Memórias dos primeiros azulejos seiscentistas expostos no Museu da Ribeira Grande: da recolha, história, tratamento e exposição
Mário Fernando Oliveira
Moura
Memórias dos primeiros
azulejos seiscentistas expostos no Museu da Ribeira Grande: da recolha,
história, tratamento e exposição
Ribeira Grande, Junho de
1989
« [Carta dirigida ao eng. Hermano de Ataíde
Motta, presidente da Câmara Municipal da Ribeira Grande]Há ainda outro assunto que gostaria de lhe
referir: encontrei-me este verão, em Lisboa, com o Dr. Mário Moura, Conservador
da Casa da Cultura, e tive a oportunidade de apreciar o relatório por ele
elaborado sobre os azulejos que decoraram a frontaria da Igreja Matriz da
Ribeira Grande, o qual inclui uma pesquisa desenvolvida sobre estes azulejos, a
relação exaustiva com outros núcleos existentes nos Açores, afins, e ainda o
estudo sobre os possíveis locais de onde provieram. Parece-me que a publicação
deste trabalho seria um contributo bastante interessante para o conhecimento da
azulejaria e da história da região, e ajudaria a explicar os exemplares que
estarão em exposição no futuro Museu Municipal.»
José Meco
Oeiras , 6/12/1989
Introdução
Ao
finalizar este despretensioso esboço de musealização do núcleo seiscentista da
futura secção azulejística do Museu da Ribeira Grande, ocorrem-me várias
perguntas, das quais duas se me impõem sobremaneira:
1- Porque me aventurei neste
projecto?
2- A quem devo esta (a)ventura?
Lancei-me
nele, essencialmente, impelido por duas razões.
Em
primeiro lugar, mercê do estímulo, da sensibilidade e dos conhecimentos dos Dr.
Jorge Gamboa de Vasconcelos e Nestor de Sousa, fui fácil e inexoravelmente
fascinado pelo trema.
Em
segundo lugar, ao tentar propor o mais correcta e honestamente possível o
restauro, a conservação e a exposição do espólio em causa, recolhido no museu,
fui motivado pela necessidade inerente à profissão que exerço.
É
uma mistura entre “o ninguém consegue conhecer aquilo que não ama e o ninguém
ama aquilo que não conhece.”
Porém,
este esforço revela mais temeridade do que conhecimento, resultando daí mais
uma série de questões e de sugestões preliminares, assumidamente lacunares, que
um leigo pretende esclarecer junto dos especialistas, do que de um trabalho
acabado.
É
assim uma espécie de preparação ou prova informal para o pretendido e
necessário exame. Só após ele, e se valer a pena, tentarei a sua publicação.
Para
além de todos os autores consultados e dos que já mencionei, devo este trabalho
a todos aqueles a quem entrevistei, nomeadamente, Dr. Jorge Gamboa de
Vasconcelos, Nestor de Sousa, Manuel Barbosa, mestre Manuel de Almeida, Hermano
de Oliveira, Ildeberto Piques Garcia, Maria das Mercês Rodrigues, Padre Manuel
de Sousa, Sr. Humberto Viveiros, entre muitos outros.
Agradeço
a prestimosa e oportuna colaboração, quer bibliográfica quer arquivística, da
Dr.ª Maria Luísa Alves, do Instituto José de Figueiredo, do Dr. João
Castelo-Branco Pereira e Deolinda Pavãs, do Museu Nacional do Azulejo, do sr.
Henrique Parreira, do Centro de Conservação e de Restauro dos Açores, dos Dr.
António Manuel Oliveira e Margarida Oliveira, do Museu Carlos Machado, da Drª
Maria Graça Chorão Almeida Lima, dos Serviços de Documentação da Universidade
dos Açores, da Drª Vanda Belém, da Biblioteca Pública e Arquivo de Angra do
Heroísmo, do director da Biblioteca do Funchal, da Drª Margarida Gago da
Câmara, da Biblioteca e Arquivo de Ponta Delgada, do sr. Plínio Maria da
Ponte Provedor da Santa Casa da
Misericórdia da Ribeira Grande, do sr. Padre dr. Hermínio da Rocha Pontes,
Prior da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Estrela da Ribeira Grande.
Agradeço
ao Sr. Dr. José Frazão, Sr. Luís Faria e Srª Vargas, pela disponibilização e
empréstimo de fotografias, assim como ao Sr. José Cabido, pela facultação de
dados biográficos de seu pai.
Agradeço
o apoio do senhor presidente da Câmara Municipal da Ribeira Grande, engº
Hermano d’Ataíde Mota, à engenheira Maria do Céu Soromenho e ao senhor Manuel
António Pinheiro, pelo apoio técnico que concederam ao nosso projecto e a todos os funcionários do museu, pelo
zelo, empenhamento e espírito de equipa, designadamente a D.Otília Botelho,
responsável e autora dos desenhos, Maria de Graça Sousa, José Vieira, actual
contínuo, e Constantino Pacheco, anterior contínuo.
‘Last
but not the least’, quero agradecer este esboço de projecto ao Júlio e à
Filomena que muito me ajudaram e aturaram
nas fases absorventes da sua concepção, gestação e parto.
Mário Fernando Oliveira
Moura
Museu da Ribeira Grande,
solar de São Vicente Ferreira - 22- 06 -1989
Capítulo I
Neste capítulo abordaremos a complexa mas aliciante
problemática do azulejo policromo seiscentista português de padronagem, a fim
de tentarmos compreender os azulejos seiscentistas que recolhemos e sugerimos o
seu mais correcto e fidedigno restauro, a sua preservação e exposição
museológica.
Tentaremos,
tanto quanto nos for possível, esboçar um panorâmica sucinta daquela
problemática, recorrendo, essencialmente a trabalhos especializados sobre a
matéria.
Fundamentalmente
“O azulejo é uma peça cerâmica de faiança vulgar, constituído por uma placa
geralmente quadrada de barro cozido e, vidrado na face nobre. Esta face vidrada
é o suporte da cor, do desenho ou do símbolo ornamental.[1]
Os
azulejos seiscentistas, que recolhemos, sendo lisos e padronados, utilizam
basicamente o azul e o amarelo de óxidos metálicos[azul de cobalto e amarelo de antimónio] sobre uma base estanífera branca [óxido de estanho] fixada pela acção do fogo.[2]
A
azulejaria europeia fixa-se e desenvolve-se durante o século XVI, a partir das
técnicas ( majólica e faiança) e dos modelos decorativos italo-flamengos,
adquirindo, quer pela sua monumentalidade, quer pelos particularismos da sua
escolha ornamental, e finalmente, pelo seu papel de complementaridade
arquitectónica, um cunho e uma feição “sui generis”.[3]
O
vocábulo azulejo, etimologicamente, deriva do árabe ‘al zulej‘, ou noutras
versões, ‘al zuleicha’ que significa ( literalmente ) pequena pedra polida.[4]
E,
para avaliarmos a importância do azulejo português, transcrevamos a afirmação
de Rafael Calado, aliás idêntica à de José Meco e à de Santos Simões, segundo a
qual “Portugal, pode hoje ser considerado o país do azulejo, não só pela
quantidade de exemplares que possui e da divulgação que lhe deu, mas sobretudo,
pela singular importância que lhe soube atribuir ao longo dos séculos”[5]
A maneira como se utilizou em Portugal o
azulejo, quer seiscentista quer posterior, massiva, exacerbada e
transfiguradoramente ”... pode ser considerada, em toda a Europa, como tendo
constituído um fenómeno acentuadamente português, de onde se ramificou a áreas
de influência portuguesa, nomeadamente às Ilhas Atlânticas e ao Brasil, porque,
em nenhum outro país do continente europeu, o azulejo teve um tratamento tão
adaptado aos condicionalismos económicos, sociais e culturais específicos, e
foi utilizado de maneira tão complexa e dilatada, com fins que ultrapassam um
papel meramente decorativo, e num período de tempo que abrange cerca de
cinco séculos.”[6]
Atribui,
José Meco, esta peculiaridade do nosso azulejo, a “...factores de natureza
estético - funcional - económica e por condições específicas de Portugal e da
sua implantação geográfica, não esquecendo questões de mentalidade e de gosto
igualmente determinantes.” [7]
Por um
lado, Portugal sempre foi “...carente em termos de industrialização e de
produção dos bens de consumo necessários, “[8]
e dependia largamente”... da precariedade e flutuações do comércio marítimo “[9],
daí que, “ os recursos limitados de Portugal [implicassem]uma economia sempre
deficitária e [limitassem]a tendência constante para a
euforia sumptuária...”[10].
Por outro lado, é um país”... onde o barro e os materiais cerâmicos abundam e
se alicerçam em tradições seculares, nomeadamente a fecunda herança da presença
muçulmana...[11].
Acresce ainda o facto “...[d] o modesto custo do azulejo,
e a facilidade da sua preparação artesanal (em moldes oficinais) [ compensar] admiravelmente essas
carências e necessidades pelas espantosas potencialidades ornamentais que [ apresenta ]e pela dinamização, cor e
espectáculo visual que [ empresta ] à arquitectura. “[12]
Para
além do mais, “O azulejo constituiu um complemento perfeito da arquitectura
portuguesa mais tradicional, resultante da situação geográfica de Portugal numa
região de influência mediterrânica e nas proximidades do Norte de África ...”[13]
Naquela
região “ predominam a volumetria compacta, a redução das aberturas e a
utilização de materiais leves ou de pedra não aparelhada no enchimento dos
paramentos, “[14]
sendo determinantes “... os factores climatéricos contrastados (índices
pluviométricos irregulares, verões quentes, influências continentais nas
temperaturas baixas ) para a espessura e robustez das paredes e de outros
elementos estruturais.”[15]
Aqui,
o azulejo, tal como já foi referido, funciona como “... estabilizador das
temperaturas e humidade ambientes com a vantagem de ser material barato e mais
durável ...”[16]
Os
azulejos seiscentistas em Portugal foram utilizados “para revestir as vastas
superfícies parietais dos templos e, menos frequentemente, de algumas casas
nobres, ...”[17],cobrindo-as
com”... grandes ou pequenos “ tapetes “ cerâmicos obtidos pela multiplicação de
um motivo ornamental básico a que
chamamos padrão.”[18]
Relembramo-nos que “a marca mais característica do azulejo seiscentista
encontra-se nos gigantescos revestimentos repetitivos de padronagem, chamados
“tapetes, devido à semelhança entre o resultado obtido e o forro com tecidos
ornamentais ricos. É especialmente nos espaços internos das igrejas que os
“tapetes” se dilatam com maior facilidade, revestindo as paredes desde o chão
até ao tecto, envolvendo os arcos, cobrindo também vãos de portas e janelas,
nichos, capelas, abóbadas e todas as superfícies desadornadas...”[19]
Estes
“tapetes” de azulejos derivam da “...imitação de revestimentos têxteis (
brocados), tanto orientais como europeus, substituindo as tapeçarias, se não no
conforto, pelo menos no efeito e no papel de estabilizador das temperaturas e
humidade e ambientes com a vantagem de ser em material mais barato e mais
durável, e , na altura, já fabricado localmente.”[20]
Os
primeiros padrões policromos seiscentistas fabricados em Portugal, simplesmente
“... copiam ou inspiram-se nos que constituíam o repertório das alfarerias
sevilhanas e talaveranas, mas, em breve, os azulejeiros portugueses adoptam
modelos novos e , antes do meado do século XVII, encontra-se parcialmente
renovado o sortimento de desenhos, alguns dos quais se vão manter durante o
resto da centúria. “[21]
José
Meco opina ainda que só se mantém “...até próximo do quarto quartel do século
XVII, com os ornatos um pouco aligeirados ou com o seu contorno acentuado,
através de um fino traço negro, realizado a manganês ”[22]
e, continuando na sua diferenciação, ainda que subtil, acrescenta :
“ Os
ornatos dos padrões da segunda metade do século são mais dinâmicos e frágeis,
como algumas das composições chamadas de ‘ camélia’( ou dália). Continuando ,
porém, a utilizar-se os ornatos anteriores.»[23]
Em
todo o caso, o século XVII produziu e criou “...algumas centenas de padrões,
com inúmeras cercaduras, barras, frisos, cantoneiras e outros acessórios, na
sua grande maioria catalogados por Santos Simões e Emílio Guerra de
Oliveira...”[24]
Todavia,
a falta de transformações operadas nos azulejos padronados seiscentistas
(deixamos, propositadamente, outros que concomitantemente se iam fabricando )
caracterizaram-se, fundamentalmente, “... pela longa manutenção de fórmulas e
processos decorativos e pela contenção das soluções inovadoras “[25],
seja mercê do isolamento do nosso país, seja pelas suas condicionantes
sócio-económico-culturais, seja, ainda,
pelo cunho acentuadamente conservador da igreja católica, principal cliente.[26]
Antes
de abordarmos aspectos, porventura, mais descritivos, no que concerne a
definição dos padrões e seus acessórios, debrucemo-nos na definição das suas
características essenciais, tal como as definiu e delineou José Meco.
No
século XVII, grosso modo, destacam-se os inconfundíveis e originais
revestimentos monumentais de tapetes cerâmicos, “... marca mais característica
do azulejo seiscentista ...”[27]
1º Em
alguns destes casos, antes da estabilização dos padrões, a composição é obtida
com a “ substituição total dos azulejos lisos (brancos e de cor ) , dos
enxaquetados, por azulejos com ornatos pintados, mantendo-se, porém, os
esquemas e a posição típica do caixilho, que conduziu ao monumental padrão de
12X12 azulejos (usado no 1º terço do século XVII). “[28]
Na
evolução da utilização de padronagens, verifica-se o predomínio da posição dita
normal ( já usada pelos padrões de raíz flamenga, sevilhana e talaverana), [29]
ao invés da oblíqua”..., embora os ritmos diagonais desenvolvidos nos
revestimentos enxequetados tenham sido incorporados nos novos padrões e
assumidos pelos ornatos pintados, que mantiveram a dinâmica das linhas oblíquas
ao longo das paredes que revestem.”[30]
Igualmente,
à semelhança das composições enxequetadas, os azulejos seiscentistas de padrão,
através da divisão em andares dos revestimentos e da utilização constante dos
enquadramentos, interferem na escala dos edifícios, tornando-a mais equilibrada
e harmoniosa e relacionando melhor as várias partes dos edifícios entre si e
com o revestimento de azulejos”[31]
Os
diferentes andares dos edifícios
religiosos eram revestidos com padrões “... geralmente os de 2x2, 4x4 ou 6x6 azulejos, estando os ornatos
organizados em função do número de azulejos abrangidos, funcionando como um
contraponto harmónico à rítmica imposta pelas retículas que separam os
azulejos. “[32],
especificando-se que “ os módulos menores eram geralmente colocados a revestir
os espaços mais reduzidos ou na parte inferior das paredes, ao passo que os de
módulo maior eram utilizados nos andares superiores dos espaços de maiores
dimensões, como as naves das igrejas ,...”[33]
e isto “para que a sua dimensão superior compensasse a diminuição visual
provocada pela distância a que se encontram do espectador “.[34]
Convém
ainda saber que os ornatos estão colocados, de módulo para módulo, em
interligação contínua.[35]
Assim, “apesar de organizados em função da ordenação diagonal, os ornatos
irradiam rotativamente do centro e dos cantos do padrão, criando uma malha
ornamental cerrada sobre a superfície revestida.”[36]
Porém,
conhecem-se algumas excepções, designadamente, em alguns padrões de módulo
rectangular que formam faixas verticais ou ainda em outros inspirados em
tecidos que fogem à organização habitual acima referida.[37]
Se, em
termos de azulejaria “... do século XVII estão quase ausentes as grandes
inovações e a sua evolução foi lenta, as obras realizadas e o tipo de
ornamentação revelaram um fortíssimo carácter e exprimem um encanto que é
acentuado pela ingenuidade do gosto e a fantasia das soluções.“[38],
porém, “nada conservam do requinte estético, erudição da temática e dos ornatos
e o preciosismo técnico do século anterior.“[39]
Trata-se
de “...obras oficinais, produzidas em larguíssima escala na cidade de Lisboa (
de onde se difundiram a todo o país e às colónias ), realizadas por artífices
de formação empírica, trabalhando em regime não especializado e artesanal...”[40]
E,
classificando as complexas transformações operadas na azulejaria seiscentista,
José Meco opina que “... só [insista-se no só] formalmente se mantiveram
fiéis aos modelos e fórmulas maneiristas, esvaziando o seu formalismo através
da irreverência e da dissolução formal, características do sentimento
decorativo e anti-clássico que progressivamente se foi acentuando, até atingir
culminâncias dramáticas de expressão barroca na transição para o século XVIII.”[41]
O
ambiente sócio - económico - político envolvente da azulejaria seiscentista, ou
seja, a difícil fase do domínio filipino e o período de luta com Espanha,
traduziu-se, ‘grosso modo’, em isolamento e carências de toda a sociedade
portuguesa.[42]
O “
corte no consumo sumptuário devido à ausência da corte, [a]pulverização e [o] depauperamento da nobreza,
e [a]crise geral que só nos
finais do século foi atenuada com a actuação política do Conde de Ericeira “[43]
ajuda a explicar, para o século XVII, a persistência e a “... manutenção de
fórmulas e processos decorativos e [a contenção das soluções
inovadoras]“[44]
Esta
persistência foi, tal como já disse, acentuada pelo carácter conservador da
igreja católica, de longe o maior consumidor de azulejos.[45]
Decorreu,
concretamente, da situação sócio - económica - política, acima esboçada, uma
situação de isolamento do nosso país ao exterior que “... favorecendo as “obras de oficina”, em detrimento, das
“obras de escola”...”traduziu-se na substituição dos mestres de formação mais
erudita por artífices decoradores, de formação empírica. [46]
Todavia,
e curiosamente, este aparente fecho ao exterior, e em torno de modelos já
ultrapassados na época, permitiu a expansão da criatividade de acordo com
padrões de gosto mais popularizados, mais informal, e contribui também, para a
expansão de revestimentos cada vez de maiores dimensões e mais complexos, onde
facilmente sobressai, nomeadamente, nos espaços religiosos, uma vincada e
inconfundível personalidade. Aí o azulejo aliado à talha dourada às esculturas,
às telas e à pintura ornamental dominam a arquitectura portuguesa.[47]
Quanto
às ilhas Atlânticas e, segundo Santos Simões, “...particularmente nas açorianas
-, a ocupação espanhola, violentamente imposta, trouxe larga pausa ao seu
desenvolvimento, e é natural que tal contingência possa ter influído na
escassez de azulejos, tidos na época filipina como o objecto supérfluo para as
empobrecidas paróquias e famílias insulanas.“[48]
Porém,
e sem querer entrar em pormenores, aliás não directamente ligados ao assunto a
que nos propusemos no início do capítulo, recentes trabalhos de investigação
histórica sobre a economia do período filipino nos Açores, designadamente o de
Alberto Vieira sobre o ciclo de cerealicultura, atribuem o decréscimo da
produção cerealífera a causas independentes da política filipina.[49]
Seja
como for, e ao que parece, só “ a partir de 1640, - ,e muito particularmente no
sexto e sétimo decénios [ tal como no continente português ], assistimos ao
rejuvenescimento dos conventos e igrejas as ilhas a beneficiam finalmente
daquela lealdade e constância com que se notabilizaram sempre na história
portuguesa .”[50]
E,
prosseguindo, acrescenta Santos Simões que, “ são deste período alguns famosos revestimentos azulejares
designadamente os da nave da igreja de Santa Clara do Funchal ... - ou de Santo
André, de Vila Franca do Campo,...” [51]
É, por
conseguinte, pelas razões acima expendidas que Santos Simões explica a
escassez, entre 1580 - 1640, das espécies azulejíisticas nas ilhas Atlânticas,
exemplificativas da génese da azulejaria policroma do século XVII, ao invés,
porém, encontrou inúmeros exemplares que atribuiu à segunda metade daquele
século.[52]
Algumas
definições necessárias acerca da terminologia utilizada por Santos Simões para
o azulejo padronado
Referimo-nos,
já, a vários aspectos do azulejo seiscentistas, nomeadamente, entre outros
aspectos, do modo como eram utilizados, detenhamo-nos, agora, noutro aspecto,
ou seja na explicação detalhada de alguma terminologia técnica a ele ligada.
Dentro
de cada padrão, segundo José Meco, Santos Simões denomina de ‘elemento’ cada
azulejo com decoração diferente. Tendo em conta aqueles pressupostos ele
classifica cada padrão ou módulo ‘de repetição’, pelo número de azulejos que o
compõe: assim, por exemplo, um padrão de 4 azulejos iguais será de 2x2 (= 4) e,
porque cada um deles apresenta apenas um
elemento, indicaremos 2x2 /1, ou seja
módulo de ‘repetição’ de dois por dois azulejos a um elemento”[53]
São
deste tipo “os padrões mais antigos ...”[54],
que eram económicos e de fácil colocação, porém, seguiu-se-lhes, mais tarde,
“...padrões de repetição mais complexas: 4x4 /2, 4x4 /3, 4x4 /4, 6x6 /8 até
12x12 /14 que é o maior que se conhece ! “[55]
, segundo o mesmo autor, “ Para superfícies maiores ou para obter ritmos
decorativos de mais largo desenvolvimento ...”[56]
Limitavam
sempre os tapetes”... bordaduras constituídas pela repetição linear de fracções
rectangulares de azulejos - a que chamamos “ frisos”-, por um azulejo total -
“cercadura “- ou ainda por 2 azulejos sobrepostos que denominamos ”barras”.
Estes elementos acessórios dos tapetes tinham seus cantos próprios a fim de
estabelecer a continuidade ornamental noa ângulos de ligação. “[57]
Para
organizar e orientar o núcleo seiscentista da secção azulejística do Museu da
Ribeira Grande da Ribeira Grande optamos por seguir à letra a classificação que
Santos Simões faz dos padrões no volume ‘ Azulejaria nos Açores e na Madeira’,
ou seja, no nosso caso, 4x4 = P35, 6x6 = P37 etc..., ainda que o mesmo Santos
Simões, noutros livros lhes dê outra numeração.[58]
Qualidade artística do
azulejo.
Atribuímos
valor a tudo o que vemos ou temos, e o azulejo não foge a esta regra, porém,
José Meco, a propósito, adverte-nos que, “a” qualidade artística “ de um
azulejo não pode ser questionada apenas como um problema de maior ou menor
correcção ou qualidade pictorial,...”[59]
já que ultrapassa “...largamente qualquer intenção de mera manifestação
plástica,...[60]”.
Isolar o azulejo “... do seu contexto
estrutural global...”[61]
é incorrer “[ n ] a parcialidade da análise...”[62]
do mesmo azulejo.
Esta falaciosa e incorrecta
perspectivação, “... tem conduzido variadas vezes à sua depreciação ou a uma
compreensão muito limitada e redutora da sua extraordinária riqueza, quanto à
concepção ou ao papel que desempenha. “[63]
Por estas razões esquece-se frequentemente
que o azulejo “ não é apenas (mais) um “ suporte de pintura “,...”[64]
e que, “... não se limita a ser uma
inofensiva “ arte menor “, porque o seu papel é demasiado vasto e complexo e
nunca o azulejo foi criado para estar dissecado em museus (onde só deverá
entrar quando não for possível a sua preservação no local original ).”[65]
E, concluindo adianta que, “ muito
menos ainda o azulejo poderá ser considerado ( juntamente com a talha dourada )
um sinal da inferioridade cultural de Portugal, em relação a uma Europa mais
erudita e académica, constituindo, pelo contrário, a marca de personalidade, da
vitalidade criativa e da diferença portuguesa...”[66]
Onde eram fabricados os azulejos
padronados seiscentistas portugueses para exportação insular e colonial ?
A cidade de Lisboa foi o centro
produtor, exportador e inovador,
por
excelência, da azulejaria portuguesa, e, designadamente da seiscentista, a tal
ponto que “ se o azulejo é uma arte caracteristicamente portuguesa, é também
uma arte predominantemente lisboeta.”[67]
Ao proferir esta afirmação, José Meco,
não só a fundamenta como igualmente delimita o local ou os locais precisos da
área lisboeta. As olarias dedicadas ao fabrico do azulejo na área de Lisboa
estavam “... situadas entre Santa Catarina, o Mocambo e a Rocha Conde de Óbidos
ou as que deram o nome ao sitio das Olarias “[68]
e isto”... porque a maior parte dos artistas de azulejos, até hoje
identificados, tiveram a sua oficina em Lisboa ;...”[69]
Todavia, sendo Lisboa o local
predominante do fabrico e da exportação do azulejo seiscentista, outros locais
do reino foram igualmente locais de
fabrico, senão para exportação, pelo menos para responder às necessidades de
consumo local. Estão neste caso as produções do Porto, no século XVII, a de
Coimbra, no XVIII, e a de Lagoa, no XIX..[70]
Santos Simões comenta outra hipótese ao
mencionar o Dr.º Hugo Moreira, o qual lhe teria assinalado “... a existência “
de azuladores” na ilha [ de São Miguel no inicio do século XVII] ,entre os quais um Bartolomeu Fernandes “asulador”
...” [71].
Ainda que e “se a terminologia era a mesma que se usava no Reino, tratar-se-ia
de empreiteiros ou ladrilhadores e necessariamente não de fabricantes, os quais
são geralmente denominados, oleiros de vidrado, oleiros de azulejo,
malegueiros, pintores de azulejo...”[72].
Porém, e deixando em aberto a hipótese, conclui: “Seja como for, esta
documentação [adiantada pelo Dr.º Hugo Moreira ] comprova que nos princípios do
século XVII havia em Ponta Delgada pelo menos um “mestre azulejador”, o que
pressupõe a utilização de azulejos de certa escala [o que de certo modo
contradiz, porventura, a sua escassez reconhecida anteriormente. Referir-se-ia
aos de padrão?] ou mesmo [repara-se] uma
fabricação local [nosso sublinhado].”[73]
e, corroborando os indícios arquivísticos-documentais acrescenta um
exemplo:”... na capelinha da Grimaneza [Ponta Delgada ], por exemplo , há
azulejos lisos cujas características se afastam das da azulejaria continental.”[74]
O que vem reforçar a ideia de não haver produção de azulejaria decorada nos
Açores antes do século XIX, já que azulejos lisos não decorados, são os únicos
que podem ser facilmente fabricados em qualquer olaria, mesmo que não produza
outros tipos de azulejo. Por outro lado, foram usados em Portugal na 1.ª metade
do século XVI azulejos lisos produzidos em Sevilha.[75]
Em qualquer circunstância, porém, Lisboa ocupa
um local preponderante, por várias razões, a
saber:
Não só porque a maioria das ‘ fábricas
ou oficinas’, tal como já foi dito, se situavam na área lisboeta, mas também
porque “Lisboa foi, de longe, o maior
mercado consumidor de azulejos, e porque foi, finalmente, nas oficinas de
Lisboa que se operaram as transformações
que, do azulejo hispano-mourisco de importação do Levante Espanhol e de
Sevilha, e sob a influência das majólicas italianas e do azulejo holandês,
exportado em quantidades em finais do século XVII, conduziram à produção local
do azulejo português, no percurso de seiscentos e setecentos, com carácter
próprio e inconfundível.” [76]
As
transformações operadas nos azulejos e ocorridas em Lisboa são essenciais e
caracterizam-se, principalmente, pelo papel que o azulejo passa a desempenhar
na arquitectura portuguesa.
Em suma é nas oficinas lisboetas “...
que o azulejo vai deixar de concorrer como simples elemento decorativo de
aplicação indeterminada, para se transformar num complemento arquitectónico,
preenchendo espaços, previamente determinados, criando perspectivas, realçando
molduras e artesoadas, em comunhão estrutural íntima com aquela, de tal forma
que não é possível abstrair qualquer palácio ou igreja seiscentista ou
setecentista do seu complemento azulejar...”[77]
CAPÍTULO II
Tentativa de identificação e datação
dos azulejos por nós recolhidos,
cotejando e analisando o estudo do eng.
Santos Simões sobre a azulejaria nos Açores e na Madeira.[78]
A datação e identificação de azulejos depende da análise
e do manuseio de vários dados, entre estes destaco os histórico que nos
elucidam aspectos essenciais da sua “biografia”, nomeadamente, o ano e o local
do seu fabrico bem como o local a que se destinaram, os “morfológicos “ que
apreciam e estudam o aspecto cromático e os motivos decorativos utilizados e ,
completando e aprofundando estes dois últimos, os laboratoriais que dissecam e
identificam os materiais empregues.
Só da conjugação da informação colhida
através destas três perspectivas sairá a mais correcta e aproximada resposta à
questão enunciada.
Porém e, para o caso concreto dos que
recolhemos, não logramos descobrir, ainda que tivéssemos empreendido uma
exaustiva pesquisa arquivística quaisquer elementos ou sequer indícios
históricos que lançassem alguma luz sobre o assunto .[79]
Torna-se-ia, por conseguinte,
infrutífero esboçar uma abordagem directa. Assim ensaiaremos uma análise
comparativa e indirecta.
