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A Levada - XV

                                                                    





A Levada – XV

Os terramotos e os vulcões do Verão de 1563 e a cheia do Inverno puseram a Ribeira Grande de rastos. Havendo os moinhos da ribeira Grande sido destruídos ou danificados a ponto de não poderem moer, onde foi a Vila moer? À Ribeirinha? Haveria moinhos na Ribeirinha?[1] Se já houvesse, era preciso que não tivessem sido danificados. Não havendo moinhos, podiam ter feito um ou outro provisório na Ribeirinha? Ou na ribeira do Salto, como já haviam feito por alturas da peste de 1526/7? Ou adaptado um moinho de pastel? Ou engenho de açúcar? Dificilmente (ou nunca) o saberemos. Fosse como fosse, nunca passaria de uma solução de recurso. Mesmo que as águas da ribeirinha e da ribeira do Salto fossem capazes de fazer mover os moinhos do capitão, aquela área da Ribeirinha não lhe pertencia. Seria (pois) um amanho provisório, nunca uma solução duradoura. Era (pois) urgente encontrar uma saída para o abastecimento da Vila da Ribeira Grande e da Cidade de Ponta Delgada. Ponta Delgada era (conforme nos dizem os documentos e os cronistas) o destino mais cobiçado das moendas dos moinhos do Capitão.[2] Aquele que lhe trazia mais lucros. Nesse sentido, tornava-se inadiável encontrar uma solução à altura do problema. Em 1565, chega à Ilha o dono dos cinco moinhos arrasados da ribeira Grande.[3] Confrontado com a alteração radical da ribeira (e das suas margens), D. Manuel da Câmara optou por construir uma levada fora do alcance da ribeira Grande.[4] Construída de raiz ou adaptando regos de água que já existissem? Dos que regavam as quintas? Onde foram buscar a técnica? Após o Verão de 1563, as toneladas e toneladas de ‘cinzeiro e de pedra pomes’ que cobriram por completo telhados, ruas, terras e ribeiras da Ribeira Grande - e as da Ilha inteira -, (leia-se Gaspar Frutuoso) foram (também) limpas graças à água desviada das ribeiras e das levadas. O capitão Manuel da Câmara pediu (para terras suas) em várias ocasiões ao seu amigo Manuel Vieira. Ora, Vieira foi um dos que mais recorreu a essa técnica.[5] Técnica (diga-se) a que já se recorrera quatro décadas antes quando se rasgou o caminho de acesso ao porto de Santa Iria.[6] A ideia (inicial) desse tipo de levada, virá, provavelmente, das levadas madeirenses. A origem madeirense do capitão Manuel da Câmara (a partir de 1473/4 chegaram à Ribeira Grande vindos da Ilha da Madeira, Rui Gonçalves – o novo capitão da Ilha, os seus irmãos Pedro e António, acompanhados por familiares e criadagem) sustenta (e bem) essa suspeita.[7] A escolha do local para a levada, construída a uma distância (tida como) segura da ribeira, de modo a protegê-la e aos moinhos das cheias cíclicas, terá obedecido (estou em crer) aos s critérios que lanço (sempre) como hipótese: a banda oriental da Ribeira Grande era ainda pouco povoada, o terreno por onde passaria, constituído por terra arável, areias, tufos e pouca ou nenhuma pedra, seria fácil de rasgar. Talvez até parte daquele espaço pertencesse ao próprio capitão. A solução provou ser acertada, pois, como se tem verificado ao longo de mais de quatro séculos, tem protegido os seus moinhos.[8] Quando se começou a construir a levada? Acredito que, dada a urgência da sua construção, talvez tenha começado ainda em 1564, ano em que os moinhos (junto à ribeira) foram destruídos.[9] O capitão (desejoso de estancar as suas perdas) poderia ter já enviado de Lisboa instruções nesse sentido. Ou (dado o carácter radical da sua localização) teria sido começada no ano seguinte, já com o capitão na Ilha. Entre 1564/65 e 1573, – ano em que o capitão regressa a Lisboa, poderia já haver mais do que um moinho (ou mesmo todos os iniciais) na nova levada.[10] Muito embora possam ser boas hipóteses, e até terem correspondido ao que sucedeu, a primeira prova documental da existência de moinhos (e indirectamente da nova levada) data de 1578. A levada, cuja extensão actual rondar os 2.500 metros de comprimento por cerca de 2 metros de largura,[11] criou riqueza a 15 moinhos, a uma fábrica setecentista de ‘panos de lã e (…) de meias de tear,’[12] a uma fábrica de fibra de espadana (já no século XX), a uma de licores, a dúzias de quintas e de pomares. Havia um agueiro que percorria regularmente as suas margens (servidões) – hoje (em parte) usurpadas pelas casas que a confrontam. Limpava o que pudesse ‘entupir’ os cubos e os caboucos dos moinhos, ainda não se ligava à matéria microbiológica e distribuía a água pelas quintas (fonte de rendimento).

