruz cimeira, seja no mesmo frontão mas na parcela a norte da janela.

         3- A ponte, cujo alargamento se inaugurou em 1957 ( conforme data ali colocada ) ainda se encontra na forma anterior a 1957.

         4-O prior ainda se encontrava vivo, como se pode ver no canto inferior esquerdo da fotografia ( faleceu aos 18 de Novembro de 1957 )

         5-Quem leva o pendão do Coração de Jesus é a proprietária da fotografia, tendo esta comungado em 1957 e 1958. Por duas razões, porém, ela afirma ser de 1957. Primeiro, porque o senhor prior ainda estava vivo e, em segundo lugar, porque, regra geral, quem repetia a comunhão, normalmente, levava outro traje e não levava o pendão. Em todo o caso foi antes de 1959.

Um documento encontrado em 1991, dois anos após a elaboração deste trabalho, na antiga Repartição dos Edifícios e Monumentos Nacionais, ao Terreiro do Paço, confirma esta hipótese lançada em 1989. Vejamos:

 

« - [Auto de Vistoria de 23 de Agosto de 1956] Arranque de azulejos na fachada principal com limpeza. 30,00 - Quantidade - 15$00 - Preço unitário - 450$00 - Importância total.  »[106]

 

         Os do Externato foram recolocados, segundo o Dr.º Manuel Barbosa, logo após a transferência daquele estabelecimento de ensino para a rua de Sousa e Silva n.º 7, depois do verão de 1948 ou do de 1949, tendo sido, de acordo com o mestre de obras, removidos talvez em 1984. [107]

         Em todo o caso, só isso sabemos. O que ensaiarei não passará, pois, de um exercício de esgrima mental, para a qual disponho de pouca ou de nenhuma prova, todavia, mesmo assim, valerá a pena a tentativa, nem que seja pelo exercício em si mesmo.

         Neste momento, ocorre-me o pensamento de Margarite Yourcenar sobre os historiadores:

         “Os historiadores apresentam-nos, do passado, sistemas excessivamente completos, séries de causas e efeitos exactos e claros de mais para terem sido alguma vez inteiramente verdadeiros; dispõem de novo esta dócil matéria morta, e eu sei que Alexandre escapará sempre mesmo a Plutarco. “[108]

         Tendo este pensamento em mente e, tal como qualquer detective, o historiador nestas circunstâncias, começa por rascunhar o perfil dos suspeitos.

         A que locais, no século XVII, teriam eles possivelmente pertencido?

Partindo do estudo do eng. Santos Simões ficamos a saber que, no que concerne os arquipélagos dos Açores e da Madeira, o tipo e as espécies azulejísticas em questão quase só se encontraram em  edifícios religiosos, designadamente em mosteiros, conventos, igrejas e capelas.

         Efectivamente, compulsando o dito livro, só encontramos o P37, P35, P20, P12, C3, B2 e dentes de serra, em edifícios religiosos .[109]

         Num universo de onze mosteiros e conventos, oito eram de Franciscanos e de Clarissas, apenas dois de Jesuítas e um de Gracianos.

         Quanto às igrejas e às capelas, três eram igrejas, sendo uma Sé Catedral ( Angra do Heroísmo ) e, somente duas capelas, ambas particulares. [110]

         O que equivale, em termos estatísticos, a um predomínio dos edifícios do clero regular ( c. de 69 % ) em relação aos do clero secular ( c. de 18%) e às capelas particulares ( c. de 12 %, apenas )

         Por conseguinte, nesta ordem de ideias, tornam-se mais suspeitos os edifícios do clero regular, no caso da Ribeira Grande o mosteiro de Jesus e o convento de Nossa Senhora de Guadalupe, para além do mais pertencendo ambos à família franciscana que num universo de onze, detém 78%.

         Estes dados estatísticos hierarquizam potenciais candidatos, o que é vantajoso como hipótese de trabalho, porém, o seu uso exclusivo, decerto trairia a imensidade de possibilidades.

         Assim, discutirei todos os indícios conhecidos acerca de quaisquer candidatos, sejam eles os conventos e os mosteiros, sejam as igrejas e as capelas, inclusive, se for o caso, edifícios civis.

         No século XVII a Ribeira Grande tinha um convento de Franciscanos e um mosteiro de Clarissas, uma igreja da Misericórdia, várias igrejas e capelas.[111]

         Um suspeito : A ermida de Nossa Senhora da Caridade (s) ou da (s) Candeia (s).

         Ao que sabemos foi, o Dr.º Jorge Gamboa de Vasconcelos quem  primeiro lançou esta suspeita: “... pregunto [ sic ] a mim mesmo se esse templo não seria a ermida de Nossa Senhora da Caridade (ou Caridades) ”[112]

         Esta ermida, de acordo com testemunhos orais e alguns parcos indícios, poderá ter sido o local ( ou um dos locais) de destino dos primitivos azulejos seiscentistas.

         Todavia, nada nos impede ou desautoriza de pensar que, paralelamente à hipótese de um único local de origem, deve e pode acrescentar-se-lhe a de mais de um local da ex-Vila e quiçá, de fora dela.

         Entre outros factos menos relevantes, a nossa argumentação tem de elucidar as seguintes questões:

         1- Possuiu ou não a dita ermida azulejos seiscentistas?

         2- Não sendo possível responder à primeira questão, poder-se-à, ao menos, indiciar a possibilidade de ela os ter tido?

         3-Se os teve, ou se é provável que os tenha tido, teremos ainda que provar o seguinte:

         a) Que tenha tido azulejos em número suficiente para revestir a parcela azulejada da fachada da Matriz.

         b) Que os seus hipotéticos azulejos fossem do tipo e do padrão identificado.

         c) E, por último, não basta provar que os tenha tido ou que é provável que os tenha tido em número e no tipo dos identificados, sendo necessário provar que foram parar à fachada da Matriz. Só assim estabeleceríamos a prova da proveniência de parte dos que recolhemos.

         Nada mais, porém, poderemos fazer do que insinuar a possibilidade da existência naquela ermida de azulejos seiscentistas e, talvez, indicar a sua possível recolocação na dita Matriz.

         A ermida é referida por Fr. Agostinho de Monte Alverne [113],sendo-o igualmente por António Cordeiro, [114] tanto um como o outro atribuem-lhe à invocação de Nossa Senhora da Caridade, acrescentando o segundo “ o...que era da muito nobre Julia Taveyra,...”[115]

         Talvez mais de dois séculos depois, em 1858, o Prior da Matriz de então ‘Manoel Cabral de Mello’, escreve nas notas para o livro do Tombo que existia (em 1858 ) ” 4ª no Adro da Igreja Parochial,[sic] da invocação da senhora das Candêas,...”[116], registe-se-lhe a diferente invocação, porém, igualmente”...fundada por Dona Julia Taveira.”.[117]

         Ao certo sabe-se que no adro da Igreja da Matriz uma D. Julia Taveira herdara ou fundara ( ou até mesmo um seu sucessor ou sucessora, não interessa para o caso ) uma ermida. Quanto à sua aparente ou real dupla invocação, poder-se-à tratar ou de erro [118], ou de mudança, ou até mesmo, quiçá de duas ermidas distintas. Ao que parece tal ocorrência teve lugar posteriormente.

         É, porém muito provável, que a ermida tenha sido construída no século XVII, já que Frutuoso, que morre em 1591, nada diz a seu respeito, e no século XVII tanto Cordeiro como Monte Alverne se lhe referem [119]

         Provável, muito, é também a sua atribuição a D. Júlia Taveira, aliás, como veremos, segundo Hugo Moreira, D. Júlia Taveira de Neiva.[120]

         É importante registar que já no século XVII Cordeiro a atribuiu, tal como vimos, a D. Júlia Taveira.

         Existe actualmente no altar de Nossa Senhora da Piedade, na Igreja Matriz, um lampadário de prata atribuído àquela ermida [121] que contém a seguinte inscrição :”IVLIA TAVEIRA ANNO 1660”[122]

         Partindo do princípio que esta inscrição é autêntica e coeva, igualmente pressupondo e aceitando que o lampadário proveio da dita ermida, a data inscrita para além de revelar provavelmente o ano do seu fabrico, pode insinuar, por um lado, a data da construção da ermida a que pertenceu, ou então, por outro lado, refere-se a um período de obras ou de beneficiações da mesma ermida.

         A data, 1660, situa-se no período atribuído aos azulejos que recolhemos. Em qualquer dos casos, apesar de adiantarmos só indícios, não devemos excluir a hipótese ou a do seu azulejamento.

         Não seria um caso isolado, já que, em 1675, a ermida de Nossa Senhora do Cabo, na Vila da Lagoa, foi azulejada tanto no interior como na fachada, constituindo este último facto um pormenor singular no panorama da azulejaria portuguesa.[123]

         Esboçaremos provar que a dita ermida foi construída pela família Taveira de Neiva e que possivelmente foi azulejada seguindo o exemplo de outras já azulejadas ou até mesmo servindo de exemplo.

         Maria Olímpia da Rocha Gil diz que “... foi Francisco Taveira de Neiva, falecido em 1624, na Vila da Ribeira Grande, S. Miguel. Cavaleiro fidalgo, homem da governança da Vila onde morava, junto do adro da igreja de Nª Sr.ª da Estrela,... “[124] repare-se que era fidalgo e morador junto ao adro da igreja onde Cabral de Mello situa a ermida fundada por D. Julia Taveira, aliás de Neiva, filha do dito fidalgo. [125] Mais à frente, Maria Olímpia,  acrescenta que “..., Francisco Taveira de Neiva ocupa lugar de destaque entre esta aristocracia insular de grandes proprietários de trigo e de pastel dos finais do século XVI, começos do século XVII. “[126]

         É provável que a família Taveira de Neiva, grande proprietária, exportasse os seus trigos e pasteis seja pela vila da Lagoa, seja pela cidade de Ponta Delgada, tanto mais que a Ribeira Grande, não possuindo um porto de mar, exportava a sua produção principalmente pela Lagoa.

         “É, este dos Carneiros [ Lagoa], bom porto [ diz Gaspar Frutuoso],principalmente de Verão, de que se serve a Vila [ Lagoa] para suas pescarias e necessidades e carregação, e nele se carrega todo o pão que vai da banda do norte, como da Vila da Ribeira Grande e seu termo, com a obrigação que têm ali de guardar, sem contradição, os despachos que pelos oficiais da Câmara dela vão assinados, porque assim o tem a vila da Ribeira Grande por sentença, em um litígio que sobre isso tiveram.”[127]

         A estes inconfundíveis laços comerciais, poderíamos acrescentar os laços sócio-culturais. Assim sendo, não repugna supor que tivesse existido influência ao ponto dos Taveira de Neiva terem influenciado ou sido influenciados pelo azulejamento da sua ermida. Deve-se considerar relevante o fenómeno sócio-cultural de transmissão de estilos e gostos artísticos entre estratos sociais afins. Era frequente, entre os fidalgos e não só, construírem ermidas junto às suas residências. De meados do século XVII, temos, neste caso, 1651, a ermida de Nossa Senhora da Salvação. [128]

         Sendo plausível esta hipótese, todavia, não possuímos nenhum dado concreto. Acrescentamos a estas conjecturas uma outra, se bem que ténue, oriunda da tradição oral, segundo a qual Jaime Cabido Ferreira e Caetano da Silva Moniz teriam visto azulejos na dita ermida.

         Estes testemunhos foram-me recentemente transmitidos pelo Dr.º Jorge Gamboa de Vasconcelos, que com ambos dialogou sobre o assunto, nomeadamente, com o primeiro.

         Seria óptimo se conseguíssemos obter as seguintes informações :

         1-A confirmação da existência de azulejos na ermida.

         2-Que estes foram retirados e recolocados da fachada da Matriz.

         Antes, todavia, temos de apurar se ambos, ou um deles, teria,          efectivamente visto na dita ermida azulejos ?

         Tê-los-iam, porém, visto colocados, recolocados ou simplesmente armazenados, vindos de outro local ?

         Teriam sido testemunhas da remoção e recolocação na Matriz ?

         É pouco provável que eles assistissem à recolocação na fachada da Matriz, todavia, poderiam ter ouvido de alguém que viu, podendo ainda ter visto azulejos colocados, recolocados ou armazenados na dita ermida, neste caso azulejos que sobravam ou da ermida ou de outro local.

         O que é certo é que eles não foram testemunhas oculares da recolocação na Matriz, pelo menos na parte apresentada por Cândido Abranches, já que o primeiro nasceu em 18/12/ de 1879 [129] e o segundo em 2 ou 22 de Julho de 1875. [130]

Portanto, treze e nove anos, pelo menos, após a recolocação. (?)

         Com data de 23 de Setembro de 1866, Cândido Abranches, remete ao seu patrocinador, o Sr Visconde da Praia, uma cópia do seu Álbum que sairia do prelo em 1869. [131]

         Nesta obra figura a gravura XXX onde se vê esboçada a fachada da Matriz já azulejada, pelo menos quase toda a área que foi revestida, à excepção, a julgar pela gravura, da parte superior do frontão subposto à cruz cimeira, o que poderia ter ocorrido após Abranches ter recolhido as suas notas.

         Quando recolheu ele os dados sobre a Matriz ? Não sabemos ao certo, porém na introdução Abranches confessa que o seu livro era “...o fructo de aturados labores em bastantes annos,...”[132]

         O facto de C.A. não nos parecer ter esboçado a dita parcela da fachada deixa em aberto a hipótese de ela ter sido revestida em data posterior à recolha de C.A. ; por conseguinte, neste caso, não seria improvável que uma ou as duas testemunhas o pudessem ter visto. [133]

         Temos, porém, de convir que os azulejos poderiam ter lá sido recolocados, vindos não se sabe bem de onde, num período de tempo que vai desde o início do segundo quartel de setecentos, altura em que a igreja foi reconstruída, [134] até cerca de 1866 (?) data em que Cândido Abranches recolheu os elementos para a elaboração da gravura XXX ( ele ou outro ).

         Todavia, se porventura a parte superior do frontão em 1866 ou perto ainda não estivesse azulejada, podemos supor duas coisas:

         1- Continuar a pensar que já há muito ou pouco tempo, tinha sido azulejada, mas que aquela parcela não o fora ou que o tendo sido, por qualquer razão tenha perdido os azulejos.

         2- Que em 1866 ou perto se estava a proceder ao acabamento do azulejamento da fachada.

         Mas, mesmo que as duas testemunhas tivessem vivido muito perto da época em que se presume que os azulejos foram recolocados, tal facto só por si não nos garante que tivessem transmitido a notícia do ocorrido com exactidão.

         Analisemos como se processou a transmissão da informação. As duas pessoas que presenciaram ou que simplesmente ouviram de quem ouviu ou viu, volvidos muitos ou poucos anos, não o sabemos, transmitiram, sabe-se lá como e em que contexto, a informação a uma terceira pessoa, tendo esta, por sua vez, transmitido a informação a uma quarta pessoa, volvidos pelo menos vinte ou trinta e nove anos.[135]

         A informação obtida através do recurso às fontes da tradição oral é preciosa, sobretudo no nosso caso, quando se desconhecem outras provas. Porém, há que ter em conta a sua natureza. Para obter o máximo de informação útil, temo-nos que rodear de cautelas e munirmo-nos de métodos adequados.

         Além do mais, “ le discours sur le passé enfin, et nous l’avons précédemment dit en filigrane, n’est pas forcément “passeíste”. On le comprend aisément: le passé peut être conçu comme définissant une dynamique à venir, un ressourcemente qui n’exclut pas les donnés actuelles mais simplement les corrige, les repense et les enrichit, cherche à les percevoir comme le fait d’une évolution et non d’une rupture.”[136]

         Vejamos um caso concreto. A remoção dos azulejos da Matriz ocorreu não há muito tempo, todavia, quer o pedreiro que lá esteve, o mestre Almeida, quer alguns vizinhos da igreja, seus frequentadores assíduos, não me souberam precisar a data certa da remoção.

         É ainda possível aceitar-se que existiram azulejos ( seiscentistas ?) na e da dita ermida e que, creio eu, após 1858 e à volta de 1866, tenham ido para a fachada da Matriz, sendo, porém, menos provável que o tivessem feito antes de 1858, e muito menos antes de 1852.

         Não obstante os fortíssimos abalos sísmicos de 1852 [137] o Prior Manoel Cabral de Melo em 1858, seis anos apenas após a ocorrência, ainda se refere à ermida nos seguintes termos:

         “ 4ª No Adro da Igreja Parochial, da invocação da Senhora das Candêas, fundada por Dona Julia Taveira. Não tem serventuario. Tem de renda, proveniente d’un foro - 20$500 rs.”[138]

         Ao que parece, ela manteve-se de pé, sendo provável que o Prior a não incluísse na lista se estivesse irremediavelmente arruinada. Para além do mais a ermida dispunha de uma renda que poderia ter sido utilizada para  reparar os danos do sismo. Aquele foro correspondia, pouco mais ou menos, à soma que vitaliciamente  Madre Margarida Isabel do Apocalipse recebeu até 1858 [139]e do preço de uma das suas casas vendida na década de setenta daquele século. Por conseguinte, tratava-se de algum dinheiro, talvez o suficiente para reparar a ermida.

         Tanto mais que em 1852 o Prior da Matriz, Francisco José Pacheco, diz explicitamente: “ Em os dezeseis dias do mez d’Abril do anno de mil oito cincoenta e dois, sendo pouco mais das déz hóras da tarde, ou noite daquelle dia, se sentio em toda esta Ilha úm grande abálo da terra, ou terramoto : todos os edifícios da Ilha sofrerão ruinas, uns mais, outros menos: esta Matriz pouco sofrêo só apparecerão, algumas fendas nos cantos das paredes do Côro junto ao frontispício: desabôu párte da cimalha do gradiamento de pédra da tôrre dos sinos, quebrando em baixo degráos do ádro: algumas Pessoas morrerão de báixo das ruínas causadas pelo terramoto, e outras ficarão feridas: nesta Villa só morrerão duas raparigas na Rúa dos foros, da Freguezia da Conceição, sendo Irmãas, de idade, uma de dezoito annos, e outra de quatorze: foi, horrorõso: duróu somte. doze segundos, e á (?) continuár por mais alguns de cérto ficariá toda a Ilha reduzida a um montão de ruinas e debaixo d’estas sepultadas os seus habitantes: não consta que a Ilha em tempo algum sofresse outro igual, e para que os Vindoûros tenhão conhecimento d’esta desastrosa calamidade, faço esta declaração, vále aentre linha que diz ruínas. Ribrª. Grde. 3 de Maio de 1852 O Prior Francisco José Pacheco. “[140]Como se depreende nada aconteceu à ermida.

         Segundo os dados da genealogia da família Taveira de Neiva, da autoria do Dr.º Hugo Moreira, aquela família foi ficando sem descendentes legítimos e extinguiu-se em 1861, quando D. Angélica Joaquina Taveira, faleceu na vila de Corumbá, no Brasil.[141]

         Assim sendo, e sem ninguém para cuidar da ermida, é provável que esta  se fosse, a partir de então, arruinando até ser demolida, segundo se crê, no final do século passado ou no início do presente.[142] Deste modo se compreende que já referidas testemunhas a tenham conhecido.

         Viram azulejos ? Podem muito bem ter sido os que sobraram do revestimento da Matriz e que aí estivessem estado armazenados. Teria tido a dita ermida azulejos suficientes para revestir a fachada da Igreja ?

         Fizemos os nossos cálculos e achamos que sim. Estiveram a revestir a Matriz cerca de 1800 azulejos [143]. Medindo uma ermida seiscentista, a de Nossa Senhora da Salvação, [144] verificamos que tinha uma área parietal mais do que suficiente para levar muito mais do que 1800 azulejos. [145]

         Não pudemos, como é obvio, incluir nos nossos cálculos, os imponderáveis e hipotéticos estragos do sismo de 1852.

         Finalmente, numa análise aos elementos constituintes dos padrões de grande dimensão P 37 (6x6), leva-nos a supor que foram utilizados em grandes superfícies parietais. Ou o P37 (6x6) e o P35 (4x4), estavam decompostos em pequenos padrões 2x2 [146](aliás tal como já vimos no caso do P35 para a capela de Nossa Senhora do Cabo e mesmo para a fachada da Matriz) ou então é muito possível terem pertencido a edifícios maiores.[147]

Muito depois de 1989, altura em que o grosso deste texto foi elaborado, descobrimos novos indícios: uma acta da edilidade e fragmentos de azulejos. A acta, de Maio de 1856, refere que iria à praça « para ser arrematada para sempre a Caza e quintal dos herdeiros de António Pinto Taveira», repare-se no local exacto: «Situada junto ao Adro da Matriz d’esta Villa ». Já agora «onde a Camara Municipal da mesma tem projectado fazer hum Mercado»[148] Naquele local exacto- caso a compra se tenha efectuado -, fomos recolhendo fragmentos de azulejaria seiscentista semelhante à encontrada nas terras do mosteiro e na torre da igreja Matriz. Serão da dita ermida,da igreja Matriz que lhe fica defronte, de ambas, de outro local?

         Se é impossível provar, com os dados que dispomos,  com certeza absoluta, que existiram azulejos seiscentistas na ermida e que estes foram parar à fachada da Matriz, é igualmente impossível provar-se o contrário.

         Existem, porém, outros candidatos cujos indícios serão, porventura, mais perturbantes, nomeadamente o mosteiro do Santo Nome de Jesus, na ex-vila da Ribeira Grande .

 

OUTRO CANDITATO: MOSTEIRO DE JESUS DA EX-VILA DA RIBEIRA GRANDE

 

Foi, ” na era de mil e quinhentos e trinta e seis, pouco mais ou menos, que Pero Roiz da Câmara e sua mulher, D. Margarida de Betencor, fundaram o mosteiro de Jesus na Vila da Ribeira Grande, no assento e casas onde eles mesmo moravam. “[149] Depois, sendo o mosteiro destruído, recolheram-se as freiras em 1563 a Ponta Delgada “ E tornaram na de setenta e sete [ 1577 ]” [150]

         Volvidos quase três séculos, em Junho de 1832, [151] um mês após o decreto de extinção das ordens religiosas de 17 de Maio de 1832, [152] as freiras saem definitivamente do mosteiro.

         “ Artº 1º - Ficam supprimidos os seguintes Mosteiros de Religiosas, a saber:

         ... Na ilha de S. Miguel..., assim como o de Jesus na Ribeira Grande”[153]

         Aos catorze de Dezembro de 1833, conforme título público passado em nome do Provedor Interino do Concelho da Ribeira Grande, António Manuel da Silveira Estrella, o mosteiro e suas dependências foi arrematado em hasta pública. [154]

         Estes bens de raiz, fazem parte do património de Dona Mariana Amália Narciza, primeira esposa de José Maria da Câmara Vasconcelos que aparece como seu inventariante num documento de 7 de Janeiro de 1834.[155]

         Em Agosto de 1858, o prior Cabral de Mello diz que “ O frontispício da Igreja da Ribeira Sêca, era o da Igreja das Freiras. “[156]

         Independentemente de o interpretamos à letra ou não, que a fachada tenha sido transferida e reposta tal qual ou se somente parte ou tão somente que a fachada tenha sido transferida e reposta tal qual ou se somente parte ou tão somente a pedra utilizada foi adaptada, o certo é que, e é o que nos interessa provar, ocorreram, em qualquer dos casos, demolições, em data desconhecida, mas provavelmente entre Junho ou Julho de 1832 e Agosto de 1858.

         Assim sendo, e caso aí existissem azulejos, estes teriam forçosamente de ser removidos.