Se, por um lado, numa análise
comparativa, possivelmente, obteremos algumas pistas acerca do tipo, do período
e local do seu fabrico, por outro, dificilmente descobriremos o local a que se
destinaram.
Todavia, poder-se-à indiciá-lo através do
recurso a provas circunstânciais. Ensaiá-lo-ei, porém, no próximo capitulo,
circunscrevendo-me neste ao esclarecimento do seu tipo, do período e local do
seu fabrico.
Como objecto de incidência da minha
análise tenho os azulejos por mim recolhidos, completamente órfãos do seu
contexto histórico e aqueles integrados no seu contexto, estudados pelo eng.
Santos Simões.
Afigura-se-me, ainda, desnecessário e
inconveniente , proceder à sua análise laboratorial, seja pela falta de meios,
tanto económicos como técnicos, seja pela sua reconhecida vulgaridade.[80]
Desnecessário porque, para os
identificarmos com uma certa margem de certeza, basta, quero crer, tão-só,
proceder-se a uma análise morfo-histórico comparativa.
Analisá-los-emos, seguindo de perto e
comparando-os aos que sendo reconhecidamente iguais, em outros locais das
ilhas, foram identificados e datados pelo eng. J.M dos Santos Simões.[81]
Neste cotejo, entre os elementos
azulejísticos que recolhemos, descobrimos, tal como sugere no seu catálogo
Santos Simões,[82]
padrões 4x4, P35 ;6x6, P37 ( ambos denominados pelo eng. º Santos Simões como
tipo “Marvila “, porém, João Saavedra Machado, só utiliza aquele designativo
para o 6x6, designando o 4x4 como “ Quadrilobo”.) [83];
2x2, P20 ( camélia para o eng. º [84]
e camélia ou dália para José Meco[85]
; 2x2, P 12 (maçaroca para o eng. [86]
e alcachofra para o Dr.º Luís Bernardo Leite de Ataíde [87]
; B2 [88];
dentes de serra [89]; e
C3 [90].
Para além destes descobri uma barra de laçarias vegetalistas não identificadas
no catálogo. [91]
Compulsei da dita obra locais que
possuíssem aquele tipo de azulejo policromo e padronado seiscentista, e para mais fácil apreensão, elaborei quadros.
[veja-se quadro n.º I ao XII. ]
Para de facto e “in situ ”apurar a
correspondência entre os identificados no livro e os nossos, desloquei-me em
visita de estudo aos locais na ilha de São Miguel onde eles existem.
Não era viável vê-los todos “in loco”,
já que envolvia deslocações fora da ilha, assim, vi-os todos, primeiro no
catálogo no final do livro, e de seguida, tal como acima referi, fui a Vila
Franca do Campo, Lagoa e Ponta Delgada, não me fosse ludibriar ou deixar passar
qualquer detalhe ou erro tipográfico, tão vulgar neste tipo de azulejaria ou
neste tipo de obra.
Não obstante todo o escrúpulo e
cuidado, tenho, mesmo assim, de confessar que não me considero imune ao erro
e às incertezas na apreciação que
esbocei, até porque, e não só pelas razões acima expendidas, me confesso
aprendiz da vasta e complexa problemática da azulejaria seiscentista portuguesa.
Assentando nestes pressupostos,
lancei-me no estudo morfológico dos nossos e dos que estudei, tanto no livro de
Santos Simões como no local.
Verifiquei que as dimensões se
aproximavam e que os motivos empregues e as características cromáticas
apresentavam uma quase perfeita correspondência.[Consulte-se quadros n.º
XX-XXII.]
As ligeiras diferenças nas dimensões,
ainda que sejam ínfimas, explicam-se pelo facto dos nossos, na sua maioria,
estarem incompletos nas margens, por conseguinte, com menos um ou dois
centímetros.[92]
As que se relacionam com as ligeiras
diferenças nas tonalidades cromáticas ou, pura e simplesmente, no uso de outra
cor, podem-se igualmente explicar.
Os elementos A do Padrão 37, por
exemplo, de Santo André de Vila Franca do Campo e os nossos são em tudo
semelhantes, (apesar da colocação divergir da sugerida por Santos Simões ),
porém, Santos Simões no desenho que apresenta daquele padrão utiliza o azul em
vez do branco para cobrir a nervura central do pequeno motivo floral do canto
do azulejo. O pormenor em ocre do elemento B sendo idêntico ao nosso e ao de
Santo André , porém, difere
ligeiramente do do dito esboço. Apesar de tudo o eng. Santos Simões não hesita
em identificá-los como elementos constitutivos do padrão 37. [93]
Alguns elementos B do Padrão 35
existentes na Capela de Nossa Senhora do Cabo, na Vila da Lagoa, exibem no seu
canto superior pequenas formas lanceoladas, tal como os nossos, porém em outros
elementos B, por vezes no mesmo padrão inclui no mesmo canto igualmente
pequenas formas, mas curvilíneas. Santos Simões, apesar destas diferenças,
incluiu-os também na padrão 35 [94]
Para além destas ligeiras diferenças no
formato dos motivos ornamentais e nas suas cores, existem pequeníssimas
gradações cromáticas, coexistindo no mesmo local, no mesmo padrão e até no
mesmo elemento.
Tal deve-se, sem dúvida, à cozedura do
azulejo, e talvez, ao local onde foram colocados ou recolocados. Não só porque
a luz natural suscita uma percepção cromática diferente da da luz artificial, mas
também pela acção dos agentes de poluição e de desgaste que agem sobre eles.
Após cuidadosa limpeza da superfície
esmaltada as tonalidades podem aproximar-se das primitivas.
Alguns dos nossos azulejos foram
encontrados entulhados em locais bastante húmidos, ( vide quadros XVI e XV ) por conseguinte, a superfície
esmaltada estava impregnada de uma espessa camada de sujidade que impedia a
correcta percepção das suas tonalidades. Do mesmo modo e mercê do fumo das
velas, das poeiras suspensas e das mudanças humidade / temperatura, bem como
através da própria respiração humana, ainda que em escala menor, encontrei os
azulejos de Santo André como os da Capela do Cabo sujos na superfície esmaltada.
Os elementos do Padrão 12 ( maçaroca )
( quadro XVII e XX ) correspondem
exactamente aos nossos.
Quanto aos de padrão 20, Santos Simões
refere dois locais nas ilhas ( Igrejas de São José em Ponta Delgada [95]
e antigo convento de Santa Clara no Funchal [96];
porém, por um lado, como só vi os da ilha de São Miguel, pelas razões atrás
referidas e, por outro, como o padrão camélia da Igreja de São José ( São
Miguel ) não ser, como se depreende do seu cotejo com o catálogo, P20 mas na
realidade P18, circunscrevi-me, assim, ao catálogo. [97]
Deste cotejo verifiquei a
correspondência quanto à forma, já que o não pudemos fazer quanto à cor e às
dimensões.
Os acessórios B2, C3 e dentes de serra
também coincidem. Vi o B2 no catálogo
bem como os dentes de serra e o C3 na capela da Rosa. Resta-nos uma barra não
referida no catálogo, todavia, existe correspondência morfológica entre esta
barra e as identificadas. ( vide quadro XV )
O eng. Santos Simões, um dos maiores
especialistas da matéria, e sobretudo estudioso da azulejaria dos Açores e da
Madeira, não considerou as pequenas diferenças referidas como obstáculos à sua
cabal identificação. Deste modo e, baseando-me, neste pressuposto ( diga-se
inseguro porque deste cotejo muita coisa relevante pode escapar), ensaiei a
identificação dos nossos a partir dos dados morfo-históricos comparados. ( vide
quadros XXIII-XXVI ).
Identifiquemos, deste modo, os nossos,
excluindo deste processo a identificação do seu local de destino que ensaiarei
no capítulo seguinte.
Em primeiro lugar, trata-se de azulejos
de padrão policromo seiscentista, provavelmente do segundo terço daquele
século. ( ver quadro V ao X ), excepto o
azulejo ( quadro- XVII ) sublinhado a traço de roxo de manganês que se situa no terceiro quartel.[98]
Em segundo lugar, vieram, muito
provavelmente da cidade de Lisboa [99]
onde, segundo José Meco, eram produzidos em larga escala e daí difundidos a
todo o país e ás colónias, parecendo também
mais plausível e crível a Santos Simões a sua origem lisboeta.
CAPÍTULO III
Os azulejos que recolhemos,
vindos
provavelmente da cidade de
Lisboa no
século XVII, a que local
da Ribeira Grande se
destinaram ?
Desconhecendo a existência de provas,
quer coevas quer posteriores, resta-me tentar percorrer um caminho inverso.
Partindo dos locais onde os descobri tentarei chegar ao(s) seu(s) local(is)
primitivo(s).
A maior parte do acervo azulejar que
recolhi provém da fachada da Igreja Matriz da Ribeira Grande e do ex-Externato Ribeiragrandense, os
primeiros recolhidos na torre e os segundos no armazém camarário na rua do Ouvidor. [100]
No primeiro caso, “ os azulejos que
havia na parte central da fachada [101]
da Igreja Matriz , sendo de padrão policromo (branco, amarelo e azul ), ao
gosto do século XVII, mostravam bem ter sido ali recolocados, não só pela
irregularidade das quinas e dos cantos mas ainda pelo preenchimento ad hoc dos
parâmetros, sem qualquer emolduração ou contorno racional dos acidentes
arquitectónicos” [102]
Quanto ao segundo, Santos Simões
adianta-nos que “ em dependências interiores [ do Externato ] foram colocados
azulejos de padrão policromo, cuja proveniência se desconhece mas que bem pode
ter sido a mesma dos que ornamentaram a fachada da Matriz da Ribeira Grande. “[103]
Lamentavelmente, porém, desconhecemos[desconhecía até 1997, como veremos] qualquer nota alusiva à sua colocação,
recolocação e remoção. Possuímos, tão-somente, alguns dados sobre as suas
últimas remoções, pouco ou nada esclarecendo a sua primitiva colocação. Acerca
da remoção dos da Matriz, Santos Simões diz que “..., foram eles arrancados e
destruídos em 1959, quanto das obras de “ reintegração e beneficiação “[104].
Porém, inclino-me para uma data
sensivelmente anterior. Em primeiro lugar, o P.e Manuel de Sousa, ex- Prior da
Matriz, iniciou o seu múnus sacerdotal naquela igreja em 1957, pouco antes do
falecimento do Prior Evaristo Carreiro Gouveia e, segundo me afiançou, os
azulejos já estavam retirados.
Em segundo lugar, encontrei uma
fotografia da procissão do Coração de Jesus de Setembro de 1956 ou de 1957, na
qual se notam cinco pormenores deveras relevantes. [105]
1- A estrutura norte, em cujo primeiro
piso se encontra o Baptistério anexo à
fachada, encontra-se destelhada.
2- São visíveis andaimes na fachada,
bem como se nota a ausência de azulejos, seja na parte superior do frontão
subposto à cruz cimeira, seja no mesmo frontão mas na parcela a norte da
janela.
3- A ponte, cujo alargamento se
inaugurou em 1957 ( conforme data ali colocada ) ainda se encontra na forma
anterior a 1957.
4-O prior ainda se encontrava vivo,
como se pode ver no canto inferior esquerdo da fotografia ( faleceu aos 18 de
Novembro de 1957 )
5-Quem leva o pendão do Coração de
Jesus é a proprietária da fotografia, tendo esta comungado em 1957 e 1958. Por
duas razões, porém, ela afirma ser de 1957. Primeiro, porque o senhor prior
ainda estava vivo e, em segundo lugar, porque, regra geral, quem repetia a
comunhão, normalmente, levava outro traje e não levava o pendão. Em todo o caso
foi antes de 1959.
Um
documento encontrado em 1991, dois anos após a elaboração deste trabalho, na
antiga Repartição dos Edifícios e Monumentos Nacionais, ao Terreiro do Paço,
confirma esta hipótese lançada em 1989. Vejamos:
« -
[Auto de Vistoria de 23 de Agosto de 1956] Arranque de azulejos na fachada principal
com limpeza. 30,00 - Quantidade - 15$00 - Preço unitário - 450$00 - Importância
total. »[106]
Os do Externato foram recolocados,
segundo o Dr.º Manuel Barbosa, logo após a transferência daquele
estabelecimento de ensino para a rua de Sousa e Silva n.º 7, depois do verão de
1948 ou do de 1949, tendo sido, de acordo com o mestre de obras, removidos
talvez em 1984. [107]
Em todo o caso, só isso sabemos. O que
ensaiarei não passará, pois, de um exercício de esgrima mental, para a qual
disponho de pouca ou de nenhuma prova, todavia, mesmo assim, valerá a pena a
tentativa, nem que seja pelo exercício em si mesmo.
Neste momento, ocorre-me o pensamento
de Margarite Yourcenar sobre os historiadores:
“Os historiadores apresentam-nos, do
passado, sistemas excessivamente completos, séries de causas e efeitos exactos
e claros de mais para terem sido alguma vez inteiramente verdadeiros; dispõem
de novo esta dócil matéria morta, e eu sei que Alexandre escapará sempre mesmo
a Plutarco. “[108]
Tendo este pensamento em mente e, tal
como qualquer detective, o historiador nestas circunstâncias, começa por
rascunhar o perfil dos suspeitos.
A que locais, no século XVII, teriam
eles possivelmente pertencido?
Partindo
do estudo do eng. Santos Simões ficamos a saber que, no que concerne os
arquipélagos dos Açores e da Madeira, o tipo e as espécies azulejísticas em
questão quase só se encontraram em
edifícios religiosos, designadamente em mosteiros, conventos, igrejas e
capelas.
Efectivamente, compulsando o dito
livro, só encontramos o P37, P35, P20, P12, C3, B2 e dentes de serra, em
edifícios religiosos .[109]
Num universo de onze mosteiros e
conventos, oito eram de Franciscanos e de Clarissas, apenas dois de Jesuítas e
um de Gracianos.
Quanto às igrejas e às capelas, três
eram igrejas, sendo uma Sé Catedral ( Angra do Heroísmo ) e, somente duas
capelas, ambas particulares. [110]
O que equivale, em termos estatísticos,
a um predomínio dos edifícios do clero regular ( c. de 69 % ) em relação aos do
clero secular ( c. de 18%) e às capelas particulares ( c. de 12 %, apenas )
Por conseguinte, nesta ordem de ideias,
tornam-se mais suspeitos os edifícios do clero regular, no caso da Ribeira
Grande o mosteiro de Jesus e o convento de Nossa Senhora de Guadalupe, para
além do mais pertencendo ambos à família franciscana que num universo de onze,
detém 78%.
Estes dados estatísticos hierarquizam
potenciais candidatos, o que é vantajoso como hipótese de trabalho, porém, o
seu uso exclusivo, decerto trairia a imensidade de possibilidades.
Assim, discutirei todos os indícios
conhecidos acerca de quaisquer candidatos, sejam eles os conventos e os
mosteiros, sejam as igrejas e as capelas, inclusive, se for o caso, edifícios
civis.
No século XVII a Ribeira Grande tinha
um convento de Franciscanos e um mosteiro de Clarissas, uma igreja da
Misericórdia, várias igrejas e capelas.[111]
Um suspeito : A ermida de Nossa
Senhora da Caridade (s) ou da (s) Candeia (s).
Ao que sabemos foi, o Dr.º Jorge Gamboa
de Vasconcelos quem primeiro lançou esta
suspeita: “... pregunto [ sic ] a mim mesmo se esse templo não seria a ermida
de Nossa Senhora da Caridade (ou Caridades) ”[112]
Esta ermida, de acordo com testemunhos
orais e alguns parcos indícios, poderá ter sido o local ( ou um dos locais) de
destino dos primitivos azulejos seiscentistas.
Todavia, nada nos impede ou desautoriza
de pensar que, paralelamente à hipótese de um único local de origem, deve e
pode acrescentar-se-lhe a de mais de um local da ex-Vila e quiçá, de fora dela.
Entre outros factos menos relevantes, a
nossa argumentação tem de elucidar as seguintes questões:
1- Possuiu ou não a dita ermida
azulejos seiscentistas?
2- Não sendo possível responder à
primeira questão, poder-se-à, ao menos, indiciar a possibilidade de ela os ter
tido?
3-Se os teve, ou se é provável que os
tenha tido, teremos ainda que provar o seguinte:
a) Que tenha tido azulejos em número
suficiente para revestir a parcela azulejada da fachada da Matriz.
b) Que os seus hipotéticos azulejos
fossem do tipo e do padrão identificado.
c) E, por último, não basta provar que
os tenha tido ou que é provável que os tenha tido em número e no tipo dos
identificados, sendo necessário provar que foram parar à fachada da Matriz. Só
assim estabeleceríamos a prova da proveniência de parte dos que recolhemos.
Nada mais, porém, poderemos fazer do
que insinuar a possibilidade da existência naquela ermida de azulejos
seiscentistas e, talvez, indicar a sua possível recolocação na dita Matriz.
A ermida é referida por Fr. Agostinho
de Monte Alverne [113],sendo-o
igualmente por António Cordeiro, [114]
tanto um como o outro atribuem-lhe à invocação de Nossa Senhora da Caridade,
acrescentando o segundo “ o...que era da muito nobre Julia Taveyra,...”[115]
Talvez mais de dois séculos depois, em
1858, o Prior da Matriz de então ‘Manoel Cabral de Mello’, escreve nas notas
para o livro do Tombo que existia (em 1858 ) ” 4ª no Adro da Igreja
Parochial,[sic] da invocação da senhora das Candêas,...”[116],
registe-se-lhe a diferente invocação, porém, igualmente”...fundada por Dona
Julia Taveira.”.[117]
Ao certo sabe-se que no adro da Igreja
da Matriz uma D. Julia Taveira herdara ou fundara ( ou até mesmo um seu
sucessor ou sucessora, não interessa para o caso ) uma ermida. Quanto à sua
aparente ou real dupla invocação, poder-se-à tratar ou de erro [118],
ou de mudança, ou até mesmo, quiçá de duas ermidas distintas. Ao que parece tal
ocorrência teve lugar posteriormente.
É, porém muito provável, que a ermida
tenha sido construída no século XVII, já que Frutuoso, que morre em 1591, nada
diz a seu respeito, e no século XVII tanto Cordeiro como Monte Alverne se lhe
referem [119]
Provável, muito, é também a sua
atribuição a D. Júlia Taveira, aliás, como veremos, segundo Hugo Moreira, D.
Júlia Taveira de Neiva.[120]
É importante registar que já no século
XVII Cordeiro a atribuiu, tal como vimos, a D. Júlia Taveira.
Existe actualmente no altar de Nossa
Senhora da Piedade, na Igreja Matriz, um lampadário de prata atribuído àquela
ermida [121] que
contém a seguinte inscrição :”IVLIA TAVEIRA ANNO 1660”[122]
Partindo do princípio que esta
inscrição é autêntica e coeva, igualmente pressupondo e aceitando que o
lampadário proveio da dita ermida, a data inscrita para além de revelar
provavelmente o ano do seu fabrico, pode insinuar, por um lado, a data da
construção da ermida a que pertenceu, ou então, por outro lado, refere-se a um
período de obras ou de beneficiações da mesma ermida.
A data, 1660, situa-se no período
atribuído aos azulejos que recolhemos. Em qualquer dos casos, apesar de
adiantarmos só indícios, não devemos excluir a hipótese ou a do seu
azulejamento.
Não seria um caso isolado, já que, em
1675, a ermida de Nossa Senhora do Cabo, na Vila da Lagoa, foi azulejada tanto
no interior como na fachada, constituindo este último facto um pormenor
singular no panorama da azulejaria portuguesa.[123]
Esboçaremos provar que a dita ermida
foi construída pela família Taveira de Neiva e que possivelmente foi azulejada
seguindo o exemplo de outras já azulejadas ou até mesmo servindo de exemplo.
Maria Olímpia da Rocha Gil diz que “...
foi Francisco Taveira de Neiva, falecido em 1624, na Vila da Ribeira Grande, S.
Miguel. Cavaleiro fidalgo, homem da governança da Vila onde morava, junto do
adro da igreja de Nª Sr.ª da Estrela,... “[124]
repare-se que era fidalgo e morador junto ao adro da igreja onde Cabral de
Mello situa a ermida fundada por D. Julia Taveira, aliás de Neiva, filha do
dito fidalgo. [125]
Mais à frente, Maria Olímpia, acrescenta
que “..., Francisco Taveira de Neiva ocupa lugar de destaque entre esta
aristocracia insular de grandes proprietários de trigo e de pastel dos finais
do século XVI, começos do século XVII. “[126]
É provável que a família Taveira de
Neiva, grande proprietária, exportasse os seus trigos e pasteis seja pela vila
da Lagoa, seja pela cidade de Ponta Delgada, tanto mais que a Ribeira Grande,
não possuindo um porto de mar, exportava a sua produção principalmente pela
Lagoa.
“É, este dos Carneiros [ Lagoa], bom
porto [ diz Gaspar Frutuoso],principalmente de Verão, de que se serve a Vila [
Lagoa] para suas pescarias e necessidades e carregação, e nele se carrega todo
o pão que vai da banda do norte, como da Vila da Ribeira Grande e seu termo,
com a obrigação que têm ali de guardar, sem contradição, os despachos que pelos
oficiais da Câmara dela vão assinados, porque assim o tem a vila da Ribeira
Grande por sentença, em um litígio que sobre isso tiveram.”[127]
A estes inconfundíveis laços
comerciais, poderíamos acrescentar os laços sócio-culturais. Assim sendo, não
repugna supor que tivesse existido influência ao ponto dos Taveira de Neiva
terem influenciado ou sido influenciados pelo azulejamento da sua ermida.
Deve-se considerar relevante o fenómeno sócio-cultural de transmissão de
estilos e gostos artísticos entre estratos sociais afins. Era frequente, entre
os fidalgos e não só, construírem ermidas junto às suas residências. De meados do
século XVII, temos, neste caso, 1651, a ermida de Nossa Senhora da Salvação. [128]
Sendo plausível esta hipótese, todavia,
não possuímos nenhum dado concreto. Acrescentamos a estas conjecturas uma
outra, se bem que ténue, oriunda da tradição oral, segundo a qual Jaime Cabido
Ferreira e Caetano da Silva Moniz teriam visto azulejos na dita ermida.
Estes testemunhos foram-me recentemente
transmitidos pelo Dr.º Jorge Gamboa de Vasconcelos, que com ambos dialogou
sobre o assunto, nomeadamente, com o primeiro.
Seria óptimo se conseguíssemos obter as
seguintes informações :
1-A confirmação da existência de
azulejos na ermida.
2-Que estes foram retirados e
recolocados da fachada da Matriz.
Antes, todavia, temos de apurar se
ambos, ou um deles, teria, efectivamente
visto na dita ermida azulejos ?
Tê-los-iam, porém, visto colocados,
recolocados ou simplesmente armazenados, vindos de outro local ?
Teriam sido testemunhas da remoção e
recolocação na Matriz ?
É pouco provável que eles assistissem à
recolocação na fachada da Matriz, todavia, poderiam ter ouvido de alguém que
viu, podendo ainda ter visto azulejos colocados, recolocados ou armazenados na
dita ermida, neste caso azulejos que sobravam ou da ermida ou de outro local.
O que é certo é que eles não foram testemunhas
oculares da recolocação na Matriz, pelo menos na parte apresentada por Cândido
Abranches, já que o primeiro nasceu em 18/12/ de 1879 [129]
e o segundo em 2 ou 22 de Julho de 1875. [130]
Portanto,
treze e nove anos, pelo menos, após a recolocação. (?)
Com data de 23 de Setembro de 1866,
Cândido Abranches, remete ao seu patrocinador, o Sr Visconde da Praia, uma
cópia do seu Álbum que sairia do prelo em 1869. [131]
Nesta obra figura a gravura XXX onde se
vê esboçada a fachada da Matriz já azulejada, pelo menos quase toda a área que
foi revestida, à excepção, a julgar pela gravura, da parte superior do frontão
subposto à cruz cimeira, o que poderia ter ocorrido após Abranches ter
recolhido as suas notas.
Quando recolheu ele os dados sobre a
Matriz ? Não sabemos ao certo, porém na introdução Abranches confessa que o seu
livro era “...o fructo de aturados labores em bastantes annos,...”[132]
O facto de C.A. não nos parecer ter
esboçado a dita parcela da fachada deixa em aberto a hipótese de ela ter sido
revestida em data posterior à recolha de C.A. ; por conseguinte, neste caso,
não seria improvável que uma ou as duas testemunhas o pudessem ter visto. [133]
Temos, porém, de convir que os azulejos
poderiam ter lá sido recolocados, vindos não se sabe bem de onde, num período
de tempo que vai desde o início do segundo quartel de setecentos, altura em que
a igreja foi reconstruída, [134]
até cerca de 1866 (?) data em que Cândido Abranches recolheu os elementos para
a elaboração da gravura XXX ( ele ou outro ).
Todavia, se porventura a parte superior
do frontão em 1866 ou perto ainda não estivesse azulejada, podemos supor duas
coisas:
1- Continuar a pensar que já há muito
ou pouco tempo, tinha sido azulejada, mas que aquela parcela não o fora ou que
o tendo sido, por qualquer razão tenha perdido os azulejos.
2- Que em 1866 ou perto se estava a
proceder ao acabamento do azulejamento da fachada.
Mas, mesmo que as duas testemunhas
tivessem vivido muito perto da época em que se presume que os azulejos foram
recolocados, tal facto só por si não nos garante que tivessem transmitido a
notícia do ocorrido com exactidão.
Analisemos como se processou a
transmissão da informação. As duas pessoas que presenciaram ou que simplesmente
ouviram de quem ouviu ou viu, volvidos muitos ou poucos anos, não o sabemos,
transmitiram, sabe-se lá como e em que contexto, a informação a uma terceira
pessoa, tendo esta, por sua vez, transmitido a informação a uma quarta pessoa,
volvidos pelo menos vinte ou trinta e nove anos.[135]
A informação obtida através do recurso
às fontes da tradição oral é preciosa, sobretudo no nosso caso, quando se
desconhecem outras provas. Porém, há que ter em conta a sua natureza. Para
obter o máximo de informação útil, temo-nos que rodear de cautelas e
munirmo-nos de métodos adequados.
Além do mais, “ le discours sur le
passé enfin, et nous l’avons précédemment dit en filigrane, n’est pas forcément
“passeíste”. On le comprend aisément: le passé peut être conçu comme
définissant une dynamique à venir, un ressourcemente qui n’exclut pas les
donnés actuelles mais simplement les corrige, les repense et les enrichit,
cherche à les percevoir comme le fait d’une évolution et non d’une rupture.”[136]
Vejamos um caso concreto. A remoção dos
azulejos da Matriz ocorreu não há muito tempo, todavia, quer o pedreiro que lá
esteve, o mestre Almeida, quer alguns vizinhos da igreja, seus frequentadores
assíduos, não me souberam precisar a data certa da remoção.
É ainda possível aceitar-se que
existiram azulejos ( seiscentistas ?) na e da dita ermida e que, creio eu, após
1858 e à volta de 1866, tenham ido para a fachada da Matriz, sendo, porém,
menos provável que o tivessem feito antes de 1858, e muito menos antes de 1852.
Não obstante os fortíssimos abalos
sísmicos de 1852 [137]
o Prior Manoel Cabral de Melo em 1858, seis anos apenas após a ocorrência,
ainda se refere à ermida nos seguintes termos:
“ 4ª No Adro da Igreja Parochial, da
invocação da Senhora das Candêas, fundada por Dona Julia Taveira. Não tem
serventuario. Tem de renda, proveniente d’un foro - 20$500 rs.”[138]
Ao que parece, ela manteve-se de pé,
sendo provável que o Prior a não incluísse na lista se estivesse
irremediavelmente arruinada. Para além do mais a ermida dispunha de uma renda
que poderia ter sido utilizada para
reparar os danos do sismo. Aquele foro correspondia, pouco mais ou
menos, à soma que vitaliciamente Madre
Margarida Isabel do Apocalipse recebeu até 1858 [139]e
do preço de uma das suas casas vendida na década de setenta daquele século. Por
conseguinte, tratava-se de algum dinheiro, talvez o suficiente para reparar a
ermida.