Uma pitada de História da levada para não asneirar (assim tanto) no futuro? O livro de actas de 1578, o primeiro sobrevivente depois do de 1555, o mais antigo dos Açores, dá-nos conta da existência de sete moinhos na levada (todos na levada?). Frutuoso, provavelmente na década seguinte, contabiliza menos um: leva dentro de si seis moinhos.’ E ao escrever ‘leva dentro de si,’ em vez de (como se referira aos destruídos) ao longo da ribeira, está a atestar a existência de uma levada? Sim. Apesar de serem seis os moinhos de Frutuoso, eram ‘cada um de duas pedras,’ e os ‘melhores e que melhor moem que todos os da ilha e Portugal (…).’[13] Voltando aos sete moinhos das actas de 1578: moeriam só cereais? Estariam todos situados na nova levada? Dois destes sete moinhos eram identificados pelo topónimo do local onde se encontravam: ‘Praia e rua do Alegrete.’[14] O primeiro deles (moinho da Praia) remete (claramente) para a nova levada. Dois outros moinhos, identificam-se em relação aos dois primeiros: ‘Novo e o de Cima.’[15] Onde ficaria o moinho de Cima? Já seria o moinho da Palha? Os três restantes, referem-se a nomes de pessoas: ‘Francisco Ferreira, Miguel Fernandes e Simão Gonçalves.[16] Quem seriam eles?[17] Não sei. Onde se situaria a foz da nova levada? Pela orografia da costa (baixa em contraste com as barrocas do lado Nascente), pela proximidade à foz da ribeira e (não menos importante) por ficar a caminho dos importantes Lugares a Poente e a Sul da Ilha, o meu palpite (posso estar enganado, claro) é que ficaria (mais ou menos) onde hoje fica. E a ‘mão’ (represa) desses (6 ou 7) moinhos quinhentistas? Aqui a resposta não é tão simples. Olhando para o que hoje se vê, mas descontando (na medida do que se conhece) as várias alterações sofridas (algumas bem drásticas) no leito e margens da ribeira (conforme nos autorizam os relatos das cheias de 1563/4, 1667, 1848, 1895 e 1919), há a possibilidade (simplesmente uma hipótese) de uma primeira ‘mão’ (ou das primeiras) ter ficado algures em espaço à volta do poço da Mãe (até pela origem possível do nome) ou ainda em local um pouco mais abaixo. Ou seja, muito abaixo da Mão e do Anel actuais.[18] Já em 1645/6, o florentino Frei Diogo das Chagas, que andou pela Ribeira Grande, situa a levada mais acima do Poço da Mãe: ‘Pelo meio da outra parte da Vila que fica para a parte Poente corre a levada dos moinhos que se toma ao alto e princípio do cerro, que vai para o sertão da mesma ribeira e outras águas, que trazido por seus vales por terras e cerrados entra na vila por esta parte, e fendendo pelo meio se vai meter ao mar, na qual estão seis moinhos.’[19] Para Frei Agostinho de Monte Alverne (‘fuseiro’ que por aquela mesma altura, andaria por ali) a levada ficava (muito normalmente) por ali ‘onde hoje se vêem [os moinhos].’[20] Era tão normal estar ali, que em 1699 serviu (como ainda hoje serve) de divisão entre as freguesias de Nossa Senhora da Conceição e a de Nossa Senhora da Estrela: ‘(…) partindo da levada dos moinhos para a parte do poente (…).[21] Nessa altura (voltando a Frei Diogo das Chagas e segundo ele) havia seis moinhos na levada.[22] Em inícios do século XVIII, o conde constrói (muita certamente com água da levada) a sua fábrica de panos. Terá a construção obrigado a reajustes a montante na levada? Não sei. No que toca a moinhos, o já então Conde era ainda rei e senhor, porém, a Carta Régia de 15 Setembro de 1766, dirigida a D. Antão de Almada (Capitão e General das Ilhas) iria (começar a) abalar a sua posição dominante. Iria doravante permitir aos donos de ‘águas particulares’ – em querendo -, que as usassem para levantarem (construírem) ‘moinhos.’[23] O Conde vai (então) ter de defender (com tudo o que está ao seu alcance) o que lhe resta: a levada. São muitas as demandas. Em 1769, uma acta da vereação da Ribeira Grande identifica (como moinhos da Vila, acho que se refere aos da levada) não os seis que Diogo Chaga indicara (sem os identificar) mas cinco (cremos ser ainda todos do Conde).[24] O Conde (apesar das violações aos seus direitos) vai-se aguentando (geralmente bem) até 1821. Em Abril de 1819 tem processos a decorrer (desde quando?) contra prevaricadores da Ribeirinha a Vila Franca ‘por haverem construído Moinhos nas Ribeiras públicas desta Ilha dos quais o Excelentíssimo Suplicante tem Mercê Régia para só edificar com a exclusão de toda e qualquer pessoa.[25] A situação tendia a piorar, pois, sendo a mercê que lhe dava esse direito extinta com a morte do Conde ocorrida em Janeiro de 1820, o novo conde – uma criança de dois anos -, em Outubro de 1820 ainda não recebera nova mercê. Do que resultava ‘então cada um podia ter os seus moinhos visto não haver nova mercê’[26] O seu representante na Ilha, talvez por circularem boatos nesse sentido, receava mudanças: ‘Queira Deis com este novo Governo [Revolução Liberal do Porto. O levante militar começou na cidade do Porto, em 24 de Agosto de 1820] não haja alguma implicância com esta casa de Sua Excelência.’[27] O que se veio a concretizar em 1821. Nesse preciso ano, devido à enorme pressão de quem queria fazer moinhos, são abolidos os Direitos Banais: mais um rombo no monopólio multissecular (da vala) do Conde.[28] Três séculos e meio depois de os moinhos terem (por precaução) sido mudados para a levada, talvez ainda nessa mesma década de vinte, são construídos novamente moinhos nas margens da ribeira Grande.[29] O Conde dispunha ainda de uma cartada importante: dele dependia ir mais ou menos água para a ribeira. Daí as muitas guerras do Anel (bitola de água à entrada da levada) que se seguirão. Escapando de forma ‘esperta’ às disputas, talvez ainda na década de vinte, um deles, pelo menos, particulares levantam dois moinhos acima da mão da levada do Conde.[30] Trata-se dos moinhos da Longaia. ‘O lugarejo da Longaia’ hoje totalmente desaparecido, distava ‘1/3 de légua da Vila da Ribeira Grande.’ Entre a primeira e a segunda décadas do século XIX, teria uma população de ‘36 almas’ vivendo ‘em 9 fogos.’[31]

