‘O ex-aeroporto de
Santana: futuro comprometido da Ribeira Grande?’
III
Num trabalho que foi publicado em 1960, mas que conhecera duas edições anteriores, a primeira em 1943 e a segunda, actualizada, em 1958, Sarmento Rodrigues escreveu: ‘O Aeroporto de Santana, a leste de Rabo de Peixe, na costa Norte, permite as ligações aéreas por meio de aviões médios com a Terceira e Santa Maria, que o mesmo é dizer com a rede aérea mundial.’[1] Já estaria a referir ao aeroporto civil. Depois de 1947.
EXPERIÊNCIA
DO PADRE ARTUR AGOSTNHO
Jorge Gamboa foi acusado à boca pequena, pelos cafés da Ribeira Grande, de ter activamente promovido a transferência do aeródromo de Santana para a Nordela, numa altura em que se falava novamente na hipótese do aeroporto da Nordela regressar a Santana. E seria fácil, pois, enquanto Deputado da Nação, de 1961 a 1965,[2] defendera inicialmente na Assembleia Nacional a manutenção e o melhoramento de Santana.[3] Depois mudou de ideia. Porquê? Quando nada mais havia mais havia a fazer?
Em 1979, dez anos após a
inauguração do aeroporto da Nordela, surgiu uma forte hipótese de o
aeroporto regressar a Santana.[4] Jaime Gama mostrava a
sua perplexidade acerca dos motivos que haviam levado à troca de Santana pela
Nordela: ‘(…) As razões que determinaram a
escolha da Nordela, com a consequente impossibilidade de prolongamento para uma
pista colocada em tal posição, nunca foram suficientemente esclarecidas nem
indicados os responsáveis técnicos e políticos por tal opção.’[5]
A
razão? Talvez a explicação mais certeira venha da pena de Manuel Faria Marques
do longínquo ano de 1910 que ainda hoje lhe assenta como uma luva: ‘(…) Não é por falta de boa gente, que a
Ribeira Grande a tem, graças a Deus; mas é por aquela indolência, uma das
características do nosso modo de ser.’[6]
‘[Enviada de Lisboa, onde estava a
estudar] A Ribeira Grande, a despeito dos
mais elevados exemplos de inteligência e de solidariedade humana, dados pela
sua elite, compraz-se em viver na apatia mental dos pequenos meios, alheia a
tudo o que não seja o diz tu, direi eu. Despertá-la deste antipático torpor
para a integrar em mais altos destinos, eis a missão nobilíssima que V…, se
impôs e que jamais esquecerá a mente reconhecida dos seus conterrâneos. Lisboa
12 do 4 de 1934.’
Vasconcelos, Jorge Gamboa de, carta de Jorge Gamboa de Vasconcelos, a Fábio Moniz de Vasconcelos, A Razão, Ribeira Grande, Abril de 1934
Lugar das Areias – Rabo de Peixe
Mário Moura
[1] Sarmento
Rodrigues, Manuel Maria, Ancoradouros das
Ilhas dos Açores, Edição dos Anais de marinha, [1943], 2.ª edição 1960,
p.93.
[2] https://app.parlamento.pt/PublicacoesOnLine/DeputadosAN_1935-1974/html/pdf/v/vasconcelos_jorge_de_melo_de_gamboa.pdf
[3] Vasconcelos,
Jorge Gamboa de, Na Assembleia Nacional.
S. Miguel há mais de 15 anos que pede, ordeiramente, de mãos postas, que
lhe dêem um aeródromo em condições e há mais 15 anos também que ora se
distancia da realização deste sonho (…), Diário dos Açores, Ponta Delgada, 27
de Fevereiro de 1962, pp. 1, 2.
[4] [Director: Sílvio
do Couto] Editorial. Subsídios para a
História do aeroporto de São Miguel, Correio dos Açores, Ponta Delgada, 1
de Março de 1979, p.1.
[5] Jaime Gama, Aeroporto de S. Miguel, Correio dos
Açores, Ponta Delgada, 11 de Março de 1979, pp. 1, 8.
[6]
A Semana, Ribeira Grande, N.º 23, 8 de Janeiro de 1910, fl. 1.
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