O Resgate do Monte Verde – XXVI
É Areal desde que a Ribeira Grande é Ribeira
Grande. Escreveu Gaspar
Frutuoso: ‘João de Aveiro, da vila da
Ribeira Grande, corria a um cavalo a anca revolta, e também tão ligeiramente
pelo areal, ao longo do mar, que lhe não achavam rasto, senão de meio pé para
diante.’[1] Minha avó Maria Deodata Raposo Taveira (que a morte levou
em 1975) adormecia-me cantando ‘O mar
enrola na Areia… (e aí por diante).’ Vai daí que, a Areia da cantilena fosse
(e seja ainda) o Areal. Que é também a Areia.[2]
Ou praia. O britânico Briant Barrett, em 1812, trata-a como tal: ‘A praia da Ribeira Grande.’ E descreve-a
como sendo ‘arenosa, inclinada e,
curiosamente, as casas não têm as suas frentes viradas para ela.’[3]
Todavia, como ela é hoje mais conhecida por Monte Verde, fica Monte Verde. Até
porque, para quem a pretenda vender (como
produto apetecível) o nome Monte
Verde é mais ‘vendável.’ Cai melhor
no ouvido. Soa melhor. E distingue-se de muitas mais com o mesmo nome. Há
montes de Areais aqui na Ilha e por esse mundo fora, mas Montes Verdes (que
saiba) não haverá assim tantos mais. Posto isso, vamos ao que mais aqui
interessa: o seu resgate urgente e imediato.
Se a
autarquia se ufana em ser Capital do Surf e se vangloria (num pacote
publicitário contendo a descrição de cinco praias do Concelho) de o Monte Verde
oferecer ‘um excelente beachbreak e
funciona(r) em qualquer direcção swell.’ Que ali ‘encontra uma onda bastante potente e é aconselhada alguma
atenção às correntes. Junto às piscinas apresenta uma longa direita tubular. Já
no lado poente, quebra uma esquerda.’ Se escolheu a imagem do Monte Verde para
ilustrar a capa de um Mapa Turístico do Concelho. Se a Capitania dos 28 ‘corredores’ disponibilizados aos desportos ‘de deslize,’ atribui ao Monte Verde (9) – o maior número de todas
as praias da Ilha -, e Santa Bárbara (8).[4] Se apesar de ser muita frequentada por
banhistas (principalmente no Verão e sobretudo pelos que preferem uma praia
mais calma do que Santa Bárbara) e por surfistas (durante todo o ano), por que
razão a praia do Monte Verde não faz parte da ‘Lista das águas balneares costeiras para o ano 2024, na Região Autónoma
dos Açores.’[5]
Porquê? ‘Porque as análises acusam –
frequentemente -, matéria orgânica.’[6] Como
se sabe isso? ‘são colhidas amostras de
água para análise em dois locais: um, a poente – junto à ribeira Seca; outro, a
nascente, junto à foz da ribeira Grande e da levada dos moinhos [Na zona do
Restaurante Farias]. Fazemos, com
regularidade, todas as semanas durante a época balnear - do mês de Junho ao mês
de Setembro inclusive. No resto do ano, fazemos, de duas em duas semanas.’ ‘De vez em quando, acusa no lado
nascente [foz da ribeira Grande
e da levada dos moinhos da Condessa], no
poente - estou aqui há seis anos -, nunca acusou. O que acusam as do lado Nascente? ‘Fezes à superfície com a chuva são arrastadas para a ribeira. Problemas
com as vacarias, como a que aconteceu há dois anos.’[7]
Que substâncias são detectadas?
‘Ecolis, etc.. Causam gastroenterites,
afecções cutâneas.’[8] Ainda
assim, ‘[valha-nos isso] durante a época balnear dispõe [há já
dois ou três verões] de um
nadador-salvador e de balneários [desde 2008].’ Um puto de então hoje homem feito de meia-idade, num dos meus
passeios por aquele praia, entre muitas outras conversas descaiu-se com essa: ‘subitamente vi o meu corpo todo coberto de
pontinhos na pele, febre, e os intestinos descontrolados.’[9] Um
dos primeiros surfistas, dos que aqui vinham (e continuam a vir) vindos do sul,
diz outro tanto. Acrescentando outros sintomas mais fortes: ‘penei!’[10]
Para quem
não saiba ou ande distraído, alguém (deste ou do outro Mundo) rogou três pragas
ao Monte Verde. Primeira: quem ali fosse ‘ao
mar’ arriscava-se a ir ‘mais cedo para
a companhia dos pés juntos.’ Praga (antes) partilhada com Santa Bárbara,
mas (devido aos surfistas e aos nadadores-salvadores) já não apoquenta mais do
que deve apoquentar. Segunda: garimpo da areia. Outra praga partilhada com
Santa Bárbara, que (felizmente) já não apoquenta nenhuma das duas. Terceira:
lixo orgânico. Enquanto se mantém o flagelo no Monte Verde, aparentemente não
apoquenta Santa Bárbara (a julgar pelas análises já apoquentou uma ou outra
vez: descargas da COFACO. Dizem-me). Já não vemos pelo Monte Verde gado a
passear de um lado para o outro, ia lá ganhar apetite e livrar-se de ‘impolas,’ os efluentes domésticos estão
a ser controlados, garantem-me, felizmente ninguém atira lixo ao mar como
dantes, nem a vala dos moinhos é a cloaca de outrora (apesar de ainda não ter
deixado por completo de o ser), agora o mal vem sobretudo (mas não só, não
esqueçam o não só) das pastagens. Vai haver como sempre houve enxurradas (mais
ou menos controladas), que são (sem elementos orgânicos patológicos) uma
verdadeira fonte de riqueza do Monte Verde. Sem elas, a praia não se reabastece
de areia. Leia-se Gaspar Frutuoso.
Precisamente
no dia 3 de Junho de 2024, doze dias após ter tido uma interessante conversa
com o meu colega responsável pelas praias, abateu-se (subitamente) com força um
novo golpe. Bem duro. Análises efectuadas logo no dia seguinte à água do mar, forçaram
à interditação da ‘Praia do Monte Verde.’
Não pela sua cor barrenta e nojenta, nem pela quantidade de matéria vegetal,
ambas bacteriologicamente inofensivas, dizem-me, mas pela matéria animal
(orgânica) proveniente ‘dos terrenos [leia-se
pastagens] a Sul da Cidade.’ Acusando
‘valores microbiológicos’ muito para além
dos aceitáveis.[11]
Uma das consequências imediatas foi a etapa do Nacional do Surf (patrocinada
pela autarquia), prevista para os dias 21-23 para o Monte Verde, ter sido
transferida para o pico da Ganza da praia de Santa Bárbara (com umas ondas
pífias, ao contrário das do Monte Verde).[12] Em
declarações à imprensa local, o Presidente da autarquia calculava (antes mesmo de
uma avaliação mais profunda) os prejuízos em ‘meio milhão de euros.’[13] A
Associação Agrícola de São Miguel (sediada na Ribeira Grande), que defende a
lavoura ‘alerta para prejuízos na
agricultura causados pelas condições climatéricas.’ Em bom rigor, na sua
maioria, na área que afecta, tanto quanto se vê, são milhos destinados ao gado.
E ‘mais uma vez, lamentou “profundamente
que continue a não existir um seguro de colheitas capaz de cobrir as necessidades
do sector agrícola” e solicitou ao Governo Regional dos Açores e ao Governo da
República “que sejam capazes de agilizar procedimentos, para que este
instrumento de grande utilidade tenha a devida aplicação na Região.”[14] Se
há para a agricultura/lavoura, enquanto não se resolve alguns dos seus muitos
males, não poderia haver um seguro ou fundo de socorro ao Monte Verde? Que
dizem?
Na tarde
do mesmo dia em que havia trocado impressões com o colega responsável pelas
praias, troquei impressões com o colega veterinário municipal. Está connosco há
pouco mais de três anos, mas não se coibiu de me dizer já ter tido entretanto ‘várias ocorrências no Monte Verde. Causas? ‘O uso indevido das estrumeiras nos viteleiros. A começar pelo cálculo
da sua capacidade. Inicialmente seria para um certo número de animais,
posteriormente, a manada cresceu. Essa é uma das razões. A outra é a retirada
precoce dos excrementos das estrumeiras. A regra (que muitas vezes não é
cumprida) prevê que deva estar três meses (assim eliminam-se as bactérias
nocivas), porém, por vezes, passadas apenas duas semanas, lançam aquilo nas
linhas de água. Para amenizar os cheiros, há pastilhas, mas como são caras, não
as colocam. Outros, depois dos tais três meses previstos, usam-no como estrume.
Desembaraçam-se de qualquer maneira para a via pública ou para as ribeiras. E
chega tudo ao Monte Verde onde as análises acusam percentagens elevadas de
elementos patogénicos.’[15]
À
primeira vista, sem se conhecer por dentro (e a fundo) o mal de que padece o
Monte Verde, custa a engolir que as Poças (ali mesmo na sua continuação) e
Santa Bárbara (ali no outro lado do Bandejo) sejam contempladas com uma
Bandeira Azul e o Monte Verde (ali encostadinho
ao lado) continue a marcar passo.[16] Mais
custará, se nos lembrarmos que foi berço do surf da Ribeira Grande (e da sua
expansão na Ilha), que acolheu o primeiro campeonato Europeu e Mundial de Surf
e é frequentada (ao longo do ano e durante todo o santo dia, logo que haja
ondas) pelas escolas de surf e por grupos de surfistas e bodyboarders.
Pouco ou nada tendo a ver com o mar propriamente dito mas com o ar dali, com ‘vento laminar livre de obstáculos físicos.
O melhor vento ali é o de nordeste,’
em 1992 começam a ir ali e a Santa Bárbara. Ainda viam os burros e os camiões
do garimpo da areia. De quem se trata? Dos pioneiros parapentistas (e dos praticantes da asa Delta). Quando (em 1992)
ensaiam os primeiros voos em São Miguel, escolhem (além de outros locais) o
Monte Verde e Santa Bárbara. Presentemente, não só continuam a fazê-lo aqui
como têm aqui a sua sede social (na Casa das Associações). Neste Inverno de
2023/24, escolheram o Monte Verde para sessões de iniciação ao parapente.[17] E a
meia dúzia (se tanto, onde me incluo) que (faça vento ou sol) de Verão ou de
Inverno caminha na areia (Monte Verde e Santa Bárbara).