Sem desistir, na sua tentativa (que viria a provar ser inglória) de impedir o aparecimento de novos moinhos, o Conde continuará a recorrer, por mais de duas décadas, a expedientes legais e a outros estratagemas. Mexer na bitola de entrada da água (no Anel) de modo a ir menos água para a ribeira, foi o expediente que acabaria por ser contrariado (sobretudo pela Câmara).[32] Os proprietários dos novos moinhos da ribeira e as lavadeiras que usam a água da ribeira, queixam-se da ‘falta de água (…) por ocasião da usurpação que dela fazem os rendeiros dos moinhos do Conde.’ Tomando partido pelos queixosos, a Câmara manda ‘construir um ladrilho por debaixo do anel estabelecido na levada do referido Conde (…).’[33] É a guerra total do Anel. O Conde reage de pronto, o Juiz de Direito, dando-lhe razão, manda repor a bitola do anel. A Câmara contra-ataca (sempre).[34] Uma outra forma de o Conde tentar vencer a concorrência dos moinhos da ribeira, foi o de ele próprio construir um moinho na ribeira (ou teria apenas recuperado um que fora destruído em 1563/4?). O moinho do Açougue (com os seus soberbos cubos e situado junto ao coração da terra) acabou por ser o melhor moinho da ribeira.[35] Mesmo assim, o Conde iria perder finalmente a guerra com a Lei de 22 de Fevereiro de 1846. Que declarava (mais uma vez) abolidos todos os Direitos Banais.[36] Certamente vindo da anterior (ou mesmo de décadas anteriores), no entanto, tanto quanto já pude apurar, é na década de cinquenta que encontro a prova segura da perda do controle do Conde sobre a levada. O livro de registo de contribuições pagas pelos moinhos ao Município da Ribeira Grande para o ano 1854-1854, regista vinte e um os moinhos da água da ribeira da Ribeira Grande, tanto a que entrava na levada da Condessa como a da ribeira, que pagavam contribuição. Sem conseguir uma identificação a cem por cento segura, ainda assim, confirmam-se dois moinhos na Longaia, portanto, localizados antes da entrada da água na levada da Condessa, cinco na Mãe de Água, entre estes, dois situados na levada da Condessa (os primeiros dois a montante).[37] Uns atrás dos outros são construídos moinhos particulares na própria levada do Conde. Em 1852, Manuel Pedro de Melo e Silva está a construir um moinho (o do Félix).[38] Em 1854, já havia o primeiro da levada, o da rua do Outeiro dos Lagos, o da Praça. [39] Em 1855, a 19 de Março, ‘Jacinto Inácio Ferreira – Matriz – Pedindo licença para edificar 3 moinhos de água na casa que possui na rua do Vale desta vila – Diferido.’[40] Que já existia em 1854. Em Maio de 1855, ‘Manuel da Silva Peixoto e António Pacheco Alfinete – Conceição – pedindo licença para moerem seus moinhos – Diferido.’[41] Outro na levada da Condessa. Em 1854, ainda outro, há o moinho dos Couros.

 

O número de moinhos na vala da Condessa (e de mós) foi variando.[42] Em 1880, só para a levada, existiam treze. Entre 1919 e 1935, 15: o máximo que atingiria (e de mós).[43] Porém, entre 1966 e 1971, perderia à volta de 35% dos moinhos. Em 1986, ainda resistiam nove, em 1997, cinco. Em 2014, morre o moleiro a mais inovador: Carlos Silva (conhecido por Carlinhos Correia). O seu moinho do Outeiro, no entanto, não deixou de moer. Armindo Silva, Jantarinho, aparentado com Carlos Silva, ainda mói (um ou dois dias por semana). Armindo Vitória, tal como os Silva, descendente de uma antiga estirpe de moleiros, tendo deixado de moer em 2018 no moinho da Praia, tem moído desde 2017 no moinho do Vale (entretanto, transformado em espaço museológico).[44]

