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Irmãos Botelho Arruda - VI

Em finais de Maio de 1766, João Caetano viajou acompanhado com outros 199 soldados - VI

A Ribeira Grande e o seu termo contribuíram com mais trinta e três jovens, o que representa 16,5% do total dos jovens embarcados. Da Vila propriamente dita, foram vinte e sete. Filhos da elite da terra, tal como João Caetano, foram dois filhos do Capitão António Botelho de Sampaio, Jerónimo Botelho do Rego Sá e George Botelho de Sampaio, seus parentes e do Sargento-mor de São Miguel e José Caetano Correia, filho do capitão Manuel Dias Correia.

Ainda provenientes da Vila, mas de gente de origens sociais mais modestas, viajaram com João, vinte e um jovens. Bernardo António Moreira, filho de Duarte Francisco, foi um deles. Mas houve outros mais: Manuel da Silva, filho de Caetano da Silva; João de Paiva, filho de António de Paiva; João de Paiva Salgado, filho de José de Paiva Salgado; Valentim Carvalho, filho de Manuel da Costa Mansinho; Vicente Tavares, filho de Domingues Tavares; António de Sousa Leite, filho João da Costa; António de Sousa, filho de António de Sousa Coveiro; José Moniz, filho de António Alves Gatinho, João Mourato, filho de João Mourato; Manuel Cabral Malaca, filho de Paulo Malaca; Inácio Pacheco, filho de Manuel Pacheco Gavena (?); Sebastião Lopes, filho de Manuel Lopes; João Carvalho, filho de José Ferreira; Filipe Pacheco, Filho de Filipe Cordeiro; José Moniz, filho de Bartolomeu Moniz; Manuel Bechinho, filho de Marcos Bechinho; José Manuel, filho de Manuel de Braga; João da Costa Feio, filho de Pedro da Costa Feio; Manuel Moreira, filho de Manuel Moreira; Manuel de Melo, filho de Paulo de Melo.

Da Ribeira Seca, que aqui é identificada tanto como Ribeira Seca da Vila da Ribeira Grande ou como Lugar da Vila da Ribeira Grande, foram dois jovens: José Vieira, filho de Jerónimo Vieira e Duarte do Rego, filho de Miguel do Rego. De Rabo de Peixe, quatro: Pedro de Almeida, filho de Estácio de Almeida, Inácio Cabral, filho de Martinho Cabral, Manuel Cordeiro, filho de Manuel Cordeiro e João Cabral, filho de Francisco Cabral. Um das Calhetas: Domingues de Sousa Monteiro, filho de António de Sousa Monteiro e um do Pico da Pedra, Miguel Ferreira, filho de Domingues Ferreira. Vizinhos do Concelho, do Porto Formoso, António da Ponte, filho de Manuel Botelho, António do Monte, filho de Manuel do Monte Couto e José da Costa, filho de José da Costa.

Como acrescentar alguma ‘vida’ àquelas três dezenas de nomes de jovens da Ribeira Grande? Dava-nos imenso jeito dispor da relação da população das paróquias daqueles jovens em 1766, aliás, tal como existe para muitas paróquias das ilhas dos Grupos Central e Oriental dos Açores. No entanto, lamentavelmente, conforme me informou o Mário Viana, nada mais foi encontrado no Arquivo Histórico Ultramarino além do publicado no Volume V da 2.ª série do Arquivo dos Açores.[1] Haveria, no entanto, ainda, uma ténue esperança em encontrar uma cópia das relações que, certamente, ficaram nos Açores nos Arquivos da Capitania Geral. Pedi para Angra do Heroísmo ao José Elmiro Rocha o favor de tentar.[2] Resposta no dia seguinte, logo pela manhã, ainda bebia o meu chá verde: ‘Caro amigo/Estive a ver o que havia para as freguesias de N.S. da Conceição e para N.S. da Estrela (Matriz) da Ribeira Grande. Para N.S. da Conceição, existem mapas para os anos 1789 a 1798, com exceção do ano de 1796. Para N. S. da Estrela, existem mapas para os anos de 1789, 1790, 1792, 1793, 1795, 1797 e 1798. Há também um mapa para toda a ilha com data de 1796 e para a Ribeira Grande para 1806 e 1807./Espero ter respondido ao que pretendias./Um abraço/José Elmiro Rocha’[3]

Habituei-me a ouvir que não há porta que se feche que não se abra de seguida outra, pelo que, vou tentar de novo, decidi logo, desta vez, pedindo ao José Câmara que me veja nas suas Genealogias se encontra algo que se relacione com aqueles nomes da incorporação de 1766.[4] Vamos esperar. Assim, poderia conhecer os agregados familiares, a rua onde residiam, idades ‘aproximadas.’ Chegou hoje dia 30 de Janeiro. Com o aviso: ‘Boa tarde! Caro Mário, aqui segue o ficheiro com as informações que consegui recolher. Saliento o seguinte: o que está sombreado a verde são as "boas notícias"; o que está sombreado a amarelo representa muitos nomes iguais, pelo que se torna complicada a pesquisa; o que está escrito a vermelho significa que não encontro qualquer informação.[5]