Recuando
ao ano de 2022, lembrando (porém) o leitor (apenas) de que algo semelhante havia
já ocorrido no ano anterior, um jornal dá a notícia: ‘Praia do Monte Verde não recomendada a banhos.’ [18]
Desta vez a GNR apanhou ‘em flagrante
delito a descarga ilegal de efluentes [uma vacaria que é limitada a
nascente pela ribeira do Teixeira e a poente pela ribeira Grande].’ ‘Não
é a primeira vez que a Ribeira Grande é notícia por descargas de efluentes para
as suas ribeiras. Ainda no ano passado [2021], uma situação idêntica levou à interdição de banhos na praia do Monte
Verde, por contaminação das águas, mas, na altura não foi possível identificar
a fonte emissora.’ Isso acontece, na mesma altura em que a autarquia
anunciava a sua vontade em se candidatar a Reserva Mundial de Surf, que
apresentava um plano destinado em exclusivo ao Monte Verde (Unidade de Execução
do Monte Verde) e empenhava-se (gastando rios de dinheiro) para ligar os
afluentes domésticos à ETAR, o Presidente ‘lamenta
que esteja a ser feito uma campanha para trazer as pessoas às praias do
Concelho, depois há prevaricadores.’[19] O
prevaricador, como se pode ler no jornal, foi identificado e multado (uma multa
ligeira, quase simbólica?).
E no ano anterior? Em 2023, acontecera precisamente o mesmo.
Ou ainda pior. Havendo sido ‘reportadas
denúncias através do portal “NAMINHAILHA,” da Secretaria Regional do Ambiente e
Alterações Climáticas,’ sem que até então houvesse resposta, em ano
eleitoral, os deputados do PS fizeram bandeira disso. Que havia feito neste
sentido o Governo Regional nos últimos três anos, junto das entidades públicas
e privadas, para mitigar os problemas. Indagaram. E “se foram registados autos de contra-ordenação ambiental nesse mesmo
período?”[20]
Solução? Ora, como seria possível se ‘nem
a verba prevista no Plano de Investimentos da Região para 2023, de 800 mil
euros, “tem sido canalizada para efectivos trabalhos de monitorização e
manutenção da rede hidrográfica.’ Apesar de ser ‘um problema que comporta um elevado risco para a saúde pública e que
compromete a qualidade de vida dos moradores, bem como dos utilizadores das
zonas balneares que, além de confrontados com o odor nauseabundo que se faz
sentir, já viram essas zonas interditadas devido à má qualidade da água.’
Se houve promessas eleitorais, como acontece sempre nessas circunstâncias, contados
os votos, quer a situação quer a oposição remeteram o assunto para mais tarde: ‘um dia destes a gente logo vê.’
Tanto
quanto sei, virá de longe as tentativas
(até hoje fracassadas) de fazer do Monte Verde uma praia normalíssima como
qualquer outra. Já em 1949, D.
Lopo de Sousa Coutinho, conhecido por Conde de Caminha, numa arrojada (e
visionária) proposta de urbanização para a Ribeira Grande (hoje, sem que se dê
conta disso, talvez por ignorância, está sendo em larga medida posta em
prática), elege o Monte Verde (e a sua área circunvizinha) num dos eixos
urbanos principais (se não mesmo o principal).[21] A
sua localização, no coração da antiga Vila, era (e continua a ser) única. Daí
poder vir a ser (no futuro) um verdadeiro motor de desenvolvimento.[22]
Nesse ano de 1949, numa tão violenta como ‘bizantina’
discussão (via jornais) com o Presidente Lucindo Rebelo Machado, a propósito de
a Vila da Ribeira Grande poder ou não se candidatar já a Cidade, Jorge Gamboa
de Vasconcelos recusa liminarmente aceitar (mesmo a título de hipótese) a ideia
(como defendia o segundo). Nem mesmo seria digna de ser Vila-Cidade (seja lá o
que isso for). Porquê? Porque isso nunca poderia acontecer sem que antes se
pusesse cobro aos gravíssimos problemas de saneamento básico. Jorge não o diz então
abertamente, di-lo-á quatro décadas mais tarde, mas a resolução do problema,
implicaria já então e inevitavelmente o resgate do Monte Verde.[23] Por
essa mesma altura, prolongando-se até inícios da década de sessenta, ter-se-á
dado início ao aterro que liga a actual Vila Nova ao Bandejo – a chamada rua da
Areia.[24] Em
1971, terminados (ou quase terminados) os aterros da rua da Areia, assim como
(em grande parte) a construção do casario do bairro da Vila Nova, o engenheiro
Fernando Monteiro e a sua equipa de vereadores, decidem melhorar o acesso à
praia do Monte Verde e criar (junto aos moinhos da Areia) um espaço de
estacionamento. Isso ao mesmo tempo que pretendem (no caso vertente, sem
sucesso que se conheça) melhorar o acesso à praia dos Moinhos pela Ladeira da
Velha.[25]
É então
(nessa mesma década de setenta) que desaba (sem se dar a princípio muito pelo
caso) uma nova desgraça sobre o Monte Verde: a extracção louca de areia. Até
então, tirava-se dali pouca areia, umas carrocinhas, para algumas obras de
casas e pouco mais, a partir de então com o surto de construções ao redor da
Ilha, nas três décadas seguintes a exploração de areia cresceria de forma
brutal. Como desgraçadamente também
aconteceu à Praia de Santa Bárbara. Espantosamente, se na Praia do Monte Verde
(por várias razões) não chegou a dar tanto nas vistas, nem causou tanto banzé,
a verdade é que (segundo uma tese de Doutoramento) - ainda assim -, ter-se-á dali
extraído apenas só um terço menos da areia tirada em Santa Bárbara.[26]
É
(também por essa altura, década de setenta em diante) que começa a espreitar
uma outra (e, de futuro, uma ainda maior) ameaça. Que (no presente) mantém
refém (em termos sanitários) o Monte Verde e a população da cidade: a
pecuária. É por aí que a pecuária começa a ocupar o vazio deixado pelo abandono
da agricultura. Seria difícil então prever toda a extensão que hoje ocupa. Como
teria sido antes dessa (paulatina e firme) substituição? Ezequiel Moreira da Silva,
escrevendo em 2005, tira-lhe um retrato que nenhum testemunho ou estudo sério
negará ser fiel: ‘Nesses tempos [antes
dos anos 70], as pastagens permanentes
não apareciam ali. Estavam mais para cima, noutras altitudes, nas faldas da
Serra da Água de Pau e numa dimensão muito mais humilde do que agora ostentam.’[27] ‘Os agricultores ou camponeses, que traziam
as terras maioritariamente de renda [sobretudo de donos de Ponta Delgada], faziam o seu cultivo e orientavam toda a sua
vida de trabalho à volta delas. E os lavradores que possuíam algumas vacas de
leite, o qual era, todos os dias, vendido aos quartilhos e à canadas pela porta
de cada um e à sua própria porta e possuíam, sobretudo, bois de trabalho,
arados e grades de madeira e, muitas vezes, também um carro de bois e
carroças.’[28]
Dando um pequeníssimo salto para o ano de 1981, ano em que a
Ribeira Grande foi finalmente (após séculos de tentativas falhadas, por
exemplo, em 1852, só faltou tirar da gaveta ministerial o projecto) elevada a
Cidade,[29]
em colaboração com a RTP/Açores, Jorge Vasconcelos Gamboa (na qualidade de
historiador que conhecia como poucos a História da sua Ribeira Grande e da qual
era há décadas Delegado de Saúde), volta a pôr de novo (sem paninhos quentes) o
dedo na chaga aberta que mais nos dói aqui: o saneamento básico. A seu ver, a
Via litoral e a Praia do Monte Verde (já) faziam parte (indissolúvel e
substancial) da futura (que já se pretendia breve) solução do problema. Rosa
Lourenço, médica continental (casada na Ribeira Grande) no Hospital da Ribeira
Grande (que passaria a Centro de Saúde por Decreto Regional), recorda que por
esta altura e até anos mais tarde, a partir do mês de Junho a Setembro,
sucediam-se umas atrás das outras – de forma às vezes assustadora -, as
gastroenterites (devido ao não tratamento das águas). Até diz mais: diz que
quando na Ribeira Grande se passou obrigatoriamente a ir nascer (por decreto) a
Ponta Delgada o espaço deixado vago da (anterior) maternidade no Hospital
(agora despromovido a Centro de Saúde) foi destinado às ‘gastroenterites’ estivais. No entanto, sem ligarem grande coisa ao
perigo das gastroenterites e outras mazelas muito menos ao papão do mar do
Norte, a Praia do Monte Verde a partir dessa década de oitenta começou a ser
(assim como a de Santa Bárbara, Santa Iria e as ondas de Rabo de Peixe, um dos
locais mais procurados dos surfistas da Ilha. A praia (nesse entretanto) foi
atraindo mais e mais gente da própria Ribeira Grande, sobretudo da Conceição,
da Ilha inteira e de fora (sobretudo turistas).[30]
Regressado à minha Ribeira Grande a 13 de Junho de 1983, fui seu fiel
frequentador de segunda a segunda. Todavia, nem pus os pés na água, confesso,
saudoso da minha língua materna, devorava as novidades da literatura e da
História que me chegavam às mãos, a um ritmo de um livro por dia. Mas ainda deu
para ver – pela primeira vez ali -, surfistas. Talvez ‘estrangeiros.’ Quem sabe até se alguns dos pioneiros das Milícias? No
entanto, manda a verdade dizer, que eles não nos ligavam. Nem nós a eles. Estavam
para ali nas ondas. Ainda assim, achava-lhes piada. Estamos no Havai, lembro-me
de ter dito a um amigo. Via (então) a praia cheia. Gente que ia ao mar. Gente
que dava uns toques com a bola entre dois mergulhos. Voleibol. Via uma barraca
improvisada onde havia refrigerantes e sandes. Muita música e algum pé de
dança. Duches de água doce. Mas também via vacas e cavalos (ali por sua conta) a
vaguearem pela areia. Não se aproximavam, ficando a uma distância segura dos
humanos. Perguntando aos meus velhos, recebi como resposta de que sempre se
lembravam de haver por ali animais. Até de fora da Ribeira Grande. E, mais junto
da levada e da ribeira, havia sempre roupa estendida a secar ao sol. Segura com
pedras dali para o vento não a levar pelos ares. Com regularidade, avistava uns
camiões carregados de areia. Mas não lhes dava importância.