Como se vê, a levada (e os moinhos) teimam em não morrer. Abandonada, continua a ser uma das causas da poluição que apoquenta o Monte Verde (e a Cidade). Faz 38 anos em Novembro que percorri a levada do Anel ao Monte Verde, então testemunhei uma verdadeira catástrofe ambiental.[45] E hoje? Mesmo sem voltar a calçar botas de cano, quero crer que a situação (ainda que não – como se sabe -, erradicada) esteja muito distante da de 1986. De quem é a levada? Dos moinhos. E de quem depende a levada? Em 1986, Óscar Vitória (pai do Armindo), disse-me que ‘Antes desse Governo Regional de agora, era a Junta Geral. Hoje não se sabe quem manda na levada, se a Direcção dos Serviços Hidráulicos da S. R. E. S, se a Câmara Municipal.’ E antes? ‘Até há pouco tempo (cerca de 20 anos, talvez menos), era a Câmara que ‘arranjava’ um homem que tomava conta das valas da Condessa – o Ti Baganha foi o último -, cobrava renda da água da rega e aferia pesos e medidas.[46] Nem todos concordam com o sr. Óscar: ‘Que me lembre do que o meu pai dizia, a levada era responsabilidade de cada moinho. Contratavam um agueiro que fazia a limpeza.’[47]

Que fazer hoje à levada? Para uns, a solução ideal seria acabar com ela: ‘tapar o anel na Longaia.’[48] Ou ‘desviar a sua água para a ribeira.’ Não seria piorar os problemas da ribeira Grande? Pergunto. Outros: ‘a água da levada deve ser tratada antes de chegar ao mar no Monte Verde.’ Isso já seria outra música. Outros: deveria obrigar-se algumas (poucas, felizmente) casas (renitentes) a se ligarem à rede pública de saneamento básico (ou a melhorarem as suas fossas). Acima de tudo, trate-se com a dignidade que merece aquela levada com mais de quatro séculos e meio de História partilhada entre a Ribeira Grande e Ponta Delgada. Lanço um repto: essas duas cidades, mais as duas freguesias centrais da Cidade da Ribeira Grande que a partilham, devem exigir (à autarquia e ao governo): a sua vigilância, integridade, limpeza e restauro.[49] Se na década de sessenta (do século passado) a Câmara atribuiu o nome dos Condes à antiga canada do Moinho da Palha, por que não a classificar de Bem de Interesse Municipal (pelo menos)?

Miradouro de Santa Pachorra (com vista para a levada) – Cidade da Ribeira Grande (continua)



[1] Nota de hoje, dia 4 de Setembro de 2024: O Capitão tinha o monopólio deles. Frutuoso não os menciona.

[2] Frutuoso, Gaspar, Saudades da Terra, Ponta Delgada, Instituto Cultural, liv.4, vol.3, 1987, pp.55, 109. Era de facto urgente, pois, o capitão – que tinha o monopólio dos moinhos -, anos antes ordenara que se quebrassem as atafonas de Ponta Delgada.

[3]A cheia de 1667 iria pôr a descberto alicerces dos moinhos junto à foz da ribeira Grande. Agostinho de Monte Alverne, Crónicas da Província de São João Evangelista e Ilhas dos Açores, ICPDL, 1961, Livro. 2, p.334: ‘(…) E quando em 9 de Setembro de 1667, (…) no fim da vila, junto ao mar, descobriu umas casas, que naquele tempo tinha a ribeira, com sua represa, metidas todas debaixo da terra.’ Em 2006/7, nos trabalhos de consolidação das margens da ribeira próximas da ponte dos Oito Arcos, na margem direita, uma máquina pôs a descoberto uma mó (que poderá ter pertencido a um moinho de pastel ou mesmo de moer cereais). Foi levada por mim e exposta no Museu Municipal da Ribeira Grande.

[4] Já abordei a levada nos dois livros que publiquei sobre moinhos bem como no artigo que publiquei no Açoriano Oriental e mais tarde reunido (com outros) num livro intitulado Património perto de Si: entre o passado e presente, 2018, no entanto, neste (com outros dados e com outra interpretação) proponho ir um pouco mais além.

[5] Frutuoso, Gaspar, Saudades da Terra, Livro IV, 1998, pp. 362-364.

[6] Já haveria porto de Santa Iria antes de 20 de Maio de 1525, altura em que a Câmara contrata a obra de melhorar o acesso àquele porto: ‘foi acordado de se fazer o caminho deste porto de Santa Eiria, cortando o pico da fajã de cima direito ao dito porto e varadouro dos batéis, para se poder carregar trigo e outras coisas nele, pois não se sofria a descida pela rocha e caminho de pé.’Cf. Frutuoso, Gaspar, Saudades da Terra, Livro Quarto, IV Volume, Ponta Delgada, 1998, p. 186: ‘ (…) para se fazer se ajuntou a ribeira do salto com a ribeirinha e elas juntas levaram a terra ao mar, que os homens iam cavando, com que se abriu um alto pico pelo meio e se fez o caminho de carro que agora tem, obra que parece de Romanos.’