Tanto mais que em 1852 o Prior da
Matriz, Francisco José Pacheco, diz explicitamente: “ Em os dezeseis dias do
mez d’Abril do anno de mil oito cincoenta e dois, sendo pouco mais das déz
hóras da tarde, ou noite daquelle dia, se sentio em toda esta Ilha úm grande
abálo da terra, ou terramoto : todos os edifícios da Ilha sofrerão ruinas, uns
mais, outros menos: esta Matriz pouco sofrêo só apparecerão, algumas fendas nos
cantos das paredes do Côro junto ao frontispício: desabôu párte da cimalha do
gradiamento de pédra da tôrre dos sinos, quebrando em baixo degráos do ádro:
algumas Pessoas morrerão de báixo das ruínas causadas pelo terramoto, e outras
ficarão feridas: nesta Villa só morrerão duas raparigas na Rúa dos foros, da
Freguezia da Conceição, sendo Irmãas, de idade, uma de dezoito annos, e outra
de quatorze: foi, horrorõso: duróu somte. doze segundos, e á (?) continuár por
mais alguns de cérto ficariá toda a Ilha reduzida a um montão de ruinas e
debaixo d’estas sepultadas os seus habitantes: não consta que a Ilha em tempo
algum sofresse outro igual, e para que os Vindoûros tenhão conhecimento d’esta
desastrosa calamidade, faço esta declaração, vále aentre linha que diz ruínas.
Ribrª. Grde. 3 de Maio de 1852 O Prior Francisco José Pacheco. “[140]Como
se depreende nada aconteceu à ermida.
Segundo os dados da genealogia da
família Taveira de Neiva, da autoria do Dr.º Hugo Moreira, aquela família foi
ficando sem descendentes legítimos e extinguiu-se em 1861, quando D. Angélica
Joaquina Taveira, faleceu na vila de Corumbá, no Brasil.[141]
Assim sendo, e sem ninguém para cuidar
da ermida, é provável que esta se fosse,
a partir de então, arruinando até ser demolida, segundo se crê, no final do
século passado ou no início do presente.[142]
Deste modo se compreende que já referidas testemunhas a tenham conhecido.
Viram azulejos ? Podem muito bem ter
sido os que sobraram do revestimento da Matriz e que aí estivessem estado
armazenados. Teria tido a dita ermida azulejos suficientes para revestir a
fachada da Igreja ?
Fizemos os nossos cálculos e achamos
que sim. Estiveram a revestir a Matriz cerca de 1800 azulejos [143].
Medindo uma ermida seiscentista, a de Nossa Senhora da Salvação, [144]
verificamos que tinha uma área parietal mais do que suficiente para levar muito
mais do que 1800 azulejos. [145]
Não pudemos, como é obvio, incluir nos
nossos cálculos, os imponderáveis e hipotéticos estragos do sismo de 1852.
Finalmente, numa análise aos elementos
constituintes dos padrões de grande dimensão P 37 (6x6), leva-nos a supor que
foram utilizados em grandes superfícies parietais. Ou o P37 (6x6) e o P35
(4x4), estavam decompostos em pequenos padrões 2x2 [146](aliás
tal como já vimos no caso do P35 para a capela de Nossa Senhora do Cabo e mesmo
para a fachada da Matriz) ou então é muito possível terem pertencido a
edifícios maiores.[147]
Muito
depois de 1989, altura em que o grosso deste texto foi elaborado, descobrimos
novos indícios: uma acta da edilidade e fragmentos de azulejos. A acta, de Maio
de 1856, refere que iria à praça « para ser arrematada para sempre a Caza e
quintal dos herdeiros de António Pinto Taveira», repare-se no local exacto:
«Situada junto ao Adro da Matriz d’esta Villa ». Já agora «onde a Camara
Municipal da mesma tem projectado fazer hum Mercado»[148]
Naquele local exacto- caso a compra se tenha efectuado -, fomos recolhendo
fragmentos de azulejaria seiscentista semelhante à encontrada nas terras do
mosteiro e na torre da igreja Matriz. Serão da dita ermida,da igreja Matriz que
lhe fica defronte, de ambas, de outro local?
Se é impossível provar, com os dados
que dispomos, com certeza absoluta, que
existiram azulejos seiscentistas na ermida e que estes foram parar à fachada da
Matriz, é igualmente impossível provar-se o contrário.
Existem, porém, outros candidatos cujos
indícios serão, porventura, mais perturbantes, nomeadamente o mosteiro do Santo
Nome de Jesus, na ex-vila da Ribeira Grande .
OUTRO CANDITATO: MOSTEIRO DE
JESUS DA EX-VILA DA RIBEIRA GRANDE
Foi,
” na era de mil e quinhentos e trinta e seis, pouco mais ou menos, que Pero
Roiz da Câmara e sua mulher, D. Margarida de Betencor, fundaram o mosteiro de
Jesus na Vila da Ribeira Grande, no assento e casas onde eles mesmo moravam. “[149]
Depois, sendo o mosteiro destruído, recolheram-se as freiras em 1563 a Ponta
Delgada “ E tornaram na de setenta e sete [ 1577 ]” [150]
Volvidos quase três séculos, em Junho
de 1832, [151] um
mês após o decreto de extinção das ordens religiosas de 17 de Maio de 1832, [152]
as freiras saem definitivamente do mosteiro.
“ Artº 1º - Ficam supprimidos os seguintes
Mosteiros de Religiosas, a saber:
... Na ilha de S. Miguel..., assim como
o de Jesus na Ribeira Grande”[153]
Aos catorze de Dezembro de 1833,
conforme título público passado em nome do Provedor Interino do Concelho da
Ribeira Grande, António Manuel da Silveira Estrella, o mosteiro e suas
dependências foi arrematado em hasta pública. [154]
Estes bens de raiz, fazem parte do
património de Dona Mariana Amália Narciza, primeira esposa de José Maria da
Câmara Vasconcelos que aparece como seu inventariante num documento de 7 de
Janeiro de 1834.[155]
Em Agosto de 1858, o prior Cabral de
Mello diz que “ O frontispício da Igreja da Ribeira Sêca, era o da Igreja das
Freiras. “[156]
Independentemente de o interpretamos à
letra ou não, que a fachada tenha sido transferida e reposta tal qual ou se
somente parte ou tão somente que a fachada tenha sido transferida e reposta tal
qual ou se somente parte ou tão somente a pedra utilizada foi adaptada, o certo
é que, e é o que nos interessa provar, ocorreram, em qualquer dos casos,
demolições, em data desconhecida, mas provavelmente entre Junho ou Julho de
1832 e Agosto de 1858.
Assim sendo, e caso aí existissem
azulejos, estes teriam forçosamente de ser removidos.
Porém, não encontramos quaisquer
referências escritas, seja coevas, seja posteriores, aludindo à existência
naquele estabelecimento religioso de azulejos seiscentistas. Todavia,
encontramos, em vários locais onde se erigia o mesmo, centenas de fragmentos de
azulejos. [157]
É evidente que os fragmentos podem ter
lá ido parar posteriormente, neste caso, nada tendo a ver com o Mosteiro. Só
uma intervenção arqueológica poderia responder a essa dúvida.
“ Archaelogical excavations are
ultimately a process of recording subsurface features and the provenience, or
precise relationships, of the artifacts within the site.”[158]
O derrube das paredes da igreja e das dependências do mosteiro de
Jesus provocou, decerto, espaços vazios no terreno que tiverem de ser
preenchidos a fim do terreno, ou parte dele, ser utilizado para fins agrícolas.
Este preenchimento pode ter sido feito,
em parte recorrendo aos entulhos do
próprio Mosteiro que seriam recobertos com a terra adjacente.
Existem, nas paredes interiores da
ex-cerca do mosteiro, sinais visíveis de remoção de terra, sobretudo no lado
nascente, onde parte da pedraria dos alicerces que deveria estar soterrada,
nalguns pontos, está a mais de um metro acima do nível do terreno, indício de
que a terra que os cobria foi removida para as partes mais baixas do terreno
situadas nos lados norte e poente, precisamente no local onde deve ter estado
implantado o Mosteiro. (?) [159]
A suspeita acerca dos azulejos do
mosteiro começou em finais de 1987, no último trimestre, quando encontrei numa
vala paralela ao passeio junto à parede norte, onde provavelmente outrora
ficaria a fachada principal ou o adro do antigo Mosteiro [160],
e, designadamente entre o portão norte e o vértice formado pela rua de
Trás-os-Mosteiros e o murete gradeado do Ciclo Preparatório, alguns fragmentos
e azulejos seiscentistas, assim como outros fragmentos cerâmicos. [161]
A vala, porém, fora aberta a pá
escavadora mecânica, a fim de se substituir a tubagem de chumbo abastecedora de
água às residências circunvizinhas por outra tubagem de material sintético.
Em todo o caso, inspeccionando os
estratos, num e no outro lado da vala, verifiquei que, logo a seguir à camada
de areia suporte dos paralelepípedos da calçada se encontrava uma camada de
barro da qual recolhi alguns fragmentos de azulejos.
Todavia, não me foi possível proceder a
qualquer registo estratigráfico, porque a vala tinha de ser fechada o mais
depressa possível.
Para além do mais, a maioria do
fragmentos foram recolhidos da mistura de terras revolvidas pela pá mecânica.
Contactei com a Associação
Arqueológica do Arquipélago dos Açores,
que de Setembro a Outubro de 1988, promoveu uma campanha arqueológica, no
interior das terras do ex- mosteiro, onde em camadas de entulhos e em achados
de superfície foram encontrados, segundo me foi dado ver, fragmentos do mesmo tipo de azulejo.
Foram escavados dois hexágonos junto à traseira da casa do Sr. Pinheiro, que
confronta os terrenos do ex-mosteiro, e abertas duas valas de verificação, uma
perto da antiga ‘arquinha, [162]no
vértice sul-poente do terreno e a outra no interior do “quarto”, à entrada do
portão virado a norte. [163]
A classificação, identificação e estudo do que foi recolhido está a decorrer.
E, mais recentemente, em Março de 1989,
quando se procedeu à correcção do nó viário da rua de Trás-os-Mosteiros com o
denominado “ Adro das Freiras”, perto do local onde pela primeira vez encontrei
fragmentos, a pá escavadora descobriu muitos outros. [164]
Parte do troço poente do muro do Ex-Mosteiro foi demolido e remexida a terra
que lhe ficava a nascente. Foi neste troço que os encontramos.[165]
Terão estes achados, mormente os
primeiros e os últimos valor científico ou pelo menos algum valor documental ?
Quanto aos fragmentos recolhidos no primeiro e no último caso, descobertos a pá
escavadora, terão pouco valor arqueológico, visto que nos foi impossível
proceder ao adequado estudo e registo estratigráfico. Quanto ao segundo caso,
porém, objecto de estudo cuidadoso e metódico, o seu valor é mais seguro.
“ O estudo de uma estação arqueológica
não pára nas escavações. Antes de publicar os resultados de uma campanha - e
não os publicar equivale a destruir pela segunda vez aquilo que se devastou ao
escavar -, é preciso poder tirar conclusões. Ora, os elementos que uma
escavação fornece podem não ser suficientes. É necessário que o estudo pormenorizado
das amostras, dos objectos e de tudo o mais que se tiver encontrado no local,
venha em apoio das teses estabelecidas pelo arqueólogo. Os estudos tipológicos,
os exames das ossadas humanas e animais, o estudo tecnológico dos objectos
fabricados pelo homem, o estudo dos solos, das condições do meio, do clima, a
identificação dos pólens, etc., enfim, as estimativas absolutas ou relativas
das datas dos vestígios encontrados e o estabelecimento de cronologias, são
absolutamente necessários ao arqueólogo para estabelecer um quadro exacto da
vida durante as épocas estudadas e dos acontecimentos cronológicos que tiveram
lugar na estação escavada. Estas informações são indispensáveis para fazer da
arqueologia o que ela é verdadeiramente, não uma vã escavação da terra para
fazer a recolha de testemunhos, mas um estudo racional dos modos de vida e das
estruturas sociais, económicas e culturais dos povos do passado. “[166]
Até ao momento, estas descobertas,
talvez só nos permitam concluir que à data das escavações, foram encontrados
naqueles locais fragmentos de azulejos seiscentistas, mas, em si mesmas, não
nos autorizam a concluir que aqueles fragmentos pertenceram a azulejos do
Ex-mosteiro.
Desapareceram os Livros de Receita e de
Despesa do Século XVII do mosteiro e desconhecemos a existência de quaisquer
notas sobre a compra e a colocação nele de azulejos seiscentistas, todavia, a
existência deste tipo de azulejos, em quase todos os mosteiros de Clarissas da
Custódia Franciscana da Puríssima Conceição das Ilhas de São Miguel e Santa
Maria, lança a suspeita que o mosteiro de Jesus também os tivesse tido .[167]
Aqui o fenómeno da difusão de padrões
de gosto deve ter sido fortemente influenciado pelo gosto dos visitadores
Franciscanos que percorriam, um a um, todos os mosteiros da Custódia. Não
admira, pois, que os da dita Custódia, no que concerne a azulejos, apresentassem
sinais de gostos idênticos.
É certo, porém, que o mosteiro de Jesus
pode ter, neste contexto, constituído uma excepção à regra, porém, a tendência
uniformizadora deveria ter sido enorme e, para além do mais, o facto de termos
encontrado nas suas terras fragmentos, ainda que de atribuição problemática,
vem reforçar e avolumar as suspeitas.
Ambos constituem indícios de crédito a favor da sua existência no mosteiro de
Jesus.
Os próprios locais onde encontramos os
fragmentos parecem insinuar que estes lhe pertencessem. Vejamos. Ao serem as
paredes derruídas, e concomitantemente,
retirando-se-lhes os azulejos (?) , alguns fragmentaram-se, caíram ou foram
atirados para o chão, sobradado, térreo, de tijolo ou lajeado, seja para o seu
interior, seja para a rua. Os que caíram na terra foram sendo calcados pelos
materiais amontoados e os que caíram no sobrado ou no empedrado desviados para
a terra ou simplesmente empilhados. Tal como já foi atrás referido, é provável
que mais tarde, tenham sido espalhados pelos espaços vazios no terreno
provocados pela demolição dos edifícios e cobertos de terra arável.
A identificação de fragmentos
pertencentes a elementos do Padrão 37 (6x6), regra geral, utilizados em
‘tapetes’ que revestiam grandes superfícies parietais, também sugere a sua
utilização pelo Ex-mosteiro.
Porém, nada disso, é evidente, prova à
saciedade e sem ambiguidades que nele existiram azulejos, todavia, lança fortes
suspeitas.
Mas, supondo que lá existiram azulejos,
ainda temos que esclarecer três pontos.
Primeiro, foi o mosteiro efectivamente
demolido? Segundo, foi demolido no período em que se pensa que a fachada da
Matriz foi azulejada ? Terceiro, os azulejos da Matriz vieram do Ex-mosteiro ?
Cabral de Mello em 1858 afirma que “...
havia um [ Mosteiro ] do sexo feminino, onde se chama o Adro das Freiras. “[168]
Em Junho de 1832, como já indicamos,
são as religiosas expulsas a 9 de Junho, arrolados os bens móveis e os bens de
raiz inventariados:
“...
Houve por bem Supprimiar [ sic] o Mosteiro das Religiosas de Jezus desta Villa,
determino que Vossa Senhoria fassa invacuar o mesmo Mosteiro em trez dias
impreterivelmente, entregando as ditas Religiosas as Pessoas constantes da
Relação junta asignada pelo Escrivão José de Medeiros Souza outro sim [ sic]
determino que Vossa Senhoria passe a invatariar com o Sindico do Refferido
Mosteiro os Vasos Sagrados, Ornamentos e Vestiduras dos Artigos terceiro e quinto,
cuja copia também Remetto asignada [ sic ] pelo dito Escrivão fazendo Remover
tudo para a Matriz desta mesma Villa...” [169]
e mais adianta data: ...Villa da Ribeira Grande Seis Seis [ sic ] de Junho de
mil oito centos trinta e dois”...”[170]
Fica, por conseguinte, de Junho de 1832
até finais de 1833, mais de um ano, o mosteiro abandonado e exposto a todo o
tipo de vandalismo e à incúria dos tempos. Na Quaresma de 1834, vemos José Maria da Câmara de
Vasconcelos a morar lá, [171]
saindo logo após, só regressando na Quaresma de 1847. [172]
Por um lado, provavelmente, os
edifícios, naquele lapso de treze anos, devem ter ficado entregues a si mesmos,
e, por outro lado, devem ter sofrido obras de adaptação a moradia. De 1832 até
finais da década de quarenta, pelo menos, e segundo documentos do Arquivo
Municipal da Ribeira Grande, José Maria da Câmara Vasconcelos adquire e vende
bens de raiz, confessando, perto de 1850 que tem dificuldades económicas [173],
portanto, deve ter sido neste período que, para arranjar dinheiro, começou a
desmantelar o Ex-mosteiro e a vender tudo aquilo que pudesse interessar.
Os violentos abalos sísmicos de 1852,
caso o edifício ainda se mantivesse de pé, e sem os devidos cuidados de
manutenção, podem ter sido o seu canto de cisne, danificando-o irremediavelmente
ou mesmo derruindo o que lhe restava.[174]
Todavia a demolição pode ter sido feita
muito antes. Em 1858, o Prior Manoel Cabral de Mello, quando se refere à Ermida
das Caldeiras, que ostenta no seu frontispício a data de 1850, refere-se-lhe,
como tendo sido construída há muito poucos anos, sendo porém, no tocante ao
frontispício da Igreja de São Pedro, cuja proveniência, como já vimos, atribui
à igreja do Mosteiro, mais vago na datação, o que só por si, pode querer
indicar, para a demolição da igreja, um período de tempo algo anterior a 1850. [175]
O próprio Cândido Abranches ao declarar
que levara muitos anos a recolher os elementos para o seu Álbum, não sabemos
quantos, concluindo-o 1866, de certo modo, parece corroborar tal conjectura.
As demolições podem ter sido, por
conseguinte, levadas a cabo a partir de 1832, mas, muito provavelmente, na
década de quarenta, pelo menos em parte. Em todo o caso, antes de 1858 e perto
do período em que C. Abranches recolheu os dados para o seu “ Álbum”, no qual
já se vê os azulejos na fachada da Matriz.
Apesar de alguma evidência em relação à
existência de azulejos seiscentistas no Ex-mosteiro, falta-nos estabelecer a
ligação deles aos da Matriz. Também neste caso não possuímos documentação para
além da circunstância de os hipotéticos azulejos do Ex-mosteiro estarem
disponíveis à data (?) do azulejamento da Matriz e dos próprios fragmentos
recolhidos nas terras do Ex-mosteiro que, quanto aos P37, P35 e dentes de
serra, se assemelham aos que estiveram recolocados na Matriz.[176]
Por um lado, não obstante a
inexistência de provas concludentes, não obstante a vulgaridade deste tipo de
azulejos, mantemos de pé a hipótese de
que os azulejos do Ex-mosteiro pudessem
ter contribuído em parte ou na sua totalidade para o azulejamento da Matriz.
Todavia, por outro lado, prosseguimos na busca de outros suspeitos.
OUTRO SUSPEITO: O Convento
de Nossa Senhora de Guadalupe, vulgo Convento dos Frades da Ribeira Grande
Assim,
examinemos outro candidato, o convento de Nossa Senhora de Guadalupe. Situado
mesmo na entrada poente da Ex-vila e construído no primeiro quartel do século
XVII.
“... em 30 de Abril do ano acima [ 1612
], se anteciparam clero e povo, em uma segunda-feira da Pascoela, em que se
rezava dos Prazeres de Nossa Senhora e botaram a primeira pedra no edifício
deste convento, ...”[177]
e, “ cantou-se a primeira missa nesta igreja [ Nossa Senhora de Guadalupe ] em
10 de Fevereiro de 1613 .”[178]
As provas de que dispomos, acerca da existência naquele convento de
Franciscanos de azulejos seiscentistas, não são nem mais fortes nem melhores
das que aduzimos para os dois candidatos anteriores. Sem documentos históricos
ou vestígios arqueológicos, só dispomos de alguns azulejos a ele atribuídos
pelo Marquês de Jácome Correia.
Num catálogo publicado em 1944, inserta
na secção de azulejos, sob os números 8 e 13 o Dr.º Luís Bernardo escreve: “
N.º 8 - Quadro em 4 ornatos de 4 azulejos cada um, em azul e amarelo sobre
branco, e mais 2 azulejos em trechos separados; representando dois de eles,
faixas e outro, um mascarão composto de acantos estilizados. Época, século
XVIII. Este quadro foi oferecido ao Museu pelo Sr. Marquês de Jácome Correia em
1917- Os primeiros 16 azulejos, formando 4 ornatos, vieram do vestíbulo do
Convento da Ribeira Grande, hoje Misericórdia, os outros, da antiga ermida de
São Caetano situada nas areias de São Roque desta Ilha. “[179]
E, no número 13 da secção refere:
“Nº 13- Quadro com uma faixa em
dentadura de 14 azulejos de diversos tamanhos e mais 5 ornatos de 4 azulejos
cada um e um de 5 .- A faixa é pintada em azul e amarelo sobre branco e os
ornatos em azul sobre branco, representando um mascarão e encadeamento de
acantos estilizados. Século XVIII. - Este quadro foi oferecido em 1917 ao
Museu, pelo Sr Marquês de Jácome Correia, tendo pertencido os azulejos da faixa
ao Convento onde hoje se acha instalada a Misericórdia da Ribeira Grande,...”[180]
Mais tarde, o eng. Santos Simões, diz
em relação a azulejos que viu no dito museu: “ Muitos outros azulejos fazem
parte da colecção museológica , a grande maioria pertencentes a grupos
decorativos de padronagem policroma do século XVII, provenientes de demolições
não só dos conventos da Esperança e de Santo André, de Ponta Delgada, como do
antigo Convento de S. Francisco de Ribeira Grande, e da ermida de S. Caetano,
nas Areias de São Roque.”[181]
Quanto ao n.º 8, e no que concerne nos
atribuídos ao convento dos Frades, que corresponde ao Quadro n.º 384 [182],
Santos Simões diz que são” A ) Padrões do tipo maçaroca, vulgar 2x2 de pontinhas,
como os do quadro 398 “[183]
quanto ao n.º 13 ( Quadro n.º 389 ) e um dente de serra ligeiramente diferente
dos recolhidos na Matriz e no Ex-mosteiro de Jesus mas idêntico aos da ermida
das Caldeiras. [184]
Trata-se, pois , segundo lemos e vimos de elementos P12 (
maçaroca , para o n.º 8 ) e dentes de serra ( ligeiramente diferentes para o
n.º 13 ).
Ambos os quadros encontram-se,
presentemente, na arrecadação do museu. [185]
Portanto, segundo o Dr.º Luís Bernardo,
tais azulejos teriam, segundo informação do próprio marquês (?), vindo do
Convento dos Frades da Ribeira Grande, aliás, tal como um quadro setecentista,
representando o “ Cenáculo” que se encontra no Palácio de Santana.
“ II -Nossa Senhora de Guadalupe, do
antigo convento de - Do refeitório do vetusto convento franciscano da Ribeira
Grande, adaptado agora a hospital, veio
o grande painel de 14x16 azulejos mostrando, na parte central a representação
do Cenáculo “[186] e
mais adiante acrescenta :
“... Tipológicamente poder-se-à colocar
em época vizinha de 1735 -45 a julgar pelo estilo dos enquadramentos que se
vêem em Santo André [ Vila Franca do Campo ]”.[187]
Teria o Dr.º Luís Bernardo ou o Marquês
de Jácome Correia feito confusão? Não o sabemos. Todavia segundo o testemunho
do senhor Jaime Ferreira Cabido, transmitido ao Dr.º Jorge Gamboa de
Vasconcelos, o vestíbulo do ex- convento não teve azulejos. Recordava-se,
porém, da troca de materiais para restauro das cozinhas (?) pelo painel
setecentista.[188]
A este testemunho aponho as mesmas
reservas que referi quando analisei a ermida da Caridade. Em todo o caso
registe-se a dúvida.
Existe, porém, um outro vestígio
circunstancial, que, quiçá, pode reforçar as suspeitas Em 15 de Agosto de 1988
reparei, pela primeira vez, existir na ermida das Caldeiras, quer no seu corpo
principal, quer na sacristia, um rodapé de azulejos ( tipológicamente )
seiscentistas. Mais tarde, descobri na casa ao lado, propriedade do senhor
Humberto Viveiros, dois azulejos do mesmo tipo.
O grande impulsionador da edificação
daquela ermida foi, segundo Cabral de Melo, um ex-frade, egresso daquele
convento, cujo nome era Frei José da Purificação:
“10 a. Situada nas Caldeiras, a trez
quartos de Legoa [ ? ]ao sul da Parochia ;da invocação da Senhora da Saúde;
fundada, há poucos annos, por Dona Izabel Margarida Botêlho, na sua família e
outras pessoas devotas a instâncias do Sabio, e virtuoso Padre Mestre Frei José
da Purificação, da extincta Ordem Ordem de San Francisco, meu Sancto
Patriarcha. Não tem Serventário. Tem de renda proveniente d’um juro 2 400 rs. “[189]
Num Acórdão da Santa Casa da Misericórdia
da Ribeira Grande, datado de 30 de Setembro de 1839, o escrivão regista que
pelas 10 horas da manhã daquele dia o Administrador do Concelho tinha dado
posse do Edifício do Ex-Convento de S. Francisco aquela Santa Casa. Mais
adianta se faz o diagnóstico do que se necessitava fazer para adaptar aquele
edifício a Hospital: “ Concerto da cozinha do novo Edifício que vai servir de
Hospital : desmanchando-se a Caza, que em outro tempo servia de despejos por se
achar já de molida (sic ), e esta ter parte dos materiais, que se precisão para
a mencionada cozinha.”[190]
. Depois enumera, entre outros, o arranjo da casa e da cozinha do Boticário, o
retelho geral de todo o edifício, o concerto da casa do Consistório que ficava
sendo o lugar da sacristia velha ficando o local da Capítulo a servir de
sacristia à igreja, arranjo de fechaduras novas para todas as portas.[191]
Se em finais da década de 30 o
ex-convento se encontrava a sofrer obras de restauro e adaptação, a julgar pela
data do frontispício da ermida das Caldeiras, na mesma altura ou pouco depois,
esta última, encontrava-se em construção. Não seria improvável que o egresso,
empenhado como vimos, na construção da ermida, levasse para lá azulejos do seu
ex-convento. Nada, porém, o impedia de os levar de outro local. Os conventos
franciscanos das ilhas utilizavam muito aquele tipo de azulejo.[192]
Tendo desaparecido os Livros de Receita
e Despesa daquele convento, só nos resta talvez tentar descobrir zonas de
entulho do ex-convento e proceder a uma adequada intervenção arqueológica. Tal
seria como procurar uma agulha no palheiro, já que desde 1839 até ao presente,
novos edifícios se têm implantado nos antigos terrenos.[193]
Atentemos a dois pormenores curiosos.
1-
Os rodapés da dita ermida das Caldeiras são heterogéneos, sendo constituídos
por elementos dos Padrões 37, 35, 20, 12, C3 e dentes de serra ligeiramente
diferentes dos que recolhemos nos outros locais.
Para além do mais, estes últimos são
semelhantes aos existentes no Museu Carlos Machado e atribuídos ao ex-convento
de S. Francisco.[194]
Quanto aos C3 só os encontramos na Capela de Nossa Senhora da Rosa.
2-O Sr. Humberto Viveiros informou-me
que o seu avô construíra a casa onde veraneia junto à ermida, há mais de
sessenta anos e que nos alicerces da casa anterior o avô encontrara muitos
fragmentos e azulejos iguais aos da ermida, entre os quais dois, que recolocou
na sala de estar junto à lareira. [195]
Entre as infindáveis questões sugeridas
por estes indícios, tento ponderar nas seguintes, sem todavia, querer ou poder
esgotar as possibilidades:
1- Não se sabe quando o rodapé foi
colocado, sendo provável que o tenha sido na altura da construção da ermida (?)[196]
2-Pela heterogeneidade dos seus
elementos depreende-se que:
a) Sobretudo pelos elementos P.37 (6x6)
que vieram dum edifício com grandes superfícies parietais. (
não existia naquele local, ermidas antes
da construção da que nos referimos )
b) Que iriam utilizar os conjuntos
completos, mas que, por qualquer razão
que desconhecemos, não o fizeram.
3-Era intenção utilizar todos os que
vieram do ex-convento, mas a Matriz
antecipou-se ? ( As Caldeiras pertencem à paróquia da Matriz ).
4- Não houve antecipação e foram
utilizados os que sobraram do
azulejamento da Matriz vindos:
a) do Ex- mosteiro de Jesus ?
b) do Ex- convento dos Frades ?
c) de outro local tanto na vila ou fora
dela?
O
que sabemos, ao certo, é que, ao tempo provável da recolocação dos azulejos
seiscentistas na Matriz, existiam na Ribeira Grande, e mesmo fora dela,
azulejos disponíveis, e, assim sendo, como saber quem contribuiu ?
OUTRO SUSPEITO: A IGREJA DE
NOSSA SENHORA DA ESTRELA VULGO DA MATRIZ
- R.G.