Em 1990, já ia mais às Poças e aos Moinhos do que ao Monte
Verde, no entanto, sei (porque investiguei e falei com quem ia lá) que em
1995/6, João Brilhante, ao avistar por ali uns miúdos da Ribeira Grande a surfarem à sua maneira, desafiou-os a
surfarem como deveria ser. Mais de uma trintena aderiria. Na entrevista que
concedeu em 1997 ao jornal Açoriano
Oriental, denuncia sem papas na língua a péssima qualidade daquela praia: ‘não
têm boa apresentação, nem balneários.’ Pior ainda: ‘As águas são porcas e até se torna perigoso para a saúde, já que não
há saneamento básico. As pessoas
acham que o mar é uma lixeira.’ [31]
Vinte dias depois da entrevista de João Brilhante, José Stone/António Valdemar,
num artigo também no Açoriano Oriental,
clamava contra a paupérrima situação sanitária daquela praia. Jornalista de renome
há muito feito (então) do Diário de
Notícias, já antes fora de outros tantos jornais igualmente prestigiados, e
presença assídua das Poças em tempo de férias, intrigava-lhe o facto de o Monte
Verde ser um dos locais predilectos de uma escola de surf, apoiada pela
Secretaria Regional da Juventude, e de lá se realizarem etapas nacionais do
concurso ‘construções na areia,’ e de
não ter ainda um nadador-salvador. Tanto mais que as ditas provas eram
organizadas a nível nacional pelo Diário de Notícias e a nível Regional pelo
Açoriano Oriental. Com o apoio da autarquia. Como era possível permitir-se a
poluição causada pela extracção da areia do tufo?[32]
Urgia (por conseguinte) pôr cobro àquela escandaleira. De facto, em 1990, na
Bandeirinha (ao cimo dos Foros) um industrial extraía areia do tufo devolvendo
(de seguida, sem a tratar) a água à ribeira. Dava um aspecto detestável às
águas do Monte Verde e das Poças.[33]
Foi (entretanto, não sei exactamente quando) encontrada a solução. Construiu-se
uma bacia de decantação (com piscinas
sucessivas), em que a água é separada das lamas.[34]
Entretanto, a maior fábrica de lacticínios dos Açores e uma das maiores do País
já não fazia descargas para a Rochinha Preta, a autarquia (é incrível, mas
aconteceu) deixara de despejar lixo no funil (no mesmo local) (estrutura em
betão que conduzia o lixo ao mar!) e o matadouro municipal também já não despejava
para a vala ‘o sangue e excremento das
reses que abatia.’ Algures por essa altura, sentiu-se (pela primeira vez
mas sem dar tanto nas vistas como davam as descargas da tufeira) o impacto das
descargas da geotermia. A água dos poços geotérmicos era lançada à ribeira
Seca: água que vinha desaguar no Monte Verde (na área dos espinafres). Fonte
oficial da empresa, garante-me que desde 1997 é reinjectada.[35]
Pouco depois, a enorme cheia de 10 de Setembro de 1997, arrastaria lama, algo
só por si inócuo, troncos de árvores (que causaram prejuízos mas não
prejudicaram a qualidade da água). Muita areia que reabasteceu a praia. Mas
também matéria orgânica proveniente das criações de gado.[36]
Essa sim, afectando a qualidade da água do Monte Verde. A 1 de Outubro de 1998,
nova cheia.[37] Fique
bem claro que as análises feitas de forma sistemática às águas balneares, ao
contrário do que me haviam antes informado, não tiveram só início com a
inauguração em 2005 das obras das Poças (Piscinas), já vinham (como soube muito
recentemente) de finais da década de oitenta do século passado: ‘Já o fazíamos no tempo em que o Engenheiro
Hermano Mota era Presidente. No Verão, o Laboratório de Geociências e
Tecnologia procedia quinzenalmente à recolha de amostras da água balnear.’ Em
meados da década de noventa passou para o INOVA. E a partir de certa altura é
lançado a concurso.’ Em quais praias? ‘Poças,
Areal [Monte Verde], piscinas.’ E
com que resultados? ‘Às vezes acusava.’
‘O que é que procuravam? ‘Elementos
químicos e bacteriológicos.’ Isso foi-me dito por António Augusto Tavares,
responsável então pelo Laboratório.[38]
Em 2001, ao
mesmo tempo que a Câmara Municipal (sob pressão constante da opinião pública,
de vereadores da oposição, de banhistas e de surfistas) abria a praia de Santa
Bárbara (oferecendo um mínimo de condições: dois nadadores-salvadores, duches e
um parque de estacionamento improvisado), a Junta de Freguesia da Conceição
(não querendo perder o passo) tenta fazer igual na praia do Monte Verde. Já lá havendo
um espaço adaptado a estacionamento, sendo o acesso fácil, bastou-lhes uma
limpeza sumária, (re)instalar duches (quase sempre vandalizados) e promover algumas
actividades lúdicas. Durante algum tempo, chegou-se a acreditar que daquela vez
seria mesmo, porém, a crua realidade sanitária daquela praia cedo poria por
terra o sonho há muito sonhado mas sempre adiado: a péssima qualidade das suas
águas fê-la ficar atrás da de Santa Bárbara.[39] Até da
dos Moinhos (a grande estrela em ascensão de então). Ou mesmo da do Calhau da
Furna (nas Calhetas).[40] Apesar
desse obstáculo, fazendo completa vista grossa às proibições do Delegado de
Saúde e esquivando-se (mesmo) às surtidas da GNR, os surfistas (sobretudo eles,
ao contrário de muitos dos banhistas habituais do Monte Verde que debandaram
para a Praia dos Moinhos) nunca dali arredaram (nem ainda arredam) pé.[41] Luís
Melo, colaboradores e alunos do Clube Naval de Rabo de Peixe ou do Clube Naval
de Ponta Delgada, não me desmentem: o Monte Verde era um local de treinos e de
competições. Mais. Três anos passados, em 2004, a escola de Surf criada
(entretanto) por José Seabra, ia lá treinar regularmente.[42]
Em
2006/2007, quando a vereação chefiada por Ricardo Silva decidiu dar novo rumo e
cara nova ao areal de Santa Bárbara, também quis fazer o mesmo à Praia do Monte
Verde. Aliás, o plano era intervir não só naquelas duas praias mas em todas as
praias da Ribeira Grande (Concelho e Cidade). Mais uma frustração: cedo se
concluiu que a situação do Monte Verde (ao contrário da de Santa Bárbara)
exigia uma abordagem radicalmente diferente. Em Abril de 2007, nova cheia (com
enorme impacto no Monte Verde).[43]
Nesse
entretanto, uma nova geração, defensora do ambiente, entra em cena. Presta
(muito mais) atenção ao que se vai passando naquela praia. Não só por obrigação
curricular, nas escolas (desde o primeiro ao terceiro ciclos) há professores que
se dedicam à educação ambiental.[44] Há
gente da Ribeira Grande a fazer parte de grupos ambientalistas. De Junho de
2001 a Janeiro de 2003, os 20 números da III Série do jornal Estrela Oriental seguem de muito perto o
que se passa no litoral e nas ribeiras. Inclusive lançam-se ideias para a Via
Litoral.[45]
Em 2000, é criada a Ecoteca da Ribeira Grande.[46]
Essa crescente
consciência ambiental, explicará o que aconteceu em 2009. Nesse ano, num ofício
dirigido ao Delegado de Saúde da Ribeira Grande, o responsável pela associação
ambientalista Amigos dos Açores (em
nome desta associação) faz soar o alarme. ‘a
situação que se está a verificar no areal da cidade, junto à zona onde desagua
o canal que alimenta os moinhos de água, vulgo Praia do Monte Verde. Sendo esta
uma zona de saída de águas impróprias para o uso balnear, pelo cheiro que
emana, pelos detritos que arrasta, e mais grave, pelas descargas ilegais de
águas provenientes da limpeza de fossas sépticas que nela fazem, é do nosso
entender que a utilização da zona para uso balnear não é aconselhável para a
saúde. O que nos preocupa é ver a utilização despreocupada daquela zona, pela
população local, e não só, sem que haja qualquer informação sobre os perigos de
utilização do referido espaço como zona balnear.’[47] O
Delegado de Saúde, antes de tomar uma decisão, como lhe compete, vai
inspeccionar o local referido, e perante o que vê, notifica a autarquia: ‘seria de todo importante que fossem colocadas
placas informativas relativas à qualidade da água e sinalética indicativa de
desaconselhável à prática balnear, a fim de que qualquer cidadão tenha
conhecimento e tome as suas precauções.’[48] A
Câmara, que tinha a obrigação de conhecer a situação como ninguém, podendo
ainda assim negar o problema, não o nega: ‘relativamente
à chamada boca da levada onde alguns esgotos por vezes desaguam, trata-se
efectivamente de um problema que só com a construção da futura ETAR da Cidade,
já projectada, é que irá ser definitivamente resolvido.’ Quem conheça razoavelmente
o percurso da água da levada dos moinhos da Condessa e conheça o ponto exacto em
que a água da ribeira Grande entra na levada, concretamente na Mãe de Água,
saberá que essa água antes de entrar na vala passa muito próximo de pastagens
(problemáticas). Como saberá (só não sabe quem não quer saber) que ao longo do
percurso da vala, há outros focos de contaminação (algumas poucas casas).
Voltando à Câmara Municipal. Entendendo (e acertadamente) não ser necessário esperar
pela construção da ETAR para atacar o problema, o Município decidira dar passos.
É o responsável pela empresa Ribeira
Grande Mais quem informa o
Delegado de Saúde: ‘Levamos a cabo várias
acções de limpeza, não só na época balnear mas no decurso de todo o ano.
Adquirimos uma máquina de limpeza de praias que tem mantido a mesma em óptimas
condições. Dotamos a mesma de dois balneários móveis de apoio com duche, casas
de banho e vestiários.’ Já monitorizam a qualidade das águas: ‘Temos análises mensais realizadas pelo
INOVA, a pedido da Secretaria Regional do Ambiente e do Mar, que desde o início
da monitorização, 20 de Maio, classificam a água como boa.’ Apesar disso,
sem licença da capitania para terem lá um vigilante, são forçados a colocarem avisos: ‘Instalamos, e de acordo com a Capitania do
Porto de Ponta Delgada, placas a informar que estamos perante uma Zona Balnear
Não Vigiada.’[49] Vamos
ver se entendo. Se persistem em 2024 os problemas sanitários de 2008/9, por que
razão em 2024 a praia do Monte Verde pode ter nadadores-salvadores (e ainda bem
que os tem) mas não podia os ter em 2009? Decisões diferentes de diferentes
capitães do porto?