         Porém, não encontramos quaisquer referências escritas, seja coevas, seja posteriores, aludindo à existência naquele estabelecimento religioso de azulejos seiscentistas. Todavia, encontramos, em vários locais onde se erigia o mesmo, centenas de fragmentos de azulejos. [157] 

         É evidente que os fragmentos podem ter lá ido parar posteriormente, neste caso, nada tendo a ver com o Mosteiro. Só uma intervenção arqueológica poderia responder a essa dúvida.

         “ Archaelogical excavations are ultimately a process of recording subsurface features and the provenience, or precise relationships, of the artifacts within the site.”[158]

         O derrube das paredes  da igreja e das dependências do mosteiro de Jesus provocou, decerto, espaços vazios no terreno que tiverem de ser preenchidos a fim do terreno, ou parte dele, ser utilizado para fins agrícolas.

         Este preenchimento pode ter sido feito, em parte  recorrendo aos entulhos do próprio Mosteiro que seriam recobertos com a terra adjacente.

         Existem, nas paredes interiores da ex-cerca do mosteiro, sinais visíveis de remoção de terra, sobretudo no lado nascente, onde parte da pedraria dos alicerces que deveria estar soterrada, nalguns pontos, está a mais de um metro acima do nível do terreno, indício de que a terra que os cobria foi removida para as partes mais baixas do terreno situadas nos lados norte e poente, precisamente no local onde deve ter estado implantado o Mosteiro. (?) [159]

         A suspeita acerca dos azulejos do mosteiro começou em finais de 1987, no último trimestre, quando encontrei numa vala paralela ao passeio junto à parede norte, onde provavelmente outrora ficaria a fachada principal ou o adro do antigo Mosteiro [160], e, designadamente entre o portão norte e o vértice formado pela rua de Trás-os-Mosteiros e o murete gradeado do Ciclo Preparatório, alguns fragmentos e azulejos seiscentistas, assim como outros fragmentos cerâmicos. [161]

         A vala, porém, fora aberta a pá escavadora mecânica, a fim de se substituir a tubagem de chumbo abastecedora de água às residências circunvizinhas por outra tubagem de material sintético.

         Em todo o caso, inspeccionando os estratos, num e no outro lado da vala, verifiquei que, logo a seguir à camada de areia suporte dos paralelepípedos da calçada se encontrava uma camada de barro da qual recolhi alguns fragmentos de azulejos.

         Todavia, não me foi possível proceder a qualquer registo estratigráfico, porque a vala tinha de ser fechada o mais depressa possível.

         Para além do mais, a maioria do fragmentos foram recolhidos da mistura de terras revolvidas pela pá mecânica.

         Contactei com a Associação Arqueológica  do Arquipélago dos Açores, que de Setembro a Outubro de 1988, promoveu uma campanha arqueológica, no interior das terras do ex- mosteiro, onde em camadas de entulhos e em achados de superfície foram encontrados, segundo me foi dado  ver, fragmentos do mesmo tipo de azulejo. Foram escavados dois hexágonos junto à traseira da casa do Sr. Pinheiro, que confronta os terrenos do ex-mosteiro, e abertas duas valas de verificação, uma perto da antiga ‘arquinha, [162]no vértice sul-poente do terreno e a outra no interior do “quarto”, à entrada do portão virado a norte. [163] A classificação, identificação e estudo do que foi recolhido está a decorrer.

         E, mais recentemente, em Março de 1989, quando se procedeu à correcção do nó viário da rua de Trás-os-Mosteiros com o denominado “ Adro das Freiras”, perto do local onde pela primeira vez encontrei fragmentos, a pá escavadora descobriu muitos outros. [164] Parte do troço poente do muro do Ex-Mosteiro foi demolido e remexida a terra que lhe ficava a nascente. Foi neste troço que os encontramos.[165]

         Terão estes achados, mormente os primeiros e os últimos valor científico ou pelo menos algum valor documental ? Quanto aos fragmentos recolhidos no primeiro e no último caso, descobertos a pá escavadora, terão pouco valor arqueológico, visto que nos foi impossível proceder ao adequado estudo e registo estratigráfico. Quanto ao segundo caso, porém, objecto de estudo cuidadoso e metódico, o seu valor é mais seguro.

         “ O estudo de uma estação arqueológica não pára nas escavações. Antes de publicar os resultados de uma campanha - e não os publicar equivale a destruir pela segunda vez aquilo que se devastou ao escavar -, é preciso poder tirar conclusões. Ora, os elementos que uma escavação fornece podem não ser suficientes. É necessário que o estudo pormenorizado das amostras, dos objectos e de tudo o mais que se tiver encontrado no local, venha em apoio das teses estabelecidas pelo arqueólogo. Os estudos tipológicos, os exames das ossadas humanas e animais, o estudo tecnológico dos objectos fabricados pelo homem, o estudo dos solos, das condições do meio, do clima, a identificação dos pólens, etc., enfim, as estimativas absolutas ou relativas das datas dos vestígios encontrados e o estabelecimento de cronologias, são absolutamente necessários ao arqueólogo para estabelecer um quadro exacto da vida durante as épocas estudadas e dos acontecimentos cronológicos que tiveram lugar na estação escavada. Estas informações são indispensáveis para fazer da arqueologia o que ela é verdadeiramente, não uma vã escavação da terra para fazer a recolha de testemunhos, mas um estudo racional dos modos de vida e das estruturas sociais, económicas e culturais dos povos do passado. “[166]

         Até ao momento, estas descobertas, talvez só nos permitam concluir que à data das escavações, foram encontrados naqueles locais fragmentos de azulejos seiscentistas, mas, em si mesmas, não nos autorizam a concluir que aqueles fragmentos pertenceram a azulejos do Ex-mosteiro.

         Desapareceram os Livros de Receita e de Despesa do Século XVII do mosteiro e desconhecemos a existência de quaisquer notas sobre a compra e a colocação nele de azulejos seiscentistas, todavia, a existência deste tipo de azulejos, em quase todos os mosteiros de Clarissas da Custódia Franciscana da Puríssima Conceição das Ilhas de São Miguel e Santa Maria, lança a suspeita que o mosteiro de Jesus também os tivesse tido .[167]

         Aqui o fenómeno da difusão de padrões de gosto deve ter sido fortemente influenciado pelo gosto dos visitadores Franciscanos que percorriam, um a um, todos os mosteiros da Custódia. Não admira, pois, que os da dita Custódia, no que concerne a azulejos, apresentassem sinais de gostos idênticos.

         É certo, porém, que o mosteiro de Jesus pode ter, neste contexto, constituído uma excepção à regra, porém, a tendência uniformizadora deveria ter sido enorme e, para além do mais, o facto de termos encontrado nas suas terras fragmentos, ainda que de atribuição problemática, vem reforçar  e avolumar as suspeitas. Ambos constituem indícios de crédito a favor da sua existência no mosteiro de Jesus.

         Os próprios locais onde encontramos os fragmentos parecem insinuar que estes lhe pertencessem. Vejamos. Ao serem as paredes derruídas, e  concomitantemente, retirando-se-lhes os azulejos (?) , alguns fragmentaram-se, caíram ou foram atirados para o chão, sobradado, térreo, de tijolo ou lajeado, seja para o seu interior, seja para a rua. Os que caíram na terra foram sendo calcados pelos materiais amontoados e os que caíram no sobrado ou no empedrado desviados para a terra ou simplesmente empilhados. Tal como já foi atrás referido, é provável que mais tarde, tenham sido espalhados pelos espaços vazios no terreno provocados pela demolição dos edifícios e cobertos de terra arável.

         A identificação de fragmentos pertencentes a elementos do Padrão 37 (6x6), regra geral, utilizados em ‘tapetes’ que revestiam grandes superfícies parietais, também sugere a sua utilização pelo Ex-mosteiro.

         Porém, nada disso, é evidente, prova à saciedade e sem ambiguidades que nele existiram azulejos, todavia, lança fortes suspeitas.

         Mas, supondo que lá existiram azulejos, ainda temos que esclarecer três pontos.

         Primeiro, foi o mosteiro efectivamente demolido? Segundo, foi demolido no período em que se pensa que a fachada da Matriz foi azulejada ? Terceiro, os azulejos da Matriz vieram do Ex-mosteiro ?

         Cabral de Mello em 1858 afirma que “... havia um [ Mosteiro ] do sexo feminino, onde se chama o Adro das Freiras. “[168]

         Em Junho de 1832, como já indicamos, são as religiosas expulsas a 9 de Junho, arrolados os bens móveis e os bens de raiz inventariados:

“... Houve por bem Supprimiar [ sic] o Mosteiro das Religiosas de Jezus desta Villa, determino que Vossa Senhoria fassa invacuar o mesmo Mosteiro em trez dias impreterivelmente, entregando as ditas Religiosas as Pessoas constantes da Relação junta asignada pelo Escrivão José de Medeiros Souza outro sim [ sic] determino que Vossa Senhoria passe a invatariar com o Sindico do Refferido Mosteiro os Vasos Sagrados, Ornamentos e Vestiduras dos Artigos terceiro e quinto, cuja copia também Remetto asignada [ sic ] pelo dito Escrivão fazendo Remover tudo para a Matriz desta mesma Villa...” [169] e mais adianta data: ...Villa da Ribeira Grande Seis Seis [ sic ] de Junho de mil oito centos trinta e dois”...”[170]

         Fica, por conseguinte, de Junho de 1832 até finais de 1833, mais de um ano, o mosteiro abandonado e exposto a todo o tipo de vandalismo e à incúria dos tempos. Na Quaresma  de 1834, vemos José Maria da Câmara de Vasconcelos a morar lá, [171] saindo logo após, só regressando na Quaresma de 1847. [172]

         Por um lado, provavelmente, os edifícios, naquele lapso de treze anos, devem ter ficado entregues a si mesmos, e, por outro lado, devem ter sofrido obras de adaptação a moradia. De 1832 até finais da década de quarenta, pelo menos, e segundo documentos do Arquivo Municipal da Ribeira Grande, José Maria da Câmara Vasconcelos adquire e vende bens de raiz, confessando, perto de 1850 que tem dificuldades económicas [173], portanto, deve ter sido neste período que, para arranjar dinheiro, começou a desmantelar o Ex-mosteiro e a vender tudo aquilo que pudesse interessar.

         Os violentos abalos sísmicos de 1852, caso o edifício ainda se mantivesse de pé, e sem os devidos cuidados de manutenção, podem ter sido o seu canto de cisne, danificando-o irremediavelmente ou mesmo derruindo o que lhe restava.[174]

         Todavia a demolição pode ter sido feita muito antes. Em 1858, o Prior Manoel Cabral de Mello, quando se refere à Ermida das Caldeiras, que ostenta no seu frontispício a data de 1850, refere-se-lhe, como tendo sido construída há muito poucos anos, sendo porém, no tocante ao frontispício da Igreja de São Pedro, cuja proveniência, como já vimos, atribui à igreja do Mosteiro, mais vago na datação, o que só por si, pode querer indicar, para a demolição da igreja, um período de tempo algo anterior a 1850. [175]

         O próprio Cândido Abranches ao declarar que levara muitos anos a recolher os elementos para o seu Álbum, não sabemos quantos, concluindo-o 1866, de certo modo, parece corroborar tal conjectura.

         As demolições podem ter sido, por conseguinte, levadas a cabo a partir de 1832, mas, muito provavelmente, na década de quarenta, pelo menos em parte. Em todo o caso, antes de 1858 e perto do período em que C. Abranches recolheu os dados para o seu “ Álbum”, no qual já se vê os azulejos na fachada da Matriz.

         Apesar de alguma evidência em relação à existência de azulejos seiscentistas no Ex-mosteiro, falta-nos estabelecer a ligação deles aos da Matriz. Também neste caso não possuímos documentação para além da circunstância de os hipotéticos azulejos do Ex-mosteiro estarem disponíveis à data (?) do azulejamento da Matriz e dos próprios fragmentos recolhidos nas terras do Ex-mosteiro que, quanto aos P37, P35 e dentes de serra, se assemelham aos que estiveram recolocados na Matriz.[176]

         Por um lado, não obstante a inexistência de provas concludentes, não obstante a vulgaridade deste tipo de azulejos, mantemos de pé a hipótese  de que os  azulejos do Ex-mosteiro pudessem ter contribuído em parte ou na sua totalidade para o azulejamento da Matriz. Todavia, por outro lado, prosseguimos na busca de outros suspeitos.

 

OUTRO SUSPEITO: O Convento de Nossa Senhora de Guadalupe, vulgo Convento dos Frades da Ribeira Grande

 

 

Assim, examinemos outro candidato, o convento de Nossa Senhora de Guadalupe. Situado mesmo na entrada poente da Ex-vila e construído no primeiro quartel do século XVII.

         “... em 30 de Abril do ano acima [ 1612 ], se anteciparam clero e povo, em uma segunda-feira da Pascoela, em que se rezava dos Prazeres de Nossa Senhora e botaram a primeira pedra no edifício deste convento, ...”[177] e, “ cantou-se a primeira missa nesta igreja [ Nossa Senhora de Guadalupe ] em 10 de Fevereiro de 1613 .”[178] As provas de que dispomos, acerca da existência naquele convento de Franciscanos de azulejos seiscentistas, não são nem mais fortes nem melhores das que aduzimos para os dois candidatos anteriores. Sem documentos históricos ou vestígios arqueológicos, só dispomos de alguns azulejos a ele atribuídos pelo Marquês de Jácome Correia.

         Num catálogo publicado em 1944, inserta na secção de azulejos, sob os números 8 e 13 o Dr.º Luís Bernardo escreve: “ N.º 8 - Quadro em 4 ornatos de 4 azulejos cada um, em azul e amarelo sobre branco, e mais 2 azulejos em trechos separados; representando dois de eles, faixas e outro, um mascarão composto de acantos estilizados. Época, século XVIII. Este quadro foi oferecido ao Museu pelo Sr. Marquês de Jácome Correia em 1917- Os primeiros 16 azulejos, formando 4 ornatos, vieram do vestíbulo do Convento da Ribeira Grande, hoje Misericórdia, os outros, da antiga ermida de São Caetano situada nas areias de São Roque desta Ilha. “[179] E, no número 13 da secção refere:

         “Nº 13- Quadro com uma faixa em dentadura de 14 azulejos de diversos tamanhos e mais 5 ornatos de 4 azulejos cada um e um de 5 .- A faixa é pintada em azul e amarelo sobre branco e os ornatos em azul sobre branco, representando um mascarão e encadeamento de acantos estilizados. Século XVIII. - Este quadro foi oferecido em 1917 ao Museu, pelo Sr Marquês de Jácome Correia, tendo pertencido os azulejos da faixa ao Convento onde hoje se acha instalada a Misericórdia da Ribeira Grande,...”[180]

         Mais tarde, o eng. Santos Simões, diz em relação a azulejos que viu no dito museu: “ Muitos outros azulejos fazem parte da colecção museológica , a grande maioria pertencentes a grupos decorativos de padronagem policroma do século XVII, provenientes de demolições não só dos conventos da Esperança e de Santo André, de Ponta Delgada, como do antigo Convento de S. Francisco de Ribeira Grande, e da ermida de S. Caetano, nas Areias de São Roque.”[181]

         Quanto ao n.º 8, e no que concerne nos atribuídos ao convento dos Frades, que corresponde ao Quadro n.º 384 [182], Santos Simões diz que são” A ) Padrões do tipo maçaroca, vulgar 2x2 de pontinhas, como os do quadro 398 “[183] quanto ao n.º 13 ( Quadro n.º 389 ) e um dente de serra ligeiramente diferente dos recolhidos na Matriz e no Ex-mosteiro de Jesus mas idêntico aos da ermida das Caldeiras. [184]

         Trata-se, pois ,  segundo lemos e vimos de elementos P12 ( maçaroca , para o n.º 8 ) e dentes de serra ( ligeiramente diferentes para o n.º 13 ).

         Ambos os quadros encontram-se, presentemente, na arrecadação do museu. [185]

         Portanto, segundo o Dr.º Luís Bernardo, tais azulejos teriam, segundo informação do próprio marquês (?), vindo do Convento dos Frades da Ribeira Grande, aliás, tal como um quadro setecentista, representando o “ Cenáculo” que se encontra no Palácio de Santana.

         “ II -Nossa Senhora de Guadalupe, do antigo convento de - Do refeitório do vetusto convento franciscano da Ribeira Grande, adaptado agora  a hospital, veio o grande painel de 14x16 azulejos mostrando, na parte central a representação do Cenáculo “[186] e mais adiante acrescenta :

 

         “... Tipológicamente poder-se-à colocar em época vizinha de 1735 -45 a julgar pelo estilo dos enquadramentos que se vêem em Santo André [ Vila Franca do Campo ]”.[187]

 

         Teria o Dr.º Luís Bernardo ou o Marquês de Jácome Correia feito confusão? Não o sabemos. Todavia segundo o testemunho do senhor Jaime Ferreira Cabido, transmitido ao Dr.º Jorge Gamboa de Vasconcelos, o vestíbulo do ex- convento não teve azulejos. Recordava-se, porém, da troca de materiais para restauro das cozinhas (?) pelo painel setecentista.[188]

         A este testemunho aponho as mesmas reservas que referi quando analisei a ermida da Caridade. Em todo o caso registe-se a dúvida.

         Existe, porém, um outro vestígio circunstancial, que, quiçá, pode reforçar as suspeitas Em 15 de Agosto de 1988 reparei, pela primeira vez, existir na ermida das Caldeiras, quer no seu corpo principal, quer na sacristia, um rodapé de azulejos ( tipológicamente ) seiscentistas. Mais tarde, descobri na casa ao lado, propriedade do senhor Humberto Viveiros, dois azulejos do mesmo tipo.

         O grande impulsionador da edificação daquela ermida foi, segundo Cabral de Melo, um ex-frade, egresso daquele convento, cujo nome era Frei José da Purificação:

         “10 a. Situada nas Caldeiras, a trez quartos de Legoa [ ? ]ao sul da Parochia ;da invocação da Senhora da Saúde; fundada, há poucos annos, por Dona Izabel Margarida Botêlho, na sua família e outras pessoas devotas a instâncias do Sabio, e virtuoso Padre Mestre Frei José da Purificação, da extincta Ordem Ordem de San Francisco, meu Sancto Patriarcha. Não tem Serventário. Tem de renda proveniente d’um juro 2 400 rs. “[189]

     Num Acórdão da Santa Casa da Misericórdia da Ribeira Grande, datado de 30 de Setembro de 1839, o escrivão regista que pelas 10 horas da manhã daquele dia o Administrador do Concelho tinha dado posse do Edifício do Ex-Convento de S. Francisco aquela Santa Casa. Mais adianta se faz o diagnóstico do que se necessitava fazer para adaptar aquele edifício a Hospital: “ Concerto da cozinha do novo Edifício que vai servir de Hospital : desmanchando-se a Caza, que em outro tempo servia de despejos por se achar já de molida (sic ), e esta ter parte dos materiais, que se precisão para a mencionada cozinha.”[190] . Depois enumera, entre outros, o arranjo da casa e da cozinha do Boticário, o retelho geral de todo o edifício, o concerto da casa do Consistório que ficava sendo o lugar da sacristia velha ficando o local da Capítulo a servir de sacristia à igreja, arranjo de fechaduras novas para todas as portas.[191]

         Se em finais da década de 30 o ex-convento se encontrava a sofrer obras de restauro e adaptação, a julgar pela data do frontispício da ermida das Caldeiras, na mesma altura ou pouco depois, esta última, encontrava-se em construção. Não seria improvável que o egresso, empenhado como vimos, na construção da ermida, levasse para lá azulejos do seu ex-convento. Nada, porém, o impedia de os levar de outro local. Os conventos franciscanos das ilhas utilizavam muito aquele tipo de azulejo.[192]

         Tendo desaparecido os Livros de Receita e Despesa daquele convento, só nos resta talvez tentar descobrir zonas de entulho do ex-convento e proceder a uma adequada intervenção arqueológica. Tal seria como procurar uma agulha no palheiro, já que desde 1839 até ao presente, novos edifícios se têm implantado nos antigos terrenos.[193]

         Atentemos a dois pormenores curiosos.

1- Os rodapés da dita ermida das Caldeiras são heterogéneos, sendo constituídos por elementos dos Padrões 37, 35, 20, 12, C3 e dentes de serra ligeiramente diferentes dos que recolhemos nos outros locais.

        

         Para além do mais, estes últimos são semelhantes aos existentes no Museu Carlos Machado e atribuídos ao ex-convento de S. Francisco.[194] Quanto aos C3 só os encontramos na Capela de Nossa Senhora da Rosa.

 

         2-O Sr. Humberto Viveiros informou-me que o seu avô construíra a casa onde veraneia junto à ermida, há mais de sessenta anos e que nos alicerces da casa anterior o avô encontrara muitos fragmentos e azulejos iguais aos da ermida, entre os quais dois, que recolocou na sala de estar junto à lareira. [195]

         Entre as infindáveis questões sugeridas por estes indícios, tento ponderar nas seguintes, sem todavia, querer ou poder esgotar as possibilidades:

        

         1- Não se sabe quando o rodapé foi colocado, sendo provável que o tenha sido na altura da construção da ermida (?)[196]

        

         2-Pela heterogeneidade dos seus elementos depreende-se que:

         a) Sobretudo pelos elementos P.37 (6x6) que vieram dum edifício            com grandes superfícies parietais. ( não existia naquele local,   ermidas antes da construção da que nos referimos )

         b) Que iriam utilizar os conjuntos completos, mas que, por qualquer         razão que desconhecemos, não o fizeram.

 

         3-Era intenção utilizar todos os que vieram do ex-convento, mas a Matriz antecipou-se ? ( As Caldeiras pertencem à paróquia da        Matriz  ).

        

         4- Não houve antecipação e foram utilizados os que sobraram do

         azulejamento da Matriz vindos:

 

         a) do Ex- mosteiro de Jesus ?

         b) do Ex- convento dos Frades ?

         c) de outro local tanto na vila ou fora dela?

O que sabemos, ao certo, é que, ao tempo provável da recolocação dos azulejos seiscentistas na Matriz, existiam na Ribeira Grande, e mesmo fora dela, azulejos disponíveis, e, assim sendo, como saber quem contribuiu ?

        

OUTRO SUSPEITO: A IGREJA DE NOSSA SENHORA DA ESTRELA VULGO DA MATRIZ  - R.G.

 

Teriam os azulejos recolocados na fachada da Matriz pertencido ao edifício anterior, demolido em 1728 ?[197]

         Antes, contudo, temos de ensaiar provar que existiram, naquela igreja, azulejos seiscentistas do tipo dos que se presume terem estado na dita fachada.

         Foi o Dr.º Jorge Gamboa de Vasconcelos quem pela primeira vez insinuou esta hipótese: “ Devem ter pertencido, pois, ou a outra dependência da igreja [ Matriz ] ou a outro templo, [ refere-se, neste caso, à ermida de Nossa Senhora da Caridade (s) ou da(s) Candeia(s) ]...”[198]

         Por um lado a Matriz, fundada no inicio do século XVI, [199] no século XVII estava aberta ao culto, e por outro conhecem-se uma ou outra igreja nos Açores azulejada no século XVII, com aquele tipo de azulejos [200]

         Nos entulhos que “remexi” [201] na sua torre, reconstruída em 1701, [202] encontrei muitos azulejos e fragmentos do tipo em questão, que tanto podem ser restos dos hipotéticos azulejos removidos em 1728 da Matriz, como também dos que sobraram (?) da sua recolocação ou ainda dos da remoção final em 1956.