[7] Hartmut WITTENBERG, Christiane RHODE, Levadas e moinhos de água na ilha da Madeira – Utilização da água com fins múltiplos - gestão histórica, Revista Recursos Hídricos, Vol. 43, N.º 1, 9-21, Março de 2022. Nota acrescentada em 15 de Outubro de 2024: recomendo que vejam os dois episódios de ‘Água Vai, pedra leva,’ da autoria de Sofia Leite, na RTP 2, dias 13 e 14 de Julho de 2015 (pode ser visto na RTP Play).

[8] Em 1919, enquanto destruiu vários moinhos de ribeira (apesar de demolir uns 200 metros da levada) apenas areou os moinhos da levada.

[9] Não se deve excluir a possibilidade de já existirem valas antes da dos moinhos? Sim. Como regar as quintas de fruta (de que fala Gaspar Frutuoso) e as demais culturas de regadio que abundavam (conforme ainda Frutuoso)? Não seria caso para existir já uma vala e regos? Ainda pude levantar essa rede de regos que tinha origem na vala (veja-se livro). As levadas madeirenses serviam também estes fins.

[10] À medida que as cheias iam alterando as margens e o leito da ribeira, e que novos moinhos e novos empreendimentos iam sendo construídos, a levada terá adquirido novas feições: ter-se-á (estou em crer) estendido mais para montante. Com os novos moinhos de particulares, a partir do século XIX, altura em que o Conde perde em definitivo o monopólio, à levada velha é acrescentada uma vala nova. Acompanhando (em grande parte) a mudança de estatuto do Capitão, começou por ser conhecido por levada do Capitão, depois por levada do Conde e por fim, por levada da Condessa (como ainda hoje é conhecido). Agostinho de Monte Alverne, Crónicas da Província de São João Evangelista e Ilhas dos Açores, ICPDL, 1961, Livro. 2, p.334: ‘(…) [1563]; até levou os moinhos que naquele tempo estavam, e por esta razão os mudaram para onde hoje se vêem.’

E tanto assim foi que só na primeira década de oitocentos é que se voltou a construir moinhos junto à ribeira. Atenção, além dos moinhos de moer cereais, havia (ou houve) por ali dois moinhos de pastel e uma serra de água. Frutuoso, Gaspar, Saudades da Terra, Livro IV, Volume 1, 1977, p. 344: ‘(…) veio morar abaixo à Vila [João Gonçalves Ferreira] em umas boas casas que comprou sobre a ribeira, junto da ponte, onde mandou fazer um engenho de serra de água, como os da Ilha da Madeira, com seus escravos e um João Lourenço, seu criado, que era mestre do dito engenho.’ Frutuoso, Gaspar, Saudades da Terra, Livro IV: ‘(…) Naquele mesmo tempo se fez outro engenho do Capitão Manuel da Câmara, abaixo da vila de Água do Pau, o qual também moeu, mas também cessou e se desfez por causa do bicho das canas. Depois destes, se fizeram dois engenhos na vila da Ribeira Grande, um de Diogo de Morim e de Fernão Correia, que foi o primeiro, e outro de Jorge Gonçalves Cavaleiro e de outros companheiros, que também pela mesma causa se desfizeram.’

[11] Mário Moura, Moinhos de rodízio da ribeira Grande I, Do Moinho da Mãe de Água ao Moinho da Areia, Distâncias entre si e do anel à foz, Informação: Carta do Instituto Geográfico e Cadastral de 1975. Seguindo a levada cartografada é medido paralelamente à costa (por isso existe alguma discrepância sobretudo nos dois primeiros moinhos) 29/09/1986 [Este foi o meu primeiro trabalho sobre os moinhos. Apesar de estar pronta, não está publicado.] Reconfirmado no SIG – dia 28 de Agosto de 2024 – com o apoio do colega Manuel António Ferreira.

[12] Melo, Francisco Afonso de Chaves e., A Margarita Animata, 1994, p. 68

[13] Frutuoso, Gaspar, Saudades da Terra, liv. 4, vol. 2, p. 108

[14] Pelo que, um estaria não longe da foz da ribeira, o outro, por seu lado, ficaria numa rua que mais tarde seria conhecida por rua do Saco. Esses só podem ter água de uma levada construída fora das margens da ribeira. Estavam em dois pontos estratégicos: a dois passos do centro da Vila e a caminho da ligação com a banda poente da Vila e com o Sul da Ilha (destino de grande parte da farinha dos moinhos).

[15] A denominação de Novo apontará para o facto de ter sido (certamente) construído depois dos dois primeiros.

[16] António dos Santos Pereira, O Concelho da Ribeira Grande (S. Miguel): Aspectos económicos e sociais no século XVI, Boletim Instituto Histórico da Ilha Terceira, Angra do Heroísmo, v. 45, 1987, 1130.

[17] Frutuoso, Gaspar, Saudades da Terra, liv. 4, vol. 2, p. 207: ‘(…) o qual [pastel] se moía na Ribeira Grande em dois engenhos de água que estavam dentro na vila e em outras partes, em engenhos de besta, aos quais levavam o pastel em sebes.’