Teriam
os azulejos recolocados na fachada da Matriz pertencido ao edifício anterior,
demolido em 1728 ?[197]
Antes, contudo, temos de ensaiar provar
que existiram, naquela igreja, azulejos seiscentistas do tipo dos que se
presume terem estado na dita fachada.
Foi o Dr.º Jorge Gamboa de Vasconcelos
quem pela primeira vez insinuou esta hipótese: “ Devem ter pertencido, pois, ou
a outra dependência da igreja [ Matriz ] ou a outro templo, [ refere-se, neste
caso, à ermida de Nossa Senhora da Caridade (s) ou da(s) Candeia(s) ]...”[198]
Por um lado a Matriz, fundada no inicio
do século XVI, [199]
no século XVII estava aberta ao culto, e por outro conhecem-se uma ou outra
igreja nos Açores azulejada no século XVII, com aquele tipo de azulejos [200]
Nos entulhos que “remexi” [201]
na sua torre, reconstruída em 1701, [202]
encontrei muitos azulejos e fragmentos do tipo em questão, que tanto podem ser
restos dos hipotéticos azulejos removidos em 1728 da Matriz, como também dos
que sobraram (?) da sua recolocação ou ainda dos da remoção final em 1956.
Só, talvez, uma análise mais
aprofundada dos entulhos poderia ajudar a solucionar este enigma. Em qualquer
das circunstâncias registe-se a possibilidade de os entulhos serem, em parte ou
na sua totalidade, vestígios de presumíveis azulejos da dita igreja. O que não
é de todo improvável, sendo, porém difícil fazê-lo.
Em primeiro lugar, os dados já
adiantados não passam de meros indícios circunstanciais; em segundo lugar,
desconhece-se a existência de Livros de Receita e de Despesa daquela igreja
anteriores a 1674, período provável do fabrico dos azulejos em causa.
Tanto quanto sei, o Dr.º Luís Bernardo
consultou o livro que começa em 1674 [203]
( que não pude consultar por desconhecer o seu paradeiro ) tendo encontrado
referências a azulejos setecentistas, [204]
e, das duas uma, ou ele consultou todos os livros de Receita e de Despesa,
nomeadamente a partir de meados do século XVII, e, nada encontrando, se pode
deduzir que não existiram azulejos seiscentistas, ou então, não os consultou, e
mantém-se a possibilidade da Igreja os ter tido. Tanto mais que ele, por um
lado, pode não os ter procurado, por outro, a informação acerca deles pode ter
sido escrita noutro tipo de documentação. Temos vindo, por várias razões, a
compulsar toda a documentação existente no Arquivo Paroquial, porém, nada
encontramos.
Estaria a igreja capaz de, no período
em questão, de meados de seiscentos até finais do 3º quartel daquela centúria,
receber tais azulejos?
Vamos ver se, entre 1650 e 1680,
existiu algo que impedisse ou desaconselhasse o seu azulejamento.
1-” Em 28 de Setembro de 1612 caiu a
capela - maior da igreja desta Vila, sendo de maneira muito formosa e a melhor
obra que havia no bispado; e a 2 de Fevereiro de 1622 se cantou já missa nela,
por estar já feito de abóbada (1) ”[205]
2-” A
torre da Ribeira Grande (sic), desta vila, caiu em 15 de Janeiro de 1681, com
quebramento de seus sinos, mas, por indústria do licenciado reverendo padre
vigário, o licenciado Jerónimo Tavares Homem, em 19 de Março de 1701, por estar
de novo feita com sinos novos, se ouviram nela repiques (1)” [206]
Ao que
parece, entre 1622 e 1681, nada aconteceu que impedisse ou desaconselhasse a
encomenda e colocação de azulejos do tipo em questão.
Provamos
a disponibilidade da igreja e insinuamos a possibilidade da sua existência,
porém, há que provar que os hipotéticos azulejos foram recolocados na fachada.
Em
primeiro lugar, em 1681 a torre caiu “ pª. dentro da Igreja [ e ] quebrou huma
naue e aRuinou algua das outras .”[207]
Sendo as superfícies parietais das naves um dos locais prováveis de colocação
de azulejos ( tal como se vê em St André-Vila Franca do Campo ), até que ponto
aquele desabamento prejudicou os hipotéticos azulejos? Não me parece que a
capela- mor os tenha tido visto que, em 1622 foi reconstruída e saindo”... obra
tão excelente, como hoje se vê.”[208]
Segundo diz Monte Alverne, se manteve, pelo menos até inícios de setecentos.
Tanto mais que “ Em 1696, o licenciado António Pais de Vasconcelos ordenou que
se azulejasse a capela- mor da Matriz da Ribeira Grande (2), “[209]
acabando por sê-lo em 1710 .[210]
Se os
teve, então foram retirados antes de 1710. Quanto aos das naves (?), em parte,
alguns teriam caído com o desabamento da torre em 1681, outros, em 1728:
“
Começarão logo no desmancho dadtª. obra a qual aCharão toda deSpregada [ sic ]
jncapax [ sic ] deq .[ ? ] offiCiais SobiSem [ sic ] atirar os maSSames [?] eSe
tinha empe por milagre.”[211]
Mas se
os azulejos foram retirados do interior da igreja, o mais tardar, ao que parece
em 1728, ( assumindo que ela os tenha tido) porque se esperou muito mais do que
um século para os recolocar na fachada, já que, ao que suspeito, a sua
recolocação ocorreu à volta de 1866 ? A igreja foi inaugurada em 1736. [212]
Resta-nos,
porém, a hipótese, da recolocação ter ocorrido perto da inauguração.
Temos
ainda duas questões a resolver.
1-
Partindo do princípio que a recolocação teve lugar logo após a inauguração em
1736 com os azulejos removidos do interior, ainda nos falta saber se foi
possível salvar azulejos em número suficiente, o que nos parece possível.
2-
Partindo dos mesmos princípios do ponto um, porém, situando a recolocação perto
de 1866, levantam-se outras questões.
a) Num
tão vasto lapso de tempo os azulejos da igreja poderiam ter sido destruídos.
b)
Poderiam ter sido recolocados em outros locais como por exemplo na casa da Rua
do Botelho e da de São Vicente ) [213].
c)
Arrumados e mais tarde utilizados na fachada
d)
Utilizados com outros provenientes de outros locais no revestimento da fachada.
O que
acima se escreveu, parece-nos plausível, porém, faltam-nos as provas.
OUTRO SUSPEITO: Igreja do
Espírito Santo, ou Igreja do Senhor dos Passos ou ainda da Misericórdia Velha
A igreja anexa ao antigo Hospital da
Santa Casa da Misericórdia da Ribeira Grande, bem como as suas dependências,
não deixa de ser um candidato plausível.
Conhecem-se inúmeros exemplos de
edifícios de Santas Casas com azulejos seiscentistas. Destaco, o das Caldas da
Rainha, e, ao que parece, o de Ponta delgada, na ilha de São Miguel:
1-” ”Despendeo mais o pe. Almoxe. semto
E sesenta mil rs por compra de
azulejo com que se azulejou a Igreja e oratorios das enfermarias, E capella da pia da ditta Igreja “”. [214][
1659 -
quadrilobos 4x4 e 2x2 / Caldas da
Rainha ] [215].
“ A designação explicita de ‘ mestre
dos azulejos ‘ dada ao defunto Matias Martins [ século XVII ] leva a
crer que ele foi o encarregado ‘
dos azulejos ‘ da própria Misericórdia os quais como é sabido, desaparecem com os edifícios. “[216]
[ Ponta Delgada ]
Gaspar Frutuoso, ao enumerar as ermidas
sufragâneas de Nossa Senhora da Estrela, diz que havia “ a do Espírito Santo,
que é um sprital para pobres e doentes, situado junto á praça,... “ [217]
Porém, só aos 7 de Novembro de 1592 a Câmara propõe e é aceite a ideia de se
fazer na vila uma Misericórdia assentando “ que fosse na igreja do Espírito
Santo, onde, de presente, estava o hospital, contíguo à praça, por ser sítio
bastante para as oficinas que a dita Casa havia mister.”[218]
Efectivamente os 24 ‘ mesteres’ que
governavam o dito hospital, aos 17 de
Dezembro daquele ano, fizeram escritura pública de desistência a favor da nova
irmandade que se reúne logo no dia seguinte. [219]
Finalmente, a irmandade, obtém
autorização do bispo D. Manuel de Gouveia, aos 14 de Fevereiro de 1593.[220]
Perto de meados do século XVIII e
prolongando-se até quase finais do mesmo, procedeu-se à reconstrução do templo,
suas dependências, bem como à construção dos passos quaresmais de pedra e cal.[221]
Já em 1748, ao que parece, começaram as
obras:
“ D. Com Pedreiros Cavo quei ros [ sic
] Car pin teiros [ sic ]e homens deSer uir [ sic]...”[222]
Aos 2 de julho de 1752 ” por estar a
obra deSta Stª. Caza por aCabar [ sic] e Ser Comuiente [ sic ] dar Se lhe [ sic
] fim ...”[223] foi
proposto e aceite que “... fiCaCe ames ma. menZa [ sic ] por ter por pran
-Cipiado [ ? ] a mesma or bra [ sic ]...”[224]
Dois anos volvidos, repete-se o mesmo e
justifica-se “ que por eStar Varias obras por aCabar fronte eS pi Cio [ sic ],
adro, Coro, emais obras neCeSSarios adicta j greja [ sic ] dami zeriCordia
porfa-zer, eS er [ sic ] Conv iniente [ sic ] dar Se lhe fim ; fi CaSSe a mesma
menza,...”[225]
No ano seguinte repete-se “... que por
eStar uarias [ sic ] obras por aCabar. Fronte adro Coro emais obras neCe Sarias
[ sic ] adita Igreja [ sic ] da miZeri Cordia [ sic ] por Fazer e ler
Comveniente [ sic ] dar Ce lhe fim ...” [226]
Aos 22 de Dezembro de 1768 os irmãos
acham que “... eraividente aperSizão qe. tinha aCazado [ sic ] os pital [ sic ]
deSefazerdenovo por eStar totalmte. perjudiCada eComperigo evidente dehuma
grde. Ruina pellainCapaSide. Com q-. SeaChava...”[227]
Aos de Outubro de 1773, dizem “...
pella nCiCide. [ sic ] em que a igreja [ ? ] deS ta Stª CaZa Se aChaCe
finde [ ? ] o Coro e adro e por tas de
la...”[228]
Mas, quer no interior, quer no
exterior, procedia-se a obras: “ ogasto
q- fes Com a Com duSão da Agoa dafonte q- Corre
nofronte Es pi Çio desta Stª CaZa que emportou em trinta e SinCo mil
outo Centos e outenta Reis e tambam aprezentou o gasto q- fes oSvalho da
Igreija [ sic ]...” [229],
ou ainda, “... aCordaraão[230]
SefizeSe vestoria NoRetabollo [ sic ]
doAltar de NoSa Senhora do Amparo Cujo fes o mestre dionizio defontes e naSua
prezenSa Se avaliou pella mesma Meza toda aobra...”
Finalmente, em 1790, os irmãos estendem
a sua acção aos Passos”...fazer os Santos Passos de pedra e Cal a emitação [ sic ] dos PaSSos daSide. e da Villa da
Lagoa...”[231]
Nesta conjuntura, parece-nos mais
‘lógico’ que, a terem existido azulejos seiscentistas na igreja e nas
dependências da Santa Casa da Misericórdia da Ribeira Grande, decerto que eles
teriam de ser removidos.
Todavia, não dispomos de quaisquer
documentos, não obstante termos compulsado toda a documentação do seu
Consistório referente ao século XVII. [232]Daí
sendo mais provável concluir-se que os não tenha tido?
A não ser que esta informação tivesse sido
registada em outro tipo de documentação ou ainda, quiçá, tratar-se-ia de uma
doação não registada.
Partindo do princípio que os teve,
ainda temos de explicar que eles foram removidos a tempo de serem recolocados
na fachada da Matriz, já que sem provas, não podemos provar que para lá foram,
ao menos se insinue que estavam (?) disponíveis.
Ora, as demolições em questão nos
diversos edifícios da Santa Casa ocorreram no século XVIII, a partir da década
de quarenta, tendo-se prolongado, no que nos interessa, até finais do terceiro
quartel daquele século. Tudo isso ocorre, depois da inauguração da nova Matriz,
em 1736, e antes de 1866, data em que Cândido Abranches terá provavelmente
acabado o seu Álbum.
Neste período, os hipotéticos azulejos
seiscentistas da Misericórdia estavam disponíveis.[233]
Tudo pode ter acontecido.Todavia, tudo
parece depender da data da recolocação dos azulejos na Matriz.
1-Se a Matriz já estivesse azulejada,
os disponíveis (?) da Santa Casa
poderiam ter sido disseminados por casas particulares, saído do concelho,
destruídos ou armazenados. Para as duas primeiras hipóteses conhecem-se
precedentes:
a) Vestígios em algumas casas da
ex-vila [234]
b) Pelo menos o Marquês de Jácome
Correia levou alguns [235]
2- Se, porém, a Matriz ainda não
estivesse azulejada o mesmo acima referido poderia ter acontecido,
acrescentando-se todavia a hipótese de:
a) terem sido eles na sua totalidade a
revestirem a fachada da dita igreja
ou:
b) de terem contribuído em parte.
Em todo o caso, mesmo que os tenha
tido, nada nos obriga a aceitar que tenham ido para a Matriz.
De entre, todos os suspeitos já
referidos, e de acordo com os dados que avançamos, parece-nos ser este, apesar
de tudo, o candidato mais improvável ? Havia uma grande ligação entre a Matriz
e a Misericórdia. Não esqueçamos que, enquanto se reconstruía a Matriz, a
Colegiada, com muito incomodo, esteve na Igreja do Espirito Santo.
Para além dos suspeitos já debatidos,
insinuam-se outros, [236]
ainda que remotos, nomeadamente, algumas casas particulares.
OUTROS CANDITATOS: Casas
Particulares (?)
O eng. Santos Simões que, ‘ in loco’,
estudou, queremos crer, a maioria dos azulejos dos Açores e da Madeira,
referindo-se às diversas manifestações artísticas insulares, entre as quais o
azulejo, afirma que estes existiram:
“ Nos velhos conventos, nas igrejas
paroquiais, nas ermidas e capelas particulares numa ou noutra casa nobre ou nos
prédios urbanos de algum porte... “[237]
Porém, compulsando o seu livro, no que
concerne os azulejos seiscentistas dos Açores, a expressão “ numa ou noutra
casa-nobre, resume-se tão-somente a um espaldar de muro da Quinta do Pico da
Urze, na ilha da Terceira, onde ele encontrou um P28 raríssimo. [238]
Diz, textualmente, que a dita quinta “ possui vestígios de ter sido outrora
mimoso retiro ou freiria.” [239],
mas estão “ dispostos a granel...” [240],
sinal de que poderiam ter vindo de outro local.
A inexistência, ou quase inexistência
de vestígios seguros de utilização de azulejos seiscentistas, nas casas
particulares açorianas, aconselha-nos e autoriza-nos a conjecturar que
provavelmente os que encontramos dispersos em casas particulares da Ribeira
Grande vieram de edifícios religiosos.[241]
Não repugna, porém, que pensemos o
contrário.
1-A Ribeira Grande pode ter constituído
uma excepção.
2-O eng. Santos Simões pode não ter visto tudo. O que está comprovado.
3-Mesmo que visse tudo, isso só
provaria que ele somente viu os que sobreviveram, mas não todos aqueles que de
facto existiram. Todavia, cada caso deve ser estudado em si mesmo.
Por exemplo, caso se confirme a
correcção da data de 1948 ou 1949,[242]
adiantada pelo Dr.º Barbosa, no que concerne os azulejos que ele encontrou
soltos no edifício do Externato Ribeiragrandense, inclinámo-nos para esta
possibilidade, tanto mais que os azulejos da Matriz só foram removidos em 1956.
Terá feito confusão ?
No seu livro “ Memórias da cidade
futura”, diz que “ formalizado este acto em 11 de Novembro de 1948, procedeu-se
à mudança do mobiliário e material didáctico para o edifício da Rua Sousa e
Silva, número sete, previamente arrendado pela Câmara, e à preparação do novo
ano lectivo. “[243]
Todavia, quer descrevendo o edifício
como o encontrara quer registando as diversas obras que foi sofrendo, mormente
as de adaptação a instituição de ensino, nada diz a este respeito. Estes
azulejos estiveram recolocados na sala das alunas, afirmou-nos ele. Porém,
quando a descreve nada diz:
“ A sala das alunas ficou situada no
primeiro andar, por cima da aludida aula, com janela voltada ao norte sobre os recreios
e entrada pela sala interior, esta uma espécie de plataforma que, além da
referida serventia, dava acesso a várias aulas, à sala dos professores, à
escada e ao recreio das alunas, através
do balcão exterior. “[244]
Para além do mais, instado noutra
ocasião, declarou que segundo ouviu foi o comandante Armando Soares, antigo
proprietário daquele edifício, quem os ali arrumara, provavelmente vindos da
Matriz e, que mais tarde ele ( Dr.º Barbosa ), por motivos estético -
didácticos os recolocara na sala das alunas. [245]
Registe-se que o edifício tem um cunho acentuadamente seiscentista.
Eram de lá ou foram lá parar ? Como
foram lá parar ? Quando? Para além do que já dissemos notamos que estavam a
esmo e incluíam elementos de padrões de grandes dimensões ( P37 6x6 e P35
4x4 ) indiciando uma utilização em grandes superfícies parietais.
Estando soltos e a esmo, em 1948 /
1949, antes das obras de restauro, e no chão da antiga cozinha, como nos disse
o Dr.º Barbosa, leva-nos a supor que, ou a casa estava desabitada há muito
tempo, o que não nos parece provável, e assim eles ter-se-iam conservado, ou
então não poderiam ter lá estado há muito tempo, pois correriam o risco de
soltos e na cozinha se terem extraviado.
Um outro indício desta hipótese é-nos
insinuada pela existência em casas da Rua do Botelho ( faz canto com a de São
Vicente Ferreira ) e da rua de São Vicente Ferreira ( quintais separados pelo
mesmo muro ) de azulejos seiscentistas que já lá se encontravam antes de 1932 [246],
isto apesar da primeira casa ser de cunho setecentista, já que naquele local
poderia ter existido uma do século anterior.
Esta informação foi-nos dada no dia 16
de Abril de 1989 pela senhora Maria das Mercês Rodrigues nascida aos 28 de
Março de1915 filha de António Rodrigues “ Batacão”.
Aos dezasseis anos de idade, em 1931, a
família Rodrigues foi morar para a casa dos “ azulejos” na Rua do Botelho, lá
permanecendo, pelo menos, até 1948. [247]
Afirmou-me que já em 1931, pouco mais
ou menos, os encontrara recolocados (?) no muro que faz a divisória com a casa
da rua de São Vicente Ferreira, ao fundo do quintal, dois ou três degraus
abaixo do nível do terreno. [248]
Para confirmar estes dados, primeiro
consultamos os Róis Quaresmais da Matriz e verificamos que o Sr António
Rodrigues “ Batacão” ( Moleiro e Farinheiro ) morara, efectivamente, na rua do
Botelho desde a Quaresma de 1932, onde se vê a nossa informadora com idade de
17 anos, até, pelo menos 1948. Na Quaresma de 1951 já lá morava o Sr Jacinto da
Silva Piques e a Senhora Maria de Lurdes Cabral.[249]
Em segundo lugar entrevistamos o actual
proprietário, senhor Albano Cabral de
Melo que nos afirmou tê-los arrancado do local referido pelo senhora Maria das
Mercês Rodrigues. [250]
O que resta deles foi-nos oferecido pelo Sr Cabral de Melo.[251]
Na casa ao lado, na rua de São Vicente
Ferreira, numa cozinha já desmanchada, o Mestre Augusto Rocha (Çafate) arrancou
azulejos que ,eram parecidos com os do Colégio ( Externato Ribeiragrandense) e
que, segundo ele, eram do tempo da senhora Marquinhas Marota. Portanto, estavam
lá muito antes de 1940. Não os vi ainda. Aquele mestre teve oportunidade de
conhecer os azulejos do ‘Colégio’ ( Externato) já que era “... o carpinteiro da
casa, mestre Miguel ( depois, mestre Augusto Çafate )”[252]
Além do mais, tendo trabalhado na casa do Sr. Luís Mota em Ponta Delgada viu um
painel 2x2 camélia ( P20 ) e referiu ao
mesmo que tinha iguais na sua cozinha.
Todavia, sem os ver e sem os estudar,
não me predisponho a aceitar a sua existência, ou melhor a existência de azulejos
seiscentistas de padrão. Por um lado o Mestre Augusto pode ter confundido por
outro pode ter exagerado ou veiculado informações incorrectas. Tentou, por
exemplo, convencer-me que uma fotografia
( postal ) da Matriz, que mandara ampliar, era de 1819, quando foi ele ou
alguém da família que a lápis de cor escreveu no original ( vi ambos na sua
casa ) aquela data.
Por último, encontrei solto no quintal
da casa do falecido senhor Angelo Ledo, avô materno da minha esposa, um azulejo
e um fragmento de cercadura sublinhado a traço de roxo de manganês.[253]
Infelizmente, nem a viúva nem os familiares souberam explicar a sua
proveniência. Em todo, o caso foi o senhor Angelo que os trouxe não se sabe de
onde. [254]
Não encontrei em mais nenhuma parte
aquele tipo de cercadura.
De onde vieram, então os azulejos, que
estiveram no Externato, na casa da Rua do Botelho n.º 41 e a cercadura da rua
de Sousa e Silva n.º 109 ?
Os primeiros dois, plausivelmente, não
vieram dos removidos em 1956 da fachada da Matriz. Podem ter pertencido tanto a
edifícios civis como a edifícios religiosos.
As hipóteses, que se abrem, são quase
infinitas.
De uma análise morfológica aos que
vieram da torre da igreja Matriz, do Externato ( encontrados na arrecadação da
Câmara ) e da casa da rua do Botelho, verificamos serem os azulejos em tudo
iguais. [255]
Ensaiando o mesmo através de
fotografias da fachada da Matriz azulejada [256]
e do que nos diz a esse respeito o Dr.º Luís Bernardo depreendemos que
existiram na fachada azulejos do tipo dos da torre dos do Externato e dos da
casa do Botelho.
1-
“Revestindo as paredes laterais da grade do côro baixo do convento da Esperança
[ verifiquei-os in loco “], aparecem alguns modelos, assim como na fachada da
Matriz da Ribeira Grande, na ermida da Caloura do Sr. António Albuquerque (
Fot. 27 e 28 ),... [ P37 e P20, pelo menos] ”.[257]
2-
Fotografias. É pelo menos visível elementos do P35. O que pensar então?
1-
Cartografam o itinerário dos azulejos e revelam um origem comum seja de Lisboa
seja do local onde estiveram primitivamente colocados ou posteriormente
recolocados ou posteriormente recolocados ?
2-Podem
deixar subentendido que vieram da Ribeira Grande ou mesmo de fora dela em
épocas e de locais diferentes ?
3-Insinuam
a sua utilização em edifícios particulares ?
Em todo o caso trata-se de azulejos
seiscentistas de padrão policromo, reconhecidamente de fabrico lisboeta.
CONCLUSÃO DESTE CAPÍTULO
É
relativamente seguro afirmar-se que a Ribeira Grande possui azulejos
seiscentistas encomendados e colocados naquele século, num ou em vários
edifícios daquela ex-vila. É seguro afirmar-se que os teve recolocados, vindos
não se sabe de onde.
Não é totalmente improvável que os que
foram recolocados na fachada da Matriz tivessem vindo de fora do concelho,
porém, sendo mais provável que tenham vindo da própria ex-vila. Por um lado
existem vários candidatos suspeitos de poderem ter contribuído para o
azulejamento da Matriz, por outro, existem alguns vestígios arqueológicos e uma
atribuição.
Os vestígios arqueológicos encontrados
nas terras do Ex-Mosteiro de Jesus ( Ribeira Grande ) atestam que ( ou podem
atestar ) neste local, ou muito próximo dele, existiram azulejos seiscentistas
aí colocados primitivamente, já que ninguém de fora do concelho os iria aí
entulhar. Seria mais prático e mais económico, atendendo à carestia e
dificuldade de transporte, fazê-lo mais perto.
“ Pelas onze horas e meia da manhã de
21 de septembro 1848 punha pé dentro do barco Águia do Norte, e sahiamos do
caes da cidade de Ponta-delgada, caminho do porto da villa da Povoação, para o
nascente, onde saltámos pelas seis horas da tarde do mesmo dia.”[258]
Isto era o tempo que levava por via
marítima, mas mais à frente na mesma obra o autor refere que gastou ( salvo
erro, mais de onze horas (?) de burro no percurso da Povoação à vila de
Nordeste .[259]
E, quanto aos preços, Teodoro de Matos
adianta que “ sobre o custo do transporte terrestre em Portugal, muito pouco
pode concluir-se para o que importava conhecer, já que as pontes são escassas e
pobres e, a multivariedade de preços dificulta para já qualquer sistematização.
“[260]
Porém, conclui que “ A deslocação terrestre, quando possível, era cara. “[261]
O local mais habitual de lançamento de
entulhos na Ribeira Grande é, e talvez o tenha sido também no passado, o mar e
a beira-mar. Aqui diz-se ( dizia-se ? ) frequentemente que se ia “ lançar lixo
pr’ó calhau “.[262]
Inclusive foi para a beira-mar que foram levados os fragmentos e o reboco da
fachada da Matriz.[263]
Porém, hoje, tal como talvez outrora,
verifica-se que em certos locais onde se explorou tufo e cascalho, os
proprietários compram ou pedem entulhos, de modo que, numa primeira fase, se
preencham as covas e, numa segunda, se recubram estes com uma camada de terra
arável.[264]
Todavia, sabendo-se que os edifícios do
Mosteiro foram demolidos, não seria mais lógico que os novos proprietários do
Ex-mosteiro tivessem utilizado os
entulhos resultantes das demolições para preencherem as covas e os vazios
deixados pelas mesmas ?
Quanto ao fornecedor da fachada da Matriz,
apesar de muitas reticências e de nenhuma prova concludente, inclino-me a
pensar que o principal, se não o único, fornecedor teria sido o Ex-mosteiro de
Jesus da então vila da Ribeira Grande. Continua, porém, de acordo com as provas
que dispomos, bem como da interpretação que delas fizemos, a ser o principal,
mas não o único suspeito.
Se assim for, os da fachada da Matriz,
situação curiosa de utilização oitocentista de padrões seiscentistas, em parte
ou na sua totalidade teriam vindo do Ex-mosteiro. Ou então, para os não
convencidos, e eu sou um deles, dever-se-ia concluir que os da fachada da
Matriz espelham e reflectem todas as dúvidas que temos acerca do seu local
primitivo.
Em todo o caso, terá valido a pena o
esforço ? Creio bem que sim. Nem que fosse só para tentar suavizar a visão
cinzenta e pessimista de Marguerite Yourcenar acerca da história e do
historiador, de que este último “ dispõe de novo esta dócil matéria morta, e eu
sei que Alexandre escapará sempre mesmo a Plutarco. “ [265],
teria já valido a pena. Ao menos, verifiquei que, não obstante corrermos o
risco de Alexandre escapar sempre ou quase a Plutarco ( e com este era
inevitável que o fosse ) a matéria não é nem
tão doce nem tão morta quanto se possa supor.
A história, mesmo quanto dá resposta,
quase sempre parcial, a perguntas e a questões formuladas, estas nunca
constituem um fim mas um meio para atingir outros “ fins-meios,” e assim
sucessivamente.
É desta dinâmica ( natureza ) que
resulta o conhecimento histórico.
CAPÍTULO IV
Preparação, tratamento, conservação
e exposição museológica dos azulejos
seiscentistas de padrão policromo do
Museu da Ribeira Grande
Visamos
nos capítulos anteriores, primeiro, o conhecimento dos nossos azulejos
seiscentistas, integrando-os no contexto
histórico-artístico do nosso país e da região, seguidamente, tentamos
clarificar a sua “ biografia”, neste
último, discutiremos finalmente aspectos da sua conservação, tratamento, e exposição museológica, já que este estudo se
destina a orientar a musealização de um núcleo azulejístico a constituir no
Museu da Ribeira Grande, bem como a sugerir o roteiro azulejístico do concelho.
Antes, porém, convém esclarecer dois
conceitos indissoluvelmente interligados entre si e ao conceito de exposição, a
saber: Conservação e restauro.