         Só, talvez, uma análise mais aprofundada dos entulhos poderia ajudar a solucionar este enigma. Em qualquer das circunstâncias registe-se a possibilidade de os entulhos serem, em parte ou na sua totalidade, vestígios de presumíveis azulejos da dita igreja. O que não é de todo improvável, sendo, porém difícil fazê-lo.

         Em primeiro lugar, os dados já adiantados não passam de meros indícios circunstanciais; em segundo lugar, desconhece-se a existência de Livros de Receita e de Despesa daquela igreja anteriores a 1674, período provável do fabrico dos azulejos em causa.

         Tanto quanto sei, o Dr.º Luís Bernardo consultou o livro que começa em 1674 [203] ( que não pude consultar por desconhecer o seu paradeiro ) tendo encontrado referências a azulejos setecentistas, [204] e, das duas uma, ou ele consultou todos os livros de Receita e de Despesa, nomeadamente a partir de meados do século XVII, e, nada encontrando, se pode deduzir que não existiram azulejos seiscentistas, ou então, não os consultou, e mantém-se a possibilidade da Igreja os ter tido. Tanto mais que ele, por um lado, pode não os ter procurado, por outro, a informação acerca deles pode ter sido escrita noutro tipo de documentação. Temos vindo, por várias razões, a compulsar toda a documentação existente no Arquivo Paroquial, porém, nada encontramos.

         Estaria a igreja capaz de, no período em questão, de meados de seiscentos até finais do 3º quartel daquela centúria, receber tais azulejos?

         Vamos ver se, entre 1650 e 1680, existiu algo que impedisse ou desaconselhasse o seu azulejamento.

         1-” Em 28 de Setembro de 1612 caiu a capela - maior da igreja desta Vila, sendo de maneira muito formosa e a melhor obra que havia no bispado; e a 2 de Fevereiro de 1622 se cantou já missa nela, por estar já feito de abóbada (1) ”[205]

         2-” A torre da Ribeira Grande (sic), desta vila, caiu em 15 de Janeiro de 1681, com quebramento de seus sinos, mas, por indústria do licenciado reverendo padre vigário, o licenciado Jerónimo Tavares Homem, em 19 de Março de 1701, por estar de novo feita com sinos novos, se ouviram nela repiques (1)” [206]

         Ao que parece, entre 1622 e 1681, nada aconteceu que impedisse ou desaconselhasse a encomenda e colocação de azulejos do tipo em questão.

         Provamos a disponibilidade da igreja e insinuamos a possibilidade da sua existência, porém, há que provar que os hipotéticos azulejos foram recolocados na fachada.

         Em primeiro lugar, em 1681 a torre caiu “ pª. dentro da Igreja [ e ] quebrou huma naue e aRuinou algua das outras .”[207] Sendo as superfícies parietais das naves um dos locais prováveis de colocação de azulejos ( tal como se vê em St André-Vila Franca do Campo ), até que ponto aquele desabamento prejudicou os hipotéticos azulejos? Não me parece que a capela- mor os tenha tido visto que, em 1622 foi reconstruída e saindo”... obra tão excelente, como hoje se vê.”[208] Segundo diz Monte Alverne, se manteve, pelo menos até inícios de setecentos. Tanto mais que “ Em 1696, o licenciado António Pais de Vasconcelos ordenou que se azulejasse a capela- mor da Matriz da Ribeira Grande (2), “[209] acabando por sê-lo em 1710 .[210]

         Se os teve, então foram retirados antes de 1710. Quanto aos das naves (?), em parte, alguns teriam caído com o desabamento da torre em 1681, outros, em 1728:

         “ Começarão logo no desmancho dadtª. obra a qual aCharão toda deSpregada [ sic ] jncapax [ sic ] deq .[ ? ] offiCiais SobiSem [ sic ] atirar os maSSames [?] eSe tinha empe por milagre.”[211]

         Mas se os azulejos foram retirados do interior da igreja, o mais tardar, ao que parece em 1728, ( assumindo que ela os tenha tido) porque se esperou muito mais do que um século para os recolocar na fachada, já que, ao que suspeito, a sua recolocação ocorreu à volta de 1866 ? A igreja foi inaugurada em 1736. [212]

         Resta-nos, porém, a hipótese, da recolocação ter ocorrido perto da inauguração.

         Temos ainda duas questões a resolver.

         1- Partindo do princípio que a recolocação teve lugar logo após a inauguração em 1736 com os azulejos removidos do interior, ainda nos falta saber se foi possível salvar azulejos em número suficiente, o que nos parece possível.

         2- Partindo dos mesmos princípios do ponto um, porém, situando a recolocação perto de 1866, levantam-se outras questões.

         a) Num tão vasto lapso de tempo os azulejos da igreja poderiam ter sido destruídos.

         b) Poderiam ter sido recolocados em outros locais como por exemplo na casa da Rua do Botelho e da de São Vicente ) [213].

         c) Arrumados e mais tarde utilizados na fachada

         d) Utilizados com outros provenientes de outros locais no revestimento da fachada.

         O que acima se escreveu, parece-nos plausível, porém, faltam-nos as provas.

        

 

OUTRO SUSPEITO: Igreja do Espírito Santo, ou Igreja do Senhor dos Passos ou ainda da Misericórdia Velha

 

         A igreja anexa ao antigo Hospital da Santa Casa da Misericórdia da Ribeira Grande, bem como as suas dependências, não deixa de ser um candidato plausível.

         Conhecem-se inúmeros exemplos de edifícios de Santas Casas com azulejos seiscentistas. Destaco, o das Caldas da Rainha, e, ao que parece, o de Ponta delgada, na ilha de São Miguel:

         1-” ”Despendeo mais o pe. Almoxe. semto E sesenta mil rs por       compra de azulejo com que se azulejou a Igreja e oratorios das       enfermarias, E capella da pia da ditta Igreja “”. [214][ 1659 -        

         quadrilobos 4x4 e 2x2 / Caldas da Rainha ] [215].

 

         “ A designação explicita de ‘ mestre dos azulejos ‘ dada ao     defunto Matias Martins [ século XVII ] leva a crer que ele foi o         encarregado ‘ dos azulejos ‘ da própria Misericórdia os quais como           é sabido, desaparecem com os edifícios. “[216] [ Ponta Delgada ]

 

         Gaspar Frutuoso, ao enumerar as ermidas sufragâneas de Nossa Senhora da Estrela, diz que havia “ a do Espírito Santo, que é um sprital para pobres e doentes, situado junto á praça,... “ [217] Porém, só aos 7 de Novembro de 1592 a Câmara propõe e é aceite a ideia de se fazer na vila uma Misericórdia assentando “ que fosse na igreja do Espírito Santo, onde, de presente, estava o hospital, contíguo à praça, por ser sítio bastante para as oficinas que a dita Casa havia mister.”[218]

         Efectivamente os 24 ‘ mesteres’ que governavam o dito hospital, aos  17 de Dezembro daquele ano, fizeram escritura pública de desistência a favor da nova irmandade que se reúne logo no dia seguinte. [219]

         Finalmente, a irmandade, obtém autorização do bispo D. Manuel de Gouveia, aos 14 de Fevereiro de 1593.[220]

         Perto de meados do século XVIII e prolongando-se até quase finais do mesmo, procedeu-se à reconstrução do templo, suas dependências, bem como à construção dos passos quaresmais de pedra e cal.[221]

         Já em 1748, ao que parece, começaram as obras:

         “ D. Com Pedreiros Cavo quei ros [ sic ] Car pin teiros [ sic ]e homens deSer uir [ sic]...”[222]

         Aos 2 de julho de 1752 ” por estar a obra deSta Stª. Caza por aCabar [ sic] e Ser Comuiente [ sic ] dar Se lhe [ sic ] fim ...”[223] foi proposto e aceite que “... fiCaCe ames ma. menZa [ sic ] por ter por pran -Cipiado [ ? ] a mesma or bra [ sic ]...”[224]

 

         Dois anos volvidos, repete-se o mesmo e justifica-se “ que por eStar Varias obras por aCabar fronte eS pi Cio [ sic ], adro, Coro, emais obras neCeSSarios adicta j greja [ sic ] dami zeriCordia porfa-zer, eS er [ sic ] Conv iniente [ sic ] dar Se lhe fim ; fi CaSSe a mesma menza,...”[225]

         No ano seguinte repete-se “... que por eStar uarias [ sic ] obras por aCabar. Fronte adro Coro emais obras neCe Sarias [ sic ] adita Igreja [ sic ] da miZeri Cordia [ sic ] por Fazer e ler Comveniente [ sic ] dar Ce lhe fim ...” [226]

         Aos 22 de Dezembro de 1768 os irmãos acham que “... eraividente aperSizão qe. tinha aCazado [ sic ] os pital [ sic ] deSefazerdenovo por eStar totalmte. perjudiCada eComperigo evidente dehuma grde. Ruina pellainCapaSide. Com q-. SeaChava...”[227]

 

         Aos de Outubro de 1773, dizem “... pella nCiCide. [ sic ] em que a igreja [ ? ] deS ta Stª CaZa Se aChaCe finde  [ ? ] o Coro e adro e por tas de la...”[228]

 

         Mas, quer no interior, quer no exterior, procedia-se a obras: “  ogasto q- fes Com a Com duSão da Agoa dafonte q- Corre  nofronte Es pi Çio desta Stª CaZa que emportou em trinta e SinCo mil outo Centos e outenta Reis e tambam aprezentou o gasto q- fes oSvalho da Igreija  [ sic ]...” [229], ou ainda, “... aCordaraão[230] SefizeSe vestoria NoRetabollo  [ sic ] doAltar de NoSa Senhora do Amparo Cujo fes o mestre dionizio defontes e naSua prezenSa Se avaliou pella mesma Meza toda aobra...”

 

         Finalmente, em 1790, os irmãos estendem a sua acção aos Passos”...fazer os Santos Passos de pedra e Cal a emitação  [ sic ] dos PaSSos daSide. e da Villa da Lagoa...”[231]

         Nesta conjuntura, parece-nos mais ‘lógico’ que, a terem existido azulejos seiscentistas na igreja e nas dependências da Santa Casa da Misericórdia da Ribeira Grande, decerto que eles teriam de ser removidos.

         Todavia, não dispomos de quaisquer documentos, não obstante termos compulsado toda a documentação do seu Consistório referente ao século XVII. [232]Daí sendo mais provável concluir-se que os não tenha tido?

         A não ser que esta informação tivesse sido registada em outro tipo de documentação ou ainda, quiçá, tratar-se-ia de uma doação não registada.

         Partindo do princípio que os teve, ainda temos de explicar que eles foram removidos a tempo de serem recolocados na fachada da Matriz, já que sem provas, não podemos provar que para lá foram, ao menos se insinue que estavam (?) disponíveis.

         Ora, as demolições em questão nos diversos edifícios da Santa Casa ocorreram no século XVIII, a partir da década de quarenta, tendo-se prolongado, no que nos interessa, até finais do terceiro quartel daquele século. Tudo isso ocorre, depois da inauguração da nova Matriz, em 1736, e antes de 1866, data em que Cândido Abranches terá provavelmente acabado o seu Álbum.

         Neste período, os hipotéticos azulejos seiscentistas da Misericórdia estavam disponíveis.[233]

         Tudo pode ter acontecido.Todavia, tudo parece depender da data da recolocação dos azulejos na Matriz.

        

         1-Se a Matriz já estivesse azulejada, os disponíveis  (?) da Santa Casa poderiam ter sido disseminados por casas particulares, saído do concelho, destruídos ou armazenados. Para as duas primeiras hipóteses conhecem-se precedentes:

        

         a) Vestígios em algumas casas da ex-vila [234]

         b) Pelo menos o Marquês de Jácome Correia levou alguns [235]

        

         2- Se, porém, a Matriz ainda não estivesse azulejada o mesmo acima referido poderia ter acontecido, acrescentando-se todavia a hipótese de:

         a) terem sido eles na sua totalidade a revestirem a fachada da dita     igreja ou:

         b) de terem contribuído em parte.

 

         Em todo o caso, mesmo que os tenha tido, nada nos obriga a aceitar que tenham ido para a Matriz.

         De entre, todos os suspeitos já referidos, e de acordo com os dados que avançamos, parece-nos ser este, apesar de tudo, o candidato mais improvável ? Havia uma grande ligação entre a Matriz e a Misericórdia. Não esqueçamos que, enquanto se reconstruía a Matriz, a Colegiada, com muito incomodo, esteve na Igreja do Espirito Santo.

         Para além dos suspeitos já debatidos, insinuam-se outros, [236] ainda que remotos, nomeadamente, algumas casas particulares.

 

 

OUTROS CANDITATOS: Casas Particulares (?)

 

         O eng. Santos Simões que, ‘ in loco’, estudou, queremos crer, a maioria dos azulejos dos Açores e da Madeira, referindo-se às diversas manifestações artísticas insulares, entre as quais o azulejo, afirma que estes existiram:

        

         “ Nos velhos conventos, nas igrejas paroquiais, nas ermidas e capelas particulares numa ou noutra casa nobre ou nos prédios urbanos de algum porte... “[237]

         Porém, compulsando o seu livro, no que concerne os azulejos seiscentistas dos Açores, a expressão “ numa ou noutra casa-nobre, resume-se tão-somente a um espaldar de muro da Quinta do Pico da Urze, na ilha da Terceira, onde ele encontrou um P28 raríssimo. [238] Diz, textualmente, que a dita quinta “ possui vestígios de ter sido outrora mimoso retiro ou freiria.” [239], mas estão “ dispostos a granel...” [240], sinal de que poderiam ter vindo de outro local.

         A inexistência, ou quase inexistência de vestígios seguros de utilização de azulejos seiscentistas, nas casas particulares açorianas, aconselha-nos e autoriza-nos a conjecturar que provavelmente os que encontramos dispersos em casas particulares da Ribeira Grande vieram de edifícios religiosos.[241]

         Não repugna, porém, que pensemos o contrário.

         1-A Ribeira Grande pode ter constituído uma excepção.

         2-O eng. Santos Simões pode  não ter visto tudo. O que está comprovado.

         3-Mesmo que visse tudo, isso só provaria que ele somente viu os que sobreviveram, mas não todos aqueles que de facto existiram. Todavia, cada caso deve ser estudado em si mesmo.

         Por exemplo, caso se confirme a correcção da data de 1948 ou 1949,[242] adiantada pelo Dr.º Barbosa, no que concerne os azulejos que ele encontrou soltos no edifício do Externato Ribeiragrandense, inclinámo-nos para esta possibilidade, tanto mais que os azulejos da Matriz só foram removidos em 1956. Terá feito confusão ?

         No seu livro “ Memórias da cidade futura”, diz que “ formalizado este acto em 11 de Novembro de 1948, procedeu-se à mudança do mobiliário e material didáctico para o edifício da Rua Sousa e Silva, número sete, previamente arrendado pela Câmara, e à preparação do novo ano lectivo. “[243]

         Todavia, quer descrevendo o edifício como o encontrara quer registando as diversas obras que foi sofrendo, mormente as de adaptação a instituição de ensino, nada diz a este respeito. Estes azulejos estiveram recolocados na sala das alunas, afirmou-nos ele. Porém, quando a descreve nada diz:

 

         “ A sala das alunas ficou situada no primeiro andar, por cima da aludida aula, com janela voltada ao norte sobre os recreios e entrada pela sala interior, esta uma espécie de plataforma que, além da referida serventia, dava acesso a várias aulas, à sala dos professores, à escada  e ao recreio das alunas, através do balcão exterior. “[244]

 

         Para além do mais, instado noutra ocasião, declarou que segundo ouviu foi o comandante Armando Soares, antigo proprietário daquele edifício, quem os ali arrumara, provavelmente vindos da Matriz e, que mais tarde ele ( Dr.º Barbosa ), por motivos estético - didácticos os recolocara na sala das alunas. [245] Registe-se que o edifício tem um cunho acentuadamente seiscentista.

         Eram de lá ou foram lá parar ? Como foram lá parar ? Quando? Para além do que já dissemos notamos que estavam a esmo e incluíam elementos de padrões de grandes dimensões ( P37 6x6  e  P35 4x4 ) indiciando uma utilização em grandes superfícies parietais.

         Estando soltos e a esmo, em 1948 / 1949, antes das obras de restauro, e no chão da antiga cozinha, como nos disse o Dr.º Barbosa, leva-nos a supor que, ou a casa estava desabitada há muito tempo, o que não nos parece provável, e assim eles ter-se-iam conservado, ou então não poderiam ter lá estado há muito tempo, pois correriam o risco de soltos e na cozinha se terem extraviado.

         Um outro indício desta hipótese é-nos insinuada pela existência em casas da Rua do Botelho ( faz canto com a de São Vicente Ferreira ) e da rua de São Vicente Ferreira ( quintais separados pelo mesmo muro ) de azulejos seiscentistas que já lá se encontravam antes de 1932 [246], isto apesar da primeira casa ser de cunho setecentista, já que naquele local poderia ter existido uma do século anterior.

         Esta informação foi-nos dada no dia 16 de Abril de 1989 pela senhora Maria das Mercês Rodrigues nascida aos 28 de Março de1915 filha de António Rodrigues “ Batacão”.

         Aos dezasseis anos de idade, em 1931, a família Rodrigues foi morar para a casa dos “ azulejos” na Rua do Botelho, lá permanecendo, pelo menos, até 1948. [247]

         Afirmou-me que já em 1931, pouco mais ou menos, os encontrara recolocados (?) no muro que faz a divisória com a casa da rua de São Vicente Ferreira, ao fundo do quintal, dois ou três degraus abaixo do nível do terreno. [248]

         Para confirmar estes dados, primeiro consultamos os Róis Quaresmais da Matriz e verificamos que o Sr António Rodrigues “ Batacão” ( Moleiro e Farinheiro ) morara, efectivamente, na rua do Botelho desde a Quaresma de 1932, onde se vê a nossa informadora com idade de 17 anos, até, pelo menos 1948. Na Quaresma de 1951 já lá morava o Sr Jacinto da Silva Piques e a Senhora Maria de Lurdes Cabral.[249]

         Em segundo lugar entrevistamos o actual proprietário,  senhor Albano Cabral de Melo que nos afirmou tê-los arrancado do local referido pelo senhora Maria das Mercês Rodrigues. [250] O que resta deles foi-nos oferecido pelo Sr Cabral de Melo.[251]

         Na casa ao lado, na rua de São Vicente Ferreira, numa cozinha já desmanchada, o Mestre Augusto Rocha (Çafate) arrancou azulejos que ,eram parecidos com os do Colégio ( Externato Ribeiragrandense) e que, segundo ele, eram do tempo da senhora Marquinhas Marota. Portanto, estavam lá muito antes de 1940. Não os vi ainda. Aquele mestre teve oportunidade de conhecer os azulejos do ‘Colégio’ ( Externato) já que era “... o carpinteiro da casa, mestre Miguel ( depois, mestre Augusto Çafate )”[252] Além do mais, tendo trabalhado na casa do Sr. Luís Mota em Ponta Delgada viu um painel 2x2 camélia ( P20 ) e  referiu ao mesmo que tinha iguais na sua cozinha.

         Todavia, sem os ver e sem os estudar, não me predisponho a aceitar a sua existência, ou melhor a existência de azulejos seiscentistas de padrão. Por um lado o Mestre Augusto pode ter confundido por outro pode ter exagerado ou veiculado informações incorrectas. Tentou, por exemplo,  convencer-me que uma fotografia ( postal ) da Matriz, que mandara ampliar, era de 1819, quando foi ele ou alguém da família que a lápis de cor escreveu no original ( vi ambos na sua casa ) aquela data.

         Por último, encontrei solto no quintal da casa do falecido senhor Angelo Ledo, avô materno da minha esposa, um azulejo e um fragmento de cercadura sublinhado a traço de roxo de manganês.[253] Infelizmente, nem a viúva nem os familiares souberam explicar a sua proveniência. Em todo, o caso foi o senhor Angelo que os trouxe não se sabe de onde. [254]

         Não encontrei em mais nenhuma parte aquele tipo de cercadura.

         De onde vieram, então os azulejos, que estiveram no Externato, na casa da Rua do Botelho n.º 41 e a cercadura da rua de Sousa e Silva n.º 109 ?

         Os primeiros dois, plausivelmente, não vieram dos removidos em 1956 da fachada da Matriz. Podem ter pertencido tanto a edifícios civis como a edifícios religiosos.

         As hipóteses, que se abrem, são quase infinitas.

         De uma análise morfológica aos que vieram da torre da igreja Matriz, do Externato ( encontrados na arrecadação da Câmara ) e da casa da rua do Botelho, verificamos serem os azulejos em tudo iguais. [255]

         Ensaiando o mesmo através de fotografias da fachada da Matriz azulejada [256] e do que nos diz a esse respeito o Dr.º Luís Bernardo depreendemos que existiram na fachada azulejos do tipo dos da torre dos do Externato e dos da casa do Botelho.

1- “Revestindo as paredes laterais da grade do côro baixo do convento da Esperança [ verifiquei-os in loco “], aparecem alguns modelos, assim como na fachada da Matriz da Ribeira Grande, na ermida da Caloura do Sr. António Albuquerque ( Fot. 27 e 28 ),... [ P37 e P20, pelo menos] ”.[257]

        

2- Fotografias. É pelo menos visível elementos do P35. O que pensar então?

 

1- Cartografam o itinerário dos azulejos e revelam um origem comum seja de Lisboa seja do local onde estiveram primitivamente colocados ou posteriormente recolocados ou posteriormente recolocados ?

 

2-Podem deixar subentendido que vieram da Ribeira Grande ou mesmo de fora dela em épocas e de locais diferentes ?

 

3-Insinuam a sua utilização em edifícios particulares ?

         Em todo o caso trata-se de azulejos seiscentistas de padrão policromo, reconhecidamente de fabrico lisboeta.

 

CONCLUSÃO DESTE CAPÍTULO

 

É relativamente seguro afirmar-se que a Ribeira Grande possui azulejos seiscentistas encomendados e colocados naquele século, num ou em vários edifícios daquela ex-vila. É seguro afirmar-se que os teve recolocados, vindos não se sabe de onde.

         Não é totalmente improvável que os que foram recolocados na fachada da Matriz tivessem vindo de fora do concelho, porém, sendo mais provável que tenham vindo da própria ex-vila. Por um lado existem vários candidatos suspeitos de poderem ter contribuído para o azulejamento da Matriz, por outro, existem alguns vestígios arqueológicos e uma atribuição.

         Os vestígios arqueológicos encontrados nas terras do Ex-Mosteiro de Jesus ( Ribeira Grande ) atestam que ( ou podem atestar ) neste local, ou muito próximo dele, existiram azulejos seiscentistas aí colocados primitivamente, já que ninguém de fora do concelho os iria aí entulhar. Seria mais prático e mais económico, atendendo à carestia e dificuldade de transporte, fazê-lo mais perto.