Ironicamente
ou talvez não, em 2009 o Monte Verde seria a primeira praia açoriana a acolher
um Mundial de Surf e (mais tarde) um Europeu.[50] Servindo
Santa Bárbara sempre que esta não ofereça ‘ondas
em condições.’ Como por exemplo este ano de 2024, ‘não tem fundos de areia.’ O que acontece com alguma frequência. Ainda
assim, apesar da momentânea glória mediática do Monte Verde, continuava a não ser
(de todo) possível resgatá-la sem concretizar o projecto do Passeio Atlântico
(ou via Litoral).[51] No
qual, estava (e está) previsto o saneamento básico da Cidade. No entanto, continuando
a fazer o que já era possível fazer-se, aproveitando o primeiro troço e já
planeando o seguinte do Passeio Atlântico, a autarquia dá mais um passo
significativo: põe fim às descargas de efluentes domésticos a céu aberto junto
à foz da ribeira Grande.[52] E (de seguida) planeia uma
ETAR (que na vereação de Alexandre Gaudêncio) seria substituída por estações
elevatórias conduzindo a uma ETAR única e central (como se verifica agora).[53]
Espera-se (há essa esperança) que venha resolver grande parte dos problemas que
atormentam o Monte Verde.[54] Ou
seja, os da levada (em grande parte, pois, subsistem casos esporádicos de
algumas casas e do que entra vindo das pastagens a montante da Mãe de Água).[55]
Resolvendo
(ou mitigando) os problemas referidos, sem (no entanto) nunca perder de vista a
‘manhosa’ ribeira Seca, é a vez de
olhar de frente para um outro problema (esse, sim) bem bicudo (mas não
insolúvel).[56]
Acabar com o constante dano ambiental causado pelo (controle inadequado e por
vezes desregrado) do chorume (merda
e urina).[57] A
esse propósito, dialoguei com empresários do ramo, produtores, moradores e
técnicos. Li diversos trabalhos científicos. Visitei os locais mais sensíveis.
Do que li, conversei e vi, colhi algumas ideias. Tendo tudo isso em mente, partilho
as seguintes sugestões. A começar, numa postura de ‘antes prevenir do que remediar,’ aconselho as autoridades (todas
que têm alçada na área) a serem mais proactivas. Para tal, sugiro a nomeação de
um guarda de ribeira (já os houve no passado). Que fiscalizaria a área. Para dar
os primeiros passos em direcção ao necessário (e urgente) controlo da situação,
dever-se-ia instalar um ‘corredor ripário’
de plantas (indígenas, se possível, mas não forçosamente) nas áreas limítrofes
das zonas sensíveis. [58] Adequar
as dimensões das nitreiras ao número preciso
de cabeças de gado da exploração. No caso de não se recorrer (por questões
várias) a fertilizantes e pesticidas amigos do ambiente, aplicar criteriosamente
os fertilizantes e os pesticidas convencionais da forma recomendada. Posto
isto, dar novo passo em frente: por que não criar uma ‘central biodigestora que recolhesse e transportasse o chorume das
explorações’? Ponha fim às maiores queixas: ‘a praga dos cheiros, o uso de pesticidas, a infiltração de fosfatos nos
lençóis de água.’[59]
Produziria (até) gás metano. Os lavradores (melhorariam a sua imagem pública) e
fariam dinheiro (de que tanto necessitam). Não se trata de ficção científica, é
pura realidade (e corrente) na Alemanha, na Dinamarca, na Itália. Mesmo aqui na
Ilha já existe há uns bons 50 anos (dizem-me, entretanto, que haverá pelo menos
mais uma outra). Não percebo, por isso, por que razão um projecto apresentado
em tempos ao Governo Regional, foi chumbado. Sem quaisquer contemplações. Porquê?[60] Mas,
se se pretender de facto ir mesmo à raiz do problema, aqui na área que afecta o
Monte Verde, por que não adquirir as
(poucas) explorações que afectam o Monte Verde? A Região já o fez para
salvaguardar as lagoas das Furnas e das Sete Cidades ou as nascentes do Monte
Escuro. A autarquia tem-no feito (também) para algumas nascentes sensíveis. E é
provável que tenha de o fazer em outras mais.[61]
Fiquei parvo ao saber hoje (hoje, dia 20 de Julho de 2024) que a bacia
Hidrográfica da Ribeira Grande (na qual, erradamente, não se inclui a manhosa
ribeira Seca) fazia parte do Plano de Gestão de Riscos de Inundações da Região
Autónoma dos Açores de 2016. Por que razão, então, passados oito anos não se
implementou o que ali se propõe no ‘Artigo 2.º: Objectivos: a) Prevenção: prevenir
os danos causados pelas inundações, evitando a construção de casas e indústrias
em áreas que, actualmente, estão sujeitas a inundações, pela futura adaptação
ao risco de inundações, e através da correcta utilização dos solos,
contemplando práticas agrícolas e florestais adequadas.’[62]
Os pastos que causam a contaminação do Areal de Santa Bárbara não estarão
neste caso? Direitos adquiridos? Vamos admitir que sim. Ainda assim, por que não
passou do papel o que consta do ponto 4? ‘c) Planear
e operacionalizar um sistema de monitorização e alerta de cheias.’
Oito anos depois ainda nada? Um jornal de 18 de Julho de 2024, anunciou: ‘Governo Regional pretende investir 18 ME na prevenção de inundações. (…) O plano definiu cinco bacias de risco de cheias e inundações fluviais,
para as quais foi produzida cartografia de pormenor de risco, nomeadamente a
ribeira Grande e a ribeira da Povoação, na ilha de São Miguel (…). O objectivo
é reduzir as potenciais consequências prejudiciais das inundações, para a saúde
pública, para o ambiente, para o património cultural, para as infraestruturas,
explicou o secretário regional do Ambiente e da Acção Climática, Alonso Miguel
(…). O plano (…) agora apresentado aos deputados, que já esteve em discussão
pública entre Outubro e Novembro (nem me apercebi disso) do ano passado, será
discutido e votado em plenário antes de entrar em vigor.’[63]
Vai ser desta?
Atento ao
problema que nem um perdigueiro à perdiz, já após a publicação deste trabalho, surgiu
dois novos motivos de comentário. Primeiro. A 29 de Junho, o Presidente
Gaudêncio em entrevista, sem entrar em pormenores, avançou com a construção de
bacias de retenção mais a montante.[64] Será
que a médio e a longo prazo essa solução sai mais em conta? Segundo, a 5 de
Julho, a propósito da mais recente interdição da Praia do Monte Verde, segundo
percebi de hoje ou de ontem, nova entrevista do mesmo autarca: ‘Trata-se aqui de dois fenómenos em particular. Quando chove com
intensidade o leito da ribeira traz alguma matéria que depois desagua na praia
e altera os valores dos parâmetros normais e outra situação que tem havido com
alguma regularidade com a EDA Renováveis que no Salto do Cabrito tem uma
estação que de vez em quando fazem alguns trabalhos de manutenção no leito da
ribeira e sempre que há essa manutenção realmente a água ao longo do percurso
da ribeira quando é analisada está fora dos parâmetros normais.’ Como resolver a situação? ‘Uma das soluções que estamos aqui a ver
essencialmente pode ser uma bacia de retenção mais a nascente. Outra situação,
a própria EDA Renováveis está disponível para em conjunto com a autarquia
encontrar uma solução rápida.’[65] Quis
ouvir o outro lado, peguei no telefone e falei com a EDA Renováveis: ‘Podemos vir doravante a fazê-lo, mas nós
presentemente não analisamos a água. Se houver micróbios ou bactérias, não
interferem na produção de electricidade. E é isso que nos interessa. O que
fazemos é separar pedras, pedra-pomes, terra que possa avariar as turbinas.
Agora, demonstramos à autarquia a nossa vontade para de futuro proceder a
análises. E colaborar na construção – se for essa a solução – de bacias de
retenção.’[66]
Não se esqueçam das folhas que inundam até ao umbigo os banhistas das Poças.
Isso durante dias. De onde virão?
Aplaudindo (e agradecendo) quaisquer esforços sinceros (e
adequados) à (verdadeira) resolução do problema, digo apenas: que se entendam e
que venham rapidamente e em força. A
saúde pública, a economia, a dignidade e a boa imagem da segunda Cidade dos
Açores (a nível de impostos e a nível demográfico) (ficando apenas ligeiramente
em terceiro lugar em termos demográficos concelhios) não pode ficar mais tempo
refém dessa situação.[67]
Enquanto isso não se põe de pé, fica em causa a credibilidade da Marca capital
de Surf e coloca-se em cheque a pretendida candidatura a Reserva Mundial de
Surf. Creio que é urgente (e inadiável) o resgate do Monte Verde. Não irá
custar mais do que custou o resgate de Santa Bárbara.[68]
Aliás, irá trazer retorno: ‘Aquelas
praias [Santa Bárbara e Monte Verde]
valem oiro!’ Ouvi dizer isso a um empresário de fora. A sua centralidade
urbana única é uma mais-valia. Permito-me aqui pela importância relembrar o que
já citei em trabalho anterior, que levou André Rosa, surfista e arquitecto, que
a conheceu bem, a dizer que ‘são poucas
as cidades que têm dentro de si praias.’[69]
Enquanto não me meto aqui diante do teclado e começo
a juntar o que descobri sobre a ribeira da Ribeira Grande (e sobre a sua
vizinha ribeira Seca) que me possa ajudar a perceber (um pouco melhor) o que é
e o que pode vir a ser o Monte Verde, antes ainda de deixar este trabalho a
marinar, está na hora de traçar um ponto da situação actual do Monte Verde: o
Monte Verde já dispõe de dois nadadores-salvadores durante a época balnear
(coisa que ainda em 2009 não lhe era sequer permitido), dispõe de um balneário
bem apetrechado (até há pouco tinha dois, entretanto, um foi transferido para a
área do Resort do Areal de Santa Bárbara), tem funcionários municipais que
prestam assistência diária à praia, é regularmente limpa sendo as suas águas periodicamente
analisadas. Nos meses do Verão (como tenho presenciado nos últimos dias)
(apesar da proibição de Junho), mal o dia rompe até ao pôr-do-sol, são os
hóspedes do hotel, dos alojamentos locais e as escolas de Surf que a procuram. Das
escolas, destaque para a de Sérgio Aparício e o clube de Surf dos Bombeiros da
Ribeira Grande. Aliás, a partir do mês de Março, o Monte Verde tem sido o local
preferido dos free surfers. Vejo ali (digo vejo porque tenho feito questão de
ir ali quase diariamente) treinadores de voleibol. Aulas de Yoga. Sessões de
fotografia. Grupos de muita gente a despedir-se do sol. Nota-se ali uma
vontade.