Aceito como pertinente definir
conservação como a aplicação da ciência à análise e ao tratamento das obras de
arte, quaisquer que sejam, e ao estudo do ambiente em que se encontram
inseridas.[266]
Restaurar, sendo uma parcela importante
e primordial da conservação, “ não implica reconstituir a obra de arte
devolvendo-a ao seu estado inicial mas sim impedir a deterioração dos materiais
originais respeitando a integridade material e estética da obra”.[267]
Abordaremos esta problemática almejando
a elucidação de aspectos concretos do restauro, conservação e exposição do
nosso núcleo permanente de azulejos seiscentistas, em dois locais distintos,
antes e após a exposição, quer na sala de exposição quer no depósito.
Primeiro encetaremos o restauro (
fixação dos esmaltes e remoção das argamassas ), entraremos na primeira fase
preparatória da exposição padrão em painéis, por exemplo, entre outras tarefas
), por último, tendo em conta as condicionantes ambientais de conservação
específicas ao azulejo e a todo o material utilizado, designadamente, madeira e
ferro inoxidável, alcançaremos a segunda e última fase do percurso. Nesta, à
exposição dos painéis, deverá presidir a criteriosa ponderação, quer de
aspectos objectivos de conservação, história e exposição, quer de aspectos
subjectivos de ordem estética.
Comecemos pela conservação dos azulejos
e do seu núcleo. Qualquer que seja a expressão artística, esta pressupõe sempre
um suporte material e o seu envolvimento ambiental, no nosso caso, os azulejos
seiscentistas a expor na capela anexa ao Museu da Ribeira Grande, definindo-se
este último aspecto, em relação aos azulejos, “ como o conjunto de todas as
influências exteriores à mesma[ expressão artística do azulejo ]” [268]
A humidade, a poluição atmosférica e a
luz constituem os principais factores ambientais, que, “ actuando em conjunto,
podem concorrer para a sua destruição”. A solução para que possam ser
estudados, observados e admirados, será a criação de condições que possibilitam o mínimo de deterioração, o
que implica conhecer para cada caso concreto : o material, as condições
ambiente de exposição, as possibilidades de criação de máxima preservação”[269]
1.O azulejo e o seu suporte de
madeira e a humidade.[270]
a)
O suporte directo dos painéis de azulejos será o acrílico, porém,
assentarão numa pequena estrutura em madeira sacada da parede e presa a quatro
braçadeiras em T de aço inoxidável, e, por conseguinte, há que conhecer a
reacção ambiental daquele material.
“O equilíbrio higroscópico da madeira é
um equilíbrio dinâmico, uma vez que o material lenhoso está continuamente a
perder ou a adquirir água, resultado da higroscopicidade das substâncias
fundamentais constituintes do lenho - a celulose e a lenhinha”[271]
O que leva a ter em conta “ a vantagem de se manter a humidade dos locais
onde estão armazenadas peças cujo o suporte é a madeira, doutro modo haverá
adsorsão e desadsorsão com resultados maléficos...”[272]
Temos ainda que considerar a espessura
e a densidade da madeira bem como o seu E. M. C (equilibrium moisture content)
com a H. R. (humidade relativa) e a temperatura ambiente, de modo a não alterar
o seu equilíbrio dinâmico [273].
Stolow apresenta em gráfico o estudo desta correlação. [274]
No nosso caso, e mesmo antes de se proceder ao estudo da humidade, julgo que
uma taxa de 55% mais ou menos 5% e uma temperatura de 18º C mais ou menos 2º C,
contribuirá para manter o E.M.C. Além do mais, como o suporte é mínimo,
existindo espaço entre a parede e o painel,
corremos menor risco de
prejudicar os azulejos. Há, todavia, que ter cuidado, não vá a estrutura
apodrecer e deixar cair o painel.
b) Os azulejos
Os azulejos constituem o material a
expor e a conservar, já que se trata de um núcleo azulejístico, porém os
barros, sendo materiais que absorvem a humidade ambiente em menor extensão não
variam apreciavelmente em dimensões. Nestes materiais a, “ absorção de humidade
- evaporação “, traduz-se por “ solubilização - cristalização “ de sais em
superfície ou para grandes variações de
temperatura, que não é o nosso caso, rupturas por gelificação, tudo se
mostrando por uma erosão de superfície.[275]
A superfície esmaltada dos nossos
azulejos é menos higroscópica, porém o
tardoz é mais vulnerável, ainda que esteja colado ao acrílico; todavia,
seja pelo local escolhido, o interior da capela, seja pela H. R. existente,
mesmo sem leituras, permite-nos antecipar tarefa relativamente fácil. Em todo o
caso, deve-se estabelecer um padrão constante de humidade e temperatura.
c) Fotografias e legendas
explicativas
O suporte de papel das legendas e das
fotografias também tem que ser considerado, evitando-se os desequilíbrios
físico-químicos com o meio, além da tinta utilizada nas legendas e os químicos
fotográficos, que exigem cautelas mais complexas. Todavia, há que, para além da
luz, controlar a humidade e a temperatura.
d) Parafusos metalizados e
braçadeiras de aço inoxidável
Estes elementos de fixação dos painéis,
tal como os demais metais, em maior ou menor grau, podem sofrer os efeitos do
oxigénio, gases sulfurosos, sulfídrico [ou melhor sulfureto de
hidrogénio]e impurezas salinas da
atmosfera na presença de humidade. “ O efeito corrosivo das impurezas salinas a
elevada humidade é importante.” [276]
Conhecendo a nossa altíssima taxa de humidade, e sabendo que ruindo estas
estruturas, caiem os painéis, devemos manter a humidade em taxas constantes e
médias ( 55 a 60% / 18% a 20ºC ).
e) Cola e acrílico
Não nos devemos preocupar quanto ao
segundo, porém, quanto ao primeiro, há que ter cuidado.
2. A exposição destes materiais à
poluição atmosférica
“Além da humidade e temperatura devemos
encarar um terceiro factor - a composição atmosférica ambiente. De entre os
agentes de poluição repartidos pelos dois grupos: partículas poluentes (
fuligem, fumos, poeiras ),poluentes químicos ( dióxido de enxofre ), os
indicados são os mais importantes em problemas de conservação” [277]
a) Madeira b) Metais
O mesmo que se disse em relação à
humidade.
c) Azulejos
“ Como nos têxteis é importante a
deposição de partículas de carbono e alcatrão combinado com o ataque gradual de
SO2 convertendo o carbonato de cálcio em sulfato de cálcio. Não é tão marcante
o efeito nas peças de museu como nas de exterior expostas à chuva e a variação
de temperatura mais marcadas conjuntamente com os poluentes” [278]
Utensilagem técnica
“ O
conhecimento das condições do ambiente deve ser feito com material adequado, a
H. R. e a temperatura pelo uso de termohigrógrafos. Para os poluentes do ar U.
K. Air pollution Laboratory at Warren Sping tem um método semi-automático de
medida de partículas e SO2, por aspiração,
do ar, primeiro através de um papel de filtro e depois através de uma
solução de peróxido hidrogénio. Tanto as partículas como o SO2 são registadas
diariamente precisando o aparelho ser
visitado apenas um vez por semana ”[279]
3.A luz e os objectos do
museu
“ Dos efeitos de luz sobre as obras de
arte, - iluminação, valorização estética e degradação salientaremos este último
aspecto...” [280],
isolando-o, por conveniência de exposição, do contexto ambiental do qual
impossível destacá-lo na prática. [281]
“ As radiações visíveis e invisíveis
sejam de origem natural ou artificial oferecem perigo a certas categorias de obras de arte. A pedra, a
cerâmica e os metais são pouco sensíveis à luz. Vidros e esmaltes ( azulejos
)expostos por grandes períodos a radiações intensas podem alterar-se.” [282]
As degradações sofridas pelos objectos
dependem da qualidade e quantidade de radiação a que estão sujeitas. Assim são
tanto mais graves as alterações se a radiação é tanto mais rica em azul,
violeta e ultra-violeta, se a radiação ultra-violeta é do comprimento de onda
mais curta, se o tempo de exposição é mais longo, se a intensidade da radiação
global ( em watts) na direcção do objecto é maior, se a uniformidade de iluminação
energética do objecto ( em watts por cm2) é má, e se a temperatura e humidade
são maiores, e conjugam a sua acção. [283]
Constituem fontes de iluminação, o sol,
as lâmpadas de incandescência ( lâmpadas vulgares, lâmpadas de halogénio ), e
as lâmpadas de descarga ( tubos fluorescentes, balões fluorescentes e luz mista
).
Em termos de exposição museológica, “
há a ter em conta o grau de iluminação, a composição espectral da luz e a
natureza do objecto.”[284]
Sabe-se que, quanto ao azulejo, é um
dos objectos praticamente insensível à luz, cujo máximo de valor de iluminação
recomendada é sem limite mas sujeito à exposição e aquecimento.[285]
Medição e análise da radiação
“ Para a conservação das obras de arte
sensíveis à luz ( não é esse o
caso
dos azulejos ) é necessário
conhecer-se as radiações recebidas pelos objectos. Estando o poder destruidor
não só ligado à intensidade da radiação como ao seu comprimento de onda, é
necessário não só conhecer a intensidade como analisar a sua composição
espectral. Deste modo, deve o conservador possuir três categorias de aparelhos:
Luxímetro, aparelho para detecção e medida da radiação U. V. e indicadores de
temperatura” [286]
Mais : “ Quando o conservador expõe as peças
no Museu, conhecendo-as sob o ponto de vista material, situação histórica e
qualificação estética, vai distribuí-las num espaço, como variável terá o
ambiente - humidade relativa, temperatura, poluentes do ar e a luz, factores
com os quais terá de jogar sabiamente para dar à obra e ao visitante o ambiente
adequado.” [287]
Do que ficou acima exposto,
esclarecemos o modo como os azulejos e os materiais de apoio reagem a um dado
ambiente ‘tipo,’ resta-nos, adequar aqueles conhecimentos ao ambiente
específico em que ficarão expostos e armazenados, tal como já se disse, na capela
anexa ao Museu da Ribeira Grande.
Os potenciais agentes de degradação
discutidos e analisados, influenciam muito pouco o azulejo e o seu material
auxiliar, já que os vamos expor no interior de uma capela, cuja amplitude
térmica e taxa de humidade ambientais, não é para o primeiro caso muito
elevada, e para o segundo, apesar de elevada, entre 60 a 80%, mantém-se
constante, além do que o próprio azulejo ter tido sempre um “... papel de
estabilizador das temperaturas e humidade ambientais...”[288]
Por uma questão de se proporcionar um
ambiente agradável ao visitante, e até mesmo manter constante o ambiente,
julgamos que se deve recomendar uma temperatura ambiente constante à volta do
18 a 20º centígrados e evitar que a humidade suba acima dos 60%. Por
conseguinte é necessário adquirir material, designadamente, um termohigrógrafo
que fará a leitura ambiental e um dispositivo que regulará a temperatura e a
humidade.[289]
Quanto à iluminação
artificial, já que o interior da capela tem pouca iluminação natural,
dever-se-à proporcionar ao visitante um ambiente que lhe permita uma leitura
fácil e agradável do material azulejístico exposto, evitando-se as fontes
luminosas directas sobre os azulejos, não para evitar a degradação do material,
que tal como já vimos é pouco afectado pela luz, mas para evitar excessos de
reverberação que confundiriam e impossibilitariam a perfeita percepção dos
azulejos.
Não se deve, nem se pode de todo
eliminar o reflexo da luz sobre a superfície esmaltada do azulejo, até porque
eles foram concebidos para reflectirem a luz, seja a do sol, quando colocados
no exterior, seja a das velas, candeias e
tochas, quando colocados no interior.
Temos, pois que conjugar os imperativos
estéticos com os inerentes à sua autenticidade histórica, nomeadamente
aproximar a sua exposição museológica da seu primitivo ambiente expositivo.
Sabendo que os nossos azulejos são
seiscentistas e que, muito provavelmente, estiveram primitivamente colocados no
interior de um edifício religioso, temos de ponderar e decidir o tipo de
iluminação que mais se aproxime da primitiva, sem contudo, descurar nem o
visitante actual nem a segurança do edifício. Afigura-se-me quatro hipóteses
possíveis:
1. Uma maior autenticidade seria obtida
através do recurso ao tipo de iluminação utilizada no interior dos edifícios
religiosos no século XVII. Obteríamos, assim, efeitos muito próximos dos
primitivos, mas descuraríamos, de certo modo, o visitante e teríamos de
resolver problemas de segurança; o que não sendo tecnicamente inviável seria,
contudo economicamente incomportável..
2. Fazer-se tábua rasa do primeiro
ponto e optar por uma iluminação artificial, sem mesmo atender à proximidade da
luminosidade primitiva seria também, de certo modo, defraudar o visitante.
3. Escolher uma luz artificial que
reflicta a intensidade das primitivas fontes de iluminação.
4.Conjugar a iluminação primitiva com a
iluminação artificial moderna.
Julgo que a exposição museológica se
deve aproximar o mais possível do contexto original, e como tal, se deve
combinar sensatamente as fontes de luz
primitivas e actuais.
A superfície esmaltada dos azulejos
deverá ser periódica e cuidadosamente limpa com um pano de lã embebido em água
destilada e ser recoberta por uma camada fina de resina incolor de modo a fixar
o esmalte.[290]
Os azulejos que não serão expostos, os
que se repetem e ou os que estão muito danificados, destinar-se-ão ao ‘ armazém
do museu,’ sendo, porém, desnecessário, e até desaconselhável, para estudo
posterior, a remoção da argamassa do tardoz, bastando o seu encaixotamento em
local seguro.
Serão colocados em caixotes de madeira,
juntando-se superfície esmaltada com superfície esmaltada. A humidade e a
temperatura pode ser a ambiente, sendo a luz desnecessária.
Mal recolhemos os nossos azulejos,
tivemos o cuidado de pensar nas condições da sua preservação, mesmo antes da
sua exposição, e tendo apurado que as condições reais ambientais não eram
desfavoráveis, só nos preocupamos com a fixação da superfície esmaltada.
Seguiu-se-lhe o estudo, no qual se
inclui a preocupação de encontrar o local ideal para a sua colocação, tanto do
ponto de vista histórico como do ponto de vista da autenticidade ambiental.
Julgamos que, apesar das incertezas
quanto à primitiva proveniência dos nossos azulejos, o lugar que melhor se
aproxima, até porque disponível, quer no aspecto histórico, quer no
museológico, é o interior da capela de São Vicente Ferreira, anexa ao Museu da
Ribeira Grande, já que manterá o ambiente religioso a que, quase de certeza,
eles pertenceram.
A escolha do local é norteada, por
conseguinte, pela preocupação de os devolver ao seu ambiente primitivo, mesmo
que a capela seja setecentista e os azulejos seiscentistas.
Em todo o caso, a maior parte deles
veio de parte do frontispício da Igreja da Matriz da Ribeira Grande, que, tal
como já se disse, foi azulejada, em parte ou na sua totalidade, no século XIX
com azulejos seiscentistas.[291]
Fomos igualmente confrontados com um
dilema, ou constituíamos padrões, tal como o eng. Santos Simões aponta no seu
livro, e teríamos de utilizar elementos recolhidos em locais diferentes e
quiçá, de origem diversa, ou então teríamos uma multiplicidade de padrões
incompletos.[292]
Para além deste facto, sabemos que nem
sempre os padrões foram colocados ou recolocados correctamente, ou melhor como
indica e propõe o catálogo do eng. Santos Simões.
Muitas vezes, seja pelo desconhecimento
dos mestres que os colocaram ou por outros motivos, mesmo por opção,
decompôs-se quer na altura da sua colocação quer na recolocação padrões 4x4 P35
em desdobramentos de 2x2, como se pode ver nos exemplos da capela de Nossa
Senhora do Cabo, na Vila da Lagoa, e como se via, através da fotografia, na
fachada da Igreja Matriz da Ribeira Grande ( Ver quadros XI e XII ) Foto. 3
Mais por razões estético-pedagógicas do
que por razões historicamente comprovadas, ainda que seja plausível que tenham
sido correctamente colocados na Ribeira Grande, aliás tal como sucede, e no que
concerne ao P 37, no mosteiro de Santo André de Vila Franca do Campo, optamos
pela sua exposição em padrões 4x4 P35 e 6x6 P 37.
Ainda que a exposição dos nossos
azulejos utilize a capela setecentista de São Vicente Ferreira, ou seja em sala
de exposição, há que propor uma
musealização que deixe expresso e realce que
« ‘a qualidade pictorial’ do azulejo é quase sempre secundária em
relação à sua inserção numa globalidade ornamental e, principalmente na maneira
como complementa, dinamiza, enriquece e transforma a arquitectura, integrando
as suas partes num todo e desempenhando, a vários níveis, um papel que nunca
foi passivo nem inocente, resultante essencialmente da escala dilatada da sua
aplicação e do profundo conhecimento, que os pintores, azulejadores e
ladrilhadores possuíam sobre as possibilidades expressivas e dinâmicas desses
revestimentos. “[293]
Daí que o tentemos sugerir no diálogo com os outros materiais da dita capela.
Ou ainda que se tome em consideração,
para atingir os mesmos efeitos museológicos que, segundo Santos Simões : “ Para
revestir as vastas superfícies parietais dos templos e, menos frequentemente,
de algumas casas-nobres, utilizaram-se no decorrer deste século XVII grandes ou
pequenos “tapetes” cerâmicos obtidos pela multiplicação de um motivo ornamental
básico a que chamamos “padrão”. “ [294] E “ para superfícies maiores ou para obter
ritmos decorativos de mais largo desenvolvimento passaram em Portugal a
fabricar-se e a utilizar-se padrões de repetição mais complexos: 4x4 / 2, 4x4 /
3, 4x4 / 4, 6x6 /8 até 12x12 / 14 que é maior que se conhece . “ [295]
Para além destas advertências necessário se torna aludir e sopesar mais duas.
1. “ Em todos os conjuntos de azulejo,
o ornato, padrão ou composição não é normalmente livre, mas antes sujeito a
duas dimensões extremas, a de cada azulejo e a da totalidade da superfície a
revestir.” [296]
2. Que “ As escalas integradoras e a
divisão em andares tanto serviram para a diversificação dos revestimentos de
padronagem, nos quais os módulos de maiores dimensões se encontram colocados a
maior altura, nos espaços mais dilatados, de maneira a compensarem os erros de
paralaxe cometidos pela visão, que vê menor o que está distante, como
determinaram a organização das composições historiadas. “[297]
Trata-se de sugerir no museu, tanto quanto possível, a relação que o azulejo
mantém fora do museu, no seu contexto original de colocação. Sugerir e não
reproduzir.
É bom não esquecer que os azulejos não
foram criados para estarem dissecados em museus, onde só deverão entrar, quando
não for possível a sua preservação no local original.
Os nossos azulejos seiscentistas foram
recolhidos urgentemente, as condições dos locais onde se encontravam eram
péssimas, além do mais estavam dispersos, longe dos locais de origem, portanto
órfãos do seu contexto. Atendendo às advertências acima explanadas, sugerimos
dois figurinos de exposição. Quadros XXVII e XXVIII.
Num, que desaconselhamos,
predominam critérios estritamente
museológicos, no outro, que aconselhamos ter em conta, além daqueles existem
critérios de autenticidade. Assim sendo, e atendo-nos ao segundo, o P37 deverá
ficar colocado acima dos outros padrões
( veja-se proposta). Porque só temos um padrão de cada, e porque desse
modo a exposição museológica altera o contexto inicial, propomo-nos a incluir,
por um lado, fotografias e vídeo dos locais onde existam ainda colocados, e,
por outro lado, encorajar o visitante do museu a visitá-los. Deve-se, porém
aproximar a montagem museológica das medidas reais da parede da capela onde se
destinam, tendo em conta que se deve eliminar distâncias muito sensíveis entre
o P37, o P 12 e o P 20, por exemplo.
Porém, e não nos supondo imunes ao
erro, iremos proceder à sua colocação em estruturas que permitam facilmente a
sua remoção.[298]
Quanto ao uso de elementos de padrões
recolhidos em locais diferentes e cujo origem comum desconhecemos, mas
suspeitamos, julgamos, por razões estético-pedagógicas, ser lícito e desejável
agrupá-los no mesmo padrão, desde que os diversos elementos constitutivos sejam
clara e inequivocamente referidos e identificados em quadro anexo à exposição (
veja-se quadro XXIX ).
O núcleo seiscentista da secção
azulejística do Museu da Ribeira Grande será formado por diversos painéis
colocados sobre acrílico bem como fotografias e quadros explicativos que, por
um lado, elucidem o visitante do essencial sobre aquele tipo de azulejo, e, por
outro lado, o transportem o mais fidedignamente possível ao seu ambiente
primitivo.( Veja-se o quadro da nossa proposta ) Quadro n.º XXIII, XXIV, XXV,
XXVII e XXVIII.
A exposição museológica, em nosso
entender, não pode ser um lacunar e
distante epitáfio tumular, por mais bonito que seja, mas uma proposta viva e
próxima de contacto com o ambiente original da obra exposta.
As fotografias dos locais onde foram
recolhidos e dos locais onde presumimos terem pertencido, ajudará e fornecerá
não só pistas biográficas preciosas como também sugerirá ambientes, e o mesmo
farão as legendas.
Julgo até que se deve recorrer a uma
gravação explicativa em vídeo, com música gregoriana, cujo teor será explicado em várias
línguas, a passar permanentemente.
Paralelamente, incluiremos alguns
expositores que exibam fragmentos - provas recolhidos, rodeando-se-lhes dos
mesmos cuidados expositivos. ( quadros XXXI-XXXII ).
Este núcleo azulejístico será exposto obedecendo
à ordem cronológica das espécies azulejísticas, já que a secção será
constituída por outros conjuntos do século anterior e dos séculos seguintes,
seja recorrendo à fotografia, seja expondo fragmentos, seja utilizando
exemplares azulejísticos mais completos, tal como os azulejos figurados
setecentistas provenientes da capela-mor da Igreja da Ribeira Grande, agora no
Museu da Ribeira Grande.
Para aqueles que vieram de outros
ambientes, dar-se-lhes-à um tratamento ambiental adequado à sua origem, nomeadamente,
trata-se tão-só de uma sugestão, a exposição em sala distinta.[299]
Neste, esboço, porém, só tratamos dos
seiscentistas de padrão policromo.
Pretende-se com a constituição desta
secção criar um roteiro azulejístico dos azulejos do concelho, desde os mais
antigos aos mais recentes.[300]
A secção do Museu da Ribeira Grande deverá funcionar como o núcleo central
agregador do roteiro, sendo os vários locais, onde existam outros, pequenos
museus “ in situ ”.Tal filosofia é não só recomendável do ponto de vista
museológico e histórico, como também turístico, já que convida o visitante,
sobretudo os de fora do concelho, a circular por todo o seu espaço territorial,
suscitando um melhor conhecimento do mesmo, não só do ponto de vista dos
azulejos, ou pelo menos terá mais motivos e mais oportunidades para permanecer
nele mais tempo, com todos os benefícios que daí possam advir para a economia
do concelho.
Dever-se-à estabelecer protocolos
precisos com os diversos proprietários dos azulejos do concelho, quer no seu
espaço ou fora dele, como é o caso dos do palácio de Santana e dos do Museu
Carlos Machado, ambos em Ponta Delgada, a fim de se coordenar e preparar a
visita a estes locais e a torná-la enriquecedora.
Em todo o caso, e no que concerne
somente aos azulejos concelhios, o Museu da Ribeira Grande recolherá e exibirá
na sua secção toda a informação histórica e fotográfica relativa aos conjuntos
azulejísticos do concelho e das ilhas e continente, se for caso disso.
Dever-se-à recomendar e auxiliar
tecnicamente os proprietários dos azulejos do ponto de vista do restauro,
conservação e exposição.[301]
Entendemos que esta perspectiva
museológica é aquela, entre outras, que concilia e que melhor permite a
conjugação eficaz do museu-edifício ao museu mais vasto que é a
comunidade/território, no seu todo.
Sendo inúmeras as técnicas de
exposição, não obstante os considerandos de conservação, de carácter mais
objectivo, o restauro e a exposição, em
grande parte subjectivo, acabam sempre por exigir de cada conservador a última
palavra. Fi-lo entendendo e conjugando todos os factores acima expostos.
Restauro
Entremos,
agora, no domínio do restauro. Antes de expormos os azulejos seiscentistas do
Museu da Ribeira Grande, temos de lhes remover completamente a argamassa do
tardoz, fixar-lhes as superfícies esmaltadas, colocá-los num suporte de
acrílico, finalmente expo-los na sala num suporte indirecto de madeira que
assenta em quatro “braçadeiras “ metálicas. [302](
Vejam-se as fases de restauro Quadro XXX )
Os elementos em falha dos padrões não
serão preenchidos ou sequer substituídos por cópias, mas tão só se lhes pintará
o espaço vazio, não excluindo a hipótese de outra solução, utilizando uma cor
neutra, preferivelmente num tom algo parecido com a cor predominante dos azulejos,
de modo que, se por um lado não se fere o aspecto estético do conjunto, por
outro, não se introduza elementos que confundam a verdade histórica.[303]
O mesmo critério presidirá ao
tratamento dos elementos danificados ou incompletos. Em relação às falhas na
superfície esmaltada, nada se fará, a não ser, tal como já se disse, a sua
fixação através da resina incolor.[304]
Se, porventura, os “tardoz ”forem desiguais, convem ponderar a maneira como os
azulejos devem ser colados ao acrílico, de modo que as superfícies esmaltadas
não apresentem desníveis consideráveis. A observação directa de superfícies
azulejadas, mormente, nos seus, locais primitivos, mostra-nos, frequentemente,
superfícies sensivelmente desniveladas. Há, contudo, que conciliar sensatamente
os imperativos históricos com os estéticos, assim sendo, não nos devemos
preocupar com ligeiros desníveis.
Conclusão/ advertência:
Destaco o seguinte:
1. A temperatura e a humidade devem ser
mantidas, respectivamente, entre 18ºC e 20ºC, e 55% e 60%. Todavia, a realidade
provou que não preciso de ser tão rigoroso.
2.A iluminação deve ser próxima da
existente no ambiente original.
3.A sonorização deve reflectir a
sonorização ambiental da época, nomeadamente a música sacra.
4.Deve haver um vídeo explicativo assim
como quadros e fotografias.
5.Os padrões policromos, restaurados e
não refeitos, devem ser colocados entre 1, 40 e 1,50m do solo, mas com os P37
em cima
6.O núcleo seiscentista ocupará o seu
lugar cronológico.
7.A secção azulejística do Museu da
Ribeira Grande da Ribeira Grande deve ser o núcleo agregador dos pequenos
museus “in situ” do roteiro azulejístico do concelho.
8.Os azulejos seiscentistas de padrão
policromo de possível fabrico lisboeta, plausivelmente oriundos de um ou mais edifícios
religiosos da vila, ou mesmo fora dela, expostos em 1989 e ainda visíveis no
museu da Ribeira Grande, foram recolhidos na igreja da Matriz, armazém municipal da rua do Ouvidor e casas da rua da
Ponte Nova e São Vicente Ferrer.
9. A montagem e apresentação
seguiu, no fundo, o sugerido por Rafael Salinas Calado.
10- A junção de padrões seguiu a sugestão
de J.M dos Santos Simões.
Ribeira Grande, Junho de
1989
Nota de actualização
Os
primeiros azulejos seiscentistas do Museu da Ribeira Grande, cidade da ilha de
São Miguel, arquipélago dos Açores, depois de um primeiro núcleo ter sido
descoberto em 1987, após o seu estudo ser passado ao papel em Junho de 1989,
foram expostos, na forma que os vemos em 1997, no Natal de 1990, na capela,
sacristia e pequeno quarto anexo do solar de São Vicente Ferrer, sede daquela
instituição.
Esta
exposição, que, graças ao interesse do público, se transformaria em
‘permanente’, foi , a seguir à do presépio movimentado, a segunda do museu,
seguindo-se-lhe até Agosto de 1993, mais três sobre a mesma temática.
Nesta
segunda, além dos artefactos cerâmicos e demais materiais arqueológicos, num
diálogo propositado de materiais, formas, cores e motivos, também fizeram parte
dela fragmentos de azulejos quinhentistas, nomeadamente de ‘corda seca’ e de
‘aresta’, fragmentos de azulejo liso, provavelmente pertencentes a composições
de ‘enxequetados’, fragmentos de um painel setecentista da capela-mor da igreja Matriz de Nossa Senhora da Estrela
da Ribeira Grande, azulejos oitocentistas da vila da Lagoa e conjuntos
produzidos na Fábrica de Sacavém.
Todos
estes já foram objecto de estudo e de apresentação nos diversos encontros sobre
azulejaria que decorreram no Palácio Fronteira, cidade de Lisboa. A seu tempo,
e quando houver patrocinador, por considerarmos um dever decorrente do conteúdo
funcional do conservador de museus, tentaremos a sua divulgação. Não obstante
tentar incluí-los no presente volume, devido aos custos de edição inerentes à
publicação de numerosas imagens a cores, este objectivo não se pôde concretizar.