[18] Sondagens arqueológicas (juntando geólogos) (ou recorrendo a outras leituras dos locais) em pontos dos moinhos e das valas actuais poderiam trazer muita luz acerca disso. Dialogando, na sexta seguinte à publicação de um primeiro texto no Correio dos Açores, dia 30 de Agosto de 2024, com Francisco Xavier Araújo Rodrigues, geólogo aposentado e filho do último dono do moinho da Palha, fiquei a saber que: ‘há anos quando pretendi construir uma fossa e sumidouro, como a minha casa ficasse inundada pela água da levada, decidiu-se abrir isso mais para poente – para um terreno adjacente. Para minha surpresa, ali a uma profundidade de mais de metro e meio, surgiu uma levada antiga. Com pedra e nos lados e no fundo. A levada actual subira mais um metro e meio. Para construir novo casal de mós? Não havia moinho naquela altura? Depois, já para o lado nascente, com areia, areão e pedra solta, apareceu aquilo que pode ter sido um braço da ribeira ou de uma outra levada. Não vi cinza vulcânica. Foi limpa? Seria anterior a 1563/4?’ Testemunho de Francisco Xavier Araújo Rodrigues, 30 de Agosto de 2024; Outra prova: tendo existido dois moinhos, um de uma pedra e o outro de duas, o moinho do Outeiro nasceu pela sua junção.

[19] Chagas, Frei Diogo das, Espelho Cristalino em Jardim de várias flores, 1989, p. 169.

[20] Agostinho de Monte Alverne, Crónicas da Província de São João Evangelista e Ilhas dos Açores, ICPDL, 1961, Livro. 2, p.334

[21] Moura, Mário, Nascimento de uma paróquia na Ribeira Grande: Nossa Senhora da Conceição (século XVII), 2009, p.48: ‘São ainda os termos de abertura dos livros de casamentos, óbitos e baptizados que nos dão os limites da nova paróquia (…).’

[22] Chagas, Frei Diogo das, Espelho Cristalino em Jardim de várias flores, 1989, p. 169. E a imagem do seu poderio fica bem vincada: ‘que moem cada 24 horas, 24 moios de trigo, por testemunho dos moleiros e rendeiros deles. Rende cada ano as maquias destes moinhos ao Capitão da Ilha forros para ele 340 moios de pão limpo, e joeirado, e ganham seus rendeiros conforme dizem, e se tem visto por experiência, em alguns, que com eles adquirem pão (e há necessidade de mais).’ No século XVII, previdente e atenta, a Câmara obrigava não só a manter limpas as margens da levada como a plantar árvores. Aliás, a Câmara fiscalizava a qualidade do produto dos moinhos e o estado dos moinhos. Opondo-se sem temor ao Conde. Na altura era ainda Conde de Vila Franca, passaria em 1662 a Conde da Ribeira Grande.

[23] Carta Régia para o mesmo Dom Antão de Almada, Palácio da Ajuda, 15 de Setembro de 1766, in O Códice 529 - Açores. Introdução e fixação do texto por José Guilherme Reis Leite. Angra do Heroísmo, Secretaria Regional da Educação e Cultura, 1988, p.177

[24] Creio (no entanto) que a lista é omissa (pelo menos) quanto aos moinhos da Rua e Novo (portanto serão sete e não cinco). Arquivo Municipal da Ribeira Grande, Livro de Acórdãos de 1761 a 1771, Vereação de Sábado 9 de Dezembro de 1769 [folha 119]: Estão (os da acta) colocados de montante a jusante: moinho da Palha (com o moleiro António Pacheco Alfinete, alguém com este apelido iria construir mais tarde um moinho naquela levada); moinho do Outeiro (moleiro: Manuel de Oliveira); moinho do Vale (moleiro no Eusébio da Rocha); moinho da Praia (moleiro António de Arruda); moinho da Areia (moleiro Manuel da Ponte).

[25] Nota acrescentada hoje dia 9 de Outubro de 2024: BPARPD/FAM/RG/12/30730.22, Requerimento do Conde da Ribeira para certidão dos réus acusados de terem construído nas ribeiras públicas (de que tem o monopólio) Grande, Ponta Delgada, 30 de Abril de 1819.

[26] BPARPD/FAM/RG/12/001-002-004, Carta de José Joaquim Lopes de Oliveira, 18 de Outubro de 1820, 110.3.

[27] Idem

[28] Joel Serrão, Dicionário de História de Portugal, Livraria Figueirinhas, Porto, 1985. v. 2, p.320; Açoriano Oriental, 29 de Maio de 1841: Anúncios. Moinhos. Hão-de ser arrematados por quem der mais, de aforamento perpétuo, os oito (8) moinhos da mesma Vila (Ribeira Grande).’; João Adriano Ribeiro, Moinhos nos Açores: elementos para o seu estudo, Islenha, Funchal, n.º 20, Janeiro - Junho de 1997 p.40: ‘Os privilégios dos donatários terminaram com a lei dos Direitos banais em 1821 [Decreto de 20 de Março de 1821 que suprimiu muitos deles e a lei de 22 de Fevereiro de 1846 que os declarou abolidos]. Foi a partir de então que qualquer proprietário pôde construir o seu próprio moinho e deixar de se submeter às arbitrariedades do donatário, depositadas nas mãos do rendeiro.’