Nada porém (entenda-se) está adquirido. Bem longe
disso. Um simples fio separa a normalidade desejada da indesejada. Basta vir
mais uma descarga de chorume (diluído
ou concentrado) e de outras mais poções, e volta tudo ao mesmo. Por isso, antes
que seja tarde demais, urge pôr um ponto final ao que contamina a sua água e há
que cuidar bem da sua mais-valia: a areia. Fazer com que ela possa se regenerar
o mais que for possível. Como? Não nos devemos (nunca) esquecer que a área de
areia do Monte Verde ficou radicalmente diminuída em resultado da construção do
aterro entre a Vila Nova e o Bandejo (hoje rua da Areia) (concluído em inícios
da década de sessenta do século XX). O aterro cortou-a longitudinalmente (no
sentido Nascente Poente) em duas. E que (sensivelmente) da década de setenta à
de noventa (do século XX), sofreu grandemente com a profunda exploração da
areia para fins industriais (apenas menos um terço da de Santa Bárbara). E sofreu
e ainda sofre (bastante) com as inúmeras barragens que têm sido construídas ao
longo do curso da ribeira Grande, a pior de todas, a primeira (mesmo debaixo da
ponte dos Oito Arcos). Que dificultam transferência (antes fácil) da areia da
ribeira até ao Monte Verde (e das enguias do mar para a ribeira).[70]
Agora com a Via Litoral/Passeio Atlântico a avançar é preciso evitar impactos
negativos. Paulo Borges, apresenta vários cenários de mitigação. Se o Passeio
Atlântico englobar (como acontece actualmente) a arriba, vai ser (não se
admirem) preciso uma determinada quantidade de areia (importada). Se se cuidar
de construir o que resta ao Passeio, com um recuo de x metros da arriba, o
Monte Verde gozará de mais alguns anos de vida. Disso depende a vida do Monte
Verde, das suas ondas e do sucesso da candidatura à Reserva Mundial de Surf.[71]
O Monte Verde (enquanto isso) aguarda a
implementação de uma unidade de execução específica, da qual se espera que lhe
mude a face para melhor.[72] Para
isso, terá de se ver livre da praga dos despejos. Tal como se viu livre do
pesadelo do garimpo da areia já lá vão quase três décadas. Tem igualmente de
prover à descarga da areia da ribeira. Que a alimenta.
Se
acredito no Resgate do Monte Verde? Para além da força dos
privados?[73]
Acredito mais nesses do que no público. Da força da economia azul? Por um jornal
local, fiquei a saber que desde Setembro último o Monte Verde tinha Guardiães. Quem
são? Alunos da Escola Gaspar Frutuoso (aqui na Ribeira Grande) e a sua
professora. Vale a pena transcrever a parte que interessa: ‘O trabalho do projecto com os alunos iniciou-se em Setembro [de
2023] através da contextualização da
problemática actual dos oceanos, de aulas interactivas online, da visualização
de vídeos pedagógicos elaborados por Caroline Schio para esta acção,
seguindo-se-lhe as saídas de campo e a monitorização da praia mais próxima da
escola – praia do Monte Verde. Para a análise dos resultados obtidos em campo,
outras actividades e tarefas complementares foram desenvolvidas, como por
exemplo, análises laboratoriais e microscópicas, tratamento de dados e tradução
dos resultados em gráficos grelhas e tabelas, videoconferências entre alunos,
desenhos, textos, trabalhos plásticos, brochuras, panfletos, cadastro dos dados
e imagens dos trabalhos realizados em plataforma online.’[74] Se
não se traduzir numa dessas modas tão passageiras como o vento que sopra aqui
do quadrante Norte, é motivo para dizermos, finalmente, finalmente, há uma
luzinha ao fundo do túnel.
Mário Ribeira
Grande (continua)
[1] Frutuoso,
Gaspar, Saudades da Terra, Liv. IV, ICPD, Ponta Delgada, 1998, p.256. Quanto ao
nome? Não cheguei a perceber ao certo isso. Na Conceição, usam o nome Monte
Verde mas também (menos frequentemente) o de Areia. Na Matriz, acontecia o
oposto. Os meios de comunicação social e os oficiais, usam o nome Monte Verde.
De onde virá esse nome? Parece ser um topónimo. Numa fotografia antiga, até
pelo menos 1957, aparece uma elevação próxima da área onde se erigiria a Vila
Nova. Por que razão (podendo se escolher Areia) se escolheu Monte Verde? Não
sei. Mais bonito? Esse João de Aveiro foi o notário que fez parte do elenco da
passagem do Lugar da Ribeira Grande a Vila.
[2] E Praia.
Conforme Monte Alverne e Sousa Freire: APISP, Cópia do Primeiro e Segundo Livro
do Tombo da Freguesia de S. Pedro da Ribeira Seca da Vila da Ribeira Grande, O
vigário João de Sousa Freire, Lembrança do dilúvio que houve nesta Vila o ano
de 1667, 23 de Janeiro de 1668, fl. 14; Monte Alverne, Frei Agostinho de, Crónica da Província de São João Evangelista
e Ilhas dos Açores, ICPD, vol. II, 1961, p. 298. E na década de 20 do
século XX, existiu um clube de futebol ali em baixo de nome Praia.
[3] Barrett, Briant,
Relato da minha viagem aos Açores
(1812-1814), Letras Lavadas, 2017, p. 157.
[4] https://www.amn.pt/DGAM/Capitanias/PontaDelgada/Paginas/Capitania-do-porto-de-Ponta-Delgada.aspx: ‘Pópulo 1;
Milícias 4; São Roque 1; Monte Verde 9; Areal de Santa Barbara 8; Água D’Alto
5.’ Escusado será dizer que, a (muito) breve trecho, se a isso somarmos a
prática de parapente, isso irá causar graves perturbações em Santa Bárbara e
Monte Verde. O que equivale a 61% do total da Ilha. Mas se tivermos só em
consideração as praias do Pópulo (1),
Milícias (4) e São Roque (1), a
superioridade (ou no caso, a dependência) ascende aos 73%.Se aquelas praias
estão mais desafogados, devem-no ao ‘aperto’ (sobretudo) da praia de Santa
Bárbara. Como será quando o saneamento básico e o passeio atlântico tornarem
mais frequentada a do Monte Verde? E (se se concretizar sem grandes atrasos)
esse tempo não andará longe.
[5] Portaria n.º
16/2024 de 28 de Março de 2024, Jornal Oficial, I Série, 28 de Março de 2024.
Quanto ao nome? Não cheguei a perceber ao certo isso. Na Conceição, usam o nome
Monte Verde mas também (menos frequentemente) o de Areia. Na Matriz, acontecia
o oposto. Os meios de comunicação social e os oficiais, usam o nome Monte
Verde. De onde virá esse nome? Parece ser um topónimo. Numa fotografia antiga,
até pelo menos 1957, aparece uma elevação próxima da área onde se erigiria a
Vila Nova. Por que razão (podendo se escolher Areia) se escolheu Monte Verde? Não
sei. Mais bonito?
[6] Testemunho de
Tiago Ávila, 22 de Maio de 2024
[7] Hoje (dia 16 de
Junho de 2024) a Praia do Monte Verde foi interditada por causa do que veio nos
dias ¾ de Junho. Fico perplexo: se a parte Poente do Monte Verde anda limpa há
seis anos, não percebo por que não lhe é atribuída a bandeira Azul? As Poças
têm-na e estão encostadas.
[8] Testemunho de
Tiago Ávila, 22 de Maio de 2024
[9] Testemunho de Vítor
Teves, 4 de Julho de 2024.
[10] Testemunho de Ricardo Costa, 21 de Junho de 2024.
[11] Filipe Torres,
Praia do Monte Verde na Ribeira Grande interdita, Correio dos Açores, 13 de
Junho de 2024, p. 4.
[12] O Correio dos Açores de 26 de Junho (p.3) já noticiava que a ‘Praia do Monte Verde deixou de estar interditada. Um comunicado publicado no dia 25 de Junho na página da Junta de Freguesia da Conceição divulgava que a interdição tinha sido levantada. A 13 de Junho (edição do Correio dos Açores) ainda estava em vigor a proibição. Mas, a 13 já lá vi surfistas e banhistas. Hoje, dia 2 de Julho, vi duas ou três escolas a dar ali aulas. O fim de tarde estava magnífico.
[13] Correio dos
Açores, 5 de Junho de 2024, p. 2.
Quem vai pagar a factura? No dia 2 de Julho vi isso: ‘ABERTAS AS CANDIDATURAS
PARA APOIO AOS PREJUÍZOS DAS ENCHENTES DE 3 DE JUNHO. O Governo dos Açores
abriu candidaturas para compensar as perdas resultantes do mau tempo registado
em Junho nos concelhos da Ribeira Grande. Os pedidos podem ser feitos eletronicamente
em https://servicos-sraa.azores.gov.pt/doit/mdls/fill.asp... no prazo de 15 dias úteis. As candidaturas surgem no
âmbito dos apoios previstos no regime jurídico-financeiro de apoio à emergência
climática para as situações de perdas e danos patrimoniais decorrentes do
fenómeno meteorológico extremo. Os serviços de acção social da autarquia estão
disponíveis para apoio no preenchimento dos pedidos, através dos contactos 296
470 765 ou pelo mail dase@cm-ribeiragrande.pt.
[14] Idem.
[15] Testemunho de
Roberto Jorge, 24 de Maio de 2024.
[16] Da mesma
maneira, como aceitar que o Pesqueiro (de Ponta Delgada, em plena marina,
apanhando com descargas dos cruzeiros e não só) tenha a bandeira Azul. Há
poucos anos, os jornais denunciaram descargas.
[17] Testemunho de
João Manuel Brum, 24-26 de Outubro de 2024.
[18] Açoriano
Oriental, 27 de Agosto de 2022, p. 32
[19]Açoriano
Oriental, 24 de Agosto de 2022, pp. 1, 3
[20] Açoriano
Oriental, 2 de Agosto de 2023.
[21] Parente do célebre Manuel de Sousa
Coutinho que inspirou o romeiro de Almeida Garrett em Frei Luís de Sousa.
[22] Terá vindo a
refugiar-se na Ribeira
Grande. O artigo é publicado num jornal loca. Era (se necessário fosse) também
empreiteiro (foi responsável pelas obras de adaptação de uma residência a
Biblioteca Municipal que funcionou na rua de Nossa Senhora da Conceição).
Monárquico e opositor ao governo de Oliveira Salazar. Viera morar na Ribeira
Grande, casara em Lisboa com uma neta de João Albino Peixoto e abrira aqui
(maravilha das maravilhas) a Livraria Moderna.
[23] A ideia não era
nova. Houvera uma tentativa em 1852 que quase resultou. A disputa foi ao ponto
de o responsável lhes ter mandado calar em artigo de jornal e de nunca mais se
falarem.