Um
primeiro estudo dos seiscentistas, tema central deste volume, como já foi
referido, viu a luz do dia em vésperas da “Semana do Barroco,” que se realizou
na Ribeira Grande.[305]
Aproveitando a deslocação a esta cidade de José Meco, autor de vários trabalhos
especializados sobre a temática e co - organizador, mais Rafael Salinas Calado,
dos ‘Encontros de Azulejaria no Palácio Fronteira,’ iniciei um processo
profícuo de troca de ideias, muitos alvitres e sugestões, que culminou nas
palavras de incentivo transcritas no início
deste volume.
O
método a que recorro, como se tornará óbvio pela leitura do texto, utiliza
tanto documentos orais como escritos e utiliza igualmente o diálogo entre mim e
José Meco, motivado, essencialmente, pelos comentários que ele me foi fazendo,
nos múltiplos contactos que temos tido, ao que respiguei, segundo ele, muitas
vezes fora de contexto, outras porque já mudara de opinião, da sua obra
publicada, ou de obras de outros autores.[306]
Neste
diálogo também intervieram o Prof. Victor Serrão, Rafael Salinas Calado e a Drª
Irisalva Moita.
Sempre
que, sobretudo José Meco, duvidava e corrigia uma sua afirmação retirada de uma
sua obra, como vimos fora de contexto, ou avançava novos dados ao trabalho de
Santos Simões e a outros mencionados, optei por o incluir sob a forma de
testemunho/comentário. Fi-lo porque os estudos sobre azulejaria têm, sem sombra
de dúvidas, nos últimos tempos avançado graças à acção dos sobreditos
‘Encontros do Fronteira’, sobretudo devido à possibilidade de diálogo
interdisciplinar entre especialistas de
vários países, sobretudo ainda graças à enorme massa de conhecimentos obtida
através das múltiplas viagens de estudo levadas a cabo, entre outros, por José
Meco, no acompanhamento e montagem de exposições de azulejo, um pouco por todo
o planeta, designadamente América do Norte e Sul, Ásia e Europa.
Haverá
que reter, no que concerne a datação, à luz dos conhecimentos actuais, « não há
regras precisas para esta época porque há gostos que permanecem porque existiu
falta de capacidade de renovação.»[307]
No
que concerne à conservação, restauro e exposição segui mais de perto o que se
está a fazer no Museu Nacional do Azulejo.[308]
O
trabalho está dividido em quatro capítulos.
Como
se encontraram os azulejos seiscentistas em questão?
O
percurso deveras romanesco e fortuito, com o qual dei largas à prática das
teorias de Agatha Christie, Sherlock Holmes e Enid Blyton, tão caros à minha
adolescência, demonstrou sobejamente os benefícios da colaboração entre a
comunidade e o seu museu. Um ou outro elemento da chamada ’elite instruída’
sentiu como sendo dignos de figurar naquela instituição, a encetar então os
primeiros passos, aqueles azulejos tidos pela restante comunidade pelo modo talvez
depreciativo de ‘tijolo’.
Devo
dizer que, além dos passos sumariados na Nota cronológica explicativa de
como e onde encontramos os azulejos estudados desde Outubro de 1987 até
1997, em diversas ocasiões, variados locais e múltiplas circunstâncias, encontramos
restos, fragmentos deste conjunto ou de conjuntos presumivelmente pertencentes
a outros locais. Desde então, e aproveitando a abertura de valas de saneamento
básico, encontrei elementos idênticos no adro, à volta do adro e escadaria da
igreja da Matriz da Ribeira Grande, ‘Cascata’, Jardim Municipal, igreja de Nossa Senhora de Guadalupe e adro das
Freiras. Junto à loja do ‘Flores’, no canto oposto da igreja do Espírito Santo,
encontrei em Março de 1991 um fragmento de um elemento que terá, muito possivelmente,
pertencido a uma sanefa de frontal de altar cerâmico de aves e ramagens com
contornos a manganês,[309]
tal como se vê na ermida de Nossa Senhora dos Anjos, em Santa Maria,[310]
entre muitos outros exemplos possíveis. Com aquele contorno já tinha encontrado
fragmentos no quintal do senhor Angelo Ledo, na rua de Sousa e Silva n.º 109.
Encontrei
igualmente fragmentos junto ao alçado norte da igreja de Nossa Senhora de
Guadalupe, vulgo igreja dos Frades,[311]
na entrada de um pasto na Ribeira Seca, talvez entulho da família Gamboa levado
para um dos seus prédios, conforme se poderá ler no anexo já aludido. Encontrei
ainda um ou outro azulejo na edícula da fachada da igreja da Matriz e muitos
mais por todo o largo das Freiras, concentrando-se a maioria porém, no vértice
poente da antiga cerca conventual.[312]
Ou então no interior , numa área que deveria corresponder ao claustro e igreja
conventuais demolidos no século passado.
Outros, encontrados nas casas circunvizinhas, poderão igualmente ter
feito parte do antigo mosteiro de Jesus. Na rua de João d’Horta igualmente.[313]
Tratamento
Que
fazer com os azulejos? Lançado na museologia, convém referir, apesar de ter
acedido à função pública por meio de concurso público, quase de pára-quedas, a
exercer funções há pouco mais de um ano, a braços já com os moinhos, com o
Arcano Místico e o presépio movimentado, aconselhei-me, de imediato, com quem
sabia mais do que eu. Os Drs. Manuel Barbosa e
Jorge Gamboa de Vasconcelos identificaram-me a proveniência dos mesmos.
O segundo, que tinha sido cicerone, na década de sessenta, de Santos Simões,
cuja visita culminaria com a publicação, pela Fundação Calouste Gulbenkian, de
‘ A Azulejaria Portuguesa nos Açores e da Madeira’, falou-me da técnica de
exposição daquele estudioso.
Falou-me
igualmente da sua data provável, no que foi corroborado por outros
especialistas a quem recorri, nomeadamente o Dr. Nestor de Sousa.
Para
expo-los, quanto à sua apresentação e montagem, exceptuando o cimento, ia
seguir o que me pareceu ser a prática do Museu Carlos Machado, ou seja quadros
sobre fundo de cimento, mais uma camada de gesso, sobre o qual assentavam os
azulejos. Ao que consta, também utilizada por Santos Simões. Desisti. Ainda
pensei na técnica proposta por Santos Simões, numa segunda fase, conforme
comunicação apresentada na reunião de Conservadores dos Museus, Palácios e
Monumentos Nacionais em 1962 na cidade de Lisboa.[314]
Todavia,
e lamentavelmente, quanto à formação de padrões, não segui de imediato as
sugestões de Santos Simões, tendo, entre outros erros, felizmente reversíveis,
agrupado em pequenos padrões elementos de padrões de maiores dimensões.
Exceptuando a identificação da cercadura C 59 , versão policroma, retirada da ‘
Azulejaria em Portugal no século XVII,’segui a tipologia constante na
‘Azulejaria Portuguesa nos Açores e na Madeira,’do mesmo autor.
Felizmente
ainda, para bem da minha reputação e dos
azulejos, pouco depois, apenas umas semanas depois do início daquele trabalho,
uma brigada do Instituto José de Figueiredo deslocou-se à Ribeira Grande a fim
de fotografar e colher amostras de elementos do Arcano Místico, de Madre
Margarida Isabel do Apocalipse. Aconselharam-me de outro modo. A partir de
então e até à vinda de José Meco, no verão de 1989, corrigi a formação dos padrões,
parei com a experiência de montagem em ‘tabopan’ ( utilizando uma camada de
cimento e sobre ela gesso, onde assentavam os azulejos) e avancei como uma nova
proposta de formação e colocação de painéis.
Ainda
naquele verão, salvo erro, já tinha tido contactos telefónicos, fui ao Museu
Nacional do Azulejo, conversei com Rafael Salinas Calado, seu Director até há
pouco e autor de uma nova técnica de montagem de azulejos.[315]
Pude comparar a minha proposta com o que aí se fazia. Entretanto já tinha lido
algo sobre a mesma temática, da autoria do ceramista Mário Oliveira Soares.
Como entretanto, por sugestão das técnicas do I.J. Figueiredo, se bem me
lembro, alterara conforme se vê na nossa
proposta de montagem de Junho de 1989, para o acrílico e para a cola acrílica,
após visita ao M.N.A, alterei só o
suporte em madeira, os T metálicos, por serem desnecessários, e a utilização da
resina para fixar as superfícies esmaltadas, por ser desaconselhado.
Nesta
primeira exposição de azulejos, segunda do museu, utilizei a folha de Plexigas
( acrílica), colei os fragmentos com cola ‘Super 3’ e fixei os azulejos ao
acrílico com cola acrílica ‘Bostick’. Fiz pequenos painéis que encaixaram uns
nos outros. A solução de fixá-los à parede acabou por ser simples e fácil:
travessas em madeira em ângulo recto, como observara nos museus do Azulejo e
Cidade de Lisboa, que, aparafusadas às costas da folha de suporte dos azulejos,
encaixavam em ‘camarão’ recto metálico aparafusado à parede. É de fácil
manuseio, seja na montagem como na desmontagem, além de não ser, ao contrário
do ‘aerolam’, utilizado mais tarde na Europália, ou em algumas figuras de
convite no M. N. Azulejo, ou estrutura em favos de mel, excessivamente caro. É
também reversível.
Não
escolhi o ‘platex’, tal como também o fazem no Museu da Cidade, por ser opaco e
não me permitir seguir a evolução das colas, já que não tinha a certeza de ter
feito bem a dessalinização das chacotas.
Todos
estes passos e decisões, hesitações inclusive, estão documentados quer em
fotografia, desenho ou diapositivo, quer por escrito , primeiro num livro que
intitulei de ‘ Livro de exposições’, depois, já
nas fichas de inventário concluídas em 1996. Todo este processo foi
sendo explicado em aulas e visitas guiadas que fomos fazendo. Por falta de
formação adequada e por falta de técnicos capazes, improvisámos instrumentos
para a remoção mecânica das argamassas do tardoz, não fixamos os vidrados,
substituímos os ‘doentes’ por elementos ‘sãos’ e não dessalinizámos capazmente.
Em todo o caso, passados sete anos da abertura da exposição, após vário
manuseio, ainda não detectámos, excepção feita a um ou outro elemento, graves
problemas.
Valeu,
ao que penso, o relativo bom estado de conservação dos seus vidrados, apesar de
encontrarmos algumas chacotas bastante fragilizadas. Aconselhamos, contudo, uma
vigilância continuada e, numa próxima oportunidade, proceder à sua
dessalinização.[316]
Porque
se mantém basicamente o que se escreveu em 1989?
Porque
se trata, na minha óptica, de uma obra datada, assim sendo marcará um percurso
e uma relação entre uma ‘peça’ e uma atitude perante a mesma. Marcará uma
prática já afastada das propostas de Santos Simões, mais próxima de Mário
Oliveira Soares e muito próxima das que agora se praticam pela Europa fora,
graças a Rafael Salinas Calado. Isto quanto à sua técnica de montagem e
apresentação.
O
restauro e conservação do retábulo, urna e arco do altar da capela de São
Vicente Ferrer, a criação do guarda-vento e tudo o mais veio ao encontro da
tentativa de encetar, como acima já se referiu, o diálogo entre materiais,
cores, formas, o interior e exterior do museu. Este ano, por exemplo,
retomou-se, o ‘hábito’ de fazer a festa do patrono da capela, no seu dia
próprio, em colaboração, tal como outrora, há 20 anos, mais ou menos, com a
vizinhança.
Em
termos expositivos, falta, entre outros elementos aqui sugeridos, completar as
sugestões de iluminação, de explicação, de itinerários externos, de oficina de
barros e cerâmica, em suma, de continuar a estreitar a ligação do museu com a
nova fábrica de azulejos criada depois desta exposição na Ribeira Grande. O
museu pode e deve acompanhar o desenvolvimento da comunidade também desta
forma.
Porque
ainda não o fiz? Por falta de definição do museu, seu âmbito de actuação,
relação com as tutelas, criação da rede museal polinucleada, sua
infra-estruturação, diferenciação entre animação cultural e infraestruturação
museal, ou seja a velha diferença entre o Museu e a Casa da Cultura, recursos e
formação de pessoal qualificado, em parte, também por manifesta incapacidade em
acudir a muitas frentes com tão pouco pessoal, ou porque se optou por investir
na abertura de exposições que tornassem o museu útil, por conseguinte, que
justificasse a sua existência. Agora é chegada a hora da sua remodelação, assim
o queiram os que nele mandam.
Agradecimentos
A
todos os que acima mencionei, ao Carlos Arruda, que digitalizou o grosso do
texto, aos que comigo, ao longo de muitos meses removeram as argamassas dos
azulejos, aos carpinteiros, que fizeram os suportes, ajudaram a colar os
painéis, em suma a todos quantos tornaram possível esta exposição.
À
Câmara Municipal da Ribeira Grande e ao Instituto Cultural de Ponta
Delgada.
Caldeiras, 4 - 10- 1997
QUADRO I
TIPO DE EDIFÍCIO ONDE FORAM
COLOCADOS - CONVENTOS E MOSTEIROS
I
Convento de S. Francisco - Ponta Delgada - S. Miguel Açores |
II
Mosteiro de Stª Clara ( Clarissas ) - Funchal Madeira |
I
Convento de S. Francisco - Vila do Porto - Stª Maria Açores |
II
Mosteiro de Nª Sª da Esperança - Ponta Delgada - S. Miguel Açores |
II
Mosteiro de Stº André ( Clarissas ) - Vila Franca do Campo - S. Miguel Açores |
III
Colégio dos Jesuítas - Ponta Delgada - S. Miguel Açores |
III
Colégio dos Jesuítas - Funchal - Madeira |
I
Convento da Graça - Angra - Terceira - Açores |
I
Convento de S. Francisco - Angra do Heroísmo - Terceira Açores |
IV
Recoleta da Caloura - Lagoa - S. Miguel Açores |
II
Mosteiro de Stº André - Ponta Delgada - S. Miguel Açores |
OBS:
De 11, oito são de Franciscanos e Clarissas. Dos restantes, dois são de Jesuítas e o ultimo de Gracianos.
A ligação dos Franciscanos às Clarissas
reforça a nossa tese da identificação dos existentes na Ribeira Grande como
pertencentes ao convento de S. Francisco e mosteiro de Jesus. Todavia a ermida
de Nª Sª da Caridade (?) também é uma candidata.
QUADRO II
TIPO DE EDIFÍCIOS ONDE FORAM
COLOCADOS - IGREJAS E CAPELAS
II
Sé Catedral - Angra do Heroísmo - Terceira Açores |
I
Igreja da Mãe de Deus - Ponta Delgada - S. Miguel Açores |
III
Capela de Nª Sª da Rosa - Ponta Delgada - S. Miguel Açores |
III
Capela de Nª Sª do Cabo - Lagoa - S. Miguel Açores |
I
Igreja de S.Pedro - Ponta Delgada - S. Miguel Açores |
OBS:
Uso exclusivo em mosteiros, conventos (10) e cinco em 3 igrejas, uma das quais a Sé Catedral. Além destas só em
duas capelas particulares. Portanto, tudo espaços religiosos.
QUADRO III
LOCAL ESPECÍFICO DA SUA
COLOCAÇÃO INICIAL
Convento
de Stª Clara Funchal Madeira |
Capela
da Ressurreição, parte do antigo claustro. Interior
da edícula, ( P20 ) |
Convento
de S. Francisco Vila
do Porto - Stª Maria Açores |
Templo
que seria de culto público. Interior
da Igreja ( B2 ) |
Sé
Catedral Angra do Heroísmo Terceira Açores |
Baptistério
( P10 ) |
Igreja
da Mãe de Deus Ponta
Delgada - S. Miguel Açores |
Interior
da Igreja ( P10 ) |
Capela
de Nª Sª da Rosa Ponta
Delgada - S. Miguel Açores |
Arco
da Capela mor. Por trás da mesa do altar mor ( P 12 ) |
Igreja
Paroquial de São José Ponta Delgada - S. Miguel Açores |
Sacristia
( P 12 ) |
Mosteiro
de Stº André Vila
Franca do Campo - S. Miguel Açores |
Nave
Sul e Norte da Igreja do Mosteiro ( P10 ) e ( P 37 ) |
Capela
de Nª Sª do Cabo Lagoa
- S. Miguel Açores
|
Fachada.
Forrando as paredes do interior ( P35 ) |
Colégio
dos Jesuítas Funchal Madeira |
Capela
mor e do transepto. ( P37 ) |
Convento
da Graça Angra
do Heroísmo - Terceira Açores |
Refeitório
( 37 ) |
Convento
de S. Francisco Angra
do Heroísmo - Terceira Açores |
Refeitório
( 37 ) |
Recoleta
da Caloura Lagoa
- São Miguel Açores |
Subcoro
da igreja ( 37 ) |
Igreja
de São Pedro Ponta
Delgada - São Miguel Açores |
Sacristia
( P 37 ) |
Mosteiro
de Stº André Vila
Franca do Campo - S. Miguel Açores |
Nave
do lado Norte ( P 37 ) |
Mosteiro
de Stº André Ponta
Delgada S.
Miguel - Açores |
? |
Quadro IV
SÍTIOS ONDE FORAM
RECOLOCADOS E / OU TRANSFERIDOS
Edifícios onde se
encontram |
Onde estavam |
Para onde foram ( local do edifício) |
Convento
de S. Francisco Ponta
Delgada S.
Miguel Açores |
Não Sabemos |
Sacristia
do mesmo Convento |
Marquês
Jácome Correia- Palácio de Santana Ponta
Delgada S.
Miguel / Açores |
Antiga
igreja da Mãe de Deus ( interior ) |
Escadaria
do Palácio de Santana Ponta Delgada |
Mosteiro
da Esperança Ponta
Delgada S.
Miguel / Açores |
Não
sabemos os locais do mosteiro. |
Antiga
cozinha |
Convento
dos Jesuítas Ponta
Delgada S.
Miguel / Açores |
Desconhecemos |
Armário
da cozinha |
Museu
de Angra do Heroísmo Terceira Açores |
Refeitório
do Convento da Graça |
Painel no Museu de Angra |
Convento
de S. Francisco Angra / Terceira Açores |
Antigo
Refeitório |
Espaldar
dos bancos e dispersos em troços da parede |
Casa
do Senhor José Leão, Rua Ernesto do Canto Ponta
Delgada / S. Miguel Açores |
Sacristia
da Igreja de S. Pedro Ponta
Delgada |
No
interior da casa |
Quadro V
QUADRO - TIPO P 37 6X6 / 8
Ilha |
Local |
Data atribuída pelo eng.
Santos Simões |
Madeira |
Igreja
do colégio, de S. João Evangelista ( Jesuíta ) |
Estes
azulejos provam que a Capela - Mor já estava pronta antes de 1650 data que me
parece ajustar-se a este tipo de parâmetro, meados do séc. XVII |
Angra
do Heroísmo Terceira Açores |
Convento
da Graça ( actualmente no Museu de Angra ) |
Trata-se
de padrões do Século XVII, de repetição vulgar |
Angra
do Heroísmo Terceira
Açores |
Antigo
Convento de S. Francisco |
São
azulejos de padrão policromo dos tipos vulgares usados no 3º quartel do
século XVII |
Lagoa S.
Miguel Açores |
Recolhimento
da Caloura Igreja
de Nª Sª das Dores |
São
do tempo do Conde Manuel
da Câmara que mandou fazer o coro em 1664 |
Ponta
Delgada S.
Miguel Açores |
Igreja
de S. Pedro (
Seg .tradição oral ) |
Não
adianta datas |
Vila
Franca do Campo S.
Miguel / Açores |
Mosteiro
de Stº André (
Clarissas ) |
Cerca
de 1650 - 1660 |
QUADRO VI
QUADRO - TIPO P 35
4X4/5 MARVILA - ( diz Santos
Simões )
Ilha |
Local |
Data atribuída pelo eng.
Santos Simões |
Lagoa S.
Miguel Açores |
Capela
de Nª Sª do Cabo |
Podemos
aceitar a data de 1675 para toda a azulejaria |
Ponta
Delgada S.
Miguel Açores |
Mosteiro
de Nª Senhora da Esperança |
Não
adianta data |
Ponta
Delgada S.
Miguel Açores |
Colégio
dos Jesuítas Igreja
de todos os Santos |
Não
adianta data |
QUADRO VII
QUADRO - TIPO P 20 CAMÉLIA
OU DÁLIA ( PADRÃO )
Ilha |
Local |
Data atribuída pelo eng.
Santos Simões |
Ponta
Delgada S.
Miguel Açores |
Igreja
Paroquial de S. José, ex-convento de S. Francisco |
Não
adianta datas Obs:
existe lá o P 18 e não P 20 como verificamos - 21.04.89 |
Funchal Madeira |
Antigo
Convento de Santa Clara |
Este
tipo de azulejaria aparece nos meados do séc. XVII atingindo maior
desenvolvimento cerca de 1660 |
QUADRO VIII
QUADRO - TIPO P12 - MAÇAROCA
Ilha |
Local |
Data atribuída pelo eng.
Santos Simões |
São
Miguel Madeira S. Miguel / Vila Franca do
Campo S.
Maria |
Mosteiro
de Stº André P. Delgada Capela de S. Filipe Igreja
do Mosteiro de Stº André S.
Francisco |
??? Cerca
de 1666 Cerca
de 1650 - 1660 |
Obs: Existe P 12 no Mosteiro
de Stº André - lado norte e poente, e não P 10 como o Engº S. Simões afirma.
Observação in loco - 21.04.89
QUADRO IX
QUADRO - TIPO B 2
Ilha |
Local |
Data atribuída pelo eng.
Santos Simões |
Vila
do Porto Santa
Maria Açores |
Igreja
de Nª Senhora da Victória Ex
- Convento Franciscano |
Bem
marcadamente dos meados do século XVII |
QUADRO X
QUADRO - TIPO C3 ACANTOS E
PÉROLAS COM DIAMANTES A OCRE
Ilha |
Local |
Data atribuída pelo eng.
Santos Simões |
Caldeiras Ribeira
Grande S.
Miguel Açores |
Ermida
de Nª Senhora da Saúde |
O
Engº Santos Simões não sabia da existência destes azulejos, não os menciona |
Ponta
Delgada S.
Miguel Açores |
Mosteiro
da Esperança |
Não
atribui data |
Ponta
Delgada S.
Miguel Açores |
Capela
de Nª Senhora da Rosa |
1650
- 1660 (?) Não
atribui data |
QUADRO XI
TROCA ORIGINAL DA COLOCAÇÃO
DOS PADRÕES 4X4/5 (P35) E
6X6/8 (P37) POR 2X2
Ilha |
Local |
Lugar específico |
Padrão criado |
Explicação |
Lagoa S.
Miguel Açores |
Capela
de Nª Senhora do Cabo |
Na nave da Capela-Mor |
Substituiu-se
os 4x4/5 por 2x2 |
Provavelmente
por ignorância da sua ordenação |
QUADRO XII
RECOLOCAÇÃO INCORRECTA DOS
PADRÕES 4X4 ( P35) E 6X6/8 (P37)
POR 2X2
ILHA |
LOCAL |
Colocação |
Padrão criado |
Explicação |
Ponta
Delgada S.
Miguel Açores |
Mosteiro
da Esperança |
Coro
baixo |
4x4/5 e 6x6/8 por 2x2 |
Por
ignorância ?? |
Ponta
Delgada S.
Miguel Açores |
Colégio
dos Jesuítas |
Cozinha |
4x4/5
por 2x2 |
Mera
colocação utilitária |
Angra
do Heroísmo Terceira Açores |
Antigo
Convento de S. Francisco |
Do
refeitório passaram a revestir bancos |
6x6/8
por 2x2 |
??? |
NOTA
EXPLICATIVA
Os
quadros com as letras correspondem aos elementos dentro dos padrões de acordo
com a “Azulejaria Portuguesa nos Açores
e na Madeira” bem como as notas do mesmo antes endereçadas ao Museu Carlos
Machado.
Os quadros numerados correspondem aos
quadros como os iremos montar.
CONCLUSÃO
CARACTERÍSTICAS
MORFOLÓGICAS
A
técnica da inclusão das cores e a pintura do azul sobre o branco e do amarelo
sobre o azul.
Os traços desenhando as formas
geométricas ou fitomórficas são feitas a grosso na cor dos mesmos elementos.
Não há o mínimo vestígio de roxo de manganés, excepto no azulejo que tenho na
minha colecção e que não sei a origem.
As cores utilizadas são os tons de
amarelo ( torrado inclusive e laranja ) azuis, claro e escuro, e branco.
Quanto às dimensões do lado os do
Padrão P37 variam entre 140mm a 150mm. A média é a seguinte:
LEGENDAS
(1)
- Nota Introdutória onde se explica o interesse dos azulejos seiscentistas bem
como a biografia dos que se encontram expostos.
(2)
- Padrão policromo 37. Referir que se segue o indicado pelo Engº Santos Simões.
(3)
- Dentes de Serra. Cercadura usada nos padrões maiores, por conseguinte,
julgamos mais adequado a sua colocação abaixo de outro padrão.
(4)
- Nota explicativa do padrão, incluindo a menção de que alguns dos seus
elementos foram recolhidos em locais diferentes.
(5)
e (6) - Fotografia dos locais onde recolhemos e dos locais onde pensamos terem
estado colocados originalmente.
(7)
- Padrão 35. Não dispomos dos elementos centrais[Em data posterior ao registo
da ‘Secção de Arqueologia e Azulejaria’, feito em 12/11 de 1991,
encontrei, por acaso, em duas caixas contendo o espólio remanescente da recolha
arqueológica efectuada à torre da igreja Matriz da Ribeira Grande, dois
fragmentos do mesmo elemento C central, daquele padrão cobertos de cal. Após
serem limpos e colados, confirmaram a reconstituição que fizéramos em 1989 ]. Quer para o P35 quer para o P37
desconhecemos se na origem estiveram colocados como indica o Engº S. Simões.
Porém, por razões didácticas e mesmo estéticas resolvemos agrupá-los em padrões
4x4 e 6x6.
(8)
- B2 - Barra utilizada vulgarmente para emoldurar quer os painéis
individualmente quer os tapetes por isso colocámo-la por baixo de um padrão.
(9)
- Nota explicativa do P35 e do B2, incluindo a indicação do uso de elementos
provenientes de locais diferentes.
(10) (11) e (12) - Fotografias dos locais onde
foram revelados e daqueles locais em que supomos terem estado colocados.
(13)
- O padrão 12, chamado de “maçaroca”.
(14)
- Friso ou cercadura não identificado.
(15)
- Padrão 20 ou “camélia”.
(16)
- Explicação do P12 e P20, também da cercadura ou friso.
(17)
- Fotografias.
EXPLICAÇÃO
DA 2ª PROPOSTA
1 -
O padrão P37 6x6 deverá ser colocado
acima da linha média da superfície parietal onde será exposto, dado que, por
razões de erro de paralaxe, este padrão ter sido sempre aí colocado. Para além
do mais, só assim se poderá conciliar os imperativos museológicos, quer
estéticos quer históricos. Esta situação é comprovada, entre outros locais, na
igreja de Stº André, mosteiro do mesmo nome, em Vila Franca do Campo.
2 -
Quanto ao padrão P35 4x4; apesar de por vezes ter sido colocado em partes
altas, sobretudo em pequenas capelas, também foi colocado em partes baixas,
designadamente, em igrejas. Deste modo, tanto se poderia colocá-lo na parte
superior como na inferior. Não obstante, na proposta, colocá-lo-emos na parte inferior, todavia,
mais tarde, podemos trocá-lo, colocando-o na parte superior, desde que seja esteticamente
melhor.
3 -
Os padrões P20 e P12 foram geralmente colocados nas igrejas, na parte inferior,
porém revestem capelas de alto a baixo. Desconhecendo-se o local primitivo da
sua colocação, o mesmo se poderá dizer do P35 e do P37, porém, desconfiamos
que, dada as características do 6x6, eles tivessem estado colocados em grandes
superfícies parietais. Em qualquer caso, e ressalvando esta dúvida, propomos a
sua colocação na parte inferior.
4 -
Quanto às barras B2 e não identificada, como era hábito usá-las acompanho os
padrões, quaisquer que eles fossem, P37 ou P12, portanto, 6x6 ou mesmo 2x2,
optamos, aleatoriamente, por escolher o B2 para o P37 e o não identificado para
sublinhar os P12 e P20.
5 -
Quanto aos Dentes de Serra, também aleatoriamente, optamos pela sua colocação
junto ao P35. Todavia convém referir que este tipo, ou seja, os Dentes de
Serra, eram também utilizados tal como as barras.
CONCLUSÃO:
Esta
segunda proposta é aquela que melhor, na nossa óptica, concilia os aspectos
museológicos sejam os estéticos sejam os históricos, já que, ainda que
fragmentariamente, é aquela que melhor propõe o esboço da reconstituição
original dos painéis.