         “ Pelas onze horas e meia da manhã de 21 de septembro 1848 punha pé dentro do barco Águia do Norte, e sahiamos do caes da cidade de Ponta-delgada, caminho do porto da villa da Povoação, para o nascente, onde saltámos pelas seis horas da tarde do mesmo dia.”[258]

         Isto era o tempo que levava por via marítima, mas mais à frente na mesma obra o autor refere que gastou ( salvo erro, mais de onze horas (?) de burro no percurso da Povoação à vila de Nordeste .[259]

         E, quanto aos preços, Teodoro de Matos adianta que “ sobre o custo do transporte terrestre em Portugal, muito pouco pode concluir-se para o que importava conhecer, já que as pontes são escassas e pobres e, a multivariedade de preços dificulta para já qualquer sistematização. “[260] Porém, conclui que “ A deslocação terrestre, quando possível, era cara. “[261]

         O local mais habitual de lançamento de entulhos na Ribeira Grande é, e talvez o tenha sido também no passado, o mar e a beira-mar. Aqui diz-se ( dizia-se ? ) frequentemente que se ia “ lançar lixo pr’ó calhau  “.[262] Inclusive foi para a beira-mar que foram levados os fragmentos e o reboco da fachada da Matriz.[263]

         Porém, hoje, tal como talvez outrora, verifica-se que em certos locais onde se explorou tufo e cascalho, os proprietários compram ou pedem entulhos, de modo que, numa primeira fase, se preencham as covas e, numa segunda, se recubram estes com uma camada de terra arável.[264]

         Todavia, sabendo-se que os edifícios do Mosteiro foram demolidos, não seria mais lógico que os novos proprietários do Ex-mosteiro  tivessem utilizado os entulhos resultantes das demolições para preencherem as covas e os vazios deixados pelas mesmas ?

         Quanto ao fornecedor da fachada da Matriz, apesar de muitas reticências e de nenhuma prova concludente, inclino-me a pensar que o principal, se não o único, fornecedor teria sido o Ex-mosteiro de Jesus da então vila da Ribeira Grande. Continua, porém, de acordo com as provas que dispomos, bem como da interpretação que delas fizemos, a ser o principal, mas não o único suspeito.

         Se assim for, os da fachada da Matriz, situação curiosa de utilização oitocentista de padrões seiscentistas, em parte ou na sua totalidade teriam vindo do Ex-mosteiro. Ou então, para os não convencidos, e eu sou um deles, dever-se-ia concluir que os da fachada da Matriz espelham e reflectem todas as dúvidas que temos acerca do seu local primitivo.

         Em todo o caso, terá valido a pena o esforço ? Creio bem que sim. Nem que fosse só para tentar suavizar a visão cinzenta e pessimista de Marguerite Yourcenar acerca da história e do historiador, de que este último “ dispõe de novo esta dócil matéria morta, e eu sei que Alexandre escapará sempre mesmo a Plutarco. “ [265], teria já valido a pena. Ao menos, verifiquei que, não obstante corrermos o risco de Alexandre escapar sempre ou quase a Plutarco ( e com este era inevitável que o fosse ) a matéria não é nem  tão doce nem tão morta quanto se possa supor.

         A história, mesmo quanto dá resposta, quase sempre parcial, a perguntas e a questões formuladas, estas nunca constituem um fim mas um meio para atingir outros “ fins-meios,” e assim sucessivamente.

         É desta dinâmica ( natureza ) que resulta o conhecimento histórico.

 

CAPÍTULO IV

 

Preparação, tratamento, conservação

e exposição museológica dos azulejos

seiscentistas de padrão policromo do

Museu da Ribeira Grande 

 

Visamos nos capítulos anteriores, primeiro, o conhecimento dos nossos azulejos seiscentistas,  integrando-os no contexto histórico-artístico do nosso país e da região, seguidamente, tentamos clarificar a sua “ biografia”,  neste último, discutiremos finalmente aspectos da sua conservação, tratamento, e  exposição museológica, já que este estudo se destina a orientar a musealização de um núcleo azulejístico a constituir no Museu da Ribeira Grande, bem como a sugerir o roteiro azulejístico do concelho.

         Antes, porém, convém esclarecer dois conceitos indissoluvelmente interligados entre si e ao conceito de exposição, a saber: Conservação e restauro.

         Aceito como pertinente definir conservação como a aplicação da ciência à análise e ao tratamento das obras de arte, quaisquer que sejam, e ao estudo do ambiente em que se encontram inseridas.[266]

         Restaurar, sendo uma parcela importante e primordial da conservação, “ não implica reconstituir a obra de arte devolvendo-a ao seu estado inicial mas sim impedir a deterioração dos materiais originais respeitando a integridade material e estética da obra”.[267]

         Abordaremos esta problemática almejando a elucidação de aspectos concretos do restauro, conservação e exposição do nosso núcleo permanente de azulejos seiscentistas, em dois locais distintos, antes e após a exposição, quer na sala de exposição quer no depósito.

         Primeiro encetaremos o restauro ( fixação dos esmaltes e remoção das argamassas ), entraremos na primeira fase preparatória da exposição padrão em painéis, por exemplo, entre outras tarefas ), por último, tendo em conta as condicionantes ambientais de conservação específicas ao azulejo e a todo o material utilizado, designadamente, madeira e ferro inoxidável, alcançaremos a segunda e última fase do percurso. Nesta, à exposição dos painéis, deverá presidir a criteriosa ponderação, quer de aspectos objectivos de conservação, história e exposição, quer de aspectos subjectivos de ordem estética.

         Comecemos pela conservação dos azulejos e do seu núcleo. Qualquer que seja a expressão artística, esta pressupõe sempre um suporte material e o seu envolvimento ambiental, no nosso caso, os azulejos seiscentistas a expor na capela anexa ao Museu da Ribeira Grande, definindo-se este último aspecto, em relação aos azulejos, “ como o conjunto de todas as influências exteriores à mesma[ expressão artística do azulejo ]” [268]

         A humidade, a poluição atmosférica e a luz constituem os principais factores ambientais, que, “ actuando em conjunto, podem concorrer para a sua destruição”. A solução para que possam ser estudados, observados e admirados, será a criação de condições  que possibilitam o mínimo de deterioração, o que implica conhecer para cada caso concreto : o material, as condições ambiente de exposição, as possibilidades de criação de máxima preservação”[269]

         1.O azulejo e o seu suporte de madeira e a humidade.[270]

         a)  O suporte directo dos painéis de azulejos será o acrílico, porém, assentarão numa pequena estrutura em madeira sacada da parede e presa a quatro braçadeiras em T de aço inoxidável, e, por conseguinte, há que conhecer a reacção ambiental daquele material.

         “O equilíbrio higroscópico da madeira é um equilíbrio dinâmico, uma vez que o material lenhoso está continuamente a perder ou a adquirir água, resultado da higroscopicidade das substâncias fundamentais constituintes do lenho - a celulose e a lenhinha”[271]

         O que leva a ter em conta “  a vantagem de se manter a humidade dos locais onde estão armazenadas peças cujo o suporte é a madeira, doutro modo haverá adsorsão e desadsorsão com resultados maléficos...”[272]       

         Temos ainda que considerar a espessura e a densidade da madeira bem como o seu E. M. C (equilibrium moisture content) com a H. R. (humidade relativa) e a temperatura ambiente, de modo a não alterar o seu equilíbrio dinâmico [273]. Stolow apresenta em gráfico o estudo desta correlação. [274] No nosso caso, e mesmo antes de se proceder ao estudo da humidade, julgo que uma taxa de 55% mais ou menos 5% e uma temperatura de 18º C mais ou menos 2º C, contribuirá para manter o E.M.C. Além do mais, como o suporte é mínimo, existindo espaço entre a parede e o painel,  corremos menor  risco de prejudicar os azulejos. Há, todavia, que ter cuidado, não vá a estrutura apodrecer e deixar cair o painel.

b) Os azulejos

 

         Os azulejos constituem o material a expor e a conservar, já que se trata de um núcleo azulejístico, porém os barros, sendo materiais que absorvem a humidade ambiente em menor extensão não variam apreciavelmente em dimensões. Nestes materiais a, “ absorção de humidade - evaporação “, traduz-se por “ solubilização - cristalização “ de sais em superfície  ou para grandes variações de temperatura, que não é o nosso caso, rupturas por gelificação, tudo se mostrando por uma erosão de superfície.[275]

         A superfície esmaltada dos nossos azulejos é menos higroscópica, porém o  tardoz é mais vulnerável, ainda que esteja colado ao acrílico; todavia, seja pelo local escolhido, o interior da capela, seja pela H. R. existente, mesmo sem leituras, permite-nos antecipar tarefa relativamente fácil. Em todo o caso, deve-se estabelecer um padrão constante de humidade e temperatura.

 

c) Fotografias e legendas explicativas

                                                

         O suporte de papel das legendas e das fotografias também tem que ser considerado, evitando-se os desequilíbrios físico-químicos com o meio, além da tinta utilizada nas legendas e os químicos fotográficos, que exigem cautelas mais complexas. Todavia, há que, para além da luz, controlar a humidade e a temperatura.

 

         d) Parafusos metalizados e braçadeiras de aço inoxidável

         Estes elementos de fixação dos painéis, tal como os demais metais, em maior ou menor grau, podem sofrer os efeitos do oxigénio, gases sulfurosos, sulfídrico [ou melhor sulfureto de hidrogénio]e impurezas salinas da atmosfera na presença de humidade. “ O efeito corrosivo das impurezas salinas a elevada humidade é importante.” [276] Conhecendo a nossa altíssima taxa de humidade, e sabendo que ruindo estas estruturas, caiem os painéis, devemos manter a humidade em taxas constantes e médias ( 55 a 60% / 18% a 20ºC ).

 

e) Cola e acrílico

 

         Não nos devemos preocupar quanto ao segundo, porém, quanto ao primeiro, há que ter cuidado.

         2. A exposição destes materiais à poluição atmosférica

         “Além da humidade e temperatura devemos encarar um terceiro factor - a composição atmosférica ambiente. De entre os agentes de poluição repartidos pelos dois grupos: partículas poluentes ( fuligem, fumos, poeiras ),poluentes químicos ( dióxido de enxofre ), os indicados são os mais importantes em problemas de conservação” [277]

a) Madeira  b) Metais

         O mesmo que se disse em relação à humidade.

         c) Azulejos

         “ Como nos têxteis é importante a deposição de partículas de carbono e alcatrão combinado com o ataque gradual de SO2 convertendo o carbonato de cálcio em sulfato de cálcio. Não é tão marcante o efeito nas peças de museu como nas de exterior expostas à chuva e a variação de temperatura mais marcadas conjuntamente com os poluentes” [278]

Utensilagem técnica

“ O conhecimento das condições do ambiente deve ser feito com material adequado, a H. R. e a temperatura pelo uso de termohigrógrafos. Para os poluentes do ar U. K. Air pollution Laboratory at Warren Sping tem um método semi-automático de medida de partículas e SO2, por aspiração,  do ar, primeiro através de um papel de filtro e depois através de uma solução de peróxido hidrogénio. Tanto as partículas como o SO2 são registadas diariamente precisando  o aparelho ser visitado apenas um vez por semana ”[279]

                   3.A luz e os objectos do museu

         “ Dos efeitos de luz sobre as obras de arte, - iluminação, valorização estética e degradação salientaremos este último aspecto...” [280], isolando-o, por conveniência de exposição, do contexto ambiental do qual impossível destacá-lo na prática. [281]

         “ As radiações visíveis e invisíveis sejam de origem natural ou artificial oferecem perigo a certas  categorias de obras de arte. A pedra, a cerâmica e os metais são pouco sensíveis à luz. Vidros e esmaltes ( azulejos )expostos por grandes períodos a radiações intensas podem alterar-se.” [282]

         As degradações sofridas pelos objectos dependem da qualidade e quantidade de radiação a que estão sujeitas. Assim são tanto mais graves as alterações se a radiação é tanto mais rica em azul, violeta e ultra-violeta, se a radiação ultra-violeta é do comprimento de onda mais curta, se o tempo de exposição é mais longo, se a intensidade da radiação global ( em watts) na direcção do objecto é maior, se a uniformidade de iluminação energética do objecto ( em watts por cm2) é má, e se a temperatura e humidade são maiores, e conjugam a sua acção. [283]    

         Constituem fontes de iluminação, o sol, as lâmpadas de incandescência ( lâmpadas vulgares, lâmpadas de halogénio ), e as lâmpadas de descarga ( tubos fluorescentes, balões fluorescentes e luz mista ).

         Em termos de exposição museológica, “ há a ter em conta o grau de iluminação, a composição espectral da luz e a natureza do objecto.”[284]        

         Sabe-se que, quanto ao azulejo, é um dos objectos praticamente insensível à luz, cujo máximo de valor de iluminação recomendada é sem limite mas sujeito à exposição e aquecimento.[285]                              

 

         Medição e análise da radiação

 

         “ Para a conservação das obras de arte sensíveis à luz ( não é esse o

caso dos azulejos )         é necessário conhecer-se as radiações recebidas pelos objectos. Estando o poder destruidor não só ligado à intensidade da radiação como ao seu comprimento de onda, é necessário não só conhecer a intensidade como analisar a sua composição espectral. Deste modo, deve o conservador possuir três categorias de aparelhos: Luxímetro, aparelho para detecção e medida da radiação U. V. e indicadores de temperatura” [286]

          Mais : “ Quando o conservador expõe as peças no Museu, conhecendo-as sob o ponto de vista material, situação histórica e qualificação estética, vai distribuí-las num espaço, como variável terá o ambiente - humidade relativa, temperatura, poluentes do ar e a luz, factores com os quais terá de jogar sabiamente para dar à obra e ao visitante o ambiente adequado.” [287]

         Do que ficou acima exposto, esclarecemos o modo como os azulejos e os materiais de apoio reagem a um dado ambiente ‘tipo,’ resta-nos, adequar aqueles conhecimentos ao ambiente específico em que ficarão expostos e armazenados, tal como já se disse, na capela anexa ao Museu da Ribeira Grande.

         Os potenciais agentes de degradação discutidos e analisados, influenciam muito pouco o azulejo e o seu material auxiliar, já que os vamos expor no interior de uma capela, cuja amplitude térmica e taxa de humidade ambientais, não é para o primeiro caso muito elevada, e para o segundo, apesar de elevada, entre 60 a 80%, mantém-se constante, além do que o próprio azulejo ter tido sempre um “... papel de estabilizador das temperaturas e humidade ambientais...”[288]

         Por uma questão de se proporcionar um ambiente agradável ao visitante, e até mesmo manter constante o ambiente, julgamos que se deve recomendar uma temperatura ambiente constante à volta do 18 a 20º centígrados e evitar que a humidade suba acima dos 60%. Por conseguinte é necessário adquirir material, designadamente, um termohigrógrafo que fará a leitura ambiental e um dispositivo que regulará a temperatura e a humidade.[289]

                   Quanto à iluminação artificial, já que o interior da capela tem pouca iluminação natural, dever-se-à proporcionar ao visitante um ambiente que lhe permita uma leitura fácil e agradável do material azulejístico exposto, evitando-se as fontes luminosas directas sobre os azulejos, não para evitar a degradação do material, que tal como já vimos é pouco afectado pela luz, mas para evitar excessos de reverberação que confundiriam e impossibilitariam a perfeita percepção dos azulejos.

         Não se deve, nem se pode de todo eliminar o reflexo da luz sobre a superfície esmaltada do azulejo, até porque eles foram concebidos para reflectirem a luz, seja a do sol, quando colocados no exterior, seja a das velas, candeias e  tochas, quando colocados no interior.

         Temos, pois que conjugar os imperativos estéticos com os inerentes à sua autenticidade histórica, nomeadamente aproximar a sua exposição museológica da seu primitivo ambiente expositivo.

         Sabendo que os nossos azulejos são seiscentistas e que, muito provavelmente, estiveram primitivamente colocados no interior de um edifício religioso, temos de ponderar e decidir o tipo de iluminação que mais se aproxime da primitiva, sem contudo, descurar nem o visitante actual nem a segurança do edifício. Afigura-se-me quatro hipóteses possíveis:

         1. Uma maior autenticidade seria obtida através do recurso ao tipo de iluminação utilizada no interior dos edifícios religiosos no século XVII. Obteríamos, assim, efeitos muito próximos dos primitivos, mas descuraríamos, de certo modo, o visitante e teríamos de resolver problemas de segurança; o que não sendo tecnicamente inviável seria, contudo economicamente incomportável..

         2. Fazer-se tábua rasa do primeiro ponto e optar por uma iluminação artificial, sem mesmo atender à proximidade da luminosidade primitiva seria também, de certo modo, defraudar o visitante.

         3. Escolher uma luz artificial que reflicta a intensidade das primitivas fontes de iluminação.

         4.Conjugar a iluminação primitiva com a iluminação artificial moderna.

         Julgo que a exposição museológica se deve aproximar o mais possível do contexto original, e como tal, se deve combinar sensatamente as fontes de  luz primitivas e actuais.

         A superfície esmaltada dos azulejos deverá ser periódica e cuidadosamente limpa com um pano de lã embebido em água destilada e ser recoberta por uma camada fina de resina incolor de modo a fixar o esmalte.[290]

         Os azulejos que não serão expostos, os que se repetem e ou os que estão muito danificados, destinar-se-ão ao ‘ armazém do museu,’ sendo, porém, desnecessário, e até desaconselhável, para estudo posterior, a remoção da argamassa do tardoz, bastando o seu encaixotamento em local seguro.

         Serão colocados em caixotes de madeira, juntando-se superfície esmaltada com superfície esmaltada. A humidade e a temperatura pode ser a ambiente, sendo a luz desnecessária.

         Mal recolhemos os nossos azulejos, tivemos o cuidado de pensar nas condições da sua preservação, mesmo antes da sua exposição, e tendo apurado que as condições reais ambientais não eram desfavoráveis, só nos preocupamos com a fixação da superfície esmaltada.

         Seguiu-se-lhe o estudo, no qual se inclui a preocupação de encontrar o local ideal para a sua colocação, tanto do ponto de vista histórico como do ponto de vista da autenticidade ambiental.

         Julgamos que, apesar das incertezas quanto à primitiva proveniência dos nossos azulejos, o lugar que melhor se aproxima, até porque disponível, quer no aspecto histórico, quer no museológico, é o interior da capela de São Vicente Ferreira, anexa ao Museu da Ribeira Grande, já que manterá o ambiente religioso a que, quase de certeza, eles pertenceram.

         A escolha do local é norteada, por conseguinte, pela preocupação de os devolver ao seu ambiente primitivo, mesmo que a capela seja setecentista e os azulejos seiscentistas.

         Em todo o caso, a maior parte deles veio de parte do frontispício da Igreja da Matriz da Ribeira Grande, que, tal como já se disse, foi azulejada, em parte ou na sua totalidade, no século XIX com azulejos seiscentistas.[291]

         Fomos igualmente confrontados com um dilema, ou constituíamos padrões, tal como o eng. Santos Simões aponta no seu livro, e teríamos de utilizar elementos recolhidos em locais diferentes e quiçá, de origem diversa, ou então teríamos uma multiplicidade de padrões incompletos.[292]

         Para além deste facto, sabemos que nem sempre os padrões foram colocados ou recolocados correctamente, ou melhor como indica e propõe o catálogo do eng. Santos Simões.

         Muitas vezes, seja pelo desconhecimento dos mestres que os colocaram ou por outros motivos, mesmo por opção, decompôs-se quer na altura da sua colocação quer na recolocação padrões 4x4 P35 em desdobramentos de 2x2, como se pode ver nos exemplos da capela de Nossa Senhora do Cabo, na Vila da Lagoa, e como se via, através da fotografia, na fachada da Igreja Matriz da Ribeira Grande ( Ver quadros XI e XII ) Foto. 3

         Mais por razões estético-pedagógicas do que por razões historicamente comprovadas, ainda que seja plausível que tenham sido correctamente colocados na Ribeira Grande, aliás tal como sucede, e no que concerne ao P 37, no mosteiro de Santo André de Vila Franca do Campo, optamos pela sua exposição em padrões 4x4 P35 e 6x6 P 37.

         Ainda que a exposição dos nossos azulejos utilize a capela setecentista de São Vicente Ferreira, ou seja em sala de exposição,  há que propor uma musealização que deixe expresso e realce que   « ‘a qualidade pictorial’ do azulejo é quase sempre secundária em relação à sua inserção numa globalidade ornamental e, principalmente na maneira como complementa, dinamiza, enriquece e transforma a arquitectura, integrando as suas partes num todo e desempenhando, a vários níveis, um papel que nunca foi passivo nem inocente, resultante essencialmente da escala dilatada da sua aplicação e do profundo conhecimento, que os pintores, azulejadores e ladrilhadores possuíam sobre as possibilidades expressivas e dinâmicas desses revestimentos. “[293] Daí que o tentemos sugerir no diálogo com os outros materiais da dita capela.

         Ou ainda que se tome em consideração, para atingir os mesmos efeitos museológicos que, segundo Santos Simões : “ Para revestir as vastas superfícies parietais dos templos e, menos frequentemente, de algumas casas-nobres, utilizaram-se no decorrer deste século XVII grandes ou pequenos “tapetes” cerâmicos obtidos pela multiplicação de um motivo ornamental básico a que chamamos “padrão”. “ [294]  E “ para superfícies maiores ou para obter ritmos decorativos de mais largo desenvolvimento passaram em Portugal a fabricar-se e a utilizar-se padrões de repetição mais complexos: 4x4 / 2, 4x4 / 3, 4x4 / 4, 6x6 /8 até 12x12 / 14 que é maior que se conhece . “ [295] Para além destas advertências necessário se torna aludir e sopesar mais duas.

         1. “ Em todos os conjuntos de azulejo, o ornato, padrão ou composição não é normalmente livre, mas antes sujeito a duas dimensões extremas, a de cada azulejo e a da totalidade da superfície a revestir.” [296]

         2. Que “ As escalas integradoras e a divisão em andares tanto serviram para a diversificação dos revestimentos de padronagem, nos quais os módulos de maiores dimensões se encontram colocados a maior altura, nos espaços mais dilatados, de maneira a compensarem os erros de paralaxe cometidos pela visão, que vê menor o que está distante, como determinaram a organização das composições historiadas. “[297] Trata-se de sugerir no museu, tanto quanto possível, a relação que o azulejo mantém fora do museu, no seu contexto original de colocação. Sugerir e não reproduzir.

         É bom não esquecer que os azulejos não foram criados para estarem dissecados em museus, onde só deverão entrar, quando não for possível a sua preservação no local original.

         Os nossos azulejos seiscentistas foram recolhidos urgentemente, as condições dos locais onde se encontravam eram péssimas, além do mais estavam dispersos, longe dos locais de origem, portanto órfãos do seu contexto. Atendendo às advertências acima explanadas, sugerimos dois figurinos de exposição. Quadros XXVII e XXVIII.

         Num, que desaconselhamos, predominam  critérios estritamente museológicos, no outro, que aconselhamos ter em conta, além daqueles existem critérios de autenticidade. Assim sendo, e atendo-nos ao segundo, o P37 deverá ficar colocado acima dos outros padrões  ( veja-se proposta). Porque só temos um padrão de cada, e porque desse modo a exposição museológica altera o contexto inicial, propomo-nos a incluir, por um lado, fotografias e vídeo dos locais onde existam ainda colocados, e, por outro lado, encorajar o visitante do museu a visitá-los. Deve-se, porém aproximar a montagem museológica das medidas reais da parede da capela onde se destinam, tendo em conta que se deve eliminar distâncias muito sensíveis entre o P37, o  P 12 e o P 20, por exemplo.

         Porém, e não nos supondo imunes ao erro, iremos proceder à sua colocação em estruturas que permitam facilmente a sua remoção.[298]

         Quanto ao uso de elementos de padrões recolhidos em locais diferentes e cujo origem comum desconhecemos, mas suspeitamos, julgamos, por razões estético-pedagógicas, ser lícito e desejável agrupá-los no mesmo padrão, desde que os diversos elementos constitutivos sejam clara e inequivocamente referidos e identificados em quadro anexo à exposição ( veja-se quadro XXIX ).