[24] Uma iniciativa da Câmara Municipal, começada pelo Vereador Faustino de Lima e prosseguida e concluída pelo Vereador Ventura Rodrigues Pereira, no intuito de se ir construindo de forma expedita e barata a desejada via litoral. Mais tarde, Jorge iria recriminar essa ‘pobre iniciativa.’ Com base no exame atento a uma fotografia -, em finais de 1950’s ainda não existia: os azulejos na fachada da igreja Matriz – retirados em 1956-7 -, ainda são visíveis. As dunas tocam na agora Avenida José Nunes da Ponte. Não se vislumbram casas no que veio a ser chamada de Vila Nova. Ainda se descortina o último Moinho da Areia (que era do João Pascoal e o mar levou). Ficava mesmo a tocar na areia. Uma planta do Arquitecto Nereus Fernandes de Junho de 1961 é prova de que o aterro ainda não se completara. Há aí o trajecto da futura rua da Areia. Outra fotografia, porém, aponta para um data mais à frente. Ainda se vê que a tal rua da Areia ainda estava incompleta. De quando é a fotografia? Entre 1968 e 1971. Porquê? Porque vemos que nem todas as casas da rua do Castelo do lado do mar haviam sido demolidas. Uma casa foi adquirida pela autarquia em 1968: AMRG, Sessão de 14 de Agosto de 1968, fl. 87: ‘Aquisição de prédio: A Câmara deliberou por unanimidade adquirida a José Valério (…) (e familiares) pela quantia de 16 000 escudos, uma casa, baixa, telhada, com pequeno quintal, sita na rua do Castelo, da Freguesia Matriz, desta Vila, confrontando pelo Norte, Aníbal da Costa dos Anjos, Sul e poente, barrocas do mar.’ Além do mais, a eira que daria lugar à piscina (inaugurada em 1971) e ainda visível. Mas estão presentes (todas ou grande parte) das casas da Vila Nova. Será que os terrenos que a Câmara negoceia com um privado (ou privados) não pertencem ao domínio público? ‘a) Leito dos cursos de água não navegáveis nem flutuáveis e respectivas margens de 10 m (em condições de cheia média);’
[25] O do Monte Verde
foi feito, o do acesso aos Moinhos ter-se-á (então) limitado o piso da Ladeira
da Velha. Tapar umas covas e pouco mais.
[26] Borges, P.,
Ambientes litorais nos grupos central e oriental do arquipélago dos Açores –
Conteúdos e dinâmica de microescala, Tese de Doutoramento, Departamento de
Geociências, Universidade dos Açores, 2003.
É
provável que o ‘terreno’ (situado atrás do aterro e junto ao leito da ribeira
Seca, local da realização do Festival Monte Verde) estivesse integrado no
domínio público. Tendo estado ou não, está actualmente a ser negociado pela
autarquia. -se em grande parte à pressão que os vereadores da oposição (onde
pontuava Ricardo Silva), à posição de João Brilhante, Presidente da Associação
de Surf de São Miguel e ao facto de os areeiros que já extraíam areia do tufo,
se verem confrontados (de certo modo) com uma espécie de concorrência
‘desleal.’ A exploração de areia no Monte Verde, tal como em Santa Bárbara,
acabou na segunda metade da década de noventa.
[27] ‘Quem chegasse ao cimo do Outeiro do Galvão [lado
poente do Graben], ali ao lado do velho
aeroporto de Santana e espraiasse os olhos por essa várzea,’ veria ‘(…) os outonos, o trigo, o milho para grão,
a beterraba sacarina, a chicória, o tabaco, a fava, a batata, o amendoim, o
feijão, os repolhos, etc., etc
[28] Silva, Ezequiel
Moreira da, Coisas do Passado e com Presente. A Ribeira Grande e a Agricultura
(I), Correio dos Açores, 4 de Agosto de 2005, p. 11. Nesse tempo, os animais (vi eu) eram tratados como
membros da família.
[29] Ao fim de
quarenta e três anos, já deu para ver que – ao contrário do que se esperava – a
elevação não passou de uma distinção honorífica para calar as ambições
legítimas da orgulhosa e trabalhadora Vila-Cidade – uma espécie de relógio
dourado que se oferece a alguém que se reforma, e não uma posição – como sempre
tinha tido até ali -, de agente activo na criação de riqueza da Ilha e então
dos Açores. Duas das três comunidades que haviam secularmente potenciado a
riqueza a Ilha (Vila Franca e Ribeira Grande) foram ‘engolidas’ pelo crescente
centralismo da terceira (Ponta Delgada). Que não tem contribuído para promover
o crescimento dos Açores.
[30] Antes da era dos
telemóveis, do Spot Azores, do Windguru, não havendo ondas no Pópulo, vinham
(ao Monte Verde e a Santa Bárbara) o ano inteiro. Os lavradores ‘faziam muitos dos trabalhos mais pesados
inerentes a cada cultivo, recebendo como paga géneros e o direito do seu gado
comer determinadas coisas, determinadas vezes, nas terras dos agricultores.’A
sua vinda (não sei se foi de propósito ou não) desmontou o mito exagerado do
Mar do Norte. Se já ia montes de gente da Ribeira Grande (e de fora dela)
àquela praia, com os surfistas (ali à vista) na água, os banhistas sentiam-se
mais seguros. Muitas foram as ocasiões em que safaram aflitos.
[31] Borges, José, Entrevista a João Brilhante Presidente da ASSM: O Surf não é um desporto perigoso, Açoriano Oriental, 3 de Agosto de 1997.
[32] António
Valdemar, Poluição das praias da Ribeira Grande, Açoriano Orienta, 23 de Agosto
de 1997, p. 7. A Quercus (por seu turno) defendia as pobres condições das
praias do Sul (Milícias/Pópulo).
[33] Se por um lado,
safou a exploração da areia no Monte Verde e em Santa Bárbara, por outro, veio
poluir a água do mar.
[34] Testemunho de Albano Moniz Furtado,
11 de Junho de 2024. Adaptou-se um sistema fácil de tratamento das águas (após
a extracção das areias). Todavia, também dizem que se aproveita das chuvadas
para se livrar (sem custos) da água imprópria. Seria bom que viesse esclarecer
o público. A água (livre de terras) é devolvida à ribeira e as lamas são
espalhadas nas covas abertas para extracção do tufo.
[35] Testemunho de
Carlos Bicudo, 27 de Maio de 2024 Pelas análises, deverá ser a causa maior do
estado da água do mar. Até então, o foco principal de poluição da Areia (Monte
Verde) localizava-se dentro da própria Ribeira Grande (o matadouro Municipal
vazava para o Monte Verde, a Fábrica de Lacticínios (antecessora da Bel) vazava
para a Rochinha Preta, a própria Câmara vazava para a Rochinha Preta). Passou
para as pastagens. As matas hoje desleixadas e as margens da ribeira
descuidadas então eram – pela necessidade das gentes -, limpas a pente fino.
[36] Correio dos
Açores, 17 de Setembro de 1997: No que diz respeito a valores de prejuízos “…no
concelho da Ribeira Grande rondam os 300 mil contos e que estes danos se
distribuem por caminhos, pontes, muros de suporte e redes de água.”
[37] Açoriano
Oriental 2 de Outubro de 1998: ‘Na Ribeira Grande a situação mais grave se
registou na freguesia da Ribeira Seca, onde “...aí uma ponte demasiado baixa em
conjunto com dezenas de troncos de árvores acabou por formar uma autêntica
barragem.” Tendo como consequência “O nível das águas subiu dois metros
destruindo o rés-do-chão de dezenas habitações e elevados danos materiais…”
[38] Testemunho de
António Augusto Tavares, 15 de Julho de 2024.
[39] A dos Moinhos ou
mesmo a do Calhau da Furna ganharam bandeiras azuis, a desgraçada do Monte
Verde marcou e marca passo.
[40] Faziam-se
análises ocasionalmente antes de 2005 – sempre que se afigurava haver problemas
-, e só regularmente após 2005.
[41] Verifiquei que
durante o Inverno e a Primavera o local favorito dos surfistas era a boca da
ribeira Grande. As ondas têm sido ali excelentes. Menos de uma semana após a
GNR (5-6 de Junho de 2024) correr com alguns, estavam de volta.
[42] Correio dos
Açores, 3 de Fevereiro de 2004: ‘Na Ribeira Grande (…) três casas, da freguesia
da Ribeira Seca, foram afectadas pela ribeira, que transbordou e, na rua
Ribeira, Matriz, quatro casas ficaram inundadas. Também a zona envolvente à
Câmara Municipal também ficou inundada e, no Porto Formoso, uma rua ficou
interrompida devido a uma derrocada.’
[43] Açoriano
Oriental, 19 de Abril de 2007: ‘Tudo aconteceu devido à “…obstrução da ponte
existente junto à Travessa de Trás-os-Mosteiros, na Freguesia da Conceição, (…)
fez com que, (…) quatro moradias fossem “invadidas” por água, lama e ramagens,
devido ao transbordo do leito da ribeira.”, por volta das “…20h30, quando a
aglomeração de troncos e madeira junto à estrutura da ponte fez “saltar” o
curso de água em direcção às habitações, levando a que 20 pessoas tivessem de
ser realojadas.”
[44] Revista da
Câmara Municipal da Ribeira Grande, N.º 10, Setembro de 2008, pp. 26-27: Uma
artigo intitulado ‘Ribeira Grande uma cidade virada para o mar.’ Diz-se: ‘A
imagem do litoral ainda não é a desejável, daí a nossa preocupação em estudar o
areal de Santa Bárbara, Monte Verde e o Complexo Municipal de Piscinas (que
inclui um pequeno areal). Para o actual estado do nosso litoral muito têm
contribuído a crescente ocupação humana, a alteração de valores e mesmo a falta
de civismo.’
[45] Entre outros, Luís Noronha, arquitecto José Manuel Fernandes, Fernando Jorge Monteiro. Noutros jornais, Hermano Cordeiro.
[46] Primeiro na sede dos Amigos dos Açores, no Pico da Pedra, mas já em 2008 está num espaço do anfiteatro Municipal do Paraíso Infantil, Ribeira Grande. Manuela Livro foi a primeira responsável, seguiu-se-lhe, Luís Noronha, Judite Barros, Jorge Torres.