As distâncias reais entre o B2 e o P37,
por um lado, e o P35, por outro, por exemplo, os primeiros na parte
superior, os segundos na inferior, não
devem, todavia ser muito grandes, daí o bom senso que se exige na sua exposição.
Cálculo hipotético da
quantidade de azulejos que comportaria a fachada da igreja Matriz da Ribeira Grande
1
Azulejo (
0.14 x 0.14 ) m2
X______________________________
12 m2
Y
_____________________________ 3 m2
Z
_____________________________ 5,50 m2
X = _____12______ =
612.2449
0.14
x 0.14
Y = ______3_______
=153.06
0.14
x 0.14
Z = ______5,5_____
=280,6
0.14
x 0.14
X---------->
612.24 x 2 =1224.48
Y---------->
153.06 x 2 =306.12
Z----------> 280.6
TOTAL = c.1811.2
Este cálculo
deve ser interpretado com muita cautela. Em 1993 encontrei junto ao adro da
igreja, durante trabalhos de electrificação,
um fragmento de azulejo branco de 140 mm x 140mm . Segundo testemunhas
oculares, entre os quais mestre Almeida que esteve na sua remoção, ‘havia
alguns[não se lembrava se muitos ou
poucos] brancos e outros todos
azuis e brancos.’ O que vim a confirmar ao encontrar, além dos da edícula,
fragmentos daquele tipo. A D. Maria Mota também os referiu, no que foi
corroborada pelo sr. Angelo Ledo. Este último muito ligado aos movimentos da
igreja e membro da Juventude Católica do Prior Evaristo Carreiro Gouveia, referiu-me
que: ‘ quando alguns azulejos caíam o senhor prior encomendava-os na fabrica da
Lagoa onde trabalhava o sobrinho.’ O
fragmento de azulejo branco que encontrei parece, à primeira vista, ser
do barro utilizado pela Lagoa, apesar de o vidrado ser mais branco e de no
século XIX e XX os barros utilizados em
várias fábricas por todo o país, do Minho ao Algarve, estendendo-se aos Açores,
serem idênticos. Todavia registe-se que :
1- poderia haver inicialmente
só azulejos seiscentistas policromos.
2- poderia haver logo de início
também não policromos.
3- poderia acontecer só o
mencionado em 1, ou igualmente no 2, mas com a queda de alguns, alguns seriam
substituídos por azulejos da época em que caíram. O mesmo Angelo Ledo aduziu
que ‘ aquilo para o fim estava muito misturado, foi bom terem-nos tirado. Aquilo
estava ruim de se ver.’ Portanto o cálculo que fizemos em 1989, já criticado
por Meco, é em 1997 um cálculo pouco fiável. Pouco adiantará ao debate. Contudo
mantenho-o para documentar o processo de busca.
Respigando os fragmentos, grandes e
pequenos, bem como os azulejos inteiros danificados que temos em quadro e que
provêm de certeza, há excepção dos 7 danificados do ex-Externato, pudemos
traçar um quadro elucidativo da sua provável taxa de destruição.
Com isso pretendemos esclarecer que não
bastaria à ermida de Nª Srª das Caridades (?) ter espaço parietal para fornecer
os cerca de 1811 azulejos recolocados na fachada da Matriz, seria necessário
retirá-los naquela quantidade. Cairá por terra este argumento se, porventura,
já se utilizavam os brancos e os da capela-mor estivessem disponíveis. Há que
ter em conta a destruição acidental durante a sua remoção.
Abordaremos um caso limite (?),
nomeadamente os que tendo sido recolocados na dita igreja foram daí retirados
em 1956. Atente-se que a intenção não era a de preservá-los para, mais uma vez,
serem recolocados. Mesmo assim vejamos:
Azulejos danificados |
7 + 4 (1) |
Fragmentos pequenos |
66 |
Fragmentos pequenos |
54 |
(1) Quatro vieram do ex - Externato e
não temos a certeza absoluta que vieram da fachada da Matriz.
Os cinquenta e quatro fragmentos
pequenos não correspondem necessariamente a outros tantos azulejos, porém,
suponhamos que existe esta correspondência e adicionemo-lhes aos demais, visto
que estes parecem equivaler, cada um, a um azulejo.
Deste modo obtemos cento e trinta e um
azulejos. Se antes de serem arrancados da fachada da Matriz, pelo menos, ao que
podemos apurar por uma observação muito incompleta ( e arriscada ) feita à lupa
no confronto com uma fotografia de 1927, existiram 448 azulejos P35 agrupados
em 2 x 2 ( dos elementos que formam um círculo tal como se encontra na ermida
de Nª Srª do Cabo, na Lagoa ),os 131 do mesmo tipo, evidentemente, equivalem a
cerca de 29%, o que revela uma perda da ordem dos 70%. É uma questão em aberto.
Esboço do
itinerário plausível de alguns azulejos seiscentistas estudados
|
Torre
da igreja |
a) Provenientes da própria
igreja Matriz e anteriores à
recolocação. Pelo entulho escavado é impossível saber-se. Estão misturados
com os figurados do século XVIII. Os que sobraram e que vieram da igreja? b) Da própria igreja e
contemporâneos da recolocação. Os que sobraram dos que vieram de fora. c) Da fachada da igreja e
contemporâneos da remoção. Segundo testemunhos os azulejos removidos que não
foram levados para o calhau ou por particulares foram empilhados na torre. |
Fachada
da Matriz |
Directamente
da fachada da igreja |
a)Dr.
Jorge Gamboa de Vasconcelos, rua de
Nossa Senhora da Conceição b)Dr.
Luís Mota Depois
da sua remoção em 1956. |
|
Atribuídos
à época da remoção e de lá levados ou que se presume de lá terem sido levados |
a) ex-Externato
Ribeiragrandense, rua Sousa e Silva nº b) Casa do sr. Angelo Ledo,
rua de Sousa e Silva nº 109 |
Os
que de certeza não vieram da fachada da Matriz aquando da sua remoção em 1956 |
|
a)Ermida
das Caldeiras b)Casa
junto à ermida das Caldeiras Foram
encontrados fragmentos e azulejos nesta casa há mais de sessenta anos,
segundo o sr. Humberto Viveiros, quando se procedeu à sua ampliação. Sobras
da fachada da Matriz? Viriam do ex-convento dos Frades? De outro lugar? c)Quintal
da casa da rua do Botelho nº 41 d)Cozinha
de casa na rua de São Vicente Ferreira nº 7 . Em
ambos os casos já lá estavam antes de 1931. Sobras da fachada da Matriz?
Directamente dos seus lugares primitivos? Foram encomendados para aquelas
casas no século XVII? |
Frades |
|
a)
Dependência do Museu Carlos Machado |
Esboço do
itinerário plausível de alguns azulejos seiscentistas estudados
Proveniência
No século XVII da cidade de
Lisboa
Mosteiro de Jesus da
Ex-vila da Ribeira Grande |
Convento de Nossa Senhora
da Guadalupe- R.Grande |
Ermida de Nossa Senhora da
Caridade - R.Grande |
Igreja da Matriz -R.Grande |
Outro (s) local(ais) |
Século XIX - Desapareceram
dos locais acima referidos e surgem nos seguintes( discutirei as hipóteses de
cada local): |
Parte do frontispício da
igreja Matriz da R.Grande - já
referidos em gravuras de 1869 - finais de 1940? ExExternato
Ribeiragrandense - 1984? Armazém da Câmara - 1987 Museu da R.G. |
Ermida de Nossa Senhora da
Saúde - já em 1850? Caldeiras - Abril de 1988 - Alguns azulejos para o
museu da R.Grande |
Casa junto à ermida de
Nossa Senhora da Saúde- 1850? Caldeiras - Abril de 1988 - Alguns fragmentos para o
museu da R.Grande |
Colecção do Marquês de
Jácome Correia. Ofereceu-os em 1917 ao Museu Carlos Machado- Atribuídos ao
vestíbulo do convento de Nossa Senhora da Guadalupe |
Casa do sr. Albano Cabral
de Melo- rua do Botelho nº 41 - Azulejos em 1989 para o
museu da R. Grande |
Casa do Mestre Augusto
Rocha, rua São Vicente Ferreira, nº 7 |
Casa do sr. Herculano
Couto, rua da Ponte Nova nº 3 - Azulejos em 1990 para o
museu da R.Grande |
Casa do sr.Angelo Ledo - 1988 Museu da R.G. |
Torre da igreja - 1988 Museu da R.G. |
Directamente das Terras do
ex-mosteiro de Jesus
1987 Vala de condução de água
potável |
1989 Alargamento da rua de
Trás-os - mosteiros |
1988/Set/Out Escavações Associação
Arqueológica do Arquipélago dos Açores |
Museu da R.G. |
Museu da R.G. |
Museu da supradita
Associação - Arrifes |
Nota
cronológica explicativa de como e onde encontramos os azulejos em questão
1-
Algures em Outubro de 1987 encontramos, com a coloboração e pistas de mestres,
antigos professores e o Encarregado Geral da Câmara, no Armazém Municipal da
rua do Ouvidor dois cestos de vimes cheios de azulejos seiscentistas
provenientes do ex-Externato Ribeiragrandense, na Rua de Sousa e Silva n.º 7,
para ali levados após as obras de adaptação daquele Ex-Externato de ensino
secundário a Serviços Judiciais em 1984 (?)
Graças à informação dos senhores doutores
Jorge Gamboa de Vasconcelos e Manuel Barbosa, após os reconhecer
inequivocamente, já que o Padrão 2x2 que deveria ter sido P35, incluía um
elemento repetido que reconheceu, disse-me que os encontrara soltos na cozinha
na Externato no Verão de 48 ou 49 e que provavelmente teria sido o Comandante
Armando Soares, antigo proprietário do edifício que os levara para lá, de onde
não sabia, mas provavelmente da Igreja da Matriz .
2-Um mês ou dois após, encontrei numa
vala de saneamento básico no Adro das Freiras alguns fragmentos do mesmo tipo.
Nem os vizinhos mais antigos ou os mestres da Câmara me explicaram a sua
origem.
Contactei o Drº Sousa de Oliveira,
arqueólogo, que mais tarde iria proceder a escavações no interior das terras do
Ex-Mosteiro, que se deslocou à Ribeira Grande.
3- Em 15 de Agosto de 1988, verifiquei
que no interior da ermida das Caldeiras, Nossa Senhora da Saúde, existiam
azulejos daquele tipo.
4- Em Setembro daquele ano falei, pelo
telefone, com o Srº Humberto Viveiros, proprietário da casa junto à ermida e a
zelar pela manutenção da mesma e referiu-me que na dita casa ele tinha dois
azulejos iguais aos da capela. Explicou-me que os descobrira o seu avô no
entulho quando há mais de sessenta anos
reconstruira a casa.
A ermida fora rebocada caiada e
retelhada recentemente e que, por incúria alguns dos mestres danificaram alguns
e os atiraram para o entulho.
Garantiu-me que fora a primeira vez que
tinha rebocado de novo a capela.
5- Em Setembro e Outubro de 1988, a
Associação Arqueológica de São Miguel procedeu a escavações arqueológicas nas
terras do Ex-Mosteiro de Jesus e encontraram-se novos fragmentos.
6-Em Novembro de 1988, segundo as
pistas de Srº Ildeberto Garcia e o Mestre Almeida que trabalhou na remoção dos
azulejos da Matriz, procedi a uma pequena intervenção na torre da Igreja da
Matriz e encontrei muitos azulejos. A zona entulhada situa-se no primeiro andar
da torre e num fundão que parece ter sido uma escadaria em pedra que iria
desembocar onde presentemente se encontra o primeiro altar a contar do
guarda-vento, da nave lateral direita. Neste entulho também encontrei azulejos
setecentistas.
7- Em Dezembro daquele ano foi a vez de
encontrar um azulejo C3 e um fragmento ambos delineados a traço roxo de
manganés no quintal do Srº Ângelo Ledo, já falecido na rua de Sousa e Silva n.º
109.
8- Em fins de Fevereiro e princípios de
Março encontrei muitos outros na correcção do nó viário da rua de
Trás-os-Mosteiros com o Adro das Freiras. Interior das terras do ex-mosteiro. Como
não pude proceder a uma intervenção arqueológica recolhi o que pude e mandei
transferir a terra para o quintal do Museu da Ribeira Grande onde tenho
“remexido e peneirado”. Já encontrei muitos fragmentos ali de séculos
anteriores.
A terra depois de “revistada” foi
utilizada para compor os canteiros botânicos da nossa secção botânica situada
entre o edifício do museu da Ribeira Grande e o Barracão a poente[demolido em 1993].
9- Ainda em Março de 1989 encontrei na
Rua do Botelho, na casa do Srº Cabral de Melo, alguns azulejos deste tipo que
ofereceu ao Museu da Ribeira Grande.
10- Em finais de Abril encontrei na
arrecadação do Museu Carlos Machado dois painéis atribuídos ao Convento dos
Frades que foram oferecidos pelo Marquês de Jácome Correia.
11 e 12. Vi na casa de familiares, em
Ponta Delgada, do actual presidente da Câmara um painel de azulejos vindos da
Matriz e ouvi o Drº Jorge Gamboa dizer que também tinha alguns na sua casa da
Ribeira Grande.
13-Em Abril de 1989 o Srº Mestre
Augusto Rocha, morador na Rua de São Vicente Ferrer nº7, disse-me que tivera
iguais na cozinha da mãe, junto à sua e que os guardara em uma arrecadação.
Ainda não os vi.
Estas
observações que se seguem foram efectuadas depois de ter terminado a redacção
deste livro.
14 - D. Maria Mota, solar da Mafoma, São
Pedro - 7 de Julho de 1989. Num fontenário ao fundo da quinta. Em 8 /07/1989
entrevistei a D. Maria Mota que me disse os ter comprado ao ‘sacristão’ da
Matriz e que os havia também na porta lateral que dá para o jardim onde se
encontra[va] a estátua do dr. Gaspar Frutuoso.
1- 2 azulejos C3 , iguais aos
da capela da Rosa, Fajã de Baixo, concelho de Ponta Delgada, e da ermida de
Nossa Senhora da Saúde, nas Caldeiras.
2- 2 fragmentos médios de
dentes de serra .
No
interior do solar.
3- 1 azulejo P 12, maçaroca.
4- 2 azulejos do século XVIII
pertencentes a painéis figurados.
15 - Edícula da fachada da igreja da
Matriz da Ribeira Grande- 2 fragmentos de difícil identificação. 8-03-1990.
16- Casa nº 62 da Rua de João d’ Horta: 3
B2; 5 elementos do P 37. 8/03/1990
Foi o mestre Adelino Ferreira, morador na
mesma rua, que vendo os que retirávamos na edícula, me disse que «havia iguais
àqueles na casa que foi do mestre Vesceslau ‘mecânico’. »
17- João
Gamboa. 6-04-1990. Referente à casa da Quinta de Santo António, à entrada
poente da Ribeirinha. Tinham, segundo ele, sido retirados da cozinha, junto a
um filtro de água em pedra, ao que parece, pela descrição que me fez, formando
jogos de embrechados com fragmentos heterogéneos de azulejos dos séculos XVII e
XVIII. Estavam lá antes de 1950. Século XVII, ao que sugere, depois de ver os
do museu, com algumas reticências, seriam:
1-vários fragmentos de B 2
2-elementos A do P 35 ( 2 ou 3 incompletos)
3-talvez algum elemento do P 37
4- talvez algum elemento P 20 Camélia
18 - 27- 04-1990. De novo com a D.Maria
Mota.
1- 12 elementos do B 2
2- 4 elementos do padrão
Camélia, P 20
3- 7 elementos circulares do P
35
4- 3 elementos de cercadura que
não identifiquei igual a uma do museu da Ribeira Grande [tenho algumas reservas].
5- 18 elementos de fora do A do
P 35
Estavam,
segundo a própria, na entrada sul da igreja Matriz de Nossa Senhora da Estrela.
Estavam a desmanchar as paredes. Comprou-os ao sineiro[trata a mesma pessoa por sacristão e sineiro], ao que morreu mais tarde por causa da
intoxicação do vinho abafado do sr. Américo.
19-
27-07-1991 - Adro das Freiras
Falei com
mestre Emanuel Calouro que viu fragmentos de azulejos dos que temos no
museu há seis anos, mais ou menos, na casa entre a Quinta do sr. Pontes [antigo pomar conventual] e a casa do sr. José Gaipo [onde desde 1986 encontrei, entre outros, uma
fonte, restos de fustes de colunas usadas como pedras de cafuão e muita
cerâmica] , no quintal do sr. José
Alberto. Aquela casa deve ser posterior ao convento.
20- 1991- Vestígios de azulejos
seiscentistas que serviram de rodapé a um corredor da antiga Casa dos
Confessores do mosteiro do Nome de Jesus, hoje Escola dr.º Gaspar
Frutuoso.Foram retirados quando se procedeu a obras de beneficiação da
escola.Como esta casa esteve ligada ao Marquês Jácome Correia e este à
Misericórdia, os ditos fragmentos ( vi poucos) de azulejo seiscentista, tanto
poderiam provir do antigo mosteiro, ali defronte, como do convento dos frades,
sede da Misericórdia, de onde o mencionado Marquês recebera de oferta azulejos
sete e seiscentistas.
21- Nos anos de 1990-1993- Ao redor da
igreja do Espírito Santo, onde encontrei
o elemento de frontal de altar 8 Março de 1991). Igualmente na Cascata e Jardim Municipal. À entrada para
uma terra, de herdeiros de José Pavão de Medeiros, hoje pasto, outrora talvez
quinta, na Canada da rua Direita de Cima, Ribeira Seca.
22- 1993 -
Março/Abril - Adro da Matriz fragmentos lisos brancos e azuis e brancos além de
fragmentos policromos.
23-Setembro de 1995. No meio do
jardim do adro das freiras. Alguns fragmentos seiscentistas.
1- Outubro de 1995- Idem
2- Julho de 1996 - Idem.
Incluindo no interior do que agora é o Ciclo Preparatório, antes Casa dos
Padres Confessores do dito Convento.
24 -Exterior norte da igreja de Nossa Senhora da
Guadalupe.
INDICE
TEMÁTICO
Nota
Introdutória
Capitulo
I - p. 1 à 21
Capitulo
II - Tentativa de identificação e datação dos
azulejos por nós recolhidos cotejando e
analizando o estudo do Engº Santos
Simões sobre a azulejaria nos Açores e na Madeira
Capitulo III - Os azulejos que
recolhemos vindos provavelmente da cidade de
Lisboa no século XVII a que local da Ribeira Grande
se destinaram ?
a) Um suspeito: A Ermida de
Nossa Senhora da Caridade (s) ou da (s)
Candeia(s)
b) Outro canditato: Mosteiro de Jesus
da Ex-Vila da Ribeira Grande
c) Outro suspeito: O Convento de Nossa
Senhora de Guadalupe, vulgo Convento
dos Frades da Ribeira Grande
d) Outro suspeito: A igreja de Nossa
Senhora da Estrela vulgo da Matriz da
Ribeira Grande
e) Outro suspeito: Igreja do Espírito
Santo, ou igreja do Senhor dos Passos
ou ainda da Misericórdia Velha
pag. 70 - 73
f) Outros canditatos:Casas particulares
74 - 79
g)Conclusão deste capítulo - 79 - 82
Capitulo
IV - Preparação, tratamento, conservação e exposição museológica dos azulejos seiscentistas de padrão policromo do
Museu da Ribeira Grande 97 - 118.
ÍNDICE DE
GRAVURAS E FOTOGRAFIAS
Nº
1- Gravuras XXX (1866) de Cândido Abranches - Matriz da Ribeira Grande ( azulejos )
Nº
2 - Postal s/ data - Matriz Ribeira Grande ( azulejos )
Nº
3 - Fotografia de 1927 - Matriz Ribeira Grande ( azulejos )
Nº
4 - Fotografia de 1952 - Matriz Ribeira Grande ( azulejos)
Nº
5 - Fotografia de 1956 (?) - Matriz Ribeira Grande ( remoção dos azulejos )
Nº
6 - Fotografia de 1959 - Matriz Ribeira Grande ( já sem azulejos )
Nº
7 - Interior das terras do ex - mosteiro de Jesus - Ribeira Grande
Nº
8 - Interior do ex - mosteiro junto aos locais escavados - Ribeira Grande
Nº
9 - Exterior do ex- mosteiro. Local incluído na rua pública - Ribeira Grande
Nº10
- Interior do Claustro do ex - convento de Nossa Senhora de Guadalupe - Ribeira Grande.
Nº
11 -Igreja do Espírito Santo - Ribeira Grande
Nº
12 - Ermida e casa do Senhor Humberto Viveiros. Caldeiras da ribeira Grande
Nº
13 - Externato Ribeiragrandense
Nº
14 - Museu da Ribeira Grande da Ribeira Grande ( Solar de S. Vicente Ferreira )
Nº
15 - Fachada da Igreja de S. Pedro,
Ribeira Seca da Ribeira Grande ( atribuída
ao ex - mosteiro de Jesus )
ÍNDICE DE
MAPAS
Mapa
I - Locais de São Miguel onde encontramos azulejos iguais aos estudados pelo Museu da Ribeira Grande
MapaII
- Mapa onde se indicam os locais da Ribeira Grande onde encontramos os azulejos que recolhemos.
Mapa
III - Indica a localização das Caldeiras da Ribeira Grande onde se situam a ermida e a
casa do Srº Humberto Viveiros.
Mapa
IV - Planta indicando os locais onde foram recolhidos os fragmentos de padrão nas ex - terras do mosteiro
de Jesus.
ÍNDICE DE
QUADROS
Quadro
I - Tipo de edifícios onde foram colocados - conventos e mosteiros.
Quadro
II - Tipo de edifícios onde foram colocados - igrejas e capelas
Quadro
III - Local específico da sua colocação inicial.
Quadro
IV - Sítios onde foram recolocados e / ou transferidos.
Quadro
V - Tipo P37 (6x6)
Quadro
VI -Tipo P35
Quadro
VII-Tipo P20
Quadro
VIII Tipo P12
Quadro
IX - Tipo B2
Quadro
X - Tipo C3
Quadro
XI - Troca original da colocação dos Padrões 4x4 e 6x6 por 2x2
Quadro
XII - Recolocação incorrecta dos padrões 4x4 por 2x2
Quadro
XIII -Quadro do tipo de azulejos que estudamos.
Quadro
XIV - Inventário dos azulejos recolhidos.
Quadro
XV - Idem
Quadro
XVI a- Idem
Quadro
XVI b- Idem
Quadro
XVII - Idem
Quadro
XVIII - Museu da Ribeira Grande.
Azulejos existentes (estudo )
Quadro
XIX - Ermida de Nossa Senhora do Cabo ( estudo )
Quadro
XX - Igreja de Stº André Vila Franca do Campo ( estudo )
Quadro
XXI - Idem (estudo)
Quadro
XXII -Museu Carlos Machado ( estudo)
Quadro
XXIII - Padrão 37
Quadro
XXIV - Elementos em 2x2 do P37 ( E, B, A, F, D, C )
Quadro
XXV - Elementos decompostos do 4x4
P35 (A e B não tem o C[encontrei dois fragmentos do mesmo azulejo,
depois de Novembro de 1991] )
Quadro
XXVI - P35 tal como temos e tal como deveria ser completo
Quadro
XXVII - 1ª Proposta de exposição.
Quadro
XXVIII - 2ª Proposta de exposição.
Quadro
XXIX - Identificação de cada um dos elementos dos Padrões e acessórios quanto ao local da sua recolha.
Quadro
XXX - Esboço das fases de tratamento / Exposição dos azulejos seiscentistas da Secção de azulejos do Museu
da Ribeira Grande.
Quadro
XXXI - Fragmentos da vala do Ex - Mosteiro de Jesus.
Quadro
XXXII - Fragmentos da parte interior da cerca do ex - mosteiro de Jesus.
Que
é a técnica da majólica? Uma base estanífera, o vidrado, veio permitir às demais cores
utilizadas na pintura do azulejo que não se misturassem durante a cozedura.
Foi uma evolução marcante. «O esmalte estanífero
branco da majólica não só é uma superfície admiravelmente apta para receber a
decoração pintada e fixá-la durante a cozedura, devido à sua incorporação no
esmalte durante a fusão de todos os componentes, como se destaca também pela
sua vitrificação, brilho e impermeabilidade após a cozedura.»[317] |
[1] Calado, Rafael Salinas, Cinco
séculos do azulejo em Portugal , in “ Diário de Noticias” , Funchal,
26 de Março de 1989 , p 8 .
[2] Testemunho de José Meco,
verão de 1989
[3] Idem
[4] Idem
[5] Calado, Rafael Salinas, Cinco
séculos do azulejo em Portugal , in “ Diário de Noticias” , Funchal,
26 de Março de 1989 , p 8 .
[6] Meco, José, Exposição:
Azulejos de Lisboa , Câmara Municipal de Lisboa, Lisboa, 1984, p.19
[7] Idem,
[8] Idem
[9] Idem
[10] Idem
[11] Idem
[12] Idem
[13] Idem,
[14] Idem,
[15] Idem,
[16] Idem
[17] Simões, J. M. dos Santos, Azulejaria
Portuguesa nos Açores e na Madeira ,
Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1963,
p. 11
[18] Idem,
[19] Meco, José, Exposição: Azulejos de Lisboa
, Câmara Municipal de Lisboa, Lisboa, 1984,
p. 40
[20] Testemunho de José Meco,
verão de 1989
[21] Idem
[22] Meco,
José , Exposição: Azulejos de Lisboa , Câmara Municipal de
Lisboa, Fev./Mar. 1984, p. 42
[23] Testemunho de José Meco,
verão de 1989
[24]Meco, José , Exposição: Azulejos de Lisboa ,
Câmara Municipal de Lisboa, Fev./Mar. 1984,
p. 41
[25] Meco, José , Exposição: Azulejos de Lisboa ,
Câmara Municipal de Lisboa, Lisboa,
1984, p. 39
[26] Testemunho de José Meco,
verão de 1989. Comentário à p. 40 do
catálogo da Exposição de Lisboa.
[27] Testemunho de José Meco, verão de 1989
[28] Testemunho de José Meco,
verão de 1989. Comentário à página 41. Em carta de José Meco de Oeiras datada
de 17 de Outubro de 1997 escreve. « ‘( usado no 1º terço do século XVII)’,
existindo, porém, alguns revestimentos
deste padrão no início da segunda metade do século.»
[29] Meco, José , Exposição: Azulejos de Lisboa ,
Câmara Municipal de Lisboa, Lisboa,
1984, p. 41
[30] Idem
[31] Testemunho de José Meco,
verão de 1989. Comentário à p. 41 do
catálogo da Exposição de Lisboa
[32] Testemunho de José Meco,
verão de 1989. Comentário à p. 41 do
catálogo da Exposição de Lisboa
[33] Idem
[34] Idem
[35] Idem
[36] Idem
[37] Idem
[38] Meco, José , Exposição: Azulejos de Lisboa ,
Câmara Municipal de Lisboa, Lisboa,
1984, p. 40
[39] Idem,
[40] Idem
[41] Idem
[42] Idem,
[43] Idem,
[44] Idem
[45] Idem
[46] Idem
[47] Testemunho de José Meco,
verão de 1989
[48] Simões, J. M. dos Santos, Azulejaria Portuguesa
nos Açores e na Madeira , Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa,
1963, p. 13
[49] Vieira, Alberto, A
questão cerealífera nos Açores: séculos XV-XVII , [tenho
as provas oferecidas pelo autor em 1985]
[50] Simões, J. M. dos Santos, Azulejaria Portuguesa
nos Açores e na Madeira , Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa,
1963, p.13
[51] Idem
[52] Idem
[53] Testemunho de José Meco,
verão de 1989 sobre o livro de Santos Simões ‘Azulejaria Portuguesa nos Açores
e na Madeira’.
[54] Simões, p.12
[55] Simões,
p. 12
[56] Simões, p. 12
[57] Idem,
[58] Simões, J.M. dos Santos, Azulejaria
Portuguesa do século XVII
[59] Testemunho de José Meco,
verão de 1989. Comentário sobrep.25 da Exposição : Azulejos de Lisboa.
[60] Idem
[61] Idem
[62] Idem
[63] Idem
[64] Idem
[65] Idem
[66] Idem
[67] Idem
[68] Idem
[69] Idem
[70] Testemunho de José Meco,
verão de 1989
[71] Simões, J. M. dos Santos, Azulejaria Portuguesa
nos Açores e na Madeira , Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa,
1963, p.13
[72] Idem
[73] Idem
[74] Idem
[75] Testemunho de José Meco,
verão de 1989
[77] Idem
[78] Vide quadros XIV-XXVI; XXIX
[79] Percorremos a seguinte
documentação:
1.