         O núcleo seiscentista da secção azulejística do Museu da Ribeira Grande será formado por diversos painéis colocados sobre acrílico bem como fotografias e quadros explicativos que, por um lado, elucidem o visitante do essencial sobre aquele tipo de azulejo, e, por outro lado, o transportem o mais fidedignamente possível ao seu ambiente primitivo.( Veja-se o quadro da nossa proposta ) Quadro n.º XXIII, XXIV, XXV, XXVII e XXVIII.

         A exposição museológica, em nosso entender,  não pode ser um lacunar e distante epitáfio tumular, por mais bonito que seja, mas uma proposta viva e próxima de contacto com o ambiente original da obra exposta.

         As fotografias dos locais onde foram recolhidos e dos locais onde presumimos terem pertencido, ajudará e fornecerá não só pistas biográficas preciosas como também sugerirá ambientes, e o mesmo farão as legendas.

         Julgo até que se deve recorrer a uma gravação explicativa em vídeo, com música gregoriana,  cujo teor será explicado em várias línguas,  a passar permanentemente.

         Paralelamente, incluiremos alguns expositores que exibam fragmentos - provas recolhidos, rodeando-se-lhes dos mesmos cuidados expositivos. ( quadros XXXI-XXXII ).

         Este núcleo azulejístico será exposto obedecendo à ordem cronológica das espécies azulejísticas, já que a secção será constituída por outros conjuntos do século anterior e dos séculos seguintes, seja recorrendo à fotografia, seja expondo fragmentos, seja utilizando exemplares azulejísticos mais completos, tal como os azulejos figurados setecentistas provenientes da capela-mor da Igreja da Ribeira Grande, agora no Museu da Ribeira Grande.

         Para aqueles que vieram de outros ambientes, dar-se-lhes-à um tratamento ambiental adequado à sua origem, nomeadamente, trata-se tão-só de uma sugestão, a exposição em sala distinta.[299]

         Neste, esboço, porém, só tratamos dos seiscentistas de padrão policromo.

         Pretende-se com a constituição desta secção criar um roteiro azulejístico dos azulejos do concelho, desde os mais antigos aos mais recentes.[300] A secção do Museu da Ribeira Grande deverá funcionar como o núcleo central agregador do roteiro, sendo os vários locais, onde existam outros, pequenos museus “ in situ ”.Tal filosofia é não só recomendável do ponto de vista museológico e histórico, como também turístico, já que convida o visitante, sobretudo os de fora do concelho, a circular por todo o seu espaço territorial, suscitando um melhor conhecimento do mesmo, não só do ponto de vista dos azulejos, ou pelo menos terá mais motivos e mais oportunidades para permanecer nele mais tempo, com todos os benefícios que daí possam advir para a economia do concelho.

         Dever-se-à estabelecer protocolos precisos com os diversos proprietários dos azulejos do concelho, quer no seu espaço ou fora dele, como é o caso dos do palácio de Santana e dos do Museu Carlos Machado, ambos em Ponta Delgada, a fim de se coordenar e preparar a visita a estes locais e a torná-la enriquecedora.

         Em todo o caso, e no que concerne somente aos azulejos concelhios, o Museu da Ribeira Grande recolherá e exibirá na sua secção toda a informação histórica e fotográfica relativa aos conjuntos azulejísticos do concelho e das ilhas e continente, se for caso disso.

         Dever-se-à recomendar e auxiliar tecnicamente os proprietários dos azulejos do ponto de vista do restauro, conservação e exposição.[301]

         Entendemos que esta perspectiva museológica é aquela, entre outras, que concilia e que melhor permite a conjugação eficaz do museu-edifício ao museu mais vasto que é a comunidade/território, no seu todo.

         Sendo inúmeras as técnicas de exposição, não obstante os considerandos de conservação, de carácter mais objectivo, o restauro e  a exposição, em grande parte subjectivo, acabam sempre por exigir de cada conservador a última palavra. Fi-lo entendendo e conjugando todos os factores acima expostos.

 

Restauro

        

Entremos, agora, no domínio do restauro. Antes de expormos os azulejos seiscentistas do Museu da Ribeira Grande, temos de lhes remover completamente a argamassa do tardoz, fixar-lhes as superfícies esmaltadas, colocá-los num suporte de acrílico, finalmente expo-los na sala num suporte indirecto de madeira que assenta em quatro “braçadeiras “ metálicas. [302]( Vejam-se as fases de restauro Quadro XXX )

         Os elementos em falha dos padrões não serão preenchidos ou sequer substituídos por cópias, mas tão só se lhes pintará o espaço vazio, não excluindo a hipótese de outra solução, utilizando uma cor neutra, preferivelmente num tom algo parecido com a cor predominante dos azulejos, de modo que, se por um lado não se fere o aspecto estético do conjunto, por outro, não se introduza elementos que confundam a verdade histórica.[303]

         O mesmo critério presidirá ao tratamento dos elementos danificados ou incompletos. Em relação às falhas na superfície esmaltada, nada se fará, a não ser, tal como já se disse, a sua fixação através da resina incolor.[304] Se, porventura, os “tardoz ”forem desiguais, convem ponderar a maneira como os azulejos devem ser colados ao acrílico, de modo que as superfícies esmaltadas não apresentem desníveis consideráveis. A observação directa de superfícies azulejadas, mormente, nos seus, locais primitivos, mostra-nos, frequentemente, superfícies sensivelmente desniveladas. Há, contudo, que conciliar sensatamente os imperativos históricos com os estéticos, assim sendo, não nos devemos preocupar com ligeiros desníveis.

        

         Conclusão/ advertência:

        

         Destaco o seguinte:

         1. A temperatura e a humidade devem ser mantidas, respectivamente, entre 18ºC e 20ºC, e 55% e 60%. Todavia, a realidade provou que não preciso de ser tão rigoroso.

         2.A iluminação deve ser próxima da existente no ambiente original.

         3.A sonorização deve reflectir a sonorização ambiental da época, nomeadamente a música sacra.

         4.Deve haver um vídeo explicativo assim como quadros e fotografias.

         5.Os padrões policromos, restaurados e não refeitos, devem ser colocados entre 1, 40 e 1,50m do solo, mas com os P37 em cima

         6.O núcleo seiscentista ocupará o seu lugar cronológico.

         7.A secção azulejística do Museu da Ribeira Grande da Ribeira Grande deve ser o núcleo agregador dos pequenos museus “in situ” do roteiro azulejístico do concelho.

        8.Os azulejos seiscentistas de padrão policromo de possível fabrico lisboeta, plausivelmente oriundos de um ou mais edifícios religiosos da vila, ou mesmo fora dela, expostos em 1989 e ainda visíveis no museu da Ribeira Grande, foram recolhidos na igreja da Matriz, armazém  municipal da rua do Ouvidor e casas da rua da Ponte Nova e São Vicente Ferrer.

9. A montagem e apresentação seguiu, no fundo, o sugerido por Rafael Salinas Calado.

      10- A junção de padrões seguiu a sugestão de J.M dos Santos Simões.

 

 

Ribeira Grande, Junho de 1989
Nota de actualização

 

Os primeiros azulejos seiscentistas do Museu da Ribeira Grande, cidade da ilha de São Miguel, arquipélago dos Açores, depois de um primeiro núcleo ter sido descoberto em 1987, após o seu estudo ser passado ao papel em Junho de 1989, foram expostos, na forma que os vemos em 1997, no Natal de 1990, na capela, sacristia e pequeno quarto anexo do solar de São Vicente Ferrer, sede daquela instituição.

Esta exposição, que, graças ao interesse do público, se transformaria em ‘permanente’, foi , a seguir à do presépio movimentado, a segunda do museu, seguindo-se-lhe até Agosto de 1993, mais três sobre a mesma temática.

Nesta segunda, além dos artefactos cerâmicos e demais materiais arqueológicos, num diálogo propositado de materiais, formas, cores e motivos, também fizeram parte dela fragmentos de azulejos quinhentistas, nomeadamente de ‘corda seca’ e de ‘aresta’, fragmentos de azulejo liso, provavelmente pertencentes a composições de ‘enxequetados’, fragmentos de um painel setecentista da capela-mor  da igreja Matriz de Nossa Senhora da Estrela da Ribeira Grande, azulejos oitocentistas da vila da Lagoa e conjuntos produzidos na Fábrica de Sacavém.

Todos estes já foram objecto de estudo e de apresentação nos diversos encontros sobre azulejaria que decorreram no Palácio Fronteira, cidade de Lisboa. A seu tempo, e quando houver patrocinador, por considerarmos um dever decorrente do conteúdo funcional do conservador de museus, tentaremos a sua divulgação. Não obstante tentar incluí-los no presente volume, devido aos custos de edição inerentes à publicação de numerosas imagens a cores, este objectivo não se  pôde concretizar.

Um primeiro estudo dos seiscentistas, tema central deste volume, como já foi referido, viu a luz do dia em vésperas da “Semana do Barroco,” que se realizou na Ribeira Grande.[305] Aproveitando a deslocação a esta cidade de José Meco, autor de vários trabalhos especializados sobre a temática e co - organizador, mais Rafael Salinas Calado, dos ‘Encontros de Azulejaria no Palácio Fronteira,’ iniciei um processo profícuo de troca de ideias, muitos alvitres e sugestões, que culminou nas palavras de incentivo transcritas no início  deste volume.

O método a que recorro, como se tornará óbvio pela leitura do texto, utiliza tanto documentos orais como escritos e utiliza igualmente o diálogo entre mim e José Meco, motivado, essencialmente, pelos comentários que ele me foi fazendo, nos múltiplos contactos que temos tido, ao que respiguei, segundo ele, muitas vezes fora de contexto, outras porque já mudara de opinião, da sua obra publicada, ou de obras de outros autores.[306]

Neste diálogo também intervieram o Prof. Victor Serrão, Rafael Salinas Calado e a Drª Irisalva Moita.

Sempre que, sobretudo José Meco, duvidava e corrigia uma sua afirmação retirada de uma sua obra, como vimos fora de contexto, ou avançava novos dados ao trabalho de Santos Simões e a outros mencionados, optei por o incluir sob a forma de testemunho/comentário. Fi-lo porque os estudos sobre azulejaria têm, sem sombra de dúvidas, nos últimos tempos avançado graças à acção dos sobreditos ‘Encontros do Fronteira’, sobretudo devido à possibilidade de diálogo interdisciplinar  entre especialistas de vários países, sobretudo ainda graças à enorme massa de conhecimentos obtida através das múltiplas viagens de estudo levadas a cabo, entre outros, por José Meco, no acompanhamento e montagem de exposições de azulejo, um pouco por todo o planeta, designadamente América do Norte e Sul, Ásia e Europa.

Haverá que reter, no que concerne a datação, à luz dos conhecimentos actuais, « não há regras precisas para esta época porque há gostos que permanecem porque existiu falta de capacidade de renovação.»[307]

No que concerne à conservação, restauro e exposição segui mais de perto o que se está a fazer no Museu Nacional do Azulejo.[308]

O trabalho está dividido em quatro capítulos.       

 

Como se encontraram os azulejos seiscentistas em questão?

 

O percurso deveras romanesco e fortuito, com o qual dei largas à prática das teorias de Agatha Christie, Sherlock Holmes e Enid Blyton, tão caros à minha adolescência, demonstrou sobejamente os benefícios da colaboração entre a comunidade e o seu museu. Um ou outro elemento da chamada ’elite instruída’ sentiu como sendo dignos de figurar naquela instituição, a encetar então os primeiros passos, aqueles azulejos tidos pela restante comunidade pelo modo talvez depreciativo de ‘tijolo’.

Devo dizer que, além dos passos sumariados na Nota cronológica explicativa de como e onde encontramos os azulejos estudados desde Outubro de 1987 até 1997, em diversas ocasiões, variados locais e múltiplas circunstâncias, encontramos restos, fragmentos deste conjunto ou de conjuntos presumivelmente pertencentes a outros locais. Desde então, e aproveitando a abertura de valas de saneamento básico, encontrei elementos idênticos no adro, à volta do adro e escadaria da igreja da Matriz da Ribeira Grande, ‘Cascata’, Jardim Municipal, igreja  de Nossa Senhora de Guadalupe e adro das Freiras. Junto à loja do ‘Flores’, no canto oposto da igreja do Espírito Santo, encontrei em Março de 1991 um fragmento de um elemento que terá, muito possivelmente, pertencido a uma sanefa de frontal de altar cerâmico de aves e ramagens com contornos a manganês,[309] tal como se vê na ermida de Nossa Senhora dos Anjos, em Santa Maria,[310] entre muitos outros exemplos possíveis. Com aquele contorno já tinha encontrado fragmentos no quintal do senhor Angelo Ledo, na rua de Sousa e Silva n.º 109.

Encontrei igualmente fragmentos junto ao alçado norte da igreja de Nossa Senhora de Guadalupe, vulgo igreja dos Frades,[311] na entrada de um pasto na Ribeira Seca, talvez entulho da família Gamboa levado para um dos seus prédios, conforme se poderá ler no anexo já aludido. Encontrei ainda um ou outro azulejo na edícula da fachada da igreja da Matriz e muitos mais por todo o largo das Freiras, concentrando-se a maioria porém, no vértice poente da antiga cerca conventual.[312] Ou então no interior , numa área que deveria corresponder ao claustro e igreja conventuais demolidos no século passado.  Outros, encontrados nas casas circunvizinhas, poderão igualmente ter feito parte do antigo mosteiro de Jesus. Na rua de João d’Horta igualmente.[313]

 

Tratamento

 

Que fazer com os azulejos? Lançado na museologia, convém referir, apesar de ter acedido à função pública por meio de concurso público, quase de pára-quedas, a exercer funções há pouco mais de um ano, a braços já com os moinhos, com o Arcano Místico e o presépio movimentado, aconselhei-me, de imediato, com quem sabia mais do que eu. Os Drs. Manuel Barbosa e  Jorge Gamboa de Vasconcelos identificaram-me a proveniência dos mesmos. O segundo, que tinha sido cicerone, na década de sessenta, de Santos Simões, cuja visita culminaria com a publicação, pela Fundação Calouste Gulbenkian, de ‘ A Azulejaria Portuguesa nos Açores e da Madeira’, falou-me da técnica de exposição daquele estudioso. 

Falou-me igualmente da sua data provável, no que foi corroborado por outros especialistas a quem recorri, nomeadamente o Dr. Nestor de Sousa.

Para expo-los, quanto à sua apresentação e montagem, exceptuando o cimento, ia seguir o que me pareceu ser a prática do Museu Carlos Machado, ou seja quadros sobre fundo de cimento, mais uma camada de gesso, sobre o qual assentavam os azulejos. Ao que consta, também utilizada por Santos Simões. Desisti. Ainda pensei na técnica proposta por Santos Simões, numa segunda fase, conforme comunicação apresentada na reunião de Conservadores dos Museus, Palácios e Monumentos Nacionais em 1962 na cidade de Lisboa.[314]

Todavia, e lamentavelmente, quanto à formação de padrões, não segui de imediato as sugestões de Santos Simões, tendo, entre outros erros, felizmente reversíveis, agrupado em pequenos padrões elementos de padrões de maiores dimensões. Exceptuando a identificação da cercadura C 59 , versão policroma, retirada da ‘ Azulejaria em Portugal no século XVII,’segui a tipologia constante na ‘Azulejaria Portuguesa nos Açores e na Madeira,’do mesmo autor.

Felizmente ainda, para bem  da minha reputação e dos azulejos, pouco depois, apenas umas semanas depois do início daquele trabalho, uma brigada do Instituto José de Figueiredo deslocou-se à Ribeira Grande a fim de fotografar e colher amostras de elementos do Arcano Místico, de Madre Margarida Isabel do Apocalipse. Aconselharam-me de outro modo. A partir de então e até à vinda de José Meco, no verão de 1989, corrigi a formação dos padrões, parei com a experiência de montagem em ‘tabopan’ ( utilizando uma camada de cimento e sobre ela gesso, onde assentavam os azulejos) e avancei como uma nova proposta de formação e colocação de painéis.

Ainda naquele verão, salvo erro, já tinha tido contactos telefónicos, fui ao Museu Nacional do Azulejo, conversei com Rafael Salinas Calado, seu Director até há pouco e autor de uma nova técnica de montagem de azulejos.[315] Pude comparar a minha proposta com o que aí se fazia. Entretanto já tinha lido algo sobre a mesma temática, da autoria do ceramista Mário Oliveira Soares. Como entretanto, por sugestão das técnicas do I.J. Figueiredo, se bem me lembro, alterara conforme se vê na  nossa proposta de montagem de Junho de 1989, para o acrílico e para a cola acrílica, após visita ao M.N.A, alterei  só o suporte em madeira, os T metálicos, por serem desnecessários, e a utilização da resina para fixar as superfícies esmaltadas, por ser desaconselhado.

Nesta primeira exposição de azulejos, segunda do museu, utilizei a folha de Plexigas ( acrílica), colei os fragmentos com cola ‘Super 3’ e fixei os azulejos ao acrílico com cola acrílica ‘Bostick’. Fiz pequenos painéis que encaixaram uns nos outros. A solução de fixá-los à parede acabou por ser simples e fácil: travessas em madeira em ângulo recto, como observara nos museus do Azulejo e Cidade de Lisboa, que, aparafusadas às costas da folha de suporte dos azulejos, encaixavam em ‘camarão’ recto metálico aparafusado à parede. É de fácil manuseio, seja na montagem como na desmontagem, além de não ser, ao contrário do ‘aerolam’, utilizado mais tarde na Europália, ou em algumas figuras de convite no M. N. Azulejo, ou estrutura em favos de mel, excessivamente caro. É também reversível.

Não escolhi o ‘platex’, tal como também o fazem no Museu da Cidade, por ser opaco e não me permitir seguir a evolução das colas, já que não tinha a certeza de ter feito bem a dessalinização das chacotas.

Todos estes passos e decisões, hesitações inclusive, estão documentados quer em fotografia, desenho ou diapositivo, quer por escrito , primeiro num livro que intitulei de ‘ Livro de exposições’, depois, já  nas fichas de inventário concluídas em 1996. Todo este processo foi sendo explicado em aulas e visitas guiadas que fomos fazendo. Por falta de formação adequada e por falta de técnicos capazes, improvisámos instrumentos para a remoção mecânica das argamassas do tardoz, não fixamos os vidrados, substituímos os ‘doentes’ por elementos ‘sãos’ e não dessalinizámos capazmente. Em todo o caso, passados sete anos da abertura da exposição, após vário manuseio, ainda não detectámos, excepção feita a um ou outro elemento, graves problemas.

Valeu, ao que penso, o relativo bom estado de conservação dos seus vidrados, apesar de encontrarmos algumas chacotas bastante fragilizadas. Aconselhamos, contudo, uma vigilância continuada e, numa próxima oportunidade, proceder à sua dessalinização.[316]

 

Porque se mantém basicamente o que se escreveu em 1989?

 

Porque se trata, na minha óptica, de uma obra datada, assim sendo marcará um percurso e uma relação entre uma ‘peça’ e uma atitude perante a mesma. Marcará uma prática já afastada das propostas de Santos Simões, mais próxima de Mário Oliveira Soares e muito próxima das que agora se praticam pela Europa fora, graças a Rafael Salinas Calado. Isto quanto à sua técnica de montagem e apresentação.

O restauro e conservação do retábulo, urna e arco do altar da capela de São Vicente Ferrer, a criação do guarda-vento e tudo o mais veio ao encontro da tentativa de encetar, como acima já se referiu, o diálogo entre materiais, cores, formas, o interior e exterior do museu. Este ano, por exemplo, retomou-se, o ‘hábito’ de fazer a festa do patrono da capela, no seu dia próprio, em colaboração, tal como outrora, há 20 anos, mais ou menos, com a vizinhança.

Em termos expositivos, falta, entre outros elementos aqui sugeridos, completar as sugestões de iluminação, de explicação, de itinerários externos, de oficina de barros e cerâmica, em suma, de continuar a estreitar a ligação do museu com a nova fábrica de azulejos criada depois desta exposição na Ribeira Grande. O museu pode e deve acompanhar o desenvolvimento da comunidade também desta forma.

Porque ainda não o fiz? Por falta de definição do museu, seu âmbito de actuação, relação com as tutelas, criação da rede museal polinucleada, sua infra-estruturação, diferenciação entre animação cultural e infraestruturação museal, ou seja a velha diferença entre o Museu e a Casa da Cultura, recursos e formação de pessoal qualificado, em parte, também por manifesta incapacidade em acudir a muitas frentes com tão pouco pessoal, ou porque se optou por investir na abertura de exposições que tornassem o museu útil, por conseguinte, que justificasse a sua existência. Agora é chegada a hora da sua remodelação, assim o queiram os que nele mandam.

 

Agradecimentos

 

A todos os que acima mencionei, ao Carlos Arruda, que digitalizou o grosso do texto, aos que comigo, ao longo de muitos meses removeram as argamassas dos azulejos, aos carpinteiros, que fizeram os suportes, ajudaram a colar os painéis, em suma a todos quantos tornaram possível esta exposição.

À Câmara Municipal da Ribeira Grande e ao Instituto Cultural de Ponta Delgada.      

 

Caldeiras, 4 - 10- 1997


 

QUADRO I

 

TIPO DE EDIFÍCIO ONDE FORAM COLOCADOS - CONVENTOS E MOSTEIROS

 

I Convento de S. Francisco - Ponta Delgada - S. Miguel Açores

II Mosteiro de Stª Clara ( Clarissas ) - Funchal Madeira

I Convento de S. Francisco - Vila do Porto - Stª Maria Açores

II Mosteiro de Nª Sª da Esperança - Ponta Delgada - S. Miguel Açores

II Mosteiro de Stº André ( Clarissas ) - Vila Franca do Campo - S. Miguel Açores

III Colégio dos Jesuítas - Ponta Delgada - S. Miguel Açores

III Colégio dos Jesuítas - Funchal - Madeira

I Convento da Graça - Angra - Terceira - Açores

I Convento de S. Francisco - Angra do Heroísmo - Terceira Açores

IV Recoleta da Caloura - Lagoa - S. Miguel Açores

II Mosteiro de Stº André - Ponta Delgada - S. Miguel Açores

 

OBS: De 11, oito são de Franciscanos e Clarissas. Dos restantes, dois são de Jesuítas e o ultimo de Gracianos.

         A ligação dos Franciscanos às Clarissas reforça a nossa tese da identificação dos existentes na Ribeira Grande como pertencentes ao convento de S. Francisco e mosteiro de Jesus. Todavia a ermida de Nª Sª da Caridade (?) também é uma candidata.

 

 

QUADRO II

 

TIPO DE EDIFÍCIOS ONDE FORAM COLOCADOS - IGREJAS E CAPELAS

 

II Sé Catedral - Angra do Heroísmo - Terceira Açores

I Igreja da Mãe de Deus - Ponta Delgada - S. Miguel Açores

III Capela de Nª Sª da Rosa - Ponta Delgada - S. Miguel Açores

III Capela de Nª Sª do Cabo - Lagoa - S. Miguel Açores

I Igreja de S.Pedro - Ponta Delgada - S. Miguel Açores

 

OBS: Uso exclusivo em mosteiros, conventos (10) e cinco em 3 igrejas,   uma das quais a Sé Catedral. Além destas só em duas capelas particulares. Portanto, tudo espaços religiosos.

 

QUADRO III

 

LOCAL ESPECÍFICO DA SUA COLOCAÇÃO INICIAL

 

Convento de Stª Clara

Funchal

Madeira

Capela da Ressurreição, parte do antigo claustro.