[47] Arquivo da
Empresa Municipal, Ribeira Grande Mais, Pasta 113, Zonas balneares, cópia de
ofício enviado pelos Amigos dos Açores à autoridade de Saúde da Ribeira Grande
ao Presidente Ricardo Silva, 7 de Julho de 2009
[48] Arquivo da
Empresa Municipal, Ribeira Grande Mais, Pasta 113, Zonas balneares, Ofício da
empresa Ribeira Grande Mais (com conhecimento do Presidente) à Dr.ª Rosa
Lourenço, Autoridade de Saúde da Ribeira Grande, 27 de Julho de 2009
[49]Arquivo da
Empresa Municipal, Ribeira Grande Mais, Pasta 113, Zonas balneares, Ofício da
empresa Ribeira Grande Mais (com conhecimento do Presidente) à Dr.ª Rosa
Lourenço, Autoridade de Saúde da Ribeira Grande, 27 de Julho de 2009. Atenção:
apesar de no caso, proveniência é da vala dos moinhos, porém, dada a exploração
intensa da pecuária, é muito pouco provável que essa seja a origem única. Um,
instalado no final da praia, junto ao Bandejo (hoje removido para o Resort de
Santa Bárbara), outro, instalado junto à Vila Nova. E ainda (não tenho a
certeza) o destacamento de um nadador-salvador (há dois ou três épocas
balneários já há um). Módulos: projecto de Fernando Jorge Monteiro. Em vista do
exposto, a Delegação de Saúde tomou uma posição pública razoável (considera da
por outros, muito moderada): a colocação de uma placa alertando os
frequentadores do Monte Verde. Posição que não colheu a aprovação da Capitania
do Porto.
[50] O que sucede com
natural regularidade. Nessa praia, tal como na de Santa Bárbara (que se
complementam) realizam-se provas ou simples voos de parapente. Para ser mais
preciso, a primeira prova oficial realizou-se este ano de 2024 no Monte Verde.
Aqui é realizado o festival Monte Verde.
[51]A partir do ano
de 2007, começa a avançar (ainda que lentamente) o sonho quase secular da via
litoral. Em 2019, foi inaugurado a ponte e o primeiro troço após a ponte. Este
ano, falhou (por contestação de um dos concorrentes e para reformular o
projecto) o segundo até à Vila Nova.
[52] Isso havia sido
sugerido em artigo do Estrela Oriental. Haviam iniciado funções em finais de
2005, e logo em 2006/7, já estava em curso a execução do primeiro troço do
Passeio Atlântico. A celeridade da construção dessa protecção fica muito a
dever à excelente relação entre o Presidente da Câmara e a Secretaria Regional.
O mesmo se deve dizer do empenho visível do Governo de Carlos César. O PS
desalojara o PSD da Câmara pela primeira (e até agora) primeira vez. Noronha, Luís, Via Marginal ao
longo da ribeira, Estrela Oriental, Ribeira Grande, n.º 19, Dezembro de 2002,
p. 5. Eu reabrira o jornal Estrela Oriental e era Director seu jornal. Desde o
número 1, em Junho de 2001, dialoguei com os entrevistados acerca dessa
necessidade. Pedi ao Luís Noronha que reflectisse sobre a ribeira e a Ribeira
Grande. A ideia (e a sua concretização) já viera publicada no jornal Estrela Oriental de Dezembro de 2002 e é
de Luís Noronha: ‘Nas margens, desde a foz até à ponte a construção
de um caminho de cada lado, daria acesso, por debaixo da ponte, ao parque, e
por escadaria e rampa à parte superior onde existem as casas.’ Costa, Pedro Machado, L’Atalante, em
busca de uma ideia de arquitectura para os Açores, Ilhas: Açores, actualidade, cultura, política…, Ponta Delgada:
MUU/Produção Cultura, N.º 17-18, [Antes de Janeiro de 2006 – N.º 19 e depois de
Junho de 2005. Pretendia-se fazer sair o 17 em Junho, depois - para aproveitar
a exposição depois de 9 de Outubro -, fundiu-se. Houve uma exposição na
Academia das Artes pouco depois das autárquicas de 2005 a 9 de Outubro de 2005]
[BPARPDL: REV Açores I/ 4; Ilhas Açores], pp. 4-10. A ideia brotou de uma
conversa entre mim e o arquitecto Pedro Costa numa tarde agradável no Alabote.
Sensibilizei o Presidente e o Vice-Presidente (António Pedro Costa e Filomeno
Gouveia) lançando a ideia das margens da ribeira, de um Parque Urbano e da
integração da Ribeirinha na Matriz. Após as eleições de 2005, com a nova
autarquia de outra cor política, o novo Presidente foi à exposição onde
conheceu os projectos. O assunto foi alvo de reflexão em 2005. O L’Atalante (um
grupo de arquitectos) ‘propôs ao gabinete
Menos é Mais a tarefa de propor uma estratégia de recuperação e revitalização
das margens da Ribeira Grande, junto à sua foz.’
[53] Está em curso a
ligação das estações elevatórias da zona central urbana da Cidade da Ribeira
Grande à ETAR da Ribeira Grande (localizada na Vila de Rabo de Peixe). Nota
após publicação deste trabalho no jornal. Entrevista de Nuno Martins Neves a
Alexandre Gaudêncio. Açoriano Oriental, 29 de Junho de 2024, p. 3.: ‘Terminámos
a intervenção no final do mês passado, com toda a rede ligada à ETAR de Rabo de
Peixe [ETAR da Ribeira Grande localizada na Vila de Rabo de Peixe. Mais
correcto. Creio.]
[54] É bom relembrar
que terminaram as descargas do Matadouro (antes de 1997), as da Bel (uma das
maiores unidades de lacticínios nacionais), as da Geotermia.
[55] Testemunho de
Ricardo Silva, 20 de Junho de 2024 (já depois da publicação deste trabalho no
jornal): ‘Eu cá adoptava duas possíveis soluções: ia de porta em porta,
identificava e resolvia o problema. Ou, outra hipótese, tratava a água da vala,
antes de a libertar.’
[56] Uma semana antes
da desgraça do dia 3 de Junho, a ribeira Seca correu caudalosa e suja. Matéria
orgânica? Quem conhece as suas margens, conhece uma ou duas vacarias, criações
de porcos e os ‘canhões de Navarone’ que dão para a ribeira. Se não chove o
suficiente, a porcaria some-se. Porém, quando chove forte lá vem ela.
[57] É pouco viável.
Dizem-me. Só se as fábricas pagassem. Não pagam. Queixam-se dos custos dos
transportes e da energia (entre outros). Portanto, não compensa. Sei que são
utilizadas nitreiras, que o chorume,
é espalhado, mas não esqueçamos os acidentes que têm feito as primeiras páginas
dos jornais (locais). Há dois anos do Calmeira numa zona altamente sensível.
Etc. Embora os interesses das vacarias e os da população em geral se choquem
(mais frequentemente do que seria de desejar), o choque não é inevitável.
Porquê? Porque a situação tem de acabar. As partes retirarão vantagens disso. É
bom para a população e é bom para as vacarias. Acrescenta mais-valia à fileira
do leite e à da carne. E qualidade de vida à população.
[58] Testemunho de
Pedro Raposeiro, 3 de Junho de 2024.
[59] Testemunho de
Albano Moniz Furtado, 11 de Junho de 2024: ‘Há
para aí uns cinquenta anos, a Firma Nicolau de Sousa Lima, resolveu o problema
das fezes de suínos na sua exploração de suínos na Chã do Rego de Água.
Produzem electricidade do metano, calor, e produzem um fertilizante de primeira
qualidade. Numa espécie de economia circular. Isso na Agraçor, Suínos dos
Açores. Adquirida pela Finançor (engenheiro Braz). A ideia veio de uma visita
que um dos Sousa Lima terá feito à Dinamarca ou um país próximo.’ A
Unileite pediu-me um projecto para criar uma tal central. Visitei vários países
que têm esta tecnologia. Apresentou-se o projecto e foi chumbado. Pensou-se
numa solução para pequenas e maiores explorações.’
[60] Segundo Teófilo
de Braga, que pertenceu a um grupo dedicado às novas fontes de energia, com
quem dialoguei, Domingo, dia 25 de Agosto, a pequena dimensão das explorações
agro-pecuárias impedem a viabilidade desse projecto.
[61] Nota de 3 de
Novembro de 2024, p. 6. E se a própria lavoura (com apoio decidido do Governo)
levar por diante uma mudança para uma agro-pecuária sustentável? Tal como: ‘Formação
é importante para assegurar a transição para fileiras agrícolas mais
sustentáveis. (…) ‘O comunicado revela que podem ser concedidos apoios para
sessões de orientação em matéria de competitividade, transição verde, na qual
se inclua a utilização sustentável dos recursos naturais, transição energética,
sanidade vegetal e animal e bem-estar animal.’ ‘Para assegurar a transição para
fileiras agrícolas mais sustentáveis, mais diversificadas, e melhor adaptadas às
condições geográficas regionais (…).'
[62] Plano de Gestão de Riscos de Inundações da Região
Autónoma dos Açores; Decreto
Legislativo Regional n.º 20/2016/A, de 10 de Outubro; Publicação: Diário da República n.º 194/2016,
Série I de 2016-10-10, páginas 3528 -3587
[63] Açoriano Oriental, 18 de Julho de
2024, p. 9
[64] Nota após
publicação deste trabalho no jornal. Entrevista de Nuno Martins Neves a
Alexandre Gaudêncio. Açoriano Oriental, 29 de Junho de 2024, p. 3.
[65] Depoimento de Alexandre Gaudêncio ao
Noticiário das 8:30 da RDP Açores, dia 5 de Julho.
[66] Conversa comigo
e Félix Rodrigues, membro da gestão da EDA Renováveis, 5 de Junho de 2024. E
nesse problema em concreto? Está a chegar às Poças toneladas de folhas
misturadas na água. Nos temporais de Janeiro, Março, houve derrocadas… As
folhas são da barragem. Repliquei. E a água apresenta vestígios elevados de
elementos nocivos à saúde. A Câmara deu uma empreitada a uma empresa para
libertar terras etc, no Salto do Cabrito. E depois é a vala e as pastagens.
[67] Sendo
comprovadamente assim, por que será que o discurso de quem nos deveria defender
não refere isso? Desconhecimento e apatia total da Ribeira Grande. Estão à
espera que façam as coisas. Os deputados naturais da Ribeira Grande nada fazem.