[29] A 19 Abril de 1834, mas remetendo para trás, autorizando-nos a recuar à década anterior, já havia (pois) moinhos além dos do Conde. AMRG, 19 de Abril de 1834. Leia-se com atenção: ‘Pelo Procurador Fiscal foi requerido em nome do bem público se devia pôr cobro à grande porção de água que o rendeiro dos moinhos do Conde introduzia no rego ao ponto de inundar as ruas públicas e ficando muitos dos moinhos de diversos particulares sem exercício algum para servir o público porque toda a água ia para os moinhos da Condessa. Deliberou-se efectuar quanto antes uma vistoria.’ A 19 Abril de 1834, mas remetendo para trás, autorizando-nos a recuar à década anterior, já havia (pois) moinhos além dos do Conde.

[30]Açoriano Oriental, 7 de Outubro de 1848: ‘Na vila, os moinhos de Félix José Ferreira, sofreram consideráveis estragos [moinhos de ribeira]. “A ribeira Grande, que dá o nome à Vila, subiu até ao barracão do peixe, levando à praia uma grande porção do quintal de um Tanoeiro - destruindo a mãe dos moinhos pertencentes a António José Rebelo, e arrasando a casa de um homem conhecido pelo Poucaxinho - assim como mais duas que lhe ficavam pela banda de cima. A ponte de João d’ Almeida, na Mãe d’ Água foi aniquilada, e muitos muros derribados, e bastantes terrenos alagados. Na Longaia, os moinhos do mesmo João d’Almeida foram destruídos perecendo nesta ocasião uma pequena de 16 anos.’ O Norte, 28 de Setembro de 1895, p. 2: Na semana última caiu uma grande barreira no leito da ribeira Grande. As águas impedidas no seu curso, aglomeraram-se tanto que na noite de segunda para terça-feira ao transbordarem, arrasaram parte do moinho da Longaia situado numa das margens da ribeira, e uns porcos pertencentes ao moleiro.’ Finalmente, em 1919 é destruído irremediavelmente.

[31] Silva, Francisco Borges da, Notas e estatísticas da Ilha de São Miguel pelo engenheiro Francisco Borges da Silva nos princípios do século XIX, Vila da Ribeira Grande, 2.º Lugar da Ilha, in Revista Micaelense, Ano 2, N.º 5, Novembro de 1919, p. 485.

[32] AMRG, 14 de Maio de 1834: Que fosse remetido ao Provedor deste Concelho o auto de Vistoria a que se procedeu no anel posto por esta Câmara há anos na levada dos moinhos da Condessa para se servir em vista do mesmo auto mandar pôr o mesmo anel no seu antigo estado (…).’ AMRG, Água dos Moinhos da Condessa – 1836-1856: Autora do libelo: Condessa da Ribeira Grande; Réu: CMRG. Sentença da Câmara com a Condessa das águas das marcas isto pertence às sete casas.

[33] AMRG, Vereação de 30 de Outubro de 1841.

[34]Afim de evitar ali escavações que lhes possam aumentar as águas que lhes são devidas’ AMRG, Vereação de 27 de Janeiro de 1842: A Câmara acusa o Juiz de Direito da Comarca de haver cometido um atentado de ter ido pessoalmente derrubar a nova obra mandada construir pela autarquia no anel e registo de água que segue para o aqueducto dos engenhos do Conde da Ribeira, em virtude da representação que havia sido feita à mesma autarquia por vários proprietários e lavadeiras por que não deixavam correr pinga de água nem para os engenhos particulares nem para as lavadeiras (…);’ AMRG, Vereação de 27 de Janeiro de 1842: A Câmara acusa o Juiz de Direito da Comarca de haver cometido um atentado de ter ido pessoalmente derrubar a nova obra mandada construir pela autarquia no anel e registo de água que segue para o aqueducto dos engenhos do Conde da Ribeira, em virtude da representação que havia sido feita à mesma autarquia por vários proprietários e lavadeiras por que não deixavam correr pinga de água nem para os engenhos particulares nem para as lavadeiras (…).’ AMRG, Vereação de 1de Fevereiro de 1842: Relativo às águas que abastecem ou alimentam os moinhos denominados da Condessa. O Juiz quer que a Câmara destrua o que construiu no anel!!:’ AMRG, Vereação de 12 de Agosto de 1847: ‘Os abaixo-assinados proprietários dos moinhos da água da ribeira Grande que dá o nome a esta Vila, que havendo apresentado a este Nobre Senado achar-se alterado em prejuízo dos representantes o registo que por deliberação deste mesmo Nobre Senado havia sido colocado em 1842 no aqueducto do Excelentíssimo Sr. Condda Ribeira, não só em benefício dos representantes, como de uma parte dos habitantes desta Vila, que vivem do ofício de lavagem, e a necessidade de reforma do dito aqueducto foram Vossas Senhorias servidas pelo Acórdão de 20 de Maio do presente ano

[35] Açoriano Oriental, 29 de Maio de 1841: ‘Anúncios. Moinhos. Hão-de ser arrematados por quem der mais, de aforamento perpétuo, os oito (8) moinhos da mesma Vila (Ribeira Grande).’