Interior da edícula, ( P20 )

Convento de S. Francisco

Vila do Porto - Stª Maria

Açores

Templo que seria de culto público.

Interior da Igreja ( B2 )

Sé Catedral Angra do Heroísmo

Terceira

Açores

Baptistério ( P10 )

Igreja da Mãe de Deus

Ponta Delgada - S. Miguel

Açores

Interior da Igreja ( P10 )

Capela de Nª Sª da Rosa

Ponta Delgada - S. Miguel

Açores

Arco da Capela mor. Por trás da mesa do altar mor ( P 12 )

Igreja Paroquial de São José

 Ponta Delgada - S. Miguel

Açores

Sacristia ( P 12 )

Mosteiro de Stº André

Vila Franca do Campo - S. Miguel

Açores

Nave Sul e Norte da Igreja do Mosteiro ( P10 ) e ( P 37 )

Capela de Nª Sª do Cabo

Lagoa - S. Miguel

Açores

Fachada. Forrando as paredes do interior ( P35 )

 

Colégio dos Jesuítas

Funchal

Madeira

Capela mor e do transepto. ( P37 )

Convento da Graça

Angra do Heroísmo - Terceira

Açores

Refeitório ( 37 )

Convento de S. Francisco

Angra do Heroísmo - Terceira

Açores

Refeitório ( 37 )

Recoleta da Caloura

Lagoa - São Miguel

Açores

Subcoro da igreja ( 37 )

Igreja de São Pedro

Ponta Delgada - São Miguel

Açores

Sacristia ( P 37 )

Mosteiro de Stº André

Vila Franca do Campo - S. Miguel

Açores

Nave do lado Norte ( P 37 )

Mosteiro de Stº André

Ponta Delgada

S. Miguel - Açores

                         

                           ?                                

 

Quadro IV

 

SÍTIOS ONDE FORAM RECOLOCADOS E / OU TRANSFERIDOS

 

Edifícios onde se encontram

 Onde estavam

Para onde foram

( local do edifício)

Convento de S. Francisco

Ponta Delgada

S. Miguel

Açores

 Não Sabemos

Sacristia do mesmo Convento

Marquês Jácome Correia- Palácio de Santana

Ponta Delgada

S. Miguel / Açores

Antiga igreja da Mãe de Deus ( interior )

Escadaria do Palácio de Santana Ponta Delgada

Mosteiro da Esperança

Ponta Delgada

S. Miguel / Açores

Não sabemos os locais do mosteiro.

Antiga cozinha

Convento dos Jesuítas

Ponta Delgada

S. Miguel / Açores

 Desconhecemos

Armário da cozinha

 

 

Museu de Angra do Heroísmo

Terceira

Açores

Refeitório do Convento da Graça

 Painel no Museu de Angra

Convento de S. Francisco Angra / Terceira

Açores

Antigo Refeitório

Espaldar dos bancos e dispersos em troços da parede

 

Casa do Senhor José Leão, Rua Ernesto do Canto

Ponta Delgada / S. Miguel

Açores

Sacristia da Igreja de S. Pedro

Ponta Delgada

No interior da casa

 

Quadro V

 

QUADRO - TIPO P 37     6X6 / 8

 

 

Ilha

 

Local

 

 

Data atribuída pelo eng. Santos Simões

Madeira

Igreja do colégio, de S. João Evangelista ( Jesuíta )

Estes azulejos provam que a Capela - Mor já estava pronta antes de 1650 data que me parece ajustar-se a este tipo de parâmetro, meados do séc. XVII

Angra do Heroísmo

Terceira

Açores

Convento da Graça ( actualmente no Museu de Angra )

Trata-se de padrões do Século XVII, de repetição vulgar

Angra do Heroísmo

Terceira

Açores

Antigo Convento de S. Francisco

São azulejos de padrão policromo dos tipos vulgares usados no 3º quartel do século XVII

Lagoa

S. Miguel

Açores

Recolhimento da Caloura

Igreja de Nª Sª das Dores

São do tempo do Conde

Manuel da Câmara que mandou fazer o coro em 1664

Ponta Delgada

S. Miguel

Açores

Igreja de S. Pedro

( Seg .tradição oral )

Não adianta datas

Vila Franca do Campo

S. Miguel / Açores

Mosteiro de Stº André

( Clarissas )

Cerca de 1650 - 1660

 

QUADRO VI

 

QUADRO - TIPO  P 35  4X4/5  MARVILA - ( diz Santos Simões )

 

Ilha

Local

Data atribuída pelo eng. Santos Simões

Lagoa

S. Miguel

Açores

Capela de Nª Sª do Cabo

Podemos aceitar a data de 1675 para toda a azulejaria

Ponta Delgada

S. Miguel

Açores

Mosteiro de Nª Senhora da Esperança

Não adianta data

Ponta Delgada

S. Miguel

Açores

Colégio dos Jesuítas

Igreja de todos os Santos

Não adianta data

 

QUADRO VII

 

QUADRO - TIPO P 20 CAMÉLIA OU DÁLIA ( PADRÃO )

 

Ilha

Local

Data atribuída pelo eng. Santos Simões

Ponta Delgada

S. Miguel

Açores

Igreja Paroquial de S. José, ex-convento de S. Francisco

Não adianta datas

Obs: existe lá o P 18 e não P 20 como verificamos - 21.04.89

 

Funchal

Madeira

Antigo Convento de Santa Clara

Este tipo de azulejaria aparece nos meados do séc. XVII atingindo maior desenvolvimento cerca de 1660

 

QUADRO VIII

 

QUADRO - TIPO  P12 - MAÇAROCA

 

Ilha

Local

Data atribuída pelo eng. Santos Simões

São Miguel

Madeira

S. Miguel / Vila Franca do Campo

 

S. Maria

Mosteiro de Stº André P. Delgada Capela de S. Filipe

Igreja do Mosteiro de Stº André

S. Francisco

???

Cerca de 1666

Cerca de 1650 - 1660

Obs: Existe P 12 no Mosteiro de Stº André - lado norte e poente, e não P 10 como o Engº S. Simões afirma. Observação in loco - 21.04.89

 

QUADRO IX

 

QUADRO - TIPO B 2

 

Ilha

Local

Data atribuída pelo eng. Santos Simões

Vila do Porto

Santa Maria

Açores

Igreja de Nª Senhora da Victória

Ex - Convento Franciscano

Bem marcadamente dos meados do século XVII

 

 

QUADRO X

 

QUADRO - TIPO C3 ACANTOS E PÉROLAS COM DIAMANTES A OCRE

 

 

Ilha

Local

Data atribuída pelo eng. Santos Simões

Caldeiras

Ribeira Grande

S. Miguel

Açores

Ermida de Nª Senhora da Saúde

 

O Engº Santos Simões não sabia da existência destes azulejos, não os menciona

 

Ponta Delgada

S. Miguel

Açores

Mosteiro da Esperança

 

Não atribui data

Ponta Delgada

S. Miguel

Açores

Capela de Nª Senhora da Rosa

1650 - 1660 (?)

Não atribui data

 

QUADRO XI

 

TROCA ORIGINAL DA COLOCAÇÃO DOS PADRÕES  4X4/5  (P35) E  6X6/8  (P37) POR  2X2

 

Ilha

Local

Lugar específico

Padrão criado

Explicação

Lagoa

S. Miguel

Açores

Capela de Nª Senhora do Cabo

Na nave da Capela-Mor

Substituiu-se os 4x4/5 por 2x2

Provavelmente por ignorância da sua ordenação

 

QUADRO XII

 

 

RECOLOCAÇÃO INCORRECTA DOS PADRÕES  4X4 ( P35) E  6X6/8 (P37)  POR  2X2

 

ILHA

LOCAL

Colocação

Padrão criado

Explicação

Ponta Delgada

S. Miguel Açores

Mosteiro da Esperança

Coro baixo

4x4/5  e 6x6/8 por 2x2

Por ignorância ??

Ponta Delgada

S. Miguel

Açores

Colégio dos Jesuítas

Cozinha

 4x4/5  por 2x2

Mera colocação utilitária

Angra do Heroísmo

Terceira

Açores

Antigo Convento de S. Francisco

Do refeitório passaram a revestir bancos

6x6/8 por 2x2

 

       ???

 

 

 

NOTA EXPLICATIVA

 

Os quadros com as letras correspondem aos elementos dentro dos padrões de acordo com a “Azulejaria  Portuguesa nos Açores e na Madeira” bem como as notas do mesmo antes endereçadas ao Museu Carlos Machado.

         Os quadros numerados correspondem aos quadros como os iremos montar.

 

CONCLUSÃO

CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICAS

 

A técnica da inclusão das cores e a pintura do azul sobre o branco e do amarelo sobre o azul.

         Os traços desenhando as formas geométricas ou fitomórficas são feitas a grosso na cor dos mesmos elementos. Não há o mínimo vestígio de roxo de manganés, excepto no azulejo que tenho na minha colecção e que não sei a origem.

         As cores utilizadas são os tons de amarelo ( torrado inclusive e laranja ) azuis, claro e escuro, e branco.

         Quanto às dimensões do lado os do Padrão P37 variam entre 140mm a 150mm. A média é a seguinte:

 

 

LEGENDAS

 

(1) - Nota Introdutória onde se explica o interesse dos azulejos seiscentistas bem como a biografia dos que se encontram expostos.

(2) - Padrão policromo 37. Referir que se segue o indicado pelo Engº Santos Simões.

(3) - Dentes de Serra. Cercadura usada nos padrões maiores, por conseguinte, julgamos mais adequado a sua colocação abaixo de outro padrão.

(4) - Nota explicativa do padrão, incluindo a menção de que alguns dos seus elementos foram recolhidos em locais diferentes.

(5) e (6) - Fotografia dos locais onde recolhemos e dos locais onde pensamos terem estado colocados originalmente.

(7) - Padrão 35. Não dispomos dos elementos centrais[Em data posterior ao registo da ‘Secção de Arqueologia e Azulejaria’, feito em 12/11 de 1991, encontrei, por acaso, em duas caixas contendo o espólio remanescente da recolha arqueológica efectuada à torre da igreja Matriz da Ribeira Grande, dois fragmentos do mesmo elemento C central, daquele padrão cobertos de cal. Após serem limpos e colados, confirmaram a reconstituição que fizéramos em 1989 ]. Quer para o P35 quer para o P37 desconhecemos se na origem estiveram colocados como indica o Engº S. Simões. Porém, por razões didácticas e mesmo estéticas resolvemos agrupá-los em padrões 4x4 e 6x6.

(8) - B2 - Barra utilizada vulgarmente para emoldurar quer os painéis individualmente quer os tapetes por isso colocámo-la por baixo de um padrão.

(9) - Nota explicativa do P35 e do B2, incluindo a indicação do uso de elementos provenientes de locais diferentes.

(10)  (11) e (12) - Fotografias dos locais onde foram revelados e daqueles locais em que supomos terem estado colocados.

(13) - O padrão 12, chamado de “maçaroca”.

(14) - Friso ou cercadura não identificado.

(15) - Padrão 20 ou “camélia”.

(16) - Explicação do P12 e P20, também da cercadura ou friso.

(17) - Fotografias.

 

EXPLICAÇÃO DA 2ª PROPOSTA

 

1 - O padrão P37  6x6 deverá ser colocado acima da linha média da superfície parietal onde será exposto, dado que, por razões de erro de paralaxe, este padrão ter sido sempre aí colocado. Para além do mais, só assim se poderá conciliar os imperativos museológicos, quer estéticos quer históricos. Esta situação é comprovada, entre outros locais, na igreja de Stº André, mosteiro do mesmo nome, em Vila Franca do Campo.

2 - Quanto ao padrão P35 4x4; apesar de por vezes ter sido colocado em partes altas, sobretudo em pequenas capelas, também foi colocado em partes baixas, designadamente, em igrejas. Deste modo, tanto se poderia colocá-lo na parte superior como na inferior. Não obstante, na proposta,  colocá-lo-emos na parte inferior, todavia, mais tarde, podemos trocá-lo, colocando-o na parte superior, desde que seja esteticamente melhor.

3 - Os padrões P20 e P12 foram geralmente colocados nas igrejas, na parte inferior, porém revestem capelas de alto a baixo. Desconhecendo-se o local primitivo da sua colocação, o mesmo se poderá dizer do P35 e do P37, porém, desconfiamos que, dada as características do 6x6, eles tivessem estado colocados em grandes superfícies parietais. Em qualquer caso, e ressalvando esta dúvida, propomos a sua colocação na parte inferior.

4 - Quanto às barras B2 e não identificada, como era hábito usá-las acompanho os padrões, quaisquer que eles fossem, P37 ou P12, portanto, 6x6 ou mesmo 2x2, optamos, aleatoriamente, por escolher o B2 para o P37 e o não identificado para sublinhar os P12 e P20.

5 - Quanto aos Dentes de Serra, também aleatoriamente, optamos pela sua colocação junto ao P35. Todavia convém referir que este tipo, ou seja, os Dentes de Serra, eram também utilizados tal como as barras.

 

CONCLUSÃO:

 

Esta segunda proposta é aquela que melhor, na nossa óptica, concilia os aspectos museológicos sejam os estéticos sejam os históricos, já que, ainda que fragmentariamente, é aquela que melhor propõe o esboço da reconstituição original dos painéis.

         As distâncias reais entre o B2 e o P37, por um lado, e o P35, por outro, por exemplo, os primeiros na parte superior,  os segundos na inferior, não devem, todavia ser muito grandes, daí o bom senso que se exige na  sua exposição.

 

Cálculo hipotético da quantidade de azulejos que comportaria a fachada da igreja Matriz da  Ribeira Grande

 

1 Azulejo                                                                       ( 0.14 x 0.14 ) m2

 

X______________________________ 12 m2

 

                      Y _____________________________  3 m2

                      

                      Z _____________________________  5,50 m2

 

X = _____12______ = 612.2449

                                          0.14 x 0.14     

                                                 

                                 Y = ______3_______ =153.06

                                          0.14 x 0.14 

                               

 

                                  Z = ______5,5_____ =280,6

                                          0.14 x 0.14

 

X----------> 612.24 x 2 =1224.48

Y----------> 153.06 x 2 =306.12 

Z---------->  280.6  

 

                                                                                                               TOTAL = c.1811.2

 Este cálculo deve ser interpretado com muita cautela. Em 1993 encontrei junto ao adro da igreja, durante trabalhos de electrificação,  um fragmento de azulejo branco de 140 mm x 140mm . Segundo testemunhas oculares, entre os quais mestre Almeida que esteve na sua remoção, ‘havia alguns[não se lembrava se muitos ou poucos] brancos e outros todos azuis e brancos.’ O que vim a confirmar ao encontrar, além dos da edícula, fragmentos daquele tipo. A D. Maria Mota também os referiu, no que foi corroborada pelo sr. Angelo Ledo. Este último muito ligado aos movimentos da igreja e membro da Juventude Católica do Prior Evaristo Carreiro Gouveia, referiu-me que: ‘ quando alguns azulejos caíam o senhor prior encomendava-os na fabrica da Lagoa onde trabalhava o sobrinho.’ O  fragmento de azulejo branco que encontrei parece, à primeira vista, ser do barro utilizado pela Lagoa, apesar de o vidrado ser mais branco e de no século XIX e XX os barros  utilizados em várias fábricas por todo o país, do Minho ao Algarve, estendendo-se aos Açores, serem idênticos. Todavia registe-se que :

1- poderia haver inicialmente só azulejos seiscentistas policromos.

2- poderia haver logo de início também não policromos.

3- poderia acontecer só o mencionado em 1, ou igualmente no 2, mas com a queda de alguns, alguns seriam substituídos por azulejos da época em que caíram. O mesmo Angelo Ledo aduziu que ‘ aquilo para o fim estava muito misturado, foi bom terem-nos tirado. Aquilo estava ruim de se ver.’ Portanto o cálculo que fizemos em 1989, já criticado por Meco, é em 1997 um cálculo pouco fiável. Pouco adiantará ao debate. Contudo mantenho-o para documentar o processo de busca.

 

         Respigando os fragmentos, grandes e pequenos, bem como os azulejos inteiros danificados que temos em quadro e que provêm de certeza, há excepção dos 7 danificados do ex-Externato, pudemos traçar um quadro elucidativo da sua provável taxa de destruição.

         Com isso pretendemos esclarecer que não bastaria à ermida de Nª Srª das Caridades (?) ter espaço parietal para fornecer os cerca de 1811 azulejos recolocados na fachada da Matriz, seria necessário retirá-los naquela quantidade. Cairá por terra este argumento se, porventura, já se utilizavam os brancos e os da capela-mor estivessem disponíveis. Há que ter em conta a destruição acidental durante a sua remoção.

         Abordaremos um caso limite (?), nomeadamente os que tendo sido recolocados na dita igreja foram daí retirados em 1956. Atente-se que a intenção não era a de preservá-los para, mais uma vez, serem recolocados. Mesmo assim vejamos:

        

Azulejos danificados

7 + 4  (1)

Fragmentos pequenos

66

Fragmentos pequenos

54

 

         (1) Quatro vieram do ex - Externato e não temos a certeza absoluta que vieram da fachada da Matriz.

         Os cinquenta e quatro fragmentos pequenos não correspondem necessariamente a outros tantos azulejos, porém, suponhamos que existe esta correspondência e adicionemo-lhes aos demais, visto que estes parecem equivaler, cada um, a um azulejo.

         Deste modo obtemos cento e trinta e um azulejos. Se antes de serem arrancados da fachada da Matriz, pelo menos, ao que podemos apurar por uma observação muito incompleta ( e arriscada ) feita à lupa no confronto com uma fotografia de 1927, existiram 448 azulejos P35 agrupados em 2 x 2 ( dos elementos que formam um círculo tal como se encontra na ermida de Nª Srª do Cabo, na Lagoa ),os 131 do mesmo tipo, evidentemente, equivalem a cerca de 29%, o que revela uma perda da ordem dos 70%. É uma questão em aberto.

 

 

Esboço do itinerário plausível de alguns azulejos seiscentistas estudados

 

 

Torre da igreja

a) Provenientes da própria igreja Matriz  e anteriores à recolocação. Pelo entulho escavado é impossível saber-se. Estão misturados com os figurados do século XVIII. Os que sobraram e que vieram da igreja?

b) Da própria igreja e contemporâneos da recolocação. Os que sobraram dos que vieram de fora.

c) Da fachada da igreja e contemporâneos da remoção. Segundo testemunhos os azulejos removidos que não foram levados para o calhau ou por particulares foram empilhados na torre.

Fachada da Matriz

Directamente da fachada da igreja

a)Dr. Jorge Gamboa  de Vasconcelos, rua de Nossa Senhora da Conceição

b)Dr. Luís Mota

Depois da sua remoção em 1956.

 

Atribuídos à época da remoção e de lá levados ou que se presume de lá terem sido levados

a) ex-Externato Ribeiragrandense, rua Sousa e Silva nº

b) Casa do sr. Angelo Ledo, rua de Sousa e Silva nº 109

Os que de certeza não vieram da fachada da Matriz aquando da sua remoção em 1956

 

a)Ermida das Caldeiras

b)Casa junto à ermida das Caldeiras

Foram encontrados fragmentos e azulejos nesta casa há mais de sessenta anos, segundo o sr. Humberto Viveiros, quando se procedeu à sua ampliação. Sobras da fachada da Matriz? Viriam do ex-convento dos Frades?  De outro lugar?

c)Quintal da casa da rua do Botelho nº 41

d)Cozinha de casa na rua de São Vicente Ferreira nº 7 .

Em ambos os casos já lá estavam antes de 1931. Sobras da fachada da Matriz? Directamente dos seus lugares primitivos? Foram encomendados para aquelas casas no século XVII? 

Frades

 

a) Dependência do Museu Carlos Machado

 

 

Esboço do itinerário plausível de alguns azulejos seiscentistas estudados

Proveniência

 

No século XVII da cidade de Lisboa

Mosteiro de Jesus da Ex-vila da Ribeira Grande

Convento de Nossa Senhora da Guadalupe- R.Grande

Ermida de Nossa Senhora da Caridade - R.Grande

Igreja da Matriz

-R.Grande

Outro (s) local(ais)

 

Século XIX - Desapareceram dos locais acima referidos e surgem nos seguintes( discutirei as hipóteses de cada local):

 

Parte do frontispício da igreja Matriz  da R.Grande - já referidos em gravuras de 1869

-

finais de 1940?

ExExternato Ribeiragrandense

-

1984?

Armazém da Câmara

-

1987

Museu da R.G.

Ermida de Nossa Senhora da Saúde - já em 1850?

Caldeiras

-

Abril de 1988 -

Alguns azulejos para o museu da R.Grande

Casa junto à ermida de Nossa Senhora da Saúde- 1850?

Caldeiras

-

Abril de 1988 -

Alguns fragmentos para o museu da R.Grande

Colecção do Marquês de Jácome Correia. Ofereceu-os em 1917 ao Museu Carlos Machado- Atribuídos ao vestíbulo do convento de Nossa Senhora da Guadalupe

Casa do sr. Albano Cabral de Melo- rua do Botelho nº 41

-

Azulejos em 1989 para o museu da R. Grande

Casa do Mestre Augusto Rocha, rua São Vicente Ferreira, nº 7

Casa do sr. Herculano Couto, rua da Ponte Nova nº 3

-

Azulejos em 1990 para o museu da R.Grande

Casa do sr.Angelo Ledo

-

1988

Museu da R.G.

 

Torre da igreja

-

1988

Museu

da R.G.

 

 

Directamente das Terras do ex-mosteiro de Jesus

 

1987

Vala de condução de água potável

1989

Alargamento da rua de Trás-os - mosteiros

1988/Set/Out

Escavações Associação Arqueológica do Arquipélago dos Açores

Museu da R.G.

Museu da R.G.

Museu da supradita Associação - Arrifes

 

Nota cronológica explicativa de como e onde encontramos os azulejos em questão

 

1- Algures em Outubro de 1987 encontramos, com a coloboração e pistas de mestres, antigos professores e o Encarregado Geral da Câmara, no Armazém Municipal da rua do Ouvidor dois cestos de vimes cheios de azulejos seiscentistas provenientes do ex-Externato Ribeiragrandense, na Rua de Sousa e Silva n.º 7, para ali levados após as obras de adaptação daquele Ex-Externato de ensino secundário a Serviços Judiciais em 1984 (?)

         Graças à informação dos senhores doutores Jorge Gamboa de Vasconcelos e Manuel Barbosa, após os reconhecer inequivocamente, já que o Padrão 2x2 que deveria ter sido P35, incluía um elemento repetido que reconheceu, disse-me que os encontrara soltos na cozinha na Externato no Verão de 48 ou 49 e que provavelmente teria sido o Comandante Armando Soares, antigo proprietário do edifício que os levara para lá, de onde não sabia, mas provavelmente da Igreja da Matriz .

        

         2-Um mês ou dois após, encontrei numa vala de saneamento básico no Adro das Freiras alguns fragmentos do mesmo tipo. Nem os vizinhos mais antigos ou os mestres da Câmara me explicaram a sua origem.

         Contactei o Drº Sousa de Oliveira, arqueólogo, que mais tarde iria proceder a escavações no interior das terras do Ex-Mosteiro, que se deslocou à Ribeira Grande.

 

         3- Em 15 de Agosto de 1988, verifiquei que no interior da ermida das Caldeiras, Nossa Senhora da Saúde, existiam azulejos daquele tipo.