Porque? Porque dependem da vontade dos directórios (em Ponta Delgada) dos
partidos. Como perceber que uma Ilha com quase tantos habitantes como os da
cidade da Ribeira Grande tem tanta gente em lugares chaves da política e a
Ribeira Grande não? Só por isso? Prevalece a doutrina de Ilha em vez da do
Concelho o que beneficia Ilhas (à cabeça das quais o Faial) em detrimento de
outras. Tanto mais que São Miguel não é uma Ilha como as outras. E isso não só
pela demografia. Como sair daqui? Fazer com que haja deputados da Ribeira
Grande. A gente estranha que os Açores não tenham direito a um circulo nas
Europeias. Só lá vão por favor dos directórios nacionais. A Ilha de São Miguel
chegou a ter (antes desta autonomia mal
negociada) três círculos eleitorais. Das duas ou três explorações. As quais, estou
em crer, caso tivessem sido objecto de um estudo de impacto ambiental sério e
rigoroso dificilmente ou nunca teriam sido licenciadas.
[68] A mera
expectativa de que (qualquer dia) o Passeio Atlântico vai unir as duas praias e
que se abrirá um caminho que unirá a Areia à Rotunda do Surfista, ainda que o
investimento público regional prometido tarde em chegar, já trouxe um
Restaurante da cadeia Mc Donalds (actualmente em construção na Rotunda do
Surfista). De um alojamento local instalado no velho (e desactivado) moinho da
Areia. E melhoramentos (substanciais) no Restaurante Monte Verde. Que começando
de forma manhosa, numa garagem em inícios dos anos noventa, tem evoluído para
Bar/Café e Restaurante. Além, dos projectos (privados) em curso. O investimento
inicial (e arriscado) foi o do Restaurante e Bar ALABOTE: pôs a Ribeira Grande
ao avesso, a rua Direita voltada ao mar.[68] O
prolongamento da rua do Estrela (Avenida José Nunes da Ponte), o avanço do
Passeio Atlântico e a via rápida levaram (em 2021) à abertura do primeiro hotel
nas dimensões das do Hotel Verde-Mar. O seu êxito (por seu turno) reforçou (e
muito) a inevitabilidade de se prosseguir com o Passeio Litoral e encontrar
solução para os problemas que apoquentam o Monte Verde.
[69] Testemunho
de André Rosa, 24 de Outubro de 2023
[70] Quanto às enguias, isso foi-me explicado pelo Professor José Azevedo. Apontou-me sobretudo a que fica logo junto à ponte dos Oito Arcos.
[71] E a areia? Pode
dar-se o caso de as águas do Monte Verde estarem boas e faltar areia? Segundo,
Paulo Borges é preciso evitá-lo. A areia do Monte Verde sofreu com a exploração
(apenas menos um terço da de Santa Bárbara). Sofreu com o corte que sofreu com
a ligação da rua da Areia (entre Vila Nova e Bandejo).
[72] Diário da República. II Série, 24 de Outubro de 2023, v) É interdita a
instalação de vazadouros, lixeiras, parques de sucata ou quaisquer outros
depósitos de materiais; vi) É interdita a armazenagem ou produção de matérias
químicas ou biológicas perigosas; c) Nos espaços verdes é permitida a
edificação de estruturas ligeiras de apoio ao recreio e lazer que não
constituam um obstáculo à livre circulação das águas; d) Os efeitos das cheias
devem ser minimizados através de sistemas de protecção e drenagem, bem como
medidas para a manutenção e recuperação de condições de permeabilidade dos
solos e) Não são permitidas novas edificações/construções na faixa de largura
de 10 metros a contar do bordo superior dos cursos de água.’ Junho de 2023: ‘A área de intervenção
abrange as freguesias urbanas da Ribeira Seca e Conceição (parcialmente em
ambas) e integra as unidades cadastrais delimitadas a norte do eixo viário –
Avenida de São Pedro/Avenida Dr. José Nunes da Ponte numa área que tem como
limite nascente Rua do Poeta Oliveira San-Bento até à faixa edificada
consolidada que se desenvolve ao longo da Rua do Saco/Rua do Bandejo, a Poente.
A Norte, a área de intervenção será limitada pela estrutura viária existente ao
longo da faixa costeira designada Rua da Areia, que delimita com a Praia do
Monte Verde (…). Este é um território que se tem mantido algo expectante
ao longo dos tempos, tendo nestes últimos anos em que o fenómeno do turismo tem
vindo a crescer a alguma velocidade em toda a região e na ilha de São Miguel em
particular, tendo sido alvo de muito interesse, fruto das suas excepcionais
condições de localização, tanto face ao centro da cidade como ao areal sobre o
qual se debruça. (Rede Viária) (…) propõe a
criação de três eixos viários novos que vão permitir a melhor circulação em
toda a zona, resolvendo alguns problemas de cadastro e interligando a Frente
Mar nos dois pontos limítrofes da Praia do Monte Verde com a estrutura viária
existente. (…) (Parque Urbano)
constitui o núcleo central da Unidade Execução sobre o qual se organizam um
conjunto de parcelas edificáveis sendo o seu limite a norte a Frente Mar e a
Praia do Monte Verde. Esta é uma área que ficará situada na frente da praia
envolvida sobre uma frente construída e interligada com outros equipamentos e
espaços público como a Praça do Emigrante, a Frente Mar e com acesso directo
para o futuro parque de estacionamento localizado na Via 3. O Parque Urbano
abrange o leito da foz Ribeira Seca e cria um elemento de protecção à mesma
sendo resultado da cedência de áreas ao
domínio público municipal [ou aquisição?] no âmbito da Unidade de Execução
[73]
Acrescento: Certo, certo como dois e dois serem
quatro, não se resolvendo as descargas pela via do diálogo ou (medida a evitar)
pela força do poder público, a iniciativa privada ligada aos interesses
turísticos (mais cedo ou mais tarde, estou em crer) irá forçar uma solução. A
irresistível (e sempre crescente) atracção pelo litoral levou há mais de três
décadas ao aparecimento ALABOTE (começou com o nome de Forno da Cal, salvo erro). Primeiro em 1996, logo depois em 1999 e
finalmente em 2001, um privado com visão arriscou investir numa zona bastante
degradada da Cidade. Rui Cordeiro pediu ao arquitecto Fernando Jorge o
projecto. Tem sido desde então um enorme sucesso. Essa mesma atracção pelo mar,
fez com que a autarquia renovasse completamente as Poças. Empurrando mais
privados. Assim, enquanto a autarquia inaugurava em Junho de 2005 o Complexo
das Piscinas (o nome chique das Poças) e o seu Restaurante, neste mesmo mês e
ano, inaugurava-se o Edifício do Palheiro (iniciativa da família Teixeira e
projecto arquitectónico de Jorge Costa). Daí foi apenas um passo para que se
avançasse (finalmente, finalmente!) para o Passeio Atlântico (um sonho já da
década de trinta, pelo menos). Em Agosto de 2008, é inaugurado o primeiro troço
do Passeio Atlântico (do Alabote ao Palheiro – Miradouro de Santa Iria). No ano
seguinte, acrescenta-se o troço do Palheiro à rua Mestre José Dâmaso. Em 2019 é
construída a ponte do Atlântico. A via litoral já chega à Travessa do Estrela.
O troço seguinte, da Travessa do Estrela à Vila Nova, que se esperava entrar em
obra em 2023, por complicações burocráticas, aguarda ainda (8 de Julho de 2024)
reformulação. Apesar de não estar ainda construído, nesse futuro troço há já um
espaço de Turismo de Habitação a aguardar licença de funcionamento (Moinho da
Areia – de Giovanni Galli, aliás, José Gonçalves, ex-dono aquela empresa) e um
outro a aguardar definição mais concreta (Moinho do Óscar – Bensaúde). Voltando
à área do primeiro troço, um bar (junto ao Largo de Santo André) - que foi
tasca imunda -, deu lugar – após uma remodelação radical - à galeria 33 pub
& Bar. Que tem tido merecido sucesso. E aparecem novos espaços destinados a
alojamento local (na Vila Nova). Uma Surf House. Serviços diversos. Na futura
Avenida José Nunes da Ponte (ao até então conhecido prolongamento do Estrela
foi dado a 5 de Outubro de 2011 esse nome) inaugurou-se em 2001 o primeiro
Hiper-Mercado Continente fora da Cidade de Ponta Delgada. Conhecem-se projectos
de expansão até à rua Oliveira San-Bento. São construídos três blocos de
apartamentos (José Vieira, da autoria de Paulo Macedo; Herdeiros Agostinho
Requeima, em 2010, autoria do Arquitecto Fernando Monteiro; João Gouveia Moniz,
da autoria do mesmo Fernando Monteiro). Ocupam-nos não apartamentos, como
também (no rés-do-chão) espaços comerciais (Médicos, Seguros, cabeleireiros,
cafés, estabelecimentos do estado, clínicas, etc). O Arquipélago – Centro de
Artes Contemporâneas e a sua praça inaugurado em 2015. Defronte a Praça do
Emigrante. Na Rotunda, surge uma superfície comercial. Do lado oposto da
avenida (em 2019-20, da autoria de Fernando Monteiro) o Hotel Verde-Mar. O
primeiro grande hotel (há muito esperado) da Ribeira Grande. Conta expandir-se
para nascente e poente. A mera expectativa da abertura de uma ligação do Monte
Verde à Rotunda do Surfista, e a proximidade às duas praias e aos melhores acessos
da Cidade, trouxe um Restaurante da cadeia internacional Mc Donald’s (actualmente em construção na Rotunda do Surfista). É o
primeiro construído fora da Cidade de Ponta Delgada. Fora de São Miguel, só
Angra do Heroísmo tem outro. O que (ao contrário do Governo da Região) diz
muito da importância (e interesse) da Ribeira Grande para os investidores.
Apesar do troço do Monte Verde ainda estar longe de ser concretizado, o
Restaurante Monte Verde já sofreu melhorias substanciais. Quanto a mim, deveria
abrir-se ainda para o lado do mar. Há diversos investimentos previstos para a
praia de Santa Bárbara e propostas para o Monte Verde. A Ribeira Grande (é bom
de ver) que depois de 1563 fora forçada trocar as margens da ribeira Grande
pela rua Direita, agora (voltando costas â ribeira) vira-se para o litoral. Mas
não pode nem deve esquecer a ribeira Grande. Não só porque é de lá que lhe
chegam os principais problemas mas porque de lá vem a areia que o Monte Verde
tanto precisa. E é para a ribeira que as enguias vão. E o aproveitamento das
suas margens será uma nova fonte de riqueza. Veja-se o novo investimento de
Giovanni Galli aliás, José Gonçalves, ex-dono aquela empresa, no Moinho do
Félix. É pois uma oferta que completa a do litoral. Quantas cidades haverá por
este mundo com um areal e uma ribeira dentro de si?
[74]
Figueiredo, Ana, Guardiões do Oceano na escola Gaspar Frutuoso na Ribeira
Grande, Correio dos Açores, 29 de Maio de 2024, p. 18.
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