Arquivo da Igreja Matriz da Ribeira Grande
A.
Confraria do Santíssimo Sacramento
-
Livros de Receita e Despesa (séculos XVII, XVIII, XIX, XX)
-
Doações ( séculos XVII-XVIII-XIX-XX)
B.
Igreja Matriz
-
Notas para o Tombo
-
Outras notas
-
Receita e despesa (não tem o século XVII!)
-
Legados Pios
2.
Arquivo da Ouvidoria (na Igreja
da Nossa Senhora da Conceição)
-
Pesquisamos toda a documentação desde o século XVII, porém, o seu espólio documental só começa em
finais daquele século.
3.
Arquivo Municipal da Ribeira Grande
- Actas da Vereação
- Livros de Receita e despesa
4.
Arquivo Municipal de Ponta Delgada
- Alfândega (século XVII)
-
Almoxarifado (século XVII)
- Mosteiro de Jesus (não tem documentação
pertinente ao assunto no século XVII)
- Convento de N. Sr ª da Guadalupe - (nada)
- Tabelionato ( nada )
- Orfanológico ( nada )
5. Arquivo da Santa Casa da Misericórdia
- Actas ( nada )
- Receita e despesa ( nada )
- Doações ( nada )
[80] Em 1997, depois de alguns
contactos com laboratórios, já não tenho a mesma opinião.
[81] Simões, J. M. dos Santos, Azulejaria Portuguesa
nos Açores e na Madeira , Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1963
[82] Idem, p. 203 à 218; ‘Azulejaria Portuguesa do
século XVII’
[83] Machado, João Saavedra, Azulejos do Hospital Termal das Caldas da
Rainha - séculos XVI - XVIII, Instituto Português do Património Cultural,
1987, p.
32.
[84] Simões, J. M. dos Santos, Azulejaria Portuguesa
nos Açores e na Madeira , Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa,
1963, p. 114
[85] Meco, José, Exposição
Azulejos de Lisboa, Câmara Municipal de Lisboa, Lisboa, 1984, p. 42
[86] Simões,
p. 171.
[87] Ataíde, Luís Bernardo Leite de, Etnografia, Arte e Vida Antiga dos Açores , Biblioteca Geral da Universidade de
Coimbra, Coimbra, 2 v. , 1974, pp 87-114
[88] Simões,
p. 142.
[89] Idem, Catálogo.
[90] Idem, p. 110.
[91] Vide quadros XIV- XVII. Aliás
para toda esta questão.
[92] Vide quadros XVIII-XXII
[93] Simões,
p. 132. Quadro XXI
[94] Idem, p. 83-
84. Quadro XIX
[95] Idem, p. 114
[96] Idem, p. 167
[97] Idem, Catálogo
[98] Testemunho de José Meco, verão de 1989, Meco, ibid,
p. 42
[99] Idem
[100] Veja-se nota anexa sobre os
locais em que os recolhemos - Nota cronológica e explicativa de como e onde
encontramos os azulejos estudados, fotos
: nº1 - 13
[101] Vejam-se as fotografias
anexas, de 1 a 5
[102] Simões, J. M. dos Santos, Azulejaria
nos Açores e na Madeira, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1963, p.
128. Nota da autoria do Dr. Jorge Gamboa de Vasconcelos
[103] Idem, p. 129. Foto 13
[104] Idem, p. 128.
[105] Vide foto
n.º 5
[106] Auto de Vistoria e Medição
de Trabalhos, 23 de Agosto de 1956, Arquitecto Chefe da Repartição Técnica,
João Filipe Vaz Martins e o empreiteiro Lourenço Simão & Reis L. …
[107] Veja-se nota “ Cronológica,
explicativa de como e onde encontramos os azulejos estudados. Uma coisa é
certa: podem ter vindo da igreja Matriz
mas, quase de certeza, não em 1956.
Também não se sabe ao certo se foram retirados do Externato em 1984.
[108] Yourcenar, Marguerite, Memórias
de Adriano, Ulisseia, 6 ª ed. , p. 24.
[109] Vide quadros V- X. Vide o
livro já citado do eng.º Santos Simões
[110] Vide quadros I-III
[111] Monte Alverne, Frei
Agostinho, Crónicas da Provincia de S. João Evangelista das Ilhas dos
Açores, Instituto Cultural de Ponta Delgada, POnta Delgada, 1961, v.2, p. 297.
[112] Simões, p. 128 ( Nota do Drº Jorge Gamboa de
Vasconcelos )
[113] Idem,
p. 297
[114] Cordeiro, António, História Insulana.... ,
S.R.E.C, Angra do Heroísmo, 1981, p.
142.
[115] Cordeiro,
p. 142; Monte Alverne, p. 297.
[116] Notas para o Tombo da Igreja Matriz da
Ribeira Grande, Collecção de quesitos dirigidos pelo governo aos Parachos em
1858 [ 15 / 08 / 1858] responde o Prior Manoel Cabral de Mello, Arquivo
Paroquial da Matriz, fl. 137
[117] Idem.
[118] Simões,
p. 128 ( nota do Drº Jorge de Vasconcelos Gamboa ).
[119] Cordeiro,
p. 297; Monte Alverne, p. 142.
[120] Conforme notas genealógicas
do Dr. Hugo Moreira.
[121] Simões,
p. 128 ( nota do Dr.º Jorge Gamboa de Vasconcelos).
[122] No altar de Nossa Senhora da
Piedade.
[123] Simões,
p. 84.
[124] Gil, Maria Olimpia da Rocha, O arquipélago dos Açores no século XVII :
Aspectos sócio-económicos ( 1575-1675, Castelo Branco, 1979, p. 143
[125] Genealogia do Dr.º Hugo
Moreira. D. Julia de Neiva filha de
Francisco Taveira de Neiva e de Isabel Caldeira de Mendonça, baptizou-se a 10 de Outubro de 1598 e faleceu
aos 24 de Janeiro de 1672. ( Ribeira Grande Matriz )
[126] Gil, ob. cit.... , P
143
[127] Frutuoso, Gaspar, Saudades da Terra , Livro IV, v.2,
Ponta Delgada, 1981, p. 61.
[128] Rua de Nossa Senhora da
Salvação Ribeira Grande. Quadro XXXV
[129] Jaime Ferreira Cabido. Vi o
bilhete de identidade mostrado pelo seu filho.
[130] Caetano da Silva Moniz.
Confirmei no arquivo Paroquial da Igreja Matriz
[131] Abranches, J. Cândidos, Album Michaelense , Ponta Delgada,
Typographia de Manoel Corrêa Botelho, 1869,
dedicatória.
[132] Idem, Introdução.
[133] Vide foto
da gravura XXX Fotocópia I
[134] Data e narração da
reconstrução da Matriz encontra-se nas Notas para o Livro do Tombo existente no
seu arquivo.
[135] Data do falecimento dos informantes, respectivamente 1950 e 1971 (?)
[136] Bouvier, Jean-Claude, Tradition
Orale et identité Culturel. Problémes et Méthodes, Centre National de la
Recherche Scientifique, 1980, p. 54-55.
[137] “ Açoriano Oriental”, Ponta
Delgada, nº 899, 4 de Abril de 1852.
[138] Notas para o Tombo da Igreja
Matriz da Ribeira Grande, Collecção de quesitos dirigidos pelo governo aos
Parachos em 1858 [ 15 / 08 / 1858] responde o Prior Manoel Cabral de Mello,
Arquivo Paroquial da Matriz, fl. 137
[139] BPAPD, Tribunal da Relação
dos Açores, Testamentos, Testamento
de D. Inês Eufrázia Botelho, nº 3 085[ 20 000 réis]
[140] APMRG, Livro
para as notas do Tombo, Prior Francisco José Pacheco, 3/ 05 / 1852, 31 v.
[141] Dados genealógicos do Dr.
Hugo Moreira.
[142] Segundo o testemunho
veiculado pelo Dr. Jorge dos senhores Caetano Moniz e Jaime Ferreira Cabido.
[143] Vide contas em anexo Cálculo
da quantidade de azulejos que poderiam, de acordo com a área azulejada visível
em fotografias, gravura de Abranches e testemunhos presenciais, e o tamanho de
cada azulejo, ter estado na fachada da Igreja da Matriz da Ribeira Grande.
[144] Exibe na fachada, no lintel da porta principal, a data de 1651 . A que aludirá?
[145] Ver contas da ermida em
anexo, XXXV, XXXVI, XXXVII
[146] Vide quadros XXIV e XXV
[147][Em
data posterior ao registo da ‘Secção de Arqueologia e Azulejaria’, feito
em 12/11 de 1991, encontrei, por acaso,
em duas caixas contendo o espólio remanescente da recolha arqueológica
efectuada à torre da igreja Matriz da Ribeira Grande, dois fragmentos do mesmo
elemento central C daquele padrão cobertos de cal. Após serem limpos e colados,
confirmou-se a proposta de reconstituição
que avançáramos em 1989 ].
[148] AMRG, Livro de Acórdãos 1853-56, 31 de Maio de 1856, fl. 181; Aí esteve, efectivamente a Praça, depois de sair defronte da Câmara Municipal e antes de ir para onde hoje se encontra, dando lugar à Cascata, ou Largo Gaspar Frutuoso. Se a compra se efectuou, repito.
[149] Frutuoso, Gaspar, Saudades da Terra, Livro 4, v..3,
Ponta Delgada, 1987, p. 47.
[150] Idem, p. 48.
[151] A última despesa do
refeitório é deste período.
[152] Collecção de Decretos e
Regulamentos Publicados Durante o Governo da Regencia do Reino Estabelecida na
Ilha Terceira desde 15 de Junho de 1829 até 28 de Fevereiro de 1832 , Lisboa,
Imprensa Nacional, 1836.
[153] Idem
[154] B. P. A. D. P. D. , R. E. ,
Inventario Orfanológico por falecimento de Dona Mariana Amália Narciza,
inventariante seu marido José Maria da Câmara Vasconcelos, nº 1367 [
1834], v. da 17 à 18.
[155] Idem .
[156] Notas para o Tombo da Igreja
Matriz da Ribeira Grande, Collecção de quesitos dirigidos pelo governo aos
Parachos em 1858 [ 15 / 08 / 1858] responde o Prior Manoel Cabral de Mello,
Arquivo Paroquial da Matriz, fl. 141.
Foto 15.
[157] Veja-se quadro sobre os
Quadros XIII, XVI, XXXII e Mapa IV fragmentos encontrados no Ex-mosteiro. O
quadro não regista os não identificados. Ou ainda na nota cronológica.
[158] Fagan, Brian M. , In the begining. An introduction to Archaelogy, fourth edit, Boston, 1981, p. 179
[159] Nas escavações arqueológicas
de Set / Out de 1988 que observei descobriram-se alicerces no lado norte e
nascente. Mapa IV. Fotografias VII e VIII.
[160] Vide planta da zona,. mapa IV, foto IX e
nota cronológica explicativa de como e onde encontramos os azulejos
estudados.
[161] Vide quadro que indica os
azulejos estudados que descobrimos. Desde então, 1989, data em que fizemos o
essencial deste trabalho, vimos descobrindo persistente e consistentemente,
quer nos mesmos locais, quer na casa do Sr. Gaipo, Sr. Moniz, Sr. Pinheiro,
Escola Preparatória, largo fronteiriço e interior das terras do ex-mosteiro,
exemplares deste período. Além de outros de períodos anteriores e
posteriores.
[162] Reservatório de água.
Destruído, bem como toda a cerca poente, em Agosto e Setembro de 1997. Aliás
tal como o Portão do Carro conventual.
[163][163] Veja-se planta. Mapa IV,
Fotografias VII e VII
[164] Veja-se planta, mapa IV,
foto IX.
[165] Idem, mapa IV.
[166] Frédéric , Louis, Manual
Prático de Arqueologia, Livraria Almedina, Coimbra, 1980, p. 245.
[167] Vide quadro dos mosteiros I,
II e conventos de Franciscanos.
[168] Notas para o Livro do Tombo
da Matriz. Collecção de quesitos dirigidos pelo Governo aos Parachos em 1858. (
Prior Manoel Cabral de Mello ), fl. 141.
[169] B. P.A. A. II , Auto de
Inventário, Cartório da Mitra de Angra,
mç. 567, doc. 25 (cota provisória )
[170] Idem.
[171] APMRG, Rol Quaresmal de
1834.
[172] APMRG,Rol Quaresmal de 1847.
[173] AMRG
[174] Todavia, o Prior Francisco
José Pacheco nada diz a este
aspecto.
[175] Notas para o Livro do Tombo
da Matriz. Collecção de quesitos dirigidos pelo Governo aos Parachos em 1858. (
Prior Manoel Cabral de Mello ), fl. 141.
[176] Vide quadros XIV e XV.
[177] Monte Alverne, Fr. Agostinho
de, Crónicas da Provincia de S. João Evangelista das ilhas dos Açores, Instituto
Cultural de Ponta Delgada, 1961, v. II,
p. 302.
[178] Idem, p. 303.
[179]Drº Luís Bernado Leite
d’Atayde. As secções de arte e etnografia do museu de Ponta Delgada, ( Dr.
Carlos Machado ). 1944, p. 51.
[180] Idem, p. 51.
[181] Simões,Op. Cit. , p. 103
[182] Simões, Op. cit.
, p. 102. Vide anotação nº 22 (rodapé)
[183] Simões, J. M. dos Santos, Delineamento
da maneira de expor os azulejos do Museu “ Carlos Machado” de Ponta Delgada,
( Cópia das notas que fez para o Museu
“Carlos Machado”), p. 7.
[184] Veja-se Quadro XVI.
[185] Vi-os, estudei-os e
fotografei-os.
[186] Simões, J.M. dos Santos, Azulejaria
Portuguesa nos Açores e na Madeira, p. 96.
[187] Idem
[188] Por ter extraviado nota que
compulsei, ao que creio do livro de actas da Santa Casa da Misericórdia, onde,
ao que julgo lembrar-me, se dizia que o Marquês trocara azulejos do vestíbulo
por material que oferecera àquela instituição, não o uso como dado. Todavia,
deixo-o em aberto.
[189] Notas para o Tombo da
Matriz, fl. 139.
[190]ASCMRG, Accordãos,
Lv. 8, 1839-1851, 30 de Setembro de 1839, fl. 22.
[191] Idem
[192] A.A.B.,[Terça
dos pais de José Francisco Pacheco, pai de Madre Margarida],1772,
Ribeira Grande
Alguns
altares da igreja de N. Sr.ª de Guadalupe, do ex-convento de São
Francisco, foram refeitos na segunda
metade do século XVIII. Aliás toda a igreja. Terão retirado, naquela
altura, azulejos do corpo da igreja ou
do convento?
[193] Depois desta afirmação, como
já vimos, encontramos alguns fragmentos. Todavia, não são suficientes para
extrapolarmos com segurança a sua ligação àquele edifício.
[194] Vide quadro. XIV
[195] Idem
[196] O Sr. Humberto Viveiros
garantiu-me que, ao que sabe e se lembra, nunca o interior da ermida tinha sido
novamente guarnecida. Tem a garantia da sua memória. Falível tal como a de todos nós.
[197] Notas para o Livro do Tombo ..., fl. 25 v.
[198] Simões, J. M. dos
Santos, Azulejaria Portuguesa nos Açores e na Madeira ,. P.
128.
[199] Frutuoso, Gaspar, Saudades da Terra, v.2, Ponta Delgada, 1981, p. 105.
[200] Vide quadro II.
[201] Ver notas em anexo, nota
cronológica explicativa de como e onde encontramos os azulejos estudados.
[202] Monte Alverne, Op. Cit. , v.2I,
1961, p. 300
[203] Ataíde, Etnografia, Arte e Vida Antiga nos
Açores , v.2, p. 108 XIII, XV
[204] Idem, p. 108.
[205] Alverne, Frei Agostinho de
Monte, Crónicas da Provincia de S. João Evangelista das ilhas dos Açores , Ponta Delgada, v.2 , 1961, p. 294.
[206] Idem, p. 300
[207] APMRG, Notas para o Livro
do Tombo da Matriz, fl. 25 v.
[208] Alverne, Op.Cit.
, v. 2,
p. 297.
[209] Ataíde, Luís Bernardo Leite
de, Etnografia Arte e vida antiga dos
Açores, v. 2, Coimbra, 1974, p. 108
[210] Idem, p. 109.
[211]APMRG, Notas para o Livro do Tombo da Matriz, fl. 26.
[212] Idem, fl. 27
[213] Veja-se Quadro XV.
[214] Machado, João Saavedra , Azulejos
do Hospital Termal das Caldas da Rainha - séculos XVI_XVIII, Instituto
Português do Património Cultural, Lisboa, 1987,
p. 57
[215] Idem, p. 32.
[216] Simões,
J.M. dos Santos, Azulejaria
Portuguesa nos Açores e na Madeira,
Fundação Calouste GUlbenkian, Lisboa, 1963,
p. 13
[217] Frutuoso, Gaspar, Saudades
da Terra, 1981, lv.4, v. 2, p. 107
[218] Alverne, Frei Agostinho de
Monte, Crónicas da Província de
S.João Evangelista e ilhas dos Açores, 1961, v. 2, p. 331. Foto nº II
[219]Idem,
[220]Idem
[221] Não posso deixar de pensar, ou de excluir da lista de suspeitos a investigar, o projecto - não o conhecemos - , para a Matriz de João de Sousa Freire, abandonado após a sua morte por ser de difícil execução, e a exuberante fachada da Misericórdia.
[222]ASCMRG, Receitas da Santa
Casa da Misericórdia, 1725... ,
1748, fl. 96
[223]ASCMRG, Acordãos-1743-1815,
lv. 6, fl. 25 v.
[224] Idem
[225]ASCMRG , Acordãos-1743-1815,
lv. 6, fl.. 31 v. [ 2 de Julho de 1754 ]
[226] Idem [ 3 de Julho de 1755 ] fl. 35 v.
[227] Idem [ 22 /12-1768 ] fl. 55
[228] Idem [ 31/ 10/ 1773 ] fl.. 76 v.
[229] Idem [ 4 de Julho de 1778 ] fl. 94
[230] Idem [ 12 / 01 / 1775 ] ,fl. 83.
[231] Idem, ibid, [ 11 / 07/ 1790
], fl. 142 v.
[232] Livros de Receita e Despesa
entre outros.
[233] Em Março de 1990 Encontrei
um fragmento que me parece ser de frontal de altar cerâmico de aves e ramagens
junto à igreja da Misericórdia. Verifiquei
então que defronte daquela igreja o rebaixamento de um
piso anterior ao actual, nalguns pontos estava a 0,70 de profundidade. A média
oscilava entre os 0,40 e os 0,50 metros. Encontrei vestígios de calçada antiga,
constituída por calhaus rolado, em todas as covas que foram abertas. No início
da Segunda metade do século XVIII procedera-se, segundo documento camarário, ao
nivelamento e regularização daquela calçada. Pude verificar em 1995, aquando da
abertura de uma vala, a estratigrafia complexa do local fronteiro à dita
igreja. Parece que terá existido vários pisos. Parece igualmente que desciam em
direcção à ribeira. Os fragmentos de azulejos aí encontrados na camada
contemporânea ao nivelamento coincidirá com a data da demolição da igreja
antiga e a construção da actual. Poder-se-á insinuar a existência de azulejos
seiscentistas naquele templo?
[234] Vide Esboço do itinerário de alguns azulejos
seiscentistas estudados e quadros
XV-XVII.
[235] Idem.
[236] Veja-se Quadro Esboço
Itenerário dos azulejos seiscentistas estudados.
[237] Simões, J. M. dos
Santos, Azulejaria Portuguesa nos Açores e na Madeira, 1963, p I
[238] Idem, p. 53
[239] Idem
[240] Idem
[241] Vide quadros I- II
[242] Entrevista com o Dr. Mnuel
Barbosa .
[243] Barbosa, Manuel,
Memórias da Cidade Futura..., Ribeira Grande, 1988, p. 43
[244] Idem, p. 55. Há ainda quem diga que os azulejos em
questão estiveram no rés-do-chão e não no 1º andar. Porém em qualquer dos casos
o Dr. Barbosa não os menciona. Informação obtida posteriormente à elaboração do
capítulo III.
[245] Entrevista posterior com o
Dr.º Manuel Barbosa.
[246] Conforme verifiquei nos róis Quaresmais e entrevistas aos antigos
proprietários.
[247] Dados biográficos colhidos
do seu Bilhete de Identidade.
[248] Entrevista na sua casa da
rua do Barracão Velho no dia 16 / 04 /
1989. ( outras seguiram-se-lhe ).
[249]APMRG, Roes Quaresmais da Matriz de 1931 a 1952
[250] Entrevista com o senhor
Cabral de Melo em Abril de 1989. ( Houve outras antes e depois ).
[251] Veja Quadro. II, XV.
[252] Manuel Barbosa, Memórias
da cidade futura..., Ribeira Grande, 1988, pag 69.
[253] Cercadura que não consegui
identificar Quadro XVII Veja Quadro anexo.
[254] Entrevistei os famaliares.
[255] Veja-se Quadro XV. Ou mesmo
já depois da 1ª exposição, os que o sr. Herculano Couto, morador na rua da
Ponte Nova nº 3 , continuação da de São
Vicente Ferrer, nos ofereceu. Estavam, segundo o mesmo, numa copeira. Deve
dizer-se que estas casas ficam muito próximas do Adro das freiras. Quererá
dizer alguma coisa?
[256] Veja-se Fotografia III.
[257]Ataíde, Luís Bernardo Leite
de, Etnografia arte e vida antiga dos Açores, Coimbra, 1974, v.2 , p. 95
[258] Torres, José de, , Ensaios. Viagens no interior
da ilha de San-Miguel I , Ponta Delgada, 1849, p. 9-10
[259] Idem
[260] Matos, Artur Teodoro de, Transportes
e Comunicações em Portugal, Açores e Madeira ( 1750-1850 ), Ponta Delgada,
1980, p. 419
[261] Idem, p. 421.
[262] O Monte Verde foi feito de
entulhos a partir da década de quarenta
(?). Os de aresta e de corda-seca, em Agosto e Setembro de 1997 foram parar ao
‘Largo East Providence’.
[263] Segundo mestre Almeida. Aliás, pela altura da sua
remoção, os entulhos eram encaminhados para o Monte Verde onde eu próprio aos 4
anos ( 1961 ) os ia, juntamente com adolescentes e adultos, numa carroça de
mão, atirá-los.
[264] Vide no Caminho Novo das Caldeiras a cova do tufo do senhor Aurino
Tachinha, por exemplo.
[265] Yourcenar, Margariter, Memórias
de Adriano , Ulisseia, 6ª edição, p.
24.
[266] Azevedo Alves, Luisa Maria
Picciochi, O Ambiente e as obras de Arte, Instituto José de
Figueredo, nº 11, Lisboa, 1980, p. 1.
[267] Idem, p. 1
[268] Idem, p. 2
[269] Idem, p. 2
[270] O suporte directo dos
painéis de azulejos acabou por ser a
folha de acrílico, porém, estes serão aparafusados a duas estruturas de
madeira, criptoméria, em forma de ângulo recto que encaixará em ‘camarões’ metálicos sacados da parede.
Para ficar com uma ideia sobre o método seguido leia-se o artigo ‘ Montagem e
apresentação de azulejos recuperados’ de Ana Porto, in Actas do ‘Encontro sobre
preservação e tratamento do azulejo,’ Fundação das Casas de Fronteira e
Alorna, Lisboa, 1988
[271] Azevedo Alves, Op. Cit.
, p. 3
[272] Idem, p. 5
[273] Idem, p. 4
[274] Idem, p. 3
[275] Idem, p. 6
[276] Idem, p. 8
[277] Idem, p 6
[278] Idem, p. 8
[279] Idem, p. 8-9
[280] Idem, p.. 9-10
[281] Idem
[282] Idem, p. 10
[283] Idem
[284] Idem, p. 12
[285] Idem, p. 14
[286] Idem, p. 17
[287] Idem, p. 9
[288] José Meco, Exposição:
Azulejos de Lisboa, C. M. L, 1984,
p. 25
[289] Azevedo Alves, Op. Cit.
, p. 9. A experiência de sete anos de exposição tem provado, até ao momento,
que não é necessário este rigor. No ‘ Rascunho que há-de servir de base para o
estudo e política de conservação preventiva e elaboração de uma carta
deontológica : Arcano Místico de Madre Margarida Isabel do Apocalipse’ ,
trabalho curricular da cadeira dirigida pelo eng. Luís Elias Casanovas,
verifiquei que há oscilações suaves, tanto na humidade como na temperatura, no
interior da igreja onde se encontra o Arcano. Por conseguinte, passando-se o
mesmo na capela de São Vicente Ferrer, não haverá perigo para os materiais aí
expostos.
[290] Testemunho de José Meco,
verão de 1989 : ‘ Evitar! Só em caso de degradação.’
[291] Mais tarde encontrei na
edícula da fachada azulejos setecentistas.
[292] Testemunho de José Meco,
verão de 1989: ‘ Devem combinar-se a formar padrões.’ Segui este conselho por
achá-lo razoável. Tomei, contudo, a precaução de registar a proveniência de
cada um dos elementos constitutivos do padrão.
[293] Meco, José, Exposição:
Azulejos de Lisboa , C.M.L. , Lisboa, 1984,
p. 20-21
[294] J. M. dos Santos Simões,
Azulejaria nos Açores e na Madeira, F. C. Gulbenkian, Lisboa, 1963, p. 11-12
[295] Idem, p.12
[296] Meco, Op. Cit. , p. 24
[297] Idem
[298] Vide quadro XXX
[299] Muitas sugestões são, no
terreno, no confronto real com o espaço e com as possibilidades, alteradas.
Assim, em 1997, registam-se ligeiras
mudanças a este projecto de 1989.
[300] Penso mesmo que a nível de
ilha.
[301] Encaminhá-los para, entre
outros, o Centro de Conservação e de Restauro dos Açores.
[302] Retirei o dito suporte.
[303] Acabei, a fim de tornar mais
fácil e contínua a leitura dos painéis, por incluir cópias.
[304] Não o fiz.
[305] Ciclo do Barroco [
de 26 a 30 de Junho], “Correio dos Açores,” Ponta
Delgada, 27 de Junho de 1989, nº 20 260,
p. 1 e 7
[306] Registe-se que ele tinha
sido, mais Rafael Salinas Calado, incumbido por parte da Fundação Calouste
Gulbenkian da actualização do volume dos séculos XV e XVI de Santos Simões.
[307] Testemunho de José Meco,
verão de 1989
[308] Para uma visão actualizada
consulte-se: Gomes, Maria Manuela Malhoa, Monteiro, João Pedro, Azulejos:
Conservação e Restauro , Fundação Ricardo Espírito santo Silva, Lisboa,
1996; Actas do ‘ Encontro sobre
preservação e tratamento do azulejo’ , Fundação das Casas de Fronteira e
Alorna, Lisboa, 1988
[309] Terão vindo da igreja, da Cascata, da Matriz, do mosteiro, do convento ? Está tudo tão perto.e o Jardim Público foi feito em meados do século XIX.
[310] Será necessário proceder a
um estudo mais detalhado.
[311] Não me foi possível, por
desconhecer, acompanhar as obras que se efectuaram em 1996 no interior daquele
templo. Talvez se pudesse confirmar a existência de azulejos seiscentistas para
além dos poucos fragmentos recolhidos numa vala no seu exterior e dos que o
Marquês Jácome Correia ofereceu ao Museu Carlos Machado.
[312] Destruída, apesar de todos
os esforços, sem que pudesse escavar em Agosto de 1997. O modo como se procede ao alargamento da rua de
Trás-os-Mosteiros [sic],
sem acompanhamento devido, nem tão pouco
a crivagem das terras de lá retiradas directamente, tanto quanto sei, em parte
para ‘consolidar’ [?]
a beira mar, constitui, no mínimo, um acto de insensibilidade crassa
patrimonial e um erro irreversível. Em Março de 1998 demos início a novas
pesquisas: ‘mais vale pouco do que nada.’Veremos o grau de destruição.
[313] Foram os próprios
proprietários, ou no caso da rua de João d’ Horta, procuradores, que, sabendo
do meu interesse, me alertavam.
[314] Simões, J.M. dos, Da
montagem e apresentação museológica de azulejos , Fundação Calouste
Gulbenkian, Lisboa, 1963
[315] Porto, Ana, Montagem e
apresentação de azulejos recuperados , Fundação das Casas de Fronteira e
Alorna, in actas Encontros sobre Preservação e tratamento do azulejo, Lisboa,
1988
[316] Para isso é preciso ou da
colaboração do Centro de Conservação e de Restauro dos Açores ou da
constituição de uma pequena oficina de ‘pronto socorro’ no nosso museu.
[317] José Meco, O Azulejo em
Portugal , Publicações Alfa, Lisboa, 1989, p.44
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