 

         4- Em Setembro daquele ano falei, pelo telefone, com o Srº Humberto Viveiros, proprietário da casa junto à ermida e a zelar pela manutenção da mesma e referiu-me que na dita casa ele tinha dois azulejos iguais aos da capela. Explicou-me que os descobrira o seu avô no entulho quando há  mais de sessenta anos reconstruira a casa.

         A ermida fora rebocada caiada e retelhada recentemente e que, por incúria alguns dos mestres danificaram alguns e os atiraram para o entulho.

         Garantiu-me que fora a primeira vez que tinha rebocado de novo a capela.

 

         5- Em Setembro e Outubro de 1988, a Associação Arqueológica de São Miguel procedeu a escavações arqueológicas nas terras do Ex-Mosteiro de Jesus e encontraram-se novos fragmentos.

        

         6-Em Novembro de 1988, segundo as pistas de Srº Ildeberto Garcia e o Mestre Almeida que trabalhou na remoção dos azulejos da Matriz, procedi a uma pequena intervenção na torre da Igreja da Matriz e encontrei muitos azulejos. A zona entulhada situa-se no primeiro andar da torre e num fundão que parece ter sido uma escadaria em pedra que iria desembocar onde presentemente se encontra o primeiro altar a contar do guarda-vento, da nave lateral direita. Neste entulho também encontrei azulejos setecentistas.

        

         7- Em Dezembro daquele ano foi a vez de encontrar um azulejo C3 e um fragmento ambos delineados a traço roxo de manganés no quintal do Srº Ângelo Ledo, já falecido na rua de Sousa e Silva n.º 109.

 

         8- Em fins de Fevereiro e princípios de Março encontrei muitos outros na correcção do nó viário da rua de Trás-os-Mosteiros com o Adro das Freiras. Interior das terras do ex-mosteiro. Como não pude proceder a uma intervenção arqueológica recolhi o que pude e mandei transferir a terra para o quintal do Museu da Ribeira Grande onde tenho “remexido e peneirado”. Já encontrei muitos fragmentos ali de séculos anteriores.

         A terra depois de “revistada” foi utilizada para compor os canteiros botânicos da nossa secção botânica situada entre o edifício do museu da Ribeira Grande e o Barracão a poente[demolido em 1993].

 

         9- Ainda em Março de 1989 encontrei na Rua do Botelho, na casa do Srº Cabral de Melo, alguns azulejos deste tipo que ofereceu ao Museu da Ribeira Grande.

 

         10- Em finais de Abril encontrei na arrecadação do Museu Carlos Machado dois painéis atribuídos ao Convento dos Frades que foram oferecidos pelo Marquês de Jácome Correia.

        

         11 e 12. Vi na casa de familiares, em Ponta Delgada, do actual presidente da Câmara um painel de azulejos vindos da Matriz e ouvi o Drº Jorge Gamboa dizer que também tinha alguns na sua casa da Ribeira Grande.

 

         13-Em Abril de 1989 o Srº Mestre Augusto Rocha, morador na Rua de São Vicente Ferrer nº7, disse-me que tivera iguais na cozinha da mãe, junto à sua e que os guardara em uma arrecadação.

         Ainda não os vi.

 

Estas observações que se seguem foram efectuadas depois de ter terminado a redacção deste livro.

 

       14 - D. Maria Mota, solar da Mafoma, São Pedro - 7 de Julho de 1989. Num fontenário ao fundo da quinta. Em 8 /07/1989 entrevistei a D. Maria Mota que me disse os ter comprado ao ‘sacristão’ da Matriz e que os havia também na porta lateral que dá para o jardim onde se encontra[va] a estátua do dr. Gaspar Frutuoso. 

1- 2 azulejos C3 , iguais aos da capela da Rosa, Fajã de Baixo, concelho de Ponta Delgada, e da ermida de Nossa Senhora da Saúde, nas Caldeiras.

2- 2 fragmentos médios de dentes de serra .

No interior do solar.

3- 1 azulejo P 12, maçaroca.

4- 2 azulejos do século XVIII pertencentes a painéis figurados.

 

     15 - Edícula da fachada da igreja da Matriz da Ribeira Grande- 2 fragmentos de difícil identificação. 8-03-1990.

 

     16- Casa nº 62 da Rua de João d’ Horta: 3 B2; 5 elementos do P 37. 8/03/1990 

      Foi o mestre Adelino Ferreira, morador na mesma rua, que vendo os que retirávamos na edícula, me disse que «havia iguais àqueles na casa que foi do mestre Vesceslau ‘mecânico’. »

 

17-   João Gamboa. 6-04-1990. Referente à casa da Quinta de Santo António, à entrada poente da Ribeirinha. Tinham, segundo ele, sido retirados da cozinha, junto a um filtro de água em pedra, ao que parece, pela descrição que me fez, formando jogos de embrechados com fragmentos heterogéneos de azulejos dos séculos XVII e XVIII. Estavam lá antes de 1950. Século XVII, ao que sugere, depois de ver os do museu, com algumas reticências, seriam:

1-vários fragmentos de B 2

2-elementos A do P 35 ( 2 ou 3 incompletos)

3-talvez algum elemento do P 37

    4- talvez algum elemento P 20 Camélia   

 

 

   18 - 27- 04-1990. De novo com a D.Maria Mota.

1- 12 elementos do B 2

2- 4 elementos do padrão Camélia, P 20

3- 7 elementos circulares do P 35

4- 3 elementos de cercadura que não identifiquei igual a uma do museu da Ribeira Grande [tenho algumas reservas].

5- 18 elementos de fora do A do P 35

Estavam, segundo a própria, na entrada sul da igreja Matriz de Nossa Senhora da Estrela. Estavam a desmanchar as paredes. Comprou-os ao sineiro[trata a mesma pessoa por sacristão e sineiro], ao que morreu mais tarde por causa da intoxicação do vinho abafado do sr. Américo.

 

   19- 27-07-1991 - Adro das Freiras

Falei com  mestre Emanuel Calouro que viu fragmentos de azulejos dos que temos no museu há seis anos, mais ou menos, na casa entre a Quinta do sr. Pontes  [antigo pomar conventual] e a casa do sr. José Gaipo [onde desde 1986 encontrei, entre outros, uma fonte, restos de fustes de colunas usadas como pedras de cafuão e muita cerâmica] , no quintal do sr. José Alberto. Aquela casa deve ser posterior ao convento.       

 

20- 1991- Vestígios de azulejos seiscentistas que serviram de rodapé a um corredor da antiga Casa dos Confessores do mosteiro do Nome de Jesus, hoje Escola dr.º Gaspar Frutuoso.Foram retirados quando se procedeu a obras de beneficiação da escola.Como esta casa esteve ligada ao Marquês Jácome Correia e este à Misericórdia, os ditos fragmentos ( vi poucos) de azulejo seiscentista, tanto poderiam provir do antigo mosteiro, ali defronte, como do convento dos frades, sede da Misericórdia, de onde o mencionado Marquês recebera de oferta azulejos sete e seiscentistas.

  

     21- Nos anos de 1990-1993- Ao redor da igreja do Espírito Santo,  onde encontrei o elemento de frontal de altar 8 Março de 1991). Igualmente  na Cascata e Jardim Municipal. À entrada para uma terra, de herdeiros de José Pavão de Medeiros, hoje pasto, outrora talvez quinta, na Canada da rua Direita de Cima, Ribeira Seca.

 

   22- 1993 - Março/Abril - Adro da Matriz fragmentos lisos brancos e azuis e brancos além de fragmentos policromos.

 

   23-Setembro  de 1995. No meio do jardim do adro das freiras. Alguns fragmentos seiscentistas.

1- Outubro de 1995- Idem

2- Julho de 1996 - Idem. Incluindo no interior do que agora é o Ciclo Preparatório, antes Casa dos Padres Confessores do dito Convento.

24 -Exterior norte da igreja de Nossa Senhora da Guadalupe.    

 

 

INDICE TEMÁTICO

 

Nota Introdutória

 

Capitulo I - p. 1 à 21

 

Capitulo II - Tentativa de identificação e datação dos

         azulejos por nós recolhidos cotejando e analizando o estudo do       Engº Santos Simões sobre a azulejaria nos Açores e na Madeira

         Capitulo III - Os azulejos que recolhemos vindos provavelmente da cidade        de Lisboa no século XVII a que local da Ribeira        Grande se destinaram ?

                   a) Um suspeito: A Ermida de Nossa Senhora da Caridade (s) ou da (s) Candeia(s)

         b) Outro canditato: Mosteiro de Jesus da Ex-Vila da Ribeira Grande        

         c) Outro suspeito: O Convento de Nossa Senhora de Guadalupe,     vulgo Convento dos Frades da Ribeira Grande

         d) Outro suspeito: A igreja de Nossa Senhora da Estrela vulgo da    Matriz da Ribeira Grande

         e) Outro suspeito: Igreja do Espírito Santo, ou igreja do Senhor dos          Passos ou ainda da Misericórdia Velha

         pag. 70 - 73

         f) Outros canditatos:Casas particulares 74 - 79

         g)Conclusão deste capítulo - 79 - 82

Capitulo IV - Preparação, tratamento, conservação e exposição        museológica dos azulejos seiscentistas de padrão policromo do Museu da Ribeira Grande 97 - 118.

 

ÍNDICE DE GRAVURAS E FOTOGRAFIAS

 

Nº 1- Gravuras XXX (1866) de Cândido Abranches - Matriz da Ribeira   Grande ( azulejos )

Nº 2 - Postal s/ data - Matriz Ribeira Grande ( azulejos )

Nº 3 - Fotografia de 1927 - Matriz Ribeira Grande ( azulejos )

Nº 4 - Fotografia de 1952 - Matriz Ribeira Grande ( azulejos)

Nº 5 - Fotografia de 1956 (?) - Matriz Ribeira Grande ( remoção dos        azulejos )

Nº 6 - Fotografia de 1959 - Matriz Ribeira Grande ( já sem azulejos )

Nº 7 - Interior das terras do ex - mosteiro de Jesus - Ribeira Grande

Nº 8 - Interior do ex - mosteiro junto aos locais escavados - Ribeira          Grande

Nº 9 - Exterior do ex- mosteiro. Local incluído na rua pública - Ribeira    Grande

Nº10 - Interior do Claustro do ex - convento de Nossa Senhora de Guadalupe - Ribeira Grande.

Nº 11 -Igreja do Espírito Santo - Ribeira Grande

Nº 12 - Ermida e casa do Senhor Humberto Viveiros. Caldeiras da ribeira          Grande

Nº 13 - Externato Ribeiragrandense

Nº 14 - Museu da Ribeira Grande da Ribeira Grande ( Solar de S. Vicente Ferreira )

Nº 15 - Fachada da Igreja  de S. Pedro, Ribeira Seca da Ribeira Grande ( atribuída ao ex - mosteiro de Jesus )

 

ÍNDICE DE MAPAS

 

Mapa I - Locais de São Miguel onde encontramos azulejos iguais aos        estudados pelo Museu da Ribeira Grande

 

MapaII - Mapa onde se indicam os locais da Ribeira Grande onde   encontramos os azulejos que recolhemos.

        

Mapa III - Indica a localização das Caldeiras da Ribeira Grande                 onde se situam a ermida e a casa do Srº Humberto Viveiros.

 

Mapa IV - Planta indicando os locais onde foram recolhidos os fragmentos        de padrão nas ex - terras do mosteiro de  Jesus.

 

 

ÍNDICE DE QUADROS

 

Quadro I - Tipo de edifícios onde foram colocados - conventos e    mosteiros.

Quadro II - Tipo de edifícios onde foram colocados - igrejas e capelas

Quadro III - Local específico da sua colocação inicial.

Quadro IV - Sítios onde foram recolocados e / ou transferidos.

Quadro V - Tipo P37 (6x6)

Quadro VI -Tipo P35

Quadro VII-Tipo P20

Quadro VIII Tipo P12

Quadro IX - Tipo B2

Quadro X - Tipo C3

Quadro XI - Troca original da colocação dos Padrões 4x4 e 6x6  por 2x2

Quadro XII - Recolocação incorrecta dos padrões 4x4 por 2x2

Quadro XIII -Quadro do tipo de azulejos que estudamos.

Quadro XIV - Inventário dos azulejos recolhidos.

Quadro XV - Idem

Quadro XVI a- Idem

Quadro XVI b- Idem

Quadro XVII - Idem

Quadro XVIII - Museu da Ribeira Grande.  Azulejos existentes       (estudo )

Quadro XIX - Ermida de Nossa Senhora do Cabo ( estudo )

Quadro XX - Igreja de Stº André Vila Franca do Campo ( estudo )

Quadro XXI - Idem (estudo)

Quadro XXII -Museu Carlos Machado ( estudo)

Quadro XXIII - Padrão 37

Quadro XXIV - Elementos em 2x2 do P37 ( E, B, A, F, D, C )

Quadro XXV - Elementos decompostos do 4x4  P35  (A e B não tem o C[encontrei dois fragmentos do mesmo azulejo, depois de Novembro de 1991] )

Quadro XXVI - P35 tal como temos e tal como deveria ser completo

Quadro XXVII - 1ª Proposta de exposição.

Quadro XXVIII - 2ª Proposta de exposição.

Quadro XXIX - Identificação de cada um dos elementos dos Padrões e     acessórios quanto ao local da sua recolha.

Quadro XXX - Esboço das fases de tratamento / Exposição dos azulejos   seiscentistas da Secção de azulejos do Museu da Ribeira Grande.

Quadro XXXI - Fragmentos da vala do Ex - Mosteiro de Jesus.

Quadro XXXII - Fragmentos da parte interior da cerca do ex - mosteiro de Jesus.

Que é a técnica da majólica? Uma base estanífera, o vidrado, veio permitir às demais cores utilizadas na pintura do azulejo que não se misturassem durante a cozedura. Foi uma evolução marcante.

 

«O esmalte estanífero branco da majólica não só é uma superfície admiravelmente apta para receber a decoração pintada e fixá-la durante a cozedura, devido à sua incorporação no esmalte durante a fusão de todos os componentes, como se destaca também pela sua vitrificação, brilho e impermeabilidade após a cozedura.»[317]

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



[1] Calado, Rafael Salinas, Cinco séculos do azulejo em Portugal , in “ Diário de Noticias” ,  Funchal,  26 de Março de 1989 ,  p  8 .

[2] Testemunho de José Meco, verão de 1989

[3]  Idem

[4] Idem

[5] Calado, Rafael Salinas, Cinco séculos do azulejo em Portugal , in “ Diário de Noticias” ,  Funchal,  26 de Março de 1989 , p  8 .

[6] Meco, José, Exposição: Azulejos de Lisboa , Câmara Municipal de Lisboa, Lisboa, 1984, p.19

[7]  Idem,

[8]  Idem

[9]  Idem

[10]  Idem

[11]  Idem

[12]  Idem

[13]  Idem, 

[14]  Idem, 

[15]  Idem, 

[16]   Idem

[17] Simões, J. M. dos Santos, Azulejaria Portuguesa  nos Açores e na Madeira , Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1963,  p. 11

[18]  Idem,

[19]  Meco, José, Exposição: Azulejos de Lisboa , Câmara Municipal de Lisboa, Lisboa, 1984,  p. 40

[20] Testemunho de José Meco, verão de 1989

[21]  Idem

[22]  Meco,  José , Exposição: Azulejos de Lisboa , Câmara Municipal de Lisboa, Fev./Mar. 1984,  p. 42

[23] Testemunho de José Meco, verão de 1989

[24]Meco,  José , Exposição: Azulejos de Lisboa , Câmara Municipal de Lisboa, Fev./Mar. 1984,  p. 41

[25] Meco,  José , Exposição: Azulejos de Lisboa , Câmara Municipal de Lisboa, Lisboa,  1984, p. 39

[26] Testemunho de José Meco, verão de 1989. Comentário à  p. 40 do catálogo da Exposição de Lisboa.

[27]  Testemunho de José Meco, verão de 1989

[28] Testemunho de José Meco, verão de 1989. Comentário à página 41. Em carta de José Meco de Oeiras datada de 17 de Outubro de 1997 escreve. « ‘( usado no 1º terço do século XVII)’, existindo, porém,  alguns revestimentos deste padrão no início da segunda metade do século.»

[29] Meco,  José , Exposição: Azulejos de Lisboa , Câmara Municipal de Lisboa, Lisboa,  1984,   p. 41

[30]  Idem

[31] Testemunho de José Meco, verão de 1989. Comentário à  p. 41 do catálogo da Exposição de Lisboa

[32] Testemunho de José Meco, verão de 1989. Comentário à  p. 41 do catálogo da Exposição de Lisboa

[33] Idem

[34] Idem

[35] Idem

[36] Idem

[37] Idem

[38] Meco,  José , Exposição: Azulejos de Lisboa , Câmara Municipal de Lisboa, Lisboa,  1984,  p. 40

[39] Idem,

[40] Idem

[41] Idem

[42] Idem,

[43] Idem,

[44] Idem

[45] Idem

[46] Idem

[47] Testemunho de José Meco, verão de 1989

[48] Simões, J. M. dos Santos, Azulejaria  Portuguesa  nos Açores e na Madeira , Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1963, p.  13

[49] Vieira, Alberto, A questão cerealífera nos Açores: séculos XV-XVII , [tenho as provas oferecidas pelo autor em 1985]

[50] Simões,   J. M. dos Santos, Azulejaria  Portuguesa  nos Açores e na Madeira , Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1963, p.13

[51]  Idem

[52]  Idem

[53] Testemunho de José Meco, verão de 1989 sobre o livro de Santos Simões ‘Azulejaria Portuguesa nos Açores e na Madeira’.

[54]  Simões, p.12

[55]   Simões,  p. 12

[56] Simões,  p. 12

[57]  Idem,

[58] Simões, J.M. dos Santos, Azulejaria Portuguesa do século XVII

[59] Testemunho de José Meco, verão de 1989. Comentário sobrep.25 da Exposição : Azulejos de Lisboa.

[60] Idem

[61] Idem

[62] Idem

[63] Idem

[64] Idem

[65] Idem

[66] Idem

[67] Idem

[68] Idem

[69] Idem

[70] Testemunho de José Meco, verão de 1989

[71] Simões, J. M. dos Santos, Azulejaria  Portuguesa  nos Açores e na Madeira , Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1963, p.13

[72]  Idem

[73]  Idem

[74]  Idem

[75] Testemunho de José Meco, verão de 1989

 [76] Idem

[77] Idem

[78] Vide quadros XIV-XXVI; XXIX

[79] Percorremos a seguinte documentação:

1. Arquivo da Igreja Matriz da Ribeira Grande

A. Confraria do Santíssimo Sacramento

- Livros de Receita e Despesa (séculos XVII, XVIII,  XIX, XX)

- Doações ( séculos XVII-XVIII-XIX-XX)

B. Igreja Matriz

- Notas para o Tombo

- Outras notas

- Receita e despesa (não tem o século XVII!)

- Legados Pios

2. Arquivo da Ouvidoria  (na Igreja da Nossa Senhora da Conceição)

   - Pesquisamos toda a documentação desde o século XVII,  porém, o seu espólio documental só começa em finais daquele século.

3. Arquivo Municipal da Ribeira Grande

   - Actas da Vereação

   - Livros de Receita e despesa

4. Arquivo Municipal de Ponta Delgada

   - Alfândega (século XVII)

- Almoxarifado (século XVII)

   - Mosteiro de Jesus (não tem documentação pertinente ao assunto no século XVII)

  - Convento de N. Sr ª da Guadalupe -  (nada)

   -  Tabelionato ( nada )

   - Orfanológico ( nada )

5.  Arquivo da Santa Casa da Misericórdia

   - Actas ( nada )

   - Receita e despesa ( nada )

   - Doações ( nada )

[80] Em 1997, depois de alguns contactos com laboratórios, já não tenho a mesma opinião.

[81] Simões, J. M. dos Santos, Azulejaria  Portuguesa  nos Açores e na Madeira , Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1963

[82] Idem,  p. 203 à 218; ‘Azulejaria Portuguesa do século XVII’

[83] Machado, João Saavedra,  Azulejos do Hospital Termal das Caldas da Rainha  - séculos XVI - XVIII,  Instituto Português do Património Cultural, 1987,  p.  32.

[84] Simões, J. M. dos Santos, Azulejaria  Portuguesa  nos Açores e na Madeira , Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1963,  p. 114

[85] Meco,  José,  Exposição Azulejos de Lisboa, Câmara Municipal de Lisboa, Lisboa, 1984,  p. 42

[86]  Simões,  p. 171.

[87] Ataíde,  Luís Bernardo Leite de,  Etnografia, Arte e Vida Antiga dos Açores  , Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, Coimbra,  2 v. , 1974, pp 87-114

[88]  Simões,  p. 142.

[89] Idem,  Catálogo.

[90] Idem,  p. 110.

[91] Vide quadros XIV- XVII. Aliás para toda esta questão.

[92] Vide quadros XVIII-XXII

[93]  Simões,  p. 132. Quadro XXI

[94] Idem,  p.  83- 84. Quadro XIX

[95] Idem,  p. 114

[96] Idem,  p.  167

[97] Idem, Catálogo

[98]  Testemunho de José Meco, verão de 1989,  Meco, ibid,  p.  42

[99]  Idem

[100] Veja-se nota anexa sobre os locais em que os recolhemos - Nota cronológica e explicativa de como e onde encontramos os azulejos estudados,  fotos : nº1 - 13

[101] Vejam-se as fotografias anexas, de 1 a 5

[102] Simões, J. M. dos Santos, Azulejaria nos Açores e na Madeira, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1963, p. 128. Nota da autoria do Dr. Jorge Gamboa de Vasconcelos

[103] Idem,  p. 129. Foto 13

[104] Idem,  p. 128.

[105] Vide  foto  n.º 5

[106] Auto de Vistoria e Medição de Trabalhos, 23 de Agosto de 1956, Arquitecto Chefe da Repartição Técnica, João Filipe Vaz Martins e o empreiteiro Lourenço Simão & Reis L. …

[107] Veja-se nota “ Cronológica, explicativa de como e onde encontramos os azulejos estudados. Uma coisa é certa: podem ter vindo da igreja Matriz  mas, quase de certeza,  não em 1956. Também não se sabe ao certo se foram retirados do Externato em 1984.

[108] Yourcenar, Marguerite, Memórias de Adriano,  Ulisseia, 6 ª ed. ,  p. 24.

[109] Vide quadros V- X. Vide o livro já citado do eng.º Santos Simões

[110] Vide quadros I-III

[111] Monte Alverne, Frei Agostinho, Crónicas da Provincia de S. João Evangelista das Ilhas dos Açores, Instituto Cultural de Ponta Delgada,  POnta Delgada, 1961, v.2,  p. 297.

[112] Simões,  p. 128 ( Nota do Drº Jorge Gamboa de Vasconcelos )

[113]  Idem,  p. 297

[114] Cordeiro,  António, História Insulana.... , S.R.E.C, Angra do Heroísmo, 1981,  p. 142.

[115]  Cordeiro,  p. 142;   Monte Alverne,  p. 297.

[116]  Notas para o Tombo da Igreja Matriz da Ribeira Grande, Collecção de quesitos dirigidos pelo governo aos Parachos em 1858 [ 15 / 08 / 1858] responde o Prior Manoel Cabral de Mello, Arquivo Paroquial da Matriz,  fl. 137

[117] Idem.

[118]  Simões,  p. 128 ( nota do Drº Jorge de Vasconcelos Gamboa ).

[119]  Cordeiro,  p. 297; Monte Alverne,  p. 142.

[120] Conforme notas genealógicas do Dr. Hugo Moreira.

[121]  Simões,  p. 128 ( nota do Dr.º Jorge Gamboa de Vasconcelos).