[36] Já antes de 1840 (em que ano antes?) passara a obrigação de manter e consertar os seus oito moinhos aos seus rendeiros. Em Outubro de 1820, José Joaquim Lopes de Oliveira queixava-se: ‘as despesas são infalíveis com as casas dos moinhos e ribeiras que têm cobrado várias vezes este ano pelas grandes cheias que tem aqui havido.’ A solução encontrada foi (em ano depois de 1820 e antes de 1840) arrendar os oito moinhos: ‘no ano económico de mil oitocentos e quarenta a mil oitocentos a quarenta e um, o qual é do teor seguinte. Número mil e quinze. O Conde da Ribeira Grande por oito moinhos arrendados [os 7 da Levada da Condessa mais o moinho de ribeira do Açougue?],’ BPARPD/FAM/RG/13/329, Requerimento em nome do Conde da Ribeira Grande de certidão do primeiro lançamento da décima sobre os moinhos – Luís Francisco Serpa da Vil Ada Ribeira Grande, Pública forma do Tabelião António Borges da Silva, Ponta Delgada, 28 de Outubro de 1844.

[37] AMRG, Livro de Registo de contribuições pagas pelos moinhos ao Município da Ribeira Grande, 1854-1857, volume 66, 1854-1855.

[38] 1857:Livro de Posturas - 14 de Abril de 1796: 18 Abril de 1852 - Registo de Alvarás: Manuel Pedro de Melo e Silva está a construir uns moinhos no sítio da Mãe de Água da Vila [da Cova e o do Félix? Ambos ou um apenas?] e pede autorização a José Maria da Câmara Vasconcelos para junto ao aqueduto que foi das freiras fazer uma ponte.’

[39] AMRG, Livro de Licenças para moinhos 1880-1886 [Moinho Correia] José Joaquim de Melo Teixeira - Mãe de Água (tem outro na Longaia); 3 pedras

[40] AMRG, Requerimentos de 1854-1857, Vereação de 19 de Março de 1955.

[41] AMRG, Requerimentos de 1854-1857, 10 Maio de 1855 [moinho do Alfinete].

[42]Em 1880, terão existido nove moinhos de ribeira; em 1919, atingem o número (mais ou menos) de treze, caem em 1937 para sete. Em 1986 já não havia nenhum a funcionar. Sei que em 1960’s, trabalhavam ainda o do Açougue e o da Cova do Milho, o do Barracão (talvez) e o da Ponte Nove.  

[43] Arquivo da Repartição de Finanças Ribeira Grande, Matriz Predial Urbana – Matriz Ribeira Grande, de 30 de Junho de 1918 – 1935. [Consulta permitida em 19 de Dezembro de 1988]

[44] Testemunho de Armindo Vitória, 26 de Agosto de 2024. Diga-se que orientou tecnicamente a conversão dos moinhos do Vale e da Praça em espaços de museu. E um da Lomba da Maia.

[45] Mário Moura, Moinhos de rodízio da ribeira Grande I, Do Moinho da Mãe de Água ao Moinho da Areia, Observações na Vala de 28 de Novembro a 4 de Dezembro de 1986 [Este foi o meu primeiro trabalho sobre os moinhos. Apesar de estar pronta, não está publicado.]: A água da levada é usada (além de fazer mover os moinhos): ‘Pesca de enguias. Lavar roupa – pedras de lavara roupa no fim de quintais ou junto à saída dos caboucos. Muito frequente nos Foros e na rua do Saco. Tomar banho. Curtir tremoços: o que é vendido ao público é curtido nos caboucos e levada dos moinhos (com ratos à mistura). Água para o gado – através de canalizações. Ou para regar quintais, quintas e pastos. Deparei com o espectáculo insólito de vacas dentro da levada. Rede de escoamento de esgotos – ao longo de toda a vala. Acentuando-se a partir do Moinho do Vale e atingindo proporções inacreditáveis à medida que se aproxima do Monte Verde (quartos de banho, ou melhor urinóis nos próprios moinhos e em casas). Caixote de lixo privado e público: as residências vizinhas, salva poucas excepções, fazem da levada o local de escoamento para tudo, até mesmo animais mortos. É esgoto do Matadouro Municipal.’

[46] Mário Moura, Moinhos de rodízio da ribeira Grande, Testemunho de Óscar Vitória, 30/09/86 - 1/10/86, [Este foi o meu primeiro trabalho sobre os moinhos. Apesar de estar pronta, não está publicado.] Tanto assim foi que, em 1997, com a mãe danificada, fartos das promessas da Câmara e da Secretaria, os moleiros avançaram. CF. Ana Paula Fonseca, Moleiros revoltados na Ribeira Grande, Açoriano Oriental, 29 de Outubro de 1997, fl 1, 6; João Alberto Medeiros, Chuvas torrenciais causam morte e prejuízos, Açoriano Oriental, 11 de Setembro de 1997, p.1.

[47] Testemunho de Francisco Xavier Araújo Rodrigues, 30 de Agosto de 2024

[48] A esses pergunto: sabiam que ainda há moleiros?

[49] Tornar possível visitá-la: na Longaia, na Mãe de Água, na rua dos Condes ou já no Monte Verde.

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