Confirmou-me os dois filhos do Capitão António Botelho de Sampaio, casado com Úrsula Rosa de Arruda, a 23 de Outubro de 1737, na Ribeira Seca. Jerónimo Botelho do Rego Sá também conhecido por Jerónimo Botelho de Sampaio casaria a 20 de Fevereiro de 1783 na Ribeira Seca com Francisca do Rosário. O capitão José Caetano Correia nascera na Matriz da Ribeira Grande, sendo filho do capitão Manuel Dias Correia. Entre os sem pergaminhos, Manuel da Silva, filho de Caetano da Silva, talvez seja filho de Caetano da Silva, casado na Matriz com Clara do Espírito Santo, a 10 de Janeiro de 1745. José Moniz, filho de António Alves Gatinho, talvez seja filho de António Álvares, casado na Matriz da Ribeira Grande, a 7 de maio de 1735 com Maria Cabral. Sebastião Lopes, filho de Manuel Lopes? João Carvalho, filho de José Ferreira? São muitos os que tenho com esse nome na minha base de dados. Filipe Pacheco, Filho de Filipe Cordeiro? Nada encontrei sobre ele. José Moniz, filho de Bartolomeu Moniz? Talvez seja filho de Bartolomeu Moniz, casou na Matriz da Ribeira Grande, em 20 de Maio de 1730, com Francisca Rodrigues. Manuel Bechinho, filho de Marcos Bechinho? Nada. José Manuel, filho de Manuel de Braga? Talvez possa ser filho de Manuel de Braga, casado na Conceição, a 28 de Maio de 1741, com Vitória Silva. João da Costa Feio, filho de Pedro da Costa Feio? Na minha opinião, os que tenho, não correspondem. Manuel Moreira, filho de Manuel Moreira? São muitos os que tenho na minha base de dados. Manuel de Melo, filho de Paulo de Melo? Será talvez Manuel de Melo, nascido na Matriz, casado em primeiras núpcias a 9 de Setembro de 1758 com Bárbara do Rego e em segundas núpcias com Francisca de Jesus a 29 de Junho de 1765. Estes serão alguns dos que acompanharam João Caetano.

Quanto à incorporação de outros 200 recrutas em 1767, a lista publicada no Volume V da 2.ª série do Arquivo dos Açores, regista apenas os nomes do pai e o dos recrutas, não identificando o local de origem, assim sendo, pouca esperança nos estará em descobrir entre eles alguém proveniente da Ribeira Grande.[6] Surgem-nos, no entanto, apelidos muito comuns na Ribeira Grande: Tavares, Melo, Sousa, Moreira, Costa, Rego, Ferreira, Arruda, Correia, Raposo, Pimentel, Botelho, Ponte, Soeiro, Paiva. Alguns destes apelidos, é bom que se diga, são comuns igualmente fora da Ribeira Grande. Será que, a exemplo do ano anterior, terá atingido os 16,5% do total? Ou terá ultrapassado aquela percentagem? Não encontramos entre os incorporados em 1767, por comparação aos de 1766, nenhum nome que nos parece estar relacionado com a elite dirigente. A saída da ilha de 400 jovens em idade activa em pouco mais de ano e meio, foi uma bênção agridoce: se, por um lado, aliviou a economia precária da ilha, deixou um enorme vazio nos amigos e nas famílias que ficaram atrás na ilha.

Que conclusão se poderá retirar se comparamos a população da Ilha de São Miguel nos anos sessenta do século XX com a de 1766? E se em seguida compararmos o número de jovens mandados para as guerras do Ultramar num ano e meio com estes 400 jovens em 1766 e 1767? O exercício é arriscado, mais ainda a conclusão, ainda assim, parece-nos que a percentagem destes últimos terá sido superior à dos primeiros.

 

Mário Moura

Lugar das Areias – Rabo de Peixe

 



[1] Mário Viana a Mário Moura, 23 de Janeiro de 2022.

[2] Mário Moura a José Elmiro Rocha, 24 de Janeiro de 2022.

[3] José Elmiro Rocha a Mário Moura, 25 de Janeiro de 2021. Nota: Em 2010, quando publiquei a Biografia de Madre Margarida, na igreja da Conceição só encontrei o Rol de Confessados de 1791 e depois o de 1800. Ter-me-ia sido útil se soubesse desses em Angra? Resposta em 26 de Janeiro: ‘Infelizmente não posso fazer o oque pedes porque os mapas não têm nomes. Têm agrupada a população por idades, sexo e estado civil, mas não há nomes. Onde poderás ver isso é nos rois de confessados, se existirem na igreja (porque não foram de incorporação obrigatória) ou no Arquivo se tiverem ido lá parar junto com os paroquiais.’

[4] Mário Moura a José Câmara, 25 de Janeiro de 2022.

[5] José Câmara a Mário Moura, 30 de Janeiro de 2022

[6] 2.ªa Via da Cópia da ordem da Secretaria de Estado para a leva de duzentas recrutas para o regimento da guarnição do Rio de Janeiro, Lisboa, AHU, Açores, caixa 6, n.º 7, 5 folhas, in Arquivo dos Açores, Volume V, 2.ª Série, Ponta Delgada, 2012, 11 de Dezembro de 1765/ 10 de Julho de 1767, pp. 32-73

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