[122] No altar de Nossa Senhora da Piedade.

[123]  Simões,  p.  84.

[124]  Gil, Maria Olimpia da Rocha,  O arquipélago dos Açores no século XVII : Aspectos sócio-económicos ( 1575-1675, Castelo Branco, 1979,  p. 143

[125] Genealogia do Dr.º Hugo Moreira.  D. Julia de Neiva  filha de  Francisco Taveira de Neiva e de Isabel Caldeira de Mendonça,  baptizou-se a 10 de Outubro de 1598 e faleceu aos 24 de Janeiro de 1672. ( Ribeira Grande Matriz )

[126] Gil, ob. cit.... , P 143

[127] Frutuoso, Gaspar,  Saudades da Terra , Livro IV, v.2, Ponta Delgada, 1981, p. 61.

[128] Rua de Nossa Senhora da Salvação Ribeira Grande. Quadro XXXV

[129] Jaime Ferreira Cabido. Vi o bilhete de identidade mostrado pelo seu filho.

[130] Caetano da Silva Moniz. Confirmei no arquivo Paroquial da Igreja Matriz

[131] Abranches, J. Cândidos,  Album Michaelense , Ponta Delgada, Typographia de Manoel Corrêa Botelho, 1869,  dedicatória.

[132] Idem, Introdução.

[133] Vide  foto  da gravura XXX  Fotocópia I

[134] Data e narração da reconstrução da Matriz encontra-se nas Notas para o Livro do Tombo existente no seu arquivo.

[135] Data do  falecimento dos informantes,  respectivamente  1950 e 1971 (?)

[136] Bouvier, Jean-Claude, Tradition Orale et identité Culturel. Problémes et Méthodes, Centre National de la Recherche Scientifique, 1980,  p. 54-55.

[137] “ Açoriano Oriental”, Ponta Delgada, nº 899, 4 de Abril de 1852.

[138] Notas para o Tombo da Igreja Matriz da Ribeira Grande, Collecção de quesitos dirigidos pelo governo aos Parachos em 1858 [ 15 / 08 / 1858] responde o Prior Manoel Cabral de Mello, Arquivo Paroquial da Matriz,  fl. 137

[139] BPAPD, Tribunal da Relação dos Açores, Testamentos,  Testamento de D. Inês Eufrázia Botelho, nº 3 085[  20 000 réis]

[140] APMRG,  Livro  para as notas do Tombo, Prior Francisco José Pacheco,  3/ 05 / 1852, 31  v.

[141] Dados genealógicos do Dr. Hugo Moreira.

[142] Segundo o testemunho veiculado pelo Dr. Jorge dos senhores Caetano Moniz e Jaime Ferreira Cabido.

[143] Vide contas em anexo Cálculo da quantidade de azulejos que poderiam, de acordo com a área azulejada visível em fotografias, gravura de Abranches e testemunhos presenciais, e o tamanho de cada azulejo, ter estado na fachada da Igreja da Matriz da Ribeira Grande.

[144] Exibe na fachada,  no lintel da porta principal,  a data de 1651 .  A que aludirá?

[145] Ver contas da ermida em anexo, XXXV, XXXVI, XXXVII

[146] Vide quadros XXIV e XXV

[147][Em data posterior ao registo da ‘Secção de Arqueologia e Azulejaria’, feito em 12/11 de 1991, encontrei,  por acaso, em duas caixas contendo o espólio remanescente da recolha arqueológica efectuada à torre da igreja Matriz da Ribeira Grande, dois fragmentos do mesmo elemento central C daquele padrão cobertos de cal. Após serem limpos e colados, confirmou-se a  proposta de reconstituição que avançáramos em 1989 ].

[148] AMRG, Livro de Acórdãos 1853-56, 31 de Maio de 1856, fl. 181; Aí esteve, efectivamente a Praça, depois de sair defronte da Câmara Municipal e antes de ir para onde hoje se encontra, dando lugar à Cascata, ou Largo Gaspar Frutuoso. Se a compra se efectuou,  repito.

[149] Frutuoso, Gaspar,  Saudades da Terra, Livro 4, v..3, Ponta Delgada, 1987, p. 47.

[150] Idem,  p.  48.

[151] A última despesa do refeitório é deste período.

[152] Collecção de Decretos e Regulamentos Publicados Durante o Governo da Regencia do Reino Estabelecida na Ilha Terceira desde 15 de Junho de 1829 até 28 de Fevereiro de 1832 , Lisboa, Imprensa Nacional, 1836.

[153] Idem

[154] B. P. A. D. P. D. ,  R. E. ,  Inventario Orfanológico por falecimento de Dona Mariana Amália Narciza, inventariante seu marido José Maria da Câmara Vasconcelos, nº 1367 [ 1834],  v. da 17 à 18.

[155] Idem .

[156] Notas para o Tombo da Igreja Matriz da Ribeira Grande, Collecção de quesitos dirigidos pelo governo aos Parachos em 1858 [ 15 / 08 / 1858] responde o Prior Manoel Cabral de Mello, Arquivo Paroquial da Matriz,  fl. 141. Foto 15.

[157] Veja-se quadro sobre os Quadros XIII, XVI, XXXII e Mapa IV fragmentos encontrados no Ex-mosteiro. O quadro não regista os não identificados. Ou ainda na nota cronológica.

[158] Fagan, Brian M. ,  In the begining. An introduction to Archaelogy,  fourth edit, Boston, 1981,  p. 179

[159] Nas escavações arqueológicas de Set / Out de 1988 que observei descobriram-se alicerces no lado norte e nascente. Mapa IV. Fotografias VII e VIII.

[160] Vide  planta da zona,. mapa IV,  foto IX e  nota cronológica explicativa de como e onde encontramos os azulejos estudados.

[161] Vide quadro que indica os azulejos estudados que descobrimos. Desde então, 1989, data em que fizemos o essencial deste trabalho, vimos descobrindo persistente e consistentemente, quer nos mesmos locais, quer na casa do Sr. Gaipo, Sr. Moniz, Sr. Pinheiro, Escola Preparatória, largo fronteiriço e interior das terras do ex-mosteiro, exemplares deste período. Além de outros de períodos anteriores e posteriores. 

[162] Reservatório de água. Destruído, bem como toda a cerca poente, em Agosto e Setembro de 1997. Aliás tal como o Portão do Carro conventual.

[163][163] Veja-se planta. Mapa IV, Fotografias VII e VII

[164] Veja-se planta, mapa IV, foto IX.

[165] Idem, mapa IV.

[166] Frédéric , Louis, Manual Prático de Arqueologia, Livraria Almedina, Coimbra, 1980, p.  245.

[167] Vide quadro dos mosteiros I, II e conventos de Franciscanos.

[168] Notas para o Livro do Tombo da Matriz. Collecção de quesitos dirigidos pelo Governo aos Parachos em 1858. ( Prior Manoel Cabral de Mello ), fl. 141.

[169] B. P.A. A. II , Auto de Inventário,  Cartório da Mitra de Angra, mç. 567, doc. 25 (cota provisória )

[170] Idem.

[171] APMRG, Rol Quaresmal de 1834.

[172] APMRG,Rol Quaresmal de 1847.

[173] AMRG

[174] Todavia, o Prior Francisco José  Pacheco nada diz a este aspecto. 

[175] Notas para o Livro do Tombo da Matriz. Collecção de quesitos dirigidos pelo Governo aos Parachos em 1858. ( Prior Manoel Cabral de Mello ), fl. 141.

[176] Vide quadros XIV e XV.

[177] Monte Alverne, Fr. Agostinho de, Crónicas da Provincia de S. João Evangelista das ilhas dos Açores, Instituto Cultural de Ponta Delgada, 1961, v. II,  p. 302.

[178] Idem,  p. 303.

[179]Drº Luís Bernado Leite d’Atayde. As secções de arte e etnografia do museu de Ponta Delgada, ( Dr. Carlos Machado ). 1944,  p. 51.

[180] Idem,  p. 51.

[181] Simões,Op. Cit. , p. 103

[182] Simões, Op. cit. ,  p. 102. Vide anotação nº 22 (rodapé)

[183] Simões, J. M. dos Santos, Delineamento da maneira de expor os azulejos do Museu “ Carlos Machado” de Ponta Delgada, ( Cópia das notas que fez  para o Museu “Carlos Machado”),  p.  7.

[184] Veja-se Quadro XVI.

[185] Vi-os, estudei-os e fotografei-os.

[186] Simões, J.M. dos Santos, Azulejaria Portuguesa  nos Açores e na Madeira,  p. 96.

[187] Idem

[188] Por ter extraviado nota que compulsei, ao que creio do livro de actas da Santa Casa da Misericórdia, onde, ao que julgo lembrar-me, se dizia que o Marquês trocara azulejos do vestíbulo por material que oferecera àquela instituição, não o uso como dado. Todavia, deixo-o em aberto.

[189] Notas para o Tombo da Matriz, fl. 139.

[190]ASCMRG,  Accordãos,  Lv. 8, 1839-1851, 30 de Setembro de 1839,  fl. 22.

[191] Idem

[192] A.A.B.,[Terça dos pais de José Francisco Pacheco, pai de Madre Margarida],1772, Ribeira Grande

Alguns altares da igreja de N. Sr.ª de Guadalupe, do ex-convento de São Francisco,  foram refeitos na segunda metade do século XVIII. Aliás toda a igreja. Terão retirado, naquela altura,  azulejos do corpo da igreja ou do convento?

[193] Depois desta afirmação, como já vimos, encontramos alguns fragmentos. Todavia, não são suficientes para extrapolarmos com segurança a sua ligação àquele edifício.

[194] Vide quadro. XIV

[195] Idem

[196] O Sr. Humberto Viveiros garantiu-me que, ao que sabe e se lembra, nunca o interior da ermida tinha sido novamente guarnecida. Tem a garantia da sua memória. Falível  tal como a de todos nós.

[197] Notas para o  Livro do Tombo ..., fl. 25 v.

[198] Simões, J. M. dos Santos,  Azulejaria  Portuguesa nos Açores e na Madeira ,. P. 128.

[199] Frutuoso, Gaspar,  Saudades da Terra,  v.2, Ponta Delgada, 1981,  p. 105.

[200] Vide quadro II.

[201] Ver notas em anexo, nota cronológica explicativa de como e onde encontramos os azulejos estudados.

[202]  Monte Alverne, Op. Cit. ,  v.2I,  1961,  p. 300

[203]  Ataíde, Etnografia, Arte e Vida Antiga nos Açores ,  v.2,  p. 108 XIII, XV

[204] Idem,   p. 108.

[205] Alverne, Frei Agostinho de Monte, Crónicas da Provincia de S. João Evangelista das ilhas dos Açores  , Ponta Delgada, v.2 , 1961,  p. 294.

[206] Idem,  p. 300

[207] APMRG, Notas para o Livro do Tombo da Matriz,   fl. 25 v.

[208] Alverne, Op.Cit. ,  v. 2,  p. 297.

[209] Ataíde, Luís Bernardo Leite de,  Etnografia Arte e vida antiga dos Açores,  v. 2, Coimbra, 1974,  p. 108

[210] Idem,  p. 109.

[211]APMRG,  Notas para o Livro do Tombo da Matriz,   fl. 26.

[212] Idem,  fl.  27

[213] Veja-se Quadro XV.

[214] Machado, João Saavedra , Azulejos do Hospital Termal das Caldas da Rainha - séculos XVI_XVIII, Instituto Português do Património Cultural, Lisboa, 1987,  p. 57

[215] Idem,   p. 32.

[216]  Simões,  J.M. dos Santos,  Azulejaria Portuguesa  nos Açores e na Madeira, Fundação Calouste GUlbenkian, Lisboa, 1963,  p. 13

[217] Frutuoso, Gaspar, Saudades da Terra, 1981, lv.4, v. 2,  p. 107

[218] Alverne, Frei Agostinho de Monte,  Crónicas da Província de S.João Evangelista e ilhas dos Açores, 1961, v. 2,  p. 331. Foto nº II

[219]Idem,

[220]Idem

[221] Não posso deixar de pensar, ou de excluir da lista de suspeitos a investigar,  o projecto - não o conhecemos - , para a Matriz  de João de Sousa Freire, abandonado após a sua morte por ser de difícil execução, e a exuberante fachada da Misericórdia.

[222]ASCMRG, Receitas da Santa Casa da Misericórdia, 1725... ,  1748,  fl.  96

[223]ASCMRG, Acordãos-1743-1815, lv. 6,  fl. 25 v.

[224] Idem

[225]ASCMRG , Acordãos-1743-1815, lv. 6,  fl.. 31 v.  [ 2 de Julho de 1754 ]

[226] Idem  [ 3 de Julho de 1755 ] fl.  35 v.

[227] Idem  [ 22 /12-1768 ] fl. 55

[228] Idem  [ 31/ 10/ 1773 ] fl.. 76 v.

[229] Idem  [ 4 de Julho de 1778 ] fl. 94

[230] Idem  [ 12 / 01 / 1775 ] ,fl. 83.

[231] Idem, ibid, [ 11 / 07/ 1790 ], fl. 142 v.

[232] Livros de Receita e Despesa entre outros.

[233] Em Março de 1990 Encontrei um fragmento que me parece ser de frontal de altar cerâmico de aves e ramagens junto à igreja da Misericórdia. Verifiquei  então que defronte daquela igreja o rebaixamento  de  um piso anterior ao actual, nalguns pontos estava a 0,70 de profundidade. A média oscilava entre os 0,40 e os 0,50 metros. Encontrei vestígios de calçada antiga, constituída por calhaus rolado, em todas as covas que foram abertas. No início da Segunda metade do século XVIII procedera-se, segundo documento camarário, ao nivelamento e regularização daquela calçada. Pude verificar em 1995, aquando da abertura de uma vala, a estratigrafia complexa do local fronteiro à dita igreja. Parece que terá existido vários pisos. Parece igualmente que desciam em direcção à ribeira. Os fragmentos de azulejos aí encontrados na camada contemporânea ao nivelamento coincidirá com a data da demolição da igreja antiga e a construção da actual. Poder-se-á insinuar a existência de azulejos seiscentistas naquele templo?  

[234] Vide  Esboço do itinerário de alguns azulejos seiscentistas estudados e quadros  XV-XVII.

[235] Idem.

[236] Veja-se Quadro Esboço Itenerário dos azulejos seiscentistas estudados.

[237] Simões, J. M. dos Santos,  Azulejaria Portuguesa  nos Açores e na Madeira, 1963,  p   I

[238] Idem,  p. 53

[239] Idem

[240] Idem

[241] Vide quadros  I- II

[242] Entrevista com o Dr. Mnuel Barbosa .

[243] Barbosa,  Manuel,   Memórias da Cidade Futura..., Ribeira Grande, 1988,  p. 43

[244] Idem,  p. 55. Há ainda quem diga que os azulejos em questão estiveram no rés-do-chão e não no 1º andar. Porém em qualquer dos casos o Dr. Barbosa não os menciona. Informação obtida posteriormente à elaboração do capítulo III.

[245] Entrevista posterior com o Dr.º Manuel Barbosa.

[246] Conforme verifiquei  nos róis Quaresmais e entrevistas aos antigos proprietários.

[247] Dados biográficos colhidos do seu Bilhete de Identidade.

[248] Entrevista na sua casa da rua do Barracão Velho no dia 16 / 04 /  1989. ( outras seguiram-se-lhe ).

[249]APMRG,  Roes Quaresmais da Matriz de 1931 a 1952

[250] Entrevista com o senhor Cabral de Melo em Abril de 1989. ( Houve outras antes e depois ).

[251] Veja Quadro. II, XV.

[252] Manuel Barbosa, Memórias da cidade futura..., Ribeira Grande, 1988, pag 69.

[253] Cercadura que não consegui identificar Quadro XVII Veja Quadro anexo.

[254] Entrevistei os famaliares.

[255] Veja-se Quadro XV. Ou mesmo já depois da 1ª exposição, os que o sr. Herculano Couto, morador na rua da Ponte Nova  nº 3 , continuação da de São Vicente Ferrer, nos ofereceu. Estavam, segundo o mesmo, numa copeira. Deve dizer-se que estas casas ficam muito próximas do Adro das freiras. Quererá dizer alguma coisa?

[256] Veja-se Fotografia III.

[257]Ataíde, Luís Bernardo Leite de, Etnografia arte e vida antiga dos Açores, Coimbra, 1974, v.2 ,  p. 95

[258] Torres, José  de, , Ensaios. Viagens no interior da ilha de San-Miguel I , Ponta Delgada, 1849,  p. 9-10

[259] Idem

[260] Matos, Artur Teodoro de, Transportes e Comunicações em Portugal, Açores e Madeira ( 1750-1850 ), Ponta Delgada, 1980,  p. 419

[261] Idem,  p. 421.

[262] O Monte Verde foi feito de entulhos a partir da década de  quarenta (?). Os de aresta e de corda-seca, em Agosto e Setembro de 1997 foram parar ao ‘Largo East Providence’.

[263] Segundo  mestre Almeida. Aliás, pela altura da sua remoção, os entulhos eram encaminhados para o Monte Verde onde eu próprio aos 4 anos ( 1961 ) os ia, juntamente com adolescentes e adultos, numa carroça de mão, atirá-los.

[264] Vide no Caminho Novo  das Caldeiras a cova do tufo do senhor Aurino Tachinha, por exemplo.

[265] Yourcenar, Margariter, Memórias de Adriano , Ulisseia, 6ª edição,  p. 24.

[266] Azevedo Alves, Luisa Maria Picciochi, O Ambiente e as obras de Arte, Instituto José de Figueredo,  nº 11, Lisboa, 1980,  p. 1.

[267] Idem,   p. 1

[268] Idem,   p.  2

[269] Idem,   p.  2

[270] O suporte directo dos painéis de azulejos acabou por ser a  folha de acrílico,  porém,  estes serão aparafusados a duas estruturas de madeira, criptoméria, em forma de ângulo recto que encaixará  em ‘camarões’ metálicos sacados da parede. Para ficar com uma ideia sobre o método seguido leia-se o artigo ‘ Montagem e apresentação de azulejos recuperados’ de Ana Porto, in Actas do ‘Encontro sobre preservação e tratamento do azulejo,’ Fundação das Casas de Fronteira e Alorna,  Lisboa, 1988

[271] Azevedo Alves, Op. Cit. ,  p. 3

[272] Idem,  p. 5

[273] Idem,  p. 4

[274] Idem,  p. 3

[275] Idem,  p. 6

[276] Idem,  p.  8

[277] Idem,  p   6

[278] Idem,  p.  8

[279] Idem,  p. 8-9

[280] Idem,  p.. 9-10

[281] Idem

[282] Idem, p. 10

[283] Idem

[284] Idem,  p. 12

[285] Idem,  p. 14

[286] Idem,  p. 17

[287] Idem, p. 9

[288] José Meco, Exposição: Azulejos de Lisboa, C. M. L, 1984,  p. 25

[289] Azevedo Alves, Op. Cit. , p. 9. A experiência de sete anos de exposição tem provado, até ao momento, que não é necessário este rigor. No ‘ Rascunho que há-de servir de base para o estudo e política de conservação preventiva e elaboração de uma carta deontológica : Arcano Místico de Madre Margarida Isabel do Apocalipse’ , trabalho curricular da cadeira dirigida pelo eng. Luís Elias Casanovas, verifiquei que há oscilações suaves, tanto na humidade como na temperatura, no interior da igreja onde se encontra o Arcano. Por conseguinte, passando-se o mesmo na capela de São Vicente Ferrer, não haverá perigo para os materiais aí expostos.

[290] Testemunho de José Meco, verão de 1989 : ‘ Evitar! Só em caso de degradação.’

[291] Mais tarde encontrei na edícula da fachada azulejos setecentistas.

[292] Testemunho de José Meco, verão de 1989: ‘ Devem combinar-se a formar padrões.’ Segui este conselho por achá-lo razoável. Tomei, contudo, a precaução de registar a proveniência de cada um dos elementos constitutivos do padrão.

[293] Meco, José, Exposição: Azulejos de Lisboa , C.M.L. , Lisboa, 1984,  p. 20-21

[294] J. M. dos Santos Simões, Azulejaria nos Açores e na Madeira, F. C. Gulbenkian, Lisboa, 1963,  p. 11-12

[295] Idem,  p.12

[296] Meco, Op. Cit. ,  p. 24

[297] Idem

[298] Vide quadro XXX

[299] Muitas sugestões são, no terreno, no confronto real com o espaço e com as possibilidades, alteradas. Assim, em 1997, registam-se  ligeiras mudanças a este projecto de 1989.

[300] Penso mesmo que a nível de ilha.

[301] Encaminhá-los para, entre outros, o Centro de Conservação e de Restauro dos Açores.

[302] Retirei o dito suporte.

[303] Acabei, a fim de tornar mais fácil e contínua a leitura dos painéis, por incluir cópias.

[304] Não o fiz.

[305] Ciclo do Barroco [ de 26 a 30 de Junho], “Correio dos Açores,” Ponta Delgada, 27 de Junho de 1989,  nº 20 260, p. 1 e 7

 

[306] Registe-se que ele tinha sido, mais Rafael Salinas Calado, incumbido por parte da Fundação Calouste Gulbenkian da actualização do volume dos séculos XV e XVI de Santos Simões.

[307] Testemunho de José Meco, verão de 1989

[308] Para uma visão actualizada consulte-se: Gomes, Maria Manuela Malhoa, Monteiro, João Pedro, Azulejos: Conservação e Restauro , Fundação Ricardo Espírito santo Silva, Lisboa, 1996; Actas do  ‘ Encontro sobre preservação e tratamento do azulejo’ , Fundação das Casas de Fronteira e Alorna, Lisboa, 1988

[309] Terão vindo da igreja, da Cascata, da Matriz, do mosteiro, do convento ? Está tudo tão perto.e o Jardim Público foi feito em meados do século XIX. 

[310] Será necessário proceder a um estudo mais detalhado.

[311] Não me foi possível, por desconhecer, acompanhar as obras que se efectuaram em 1996 no interior daquele templo. Talvez se pudesse confirmar a existência de azulejos seiscentistas para além dos poucos fragmentos recolhidos numa vala no seu exterior e dos que o Marquês Jácome Correia ofereceu ao Museu Carlos Machado.

[312] Destruída, apesar de todos os esforços, sem que pudesse escavar em Agosto de 1997. O  modo como se procede ao alargamento da rua de Trás-os-Mosteiros [sic], sem acompanhamento devido,  nem tão pouco a crivagem das terras de lá retiradas directamente, tanto quanto sei, em parte para ‘consolidar’ [?] a beira mar, constitui, no mínimo, um acto de insensibilidade crassa patrimonial e um erro irreversível. Em Março de 1998 demos início a novas pesquisas: ‘mais vale pouco do que nada.’Veremos o grau de destruição.

[313] Foram os próprios proprietários, ou no caso da rua de João d’ Horta, procuradores, que, sabendo do meu interesse, me alertavam.

[314] Simões, J.M. dos, Da montagem e apresentação museológica de azulejos , Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1963

[315] Porto, Ana, Montagem e apresentação de azulejos recuperados , Fundação das Casas de Fronteira e Alorna, in actas Encontros sobre Preservação e tratamento do azulejo, Lisboa, 1988

[316] Para isso é preciso ou da colaboração do Centro de Conservação e de Restauro dos Açores ou da constituição de uma pequena oficina de ‘pronto socorro’ no nosso museu.

[317] José Meco, O Azulejo em Portugal , Publicações Alfa, Lisboa, 1989, p.44


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